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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

domingo, 14 de setembro de 2008

Mendes, poeta


Perspectiva na sala de jantar

A filha do modesto funcionário público
dá um bruto interesse à natureza morta
da sala pobre do subúrbio.
O vestido amarelo de organdi
distribui cheiros apetitosos de carne morena
saindo do banho com sabonete barato.

O ambiente parado esperava mesmo aquela vibração:
papel ordinário representando florestas com tigres,
uma Ceia onde os personagens não comem nada,
a mesa com a toalha furada,
a folhinha que a dona da casa segue o conselho
e o piano que eles não tem sala de visitas

A menina olha longamente pro corpo dela
como se ele hoje estivesse diferente,
depois senta-se ao piano comprado a prestações
e o cachorro malandro do vizinho
toma nota dos sons com atenção.

Murilo Mendes (1901-1975), grande poeta brasileiro.

Um comentário:

Ricardo Mainieri disse...

Como disse Drummond, o grande poeta começa a falar das coisas findas, sinal de maturidade.
Grande Murilo Mendes, que foi embaixador mas não esqueceu seu povo.

Ricardo Mainieri

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