Você está entrando no Diário Gauche, um blog com as janelas abertas para o mar de incertezas do século 21.

Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sábado, 29 de setembro de 2012

O culto insano à austeridade que varre a Europa


A loucura da austeridade na Europa

A complacência não deu em nada. Dias atrás, a visão generalizada era que a Europa finalmente tinha as coisas sob controle. Ao prometer comprar, se fosse preciso, as obrigações de governos que passam por problemas, o Banco Central Europeu tinha acalmado os mercados.

Tudo o que os devedores tinham de fazer era aceitar mais e maior austeridade - condição dos empréstimos do BCE - e tudo ficaria bem.

Mas, de repente, Espanha e Grécia são sacudidas por greves e protestos enormes. O público desses países está dizendo que já chegou ao limite: com o desemprego em níveis dignos da Grande Depressão e com trabalhadores reduzidos a vasculhar o lixo em busca de comida, a austeridade já foi longe demais.

Os manifestantes estão certos. Mais austeridade não servirá a nenhum fim útil; os atores realmente irracionais são os políticos e as autoridades supostamente sérios, que exigem cada vez mais sofrimento.

Considere-se a Espanha. Basicamente, o país vive a ressaca da enorme bolha imobiliária, que causou um boom econômico e um período de inflação que deixaram a indústria espanhola pouco competitiva.

Com o estouro da bolha, a Espanha levará anos para recuperar sua competitividade. A não ser que o país deixe a zona do euro, um passo que ninguém quer dar, ele está condenado a anos de desemprego alto.

Mas esse sofrimento, que pode ser visto como inevitável, está sendo amplificado em muito pelos rígidos cortes nos gastos públicos.

A Espanha não enfrentou problemas porque seu governo foi perdulário. Na véspera da crise, tinha superavit orçamentário e dívida baixa. Grandes deficit emergiram quando a economia entrou em recessão, carregando a receita com ela, mas, mesmo assim, a Espanha não parece ter uma dívida tão grande assim.

Em outras palavras, a Espanha não precisa de mais austeridade. O país provavelmente não tem alternativa a um longo período de tempos difíceis. Mas cortes selvagens nos serviços públicos essenciais e na ajuda aos necessitados prejudicam as perspectivas de ajuste bem-sucedido no país. Por que, então, se pede mais e mais austeridade?

Parte da explicação é que "pessoas muito sérias" se deixaram convencer pelo culto à austeridade, pela crença de que o deficit orçamentário, e não o desemprego em massa, é o perigo real e imediato.

Além disso, autoridades alemãs retratam a crise do euro como um drama de moralidade: países gastaram mais do que tinham e agora enfrentam as consequências. Não importa que não tenha sido isso o que aconteceu, nem o fato inconveniente de que bancos alemães tiveram papel importante na inflação da bolha imobiliária espanhola.

Pior: muitos eleitores alemães creem nisso, em boa medida porque é o que os políticos lhes disseram. E o medo da reação negativa de eleitores faz com que os políticos alemães não queiram aprovar créditos emergenciais para a Espanha e outros países, a não ser que os devedores sejam castigados primeiro.

Passou da hora de pôr fim a essa insensatez cruel. Se a Alemanha quer realmente salvar o euro, deve deixar o BCE fazer o que é preciso para resgatar os países devedores - sem exigir mais sofrimento.


Artigo do economista Paul Krugman, prêmio Nobel de economia de 2008.

A luta de classes na China


Fotografia da revolução cultural chinesa? Não é bem isso. São protestos de rua na China, contra o Japão, que reivindica uma ilha que seria da China. Foto de 16 de setembro último.

Contudo, não é de se descartar a possibilidade de haver manifestações de massa na rua motivado pela luta interna no PC chinês. O protesto contra o Japão seria um biombo da luta real no seio do Partido Comunista, que conta com 80 milhões de militantes. Como sabemos, a chamada “revolução cultural proletária” (de 1966 a 1969) foi a expressão externa da vasta luta interna no PC entre o dirigente Mao Tse-tung e seus adversários, que o responsabilizavam pelos desastres provocados pelo plano econômico chamado Grande Salto Adiante (1958-61).

De “revolução” e de “cultural” não teve nada. Mao, de forma sagaz, externalizou a luta de classes interna ao PC para as ruas, Universidades, fábricas, agrovilas e em todos os lugares. Com isso, ele teve que aprofundar os elementos do culto à personalidade, já que as manifestações de rua ocorriam sempre como um confronto entre os que estavam a favor de Mao, e os que estavam contra Mao, contra a revolução, a favor do Ocidente, a favor da URSS, por um intelectualismo pequeno-burguês, etc. A rigor, a "revolução cultural" só terminou com a morte de Mao, em setembro de 1976.

Hoje, o PC está novamente mudando sua alta burocracia (é a quarta geração de dirigentes, desde a revolução de 1949), que corresponde à alta direção da própria China. Deve sair Hu Jintao, e entrar Xi Jinping, que está designado, pelo menos, desde 2007, mas a cúpula de poder ainda não se sentiu segura para fazer a troca dos dirigentes.

Há uma grande especulação sobre o destino do poder na China, e as repercussões disso na economia internacional, face à crescente influência da economia chinesa no mundo atual. Tudo se agravou, quando há alguns dias, Xi Jinping desapareceu por duas semanas, tendo aparecido depois sem qualquer explicação das autoridades. Agora, essas grandes manifestações de rua, que podem remeter aos acontecimentos da segunda metade da década de 60, embora ainda estejam encobertas pela motivação anti-japonesa.

Da China tudo se pode esperar, menos o fim da luta de classes. Fotografia da AP.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Contestadora e discípula do “doutor Jorge Gerdau”: o cálculo Manuela







Que mixórdia é a cabeça da deputada Manuela D'Ávila (PCdoB). Não se sabe se ela é assim mesmo, ou representa uma persona (no sentido de “máscara”) com o objetivo de angariar popularidade e votos na atual corrida eleitoral ao Paço Municipal de Porto Alegre. 

Pode, também, ser as duas coisas: uma cabeça de bricolage, formada por cavacos pop de senso comum e bom senso (a fórmula balanceada de ingredientes que a sociedade do espetáculo exige dos amestrados) e uma máscara eleitoral, mesmo. 

Sendo assim, o resultado sintético da persona Manuela é o cálculo. Um cálculo para agradar gregos e baianos. Um cálculo alienado e despersonalizado.

Em Tempo: Marx, Durkheim e Weber não são exatamente “a santíssima trindade do socialismo”, como desinforma a matéria sobre Manuela, em Zero Hora de hoje (aliás, foi ela que disse essa estultice pedante ou foi o redator de ZH?). 

Imaginem, quem consideraria (a não ser os ignorantes) Durkheim e Weber como socialistas? 

Os três - a rigor - são os pensadores clássicos da Sociologia e não (jamais) do socialismo. 

Quem afirma isso está fazendo-o de orelhada, em flagrante desonestidade intelectual.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Uma asnice parada no ar


Esse chargista do jornal Zero Hora é um siderado mental. Ele sequer entendeu o que a presidenta Dilma disse ontem na ONU. Não consegue fazer uma crítica, por mais injusta ou equivocada que fosse. Ele só consegue esse sorvete-na-testa aí acima. 

É impossível deduzir o que o energúmeno quer dizer com o desenho. A charge do cara não é. A garatuja não é. Não é nada. Há uma intenção de criticar, de agredir, de diminuir a presidenta Dilma, mas fica no meio do caminho. Há uma asnice parada no ar. Há uma vontade abortada, um propósito impotente, que não se realiza, inconcluso por absoluta incapacidade de haver pensamento no gesto suspenso do desenhista siderado.

O cara aspira a ser burro, mas não consegue. Ele se projeta para a burrice, mas esta o rejeita. Falta-lhe habilitação para asno. Ele chegou no prefácio do curso da asnice, e foi rejeitado. Compreendemos e nos apiedamos dele.  

Quem inventa a neve, inventa fatos sociais, inventa outra realidade


Se a RBS/Zero Hora inventa estados da natureza e ficciona fenômenos meteorológicos a seu bel prazer, imagina o que faz com os fatos sociais, políticos, econômicos que narra diariamente nos seus meios de comunicação. A realidade é interpretada conforme o espírito momentâneo do jornalista ou do editor. Não há neve no RS? Edita-se a neve, no jornal, na TV e no rádio.   

Há dois dias os veículos da RBS vêm insistindo que houve o fenômeno da neve no RS e Santa Catarina. Não houve neve, houve sincelo e escarcha, fenômenos naturais distintos da neve. Mas, contrariando a classificação da ciência meteorológica, a RBS teima que prevaleceu a neve - a fixação do grupo midiático da família Sirotsky.


Não confundamos neve com sincelo ou escarcha.

Sincelo (segundo a Wikipédia) é um fenômeno meteorológico que acontece em situações de nevoeiro aliado a uma temperatura de -2ºC a -8ºC e resulta do congelamento das gotas de água em suspensão, quando estas entram em contato com qualquer superfície: vidro, lata, arame, gramado, folhas, pedra, madeira, etc. Não deve ser confundido com a geada. A película de gelo forma-se em qualquer superfície que contacte com a neblina, dando às folhas e caules das árvores uma aparência vítrea.

No Brasil a ocorrência do sincelo é raríssima, sendo observado no estado de Santa Catarina e, com muito menor frequência, no Rio Grande do Sul.

Escarcha é uma forma mais amena do sincelo, ocorrendo com uma neblina. A fotografia acima (tirada do portal ClicRBS) tipifica o sincelo.  

A neve - igualmente um fenômeno raríssimo no Sul do Brasil - é uma ocorrência meteorológica que consiste na precipitação de flocos formados por cristais de gelo. Cada floco de neve é composto por água congelada em uma forma cristalina que, devido à sua grande capacidade de refletir a luz, adquire aparência translúcida e coloração branca (informações da Wikipédia). 

O divã e a tela, em Porto Alegre


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Chango Spasiuk e o chamamé

A súbita e novíssima intimidade do tucanato com a moralidade pública



Falsa intimidade

A moralidade é uma virtude disputada. Mesmo aqueles que dela conhecem apenas o nome gostam de falar sobre virtudes morais como se fossem íntimos de longa data.

Em época eleitoral, por exemplo, somos obrigados a acompanhar o espetáculo lamentável de moralistas de última hora, que parecem acreditar no pendor infinito da população ao esquecimento e à indignação seletiva.

Melhor seria que eles se abstivessem de falar de moral antes de meditar profundamente a respeito da passagem do Evangelho que exorta a primeiro tirar a trave no seu próprio olho antes de retirar o cisco no olho do próximo.

Por exemplo, o Brasil vive um momento importante com o corajoso julgamento do chamado mensalão. Espera-se, com justiça, que daí nasça uma nova jurisprudência para crimes de corrupção eleitoral. Espera-se também que ninguém saia impune desse caso vergonhoso.

No entanto é tentar resvalar a moralidade à condição de discurso da aparência e da esperteza ver políticos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seu candidato à Prefeitura de São Paulo tentarem utilizar a justa indignação popular em benefício eleitoral próprio.

Caso eles realmente amem os usos das virtudes morais em política, melhor seria se começassem por fazer uma profunda autocrítica sobre o papel de seu partido na criação do próprio mensalão, da acusação de compra de voto na emenda da reeleição, assim como fornecer uma resposta que não fira a inteligência quando membros de seu partido - como Marconi Perillo, Yeda Crusius e Cássio Cunha Lima - aparecem envolvidos até a medula em casos de corrupção.

Seria bom também que eles explicassem por que apoiam incondicionalmente um prefeito que chegou a ter seus bens apreendidos pela Justiça no ano passado devido ao caráter da contratação da empresa Controlar, e por que a Justiça suíça e a francesa investigam propinas que a empresa Alstom teria pago a políticos do governo paulista em troca de contratos com a Eletropaulo.

Por fim, seria uma boa demonstração de respeito aos eleitores que o candidato Serra se defendesse, de preferência sem impropérios, a respeito das acusações sobre o processo de privatização de empresas federais no período FHC.

Sem isso, toda essa pantomima lembrará uma velha piada francesa sobre um sujeito que dizia a todos em sua pequena cidade ser amigo de Charles de Gaulle. Eis que um dia, De Gaulle aparece na cidade. Para não ser desmascarado, o sujeito resolve chegar perto do presidente e, com um tom de cumplicidade, perguntar: "E aí, Charles, o que há de novo?". "De novo", respondeu De Gaulle,"só mesmo essa intimidade".

Artigo do professor Vladimir Safatle, da Filosofia da USP. 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Positivismo e Castilhismo em debate, hoje



O Museu Júlio de Castilhos fica na rua Duque de Caxias, 1205 - Centro de Porto Alegre.
Palestra do professor de Filosofia, Nelson Boeira, hoje, às 19h30 sobre "Positivismo no período castilhista".

sábado, 22 de setembro de 2012

Resignificação do 'gaúcho' e a propaganda enganosa do latifúndio




O general Joca Tavares é um dos tantos mitos do Rio Grande do Sul. Como todo o mito, resulta pois de relatos fantásticos da tradição oral, cujo objetivo é sustentar a ideologia do presente ornando-a com justificações heróicas e feitos edificantes. Especialmente por força da propaganda dos pecuaristas da fronteira oeste do estado mais meridional do Brasil. Com 75 anos de idade, o velho latifundiário de Bagé inicia a revolta armada contra Julio de Castilhos em fevereiro de 1893. O levante civil ficou conhecido como Revolução Federalista de 1893/95, a rigor, uma reação dos estancieiros da fronteira contra os ventos modernizantes do positivismo castilhista. Foi um movimento violento, de ambas as partes, seja do lado dos insurgentes federalistas, seja do lado legalista, sob o comando do presidente (governador da provîncia) Julio Prates de Castilhos. Cálculos conservadores indicam que morreu cerca de 4% da população do Rio Grande, nas escaramuças da guerra de guerrilha, como prisioneiros depois mortos pela degola, feridos que sucumbiam à infecção, ao frio e à fome, etc.

Os federalistas do regime pastoril, já naquela época, faziam autopropaganda das suas raízes farroupilhas, evocando assim um passado épico e glorioso. O chefe militar Gumercindo Saraiva, em incursão rebelde pelo Paraná, ousou blefar contra o próprio presidente da República, Floriano Peixoto. Ao pedir a renúncia de Peixoto, Saraiva (mega latifundiário no Uruguai) se intitulava como “descendente de um farroupilha”, o que constituía uma atrevida inverdade. A imprensa federalista (também conhecida como maragata ou gasparista) era forte e atuante. Em Porto Alegre, no final do século 19, circulavam diariamente cinco jornais, entre os quais o republicano-castilhista A Federação e o parlamentarista-monárquico A Reforma. Este, trazia como subtítulo no cabeçalho a inscrição em favor de uma memória farroupilha: “A lenda de ‘35”, aludindo a 1835, quando se inicia a revolta separatista farrapa no estado. O jornal O Maragato, editado em Rivera, no Uruguai, fazia propaganda e ajudava a estruturar o mito Joca Tavares, assim: “Os gaúchos  reúnem-se, armam-se, rebelam-se  e proclamam-no seu chefe militar. Ei-lo ali, apesar dos seus oitenta anos, ágil como um jovem domador...”.

Notem que, nesta altura, já se modificava a noção depreciativa da figura do “gaúcho” ou “gaucho”, como dizem no Prata. A expressão gaúcho fora sempre um insulto a alguém. Informava sobre andarilhos, ladrões, marginais e mestiços, sem qualquer habilitação para o trabalho e a guerra permanente dos caudilhos e montoneras. Entretanto, depois da publicação do poema campeiro “O gaúcho Martin Fierro” do autor argentino José Hernandez, as noções negativas deram lugar a um constructo positivo, épico e até heróico. 

O fenômeno da releitura de uma expressão antes desprezível, agora um honorável adjetivo gentílico, tem a ver com interesses ideológicos, culturais, sobretudo econômicos, e até eleitorais. A raiz dessa virada está na Argentina, onde por todo o século 19 se digladiavam os caudilhos do interior, conhecidos como Federalistas, e os urbanos e modernizantes de Buenos Aires, liderados pelo intelectual Domingo Faustino Sarmiento, conhecidos como Unitaristas. Estes denegriam aqueles com expressões de profundo desprezo físico e político, como “gauchos”. Ora, Martin Fierro acabou servindo aos propósitos de recuperação da imagem dos bravos peões de estância, agora cantados como heróis ancestrais e portadores de alma nobre e injustiçada. A resignificação – mesmo que à custa de uma disputa nacional no país vizinho – acabou chegando ao Rio Grande do Sul, por obra dos estacieiros revoltosos contra o republicano Castilhos. Com ela, a mitologia farroupilha que falava de glórias e feitos que jamais existiram. Uma das grandes empulhações era afirmar – em tom ufanista - que o general latifundiário Joca Tavares fora farroupilha em 1835. Tavares lutou sim, tanto na guerra farroupilha quanto na guerra “inglesa” contra o Paraguai, e em ambos os casos foi um rematado legalista. Em 1836, foi preso após perder um combate para as forças farroupilhas do coronel Afonso Corte Real, em Rosário do Sul.

Não é à toa que o general Joca Tavares (marcado na foto, com ar de pasteleiro fumador de ópio) é homenageado em São Paulo, dando o nome – de nobreza - à Praça Barão de Itaqui, situada no bairro do Tatuapé, zona leste da cidade de São Paulo. 

Agora me perguntem: em quantos logradouros importantes de São Paulo foram dados nomes de vultos do Rio Grande? De um só, Getúlio Vargas, o maior de todos? Resposta: nenhum.          

Sobre o mesmo tema, leia também o artigo Por que o Rio Grande do Sul é assim
       
Fotografia de 1870, autor desconhecido. 

Artigo publicado originalmente neste blog DG em 18/07/2011

Quem tem medo da revista Veja?

Eugênio Neves

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O governo Dilma financia a direita brasileira




Daqui de longe, vendo o tumulto provocado com o processo Mensalão e a grande imprensa assanhada, me parece assistir a um show de hospício, no qual os réus e suspeitos financiam seus acusadores. O Brasil padece de sadomasoquismo, mas quem bate sempre é a direita e quem chora e geme é a esquerda.

Não vou sequer falar do Mensalão, em si mesmo, porque aqui na Suíça, país considerado dos mais honestos politicamente, ninguém entende o que se passa no Brasil. Pela simples razão de que os suíços têm seu Mensalão, perfeitamente legal e integrado na estrutura política do país.

Cada deputado ou senador eleito é imediatamente contatado por bancos, laboratórios farmacêuticos, seguradoras, investidores e outros grupos para fazer parte do conselho de administração, mediante um régio pagamento mensal. Um antigo presidente da Câmara dos deputados, Peter Hess, era vice-presidente de 42 conselhos de administração de empresas suíças e faturava cerca de meio-milhão de dólares mensais.

Com tal generosidade, na verdade uma versão helvética do Mensalão, os grupos econômicos que governam a Suíça têm assegurada a vitória dos seus projetos de lei e a derrota das propostas indesejáveis. E nunca houve uma grita geral da imprensa suíça contra esse tipo de controle e colonização do parlamento suíço.

Por que me parece masoca a esquerda brasileira, e nisso incluo a presidenta Dilma Rousseff e o PT? 


Porque parecem gozar com as chicotadas desmoralizantes desferidas pelos rebotalhos da grande imprensa. Pelo menos é essa minha impressão ao ler a prodigalidade com que o governo Dilma premia os grupos econômicos seus detratores.

Batam, batam que eu gosto, parece dizer o governo ao distribuir 70% da verba federal para a publicidade aos dez maiores veículos de informação (jornais, rádios e tevês), justamente os mais conservadores e direitistas do país, contrários ao PT, ao ex-presidente Lula e à atual presidenta Dilma.

Quando soube dessa postura masoquista do governo, fui logo querer saber quem é o responsável por essa distribuição absurda que exclui e marginaliza a sempre moribunda mídia da esquerda e ignora os blogueiros, responsáveis pela correta informação em circulação no país.

Trata-se de uma colega de O Globo, Helena Chagas, para quem a partilha é justa – recebe mais quem tem mais audiência! diz ela.

Mas isso é um raciocínio minimalista! Então, o povo elege um governo de centro-esquerda e quando esse governo tem o poder decide alimentar seus inimigos em lugar de aproveitar o momento para desenvolver a imprensa nanica de esquerda ?

O Brasil de Fato, a revista Caros Amigos, o Correio do Brasil fazem das tripas coração para sobreviver, seus articulistas trabalham por nada ou quase nada, assim como centenas de blogueiros, defendendo a política social do governo e a senhora Helena Chagas com o aval da Dilma Rousseff nem dá bola, entrega tudo para a Veja, Globo, Folha, SBT, Record, Estadão e outros do mesmo time?

Assim, realmente, não dá para se entender a política de comunicação do governo. Será que todos nós jornalistas de esquerda que votamos na Dilma somos paspalhos?

Aqui na Europa, onde acabei ficando depois da ditadura militar, existe um equilíbrio na mídia. A França tem Le Figaro, mas existe também o Libération e o Nouvel Observateur. Em todos os países existem opções de direita e de esquerda na mídia. E os jornais de esquerda têm também publicidade pública e privada que lhes permitem manter uma boa qualidade e pagar bons salários aos jornalistas.

Comunicação é uma peça chave num governo, por que a presidenta Dilma não premiou um de seus antigos colegas e colocou na sucessão de Franklin Martins um competente jornalista de esquerda, capaz de permitir o surgimento no país de uma mídia de esquerda financeiramente forte?

Exemplo não falta. Getúlio Vargas, quando eleito, sabia ser necessário um órgão de apoio popular para um governo que afrontava interesses internacionais ao criar a Petrobras e a siderurgia nacional. E incumbiu Samuel Wainer dessa missão com a Última Hora. O jornal conseguiu encontrar a boa receita e logo se transformou num sucesso.

O governo tem a faca e o queijo nas mãos – vai continuar dando o filet mignon aos inimigos ou se decide a dar condições de desenvolvimento para uma imprensa de esquerda no Brasil?

Artigo do jornalista Rui Martins, que vive na Suíça, publicado originalmente no portal Direto da Redação

A revolta sulina jamais pode ser chamada de revolução farroupilha



Em "A Ideologia Alemã", casualmente escrito entre 1845/46 (quando se encerrava a guerra sulina de 1835-45), Marx e Engels definem o que seja um processo revolucionário autêntico. Eles falam do chamado "salto cataclísmico" de um modo de produção para o seguinte, provocado pela convergência de conflitos entre as velhas instituições e as novas forças produtivas que lutam para se impor.

Ora, nos conflitos do decênio farrapo jamais foi cogitado algo semelhante. A própria ideia de república era uma consigna anêmica e mitigada. Portanto, a institucionalidade era conservadora e o modo de produção continuaria baseado nas vastas estâncias pastoris tocadas a trabalho escravo. Onde se encontram, então, os elementos necessários para a ocorrência de uma revolução autêntica e genuína?

Marx no belo texto que lhe é peculiar, cheio de pequenas anedotas, espírito agudo e fina ironia, ainda observa que em qualquer revolução é preciso "limpar as estrebarias de Áugias que estão transbordando de estrume" - referindo-se aos doze trabalhos do herói mítico Hércules que desviou dois rios para limpar num só dia as cocheiras fétidas de um velho reino grego.

As estrebarias do Rio Grande do Sul, pois, ficaram simbolicamente mais sujas, depois de 1845. Uma velha classe de civis e militares se revezaram vegetativamente no poder provincial, como xerifes vigilantes da imperial família Bragança. Enquanto isso, sua base social de sustentação política - o latifúndio pastoril (de tão atrasados, sequer cultivavam a terra, no RS não havia agricultura) de exportação - se apropriava de tantas terras públicas quanto fosse possível. As oligarquias - um fenômeno mundial - têm origem precisamente na apropriação não consentida das terras públicas. A acumulação primitiva dessas camadas sociais, que depois viram "elites", é feita na forma do roubo. Esse capital econômico apropriado pela violência, depois se transforma em capital político, base de sustentação da hegemonia social e cultural que vai perdurar e adentrar o século 20.  

Essa farra latifundiária sem limites e com licença para roubar terminou somente em 1891, com a Constituição escrita pelo jovem republicano Julio Prates de Castilhos, dando início, assim, a um novo ciclo político modernizador e revolucionário (este sim, revolucionário de corte burguês e autoritário) que vai durar mais de trinta anos no Rio Grande do Sul - onde explodiram dois conflitos sangrentos - 1893/95 e 1923/24 - sempre provocados pela reação maragata (estancieiros ex-monarquistas).

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A invenção do 'gaúcho' e a maldição conservadora no RS



Antes de entrar no tema que quero comentar, chamo a atenção para o “Desfile Cívico-Militar do Vinte de Setembro” (conforme consta da programação dos seus organizadores, os dirigentes do MTG – Movimento Tradicionalista Gaúcho) que está se desenrolando hoje, precisamente 20 de setembro de 2012. 

Quero sublinhar a ênfase na expressão “cívico-militar” dado pelo MTG, em pleno século 21. Me explico. Ninguém desconhece a filiação positivista-comtiana dos republicanos brasileiros, na segunda metade do século 19. No Rio Grande do Sul, onde a República aconteceu depois de uma revolução cruenta que durou de 1893 a 1895, os positivistas foram mais radicais e, por isso, mais exitosos do que no resto do Brasil. Julio de Castilhos e os militantes do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) modificaram completamente o cenário político e social do estado mais meridional do País. No RS não houve a chamada troca de placa: sai a Monarquia dos Bragança, entra a República constitucional. Aqui, houve a mais completa e absoluta troca da elite no poder. Saem os velhos estancieiros pecuaristas da Campanha, entra uma composição de classes formada por uma pequena burguesia urbana, uma classe média rural, profissionais liberais e colonos de origem europeia da região serrana.

Os positivistas sulinos, fiéis aos ensinamentos dogmáticos de Auguste Comte, propugnavam – como o mestre – pela superação das fases pregressas da Humanidade. À fase militar-feudal deve seguir-se a fase industrial da Humanidade. Ou seja, à fase militar corresponderia a insurreição farroupilha de 1835-45 contra o Império do Brasil, agora – com o advento republicano – estávamos, pois, na hora de criar condições para o desenvolvimento e o progresso material que se daria por um processo intensivo de industrialização manufatureira. 
    
Vejam, pois, que os tradicionalistas do século 21 continuam com os olhos fixos num passado praticamente feudal, marcadamente militarista, embora não tenhamos experimentado, de forma hegemônica e total, esse modo de produção pré-capitalista no Brasil.  

Um dos formuladores intelectuais do que chamamos de ordem delirante do atraso – o pensamento tradicionalista da estância – foi Ramiro Frota Barcellos. Na obra “Rio Grande, tradição e cultura” (1915), o santiaguense é de uma clareza solar quanto aos propósitos enfermiços do tradicionalismo estancieiro: “O que agora se verifica, mercê do atual movimento tradicionalista, é a transposição simbólica dos remanescentes dos ‘grupos locais’, com suas estâncias e seus galpões para o coração das cidades. Transposição simbólica, mas que fará sobreviver, na mais singular aculturação de todos os tempos, o Rio Grande latifundiário e pecuarista”.

Qualquer semelhança com o enclave da bombacha e da fumaça que anualmente acampa, no mês de Setembro, no Parque da Harmonia, em plena área central de Porto Alegre, não é mera coincidência. A “mais singular aculturação de todos os tempos”, como premonitoriamente afirma Barcellos. Neste caso, “aculturação” é sinônimo de regressismo e estagnação.

É sobre isso que eu quero comentar brevemente.

Quando estudantes em São Paulo, Júlio de Castilhos e Assis Brasil chegaram a fundar um chamado “Clube 20 de Setembro”, que promoveu estudos – com algumas publicações - sobre o movimento farroupilha da primeira metade do século 19. Curiosamente, Castilhos abandonou as pesquisas sobre a guerra civil que varreu o Rio Grande por dez longos anos. Assis, em 1882, publicou a obra “História da República Rio-Grandense”. Por algum motivo, carente de melhores investigações, tanto os positivistas do PRR, quanto os liberais sulinos não foram muito enfáticos no culto farrapo. Tal fenômeno veio a ocorrer somente depois da Segunda Guerra, em Porto Alegre, no meio estudantil secundarista urbano do Colégio Estadual Julio de Castilhos. Daí se difundiu como rastilho de pólvora sob a forma dos onipresentes Centro de Tradição Gaúcho – CTG, que são clubes de convivência social onde se cultua o passado sob a forma fixa da mitologia farrapa, tendo como matriz formal a estética e o ethos do latifúndio da pecuária extensiva de exportação – subordinado à cadeia mercantil dos interesses hegemônicos ingleses na América do Sul. Quando os tradicionalistas se ufanam do pretensioso espírito autônomo e emancipado do chamado 'gaúcho' tout court, se referem ao Império dos Bragança, mas esquecem a dependência econômica e subordinação negocial estrita com os interesses ingleses, via portos de escoamento no Prata (Montevideo e Buenos Aires). 

[Das relevantes realizações modernizantes do castilhismo-borgismo foram a estatização e incremento do porto de Rio Grande, bem como a encampação das ferrovias controladas por capitais europeus, de forma a dotar o estado de infraestrutura e fomentar o desenvolvimento, sem depender do Rio ou do Prata.]   

A grande data a comemorar no Rio Grande do Sul, pelo lado do senso comum, é o 20 de Setembro, que marca o início da insurreição farroupilha (é um equívoco chamá-la de “revolução”, uma vez que os rebeldes foram derrotados pelo Império e não ocorreu nenhuma modificação política, social ou econômica na província sulina depois de 1º de março de 1845, na chamada Paz de Ponche Verde). No entanto, se houve revolução no sentido rigoroso e clássico do termo, esta ocorreu a partir da promulgação da Constituição Rio-Grandense, e da posse do governador (então, presidente do Estado) Julio de Castilhos, no dia 14 de julho de 1891. Meses depois, os conservadores e latifundiários alijados do poder, eternos aliados e sustentáculos da Monarquia, deram início à luta armada contra os jovens que governavam o Rio Grande (Castilhos tinha 30 anos quando assume a presidência do estado). A partir da revolução cruenta, se inicia um processo de grandes modificações e modernizações no RS. Em 1902, já com Borges de Medeiros no poder, depois da morte precoce de Castilhos, o estado passou a tributar com impostos progressivos as terras privadas, bem como reaver dos estancieiros as imensas glebas públicas apropriadas ilegalmente durante todo o século 19.
    
A hegemonia política do castilhismo-borgismo perdura até a década de 1930. Getúlio Vargas foi presidente do estado de 1928 a 1930, quando sai para o Catete, e já deixa um governo mais conciliador com os conservadores da Campanha.

Os modernizadores esqueceram a superestrutura, e os conservadores ocupam o espaço  

É intrigante, pois, que a apropriação do imaginário social tenha se dado pelo lado dos conservadores, através do simbolismo inventado do 20 de Setembro, e não pelas forças burguesas, progressistas e renovadoras do Rio Grande do Sul, que seria pelo 14 de Julho.
                  
Eric Hobsbawn e Terence Ranger que estudaram o fenômeno da chamada “invenção das tradições” suspeitam que quando ocorrem mudanças sociais muito bruscas e profundas, produzindo novos padrões com os quais essas tradições são incompatíveis, inventam-se novas tradições e novos imaginários de identidade social e cultural. Para os dois autores britânicos, a teoria da modernização pode sim conceber que as mudanças operadas pela infraestrutura da sociedade demandem tradições inventadas no plano da superestrutura.

Neste sentido, a revolução burguesa positivista-castilhista de inspiração saint-simoniana, introdutora do Estado-Providência, mobilizou somente as instâncias da infraestrutura (base material e econômica), deixando uma vasta lacuna, um boqueirão ideológico, diríamos, na esfera da superestrutura. 

Assim, teria restado um formidável vácuo em distintos setores da vida social e no espírito dos indivíduos, como nas artes, no pensamento político, no Direito, na identidade, nas subjetividades individuais e de grupos, na cultura e no imaginário como um todo. O homem é, antes de tudo, um animal simbólico, e este domínio da razão e da cultura foi deixado vago, motivado, talvez, pelas duras urgências da vida real, mas também – suspeito eu – pelo próprio autoritarismo do poder estendido do castilhismo-borgismo.

O tradicionalismo seria, assim, um desagravo mítico-ideológico dos derrotados de 1893/95, os mesmos derrotados de Ponche Verde. Uma vingança de classe – a do latifúndio subalterno e associado – contra a modernização burguesa do positivismo pampeiro, seria isso? Uma maldição contra o futuro do Rio Grande? “Vocês estarão condenados a viver no passado, em meio à fumaça e o cheiro de esterco, festejando derrotas, e considerando heróico, cavalgando durezas e incomodidades, e considerando genuíno, fruindo uma arte primária e mambembe, e considerando autêntico, cultuando velhos ressentimentos e considerando lúcido, ignorando o rico mosaico cultural da província e considerando o tradicionalismo de matriz latifundiária como a síntese de tudo. Vocês são os gaúchos, velhos vagabundos redimidos, são os heróis de um passado que nunca existiu” – foi a sentença de fogo dos que trouxeram o tradicionalismo como vanguarda do atraso no pensamento guasca.  

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Um caso contado por Santiago Carrillo, que morreu hoje


A morte de Laurence Beria

Jorge Semprun, meio desbundado para o meu gosto, mas sempre um grande escritor, e um testemunho notável dos crimes nazistas e stalinistas, conta em seu livro de memórias “Um belo domingo”, como foi a eliminação do temível Laurence Beria, o sanguinário chefe de polícia de Josef Stálin.

Quem narrou o fato ao escritor espanhol foi Santiago Carrillo (foto, morto hoje em Madri, aos 97 anos de idade) então secretário-geral do PC da Espanha, alinhadíssimo à Moscou, que por sua vez, ouviu de primeira mão do próprio Nikita Kruschev, que sucedeu a Stálin, depois de sua morte natural e biológica, em março de 1953, no comando da URSS.

Kruschev recebia para jantar, numa das salas formais do Kremlin, certo número de representantes à conferência dos partidos comunistas, realizada em Moscou, em 1957. Na hora da sobremesa, Kruschev descreveu a morte de Beria, que teria ocorrido já em dezembro de 1953. Era escutado por olhos atônitos e corações descompassados.

Aconteceu, diz Nikita, durante uma reunião do Presidium Supremo, depois da morte de Stálin. Não foi tarefa fácil, todos os membros eram revistados pelos homens da KGB, antes de entrarem na sala, segundo costume instaurado no tempo de Stálin.

Mas a dificuldade foi contornada, como veremos.

Os generais não eram revistados. Bulganin, era marechal, e entrou no recinto estofado de pistolas automáticas, com a cumplicidade de diversos oficiais superiores. Mal a reunião começa e os conspiradores precipitam-se sobre as armas e abatem Beria imediatamente. Seu corpo é retirado do local enrolado em um tapete, para que ninguém se desse conta do acontecido. Ato contínuo, unidades militares de elite, avisadas do êxito da operação, prendem os principais colaboradores de Beria e dão por encerrado o assunto.

Na grande sala do Kremlim, sob o luxo rebuscado com dourados e rebrilhos, Kruschev acabava de relatar como conseguira se desembaraçar de Beria. Semprun diz que talvez ele tenha sido exagerado, ou talvez a verdade fosse mais complicada e mais sórdida também. O fato é que todos permaneciam esmagados por um silêncio espesso e glacial.

Os delegados irmãos não ousavam se encarar. Então, o velho Golan, secretário-geral do PC da Grã-Bretanha, descarregou o seu humor britânico:

A gentlemen’s affair, indeed! – algo como “um caso entre cavalheiros, sem dúvida!”.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Alguma coisa anda mal: 'Veja' é fonte da Agência Brasil



A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, através da Ministra Helena Chagas, deve explicações acerca da singela (mas grave) notícia veiculada pela Agência Brasil, hoje, às 15h50 (ver fac-símile acima).   

Para a cidadania é intolerável aceitar que a revista Veja (grupo Abril/Civita) funcione como fonte da agência pública de notícias, vinculada ao Palácio do Planalto. Alguma coisa está mal, fora de lugar, ou não funciona na Secom da Ministra Chagas. 

No breve período de gestão da Secom, a Ministra Chagas já distribuiu 112 milhões de reais à imprensa conservadora do País, ou seja, 70% da verba de publicidade destinada ao setor midiático brasileiro. Hoje, usa a Veja como fonte legítima e confiável.  

Algo está podre no reino de Chagas.  

domingo, 16 de setembro de 2012

ZH começa a campanha eleitoral (subliminar) em favor de Ana Amélia



Hoje, o RS está "no limite da insegurança" - assegura o jornal Zero Hora (grupo RBS). Sugere, assim, que nas duas últimas administrações estaduais - Rigotto e Yeda, ambos apoiados pela RBS - fora um lugar de segurança e bem-aventurança, onde todos eram felizes e sabiam. 

Exagero à parte, nota-se que já começou a campanha eleitoral subliminar em favor da futura candidata ao Piratini, a senadora do PP, Ana Amélia Lemos, conhecida pela sua incessante luta em prol de papeleiras, agroquímicos, venenos, transgenia, agronegócio e tudo o que o conservadorismo e o pensamento do atraso pode conceber e destruir.  

Sem problema, o grupo RBS/Família Sirotsky tem todo o direito do mundo em manifestar identidade ideológica e afeição política pela senadora, afinal, ela é "de casa", de confiança dos patrões, e ex-celetista da firma fundada por Maurício Sobrinho. Porém, seria ético que expressasse essa preferência de forma aberta e sincera, sem ocultar sua condição de partidária do atraso. Mas, não, a linha editorial dos veículos da RBS insistem em passar a falsa ideia de que são neutros, isentos e apartidários.

Quase pulcros.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O abuso do diagnóstico médico do “transtorno mental” e a grande máquina comercial da drogadição




Milhões e milhões de crianças e adolescentes estão sendo diagnosticados como portadores de transtornos mentais. Tudo baseado somente numa lista de comportamentos considerados fora da normalidade. 

Depois de um diagnóstico tão rápido quanto leviano, sem nenhum fundamento científico, médicos prescrevem drogas que fazem parte de um vasto circuito industrial-comercial como mais um produto da moda, como uma sandália da estação, uma calça descolada, um celular da hora, um tênis da onda, etc.

No entanto, nada disso é o que parece. A drogadição é uma estratégia negocial da indústria farmacêutica, em combinação com profissionais médicos submetidos à ética dos predadores.

Quem controla esse abuso? Onde está o Estado, neste caso? Como proteger o seu filho dos lobos famintos da indústria da lobotomia química? 

Catalunha quer sair da crise, ops, da Espanha


Maracatu Truvão faz oito anos em Porto Alegre



O Maracatu Truvão é um grupo percussivo de Porto Alegre que toca maracatu de baque virado. O grupo nasceu em 2004, a partir de uma oficina do percussionista Duda Guedes. Desde 2007 o grupo faz parte do ponto de cultura Afro Sul Odomodê, que há quase quarenta anos trabalha com a cultura negra em Porto Alegre.

Desde o começo, o Maracatu Truvão promove um intercâmbio cultural entre o Rio Grande do Sul e Pernambuco. Todos os anos o grupo traz a Porto Alegre mestres e batuqueiros das principais nações.

O maracatu é festa, é alegria, povo na rua, som de tambor. Mas também é algo maior. É uma manifestação cultural que faz parte da tradição pernambucana e que ressoa em todo país. 

Conta uma parte da nossa história através das alfaias, dos gonguês e dos cantos dos mestres


MARACATU TRUVÃO – Festa de oito anos

Academia de Samba Praiana (Avenida Padre Cacique, 1261 - Porto Alegre)

14 de setembro (sexta-feira) – 23h

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Ascensão aquisitiva dos trabalhadores está incomodando as classes finas do Brasil



Os consumidores das classes A e B se mostram incomodados com algumas consequências da ascensão econômica da classe C [classe trabalhadora, nota do blogueiro], que passou a comprar produtos e serviços aos quais apenas a elite tinha acesso. É o que apontam dados de uma pesquisa do instituto Data Popular feita durante o primeiro trimestre, com 15 mil pessoas das classes mais favorecidas, em todo o Brasil.

De acordo com o levantamento, 55,3% dos consumidores do topo da pirâmide acham que os produtos deveriam ter versões para rico e para pobre, 48,4% afirmam que a qualidade dos serviços piorou com o acesso da população, 49,7% preferem ambientes frequentados por pessoas do mesmo nível social, 16,5% acreditam que pessoas mal vestidas deveriam ser barradas em certos lugares e 26% dizem que um metrô traria "gente indesejada" para a região onde mora.

"Durante anos, a elite comprava e vivia num 'mundinho' só dela", diz Renato Meirelles, diretor do Data Popular. "Nos últimos anos, a classe C 'invadiu' shoppings, aeroportos e outros lugares aos quais não tinha acesso. Como é uma coisa nova, a classe AB ainda está aprendendo a conviver com isso. Parte da elite se incomoda, sim", afirma Meirelles. A informação é do portal iG.

........................

A continuar assim - e vai continuar - logo logo teremos no Brasil uma espécie de tea party tupinambá. A Veja, a Folha, Zero Hora, TV Globo, etc., estão ficando impotentes para representarem e serem porta-vozes dessa gentalha endinheirada, egoísta e cuja raiz sociológica está enterrada em solo escravagista. 

No fundo (e no raso) eles são nostálgicos do regime escravocrata, onde os pobres e, sobretudo, os negros, conheciam o seu lugar - como diziam e apregoavam como dogma social inamovível. 

A propósito do tema, vale a pena ver (ou rever) o papo abaixo da professora Marilena Chaui.

ZH “esquece” que o projeto é do Ministério da Cultura




O jornal Zero Hora publicou hoje uma matéria de página inteira sobre a restauração completa da Praça da Alfândega de Porto Alegre. De fato, a praça está ficando muito bonita. Mas omitiu que o projeto teve origem no Ministério da Cultura, do Governo Federal. É flagrante a má-fé da editoria do jornal. 

Como classificar o jornalismo praticado pelo grupo RBS, proprietários de Zero Hora? Como ajuizar o jornalismo que esconde informações importantes de um fato, um tema, ou uma realização do setor público?

Você acredita em um meio de comunicação que oculta do leitor informações relevantes acerca de uma notícia que veicula?

O que você diria de um jornal que disfarça a intenção dos seus reais objetivos? Que oculta dados com o intuito de modificar a percepção do leitor?

O que dizer de gente assim? 


Como se não bastasse, o texto da matéria é de sofrível passando a péssimo. Como pode-se interpretar a frase no fac-símile parcial acima? Como, assim: foi alterado nas reformas anteriores ou posteriores a 1924? 

Que tipo de profissional trabalha em ZH?
 

O dinheiro como deus, e o desajuste social de nosso tempo



'Cosmópolis'

"O dinheiro perdeu sua qualidade narrativa, tal como aconteceu com a pintura antes. O dinheiro agora fala sozinho." Pela primeira vez em todo o filme, Eric Packer presta atenção em outra pessoa, a que fala estas frases: "A única coisa que importa é o preço que se paga. 

Você mesmo, Eric, pense só: o que você comprou por US$ 104 milhões de dólares? Não foram dezenas de cômodos, vistas incomparáveis, elevadores privados. Você gastou esse dinheiro pelo próprio número em si, US$ 104 milhões. Foi isso o que você comprou".

Só um cineasta como David Cronenberg seria capaz de filmar esse automovimento do capital transformado em modo de funcionamento do desejo. O cinema a serviço da crítica social nós conhecemos. Mas conhecemos pouco o cinema como exposição trágica do ponto de junção entre vida econômica e economia psíquica. Esse cinema nos foi apresentado por "Cosmópolis", novo filme do cineasta canadense e um dos retratos mais fiéis do nosso mundo em crise.

Cronenberg sempre foi sensível ao caráter marcial do desejo que só se manifesta quando se choca contra seu ponto de excesso. "Crash - Estranhos Prazeres", "Mistérios e Paixões" e "Videodrome" são alguns dos seus filmes entre os mais relevantes dos últimos tempos por, entre outras coisas, fornecer as imagens para descrevermos a maneira com que o desejo, muitas vezes, existe apenas ao se bater contra os limites do corpo, da identidade, do real, da forma. Existe somente reduzindo todo objeto a um movimento incessante que ignora limites.

Porém, com "Cosmópolis", Cronenberg lembrou como esses sujeitos assombrados por seu próprio gozo não são o ponto de desajuste da vida social. Eles são o verdadeiro cerne de funcionamento do capitalismo contemporâneo. Eles são a encarnação de uma unidade monetária que perdeu sua qualidade narrativa para se realizar como puro movimento, para não falar de nada a não ser de sua própria quantidade.

Aparentemente, vemos em "Cosmópolis" um dia na vida de um jovem yuppie em sua limusine que procura por um acontecimento que pare o movimento que tudo anula, seja tal acontecimento o assassinato, o sexo ou a simples e pura perda de tudo.

No entanto, ao filmar Eric em sua limusine, Cronenberg mostrou, na verdade, qual a melhor maneira para analisar uma crise. Uma verdadeira crise nunca é apenas econômica, mas também política e, principalmente, psicológica.

Crise não apenas dos modelos, mas também de seus contrapontos. Crise que nos ensina o sentido desta outra frase que Eric Packer ouvirá de uma amante, frase que ele precisará de todo o filme para compreender: "Você está começando a achar que duvidar é mais interessante do que agir. Duvidar exige mais coragem".

Artigo do professor Vladimir Safatle, da filosofia da USP.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Marilena Chaui analisa a mídia como violência cotidiana, que necessita um marco regulatório



Parte 1

Parte 2

Parte 3

Revolução ou involução verde?



Já tivemos milhares de distintas batatas comestíveis. Hoje, temos apenas quatro, todas necessitam de defensivos químicos 

Documentário de Deborah Koons García. Em 55 minutos, o vídeo analisa o futuro da nossa alimentação, em especial a partir do surgimento da engenharia genética, que revolucionou a produção de alimentos no mundo. O aumento do uso de fertilizantes, pesticidas, herbicidas está alterando muitos produtos e em alguns casos colocando em risco a nossa saúde.

A empresa Monsanto é a mais questionada. É uma multinacional de agricultura e biotecnologia, a líder mundial do herbicida glifosato, vendido sob a marca Roundup

A Monsanto também é líder na produção de sementes geneticamente modificadas - os transgênicos - tão ferrenhamente defendidos pela senadora do PP, Ana Amélia Lemos, que hoje apoia a candidatura de Manuela (PCdoB) à prefeitura de Porto Alegre, e que em 2014 deverá ser a candidata da direita (e do grupo RBS) ao governo estadual - uma espécie de Yeda Crusius mais perigosa e menos burra. 

Ao apoiar a "comunista" Manuela, Ana Amélia quer mostrar mais flexibilidade na costura de alianças, ao mesmo tempo em que se alia a uma candidata mulher e jovem, na tentativa de se fazer conhecida junto a um eleitorado menos avisado acerca dos seus propósitos reacionários e conservadores.   
   

Contato com o blog Diário Gauche:

cfeil@ymail.com

Arquivo do Diário Gauche

Perfil do blogueiro:

Porto Alegre, RS, Brazil
Sociólogo