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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

domingo, 31 de outubro de 2010

A vida como ela é


Estão faltando, nesta fotografia, os barões da mídia oligárquica - único sustentáculo político-ideológico-eleitoral do candidato da direita nestas eleições de 2010.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Enquanto isso, Dilma está com o povo


A candidata Dilma Rousseff em carreata em Fortaleza, Ceará, na terça-feira, dia 26 de outubro de 2010. Fotografia de Jarbas Oliveira/Folha/UOL.

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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Serra é solidão


A dolorida solidão de José Serra

Nesta hora, o monitor-zelador-babá que sempre liga para Serra avisando dos fatos que o rodeiam, estava de costas, fazendo xixi.

Serra não existe. Só pode ser obra de ficção de algum escritor demente e mau humorado.

A fotografia acima, não é montagem. É de autoria do fotógrafo do grupo Folha/UOL, Júlio César Guimarães. Foi tirada na última terça-feira, dia 26 de outubro de 2010, no estádio do Maracanã, que está em obras de completa reforma.

Uma fotografia para ilustrar em definitivo a campanha do candidato da direita brasileira às eleições gerais de 2010.

É de perguntar: o que José Serra foi fazer - e posar - junto a escombros, ruínas e destruição? Que impulso mórbido leva um sujeito a tal desatino que conspira contra suas próprias aspirações?

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"A mania histórica dos franceses de ir às ruas protestar" - debocha a Veja


Ontem, a revista Veja afirmou uma grande tolice, reflexo da sua noção atrasada das relações sociais, o que não constitui nenhuma novidade. Mas fazemos questão de marcar o registro da coisa. Para a revista da vanguarda do atraso brasileiro, os protestos populares na França constituem uma "mania" nacional.

O dicionário Houaiss diz que mania equivale a hábito extravagante, costume nocivo, e, na psicopatologia, um "impulso incontrolável para executar determinada ação". Ou seja, o exercício pleno da cidadania, para Veja, é um mero sintoma da doença mental dos franceses.

Essa visão de mundo sintetiza bem o pensamento da principal revista do grupo Abril, de propriedade da família Civita - uma das quatro famílias que oligopolizam o mercado midiático brasileiro.

As quatro famílias - Civita, Mesquita, Frias e Marinho - são a pedra no caminho da nossa democracia formal e do nosso republicanismo em construção.

Enquanto tivermos gente com essa mentalidade estreita - rotulando como doença nacional a prática do protesto de massa e do tensionamento das crises do modo de produção - como hegemônicos no estratégico setor da comunicação social brasileira, o Brasil continuará com enormes dificuldades para ampliar, garantir e sustentar espaços democráticos reformistas que sejam irreversíveis, cumulativas em seus efeitos e conducentes a novas reformas.

Um problemão para a futura presidente, que precisará de muita pressão popular organizada para reordenar - sem autoritarismo - essa deformidade anacrônica da nossa vida social.

Lula e Dilma despacharam o neoliberalismo do Brasil


Decididamente, Dilma!

No meu modo de ver, a superioridade de Dilma sobre Serra é notória e vertiginosa. A primeira razão – razão substancial – é que ela tem, fazendo parte do governo Lula, uma visão e uma proposta de Brasil mais ampla e mais brasileira do que Serra. Seu papel como ministra da Casa Civil foi essencial para o sucesso do atual do governo.

Em que ponto? Em verdade, ela foi uma espécie de Super-Ministro do Planejamento. Logo de saída, deu ordenação e coerência nas obras dos diversos ministérios. Deu unidade e tornou denso o trabalho do governo. Pois, antes de Dilma, as pernas estavam para um lado, os braços para outro, a cabeça jogada lá diante, e os calcanhares e os pés andavam sozinhos pela Esplanada dos Ministérios. Tudo existindo, mas, todas as partes dispersas.

Uma espécie de diáspora do governo Lula. Dilma fez como os mágicos: agregou um cenário ao conjunto e reuniu tudo num corpo só. E surgiu daí a envergadura do governo Lula. Era o que o político Lula precisava. Tinha que vir alguém que soubesse organizar as peças do governo numa cara de governo. Precisava de um ministro que planejasse e coordenasse as ações para que Lula se tornasse o estadista. E ele o foi. E é.

Assim, no final do Lula I, a população já tinha se dado conta que todo um projeto estava organizado: aumento de salário mínimo consistente, Bolsa Família, crédito consignado, ProUni. E Dilma, vindo do Ministério de Minas e Energia acrescentou o que faltava: Luz para Todos. Isto depois da secura e dos apagões dos anos neoliberais de FHC e Serra, onde grassava a hemorragia da privatização, a volúpia desastrosa da dívida, o crescimento ralo do PIB (média de 2,2%), o crescente desemprego, o empréstimo “fraternal” Clinton-FMI, a decadência da infra-estrutura, etc. Ruth Cardoso é quem forçava os programas sociais que estavam soltos dentro do governo de FHC (Não nos esqueçamos das palavras caniculares e afrontosas de Sérgio Motta sobre “Comunidade Solidária” da Dona Ruth: “Essa masturbação sociológica me irrita porque não chega a nenhum resultado”. 1995. Que diria em 2010 do sociológico sucesso total do governo Lula?).

O Luz para Todos. Se pensarmos bem foi um dos grandes projetos de Dilma. Pense o leitor e imagine. Na época, discutia com um amigo e lhe disse: “Ah, você acha que esse é um programa banal, é? Faça o seguinte, você que é classe média: apague as luzes da sua casa e fique uns 15 dias sem luz. Pense como será o seu dia; pense, sobretudo, como será a sua noite. Você está na Idade Média. São 15 milhões de pessoas que viajaram 500/600 anos”. E não deu outra. Lula apesar dos grandes ataques do Mensalão, conseguiu uma vitória espetacular naquela eleição de 2006. Dilma botou a sua parcela de votos na cesta eleitoral de Lula. Só isso já seria bastante para consagrá-la: dar coerência ao governo e apoiar a população a ter um melhor padrão de vida.

Mas, o grande lance veio a 22 de janeiro de 2007, logo depois da vitória de Lula, no Lula II, o lançamento do PAC. Fiquei tão entusiasmado que escrevi imediatamente um artigo: “DA ESTRATÉGIA DO INVESTIMENTO NASCEM AS NAÇÕES”, datado de 29 de janeiro de 2007 e publicado em Indicadores Econômicos FEE, vol. 34, nº 4, março de 2007.

Mas, qual o motivo do entusiasmo? Era como dizemos, nós os gaúchos: “o tal de PAC”. E o PAC, disse Serra, “era uma lista de obras”. Não sejamos tão apressados na conclusão, vamos pensar um pouco. Sim, o PAC tinha uma lista de obras, alguns projetos com dificuldades para sair do papel, inclusive, vimos depois, por briga entre empresas. Mas, isso é ver pouco, é ficar com o olho grudado no chão.

Vamos fazer um contraste, a diferença entre o projeto econômico de Lula e o de Fernando Henrique. O governo de FHC tinha sustentado um modelo financeiro de acumulação. A jogatina das finanças dava um falso ar de festa. FHC e Serra continuaram a crise produtiva de 1982 e terminaram o século e entraram no século XXI sem investimento. Tudo se pautava pela multiplicação dos pães miraculosos dos títulos financeiros públicos e privados. Na verdade, não eram pães, era papel que rendia dinheiro e não dava emprego.

Eles construíram um Estado que chamei, em outros textos, de Estado Financeiro, onde o núcleo da sua estratégia se pautava numa política econômica peculiar, uma “política econômica reduzida”. Só se pensava em moeda, câmbio, taxa de juros e contas públicas. Não havia política industrial, política agrícola, política agrária, política tecnológica, política de rendas, etc. Tudo ficava para o mercado. O Estado só se preocupava com a acumulação financeira. E houve um abandono melancólico e desesperado, dostoievskiano, do investimento. Deu-se um investimento raquítico e tudo ia para o circuito financeiro. E é nesse ponto que surge o PAC, para quebrar o cassino brasileiro.

Não fiquemos na idiotice empírica, a lista de obras. O grande do PAC foi o gesto simbólico, imponente, maior, um gesto estratégico. Um toque de reunir dos empresários com uma forte declaração do governo: O FUNDAMENTAL DE UM PAÍS É O INVESTIMENTO.

O velho Keynes veio do Além e conversou com a Dilma, o Lorde sabia das coisas: “Dilma, joga as tuas fichas no investimento”. Vejam caros leitores, não tinha havido ainda a crise financeira americana e mundial. O Lehman Brothers não tinha falido. O Lorde sabia por que nos anos trinta ele tinha escrito e batalhado por isso, pelo investimento. A especulação financeira estava matando o Brasil. E o que fez Dilma? Fez mais que um programa, fez um ato político da maior transcendência. No meio do neoliberalismo, com o barco das aplicações financeiras velejando a todo vapor para o boom, que vai desabar logo em seguida, ela ousa. E Lula? A apóia vigorosamente. E o investimento viaja mar afora, o mar que vai, mais tarde, nos levar ao Pré-Sal. Fernando Pessoa falava do mar português; com a Petrobrás o mar pode ser brasileiro. E então vamos para o investimento.

Mas, este ato político de Dilma trouxe mais duas coisas decisivas – e fundamentais. Ela estava dizendo de forma magistral que havia uma inspiração no pensamento econômico brasileiro na hora e a vez do PAC. Veio na herança de Celso Furtado, de Ignácio Rangel, de Maria da Conceição Tavares, E de todos outros economistas nacionais que são “desenvolvimentistas”. Qual o ensinamento? É preciso recuperar o ESTADO, é preciso recuperar a nossa capacidade de PLANEJAMENTO.

Que coisa bendita, poder ser herdeira de uma grande corrente, da corrente que veio construindo e lutando pelo Brasil, desde os anos 30. Mas, o PAC não passou apenas esta mensagem. Tinha mais coisa. Para muitos, foi um capricho de Lula pôr Dilma como candidata a presidente da República. Nada disso, descrentes brasileiros. Não, Lula, viu tudo; viu tudo porque também se beneficiou deste vigor de pensamento de Dilma. Um ESTADO para ser forte tem que ter instrumentos para realizar o seu projeto e sua estratégia. E aí que o PAC mostrou a arma engatilhada desde sempre.

O PAC trouxe para o núcleo estratégico do governo a filha pródiga, a filha dileta, a filha por quem a nação tinha lutado. A Petrobrás. A campanha “O Petróleo é nosso” é uma memória histórica tão forte, tão contundente, tão brasileira, tão nossa, que impediu que FHC e Serra vendessem a Petrobrás. E o gesto de Dilma na época do Programa de Aceleração do Crescimento, pouca gente entendeu. Ora, para quê trazer, para dentro do PAC, a Petrobrás que já tinha um programa avantajado de investimentos?

A miopia neoliberal não permitiu às pessoas enxergarem que o PAC era um fabuloso gesto simbólico e político, do qual falamos antes, e que trazia para o centro estratégico do governo um verdadeiro núcleo de acumulação. E quando veio a descoberta do Pré-Sal, a cabeça oca de muita gente “explodiu de lucidez”, como dizia meu colega Galeno da UNICAMP. Perceberam que o Pré-Sal iria encadear um conjunto de indústrias, todas investindo adoidado. E, principalmente, dentro de um programa que assegurasse às empresas um conjunto de obras. Uma demanda garantida. Na verdade, o sonho de todo empresário. Basta ouvir o presidente da Petrobrás, Sérgio Gabrielli, para ver o gigantismo do projeto, da riqueza que temos pela frente, das possibilidades de aumentar o índice de nacionalização da cadeia produtiva. O mundo do investimento – o futuro – voltou a reabrir-se para o Brasil. E tudo veio da audácia do Governo Lula de ir contra o neoliberalismo, de buscar novamente o investimento e o emprego e desenvolver a riqueza brasileira. E Lula encontrou em Dilma o talento para continuar a sua obra: despachar o neoliberalismo, “bye, bye, forever”. E com esse lance, retomar o baú de riquezas nacional: desenvolvimento com distribuição de renda.

DECIDIDAMENTE, DILMA!

Artigo do economista Enéas de Souza, pesquisador da Fundação de Economia e Estatística, FEE/RS.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Jornal que sempre defendeu a privataria agora revisa sua posição?


Três anos depois, finalmente alguém entendeu o magoado professor azedo

O jornal O Globo de hoje descobriu alguém para sustentar a farsa de que o governo Lula foi privatizante na questão energética, especialmente com as reservas de óleo leiloadas antes e depois da descoberta do pré-sal. Esse alguém é o ex-diretor Ildo Sauer, defenestrado da Petrobras, ainda em 2007, por fomentar disputas políticas na empresa estatal e sobretudo por cometer graves erros técnicos e de gestão.

Desde então, Sauer nutre um ódio religioso à ex-ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o mesmo combustível que o leva às páginas do jornal da família Marinho e à entrevista ao canal GloboNews, hoje pela manhã. Não nos surpreende se Sauer (que, em português, pode ser traduzido como azedo ou avinagrado) pintar no programa eleitoral do Vampiro Brasileiro, não sem antes fazer a sua encenação no JN do casal Bonner-Bernardes.

Afirmar - como faz o envenenado Sauer - que a Petrobras leiloou parcelas do pré-sal à companhias internacionais de energia é de uma desonestidade ímpar. Em primeiro lugar, a Petrobras não leiloa nada, quem o faz - por lei - é a Agência Nacional de Petróleo (ANP), de resto uma agência criada no formato tucano de gestão pública, ou seja, como guardiã zelosa dos interesses do setor privado nacional e internacional. Informe-se, também, que o marco regulatório formulado nos governos de FHC vigeram até que o presidente Lula impôs o atual modelo que preserva o interesse nacional, a integridade da Petrobras e a garantia de que as reservas do pré-sal não sejam dilapidadas na bacia das almas. Pelo modelo exploratório tucano, a Petrobras foi obrigada a repassar todo o acervo de conhecimento obtido em 50 anos de prospecção e pesquisa em petróleo à Agência Nacional de Petróleo. Todos os campos e províncias onde foram encontrados petróleo e gás natural são dimensionados/mapeados, e esse fabuloso banco de informações é repassado à ANP, num grau de confiabilidade próximo a zero. Trata-se de um tesouro inestimável, resultado de investimentos e expertise adquirida pelos trabalhadores petroleiros, que hoje está ao sabor dos interesses internacionais na agência reguladora.

De resto, é particularmente intrigante que o professor Sauer - em plena campanha eleitoral - encontre somente agora, quase três anos depois de sua saída da Petrobras, um veículo poderoso para a sua voz rouca de ressentimento e má-fé. E que este veículo seja justamente das Organizações Globo, notórios defensores da privataria tucana e do completo desmonte das empresas estatais brasileiras.

Homenagem a Néstor Kirchner (1950-2010)


Pela música de Gustavo Chazarreta e da reconhecida pianista Elvira Ceballos.  

Praticamos uma democracia formal, mas não um republicanismo virtuoso


Debate na Anpocs

O país vive um aprendizado democrático. Isso não quer dizer, todavia, que tenha se assumido plenamente como republicano. "Existe um hiato entre o aprendizado da democracia e a constituição da República", afirmou ontem o cientista político Gabriel Cohn, na mesa redonda "Estado, instituição e democracia", no primeiro dia do 34º Encontro Anual da Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), evento que se estenderá até a sexta-feira (29). "A República é uma grande trapaça histórica que não vai ser resolvida no curto prazo. A Democracia é um aprendizado. A República ainda vai exigir do país mais duas ou três gerações", afirmou Cohn.

Se existiu uma concordância entre Cohn e seu debatedor, Luiz Werneck Vianna, foi essa. A interpretação de Werneck Vianna é de que, nesse hiato, o republicanismo, por meio do "Estado Novo do PT", ressurge como um Estado fortalecido e pelo "czarismo, getulismo e cidadania concedida". A falta de cultura republicana exporia a democracia, pelo voto, a "manifestações inesperadas pelo quantitativo dos setores subalternos, por exemplo, que não estão se movendo apenas por questões materiais, mas também por uma agenda valorativa como o aborto" - referência à extensão que tomou o tema aborto nas eleições presidenciais de primeiro turno. "Uma agenda valorativa no sertão urbano ", para Vianna, é mais preocupante e perigosa.

"Os de baixo fizeram emergir seus próprios intelectuais, os pastores que são da sua origem. Não lêem Platão, mas salmos, e têm a retórica da persuasão. Isso está acontecendo nas nossas costas em escala de milhões", afirmou o cientista político fluminense.

O paulista Cohn, todavia, fez uma diferenciação clara do que entendia por "republicanismo": não os valores, mas a virtude republicana, "uma certa capacidade de colocar o que importa a todos".

Divergências de valores seriam resolvidos dentro do jogo político democrático, pelo voto; o republicanismo, pela virtude. Há uma distância entre o aprendizado da democracia e a consolidação de uma República. "Existe um hiato entre o aprendizado da democracia e a constituição da república como forma de vida. Para o cidadão, a democracia é fundamental, mas as regras do jogo são regras que podem ser jogadas de várias maneiras. A democracia se firmou devido a sua fantástica plasticidade. É a melhor opção para todos. Dá para resolver quase tudo. A coisa mais severa é a dimensão republicana", disse Cohn.

Um alto grau de confiança nas instituições, no entanto, não compensa a fragilidade das instituições republicanas. "Não sei se o ideal, na relação do cidadão com as instituições, é ter maior ou menos segurança nas instituições democráticas. Nunca houve tamanha confiança do cidadão nas instituições do que na Alemanha nazista e na União Soviética stalinista", lembrou Cohn. A institucionalidade da República e da democracia também não são tudo. "É a relação crítica e a relação institucional que tem que ser trabalhadas". É fácil satisfazer os cidadãos com a democracia, mas quando ela agrega simplesmente a ideia de um Estado como "referência fixa" e ordenamento do conjunto, o próprio Estado já não dá conta dessa mediação. "O cidadão republicano tem alta mobilidade, capaz de se colocar ativamente nas mais diversas situações e responder de maneiras assertivas . O Estado tem que ter alta mobilidade para ser capaz de se amoldar - sem perder posição dirigente - aos movimentos e ritmos da sociedade ampla", disse Cohn.

"Na própria experiência da teoria política brasileira, democracia e república se distanciam. Propor para a democracia o programa republicano, e não o mercado da política. Democracia pode ser autoritária", concluiu Cohn.

A matéria da jornalista Maria Inês Nassif está publicada no jornal Valor Econômico, edição de hoje.

Via religiosa fica estreita para tratar da agenda moral


Por isso, religiosos apostam na via política para impor seus velhos temas morais

Muitos líderes católicos e evangélicos falam abertamente em nome de uma “maioria moral” cristã. Muitos deles querem impor sua moralidade estrita ao conjunto da sociedade brasileira pela via política, já que a via religiosa se mostra relativamente limitada para tanto. Quanto a isso, basta considerar que a maioria das centenas de milhares de abortos no país é realizada por católicos e evangélicos. Da mesma forma, a esmagadora maioria de homossexuais brasileiros é composta por católicos e evangélicos. E, boa parte deles, certamente gostaria de ter o direito à união civil e também ao casamento civil e tornar seus direitos equitativos aos de heterossexuais.

Dirigentes católicos e evangélicos engajados nessa cruzada moral não têm o menor apreço pelos direitos sexuais e reprodutivos defendidos por feministas e homossexuais. Preferem ignorar a pluralidade e os direitos das minorias, no caso da união civil de homossexuais, e os direitos de autonomia sobre o próprio corpo no caso das mulheres que optam por interromper uma gravidez indesejada por motivos diversos.

Para tentar assegurar sua moralidade tradicionalista e estrita para o conjunto da sociedade, católicos e evangélicos procuram pressionar candidatos, partidos e governantes em momentos eleitorais para que assumam compromissos morais e políticos estabelecidos por esses religiosos. Isso revela que dirigentes católicos e pentecostais têm grande presença, influência e poder na esfera pública brasileira. Caso contrário, os candidatos não obedeceriam como cordeirinhos, como fizeram Dilma e Serra, às ordens e exigências destes religiosos.

Outra forma de tentar fazer valer sua moralidade para todos consiste em eleger representantes religiosos para o Congresso Nacional, como têm feito evangélicos e católicos, sobretudo os da ala carismática. Outra estratégia empregada com esse fim é o uso sistemático da mídia religiosa, especialmente a eletrônica, para opor-se ao aborto, à união civil de homossexuais e defender uma moral cristã. Tais campanhas impedem que tais questões, sobretudo a do aborto, sejam debatidas a partir de perspectivas seculares da área da saúde pública, da medicina, dos direitos reprodutivos. Isto é, criam sérios obstáculos à secularização desse debate e ao tratamento racional e humanitário dado a este grave problema de saúde pública. [...]

Trecho de entrevista do sociólogo Ricardo Mariano concedida ao portal IHU/Unisinos. Mariano é professor da PUC/RS e autor da obra "Neopentecostais: Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil".

terça-feira, 26 de outubro de 2010

O compositor Wagner Tiso regravou o histórico jingle Lula Lá



Dilma Lá!

Os métodos persuasivos da direita



Para registro

Me telefona uma querida amiga. Ontem, por volta das 17h50 ela pára o carro em obediência ao sinal vermelho no cruzamento da Lomba do Pinheiro com a avenida Bento Gonçalves, bairro Agronomia, em Porto Alegre.

Uma senhora muito humilde se aproxima e oferece um santinho de José Serra (nesta altura, já quase um pleonasmo). Ela agradece e pergunta: "Por que a senhora vai votar no Serra?".

A resposta é outra pergunta que sai de uma boca deserta de dentes: "A senhora sabe que a Dilma vai tirar o bolsa-família de nóis?"

A mídia e o paradigma democrático da França


O caso da França é emblemático da preocupação do Estado em impedir oligopólios, pois, além de grande participação de TVs estatais no sistema de comunicação, “(...) existem três limites impostos à propriedade: participação no capital, número de licenças e quota de audiência.

Uma pessoa individual não pode deter mais de 49% de um canal nacional ou 33% de um canal local, se a audiência média anual é superior a 2,5% do total da audiência.

No rádio, uma entidade não pode controlar uma ou mais estações ou rede se a audiência global for superior a 150 milhões. As empresas não podem adquirir um novo jornal se essa aquisição incrementar sua circulação diária em mais de 30%” (Veloso, 2008, p. 125).

Trecho do trabalho sobre mídia e poder, do sociólogo Francisco Fonseca, que pode ser acessado aqui.

A mídia privatista não pode se sobrepor à esfera pública


O controle democrático da mídia brasileira

Um mundo realmente democrático necessita responsabilizar, no sentido de controlar – democraticamente, reitere-se, apesar da tautologia – a mídia nos âmbitos nacional e mundial, tendo em vista anular o paradoxo da simultaneidade público/privado que ela contém e que vem expandindo-se.

Como o mundo vem se tornando cada vez mais homogêneo, em termos estéticos e de valores, em contraste ao aumento exponencial da desigualdade política e social, a democratização das comunicações é tema de primeira grandeza como fenômeno internacional, embora com várias faces locais, regionais e nacionais.

Como assinalado, os clássicos da modernidade preocuparam-se e teorizaram sobre o tema das “paixões humanas” que, sem freios e contrapesos, levariam os homens à tirania. Estas “paixões” podem ser traduzidas contemporaneamente em interesses, presentes no enorme poder que a mídia possui em escala global.

Exercendo a sua capacidade de influenciar a agenda política simultaneamente a uma atuação vigorosa como empresas e conglomerados capitalistas, cuja mercadoria-notícia é cada vez mais associada ao entretenimento, as organizações do “quarto poder” – designação comumente utilizada em referência às organizações da mídia – não raro representam, de fato, o “primeiro poder”. Mas a mercadoria-notícia difere das outras mercadorias, tendo em vista as consequências que pode acarretar aos grupos sociais.

Este tema é paradoxalmente pouco desenvolvido pelas teorias políticas sobre a democracia, uma vez que todas elas têm no acesso à informação um pressuposto crucial.

Por isso, como uma reflexão mais atenta das teorias políticas da democracia, notadamente no contexto das sociedades midiáticas, em que a política informacional se destaca, urge desenvolver ações efetivas que responsabilizem e controlem o poder da mídia para que de fato a democracia possa se materializar.

Assim, as predições dos modernos clássicos do liberalismo político – sistema filosófico e ideológico aos quais os meios de comunicação afirmam filiar-se – de que haja controles comuns a todos os que detenham poder talvez possam se concretizar, cumprindo a mídia, desse modo, um papel minimamente público em meio ao universo ao qual pertence – privado, mercantil, e em franca internacionalização.

Nesse sentido, deve-se ressaltar que a democratização da mídia incide diretamente na própria experiência democrática, pois não apenas os meios de comunicação intermedeiam as relações sociais nas sociedades de massa, segundo vimos, mas também possibilitam conhecer realidades que não as vivenciadas.

A responsabilidade dos meios de comunicação perante a construção permanente da democracia é por demais grandiosa para que interesses empresariais, privatistas e sem qualquer responsabilização e controles democráticos possam se sobrepor à esfera pública, em qualquer sentido que se atribua a este conceito.

Trecho de conclusão de um ensaio do sociólogo e historiador da Fundação Getúlio Vargas, Francisco Fonseca, denominado "Mídia e Poder: Elementos Conceituais e Empíricos Para o Desenvolvimento da Democracia Brasileira". O trabalho foi publicado em setembro/2010, pelo Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Pode (deve) ser acessado e baixado aqui.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Lutas e batalhas do século 19 voltam com toda a força



A Luta de Classes em França

O atual governo do Estado francês resolveu atacar militarmente instalações e plantas fabris onde os operários estavam em greve, um direito outrora reconhecido constitucionalmente.

O ataque foi feito por uma força militarizada equipada segundo os métodos de combate das polícias de dissuasão e choque, inclusive com helicópteros, contra cidadãos civis desarmados que exerciam um direito legal.

É este o panorama atual da luta de classes em França, como no século 19, na análise de Marx (leia aqui).

A violência do Estado sobre os cidadãos passou a ser encarada como normal, em nome da defesa de um mundo insustentável e em franca dissolução.

A trilha é Irmãos em Armas.

A economia simbólica de ZH


Um editorial antidemocrático 

Observem como é ambígua, gelatinosa e incerta a relação de Zero Hora com os seus leitores. Internamente, sabe-se que a classificação "leitor" inexiste na empresa midiática RBS. Eles tratam o indivíduo como consumidor/cliente, uma flagrante redução face ao que o leitor de fato deveria ser tratado, ou seja, como cidadão, portador de direitos. Mas, como o exercício da cidadania é o que menos se pratica e se fomenta nos veículos da RBS, nada mais consequente que chamar o leitor de consumidor.

No anúncio institucional veiculado hoje (fac-símile acima), o jornal da família Sirotsky exagerou na ambiguidade. A economia simbólica da peça produzida pela agência Escala consegue regredir e rebaixar mais ainda a relação jornal/leitor. O sujeito não é cidadão, não é leitor, não é consumidor, o sujeito agora é súdito de um imaginário regime monarquista. A imagem de uma coroa cravejada de pedrarias como insígnia do monarca informa que o universo de ZH está dividido entre o Rei (o próprio jornal) e os súditos, os consumidores/leitores. Os súditos - vocês sabem, mas ZH, não - são uma categoria social completamente destituída de direitos. O súdito é um não-cidadão, assim como o consumidor.  

É evidente que o jornal oferece outra interpretação para a peça de hoje. As palavras podem enganar, mas os simbolismos, no entanto, só contam a verdade.

Este anúncio é um verdadeiro editorial antidemocrático e anti-republicano, ainda que simbólico.    

Só os golpistas estão amedrontados

Violência virtual - um artigo de Claudio Lembo

Há um modismo na praça. Artificial. Utilizado, porém, por segmento específico do mercado eleitoral. Quando pessoas da classe média consolidada - a velha classe média - se encontram, um tema surge na conversa.

"Campanha violenta, não?" Estas pessoas não saem do interior de suas casas. Consomem, contudo, doses cavalares de emissões televisivas. Envolvem-se emocionalmente com acontecimentos isolados e de nenhuma significação.

São militantes verbais de um conflito que não existe. A atual campanha eleitoral desenvolve-se com normalidade surpreendente. Os candidatos se deslocam pelo imenso território nacional. São recebidos por seus correligionários, em número equivalente ao respectivo grau de simpatia.

Nas ruas, militantes ou contratados exibem bandeiras de seus partidos e candidatos, uns próximos dos outros, entre sorrisos e sadias provocações.

Nada que indique violência. Agressão ou desrespeito.

Na verdade, segmentos remanescentes dos velhos quadros conservadores - reacionários que levaram Vargas ao suicídio - utilizam-se da tática do terror verbal para anunciar anormalidades que não existem.

É louvável e salutar o comportamento dos eleitores, em todas as oportunidades. Portam-se com dignidade e recato cívico exemplares. Não usam insígnias ou quaisquer indicativos de opção partidária.
Reservam-se para registrar suas opções pessoas na urna eletrônica. Quem viveu outras épocas e outras situações, conheceu violência contra a militância política.

Nem sempre de natureza física, mas sempre presente a coação moral representada pelos órgãos de repressão de ditaduras. O temor das palavras proferidas e suas inevitáveis conseqüências: as perseguições de todas as espécies.

Agora, os candidatos expõem - se assim quiserem - o próprios pensamento ou de suas agremiações partidárias. Ninguém o repreende. Só o eleitorado poderá definir se recebeu bem a mensagem ou a rejeitou.

A onda de histeria, presente em diminutos setores, aponta para uma regressão ao passado, particularmente para os anos cinquenta e sessenta, quando um ódio de minorias urbanas explodia contra políticos progressistas.

É ingênuo este posicionamento. A sociedade avançou e um eleitorado das dimensões do brasileiro se movimenta com rapidez e busca os candidatos correspondentes às suas necessidades e conquistas.

Sentir medo do novo é próprio do conservadorismo. Nada se mantém estático. Tudo evolui e a sociedade não é diferente. Avança e agrega sempre novos contingentes capazes de pensar e agir livremente.

Nesta campanha, em vários momentos, retornou-se ao passado. Os chamados setores "bem pensantes" foram em busca dos argumentos mais heterodoxos.

Nada abalou a tranquilidade do eleitorado. A paz esteve presente em todos os movimentos eleitorais. Tudo correu com exemplar regularidade por toda a parte.

Onde, pois, o fundamento para infundados temores? A concepção de artifícios recorda outros tempos, quando cartas falsas derrubavam governos.

Na atualidade, as instituições funcionam com normalidade absoluta. Os encarregados de preservar a soberania agem com respeitabilidade exemplar.

Só alguns, portanto, portadores de velhos hábitos golpistas, agora em desuso pleno, mostram-se amedrontados. Encontrarem violência onde apenas existem episódios próprios de campanhas extensas no tempo.

Os candidatos estão esgotados e o eleitorado já massivamente decidido. Só resta aguardar o próximo domingo. Os agentes verbais de violências inexistentes devem - sem dureza - digitar o número de seu candidato.

O erro de escolha, sim, indicará uma violência contra os próximos quatro anos. O resto é ficção.

Artigo de Cláudio Lembo, advogado e professor universitário. Filiado ao DEM, foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador. Publicado no portal Terra Magazine, edição de hoje.

Meia volta, volver!

sábado, 23 de outubro de 2010

Serra foi aplaudido na RBS, ontem


José Serra esteve na sede da RBS (afiliada da TV Globo), ontem, em Porto Alegre. Foi entrevistado por mais de uma dezena de celetistas do grupo midiático sulino (RS e SC). A coletiva rebessiana foi transmitida ao vivo por uma emissora UHF do grupo.

Serra estava muito à vontade. Nem parecia que sofrera o atentado selvagem com uma bolinha de papel, há 48 horas. Notava-se que estava no próprio lar, só faltou pedir os chinelos. Fez gracinhas com seus entrevistadores, quase ao ponto da indiscrição, especialmente à abelhinha, a quem chamou (errado) de "Rosana" ("Você acha que eu sou mau humorado, Rosana?"). Contou aspectos que só ele acha pitoresco. Se dedicou ao que mais tem feito na campanha eleitoral, criticar moralmente sua adversária. Emitiu juízos de probidade, de campeão do nacionalismo, de vítima da ditadura brasileira e chilena, de professor dedicado, de administrador exemplar, de enérgico gestor, enfim, de homem de bem acima de qualquer suspeita.

A plateia tanto aprovou a manifestação narcisista que no final da entrevista arriscou aplaudí-lo com entusiasmo. A emissora da RBS fez o registro até o final.

Na sequencia, o principal jornal da família Sirotsky dedicou ao candidato da direita oligárquica um pedação do espaço editorial de hoje, sábado.

Observem o espaço de Serra (a capa, duas páginas em sequencia, e a maior parte da coluna da abelhinha), e o espaço de Dilma, um doze avos de página (8,33% da página simples).

Depois desta demonstração entusiástica com o candidato tucano, legítima, diga-se de passagem, só falta agora o editorial abrindo o voto para o paulista.

Pressurosos, aguardamos sentados, por precaução.




Record cresce 117% em seis anos, Globo cai 20,3%


A atual década é a mais movimentada da TV aberta nos últimos 60 anos, desde que começaram as transmissões no Brasil. Essa movimentação sem dúvida foi desencadeada pela Record, que no início dos anos 2000 passou a investir maciçamente em programação - algo em torno de R$ 1 bilhão desde 2004.

A participação da Record no universo de TV’s ligadas, o chamado "share", passou de 7,8% em 2004 para 16,9% este ano (dados até 30 de setembro).

Isso significa um impressionante crescimento de 117% da Record em seis anos. Em outras palavras: em 2004, de todos os aparelhos de TV ligados no Brasil, entre 7h e 0h, apenas 7,8 estavam sintonizados na Record. Este ano, a Record já tem 17.

Por outro lado, em 2004 a Globo tinha 55,7% das TV’s ligados. Este ano esse número caiu para 44,4%. uma queda de 20,3%. É aproximadamente a mesma porcentagem de queda de pontos no ibope da emissora no mesmo período (cada ponto de ibope vale por cerca de 60 mil residências sintonizadas na Grande SP.

A maior vítima do trator financeiro que a Record colocou em movimento nesta década, com aval de sua controladora - a Igreja Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo -, foi o SBT de Silvio Santos.

Desde 2004, o "share" do SBT desabou de 19,3% (19,3 em cada 100 TVs ligadas) para 13,1% este ano. Trata-se de uma redução de 32%.

No mês de setembro ainda, entre 7h e 0h, a Globo registrou o menor "share" desde que passou a ser medido: 42,2%. Os menores índices até então ocorreram também este ano. Em agosto último o "share" foi de 42,9%. Um mês antes (julho) havia marcado 43,1%

A informação é do jornalista Ricardo Feltrin, do portal Uol.

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A audiência da TV Globo está caindo ano a ano, um motivo de regozijo, sem dúvida. Mas, o mesmo não acontece quando se sabe que a emissora da Igreja Universal cresce 117%. Não há razão para festejar o aumento de audiência de um grupo midiático cuja fonte de acumulação primitiva está na exploração comercial da latente religiosidade popular.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O "especialista" de araque


O homem-gol de Ali Kamel - hoje - é uma piada pronta no Brasil inteiro.

Esse sujeito com cara de Reco-Reco-Bolão-e-Azeitona - tudo junto - é um blefe nacional.

O cara viu o que a Globo quis ver.

Inventou um rolinho de fita durex do nada.

O cara é uma fraude de suspensórios. Uma cilada de barbas. Um engodo de óculos.

Onde está o edema, onde está o hematoma, de tão brutal choque?

3.244 Ricardos Molinas não pagam uma bala quebra-queixo.

Ricardo Molina vai para a Sibéria do nosso esquecimento. Com passagem só de ida.  

Prefeito de São Leopoldo responde



Nota do prefeito da cidade de São Leopoldo (foto), Ary Vanazzi, a respeito de comentário no blog Diário Gauche, de hoje, dia 22 de outubro:

"Reafirmo meu compromisso com o povo de minha cidade, que me reelegeu com mais de 78% dos votos. Por isso, me empenho, de forma militante, na eleição da companheira Dilma Rousseff para a presidência da República. Acredito que só a Dilma vai continuar o grande governo protagonizado pelo presidente Lula em relação aos municípios e aos direitos sociais. São Leopoldo tem mais de R$ 400 milhões de investimentos do governo federal, em obras em andamento e outras concluídas, como as avenidas João Corrêa e Atalíbio de Rezende, a Estação de Tratamento de Esgotos da Feitoria e milhares de moradias populares. Além da continuidade da obra do trem, também fruto de nosso empenho. Por isso trabalho na campanha Dilma. Para que a nossa cidade,assim como centenas de outras no Estado, continue no ritmo de crescimento e desenvolvimento. Quero cumprir meu mandato até o fim para entregar aos leopoldenses esta cidade cada vez melhor. Coordeno a campanha da Dilma no Rio Grande do Sul com muito orgulho, muito trabalho e a confiança na vitória, sem expectativa de qualquer recompensa pessoal."

Ary Vanazzi, prefeito de São Leopoldo

Petistas "espertos" abrem temporada de plantação de notícias


Regando a horta pessoal dos interesses carreiristas

A nota acima (no fac-símile) foi publicada hoje na coluna da vespinha, página 10 do jornal Zero Hora. É evidente, até as águas turvas do arroio Dilúvio, que banham os pés da redação de ZH, sabem que a nota foi "plantada" pelos personagens citados na mesma. Ilustra muito bem aquilo que o velho líder Leonel Brizola chamava de "manifestação dos interésses pessoais que aspiram ser mais importantes que os coletivos".

Ilustra igualmente aquilo que outro líder popular, o presidente Lula, também falou dias atrás, qual seja:

"Enquanto a classe política não perder o medo da imprensa, e continuar bajulando-a, nós não teremos liberdade de imprensa no País" - essa fala de Lula aconteceu segunda-feira passada, 18, em São Paulo, por ocasião de um evento promovido por Mino Carta e sua publicação CartaCapital.

O recado forte de Lula serve - sobretudo - para os parlamentares petistas que vivem adulando a mídia oligárquica, como se dependessem dessa mesma mídia decadente e golpista para sobreviver politicamente e até biologicamente.

Pior: enquanto esses fisiológicos petistas estão usinando espertamente suas aspirações e mandando notinhas espúrias às abelhas e vespas do PIG, ao mesmo tempo, estão deixando de fazer campanha eleitoral para a candidata Dilma Rousseff. No fundo e no raso, é isso.

Mas, atenção: quando a esperteza é muito grande e incontrolada, não raro, engole o esperto.

Esse lixo é a "base social" da direita, hoje


Anotações para uma sociologia (empírica) das eleições 2010

O pastor evangélico Silas Malafaia (de aparência lombrosiano-chic), dono do negócio-igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, apoia o candidato do obscurantismo José Serra.

Faz sentido. Tudo a ver.

De fato, as ideias de ambos convergem e acabam se encontrando nas trevas da caverna platônica que habita o nosso atavismo. Ambos pregam - e esperam ser escutados, um, para obter dinheiro, outro, para obter poder - para esse poço escuro e perigoso do nosso esquecimento.

Foto Ricardo Cassiano/Folhapress


Observem este vídeo. O pastor serrista Silas Malafaia não tem o menor pudor em constranger (chantagear moralmente, seria o termo mais adequado) ao pedir contribuição do desempregado-biscateiro que por ventura fature 300 reais numa jornada qualquer. Mesmo assim, o corretor de Cristo não vacila em querer arrancar-lhe 90 reais (30% dos minguados 300 reais eventuais do desempregado). Como se vê, a impiedade não tem limites.

Nas entrelinhas do discurso, o serrista bem-falante aconselha (constrange) que o que está ruim, pode piorar muito mais, caso o crente esqueça do óbolo ao Senhor (cujo arrecadador é o próprio Silas Malafaia).

Um crime contra a economia popular, quase perfeito.  

O ato criminoso está configurado no Código Penal Brasileiro, iludir a fé pública e a prática da extorsão sem violência. Os leitores advogados podem nos ajudar aqui, como queiram.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Morreu hoje El Sabalero



O cantor, compositor e guitarrista uruguaio José Carbajal (1943-2010), conhecido por El Sabalero, morreu hoje de insuficiência cardíaca no balneário uruguaio de Atlántida, onde vivia há vários anos. Ex-operário, depois músico de prestígio na América Latina, Sabalero se dedicou também a denunciar e combater a ditadura uruguaia e os demais regimes de opressão do nosso continente.

A mão pesada do tagarela e saliente freak faceiro



João Guimarães Rosa, o autor do genial Grande Sertão: Veredas, assegurava que quem fala demais - o tagarela - corre o risco de almejar bom-dia aos equinos. "Bom dia, seu matungo!" Ou: "Bom dia, seu pangaré!"

É mais ou menos o que está fazendo hoje, em crônica impertinente, porque rombuda e de mau gosto, o interino de Luis Fernando Veríssimo, na página dois do jornal Zero Hora. Na segunda linha do cometido, o saliente freak faceiro manda Verissimo para a outra vida (fac-símile acima). Um tiro no bom gosto e na delicadeza.

Outro trecho da persona freak: "Suas palavras são mímicas...". Ora, o sujeito se aplica, leva uma vida para escrever obra digna, criativa e reconhecida - pelo público e pela crítica - para ter que ouvir que suas palavras foram... mímicas. Ou seja, pantomima, o mesmo que embuste, logro, ou ardil.

Para arrematar, depois de "assassinar" LFV, o tagarela e saliente freak faceiro, como sói acontecer, mumifica-o em estátua. Agora, falta apenas trazer os pombos para que terminem o elogio que só os pombos (e os freaks) sabem fazer nas estátuas urbanas.

Está aqui, na última linha da crônica do tagarela faceiro.

- Bom dia, seu pangaré!

Dilma é luz. Serra é escuridão



O programa eleitoral de Dilma Rousseff que foi ao ar ontem à noite, quarta (20).

Hoje, vamos cantar "Bolinha de Papel"


Venha cantar durante a caminhada com Dilma, hoje

Bolinha de Papel

Autor: Geraldo Pereira

Só tenho medo da falseta,
Mas adoro a Julieta como adoro a
Papai do Céu
Quero seu amor, minha santinha
Mas só não quero que me faça de bolinha de papel
Tiro você do emprego,
Dou-lhe amor e sossego,
Vou ao banco e tiro tudo pra você gastar
Posso, Julieta, lhe mostrar a caderneta
Se você duvidar
EXTRA! EXTRA! Flagrante inédito da terrível e poderosa arma que colocou Serra em coma profundo, ontem. 

Bolinha de papel devastadora essa...

Amarildo

Serra é atingido por bolinha de papel e entra em coma profundo



A mídia serrista está divulgando que Serra foi vítima de uma turbamulta petista, conhecida como gangue Mata-Mosquito. Não se trata de gangue, nem de petistas propriamente ditos, embora tenham sim identidade com o PT, especialmente por serem eleitores de Dilma.

A rigor, o grupo de manifestantes são ex-agentes de saúde, contratados pelo Ministério da Saúde, para trabalharem no combate à dengue, os conhecidos mata-mosquitos. O então ministro da Saúde, José Serra, em plena crise da dengue no Rio, em 2001, demitiu-os sumariamente, sem motivo.

Ontem, o algoz dos ex-agentes de saúde resolveu fazer caminhada em Campo Grande, bairro da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, justo nas proximidades do Sindicato dos Mata-Mosquitos, o que causou revolta e empurra-empurra, até que Serra fingiu sentir-se mal depois de ser atingido por uma arma de destruição em massa: uma bolinha de papel. Veja nas imagens acima: observem que depois de receber um telefonema é que Serra começa a simular dor na cabeça sem cabelos e sem ideias importantes.

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Envergonhada pelo baixo impacto dramático do choque de uma bolinha de papel com o crânio serrista, a TV Globo exibiu cenas do tumulto em Campo Grande (RJ), mas evitou mostrar a selvagem bolinha de papel quicando na delicada calva tucana.  

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Esses ardis sub e trucagens de filme trash protagonizados por José Serra, num comparativo com o paradigma dos políticos profissionais ordinários, fazem de Paulo Maluf praticamente uma Santa Teresa de Ávila.

Maluf, perto de Serra, é uma monja descalça.  

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Duas anotações à entrevista de Tarso Genro



"Deveríamos ter considerado essa possibilidade" - afirma Tarso.

Ora, a mídia alternativa, as redes sociais, e sobretudo os blogs (sujinhos) vêm alertando para esse fato (que já pode ser arrolado como fato social, conforme a noção de Émile Durkheim, no sentido de coação exterior) há pelo menos quatro anos, desde que o PIG se formou com melhor método e organicidade, no correr do ano de 2006.

Essa ausência de registro político no universo mental-discursivo de alguém que vai governar o RS nos próximos quatro anos é um pouco preocupante, tanto mais sabendo-se que o tema da mídia é central hoje, tanto para a boa governabilidade, quanto para a ampliação dos espaços da democracia horizontal e participativa.


"Surgiu no debate político de maneira aleatória..." - diz o futuro governador do RS.

Como assim, "aleatório"? Até onde se sabe, o aleatório é o fortuito, o casual, que dependeu apenas do acaso. Isso não corresponde com a realidade, ao contrário. O apelo ao moralismo rebaixado e à religiosidade hipertrofiada foi - sim - uma opção político-eleitoral consciente da direita, representada pela candidatura do ex-governador José Serra. Não tem nada de aleatório. Como não havia base social, não há discurso propositivo para a isolada direita brasileira. A agenda não-política, não-republicana, é o que restou aos remanescentes das velhas oligarquias conservadoras, todas elas, indistintamente, operadoras e beneficiárias do golpe civil-militar de 1964/1985.

Temo que o sempre agudo e inteligente Tarso Genro esteja olhando a conjuntura por alguma fresta estreita e embaçada. Mude de lugar, melhore o seu ângulo, professor Tarso.

Enquanto isso, na RBS: “Seu filho da puta, vamos melhorar as vendas”


RBS terá que indenizar vendedor humilhado por supervisor de venda de assinatura de Zero Hora

Xingamentos e humilhações no ambiente de trabalho renderam a um vendedor de assinaturas do jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS), uma indenização correspondente a 20 salários-mínimos por danos morais.

A 7ª Turma do TST, ao negar provimento ao agravo de instrumento da RBS – Zero Hora Editora Jornalística S.A., manteve a condenação que havia sido imposta na instância anterior.

Os relatos do autor da ação apontam que, nos dez meses em que trabalhou na empresa, sofreu constantes humilhações por parte de seus supervisores. Segundo ele, durante as reuniões diárias, caso as metas de venda não fossem atingidas, os supervisores amassavam os pedidos não aceitos ou devolvidos jogando-os em cima dos vendedores. Aquele que durante o mês atingisse 100% das metas, sem ultrapassá-las, era considerado um mau vendedor, sendo chamado não pelo nome, mas por palavras chulas e de baixo calão. Os vendedores que não cumpriam as metas tinham ainda os seus recibos de salários amassados e jogados contra eles.

O acórdão do recurso ordinário julgado pelo TRT-4 revela que uma das testemunhas arroladas pela própria reclamada contou que o supervisor fazia cobranças sobre os vendedores como frases como “vamos lá, seu merda”, “seu filho da puta, vamos melhorar as vendas”.

Leia aqui a íntegra do acórdão do recurso ordinário 

Após o término do contrato de trabalho, o vendedor ingressou com ação pedindo a condenação da empresa jornalística por dano moral, e saiu vitorioso em todas as instâncias trabalhistas.

O TRT-4 registrou que a prova testemunhal colhida demonstrou que o vendedor, ao ser cobrado pelo seu desempenho, foi exposto a situações vexatórias perante os colegas e que a atitude dos supervisores teria lhe causado humilhação e constrangimento, atingindo a sua dignidade, sendo passível de indenização. O regional, mantendo decisão de primeiro grau, condenou a empresa ao pagamento de 20 salários-mínimos a título de dano moral. A RBS recorreu ao TST.

O ministro Pedro Paulo Manus, relator do acórdão no TST, ao julgar o recurso, observou que o acórdão regional deixou claro que as cobranças por metas e resultados eram feitas de forma desrespeitosa e ofensiva à dignidade do trabalhador. Segundo ele, esse tipo de atitude deve ser repudiada.

Quanto ao valor, o ministro considerou razoável diante do dano causado. Por fim, salientou que, para decidir de forma diversa, seria necessário rever fatos e provas, o que não é permitido na atual instância recursal (Súmula nº 126 do TST).

O acórdão do TST ainda não foi publicado.

Atua em nome do reclamante, o advogado José Carlos da Cunha. (Proc. nº 111140-49.2004.5.04.0006 – com informações do TST e da redação do Espaço Vital). A informação é do portal jurídico Espaço Vital.


Fac-símile parcial das páginas 39 e 40 da publicação da RBS/Zero Hora denominada "Guia de Ética, Qualidade e Responsabilidade Social", extraído do portal web da empresa midiática sulina.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Na França, ninguém é covarde


Uma espécie de hino da nova "revolução" francesa, que há seis dias abala o sarkozismo de arrocho.

Cada um abraça a quem mais lhe adoça a vida



393 Gabeiras não valem o calcanhar direito de Chico

Com 204 Gabeiras não se compra uma barrinha de mariola

Com 192, não se paga um martelo de cachaça

Não remunera o frete de um jerico

Nem compra um só urinol

Dilma falou para o cidadão. Serra falou para o indivíduo


Dilma falou para o público. Serra falou para o privado. Dilma falou de política. Serra falou de moral. Dilma foi republicana. Serra foi fariseu

Esta é a grande diferença, ora, bolas! Jornalistas amestrados da mídia oligárquica insistem que a campanha conduzida pelos candidatos presidenciais esteja driblando os temas fundamentais do País (vide fac-símile acima extraído do jornal Zero Hora, edição de hoje, coluna da Vespinha). Isto é meia-verdade. Vale somente para o candidato da própria mídia, José Serra, que não conseguiu mostrar nenhuma proposta séria e exequível para o País, nestes últimos meses de campanha eleitoral. Ao contrário, preferiu usar de artifícios que não fazem parte do universo da política republicana e da democracia formal.

Já o programa e as metas de Dilma são as que estão e foram implementadas pelo governo Lula. O programa é esse. As obras e realizações estão aí. É só ter olhos para enxergar e ouvidos para ouvir. Não existem promessas. Existem obras, realizações e compromissos de avanço. Não é preciso reinventar a roda. O mundo gira e o governo Lula roda, parafraseando a velha transportadora Lusitana.

Serra, auxiliado pela mídia das quatro famílias (Civita, Marinho, Frias e Mesquita), pautou somente temas da religiosidade e da moralidade dos indivíduos (esfera privada). Sempre evitou os temas da cidadania, ou seja, temas da esfera pública, que dizem respeito à política, à democracia e à república.

Vejam o tema do aborto. Ele pode ser dividido em duas esferas. Uma, diz respeito à questão moral, à noção religiosa que o interdita em nome da defesa da vida. Outra, diz respeito às políticas públicas de saúde, que não podem continuar ignorando o fato social "aborto", enquanto milhares de jovens mulheres morrem ou ficam com sequelas irreversíveis por temerem a criminalização do seu ato desesperado e solitário. Há, sim, uma flagrante inadequação entre o fato social e a lei, que promove vítimas, semeia o cinismo, e fomenta a surdez e o descaso da autoridade pública de saúde.

Enquanto Serra optou por trilhar um caminho de puro moralismo rebaixado, Dilma, ao tentar politizar e publicizar o grave drama de saúde pública, foi apedrejada pelos fariseus de sempre. Muito embora, esta escalada regressista esteja sendo frustrada e derrotada pelas forças populares.

Resumo da ópera bufa: quem foge da política por falta de argumentos e projetos, tem que se refugiar no farisaísmo mais raso. Ponto.

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Segundo o dicionário Houaiss, fariseu tem os seguintes significados:

adjetivo e substantivo masculino

1     relativo a ou membro de grupo religioso judaico, surgido no sII a.C., que vivia na estrita observância das escrituras religiosas e da tradição oral; o grupo foi acusado de formalista e hipócrita pelos Evangelhos

2     que ou aquele que segue de maneira formalista uma religião

2.1  que ou aquele que, por observar fielmente um dogma ou rito, se acredita dono da verdade e da perfeição, achando-se no direito de julgar e condenar a conduta de outrem a pretexto de dar ajuda

3     que ou aquele que ostenta piedade e virtude sem tê-las

4     Derivação: sentido figurado.
que ou quem é orgulhoso e hipócrita

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