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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A apropriação indébita já deu até guilhotina



O relativismo da originalidade na criação artística

O blogueiro e cartunista Kayser é que lembrou, a propósito de termos publicado a foto promocional da WWF, ontem. A idéia de representar o Tarzan caindo no vazio é genial. O mito do homem criado por animais é muito antigo e já foi contado em diversas narrativas, sendo a mais conhecida a dos irmãos Rômulo e Remo, amamentados e criados por uma loba, e depois foram fundadores de Roma. A história de Tarzan é do início do século 20 e atravessou o século sendo contada pela literatura, pelo cinema e pelos quadrinhos.

Neste cartum de 1978, Santiago achou o ponto certo entre o humor nonsense e a reflexão aguda sobre o limite da destruição dos sistemas naturais. O cartunista, premiado naquele ano com o primeiro lugar no falecido Salão de Humor de Piracicaba (que cidade agradável!), foi tão genial que está sendo copiado até hoje. O Veríssimo diz que o plágio é uma forma de homenagem. Pode ser, mas também é uma forma de usurpação, uma esperteza da razão. Caso o esperto seja pego no saque à idéia alheia ele apenas dirá “desculpa, foi mal, eu estava querendo te homenagear”, essas coisas.

Acima, nós reproduzimos a fotografia (ótima) veiculada em 2007 pela ong WWF que incorpora o argumento do Santiago, mas sonegando o crédito ao criador.

Mas também tem coisas que fica difícil creditar a toda hora, o Tarzan, por exemplo, é criação imortal do escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs, e ficaria muito aborrecido sempre lembrar disso em qualquer referência que se faça ao seu mais famoso personagem literário.

Neste caso, também na Cultura vale o que consagra a lei de Lavoisier para a Natureza: nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

No atual relativismo da geléia geral cultural, afinal, quem é mesmo original?

Em Tempo: Lavoisier foi guilhotinado pelos jacobinos da Revolução Francesa por crime de apropriação ilegal de dinheiro público.

Capitalismo está conduzindo a humanidade para uma catástrofe ecológica


O planeta e a própria civilização estão em perigo

O sociólogo e pesquisador brasileiro Michael Löwy, membro do Conselho Nacional de Pesquisa Científica da França, afirmou ontem que o sistema capitalista está conduzindo a humanidade a uma catástrofe ecológica.

"O capitalismo conduz inexoravelmente à destruição do meio ambiente e aos gases do efeito estufa. A lógica do sistema está na busca pela expansão e acumulação ilimitada dos lucros, sem cuidado e preocupações com o meio ambiente e com o futuro de recursos naturais que hoje nos servem de alimento, como o milho, por exemplo", afirmou Löwy que participa do Fórum Social Mundial, em Belém do Pará.

Considerando sobretudo o aquecimento global e a crise financeira internacional, o sociólogo, que é um dos intelectuais brasileiros de maior prestígio internacional, avaliou, em entrevista à Agência Brasil, que a civilização atual caminha a passos largos rumo a uma outra crise – denominada por ele de "crise de civilização".

"Estamos caminhando a uma velocidade muito grande para uma catástrofe ecológica e a raiz do problema é o próprio sistema capitalista. Partindo desse princípio, consideramos que não é só o planeta, que possivelmente vai continuar existindo, que está em perigo, mas sobretudo a civilização atual, que talvez não sobreviva caso se concretize essa catástrofe ecológica", acrescentou.

Ainda na avaliação de Löwy, uma das alternativas para evitar essa possível catástrofe ambiental é o ecossocialismo.

"Precisamos de um sistema que alie as causas sociais com ecologia e esteja à altura dos desafios do século 21. Lutar por um sistema eficiente de transporte público é um exemplo disso. Fazendo um balanço crítico das experiências socialistas do século passado e dos movimentos ecológicos atuais, poderemos propor esse outro modelo de civilização, que é o ecossocialismo", resumiu.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Investidor quer que todos paguem pela crise


Desempregado também deve pagar a sua cota

O megainvestidor George Soros propôs ontem em Davos construir um novo sistemão. Para tanto, defende uma espécie de "Proer global" de um montante inimaginável: para recapitalizar os bancos, seria necessário, só nos Estados Unidos, algo em torno de US$ 1,5 trilhão.

Equivale a dizer que todos os brasileiros teriam que doar tudo o que foi produzido no país no ano passado (cerca de US$ 1,4 trilhão) e mais um pouquinho para atingir e injetar a quantia necessária no paciente moribundo, segundo informa a Folha, hoje

Para os mercados emergentes, Soros calcula que seria preciso algo em torno de US$ 1 trilhão, o que, como é óbvio, não está nem estará disponível a curto ou médio prazo, ao menos de parte do setor privado.

"Só os governos têm esse dinheiro", alertou Soros.

Significa dizer que a crise global do capitalismo deve mesmo ser totalmente estatizada e seus prejuízos rateados entre as populações nacionais, inclusive entre aqueles que perderão (ou já perderam) os empregos por causa da mesma.

E assim caminha a nossa desumanidade.
Charge: Glauco

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

RBS quer voltar à casa do Pai


De partido político da direita guasca à Disneylândia de bombachas?

Não é de estranhar que o jornal Zero Hora ao falar em Guerra Fria no Rio Grande (ver suelto abaixo, de 26/1) esqueça de mencionar que um dos combustíveis do conflito Leste-Oeste foi o anticomunismo.

No RS, hoje, o anticomunismo foi atualizado por um sucedâneo ideológico chamado antipetismo. O constructo do antipetismo é uma construção puramente mental – a exemplo do anticomunismo – usado com a funcionalidade de impressionar os espíritos simples do senso comum e mobilizar preconceitos e mitos os mais arraigados.

Quando esses elementos primitivos são excitados no fundo escuro de um espírito ingênuo ou mal formado, a razão passa longe e o indivíduo fica dominado por sensações que vão do medo à intolerância mais funda – presa fácil da propaganda mais simplificadora e rebaixada.

O anticomunismo tinha o mesmo efeito que o bicho-papão para as crianças. Ambos não existiam, mas operavam no susto. A velha União Soviética nunca quis exportar a revolução, aliás, um dos motivos pelos quais não se pode chamar aquele falecido regime estatal de comunista ou socialista.
Se o comunismo foi um bicho-papão que não era bicho nem papão, o mesmo se pode dizer do petismo, especialmente na atual fase de descenso e acomodação conciliatória.

Como se vê, a RBS usa velhos truques manjados para continuar assustando a população menos atenta com tigres de papel pintado.

O Rio Grande do Sul sempre se notabilizou por ter uma imprensa partidária forte e atuante. Do final do século 19 até boa parte do século 20, o Estado e suas principais cidades do interior ostentaram jornais e publicações identificados com os partidos políticos que faziam o debate público regional. O castilhismo-borgismo fez a sua revolução burguesa também através das páginas de “A Federação”, bem como os órgãos de imprensa alinhados com os maragatos, ferrenhos opositores dos republicanos sul-rio-grandenses.

A luta das frações de classe burguesa no Rio Grande sempre foi pública e publicada, pelos menos até o advento do golpe de 1964. Com o regime civil-militar golpista houve um rearranjo neste esquema.

Os dois principais jornais do RS – Zero Hora e Correio do Povo – modificam a trajetória de alinhamento político da imprensa regional. O Correio, criado em 1895, surgiu precisamente para quebrar o paradigma de que jornal deveria estar vinculado a partido político, e não se afiliou a nenhuma linha partidária, mas acabou ficando porta-voz do latifúndio e do setor primário em geral. Hoje, completamente desfigurado é apenas uma caricatura do seu passado.

O jornal ZH, do grupo RBS, é criado imediatamente após o golpe de abril de 1964 e se fortalece à sombra do crescimento da televisão como meio de comunicação de massa no Estado. ZH não tem a mesma origem dos demais órgãos de imprensa do País, cuja personalidade como jornal forjou-se na forma tradicional de fazer diários. Zero Hora resultou da reciclagem errática de um jornal com opinião política aberta – a Última Hora – e firma-se como orgão de mero apoio comercial à mídia televisão, uma espécie de revista de variedades, com notícias e informações em segundo plano. Seu criador, Maurício Sirotsky Sobrinho, sempre foi um animador de programas de auditório com afinado instinto comercial, e depois proprietário de rádios, e jamais teve formação de jornalista militante de redações diárias. Esse é um dos motivos de ZH ser tão pobre em texto e reportagem, as bases são insólitas e não há o menor traço de pedigree jornalístico.

Criado e crescido, portanto, na estufa morna da ditadura civil-militar, ZH cultivou hábitos de ocultar sua filiação político-ideológica, preferindo a política da dissimulação e da camuflagem. Mas isso não significa que não tenha personalidade política e identificação ideológica, ao contrário, não só ZH mas os demais veículos da RBS acabaram ocupando a lacuna funcional dos anêmicos partidos cartoriais do conservadorismo guasca.

Existe alguma ilegitimidade ou ilegalidade nesta representação política delegada da direita? Na origem, nenhuma. O que se contesta é a ocultação permanente desta representação. Aí passa a constituir-se num desvio de função e numa falsidade ideológica (para não falar em constituição de oligopólio de meios de comunicação, que é considerado crime, ao qual o MP Federal de Santa Catarina já está investigando) que deve ser reprovada e denunciada todos os dias.

Recentemente, o grupo RBS recebeu aporte de capital do investidor Armínio Fraga, cerca de 4% do seu capital social. Objeto do aporte: tornar um braço do grupo um forte player no ramo do entretenimento de massas no Brasil.

Vê-se que a RBS retorna ao seu leito de origem, como no mito bíblico, o bom filho à casa torna. Maurício Sobrinho, seu fundador, foi um animador de auditório bem sucedido, pois, agora, seus sucessores fazem justiça ao legado do patriarca voltando ao ramo do entretenimento – de onde nunca deveriam ter saído.

Agora, espera-se que dêem o looping negocial: que saiam do ramo partido-político-da-direita-guasca e migrem em definitivo para adotarem o figurino da Disneylândia de bombachas.

Que Ha-shem os ilumine (e Fraga os financie)!

Cana e pecuária empregam mais escravos


Etanol encalha por causa do estigma do trabalho escravo

Dos 5.244 trabalhadores que foram resgatados em situação análoga a escravo em 2008 a partir de 214 denúncias, 2.553 trabalhadores – ou 49% do total – estavam no setor sucroalcooleiro, e isso tem prejudicado a compra de álcool por países e investidores estrangeiros, que acabam associando este biocombustível ao trabalho escravo.

De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade responsável pela Campanha Nacional de Prevenção e Combate ao Trabalho Escravo, a pecuária está em segundo lugar neste ranking, com 1.026 trabalhadores resgatados. “Parte disso se deve ao crescimento do setor sucroalcooleiro e do agronegócio de grãos nos cerrados centrais e nas regiões de fronteira agrícola”, disse o coordenador da campanha da CPT, Frei Xavier Plassat.

Em nota, a Pastoral informou que desde 2007 a utilização de mão-de-obra análoga a escravo tem crescido no setor da cana-de-açúcar na mesma velocidade que aumenta o interesse do governo nessa cultura.

“Com o discurso favorável ao aumento da produção de biocombustíveis o governo tem desconsiderado os impactos e as conseqüências da produção desenfreada em busca de lucro, e isso tem levado governos de outros países e investidores estrangeiros, a se mostrarem reticentes em comprar álcool brasileiro por causa do estigma de trabalho escravo carregado por esse produto”, diz a nota. A informação é da Agência Brasil.
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Essa vergonha brasileira – escravidão em pleno século 21 – deve-se ao descaso das três esferas de poder: o Executivo (governo Lula) fomenta o setor sucroalcooleiro com verbas e incentivos variados e não exige nenhuma contrapartida social e trabalhista; a PEC (projeto de emenda à Constituição) que confisca terras de quem utiliza mão-de-obra escrava tramita no Congresso há mais de dez anos, sem qualquer perspectiva de aprovação; e o poder Judiciário é pródigo na indústria de liminares que sempre favorecem os criminosos empregadores de trabalho escravo ou trabalho legal mas precarizado.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Bancos do Brasil aumentam o "spread"


Sistema financeiro do Brasil força a barra

O custo médio do crédito bancário recuou de 44%, em novembro, para 43,2% ao ano, no mês passado, acumulando elevação de 9,4 pontos percentuais em 2008. Em contrapartida, o “spread” (diferença que os bancos cobram entre a captação e a concessão do empréstimo) aumentou 0,5 ponto percentual em dezembro: permaneceu em 18,3% para as empresas e aumentou de 43,1% para 45,1% para as pessoas físicas em relação aos últimos dois meses.

A informação consta do relatório de Política Monetária e Operações de Crédito do Sistema Financeiro, divulgado há pouco pelo Banco Central. O documento mostra que a inadimplência, nas operações com atrasos superiores a 90 dias, aumentou de 7,8% para 8,1%, em dezembro, nos empréstimos pessoais (aumento de 1,1 ponto percentual em 12 meses), e subiu de 1,7% para 1,8% para pessoas jurídicas (redução de 0,2 ponto percentual no ano passado). A informação é da Agência Brasil.

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O sistema financeiro do Brasil (esse “do Brasil” é muito importante) age como a orquestra do Titanic, completamente alheio ao que se passa no entorno, ou seja, no mundo da vida.

Ou é pura e simples provocação, uma espécie de queda-de-braço com algum inimigo oculto? Com quem?

O que é mesmo uma crise capitalista?


Desde logo, vejamos o que não é uma crise capitalista:

Haver 950 milhões de famintos em todo o mundo não é uma crise capitalista.

Haver 4,75 bilhões de pobres no mundo não é uma crise capitalista.

Haver 1 bilhão de desempregados espalhados por todo o mundo não é uma crise capitalista.

Haver mais de 50% da população mundial no subemprego ou que trabalhe em condições precárias não é uma crise capitalista.

Haver 45% da população mundial sem a acesso direto à água potável não é uma crise capitalista.

Haver 3 bilhões de pessoas sem saneamento básico não é uma crise capitalista.

Haver 113 milhões de crianças sem acesso à educação e 875 milhões de adultos analfabetos não é uma crise capitalista.

Morrerem 12 milhões de crianças todos os anos por doenças que são perfeitamente curáveis não é uma crise capitalista.

Morrerem 13 milhões de pessoas a cada ano por causa da deterioração dos ambientes naturais e por mudanças climáticas não é uma crise capitalista.

Haver 16.306 espécies em vias de extinção, das quais 25% são mamíferos não é uma crise capitalista.

Tudo isto, como se sabe, já havia antes, e não gerou nenhuma crise capitalista.

Pode ser tudo, mas não é, segundo os economistas de mercado e “especialistas” na matéria, uma crise capitalista.

O que é, então, uma crise capitalista? Ou, dito por outras palavras, quando é que começa a sentir-se uma crise capitalista?

A crise capitalista aparece quando os lucros esperados, e que são o fim e a razão de ser das empresas capitalistas, não são alcançados. Aí sim, quando os lucros já não são tão elevados como se esperava, fala-se então de uma crise capitalista.

Ou seja, a crise capitalista surge quando os fatos associados aos indicadores sócio-econômicos acima referidos sobre a fome, a pobreza, o desemprego, a precariedade, a escassez de água potável e de apoio sanitário, mostram que não são suficientemente maus e negativos para garantir a rentabilidade dos investimentos e do capital dos poderosos grupos e empresas multinacionais, pelo que a manutenção da rentabilidade desses conglomerados empresariais exigirá ainda uma maior degradação das condições sociais de vida das populações como meio para garantir as tão almejadas taxas de lucro das grandes empresas mundiais, que são quem verdadeiramente dominam o mundo, segundo a lei que as governa, isto é, a maximização do lucro e a capitalização dos ganhos.

Curiosamente, dizem os “donos” deste mundo que quem não pensa em função da maximização dos lucros e da acumulação do capital, esses são pessoas sonhadoras, irresponsáveis, líricas, idealistas, subversivos…

Mas, afinal, quem se mostra verdadeiramente fanatizado pelo fundamentalismo do lucro e do capital, longe das realidades e das necessidades das populações, quem tem sido responsável pelo crescimento insustentável e desigualitário, quem se revela completamente viciado na roleta desta economia de cassino como é o capitalismo, são essas figuras pardas, cínicas e sombrias que nos governam, exploram e oprimem.

Pescado no lusitano blog do Viriato (menos a foto e os comentários da mesma), o piscoso “Pimenta Negra”.

Foto: Resgate de um pequeno barco com 76 adultos e jovens que fogem da fome e do desemprego na África. São apanhados pela polícia sanitária espanhola na cidade de Arona, ilha Tenerife, no arquipélago espanhol das Canárias, em 6 de novembro de 2008. De Manuel Lerida/AP/EFE.

Um dos grandes problemas do século 21 está sendo a imigração ilegal, parcelar e contínua de populações miseráveis fugindo da fome e da desocupação estrutural. A tendência é de aumento desse fenômeno migratório maciço. O sistema cospe fora o que não consegue empregar/consumir na reprodução ampliada do capital. O resultado social é mais conflitos étnicos na Europa, intolerância cultural e racismo por toda a parte.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Heróis de Lula já demitiram 70 mil trabalhadores


Usineiros culpam a crise internacional

Considerados “heróis” pelo presidente Lula no auge dos agrocombustíveis, os usineiros de cana-de-açúcar demitiram 70 mil empregados no último mês de dezembro. Os dados são do Ministério da Agricultura.

Os desempregados do setor sucroalcooleiro correspondem a mais da metade dos demitidos pelo agronegócio no último mês de 2008. A Confederação Nacional da Agricultura culpou a crise financeira internacional e a mecanização da lavoura pelas demissões. O governo Lula jamais se preocupou em impor contrapartidas de manutenção dos postos de trabalho quando recentemente estimulou com recursos estatais e empréstimos subsidiados ao setor sucroalcooleiro. A situação no setor tende a piorar, uma vez que o governo Barack Obama está dando mostras de que não adotará o etanol brasileiro em detrimento do milho norte-americano. A informação é da Agência Chasque.

MST vai intensificar a luta pela terra em 2009


Luta também será contra o agronegócio e as transnacionais

O Movimento Sem Terra (MST) irá intensificar a luta pela reforma agrária em 2009. Em entrevista coletiva na sexta-feira (23/1) durante o encontro nacional em Sarandi, no Norte do RS, o MST fez um balanço de seus 25 anos e divulgou o planejamento para o próximo período. As manifestações e protestos para pressionar pela reforma agrária devem ser mais constantes. Os sem-terra também irão manter a postura de combate ao latifúndio, ao agronegócio e à expansão das transnacionais. A informação é da Agência Chasque.

A coordenadora nacional do MST, Marina dos Santos, avaliou que somente com pressão os sem-terra conseguiram avançar na reforma agrária. Em 25 anos, os sem-terra contabilizam cerca de 370 mil famílias assentadas em mais de 7 milhões de hectares de terra. No entanto, o Brasil ainda é o segundo país que mais concentra a terra no mundo. Um por cento dos proprietários brasileiros detêm mais de 46% das terras agricultáveis.

"Vamos continuar combatendo o latifúndio, o agronegócio e as empresas. Em 2009, vamos massificar a luta pela reforma agrária. Esta é uma das decisões fruto do debate desses 25 anos", afirmou.

Marina também ressaltou que o MST irá se manter autônomo em relação aos partidos políticos e criticou a reforma agrária promovida pelo governo Lula. Para ela, as ações governamentais funcionam como políticas compensatórias, já que não alteram a estrutura fundiária do país e nem descentralizam a terra. Entre as conquistas da organização, a coordenadora destacou a erradicação do analfabetismo em diversas áreas rurais em que o MST atua e a reprodução das sementes crioulas.

No Rio Grande do Sul, os sem-terra irão seguir com protestos contra as transnacionais, principalmente de celulose, e pela desapropriação de áreas que não cumprem sua função social, como a Fazenda Guerra, em Coqueiros do Sul. Como destaque de 2008, o coordenador Cedenir de Oliveira destacou a desapropriação de parte da Fazenda Southall, em São Gabriel, na Fronteira Oeste do RS.

"Somente no município de São Gabriel em que hoje vamos assentar 1,2 mil famílias que serão para a vida inteira, existem mais de 500 desempregados. Então é evidente que as terras que seriam destinadas para a produção de eucalipto, nós queremos para a reforma agrária. Principalmente as terras da Stora Enso que estão ilegalmente na Faixa de Fronteira", afirmou o dirigente do MST.

A metalinguagem da Guerra Fria




Realimentando o antipetismo guasca

A política tradicional consagrou – entre tantos outros – um mandamento na sua prática deletéria que afirma haver quatro ordenamentos no pensamento político:

1. O que se pensa e se diz;
2. o que se pensa, se diz, mas não se escreve;
3. o que se pensa, mas não se diz, nem escreve;
4. e finalmente aquilo que nem se pensa – ou por perigoso ou por disparatado.

Pois bem, o impensável está acontecendo no RS – por perigoso e por disparatado: a governadora Yeda Rorato Crusius está querendo se reeleger.

Para tanto, o grupo RBS – que tem a funcionalidade orgânica de um verdadeiro partido político (na lacuna dos simulacros partidários que conhecemos), cogitando, debatendo, fabricando versões favoráveis da realidade, sondando, e muitas vezes até arbitrando em favor dos interesses da direita guasca – através de seus principal jornal, Zero Hora, ontem, na edição dominical, lançou um balão de ensaio sobre a reeleição da governadora tucana.

Usando o modelo formal da metalinguagem, ZH apropria o imaginário da Guerra Fria para descrever uma possível reativação de conflitos a partir do caso Busatto-JJ. Só que ao usar a metáfora da Guerra Fria, o próprio jornal-partido está promovendo a Guerra Fria, ele mesmo. Para tanto, não se cansa em lembrar velhos pequenos mitos negativos usinados (pela própria RBS/ZH) para estigmatizar o PT e o governo estadual do petista Olívio Dutra (1999-2002), o incêndio do relógio dos 500 anos da Globo, Clube da Cidadania, Diógenes de Oliveira, invasão da Assembleia, CPI da Segurança Pública (cuja decisão de executá-la com ímpeto golpista foi realizada simbolicamente numa cachaçaria, em alusão a uma atribuída preferência do então governador Olívio), e até um pequeno boneco onde o governador petista é representado com o nariz alongado de Pinóquio. Zero Hora juntou todas essas alusões e referências negativas – construídas e divulgadas pelo próprio jornal – e fez uma memória do que chama de Guerra Fria do Rio Grande. Não falta nem uma bandeira vermelha da URSS em oposição à estelar bandeira estadunidense – imagens fortes que realimentam imaginários que o senso comum não gostaria de reviver.

Como bons intelectuais orgânicos da direita guasca que são, o grupo RBS está dando a largada para a corrida eleitoral de 2010. Trata de refrescar a memória do senso comum para o clima que deve ser evitado no próximo quadriênio administrativo no Estado. Ao mesmo tempo, quer mostrar um PT ressentido, isolado e distante do que está sendo o PT do lulismo na área federal.

A conclusão da matéria não é favorável à nova candidatura da governadora Yeda, e nem desfavorável. O objeto dos editores não foi construir uma positividade, mas uma negatividade. Visa realimentar o constructo do antipetismo de maneira a favorecer, numa segunda etapa da campanha, aí sim, um José Fogaça, um Germano Rigotto, um Pedro Simon e, no limite, até o impensável – uma Yeda Rorato Crusius.

Coisas da vida.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Por que Fogaça não reabilita Busatto?


Por que Yeda não reabilita Busatto?

É muito curioso o procedimento dos chamados comunicadores guascas acerca do caso Busatto-JJ. Ficaram indignados porque a militância petista reagiu contra aquilo que considerou uma nova ameaça de descaracterização do seu partido, já tão desfigurado em seu antigo perfil de vigor e combatividade. Julgaram que o PT, e somente o PT, deveria reempregar o bala-perdida do Cesar Busatto.

Mas por que o PT deveria fazê-lo? Logo o PT, que sofreu ao longo dos anos tantos e tão intensos revezes comandados indiretamente pelo renegado Busatto?

O senhor Cesar Busatto em priscas eras foi um militante de esquerda, mas por algum motivo que mora no seu estômago, sovaco, intestino, sei lá, ele achou por bem de pular o alambrado das concepções de mundo e se aninhou no quentinho da direita mais empedernida do Rio Grande, tendo inclusive um certo destaque entre seus novos camaradas, afinal, não se diz que em terra de cego, quem tem um olho é Napoleãozinho?

Muito bem, cabe então a seguinte questão: se Busatto está reabilitado, nada pesa contra ele, nem no Judiciário, nem no tribunal das consciências da direita guasca, por que então esta mesma direita não trata de empregá-lo novamente, seja no governo estadual, seja na prefeitura de Porto Alegre? Por que o PT é que tem que demonstrar tolerância, espírito flexível e bonomia com o senhor Busatto? Por que o “piratinável” José Fogaça não o chama novamente para ocupar funções relevantes na governança do Paço municipal?

Aguardamos (sentados) a manifestação dos atentos comunicadores guascas.

Ruralistas querem mais mamatas do presidente Lula


E os novos índices de produtividade no campo? E o regime de escravidão nas fazendas?

Leio nos jornais que os ruralistas da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que em dezembro contabilizou menos 134 mil empregos no campo, deverão ser recebidos pelo presidente Lula, em 10 de fevereiro.

Aproveitam a crise mundial e o crescente desemprego no setor rural para fazer moeda de troca com as suas mais sentidas (e eternas) demandas, a saber:

1) leilões emergenciais de alimentos para evitar queda dos preços;
2) desoneração da cadeia agrícola;
3) o alongamento das dívidas do campo com os bancos oficiais.

Essa gente não se emenda mesmo. Desde o tempo de Getúlio Vargas eles querem tratamento privilegiado de qualquer governo, onde o calote aos bancos oficiais é sempre item cativo.

Que tal o presidente Lula informá-los de que o regime no Brasil é e sempre foi o capitalista de mercado, que este regime implica em permanente risco negocial e a quebra de contratos juridicamente perfeitos (com bancos oficiais) não pode ser tolerada?

Que tal o presidente Lula negar as reivindicações dos ruralistas? Ao mesmo tempo, fazer com que eles paguem as faturas de duas urgentíssimas dívidas sociais engavetadas em Brasília, a saber:

1) revisão imediata da lei que regula e atualiza os índices de produtividade na atividade agropastorial brasileira, defasados há quarenta anos;
2) aprovação e aplicação imediata da nova lei que expropria proprietários rurais que empregam trabalhadores em regime similar à escravidão.

No limite, é possível que o lulismo de resultados conceda alguma sorte de vantagens aos ruralistas, mas em contrapartida deve negociar duro para que eles, e sua ativa bancada parlamentar no Congresso, ajudem a aprovar as duas demandas sociais acima.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A linguagem rançosa de Mariza Abreu


Sem comentários. A gafe é auto-explicativa.

Ilustração: fac-símile parcial da página 2 do jornal Zero Hora, de ontem.

Stedile fala sobre o FSM 2009 e sobre a Amazônia



A Amazônia é o último objeto do desejo do capitalismo internacional (e nacional). Vídeo tem menos de 5 minutos.

Fórum Social Mundial começa em uma semana



Grandes temas serão debatidos no coração da Amazônia

A crise econômica mundial, os problemas ambientais e a situação das minorias que habitam a Amazônia devem dominar as discussões do Fórum Social Mundial (FSM), que começa na próxima terça-feira, dia 27/1, em Belém (PA).

Essa é a nona edição do evento que acontece anualmente desde 2001.O FSM é realizado sempre em janeiro na mesma data em que na Suíça ocorre o Fórum Econômico Mundial de Davos. É por essa razão que no início era conhecido com anti-Davos.

A Carta de Princípios do Fórum define o evento como "um espaço aberto de encontro para o aprofundamento da reflexão, voltado para o debate democrático de idéias e a formulação de propostas para superar o processo de empobrecimento gerado pela globalização”. A primeira edição foi realiza em 2001, em Porto Alegre (RS).

A capital gaúcha foi sede do FSM também em 2002, 2003 e 2005. Em 2004, a quarta edição do evento ocorreu na Índia. Em 2006, o Fórum foi realizado em três países simultaneamente: Mali (África), Paquistão (Ásia) e Venezuela (América). Em 2007, voltou a ser centralizado, dessa vez no Quênia (África).

Em 2008, o Fórum foi transformado em um Dia de Ação de Mobilização Global, realizado em 26 de janeiro em mais de 80 países, com cerca de 800 atividades e manifestações auto-gestionadas.O número de participantes cresce a cada edição.

A expectativa para esse ano é que Belém receba 120 mil participantes. Na primeira edição, em 2001, foram 20 mil participantes. Nas duas seguintes o evento reuniu respectivamente 50 mil e 100 mil pessoas. O recorde foi em 2005, em Porto Alegre, com 155 mil participantes.

O Fórum Social Mundial é organizado por um comitê internacional formado por organizações da sociedade civil e movimentos sociais de todo o planeta. Sob o slogan “um outro mundo é possível”, o evento é considerado “altermundista”, já que busca uma nova ordem econômica e social para todo o planeta. A informação é da Agência Brasil.
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É de lamentar que o portal web do FSM 2009 (http://www.forumsocialmundial.org.br) esteja operando de forma tão precária: trava a todo o momento, apresenta inúmeros erros e falhas no carregamento das páginas.

Certamente é mais fácil e rápido navegar pelos pequenos rios e igarapés da Amazônia do que navegar pelo portal oficial do Fórum 2009.

Muitas emoções na posse do novo secretário


Yeda foi arrepiante

A posse ontem do novo secretário da Fazenda estadual, senhor Ricardo Englert, foi uma sucessão de pieguice, olhos úmidos e tiradas “eruditas” de orelha de livro.

Rosane de Oliveira, jornalista e abelhinha, informa que o novíssimo secretário da governadora Yeda estaria citando Sêneca quando encerrou seu discurso dizendo que “não existe vento favorável para o marinheiro que não sabe aonde ir”.

Englert estaria certo ao citar um estóico como Sêneca, uma vez que para participar do desastrado governo tucano é preciso mesmo muito espírito de resignação ao sofrimento e ao infortúnio, mas a frase não é de autoria do grande intelectual do Império Romano. O verdadeiro autor desta frase tão vulgarmente citada é o explorador alemão Erich Dagobert von Drygalski (1865-1949), professor de Geografia na Universidade de Berlim, e também desbravador da Groenlândia e mais tarde do polo Sul. [É espantoso que a abelhinha não consulte a Wikipedia antes de repassar informações temerárias em sua coluna.]

A governadora, que também não poderia ficar atrás no quesito erudição de orelhada, citou – segundo Rosane – o best-seller “Comer, Rezar, Amar”, de Elizabeth Gilbert.

Vocês conhecem essa intelectual Elizabeth Gilbert?

Vendo o pai de Englert chorar ao abraçar o filho secretário, a governadora proferiu uma sentença definitiva e original sobre as emoções, algo que jamais ocorreu a nenhum pesquisador do tema:

- A emotividade é genética! – disse a governadora, sem piscar.

De arrepiar qualquer um.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Cesar Busatto é uma bala perdida



Charquito d’agua turbia

Cesar Busatto é um lucerito sin vela, sangre de la herida. Cesar Busatto é um charquito d'agua turbia.

Basta uma pequena canção do grande Manu Chao (acima) para definir o desagregador Busatto. Canoas se vê livre – em menos de vinte dias – de duas especialidades: Ronchetti e Busatto.

Viva Canoas!

MST completa 25 anos


Movimento está organizado em 24 Estados do País

O Movimento Sem-Terra completa nesta semana 25 anos de fundação. A comemoração da data ocorrerá no Rio Grande do Sul, no Assentamento Novo Sarandi, na antiga Fazenda Anonni, durante o 13o. encontro nacional do movimento. A velha Fazenda Anonni situa-se no município de Pontão, noroeste do RS, na região de Passo Fundo.

São esperados 1,5 mil participantes dos 24 Estados onde o MST está organizado. No sábado, dia 24, um ato público no mesmo local comemora oficialmente a data. A informação é da Agência Chasque.

O neoliberalismo é uma novíssima tradição


Os homens não perguntam mais pela verdade

O neoliberalismo foi um esforço para deslocar da cena moderna o projeto socialdemocrata e a teoria keynesiana. Implica, também, em rever os ideais iluministas de democracia formal, igualdade pelo direito e justiça social, como forma de legitimação precária e instável do conflito, no proclamado Estado de Direito.

A idéia de cidadania se já era pálida e incompleta, agora fica indeterminada no ambiente poluído de coisas e alienação. O ideal do direito burguês de cidadania, hoje, está comprometido no déficit político-institucional da sociedade da mercadoria, está alienado ao poder do dinheiro. A cidadania da forma-mercado é uma lúmpen-cidadania.

O sempre mitigado projeto democrático burguês se nunca foi muito caudaloso, hoje, é um simples córrego que paulatinamente ameaça inverter o seu fluxo de direitos civis, haja vista os retrocessos sob Bush nos Estados Unidos. A democracia como ideologia cede, presentemente, seu lugar à ciência; que assume cada vez mais funcionalidade orgânico-mecânica, tanto na base econômica, quanto na superestrutura das sociedades pós-industriais.

Se a socialdemocracia apresentou-se politicamente em módulos nacionais, privilegiadamente nos Estados nacionais, referenciada pelas formações sociais e culturais da história localista dos povos; o neoliberalismo, ao contrário, impõem-se como fenômeno transnacional, onde as conexões ocorrem por exclusiva relação econômico-monetária.

A socialdemocracia é um fenômeno de classe, de relações de classes, marcadas por um compromisso nacional hegemônico, dentro das fronteiras políticas de um Estado dado.

O neoliberalismo é um fenômeno não mais de relações de classes, mas do próprio capital que define as classes. É a autonomia do capital e do dinheiro como ordenadores fetichizados da sociedade humana. As coisas e o dinheiro como sujeitos; o homem como objeto. A quintessência da inversão marxiana. A teologização profana da mercadoria como divindade vulgarizada das coisas.

Se os mitos e as religiões são os modos primevos de os homens submeterem-se a algo que eles mesmos criaram; na pós-modernidade do capital as criações dos homens (as mercadorias e o equivalente geral, o dinheiro) submetem-no a ponto de comprometer a própria existência da vida. Subtraindo tudo do homem, só lhe resta a própria vida, na forma de um corpo sem vontade, sem liberdade, sem direitos. Uma desumanidade, assim, é quase uma animalidade – como previu Marx.

A cada dia o homem imola fragmentos da sua humanidade alienada na pósmoderna religião do mercado.

Se à modernidade corresponde a ascensão hegemônica da burguesia que se manifestou politicamente através da democracia representiva e do Estado liberal-socialdemocrata, a pósmodernidade corresponde à radicalização liberal que se despoja das veleidades democráticas (e com isso da socialdemocracia) para atender com exclusividade aos desígnios reificados do capital.

Deve-se entender, pois, que, como afirma o australiano Peter Beilharz, "a modernidade não é o que vem depois da tradição, ela é uma nova forma de tradição". E como tradição, é só memória: é ânimo pelo passado e desânimo pelo futuro. Pelo futuro nada se pode fazer, o passado já se encarregou dele – esta é a índole das tradições puras. Neste sentido, quando a modernidade faz-se só tradição, impedindo o movimento das contradições e querendo estancar as indeterminações desafiadoras do futuro, ela faz-se reacionária e anacrônica. Apesar das aparências em contrário.

A burguesia, via neoliberalismo, quer terminar a sua revolução, que julga incompleta. A rigor, quem quer terminar a sua revolução é o capital; completar-se por toda a extensão do globo – globalizar-se. Por isso, a globalização é uma designação do capital, e uma resignação da burguesia industrial. A burguesia como fenômeno de cultura nacional dá lugar a uma nova classe monetária transnacional embalada numa cultura de simulacros, tendo como suporte ideológico a legitimidade da ciência e das novas tecnologias. A forma dos Estados nacionais perdem a sua consistência na construção das justificações do Direito e da ideologia. A cientificização e a tecnologização da vida social e política ao mesmo tempo que justifica a Ordem, propõem a vertiginosa reprodução ampliada do sistema.

A ciência, assim, revela-se luminosamente na sua insuspeita lei dual: a parcela força produtiva, e a parcela ideológica. Desdobrando-se numa exaustiva dupla jornada: de dia, trabalha na produção, como operária do capital, às vezes como capital e trabalho morto; e à noite, tece um fino e transparente véu ideológico que serve de invólucro para os homens e as mercadorias. O selo científico substitui a verdade, representando a verdade. E os homens não perguntam mais pela verdade, mas pela ciência e os produtos da ciência; mal sabendo que os produtos da ciência são filhos dos próprios homens. Mas cegos, alienados, não os reconhecem, acham-se estranhos àqueles produtos, consumindo-se em irrazão e má consciência.

Artigo de Cristóvão Feil, sociólogo.

Refugiados, uma decisão soberana do Brasil


Não tem cabimento pretender que as autoridades brasileiras decidam coagidas pelas ofensas e ameaças de autoridades italianas

Uma decisão recente do ministro da Justiça do Brasil, concedendo o estatuto de refugiado ao cidadão italiano Cesare Battisti [foto], merece especial atenção por sua importância dos pontos de vista ético, jurídico e político.

É oportuno lembrar que toda a história brasileira, desde 1500, é uma constante de concessão de abrigo e proteção a pessoas perseguidas por intolerância política, discriminação racial ou social e outros motivos injustos, como o uso arbitrário da força.

Assim, na segunda metade do século 20, pessoas perseguidas por se oporem aos regimes comunistas estabelecidos na Europa oriental, assim como outras que sofriam perseguição em países vizinhos do Brasil, por se oporem a governos fortes de extrema direita, procuraram e obtiveram no Brasil a condição de refugiados.

Deixando de lado as conveniências políticas e dando a devida prioridade aos valores do humanismo, o Brasil decidiu soberanamente, com independência, e concedeu aos perseguidos a proteção de sua ordem jurídica. No caso de Cesare Battisti estão presentes os requisitos fundamentais para a concessão do estatuto de refugiado, como fica evidente pela análise dos antecedentes do caso e pelo exame sereno dos dados do processo, minuciosamente expostos pelo ministro da Justiça.

Há pouco mais de 30 anos, Battisti foi militante de um grupo político armado, de orientação esquerdista. O governo italiano da época, de extrema direita, estabeleceu o sistema de delação premiada, pelo qual os militantes que desistissem da luta armada e delatassem seus companheiros ficariam livres de punição. Com base numa delação premiada, Battisti foi acusado da prática de quatro homicídios, sendo condenado à prisão perpétua.

Além de só haver como prova as palavras do delator, dois desses crimes foram cometidos no mesmo dia, em horários muito próximos e em lugares muito distantes um do outro, de tal modo que seria impossível que Battisti tivesse participado efetivamente de ambos os crimes.

Dispõe expressamente a lei nº 9.474, de 1997, que trata do Estatuto dos Refugiados no Brasil, que será reconhecido como refugiado o indivíduo que, devido a fundados temores de perseguição por motivo de opinião política, encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não queira acolher-se à proteção de tal país.

Além daquela contradição no julgamento de Battisti, outro dado revelador é a enxurrada de ofensas e agressões de ministros do governo italiano ao governo e ao povo do Brasil pela decisão do ministro Tarso Genro.

Reagindo com extrema violência, o ministro do Exterior convocou o embaixador brasileiro na Itália para exigir a mudança da decisão, ao mesmo tempo em que outros ministros fizeram ameaças de represália, inclusive de boicote da participação do Brasil em reuniões internacionais.

Entretanto, muito recentemente o governo da França negou atendimento a pedido italiano de extradição de Marina Petrella, que, como Battisti e na mesma época, foi militante de um movimento político armado, as Brigadas Vermelhas. O governo italiano acatou civilizadamente a decisão francesa, reconhecendo tratar-se de um ato de soberania. Qual o motivo da diferença de reações? O governo e o povo do Brasil não merecem o mesmo respeito que os franceses?

Essa diferença de comportamento dos ministros italianos deixa mais do que evidente que é plenamente justificado o temor de Battisti de sofrer perseguição por motivo político. A reação raivosa dos ministros italianos não dignifica a Itália e elimina qualquer dúvida.

Por tudo quanto foi exposto, a decisão de Tarso Genro merece todo o acatamento. Expressa em linguagem clara e objetiva, deixando evidente sua inspiração humanista, livre de preconceitos ou parcialidade de qualquer espécie, a decisão tem sólido fundamento em dados concretos e faz aplicação correta e precisa dos preceitos jurídicos que regem a matéria.

A concessão do estatuto de refugiado a Cesare Battisti é um ato de soberania do Estado brasileiro e não ofende nenhum direito do Estado italiano nem implica desrespeito ao governo daquele país, não tendo cabimento pretender que as autoridades brasileiras decidam coagidas pelas ofensas e ameaças de autoridades italianas ou façam concessões que configurem uma indigna subserviência do Estado brasileiro.

Artigo do advogado Dalmo de Abreu Dallari, professor emérito da Faculdade de Direito da USP. Publicado hoje na Folha.

sábado, 17 de janeiro de 2009

O caso Cesare Battisti


Fascistas querem comer o fígado do militante italiano

Está absolutamente certo o ministro Tarso Genro quanto ao tratamento dado ao italiano Cesare Battisti. Ele está sendo considerado um refugiado político, no Brasil. Não deverá ser extraditado, porque caso fosse, seria vítima de perseguição política por parte do governo protofascista da Itália atual, liderado pelo indizível Silvio Berlusconi e seu arranjo de direitistas ressentidos e mafiosos dissimulados.

Dois dos crimes do qual Battisti é acusado aconteceram quase na mesma hora em cidades distantes mais de 500 quilômetros. Ele foi julgado à revelia e, portanto, não teve o amplo e constitucional direito de defesa. Tudo isso tipifica perseguição ideológica, pura e simples.

Vive-se hoje em quase todos os lugares do mundo, mas especialmente na Itália, um acirramento ideológico acentuado. O fascismo adquiriu feições diversas e modernosas, seus porta-vozes buscam cobrir a provecta face assassina com máscaras adaptadas aos novos tempos. Berlusconi (foto) é um velho lobo fascista vestindo pele de manso cordeiro.

Entregar Battisti aos fascistas e aos mafiosos seria um erro imperdoável do lulismo de resultados. Ponto para Tarso Genro.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Instrumento voador

Kayser
"Instrumento voador" é o eufemismo tucanês usado meses atrás pela governadora Yeda Crusius para designar um avião.

Brasil se desindustrializa

Viramos meros exportadores de matéria-prima

O economista chileno Gabriel Palma afirmou ontem que o Brasil se acomodou como um mero exportador de commodities (bens agrícolas e minerais com cotação internacional) e por isso, durante os últimos 50 anos, reduziu o nível de industrialização. Em sua última participação durante o Programa Avançado Latino-Americano para o Repensamento do Macrodesenvolvimento Econômico (Laporde, na sigla em inglês), Palma disse que o país padeceu do mesmo mal de outros países latino-americanos ricos em recursos naturais e, agora, terá que criar uma séria política industrial se quiser alcançar índices de crescimento mais altos. A informação é da Agência Brasil.

“Hoje, não há uma política industrial verdadeira no Brasil. O que há crédito para a indústria”, criticou ele, citando as medidas anunciadas pelo governo federal no ano passado para estímulo do setor industrial brasileiro.

“Sem indústria, o Brasil pode continuar crescendo, em média, 3% ao ano. Crescerá até um pouco mais, como cresceu nos últimos anos”, afirmou ele. “Porém, nunca crescerá 6%, 7%, assim como crescem países asiáticos que apostaram na indústria.” Palma, que é professor da Universidade de Cambridge e estudioso da economia da América Latina e Ásia, afirmou que, nos anos 60, o Brasil tinha um nível de industrialização mais alto do que outros países com características semelhantes. Entretanto, a partir de 1980, esse nível começou a cair, devido, principalmente, à falta de investimentos. “O Brasil se acomodou como exportador de soja e outras commodities, assim como outros países latinos."

Para ele, a economia brasileira tem um grande potencial, mas ele precisa ser mais bem aproveitado. “O Brasil tem que ser o transformador de commodities do mundo, parar de exportar minério e começar a exportar aço, por exemplo”, afirmou Palma. “Há um espaço aberto na economia e o Brasil tem que aproveitar.”

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Esse tema da desindustrialização brasileira não é tratado pelas nossas burocráticas centrais sindicais.
É um tema estratégico, de fundo, mas ao mesmo tempo, ignorado pelas demandas imediatistas dos nossos sindicalistas de resultados. Basta ver que o assunto nem faz parte das discussões que ora são travadas sobre quem vai arcar com o ônus da crise do capitalismo, no Brasil.

Outro ponto completamente ignorado é o do crescente aumento das taxas de exploração. Exemplo: as montadoras de veículos produziam há 15 anos, cerca de um milhão de carros/ano e empregavam mais ou menos 110 mil operários; hoje, produzem cerca de 3,2 milhões de carros/ano, com o mesmo número de empregados.

Que central sindical está pautando o tema do aumento das taxas de exploração do trabalho assalariado, hoje, no debate público com o governo e o patronato industrial-financeiro?

RBS visita o nosso blog por quase meia hora


Segue o monitoramento diário

Acima o fac-símile de boletim do contador SiteMeter. Pode-se verificar que um usuário do servidor privado do grupo RBS visitou o blog DG, ontem à tarde, por mais de 28 minutos: das 16:06h às 16:34h.

Prossegue firme, pois, o monitoramento diário que o grupo RBS faz deste e certamente de muitos outros blogs que se constituem em alternativa ao modo de fazer jornalismo da mídia tradicional.

Os blogs não alinhados com o pensamento hegemônico são hoje a mosca na sopa de engodo dos contentes. Por esse motivo, precisam ser monitorados, e se tivéssemos um governo liberal-conservador, um governo tucano no País, certamente seríamos controlados de forma policialesca, censurados e de alguma forma admoestados pelo poder. Haja vista o que o governador tucano, José Serra, fez com o blogueiro Luis Nassif dias atrás, demitindo-o sumariamente do quadro de profissionais da TV Cultura de São Paulo.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Prefeito de Canoas monta a sua candidatura ao Piratini


PT se reduziu a isso

Estranha quem quiser – ou quem desconhece o PT atual – a política de alianças do prefeito de Canoas, senhor Jairo Jorge. A participação do ex-deputado César Busatto naquela administração está sendo anunciada, o que tem deixado muitos petistas (ingênuos) em sobressalto.

Jairo Jorge apenas se aproveita da fase new age do velho e caduco Partido dos Trabalhadores, e passa a perseguir um sonho que acaricia, zeloso e determinado: ser candidato ao Piratini em futuro próximo. Desde já, faz hercúleos esforços para mostrar flexibilidade, tolerância e espírito de conciliação - um candidato, enfim, normalizado.

Outro que está sonhando alto é o presidente da Petrobras, o baiano José Sérgio Gabrielli. Para tanto, está recebendo o auxílio do “consultor” e ex-ministro José Dirceu. Ambos tratam de desconstituir a virtual candidata de Lula à 2010, a ministra Rousseff. Fazem esforços para chegar cacifados à convenção petista em condições de negociar espaços e destinos para amigos, parentes, cupinchas e simpatizantes.

Como se pode notar, o PT reduziu-se a ser um mero cabide onde se dependuram pequenas biografias de veleidades pessoais e delírios eleitorais – um partido tradicional, como qualquer outro.

Delírio da governadora exige junta psi


Yeda sonha com vida de príncipe saudita

Leio no jornal Zero Hora que a governadora tucana Yeda Crusius quer comprar um jatinho com capacidade para vinte passageiros mais tripulação. O avião deverá fazer "viagens intercontinentais" com a tucana, segundo ZH. Custo do artefato: 26 milhões de dólares. O jornal da RBS – aliado incondicional e mentor político da governadora – sugere de forma difusa que o presidente Lula teria aconselhado a insólita aquisição. Duvido. Isso foi agregado à notícia com o objetivo de amenizar o gritante deficit de juízo da senhora Yeda Rorato Crusius.

Confesso que fiquei apatetado diante desta notícia. Parece um pesadelo. Num Estado insolvente, com carências no setor público as mais corriqueiras, com ameaça de epidemias de febre amarela, dengue e quem sabe até da medieval “peste negra”, a governadora quer satisfazer o capricho de desejar um avião próprio de um príncipe saudita.

Nota-se que a governadora perdeu completamente a noção da realidade. Neste sentido, cabe muito bem sugerir a intervenção de uma junta psi para interditar Sua Excelência por delírio mental incompatível com o exercício são e racional da função pública.

Casos delirantes como esse foram estudados pelo filósofo Karl Jaspers. Segundo ele, os indivíduos portadores de fixações no juízo apresentam os seguintes sintomas:

1) Certeza, o indivíduo mantém a fixidez de forma convicta;
2) Incorrigibilidade, impassível à mudança, resistência à contra-argumentação ou prova em contrário;
3) Falsidade do conteúdo, o objeto da fixação comumente é implausível, bizarro ou patentemente divorciado da realidade.

Coisas da vida.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Telefonema invasivo e insolente




Repórter de ZH invoca democracia para obter entrevista de fofoca

O relato abaixo é absolutamente verídico, mas o nome do protagonista é fictício.

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O funcionário público Jorge Severo militou e trabalhou com a ministra Dilma Rousseff, há muitos anos e por um bom tempo. Ontem, por volta das 16 horas, ele estava comprando peixe no Mercado Público, no Centro de Porto Alegre, quando recebeu um telefonema invasivo de uma repórter que afirmava trabalhar para o jornal Zero Hora. A repórter queria que Jorge Severo lhe passasse informações sobre a ministra. Jorge sugeriu que ela buscasse as informações pretendidas junto ao chefe de gabinete da Casa Civil da Presidência da República, em Brasília.

- Se a senhora quiser eu lhe dou o nome e o telefone da pessoa – disse, já próximo ao setor de peixarias.

Demonstrando impaciência e uma certa incredulidade por estar sendo rejeitada nos seus propósitos, a repórter respondeu:

- O senhor não está entendendo, eu quero é falar com o senhor, mesmo! Respirou fundo e prosseguiu:
- Estamos fazendo uma matéria sobre a ministra, e como o senhor conhece-a bem, gostaríamos de lhe fazer umas perguntas pessoais sobre ela.

Jorge Severo viu que se tratava de uma pessoa inconveniente e mal-educada, e passou para a ofensiva:

- Quem não está entendendo é a senhora! Eu não quero falar sobre ninguém com a senhora, eu nem a conheço. A senhora está sendo desrespeitosa e querendo me obrigar a uma coisa que eu repugno, fofoca – bradou.

A repórter não se deu por vencida:

- O senhor e a ministra lutaram pela volta da democracia ao País, e agora o senhor não está sendo democrático – provocou a jornalista.

O absurdo do apelo à democracia, naquela circunstância e com aqueles fins, era tanto que Jorge Severo voltou à serenidade própria dos que escolhem peixe fresco para comer.

- Minha senhora, vá dar suas lições de democracia a seus patrões, que eles estão precisando. E passe muito bem!

Jorge Severo desligou o telefone e mandou pesar duas enchovas de porte médio.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Celetista da RBS se diz perplexo com a guerra


Os fatos objetivos são expulsos de cena

Como chamei a atenção ontem, a RBS está se omitindo de opinar categoricamente em editorial sobre o conflito no Oriente Médio. No domingo, publicou um editorial banal sobre o tema, eu diria, um editorial pacifista-tout-court, quando se sabe que o pacifismo-tout-court é a evasiva dos que sonham com que tudo permaneça como está.

O grupo midiático, que monopoliza ilegalmente dezenas de mídias num mesmo território, opta por fracionar opiniões “sensíveis”, “impressionistas” e individuais entre os inúmeros celetistas da casa. Os fatos objetivos e o conflito histórico perdem a nitidez em favor de impressões subjetivas piedosas contra as quais ninguém pode refutar. As coisas migram do cérebro para algum lugar entre o coração e o estômago. É quando cessa toda a racionalidade.

Hoje, foi a vez do colunista Paulo Sant’Ana se dizer “perplexo” de ver tanta confusão em Gaza. Pollyanna saiu da literatura, tornando-se carne e verbo nos veículos da RBS. Uma coisa de apertar o peito de gente sensível. Leia na íntegra aqui.

Amanhã, quem será o escalado para emitir opiniões sensíveis sobre o genocídio de Gaza?

GM começa a demitir em massa


Governo Lula não negociou com montadoras nenhuma contrapartida

A GM demitiu ontem 744 empregados temporários de sua fábrica de São José dos Campos (SP). É a primeira demissão em massa entre as montadoras de carros instaladas no Brasil registrada depois do agravamento da crise financeira internacional, em setembro de 2008.

Em nota, a empresa informou que a medida acontece "em decorrência da diminuição da atividade industrial em geral e, particularmente, no setor automobilístico", reflexo da crise global. E justificou que, "diante dessa nova conjuntura de mercados", precisa adequar os níveis de produção com a demanda prevista. A informação está em vários portais de notícias de hoje.

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A perversidade das montadoras lembra a fábula do escorpião e o sapo. O escorpião, provisoriamente generoso, acaba sucumbindo à sua insopitável natureza de picar e envenenar a todos com os quais se relaciona.

No início de dezembro passado, o governo Lula, penalizado pelas crescentes quedas nas vendas de automóveis, concedeu uma drástica redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre veículos novos: até 31 de março de 2009, os carros (mal) denominados "populares" não serão taxados, os carros equipados com motor até 2.0 a gasolina, que pagavam imposto de 13%, pagarão 6,5%, e os bicombustíveis tiveram redução de 11% para 5,5%.

Agora, o escorpião que há dentro da GM pica os seus próprios empregados, demitindo-os sumariamente, alegando motivações abstratas de que está sendo atingida pela crise internacional, que furou o pneu do trem, que blá-blá-blá-blá – o novíssimo álibi tamanho-único que serve de pretexto para qualquer coisa ultimamente.

É isso que dá a política de unilateralidade das medidas de combate à crise propostas pelo lulismo de resultados. A concessão do benefício da redução (e até isenção) do IPI não foi acompanhada de contrapartidas por parte dos principais beneficiários, as montadoras de veículos. Estas ficaram livres para fazer o que bem entendessem dos seus destinos, ou seja, continuaram especulando com os recursos líquidos auferidos pelos mega lucros do biênio 2007/2008 e igualmente liberadas para desencadear um processo perverso de demissão em massa quando o caixa acusar a primeira dificuldade operacional à vista. Os balanços das montadoras são inflexíveis: não se gasta gordura acumulada e que pode gerar resultados não-operacionais extras, mas se demite empregado, sim, como único método de regulação ótima das taxas de lucro.

O que acontecerá, agora? É possível prever os seguintes desdobramentos:

1. As montadoras seguem demitindo, obedecendo apenas à inflexibilidade de seus próprios balanços econômico-financeiros (afinal, estão tranquilas, já que tem um ministro na Esplanada, o senhor Miguel Jorge);

2. O governo Lula mantém, e talvez amplie, os benefícios às indústrias de automóveis;

3. As centrais sindicais, hoje, completamente imobilizadas por compromissos promíscuos com o lulismo de resultados, lançarão tímidas notas de protesto, para constar, e seguirão suas rotinas despolitizadas, meramente burocráticas, marcadas pelo peleguismo mais desavergonhado.

Como se vê, o escorpião sempre pica o sapo. É da sua natureza.

Coisas da vida.

Ato público repudia ataque de Israel à Faixa de Gaza


Hoje, dez horas da manhã

Ocorre hoje às dez horas da manhã, no Plenarinho da Assembléia Legislativa/RS (terceiro andar), ato público em repúdio aos ataques de Israel à Faixa de Gaza.

O protesto é organizado pelo Comitê de Apoio e Solidariedade ao Povo Palestino e contará com a presença do embaixador da Autoridade Nacional Palestina no Brasil, Ibrahim Al Zeben.

Logo após o ato, será realizada uma caminhada pelas ruas do Centro de Porto Alegre. Protesto semelhante já ocorreu na semana passada, com expressiva manifestação pública. A informação é da Agência Chasque.

MP quer anular compra da RBS


Ação visa derrubar monopólio ilegal em Santa Catarina

Deu na Folha de S. Paulo, hoje:

O Ministério Público Federal em Santa Catarina ingressou com ação civil pública para anular a venda do jornal "A Notícia", de Joinville, para o grupo RBS. Segundo a Procuradoria, a RBS se tornou dona de quatro diários catarinenses. A ação quer ainda obrigar a RBS a vender 4 de suas 6 emissoras de TV em Santa Catarina.

O Cade (Conselho de Defesa Econômica), que autorizou a venda, também vai responder ao processo, assim como o ex-controlador do jornal, Moacir Thomazi.

A RBS é acusada de obrigar distribuidores e vendedores de jornais a não comercializarem publicações de outras empresas.

A RBS diz que "todas as operações e veículos do grupo em Santa Catarina atendem minuciosamente às especificações legais". Thomazi afirma que todas as questões jurídicas do negócio são de responsabilidade do comprador.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Mísseis desejantes


Kayser

Celetistas da RBS fazem propaganda de Israel


O pleno exercício da violência simbólica

Alguns blogs já publicaram em tom crítico a charge de ZH, do último sábado. Faço questão de também registrar aqui no DG esse material de propaganda subliminar israelense.

Essa “piada” de péssimo gosto vale por um editorial. Como pegaria mal uma família judaica (Sirotski), dona de uma rede midiática (RBS), publicar editoriais com divulgação de razões e justificações para o genocídio de civis na Faixa de Gaza, eles optam por fragmentar o tema em pequenas pílulas venenosas assinadas ou vocalizadas por celetistas da empresa. Ora é um colunista conhecido, ora é um pitaco em meio a um programa esportivo, ora um comentário em programa de rádio, ora uma charge “engraçadinha” no jornal Zero Hora.

Nome do chargista bufão: Iotti.

Daqui a 50 ou 60 anos quando já existir - espero – o Estado da Palestina (e faço votos que seja um Estado laico, separado da religião islâmica) e quando se construir um Memorial do Holocausto Palestino, se reunirão todos esses materiais de propaganda de incitamento ao genocídio.

A charge acima deverá constar dessa memória da violência simbólica, que ocorre antes e depois da violência física dos bombardeios, invasões de territórios, assassinatos, destruições e privações de todo gênero. A violência simbólica (Bourdieu) da propaganda israelense prepara, sustenta, normaliza e reproduz condições e espíritos para a aceitação da brutalidade das mortíferas ações bélicas contra civis e inocentes (com a devida vênia de Habermas).

Ontem, o caderno “Mais!” da Folha publicou entrevista com o velho jornalista inglês Phillip Knightley, autor de uma alentada obra sobre a cobertura jornalística em guerras, onde ele estuda a guerra da propaganda travada pelos países em confronto. Comentando sobre a máquina de propaganda israelense, Knightley diz o seguinte:

“É muito sofisticada. Todos os porta-vozes são altamente treinados para o contato com a mídia, repetem sempre a mesma mensagem, num inglês impecável. É claro que funciona. A repetição, de modo profissional e sem recuo, acaba por fixar a ideia. Eles não param de dizer que ‘toda nação tem o direito de se defender, ‘toda nação tem o direito de proteger seus cidadãos, estamos protegendo os nossos’. Ficam dizendo isso o tempo todo e as pessoas acabam por acreditar, como se se tratasse apenas disso” – completa o jornalista de 79 anos.

Ainda não dá para sustentar que a RBS, como corporação, seja um dos porta-vozes israelenses, referidos por Phillip Knightley, mas pode-se sim afirmar que muitos de seus celetistas estão engajados simbolicamente no esforço de guerra contra – sobretudo – as crianças palestinas.

domingo, 11 de janeiro de 2009

A quintessência do cinismo


“Muitas crianças palestinas estão morrendo. E quase nenhuma criança israelense foi morta. Por quê? Porque cuidamos das nossas crianças”.

Shimon Peres, presidente do Estado de Israel e prêmio Nobel da Paz de 1994, publicado hoje no jornal O Globo, do Rio.

Foto: Pés de uma criança assassinada em sua casa por um comando terrestre do Exército de Israel, no dia 5 de janeiro último. A criança é da família Al-Samoni, que vivia na Cidade de Gaza. Sete membros desta família palestina foram assassinados ao mesmo tempo – uma chacina – incluindo a mãe, três crianças e um bebê. A fotografia é de Abid Katib/Getty Images e foi tirada na morgue do hospital Al-Shifa da Faixa de Gaza.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Fazendo da necessidade, virtude


Essa abelhinha é imbatível

Rosane de Oliveira, jornalista e abelhinha, em sua coluna hoje no jornal Zero Hora faz uma justificação do governo Yeda Crusius que nem a própria conseguiria (leia acima).

Rosane torna róseo o que é cinzento, esquenta o que é gelado, faz da necessidade, virtude.

As mudanças no secretariado de Yeda – todas contingentes e supervenientes – para a abelhinha, são resultado da pertinácia e interferência quase cirúrgica da governadora. Aquilo que foi involuntário, acidental, agora é voluntário, cerebral, fruto de uma diligente ação gerencial.

“Imexível, só o projeto” – completa a olímpica vespinha.

Que 'eto?

Yeda: governo de areia continua erodindo


Cai Aod Cunha, secretário da Fazenda

O encilhamento promovido pelo secretário Aod Cunha foi demais para os empresários guascas. As pressões empresariais sobre a frágil e suscetível governadora Yeda Crusius foram determinantes para derrubar hoje o secretário da Fazenda do governo tucano.

A política da Fazenda para com o Judiciário estadual também deve ter contribuído para a remoção do secretário, que chegou a ser o esteio do governo Yeda nos dois primeiros anos de uma tumultuada e confusa gestão pública, atravessada por apetites privados de toda a ordem.

Assume o lugar de Aod Cunha (esq.), o economista Ricardo Englert, visto como um camaleão entre camaleões, haja vista sua capacidade adaptativa ao meio em que vive. Resta saber se o seu agudo senso de sobrevivência serve também para suportar os humores mercuriais da senhora governadora.

Nas próximas semanas ou meses, está prevista a debandada do PMDB do chamado “ajuntamento-Yeda”. Cálculos puramente fisiológicos e eleitorais indicam essa perspectiva para o partido do senador Pedro Simon, que prepara com zelo (junto com a RBS) o prefeito José Fogaça para a sucessão no Piratini.

O que significa “Banalidade do Mal”


O mito da dureza nazista caiu diante de holandeses e dinamarqueses

Com essa polêmica ruidosa sobre grupos de pressão judeus, acusações de anti-semitismo para quem ousar criticar um só ato dos belicosos governos israelenses, (o que dirá referir os extermínios nos campos de refugiados palestinos na Faixa de Gaza), etc., vem à lembrança, quase naturalmente, a figura corajosa de uma frágil mulher judia chamada Hannah Arendt (1906-1975).

Essa teórica política, durante toda a sua prolífica vida intelectual, foi provocadora de grandes polêmicas, sempre em torno dos seus estudos sobre a condição humana sob regimes de opressão e totalitarismo. Ao analisar as origens do totalitarismo no regime nazista, por exemplo, não se limitou a examinar somente o lado dos que foram sujeitos da opressão, mas também dos que foram objeto da mesma.

"Eichmann em Jerusalém", publicado em capítulos na New Yorker entre fevereiro e março de 1963, é uma obra que procura entender esses dois agentes da relação opressiva. Ela narra o julgamento de um carrasco-burocrata do regime nazista alemão, Adolf Eichmann, ocorrido em Jerusalém, depois de ter sido sequestrado num subúrbio de Buenos Aires por um comando do Mossad israelense. O nazista é conduzido então à Jerusalém, para o maior julgamento de um carrasco alemão depois do tribunal de Nüremberg.

Durante o julgamento, a figura discreta de Eichmann discrepava dos crimes de que estava sendo acusado, e pelos quais assumia relativa responsabilidade. Hannah Arendt, então, mostra toda a sua capacidade de extrair reflexões filosóficas do que ela denominou de "banalidade do mal" – a conjugação de fatores desumanizantes (totalitarismo, criminalidade como norma estatal, burocracia, disciplina cega à hierarquia, etc.) combinados com a reação apática das vítimas (em especial dos judeus), num processo de normalização da desumanidade e da "calamidade dos sem-direitos". Arendt, evidentemente, foi muito criticada desde então pelas lideranças judaicas do mundo inteiro, pelo menos até a sua morte, em 1975.

No livro "Eichmann em Jerusalém", uma das suas tantas obras publicadas, Hannah Arendt não fica somente na constatação da apatia estóica das vítimas do regime hitlerista, mas, corajosamente, aponta também fatos documentados sobre atividades nada-estóicas de líderes de comunidades judaicas que colaboravam com os nazistas, com o objetivo de obter vantagens materiais e seletivamente poupar vidas de seus protegidos.

"Onde quer que vivessem judeus – escreve Hannah Arendt – havia líderes judeus reconhecidos, e essa liderança, quase sem exceção, cooperou com os nazistas de uma forma ou de outra, por uma ou outra razão. A verdade integral era que, se o povo judeu estivesse desorganizado e sem líderes, teria havido caos e muita miséria, mas o número total de vítimas dificilmente teria ficado entre 4 milhões e meio e 6 milhões de pessoas. Pelos cálculos de Freudiger [Pinchas Freudiger, um "judeu ortodoxo de considerável dignidade", segundo Arendt], metade delas estaria salva se não tivesse seguido as instruções dos Conselhos Judeus". Esses Conselhos eram compostos pelos judeus mais velhos e mais ricos.

Um aspecto é muito exaltado por Arendt nessa obra, é a solidariedade e a capacidade de resistência à opressão – qualidades raramente encontradas naqueles tempos sombrios – mas quando elas aconteceram, os alemães recuaram.

"Quando [os nazistas] encontraram resistência baseada em princípios, sua 'dureza' se derreteu como manteiga ao sol. [...] O ideal de 'dureza', exceto talvez para uns poucos brutos semi-loucos, não passava de um mito de auto-engano, escondendo um desejo feroz de conformidade a qualquer preço, e isso foi claramente revelado nos julgamentos de Nüremberg, onde os réus se acusavam e traíam mutuamente e juravam ao mundo que sempre 'haviam sido contra aquilo', ou diziam, como faria Eichmann, que seus superiores haviam feito mau uso de suas melhores qualidades. Em Jerusalém, ele acusou 'os poderosos' de ter feito mau uso de sua 'obediência'" – ironizou Arendt.

A Holanda, lembra Arendt, foi o único país da Europa em que os estudantes entraram em greve quando professores judeus foram despedidos, e onde uma onda de greves operárias explodiu como reação à primeira deportação de judeus para os campos de concentração, principalmente de Sobibor. Na Dinamarca, quando os alemães abordaram altos funcionários governamentais para que fosse possível a identificação de judeus por um emblema amarelo no braço, eles simplesmente responderam que nesse caso o rei também usaria a identificação e que se os alemães insistissem haveria uma imediata renúncia generalizada. Segundo Arendt, os nazistas recuaram e foram tratar de criar outros meios para perpetrar seus crimes na região.

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EICHMANN EM JERUSALÉM – Um relato sobre a banalidade do mal
Hannah Arendt
Editora Companhia das Letras, 336 páginas.
Tradução: José Rubens Siqueira

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Esse pequeno artigo eu escrevi por encomenda, em maio de 2006, quando se intensificavam os lançamentos de bombas contra os campos de refugiados na Faixa de Gaza. O carniceiro Ariel Sharon já havia tido o primeiro derrame cerebral em dezembro de 2005, e que o mantém em vida vegetativa até hoje. De qualquer forma, Ehud Olmert, o primeiro-ministro que o sucedeu, continuou uma política que muitos não entenderam à época, a retirada ostensiva e continuada dos colonos judeus da Faixa de Gaza. Os judeus sairam sob protestos, sem entender bem a política que o seu Governo estava seguindo. Agora, depois que a Faixa de Gaza está desocupada de cidadãos israelenses, fechou-se o ciclo da política de Israel para a região. A Faixa de Gaza foi desimpedida para poder ser bombardeada por inteiro, sem risco de se atingir colonos ou propriedades de judeus na área palestina.

Não sou dos que acreditam na trama cerebral de que o Hamas foi fortalecido pelo Mossad para constituir-se num motivo de ataque israelense contra o povo palestino. O Hamas representa a vontade autônoma das novíssimas gerações palestinas, cansadas da letargia e da corrupção do Fatah e do próprio Yasser Arafat, que segundo Edward Said foi um dos grandes corruptos (tanto moralmente, quanto politicamente) da Autoridade Palestina. Assim, o Hamas é o nome da desesperança e do ceticismo em soluções negociadas. O Hamas é uma consequência quase mecânica do fracasso de tantas conjunturas que resultaram sempre em mais sofrimento e desabono à política tradicional, tanto de Israel, quanto da própria Autoridade Palestina, haja vista o palhaço representado hoje pela figura risível de Mahmoud Abbas.

Trouxe esse brevíssimo artigo sobre o livro da notável Hannah Arendt – que nunca foi marxista, diga-se de passagem – para chamar a atenção sobre a necessidade de resistir ao opressor. Arendt examina o julgamento de uma ratazana do esgoto nazista, mas não deixa de apontar a altivez de holandeses e dinamarqueses no enfrentamento ao hitlerismo.

Esse mesmo enfrentamento se vê hoje em Gaza, quando meninos e jovens jogam pedras e de alguma forma mostram sua indignação com as garras da tirania. Enquanto isso ainda vigorar, sempre haverá esperança.
Foto: Crianças mortas pelos bombardeios de Israel jazem nas gavetas de um necrotério de Gaza City.

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