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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Encolhimento do espaço público e alargamento do espaço privado



Trecho de palestra da professora Marilena Chauí, que fala da classe média, esse suporte social da ideologia conservadora, do atraso e da violência simbólica no Brasil, mas sobretudo em São Paulo. 

Im-per-dí-vel! Quem ignorar esse vídeo de 23 minutos é porque é um serrista empedernido e uma "abominação política", como diz Marilena nesta fala, com muito humor. 

Se estivéssemos em um país que não teme seu passado...


O choque e a ironia

"A cada fisgada elétrica vai-se tecendo a argumentação virulenta cuja eficácia faz desabar as ilusões que ainda nutríamos sobre a realidade da vida nacional."

Desta forma, Luiz Roberto Salinas Fortes [foto acima], professor de filosofia da Universidade de São Paulo, nos descreve a verdadeira dor provocada pela tortura em um pau-de-arara. A dor de descobrir que "o abismo, na realidade, é imenso entre a literatura e o choque, entre o argumento e a porrada".

Isso talvez nos explique porque boa parte daqueles que descobrem a vulnerabilidade nua da tortura só suportem o silêncio. Porque um choque elétrico em um pau-de-arara não se escreve. A escrita ainda pressupõe alguma demanda de partilha, mas um choque não se partilha. Ele apenas faz tudo desabar, a começar pela ilusão de que os conflitos da vida nacional possam se resolver em alguma forma de diálogo socrático.

Aí está talvez a grandeza de "Retrato Calado", livro reeditado agora, no qual Salinas Fortes descreve suas prisões e torturas na ditadura militar e, assim, elabora o mais profundo dos traumas, este que nos leva à "cena primitiva": o trauma de descobrir um país sem argumentos. País que periodicamente entra na via larga da porrada e sai sempre com as mãos ilesas.

Lá onde todos preferem se calar, Salinas Fortes resolveu escrever. Uma escrita que, no entanto, não espera "contar" o que não se conta.

Como se a crueza de um relato em primeira pessoa pudesse fazer os choques serem sentidos pelo leitor, obrigando-o a pensar de outra forma.

Alguém como Salinas não tem mais essas ilusões. Por isso, ele usa a única coisa que até hoje restou a esse país quando seus traumas se confrontam com a fraqueza das palavras. 

De maneira monstruosa.

Salinas usa a ironia melancólica para fornecer o melhor retrato que temos da brutalidade da ditadura militar.

Essa estranha distância irônica diante de seu próprio destino amargo dá a "Retrato Calado" a força dos que não querem ser empurrados para a vala do ressentimento. Força própria àqueles que sabem que a inteligência é a mais doce de todas as vinganças, e a única realmente permitida.

Se estivéssemos em um país que não teme seu passado, "Retrato Calado" seria adotado nas escolas de ensino médio, da mesma forma que os alemães adotaram em suas escolas livros sobre os horrores do nazismo.

Nossos estudantes aprenderiam não apenas a brutalidade do cárcere político, mas a altivez da inteligência irônica que nunca se quebra. Única forma de dizer o que não cessa de não se escrever.

Artigo do professor Vladimir Safatle, da Filosofia da USP.



Os argentinos da banda Nacho y los Caracoles




terça-feira, 28 de agosto de 2012

Os fantasmas da direita


'Os deuses malditos', debate sobre o filme de Visconti




[...] O patriarca Essenbeck vai morrer (será morto) e a luta por seu espólio será cruel. Martin, o personagem de Helmut Berger, vai manipular a todos e destruir a família. Seu ódio é contra a mãe, Ingrid Thulin, a quem ele vai ‘possuir’, cometendo incesto.

O espectador que hoje assiste a ‘Os Deuses Malditos’ não consegue nem imaginar o impacto que teve, há 40 e poucos anos, a cena de Helmut Berger vestido de mulher, interrompendo o jantar de família com sua recriação do mito de Marlene (Dietrich) em ‘O Anjo Azul’.

O clássico de Joseph Von Sternberg já era sobre a decadência moral de Weimar, mas agora Visconti radicaliza. Outra cena impactante foi a do massacre dos SA, que compunham a guarda pretoriana de Hitler. Mas eles eram comandados por um gay vicioso, e Hitler, depois de se servir deles, sentiu que necessitava de outra elite e fez com que os SS massacrassem os SA, para assumir seu lugar.

O filme é todo ele uma série de massacres, morais e físicos. Todo um mundo vai sendo destruído na trajetória irresistível de Martin para consolidar seu poder.

De fundo, Wagner, ‘O Crepúsculo dos Deuses’. Nem por isso, ‘Os Deuses Malditos’ é anti-wagneriano. Como dizia Visconti, não era culpa de Wagner que celerados como Ludwig II e Hitler tenham se apropria de sua música, o primeiro para viver uma delirante fantasia artística e o segundo, para perpetrar o Holocausto. [...]

Trecho do crítico de cinema Luiz Carlos Merten, publicada no Estadão, em 13/maio/2012.

domingo, 26 de agosto de 2012

A ótima banda 'Me darás mil hijos'




'Cuba sem bloqueio' - o livro



Saiu o livro “Cuba Sem Bloqueio: a revolução cubana e seu futuro, sem as manipulações da mídia dominante”, de Hideyo Saito e Antonio Gabriel Haddad, editado pela Radical Livros. 

Como seu título anuncia, o livro apresenta uma visão de Cuba bastante diferente da que aparece nos meios de comunicação dominantes, que exageram supostos aspectos negativos e omitem os positivos.

Exemplos: um ato do grupo oposicionista Damas de Branco, que reuniu dez pessoas (dez!) em Havana, apareceu na capa de O Estado de S. Paulo; a revista Veja entrevistou o pedagogo estadunidense Martin Carnoy, que veio ao Brasil lançar o livro “A vantagem acadêmica de Cuba: por que seus alunos vão melhor na escola”, mas não citou o ensino cubano; a imprensa brasileira noticiou os resultados das duas pesquisas comparativas sobre o ensino na América Latina coordenadas pela Unesco em 1997 e em 2007, mas omitiu a informação de que os estudantes cubanos haviam ficado em primeiro lugar em ambas.

Para furar esse bloqueio informativo, os autores consultaram livros, estudos acadêmicos e publicações de instituições cubanas e multilaterais (como o Banco Mundial e a ONU) e de think tanks como o Conselho de Relações Exteriores dos Estados Unidos, além de periódicos, fontes de internet e outras.

Eles descrevem um processo de construção social que procura enfrentar seus problemas, encarados como consequência de erros e de dificuldades de toda ordem, mas também de agressões e de obstáculos criados pelas potências dominantes. E revelam a atual mobilização popular no país pelo aperfeiçoamento do socialismo cubano.

Segundo os autores, Cuba não é um paraíso terrestre. Mas eles perguntam: quantos países capitalistas exibem uma sociedade razoavelmente harmônica, sem miséria, sem fome, sem analfabetismo, sem violência social e sem crianças abandonadas como a cubana? Então por que esse rancor da mídia dominante?

Uma possível resposta está na assertiva de Noam Chomsky: “O que é intolerável para essa mídia são os êxitos cubanos, que podem servir de exemplo para outros povos de países subdesenvolvidos”.


sábado, 25 de agosto de 2012

Comitê Popular organiza ato pela memória em Porto Alegre




No próximo dia 28 de agosto (terça-feira), às 17h, o Comitê Popular Memória, Verdade e Justiça do RS realiza um ato na Praça Raul Pilla, onde funcionou o antigo Quartel da 6ª Companhia de Polícia do Exército (foto acima), utilizado como centro de prisão e tortura durante a ditadura. 
A Praça Raul Pilla (foto abaixo) se localiza na esquina da Rua Desembargador André da Rocha com a Av. João Pessoa, no centro de Porto Alegre. No quartel da PE passaram, entre outras, figuras históricas como o Capitão Carlos Lamarca, o Sargento Manoel Raimundo Soares e o Coronel da Força Aérea Brasileira, Alfredo Ribeiro Daudt, avô do atual ministro do Trabalho, Brizola Neto. 
Na ocasião do golpe de março de 1964, Carlos Lamarca esteve efetivo na PE, e posteriormente tornou-se dirigente da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), da Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares (VAR-P) e militante do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR-8), grupos que atuaram na resistência contra a ditadura no Brasil.
No quartel também foi prisioneiro e torturado o Sargento Manoel Raimundo Soares, que há 46 anos, no dia 24 de agosto, foi encontrado morto com as mãos e os pés amarrados, perto da Ilha das Flores, no rio Jacuí. Raimundo tinha fortes sinais das sevícias, sofridas durante o período em que também esteve detido no DOPS e na Ilha do Presídio.
O caso das “Mãos Amarradas” – como ficou conhecido – até hoje suscita debates, publicações e denúncias, bem como motivou a constituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia/RS, em agosto de 1966, para averiguar as circunstâncias da morte de Soares e o tratamento dispensado aos demais presos políticos.
Outro preso político na PE foi o Coronel da Força Aérea Brasileira, Alfredo Ribeiro Daudt, que na Campanha da Legalidade, em 1961, iniciou uma trajetória que lhe renderia anos depois a prisão, torturas e um longo exílio no Uruguai. Para evitar o bombardeio do Palácio Piratini, onde se encontrava o então governador Leonel Brizola, Daudt liderou, entre outros, um grupo de oficiais para esvaziar os pneus das aeronaves que estavam prontas para decolar da Base Aérea de Canoas.
No mês de dezembro de 1964, o Coronel Daudt teve a fuga deliberadamente facilitada pelo Capitão Lamarca que cumpria serviço escalado como oficial-de-dia na PE. As desconfianças e investigações sobre a “estranha fuga” levaram o Capitão a solicitar transferência para o quartel do 4º Regimento de Infantaria (4ºRI), em Quitaúna/SP. Em 1969, após desertar do Exército e ingressar na clandestinidade, Carlos Lamarca passou a ser perseguido pelos agentes da ditadura, até o seu assassinato, no dia 19 de setembro de 1971, no sertão da Bahia.
O ato no dia 28 de agosto deverá lembrar que há 33 anos João Batista Figueiredo sancionou a Lei da Anistia, ato inserido no processo de abertura política “lenta, gradual e segura”, iniciada no governo do general Ernesto Geisel.
Em um novo manifesto, o Comitê ressalta que a luta da esquerda foi pela anistia “ampla, geral e irrestrita”, e que a Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979, atendeu uma pequena parte do apelo nacional, pois se apresenta como uma proposta de reconciliação e esquecimento das violações cometidas pelos agentes policiais e militares durante os 21 anos de ditadura no Brasil.
O Comitê Popular destaca que em 2008 o Judiciário brasileiro reafirmou a validade da Lei da Anistia, ato considerado pelos seus membros como um reforço à impunidade dos agentes da ditadura e que mascara a verdade ao igualar torturados e torturadores. Neste sentido o Comitê Popular defende a necessidade da organização e pressão da sociedade para que a Lei da Anistia seja revista ou revogada. 
Informação enviada pela jornalista Vânia Barbosa, do Comitê Popular Memória, Verdade e Justiça/RS. 

Chargista boçal faz apologia de crime no jornal ZH



O chargista, de forma oblíqua, está fazendo a apologia de crime (veja a charge acima). Qual crime? O crime ambiental contra a fauna silvestre, no caso, da perdiz (tinamídeo) que representa um dos mais antigos grupos de aves do continente americano, com registros fósseis do Mioceno (estamos falando de cinco milhões de anos atrás, segundo a Wikipédia).

A caça esportiva ou amadorística está proibida no Rio Grande do Sul (de resto, no Brasil todo) desde 2005, com ratificação proibitória pelo Poder Judiciário, em 2008.

A punição à apologia de crime (ou de criminoso) está prevista no Código Penal Brasileiro, artigo 287.

O referido chargista sem graça está brincando com algo sério. Na qualidade de jornalista de um diário com grande circulação e variado número de leitores de todas as idades, deveria reprimir os seus impulsos antissociais, ecocidas e transgressores da lei. 

De outra parte, é de lamentar a linha editorial da empresa que o contrata, por demais comprometida com tipos antissociais e portadores de um anti-humor casca-grossa e boçal. 

Los porteños de 'Onda Vaga'




De Borges de Medeiros a Trotsky, passando por Gramsci


João Neves da Fontoura foi diplomata e vice-presidente do RS, quando Getúlio Vargas fora presidente de 1928 a 1930.  

Fontoura publica suas “Memórias” a partir de 1958, quando sai o primeiro volume de 401 páginas, editado pela velha Livraria do Globo, da família Bertaso. O segundo volume porta 490 páginas e foi publicado em 1963, semanas antes de sua morte, em março. É uma leitura muito agradável e rica em informações sobre os acontecimentos políticos do Rio Grande e do Brasil na primeira metade do século 20. 

Ao contrário das demais lideranças políticas do estado sulino, com raras exceções, João Neves – como ficou conhecido – era um sujeito com uma boa formação intelectual, nunca foi positivista, como seus companheiros do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), porque estudou com os jesuítas de São Leopoldo, onde hoje ergue-se a Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Unisinos.

Leitor refinado, era apreciador da obra de Romain Rolland, aquele da qual Gramsci (ao lado) subtraíra-lhe a genial expressão de que o “pessimismo da inteligência” não deveria abalar o “otimismo da vontade”.

Muito ligado ao grande líder republicano Borges de Medeiros (foto do alto), para bem além dos laços familiares que os uniam, bem como o fato de ambos terem nascido na mesma região do estado, Borges em Caçapava do Sul, e Fontoura em Cachoeira do Sul.

A certa altura da primeira parte de “Memórias”, João Neves arrisca narrar sobre o perfil psicológico de Borges, uma personalidade forte, introspectiva, “que detestava o exibicionismo, a galeria, a popularidade fácil”.  Em tempos de grandes e graves crises políticas, João Neves afirma que jamais vira Borges diferente. “Sua voz não traía emoções, nada denotava nele ansiedade ou receio”. É preciso lembrar que o governo Borges durou mais de 25 anos: da morte prematura de Julio de Castilhos, em 1903, até entregar o poder estadual a Getúlio Vargas, em janeiro de 1928. Sem esquecer que houve a sangrenta guerra civil de 1923, entre borgistas-chimangos e partidários de Assis Brasil, os maragatos, velhos federalistas da revolução de 1893.

João Neves especula que a técnica de contenção do espírito do líder republicano “consistia em compenetrar-se de que os acontecimentos não correm  com maior velocidade porque os homens procurem antecipá-los ou impedí-los com força”. Para Fontoura, Borges – determinista - socorria-se de Comte, quando este dizia que “o homem se agita, e a humanidade o conduz”.  

Anos depois, conta João Neves, lendo a autobiografia de Trotsky (foto à esquerda), ele teria encontrado um traço comum na personalidade destes líderes de natureza e ideologias tão distintas, embora, ambos revolucionários. O “profeta desarmado”, criador do Exército Vermelho, escrevera: “Sei, por experiência, o que são os fluxos e refluxos da história, submetidos a certas leis. Não basta que nos impacientemos para os transformar mais depressa. Acostumei-me a considerar a perspectiva da história de um outro ponto de vista que não o da minha situação pessoal” – arrematou o inimigo número um de Stálin.

As “Memórias” de João Neves da Fontoura estão esgotadas há muitos anos. Encontraremos alguns exemplares, talvez, em sebos e colecionadores. É hora, pois, de reeditar esse precioso material de testemunho dos acontecimentos regionais e nacionais da primeira metade do século passado. Leitura prazeirosa, imperdível, mesmo. 

Não é possível compreender as singularidades e idiossincrasias do Rio Grande do Sul sem conhecer essa obra sensível do militante João Neves. Pode-se – deve-se – discordar das suas convicções pequeno-burguesas e conservadoras, mas jamais dizer que foi um político vulgar e despreocupado com a cidadania e seus requerimentos republicanos, dos quais até hoje tanto carecemos.

Post publicado originalmente neste blog DG em 22/jul/2011.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Cabra da Peste, Manu Chao, sempre bom!




Jornal 'Zero Hora' agora faz interlocução com blogs sujos?





A resposta é sim. O jornal Zero Hora está, sim, fazendo interlocução com blogueiros (sujos). Há um sentido de legitimação nesta atitude do jornal conservador do bairro Azenha, de Porto Alegre. 

Talvez, mesmo, um ato falho, a voz do inconsciente que, irreprimível, aflora olímpica nas páginas do principal veículo do grupo RBS/Família Sirotsky.     

Só as pedras são inocentes




Uma visitinha ao velho Hegel, para entender um pouco mais em que mundo vivemos

Hegel tem uma sentença que me parece definitiva para servir de legenda ao atual cenário de crise estrutural do capitalismo: Weltgeschichte ist Weltgerichte, a história do mundo é o juízo do mundo.

Por isso, cabe recordá-lo, em 1806: “Encontramo-nos num período importante, numa época de fermentação, na qual o espírito está dando um salto, saindo de sua forma anterior e assumindo uma forma nova. Toda a massa de representações e conceitos existentes até hoje, os nexos do mundo, dissolveram-se e se fundem como num sonho. Cumpre à filosofia, antes de mais nada, reconhecer e saudar essa aparição, embora haja quem se oponha inutilmente a ela e se aferre ao caduco”.

Blaise Pascal dizia que “a verdadeira filosofia zomba da filosofia”. É o que sempre orientou o pensamento hegeliano e o que manda que façamos no presente momento de erosão de paradigmas e de derretimento de conceitos.

Segundo o estudioso de Hegel, Jean Hyppolite, o professor alemão se preocupou mais com os problemas religiosos e históricos do que com problemas propriamente filosóficos. Hegel, diz Hyppolite, permanece bem próximo do concreto, e o concreto para ele é a vida dos povos, o espírito do judaísmo e do cristianismo. Somente recorre aos filósofos, particularmente Kant e os antigos, para atacar melhor e diretamente o seu objeto, a vida humana tal qual ela se lhe apresenta na história, as preocupações de Hegel são cada vez mais de ordem prática.

Ele estuda as religiões e passa a denominar o cristianismo de uma “religião privada” em oposição à “religião de um povo”, que seria própria da velha mitologia politeísta grega. Para Hegel, a religião antiga, mitológica, é a religião da cidade, uma intuição que o povo tem de sua realidade absoluta. Mas não é a religião admitida pelo moralismo kantiano, que postula a religião como puro ideal moral. É a religião como espírito supra-individual de um povo – oVolksgeist. Uma realidade histórica que ultrapassa infinitamente o indivíduo, mas que lhe permite encontrar-se a si mesmo sob uma forma objetiva – para bem além da estreita idealização moral e subjetiva de Kant.

Hegel diz que o indivíduo – reduzido a si mesmo – é uma abstração. Eis porque, observa Hyppolite, a unidade orgânica verdadeira, o universo concreto, para Hegel, será o povo. O individualismo, para ele, é produto do cristianismo, que ele chamará de “religião privada”. A vida pública cidadã da velha Grécia era estimulada pelo politeísmo, pelos mitos, pelas cerimônias que acabaram formando o que ele chama do “espírito de um povo”.

O homem livre é o homem que participa, diz Hegel. O indivíduo não poderia realizar-se em sua plenitude senão participando do que o ultrapassa e o exprime ao mesmo tempo, de uma família, de uma cultura, de um povo. É somente assim que ele é livre – explica o professor Jean Hyppolite acerca do alemão.

“A supressão da religião pagã pela religião cristã é uma das revoluções mais surpreendentes – conclui Hegel – , e a procura das suas causas deve ocupar mais particularmente o filósofo da história”.

O cidadão antigo era livre porque precisamente ele não opunha a sua vida privada à sua vida pública, ele pertencia à cidade. A cidade não era – como Estado – um poder estranho que o constrangesse. “Como homem livre, obedecia a leis que ele próprio fizera. Sacrificava a sua propriedade, as suas paixões, a sua vida, por uma realidade que era a sua” (Fenomenologia).

A mitologia religiosa antiga, pré-cristã, era a religião da cidade-cidadania, que atribuía aos seus deuses o seu nascimento, o seu desenvolvimento, e suas vitórias. Ao contrário do cristianismo, a religião pagã não era uma fuga para um além, era uma religião da vivência cidadã, participativa. A religião supra-individual – para além do indivíduo – da liberdade. Não havia, portanto, uma oposição entre indivíduo e Estado. Hegel dizia que o cidadão punha a parte eterna de si mesmo em sua cidade e não no além, como o cristianismo.

O Direito romano, para ele, já representa a substituição da vida ética da cidade, que aos poucos desaparece. A imagem do Estado, como um produto de sua própria atividade, desapareceu da alma do cidadão. Este se sente apenas a peça de uma engrenagem que já não lhe pertence ou domina. Este atomismo social prepara o caminho para o advento do cristianismo, onde o Direito é o triunfo do individualismo, mas o que é reconhecido neste homem é a pessoa abstrata, a máscara do homem vivo e concreto. A passividade do homem – diz Hyppolite – vem acompanhada dessa exigência cujo têrmo era o além.

É dessa decomposição da velha cidade que aparece a consciência infeliz, e o cristianismo, para Hegel, é uma expressão disso.

A religião cristã é uma teologia positiva, o homem só se submete a ela porque teme a Deus, um Deus que está muito além dele e do qual ele é escravo.

Mais adiante, Hegel diz que a “nossa religião [a cristã] quer elevar os homens à categoria de cidadãos do céu, cujo olhar está sempre voltado para cima, e com isso se tornam estranhos aos sentimentos humanos”.

Agora, o mundo da vida real e o do pensamento são diferentes, há um abismo entre a moral privada e o ethos - os costumes existentes.

A velha democracia grega está ultrapassada, porque no mundo moderno ela corre o risco de não ser mais que uma dissolução do Estado nos interêsses privados. Os governos já não são mais a expressão de todos, mas aparecem como tendo uma existência independente.

Com a queda de Wall Street [em 2008] o mundo não só dá um salto, como diz o mestre, mas dá cambalhotas, exigindo duas coisas de imediato: conceito (ferramentas para o pensamento) e ação. Hegel dizia que “se a realidade é inconcebível, então cumpre-nos forjar conceitos inconcebíveis”.

O inconcebível no conceito é a antinomia, o encontro da contradição viva e aguda. Portanto, estamos dropando a onda do inconcebível, vivendo a história, o destino e o julgamento do mundo.

O destino é a consciência de si mesmo, “mas como de um inimigo”, é aquilo que o homem é, mas que lhe aparece como se tendo tornado estranho.

A ação política “perturba a quietude do ser”, onde “só as pedras são inocentes, porque elas não agem, mas o homem deve agir”.

Inspirado em Hegel, Karel Kosik pergunta e responde: o que o homem realiza na história? Na história o homem realiza a si mesmo. Não apenas o homem não sabe quem é, antes da história e independente da história, mas só na história o homem existe. O homem se realiza, isto é, se humaniza na história.

Pela primeira vez na história da humanidade, um modelo de produção e reprodução da vida social cresce, se desenvolve e entra em colapso num intervalo de tempo que cabe na vida de um indivíduo. Um sujeito que tenha 50 anos hoje, conseguiu ver o início da hipertrofia dinheirista do capital, depois assistiu a Thatcher dizer que “não existe essa coisa chamada sociedade”, e, agora, olha assombrado para bancos e tradicionais montadoras de automóveis (uma delas chegou a dar nome à sociedade de consumo do século 20) recebendo socorro monetário do outrora tão desprezado Estado.

Na história se realiza o homem, lembra Kosik, e somente o homem. A mercadoria, o dinheiro, são criações culturais humanas, às vezes a ideologia faz com que nos esqueçamos disso, que é elementar, porque tão ocultado por camadas e mais camadas de feitiçarias (ou fetiches), passando a ser quase entidades naturais.

Portanto, não é a história que é trágica, mas o trágico está na história – como lembra Kosik. Não é absurda, mas é o absurdo que nasce da história. Não é cruel, mas as crueldades são cometidas na história. Não é ridícula, mas as comédias se encontram na história.

O breve ciclo de trinta anos que ora assistimos se fechar, no palco da história, teve um muito de tudo isso: tragédia, absurdo, crueldade e comédia.

Coisas da vida.

Artigo de Cristóvão Feil, sociólogo. Publicado originalmente neste blog Diário Gauche, em 12/dezembro/2008, portanto dois/três meses depois da grande quebra de bancos/seguradoras nos EUA, da chamada crise do subprime, e que tem continuidade até os nossos dias, agora assolando a Europa e a sua terminal moeda comum, o euro.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A vida do que está morto, se movendo em si mesma


A Narrativa

Fizeram um filme do romance apocalíptico do Don DeLillo chamado Cosmópolis. O diretor é David Cronenberg e o filme é sobre um dia na vida de um jovem financista, um dos mestres do universo, que comanda seus negócios internacionais de dentro de uma limusine impermeável enquanto lá fora o mundo - ou pelo menos Nova York - desmorona. No filme há uma fala, não sei se do DeLillo ou do roteirista, que define tanto o poder do jovem protagonista, que pode arruinar nações inteiras com um toque no seu celular, quanto o caos que o cerca. "Toda riqueza se transformou em riqueza apenas pela riqueza, e o dinheiro, tendo perdido sua qualidade de narrativa, passou a só falar com ele mesmo."

Perfeito. O dinheiro perdeu seu papel na grande narrativa do capitalismo que vem da acumulação primitiva de capital e da industrialização e chegou à globalização, e hoje é apenas um interlocutor de si próprio. A narrativa acabou, a riqueza se acumula entre poucos e beneficia ainda menos e o dinheiro, desobrigado de fazer sentido e de seguir qualquer espécie de roteiro, só produz monstros como o jovem financista do filme. O capital financeiro dita a história econômica do mundo e inventou uma nova categoria literária: o dialogo de um só.

Gostei de saber que um grupo de economistas de várias partes do mundo lançou um manifesto criticando o que parecia ser uma quase unanimidade - as exceções eram Paul Krugman e três ou quatro outros - a favor das medidas de austeridade e sacrifício de gastos sociais para combater a atual crise econômica global provocada pelo capital financeiro. O grupo reage à ortodoxia monetarista que faz a vítima pagar pelos desmandos do vilão e tenta interromper o autodiálogo do dinheiro endossado por tantos economistas. Felizmente, não por todos.

A grande narrativa do capitalismo foi excitante, enquanto durou. Revolucionou a vida humana e, junto com suas barbaridades , fez coisas admiráveis. Tudo que era sólido se desmanchava no ar, para ser recriado no ciclo seguinte. Mas nem Marx previu que seu fim seria este: no meio de um mundo em decomposição, o dinheiro falando sozinho.

Artigo de Luis Fernando Veríssimo, publicado hoje em alguns jornais do Brasil. 

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Permito-me discordar do Luis Fernando Veríssimo, a quem eu respeito e admiro. Marx previra, sim, a autonomia do dinheiro, esse "equivalente geral". 

Para Marx, o equivalente geral ascendeu à condição de mercadoria central e privilegiada do sistema, desbancando a mercadoria-trabalho, aviltada pelo crescente exército industrial de reserva. Todas as demais mercadorias querem "imitar" a capacidade de valorização do dinheiro, que é "a vida do que está morto [força de trabalho alienada na mercadoria, e esta transformada em moeda] se movendo em si mesma", na genial e primorosa síntese de Hegel. Portanto, antes de Karl Marx, o velho Hegel, de quem Marx se abebera o tempo inteiro, já previra esse "mundo em decomposição" - de que fala o Veríssimo. 


A propósito deste tema tão atual e complexo, e espichando o debate, eu reproduzo abaixo um artigo que toca nestas questões lembradas pelo nosso admirável LFV. 

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O velho Hegel apontou o hoje 
ou 
O real enfeitiçado


“O indivíduo está sujeito à completa desordem e aos riscos do todo. A massa da população está condenada ao trabalho embrutecedor, insalubre e inseguro das fábricas, manufaturas, minas, etc. Ramos inteiros da indústria, que sustentam largas faixas da população, entram subitamente em falência, seja porque a moda mudou, seja porque os valores de seus produtos caíram por conta de novas invenções em outros países, seja por qualquer outra razão. Massas inteiras são assim abandonadas à irremediável pobreza. O conflito entre a extrema riqueza e a maior pobreza, uma pobreza incapaz de melhorar sua situação, aumenta sempre. A riqueza torna-se um poder predominante. Sua acumulação se processa em parte ao acaso, em parte através do modo geral de distribuição. O lucro desenvolve-se em um sistema multiforme que se ramifica por setores nos quais o pequeno negócio não pode lucrar. A máxima abstratividade do trabalho penetra nos tipos de trabalho mais individuais, e segue ampliando sua esfera. Esta desigualdade entre riqueza e pobreza, esta indigência e necessidade, tem como resultado a desintegração completa da vontade, a rebelião interna e o ódio”.

Parece um texto marxista atual, um comentário - talvez - sobre a crise severa da Europa de nossos dias. Mas não é. Foi escrito por Hegel, por volta de 1804. Marx viria a nascer somente 14 anos depois, em 1818.

Hegel vai mais fundo nas suas premonições. Chegou a elas através da compreensão do conceito de trabalho e sua crescente centralidade na sociedade burguesa que se afirmava. Ele consegue descrever o modo de integração dominante em uma sociedade de produção de mercadorias em termos que prefiguram claramente a abordagem crítica de Marx, mas que seriam escritos quase 50 anos depois.

“O indivíduo – afirma Hegel – satisfaz as suas necessidades por meio do trabalho, mas não pelo produto particular do trabalho; este último, para chegar a satisfazer as necessidades do indivíduo, tem que se transformar em algo distinto do que é”. O objeto do trabalho que era particular, torna-se abstrato e universal, torna-se mercadoria passível de troca. No ato da troca da mercadoria há uma “volta à concretude”, como diz Hegel, e por meio dela são satisfeitas – socialmente – as necessidades concretas dos homens. Essa universalidade transforma igualmente o sujeito do trabalho – o trabalhador e sua atividade individual. O trabalhador unipessoal vê-se forçado a pôr de lado as suas faculdades e desejos particulares. “Quanto mais o homem domina seu trabalho – diz Hegel – mais impotente ele mesmo se torna. Quanto mais mecanizado se torna o trabalho, menor valor ele tem e mais arduamente deve o indivíduo trabalhar. O valor do trabalho decresce na mesma proporção em que cresce a produtividade do trabalho… As faculdades do indivíduo são restringidas de modo ilimitado, e a consciência do operário é degradada ao mais baixo nível de embotamento”.

Herbert Marcuse, um dos maiores estudiosos de Hegel do século 20 (junto com Kojève e Hyppolite), comenta que o filósofo “como que teria ficado aterrado com o que a sua própria análise da sociedade de produção de mercadorias acabara de revelar”. E teria deixado esses textos (Studien über Autorität und Familie e Zeitschrift für Sozialforschung) inacabados, ficando algum tempo sem escrever.

O pavor paralisante do filósofo derivou para uma solução autoritária, visto do prisma dos nossos dias. Ele propõe um Estado absolutista para coibir as deformações sociais através do império da lei. Hegel é tributário do idealismo alemão, para quem o homem, pelos efeitos da Revolução, veio a confiar no seu espírito passando a submeter a realidade aos critérios da razão. Ele chega a ousar dizer que “o pensamento deve governar a realidade”. Os alemães como não souberam fazer uma revolução burguesa, debruçaram-se arrebatados sobre um novo objeto filosófico: a Revolução Francesa. Assim, o que se convencionou chamar de idealismo alemão, por intermédio de seus filósofos Hegel, Kant, Fichte e Schelling, constituiu-se na própria teoria da Revolução Francesa. O clássico das revoluções burguesas. A fundação do mundo ocidental, tal como é conhecido. O advento de um sistema que – hoje – abisma-se no ocaso: o sistema produtor de mercadorias.

A prevalência da idéia de razão, comum a todo o pensamento Iluminista, implicava a liberdade de agir de acordo com a razão.

Hegel, nas suas cogitações, intuiu genericamente algo de extrema atualidade e importância para se entender o mundo da vida, algo que depois seria esmiuçado por Marx: o complexo tema da alienação. Para Hegel, a história do homem era, simultâneamente, a história da alienação do homem - como aponta Marcuse. As instituições e a cultura fundadas e criadas pelo homem acabam por desenvolver leis próprias, leis essas que irão subordinar a liberdade dos indivíduos aos desígnios do estranhamento e da alienação.

O tema da alienação é considerado um dos conceitos centrais de Marx.

“A depreciação do mundo dos homens – diz Marx – aumenta em razão direta da valorização do mundo das coisas. […] Quanto mais produz o operário com o seu trabalho, mais o mundo objetivo, estranho, que ele cria em torno de si, torna-se poderoso, mais ele empobrece, mais pobre torna-se seu mundo interior e menos ele possui de seu. […] O operário põe a sua vida no objeto, a partir de então, esta não mais lhe pertence, a vida pertence ao objeto. […] A alienação do operário em seu objeto apresenta-se, segundo as leis econômicas da seguinte forma: quanto mais o operário produz, menos ele tem para o consumo, quanto mais ele cria valores, mais ele se desvaloriza e perde a sua dignidade; quanto mais forma tem o seu produto, mais disforme é a sua pessoa; quanto mais alto grau de civilização apresenta o objeto, mais rude torna-se o operário; quanto mais poderoso é o trabalho, mais impotente é o seu criador; quanto mais o trabalho se enche de espírito, mais o operário se priva dele e torna-se escravo da natureza. […] Decorre deste resultado que o homem (o operário) não se sente mais livremente ativo senão em suas funções animais: comer, beber e procriar, assim como, ainda habitar, vestir, etc., e que em suas funções de homem ele não se sente mais que um animal. O bestial torna-se humano e o humano torna-se bestial. Comer, beber, procriar, etc. são, é verdade, também funções autenticamente humanas; mas isoladas abstratamente do resto do campo das atividades humanas e se tornando assim, o fim último e único, elas tornam-se bestiais”.

Assim, na modernidade do homem alienado, a consciência dos indivíduos está invertida, porque a própria realidade está invertida. A realidade do mundo das mercadorias é uma representação do real, não é o real. O real está enfeitiçado (fetichizado), reificado, transfigurado em representações subvertidas de sujeito e objeto. As mercadorias são sujeitos qualificados pelos homens, os homens são objetos quantificados pelas mercadorias. O homem sem qualidades, exaurido de humanidade, agora, não se humaniza, por que esbarra sem cessar na hostilidade dos objetos por ele próprio criados, mas que ele não os reconhece como seus. Há um objeto no meio do caminho da nossa humanidade. O nivelamento ético-moral dominante é uma metafórica sarjeta. O resultado dessa desumanização generalizada são os horrores do nosso cotidiano: a violência como reguladora da vida; a morte como normalização do conflito; a crescente fascistização das relações no trabalho, no trânsito, na vida urbana; o capitalismo de quadrilhas; a ciência que conspira contra a Natureza; a divinização do dinheiro; a dinheirização do corpo e dos afetos, etc., etc.

Karel Kosik diz que “Marx nunca abandonou a problemática filosófica, e que especialmente os conceitos de alienação, reificação, totalidade, relação de sujeito e objeto, que alguns canhestros marxólogos [KK refere-se aos stalinistas] proclamariam prazerosamente como o pecado da juventude de Marx, continuam sendo, ao contrário, o constante equipamento conceitual da teoria de Marx. Sem eles "O Capital" é incompreensível”. Sem eles o capitalismo seria incomprensível.

Foi, portanto, com fundadas razões que o nazismo na Alemanha investiu contra Hegel e seu pensamento idealista. Alfred Rosemberg e Carl Schmitt, dois dos principais ideólogos do nacional-socialismo, se pronunciaram furiosamente contra Hegel, dizendo que em conseqüência da Revolução Francesa, “surgiu uma doutrina de poder estranha ao nosso sangue; ela chegou ao seu apogeu com Hegel e foi, então, em nova falsificação, retomada por Marx”. Schmitt chegou a dizer que no dia em que Hitler subiu ao poder, “Hegel, por assim dizer, morreu”.

Isso prova que a força de uma filosofia deve ser avaliada, para muito além do seu valor em si, mas pelos frutos que pode gerar e, sobretudo, pelas mãos que a apedrejam. Cada um a seu modo, tanto Hitler quanto Marx, valorizou como pôde o velho professor alemão.

No presente tempo global de crise terminal, regressismo, boçalidade, “fezes, maus poemas, alucinações e espera” (Drummond), uma visita aos clássicos ilumina o espírito e aquece o coração.

Artigo de Cristóvão Feil, sociólogo. Publicado originalmente neste blog Diário Gauche, em 16/dezembro/2010.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

'A vida é um sopro' - o documentário



Documentário sobre a vida do arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer. Na íntegra.

No documentário, de 90 minutos, o arquiteto conta de forma descontraída como concebeu seus principais projetos. Mostra como revolucionou a Arquitetura Moderna, com a introdução da linha curva e a exploração de novas possibilidades de utilização do concreto armado. Fala também sobre sua vida, seu ideal de uma sociedade mais justa e de questões metafísicas como a insignificância do homem diante do Universo.

Produzido pela Santa Clara Comunicação e rodado em vídeo digital e 16mm no Brasil, na Argélia, França, Itália, Estados Unidos, Uruguai, Inglaterra e Portugal.



A vida é um sopro é costurado por imagens de arquivo inéditas e raras, e por depoimentos de personalidades como os escritores José Saramago, Eduardo Galeano e Carlos Heitor Cony, o historiador Eric Hobsbawn, o cineasta Nelson Pereira dos Santos, o ex-presidente de Portugal, Mário Soares, e o compositor Chico Buarque.

Simpósio Internacional sobre a Esquerda na América Latina




Programação

3ª. feira 11 de setembro

ABERTURA: Emília Viotti da Costa

09:00 h. (AH): DO PETISMO AO LULISMO: O PT ONTEM E HOJE: André Singer – Lincoln Secco – Tales Ab´Sáber – Cyro Garcia
09:00 h. (AG): ESQUERDA, DITADURAS E DIREITOS HUMANOS: Pedro Pomar – Jorge Souto Maior – Renan Quinalha – Nils Castro
09:00 h. (CPJ): INTELECTUAIS E MARXISMO NA AMÉRICA LATINA: Bernardo Ricupero – Lidiane Soares Rodrigues – Marcos Napolitano – Maurício Cardoso
14:00 h. (AH): O COMUNISMO NA HISTÓRIA DO BRASIL: Milton Pinheiro – Apoena Cosenza – Frederico Falcão – Marly Vianna
14:00 h. (AG): CHINA E A AMÉRICA LATINA: Wilson N. Barbosa – Marcos Cordeiro Pires – Luis Antonio Paulino – Vladimir Milton Pomar
14:00 h. (CPJ): CUBA: PASSADO E PRESENTE DA REVOLUÇÃO: Luiz E. Simões de Souza – Joana Salém – Silvia Miskulin – José R. Máo Jr.
14:00 h. (RXCP): LÍNGUAS E LITERATURAS: DISCURSOS DE RESISTÊNCIA: Elvira Narvaja de Arnoux – Graciela Foglia – Adrián Fanjul – Pablo Gasparini
17:00 h. (AH): RECURSOS NATURAIS, ENERGIA E INTEGRAÇÃO CONTINENTAL: Ildo Sauer – Ariovaldo U. de Oliveira – Mónica Arroyo – Raimundo Rodrigues Pereira
17:00 h. (AG): PROGRAMAS SOCIAIS COMPENSATÓRIOS: SAÍDA DA POBREZA?: Ruy Braga – Eduardo Januario – Maria Cristina Cacciamali – Fúlvia Rosenberg
17:00 h. (CPJ): A REORGANIZAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA: Francisco Miraglia – José Maria de Almeida – Pablo Heller – Marina Barbosa Pinto 
17:00 h. (RXCP): PERU, EQUADOR, BOLÍVIA: INDIANISMO E COSMOVISÃO ANDINA: Vivian Urquidi – Enrique Amayo – Tadeu Breda – Mónica Bruckmann
19:30 h. (AH): A LUTA DOS ESTUDANTES NA AMÉRICA LATINA: Clara Saraiva – Alejandro Lipcovich – Lucia Sioli – Mario Costa – Maria Ribeiro do Valle
19:30 h. (AG): AMÉRICA LATINA NA GEOPOLÍTICA INTERNACIONAL: André Martin – Leonel Itaussu A. Mello – Rodrigo Medina Zagni – Manoel Fernandes
19:30 h. (CPJ): O COMUNISMO NA AMÉRICA LATINA: Antonio C. Mazzeo – Marcos Del Roio – Victor Vigneron – Kennedy Ferreira
4ª. feira 12 de setembro

09:00 h. (AH): VENEZUELA E A REVOLUÇÃO BOLIVARIANA: Rafael Duarte Villa – Gilberto Maringoni – Flávio Benedito – Flavio Mendes
09:00 h. (AG): REDES SOCIAIS, AÇÃO DIGITAL E ATIVISMO POLÍTICO: Sergio Amadeu – Raphael Tsavkko – Rodrigo Vianna – Luiz Carlos Azenha
09:00 h. (CPJ): BOLÍVIA: DA ASSEMBLÉIA POPULAR A EVO MORALES: Everaldo Andrade – Diego Siqueira – Cristian Henkel – Igor Ojeda
14:00 h. (AH): O MARXISMO NA AMÉRICA LATINA: Michael Löwy – Osvaldo Coggiola – Luiz Bernardo Pericás – Marcio Bobik Braga
14:00 h. (AG): MÉXICO: DE ZAPATA AO ZAPATISMO: Waldo Lao Sánchez – Igor Fuser – Jorge Grespan – Azucena Jaso
14:00 h. (CPJ): EDITORAS DE ESQUERDA NA AMÉRICA LATINA: Marisa Midori – Flamarion Maués – Rogerio Chaves  – Sandra Reimão
14:00 h. (RXCP): CIÊNCIA E TECNOLOGIA NA AMÉRICA LATINA, EM PERSPECTIVA DE ESQUERDA: Renato Dagnino – Carlos Sanches – Ciro Teixeira Correa – Marcos B. de Oliveira
17:00 h. (AH): O ANARQUISMO NA AMÉRICA LATINA: Edson Passetti – Marcos A. Silva – Ricardo Rugai – Margareth Rago
17:00 h. (AG): A ESQUERDA E O POPULISMO: Maria Helena Capelato – André Velasco e Cruz – Antonio Rago – Fernando Sarti Ferreira
17:00 h. (CPJ): COLÔMBIA: DA “VIOLÊNCIA” À GUERRA SEM FIM: Antonio Carlos R. de Moraes – Yuri Martins Fontes – Ana Carolina Ramos – Pietro Lora Alarcón
17:00 h. (RXCP): SOCIALISMO E ANTIIMPERIALISMO NA AMÉRICA LATINA: Vitor Schincariol – Carlos César Almendra – Fabio Luis – Alexandre Hecker
19:30 h. (AH): O MARXISMO NO BRASIL: Paulo Arantes – Dainis Karepovs – Armando Boito – Ricardo Musse
19:30 h. (AG): LUTA ARMADA NO BRASIL: UM BALANÇO: Carlos Eugênio Clemente – João Quartim de Moraes – Ivan Seixas – Antonio R. Espinosa
19:30 h. (CPJ): FEMINISMO E SOCIALISMO NA AMÉRICA LATINA: Fernanda Estima – Cecília Toledo – Sara Albieri – Janete Luzia Leite
19:30 h. (RXCP): A ESQUERDA E O RACISMO: Flávio Jorge – Muryatan Santana Barbosa – José Carlos Miranda – Caio Dezorzi
5ª. feira 13 de setembro

09:00 h. (AH): PIQUETEIROS, FÁBRICAS OCUPADAS, SUJEITOS E MÉTODOS DE LUTA: Néstor Pitrola – Josiane Lombardi – Atenágoras Teixeira Lopes – Rodrigo Ricupero
09:00 h. (AG):  A ESQUERDA E O MEIO-AMBIENTE: Francisco del Moral Hernández – Mauricio Waldman – Ana Paula Salviatti – Gilson Dantas
09:00 h. (CPJ): SOCIALISMO E SOCIAL-DEMOCRACIA NA AMÉRICA LATINA: Adalberto Coutinho – Gonzalo Rojas – Lúcio Flavio de Almeida – Claudio Batalha
14:00 h. (AH): A LUTA PELA TERRA NA AMÉRICA LATINA: Gilmar Mauro – Zilda Iokoi – Horacio Martins de Carvalho – Valeria De Marcos
14:00 h. (AG): A FRENTE DE ESQUERDA NA ARGENTINA (E O BRASIL): Luis Mauro S. Magalhães – Pablo Rieznik – Valério Arcary – João B. Araújo “Babá”
14:00 h. (CPJ): AMÉRICA LATINA: IMUNE À CRISE?: José Menezes Gomes – Plínio de Arruda Sampaio Jr. – Leda Paulani – Ramón Peña Castro
17:00 h. (AH): A CLASSE OPERÁRIA NA HISTÓRIA LATINO-AMERICANA: Ricardo Antunes – Agnaldo dos Santos – Sean Purdy – Mauro Iasi
17:00 h. (AG): ESQUERDA, IGREJAS, DIVERSIDADE SEXUAL E HOMOFOBIA: Laerte – Horacio Gutiérrez – Wilson H. Da Silva – Maria Fernanda Pinto
17:00 h. (CPJ): DILEMAS DA UNIVERSIDADE NA AMÉRICA LATINA: Gladys Beatriz Barreyro – Afrânio Catani – César Minto – João Flavio Moreira
17:00 h. (RXCP): PARAGUAI: DA TRÍPLICE ALIANÇA A ITAIPU: Cristiana Vasconcelos – Dorival Gonçalves – Brás Batista Vaz – Filipe Canavese – José A. Rolón
19:30 h. (AH): AMÉRICA LATINA, A CRISE MUNDIAL E A ESQUERDA: Plínio de Arruda Sampaio – Jorge Altamira – Ricardo Canese – Valter Pomar
19:30 h. (AG): DROGAS, NARCOTRÁFICO E CAPITALISMO NA AMÉRICA LATINA: Henrique Carneiro – Julio Delmanto – Rosana Schwartz – José Arbex
19:30 h. (CPJ): A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO NO SÉCULO XXI: Fernando Torres Londoño – Lucelmo Lacerda – Valéria Melki Busin – Jung Mo Sung
AH: Anfiteatro de História / AG: Anfiteatro de Geografia/ CPJ: Sala Caio Prado Júnior / RXCP: Sala Reinaldo Carneiro Pessoa
Inscrições On-Line: http://www.esquerdaamlatina.fflch.usp.br/     

Apoio: GMarx – NEPHE – CEMOP - Mouro      
Entrada Franca   Serão fornecidos certificados de frequência
Comissão Organizadora: Lincoln Secco – Osvaldo Coggiola – Rodrigo Ricupero – Jorge Grespan – Marcos A. Silva – Francisco Alambert
Co-Organização: PROLAM (Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina) da USP


Mostra Paralela

ESQUERDAS DE CINEMA – IMAGENS DAS AMÉRICAS LATINAS
(Ciclo de filmes)
Coordenação geral: Marcos Silva (FFLCH/USP) e
Thiago de Faria Silva (Rede de ensino básico e fundamental
 da Prefeitura de São Paulo)

MÉXICO - O anjo exterminador (1962), de Luis Buñuel (foto) , comentado por Marcos Silva (FFLCH/USP).

ARGENTINA - La hora de los hornos, de Pino Solanas (1968), comentado por Mauricio Cardoso (FFLCH/USP).

BRASIL - Memórias do inconsciente, de Leon Hirzsman (1986), comentado por Nelson Tomelin (UFPA).

CUBA - Guantanamera, de Tomás Gutierrez Alea e Juan Carlos Tabio (1995), comentado por Marco Aguiar (UNIFAC).

URUGUAI - O banheiro do Papa, de Cesar Charlone (2005), comentado por Gilberto Maringoni (Fundação Casper Libero).

BRASIL – Videolência, do Núcleo de Consciência Alternativa (2009), e Qual Centro?, do Nossa Tela (2010), comentados por Thiago de Faria Silva (Rede de ensino básico e fundamental da Prefeitura de São Paulo)

CHILE - Dawson Ilha 10: a verdade sobre a ilha de Pinochet, de Miguel Littín (2009), comentado por Helio Costa Jr. (UFAC)

ARGENTINA - Cómplices del silencio, de Stefano Incerti (2010), comentado por Darcio Argento (Pesquisador autônomo).

COLÔMBIA -  Los Infiltrados (2011), comentado por Neusah Cerveira (Rede estadual de ensino básico e fundamental do Rio Grande do Norte)

LANÇAMENTO E RECITAL: Dulce Patria, poemas de Horacio Gutiérrez, sobre a ditadura chilena.

Contato com o blog Diário Gauche:

cfeil@ymail.com

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Perfil do blogueiro:

Porto Alegre, RS, Brazil
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