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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 31 de outubro de 2007


A mão invisível

A propósito do batismo do leite com soda caustica, água oxigenada, bicarbonato, urina animal, fezes variadas, etcetera, lembrei do tal mito da mão invisível do mercado.

O cidadão chega em casa sobraçando caixas de leite batizado, vira-se para a patroa e os filhos, e garante que não tem problema:

- Há uma tal de mão invisível por aí que regula tudo e controla os abusos criminosos dos envasadores gananciosos que insistem em prevaricar contra a boa fé das famílias.

- Ah, bom! Sabendo que existe mesmo a mão invisível (e mágica) do mercado sinto-me mais confortada - responde a mulher.


Ilustração: A leiteira, óleo de Johannes Vermeer (1632-1675).



8% para os ricos, 0,5% para os miseráveis: isto é o lulismo

[...] "Desde o final da década de 1990, o Brasil vem transferindo anualmente de 5 a 8% de todo o Produto Interno Bruto na forma de sustentação da renda mínima para os ricos [cerca de 20 mil famílias, segundo o autor].

De outro lado, ganhou maior dimensão, desde 2001, a difusão de programas de complementação de renda mínima para os segmentos miseráveis da população. A cada ano, menos de 0,5% do PIB nacional tem sido transferido para mais de 10 milhões de famílias que vivem em condições de extrema pobreza.

Percebe-se, assim, que mesmo na esfera das políticas públicas, as resistências ao enfrentamento da desigual repartição da renda se fazem presentes".


Trecho final de um longo e excelente artigo do professor Marcio Pochmann (licenciado do Instituto de Economia da Unicamp, e presidente do IPEA), intitulado O país dos desiguais, publicado na edição brasileira de outubro de 2007 da publicação Le Monde Diplomatique.



Participação do rendimento dos trabalhadores na renda nacional


1959: 55,5%

1980: 50,0%

2005: 39,1%


Fonte: Professor Marcio Pochmann, atual presidente do IPEA



Annoni: a festa de uma reforma agrária de sucesso


Teatros, shows e um ato público marcam, neste final de semana, as comemorações dos 22 anos da ocupação que deu origem aos assentamentos na Fazenda Annoni, nos municípios de Pontão e Sarandi, no Norte do Rio Grande do Sul. As atividades festivas acontecem no sábado (03/11), no Camping Zambiasi, no Assentamento 16 de Março, em Pontão. São organizadas pelas famílias assentadas no velho latifúndio Annoni e pelos 1.700 integrantes que realizam a marcha do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), no Estado.

A Fazenda Annoni e a Fazenda Coqueiros, no município vizinho de Coqueiros do Sul, possuem a mesma área e o sucesso dos assentamentos realizados na década de 80 comprova o potencial social e econômico da reforma agrária. Antes de ser desapropriada, a Fazenda Anoni era improdutiva e foi onde se desenvolveu o capim-annoni, considerado uma praga nos campos de pastoreio do Sul. Atualmente, os assentamentos na área produzem por ano cerca de 20 mil sacas de trigo, 6 milhões de litros de leite, 150.000 sacas de soja, 35.000 sacas de milho, 45 toneladas de frutas, 800 cabeças de gado, 5.000 cabeças de suínos e 10.000 quilos de hortaliças.

As lutas pela desapropriação da Fazenda Annoni e a criação dos cinco assentamentos, em que vivem atualmente 420 famílias, é considerado o marco da atuação do MST no Estado e, mais tarde, em todo o Brasil.

Ilustração: o filme "O Sonho de Rose" foi realizado no ano 2000 e retrata, entre ficção e realidade, a vida dos assentados na Annoni, dez anos depois da conquista da terra.


terça-feira, 30 de outubro de 2007


O massacre não está sendo apontado em Tropa de Elite como solução possível, ela já está em curso. A elite precisa apenas justificá-la, para que suas tropas possam continuar agindo sem dó. Enfim, uma crítica lúcida sobre o filme de José Padilha.

Uma tradição da narrativa da América Latina

Muitos autores coincidem em afirmar que a literatura argentina é inaugurada, no século 19, com El matadero, de Esteban Echeverría. Nesse relato, pela primeira vez é capturada, no texto erudito, a voz dos não letrados. Ela aparece como uma fala-ação (xingamentos, encorajamentos à violência) encapsulada pelo travessão de diálogo dentro de um texto dominado pelo narrador onisciente. Os trabalhadores do matadouro são descritos de uma maneira que os aproxima à escala animal e que os mostra brutais e sedentos de sangue nobre. Tais personagens são projeção do medo paranóico que a elite “criolla” tinha do povo miúdo da periferia da cidade ainda muito próxima do campo.

Essa narrativa, de 1837, é prenúncio do dilema que marcaria a cultura dominante da América Latina: civilização versus barbárie. Se os pobres são os bárbaros e violentos, é preciso por em ação a violência preventiva contra eles. Esse relato inaugural impregnou o discurso da elite argentina, que legitimou a campanha de extermínio dos índios, e a repressão primeiro aos “criollos” pobres e depois aos trabalhadores imigrantes. “Classes populares, classes perigosas”. Mas o enredo de El matadero acaba com a morte de um “homem de bem” nas mãos dos miseráveis. É inquietante. Parece dizer: “Alguma coisa precisa ser feita para parar com essa barbárie”. De El matadero ao discurso da última ditadura argentina há um mesmo traço: “A guerra suja exige métodos cirúrgicos, sem anestesia”, dizia Videla.

O filme Tropa de Elite faz operação semelhante e, de quebra, dá a solução no próprio enredo. Pretende ser crônica de uma “guerra”, narrada pelo protagonista. Na guerra “vale tudo”, justifica. A morte de um jovem de classe média, que mantém uma ONG na favela, queimado com “colar” de pneumáticos, serve como justificativa para a morte do seu assassino, na ficção. E como justificativa para a morte pela polícia de mais de 900 moradores de favelas no Rio de Janeiro no que vai do ano, na realidade. Se a polícia militar aparece como corrupta no filme, o Batalhão de Operações Especiais, também da polícia, aparece como o núcleo puro, que conserva os valores já perdidos pelo resto da corporação. Isto investiria o BOPE de prerrogativas que o autorizam a passar por cima da lei, à tortura e ao assassinato.

Comparando as duas narrativas, podemos dizer que se perdeu a sutileza. A solução sugerida, deixada em aberto em El matadero, e que rendeu uma seqüência de massacres ao longo da história argentina, no filme de José Padilha faz parte do próprio enredo. E é bastante explicável que assim seja: o massacre não está sendo apontado como solução possível, ela já está em curso. A elite precisa apenas justificá-la, para que suas tropas possam continuar agindo sem dó, superando o sentimento de culpa das classes médias com um discurso, esse sim, bem simples: “Cúmplice de bandido é bandido”, e assim deve ser tratado. E, isto não é colocado em discussão: bandido não pode ser tratado como gente. O tom com que isto é dito não dá lugar a questionamento: afinal, bandido não tem dó.

Algo que ambos relatos têm em comum – e que é parte fundamental da sua eficiência persuasiva – é a captura do registro da voz dos pobres. E mais, “heróis” e “bandidos” compartilham um registro lingüístico cru, que não suporta abstrações. Contrasta como a fala dos jovens estudantes de classe média que freqüentam a faculdade e a favela, onde mantém uma atividade beneficente. Lêem Vigiar e Punir enquanto fumam um baseado. O seu discurso é de uma ingenuidade caricatural. A fala da tropa que sustenta a elite evidencia sua origem social. Assim como os bandidos, eles também são pobres. Nem eles nem os bandidos se enganam: há uma guerra. E na guerra morre todo tipo de gente.

O “herói” cuidadosamente construído, o “Capitão Nascimento”, protagonista e narrador que relata em passado, não quer a guerra. Quer sair dela, dedicar-se à família. Mas alguém tem que fazer o trabalho sujo. Ele procura um substituto. O enredo é basicamente esse: a procura de um substituto. A guerra precisa de novos combatentes, não apenas para ocupar o lugar dos que tombam, mas também daqueles que já deixaram sua tranqüilidade, sua saúde, sua condição humana no confronto. De outra maneira: ninguém agüenta muito tempo no BOPE. Tem que sair antes de ficar maluco. Isto é bem verossímil. Reconhecível.

As escolhas do autor permitem o efeito de verossimilhança e a eficiência na imposição do sentido defendido pelo BOPE. Quais as escolhas? O narrador e o foco narrativo; o uso do passado para a narração que Nascimento faz em off; o enredo que consiste na procura de um substituto para o herói, o que permite a seleção de episódios e cenas e se articula com a construção dos três personagens do BOPE (Nascimento, Mathias e Neto), os únicos personagens complexos, o resto (bandidos, policiais militares comuns e jovens ingênuos de classe média) são personagens planos.

Fora da ficção das telas, o BOPE não entra nas favelas com a cara e a coragem. Sobem em veículos blindados. O “caveirão”. A justificativa é a suposta guerra, que não afeta as elites que jogam a tropa de pobres contra os pobres, enquanto suporta, patrocina, faz negócios e participa do tráfico em grande escala. A elite não dá conta de controlar as bordas do grande negócio do tráfico e não sabe bem o que fazer com o crescente “excedente” populacional. O BOPE está para isso: para fazer o trabalho sujo de torturar e matar os moradores das favelas.

A ficção não é inocente, ela age no campo das narrativas para justificar esse trabalho sujo. Assim, ele se insere numa tradição do gênero narrativo, o das elites da América Latina. Tradição que podemos remontar a El matadero. Nas periferias, nos movimentos populares, na produção do hip hop, os pobres vêm construindo seu contra-relato.

Artigo de Silvia Beatriz Adoue, argentina e que vive no Brasil há vários anos. É professora de Teoria da Literatura, mestre em Integração Latino-Americana e doutoranda em Literatura Hispano-Americana. Escreveu este artigo com exclusividade para o excelente blog de cinema La Latina.


Foto: o governador paulista José Serra (PSDB), que a revista Veja já considera futuro presidente da República, posando de "Capitão Nascimento" para o imaginário enfermo de certa elite branca. Na época que essa fotografia foi divulgada, no primeiro semestre deste ano, ninguém entendeu direito o objetivo do tucano. Hoje, sabemos.


Números brasileiros

Em 2006, pagamos R$ 275 bilhões a título de juros e amortizações das dívidas interna e externa. Com a Saúde, o governo gastou R$ 36 bilhões, com a Educação, R$ 17 bilhões.

Neste ano de 2007, a dívida interna aumentou em R$ 79 bilhões. Entre junho de 2005 e fevereiro de 2007 – em menos de dois anos, portanto -, a dívida interna passou de R$ 938 bilhões para R$ 1,2 trilhão (cresceu R$ 262 bilhões).

Só nos primeiros nove meses de 2007, os rentistas e especuladores da dívida brasileira – cerca de 80 mil brasileiros e brasileiras ricas – faturaram mais que o total de gastos com Saúde e Educação no ano passado, e ainda tiveram uma sobra de 26 bilhões para eles comprarem relógios Rolex para uso próprio e pirulitos para distribuir aos pedintes de semáforo.

Dias atrás, o presidente Lula reuniu os 96 maiores empresários do País. Desses 96 executivos, somente dois deles não eram de São Paulo.

Este tema da dívida é tão importante quanto pesado, hermético, objeto de disputa ferocíssima e a qual o lulismo-petismo simplesmente entregou a rapadura. Quem manda aí é o Banco Central do Brasil, que obedece expressa e estritamente aos interesses do capital financeiro internacional e não tem conversa. É tema tabu dentro do governo Lula, haja vista o PAC não ter sequer menção à questão da dívida interna. Repito: questão tabu no Palácio do Planalto. Quem mencionar o tema, mesmo indiretamente, será tratado como um "leproso no Velho Testamento".

Ver mais e melhor aqui.



Ninguém ouse contra o Brasil, diz o neomilitarista Jobim

O governo Lula duplicará, em 2008, o orçamento destinado ao equipamento militar. A informação é do jornal argentino Clarín, de hoje. Para Lula, é preciso que as Forças Armadas “recuperem o seu poder”.

O ministro da Defesa, Nélson Jobim, considera que essa “readequação militar” permitirá superar as desvantagens regionais. Contudo, no Brasil, todos se esmeram em assinalar que esse esforço não tem relação com a necessidade de se contrapor a outros países. Jobim negou que se trate, eventualmente, de conter a Venezuela. “Todos nossos vizinhos são sócios e amigos”, afirma.

A estratégia do Brasil não se define por “pretensões expansionistas mas pelo conceito de dissuasão”, assegurou Jobim, para quem “o conceito de defesa moderno que nos interessa é o de inibir. Isto é, que ninguém ouse em entrar tranqüilamente no espaço aéreo brasileiro, nem pense que possa concentrar forças no mar, em águas territoriais brasileiras”.

Com um Exército de 190 mil militares, uma Marinha com 48 mil homens e a Aeronáutica com 73.500 efetivos, o Brasil possui as Forças Armadas mais numerosas da América Latina.

.....

O presidente Hugo Chávez deve ter colocado as mãos tapando o rosto e exclamado:

- Ai, que meda!



Você já circulou pela blogosfera?

Este é o tema da Saideira de outubro, marcada para hoje, dia 30, às 19h30, no Bar Zelig (Sarmento Leite, 1086 – Cidade Baixa). Terá, como convidados, dois blogueiros craques no assunto. O mestrando em Ciências da Comunicação Hélio Sassen Paz (do blog Palanque do Blackão) e o professor de filosofia César Schirmer (do blog Animot) estão encarregados de debater quais as vantagens (todas) e desvantagens (nenhuma) dos blogs, onde entra a ética nesta história, quais os rumos e como a grande mídia está convivendo (mal) com este novo meio.

Apoio: Sindicato dos Jornalistas – RS

Parceria: Catarse – Coletivo de Comunicação

Realização: Alice – Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação



O ex-banqueiro Cacciola e o inelutável

O Slavoj Zizek que me perdoe, mas pior que o deserto do Real é o deserto do Joshua Tree.

Acho que foi o genial Sergio Leone que filmou o inelutável, e o fez no Joshua Tree. Imaginem filmar o inelutável? Como fazê-lo? Como descobrir uma imagem para dizer: isto é o inelutável, o inescapável, o fatal, o fim da história (sem duplo sentido).

Pois Sergio Leone, o cineasta italiano genial, conseguiu metaforizar o inelutável. O gordo Leone foi para o deserto do Joshua Tree, na Califórnia, o lugar onde o diabo perdeu as havaianas, e filmou o inelutável. Claro que ele fez tudo isso de mentirinha, nos estúdios da Cinecittà, arredores de Roma, mas nos seus filmes de western spaghetti era nas areias secas do Joshua Tree. O inelutável para o gordo era quando ele mostrava o sol chapado e reverberante na tela, com a música reverberante de Ennio Morricone. Reverbera até hoje nas nossas retinas e ouvidos. O herói ou o anti-herói já não tinha como sair daquela, na secura do deserto, urubus se aproximando de cima, lobos uivando, o cantil está empoeirado por fora e por dentro, os lábios escamam e então a câmara sobe lentamente e estampa o sol, radioso e inclemente. O inelutável! O sujeito na cadeira, contrito, diz para o seu botão ouvinte: pronto, terminou o filme. No way out. Qual nada, é aí que o gênio do gordo começava a mostrar como se faz cinema. E por aí vai.

Pois o ex-banqueiro Salvatore Cacciola há poucos dias também esteve face a face com a fatalidade, lobos uivando, urubus sobrevoando a área e o sol inclemente indicando que as saídas estão todas vedadas. Mas o Salvatore Cacciola transforma-se numa moeda, como num passe de mágica. Algum Sergio Leone de Brasília fez a mágica e transformou o Cacciola numa moeda valiosa.

Essa moeda valiosa está sendo trocada com o tucanato pela aprovação da CPMF no Congresso Nacional. De fato, o ex-banqueiro dos lábios escamosos, frente ao inelutável, iria entregar todo o roteiro das maracutaias no qual esteve envolvido durante o período planaltino do professor Cardoso e seus tucanos amestrados. Qual nada, entraram os negociadores lulistas do Planalto e conversaram com os cardeais tucanos, esses híbridos da política brasileira, e está tudo resolvido. Não se fala mais em Cacciola nessa casa e a CPMF será aprovada, para alegria das criancinhas do Nordeste – este sim, o verdadeiro deserto do Real.

Mas o que é o deserto do Real frente ao deserto do Joshua Tree, da falsa Cinecittà de Brasília, não?


Foto do Joshua Tree Park, na Califórnia, e o arbusto (cactus) que lhe dá o nome.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007


Zeca Baleiro pergunta neste artigo: Por que um cidadão vem a público mostrar sua revolta com a situação do país, alardeando senso de justiça, só quando é roubado?

O rolo do Rolex

No início do mês, o apresentador Luciano Huck escreveu um texto sobre o roubo de seu Rolex. O artigo gerou uma avalanche de cartas ao jornal, entre as quais uma escrita por mim. Não me considero um polemista, pelo menos não no sentido espetaculoso da palavra. Temo, por ser público, parecer alguém em busca de autopromoção, algo que abomino. Por outro lado, não arredo pé de uma boa discussão, o que sempre me parece salutar. Por isso resolvi aceitar o convite a expor minha opinião, já distorcida desde então.

Reconheço que minha carta, curta, grossa e escrita num instante emocionado, num impulso, não é um primor de clareza e sabia que corria o risco de interpretações toscas. Mas há momentos em que me parece necessário botar a boca no trombone, nem que seja para não poluir o fígado com rancores inúteis. Como uma provocação.

Foi o que fiz. Foi o que fez Huck, revoltado ao ver lesado seu patrimônio, sentimento, aliás, legítimo. Eu também reclamaria caso roubassem algo comprado com o suor do rosto. Reclamaria na mesa de bar, em família, na roda de amigos. Nunca num jornal.

Esse argumento, apesar de prosaico, é pra mim o xis da questão. Por que um cidadão vem a público mostrar sua revolta com a situação do país, alardeando senso de justiça social, só quando é roubado? Lançando mão de privilégio dado a personalidades, utiliza um espaço de debates políticos e adultos para reclamações pessoais (sim, não fez mais que isso), escorado em argumentos quase infantis, como "sou cidadão, pago meus impostos". Dias depois, Ferréz, um porta-voz da periferia, escreveu texto no mesmo espaço, "romanceando" o ocorrido.

Foi acusado de glamourizar o roubo e de fazer apologia do crime. Antes que me acusem de ressentido ou revanchista, friso que lamento a violência sofrida por Huck. Não tenho nada pessoalmente contra ele, de quem não sei muito. Considero-o um bom profissional, alguém dotado de certa sensibilidade para lidar com o grande público, o que por si só me parece admirável. À distância, sei de sua rápida ascensão na TV. É, portanto, o que os mitificadores gostam de chamar de "vencedor". Alguém que conquista seu espaço à custa de trabalho me parece digno de admiração.

E-mails de leitores que chegaram até mim (os mais brandos me chamavam de "marxista babaca" e "comunista de museu") revelam uma confusão terrível de conceitos (e preconceitos) e idéias mal formuladas (há raras exceções) e me fizeram reafirmar minha triste tese de botequim de que o pensamento do nosso tempo está embotado, e as pessoas, desarticuladas.

Vi dois pobres estereótipos serem fortemente reiterados. Os que espinafraram Huck eram "comunistas", "petistas", "fascistas". Os que o apoiavam eram "burgueses", "elite", palavra que desafortunadamente usei em minha carta. Elite é palavra perigosa e, de tão levianamente usada, esquecemos seu real sentido. Recorro ao Houaiss: "Elite - 1. o que há de mais valorizado e de melhor qualidade, especialmente em um grupo social [este sentido não se aplica à grande maioria dos ricos brasileiros]; 2. minoria que detém o prestígio e o domínio sobre o grupo social [este, sim]".


A surpreendente repercussão do fato revela que a disparidade social é um calo no pé de nossa sociedade, para o qual não parece haver remédio -desfilaram intolerância e ódio à flor da pele, a destacar o espantoso texto de Reinaldo Azevedo, colunista da revista Veja, notório reduto da ultradireita caricata, mas nem por isso menos perigosa. Amparado em uma hipócrita "consciência democrática", propõe vetar o direito à expressão (represália a Ferréz), uma das maiores conquistas do nosso ralo processo democrático. Não cabendo em si, dispara esta pérola: "Sem ela [a propriedade privada], estaríamos de tacape na mão, puxando as moças pelos cabelos". Confesso que me peguei a imaginar esse sr. De tacape em mãos, lutando por seu lugar à sombra sem o escudo de uma revista fascistóide. Os idiotas devem ter direito à expressão, sim, sr. Reinaldo. Seu texto é prova disso.

Igual direito de expressão foi dado a Huck e Ferréz. Do imbróglio, sobram-me duas parcas conclusões. A exclusão social não justifica a delinqüência ou o pendor ao crime, mas ninguém poderá negar que alguém sem direito à escola, que cresce num cenário de miséria e abandono, está mais vulnerável aos apelos da vida bandida. Por seu turno, pessoas públicas não são blindadas (seus carros podem ser) e estão sujeitas a roubos, violências ou à desaprovação de leitores, especialmente se cometem textos fúteis sobre questões tão críticas como essa ora em debate.

Por fim, devo dizer que sempre pensei a existência como algo muito mais complexo do que um mero embate entre ricos e pobres, esquerda e direita, conservadores e progressistas, excluídos e privilegiados. O tosco debate em torno do desabafo nervoso de Huck pôs novas pulgas na minha orelha. Ao que parece, desde as priscas eras, o problema do mundo é mesmo um só - uma luta de classes cruel e sem fim.

Zeca Baleiro, nascido José de Ribamar Coelho Santos, é cantor e compositor maranhense. Tem sete discos lançados, entre eles, "Pet Shop Mundo Cão".



Papa Ratzinger promove megabeatificação de fascistas

O papa Ratzinger beatificou ontem no Vaticano, em cerimônia festiva, 498 mártires religiosos da Guerra Civil Espanhola, todos de origem carlista, franquista, anti-republicana tradicionalista e ultramontana (que defende a infalibilidade do papa).

Na Espanha, esse ato papal está sendo interpretado hoje como um retrocesso imperdoável e uma politização indevida por parte do catolicismo tradicionalista na vida nacional, segundo o diário madrilenho Público.

O escritor e teólogo católico progressista Juan José Tamayo pronunciou-se contrário à megabeatificação promovida por Ratzinger, e que reuniu ontem cerca de 60 mil pessoas na Praça São Pedro em Roma (fotos). Entretanto, eram esperados cerca de 250 mil fiéis tradicionalistas católicos.

Tamayo disse que esse gesto papal é um retrocesso de vinte anos, e que a Igreja romana deveria pedir perdão por ter apoiado o franquismo, para ele, um “regime sem liberdades”. O teólogo espanhol diz que não entende porque a Igreja não explica os motivos pelos quais “os sacerdotes sob o franquismo tinham liberdade de associação, direito esse negado aos demais espanhóis”.




TV pública deve se constituir numa estratégia de subversão

Este é o papel de uma emissora pública de rádio e televisão, produzir e difundir conteúdos que jamais seriam divulgados pela mídia corporativa, por motivos óbvios. Se não cumprir minimamente com uma agenda polifônica e polissêmica de destruição do consenso neoliberal, de nada adiantam os esforços ora empreendidos. Uma empresa midiática nunca irá cuspir para cima, ou cortar o galho no qual está pendurada. Por isso a luta pela democratização da mídia é um embate relativo, provisório e sempre incompleto, que precisa ir muito além do que está sendo proposto. Neste sentido, a elogiável mobilização dos sem-mídia deve ser entendido apenas como um programa mínimo, de curtíssimo e médio prazo.

Cada vez mais as mídias corporativas tornam-se unidimensionais e veiculam o chamado pensamento único, cuja matriz ideológica é ditada pelo interesse hegemônico do capital financeiro e os think tanks da sociedade da mercadoria e do consumo. No momento em que o Brasil discute esses temas, a propósito da implantação de uma tevê pública autônoma da lei do valor, as experiências de outras emissoras públicas pelo mundo servem de inspiração e incentivo. É o caso da BBC, que apesar de estar no centro de governos neoliberais, consegue lograr êxito na produção de alguns conteúdos que escapam ao lugar-comum da mídia corporativa de nossos dias.

Um exemplo ilustrativo é esse documentário da BBC (chamado The Century of the Self) , em quatro partes, que explica os mecanismos do controle psicológico de massas em favor da pretensa superioridade das opções individualistas – de modo a obter um apassivamento alienante dos indivíduos, transformando cada um por si em “máquinas felizes” (e submissas) na democracia formal mitigada.

Os episódios até há pouco tempo disponíveis na íntegra no YouTube foram retirados, já que a BBC invocou direitos. Mas pequenos trechos continuam disponíveis aqui (em inglês):

Episódio 1 - "Happiness Machines"

Episódio 2 - "Engendrando Consensos"

Episódio 3 - "Existe um Polícia dentro de cada Cabeça que precisa ser Destruído"

Episódio 4 - "Oito Pessoas bebericando Vinho (ou Cerveja)"



A cocaína é um problema de vocês – diz Evo

“Eu não defendo o narcotráfico. Defendo uma planta que na nossa cultura é benéfica pois ela ajuda a suportar a fadiga e a vida a 400 metros de altura. Nós não consumimos cocaína. Este é um problema de vocês. Nós consumimos uma infusão de folhas. Ou seja, as mastigamos, as usamos na medicina de base e, inclusive, fazemos uma torta”, afirma Evo Morales, presidente da Bolívia, em entrevista ao jornal italiano Repubblica, falando da folha de coca.

Evo Morales, em visita à Itália, também afirma que “a Venezuela foi o primeiro país a demonstrar toda a sua amizade concreta quando pela primeira vez na Bolívia foi eleito um presidente indígena. Temos uma situação econômica semelhante, ou seja, temos grandes recursos naturais e partilhamos alguns programas sociais como o da assistência sanitária gratuita das missões dos médicos cubanos e a prospectiva do socialismo. Por outro lado, sem a solidariedade do presidente Chávez eu não teria podido nem viajar para a Itália, pois ele me emprestou o avião presidencial para vir até aqui.”

Todos lá!

Dia 10 de novembro, às 10h, grande manifestação do Movimento dos Sem-Mídia, em frente à TV Globo de São Paulo.


domingo, 28 de outubro de 2007


Sem abrigo

O meu lar está tão distante como Alfa de Centauro

se bem que fique do outro lado da cidade

que percorro de lés a lés, dia após dia.

Às vezes passo perto e olho a medo

através das minhas lentes de vergonha

e sigo ao largo, apressadamente,

não me vão confundir com quem já fui

ou achar-me parecido com quem sou.

Aprendi que um homem é uma espiga.

Um dia,

uma carta chega como uma foice

e o mundo desmorona-se.

Um dia,

um homem que antes era um barco ancorado

acha-se de súbito no meio da tempestade,

vê quebrarem-se todas as amarras

e a terra firme perder-se na distância.

Um homem tenta em vão caminhar sobre a água

moldar qualquer coisa com a água

fazer nascer qualquer coisa da água

mas... tudo se escoa entre os seus dedos

menos o tempo que escoar-se deveria

mas que ao invés se vai acumulando

como húmus onde cresce o esquecimento.

E todos me esqueceram...

E eu esqueci-os a todos...

A minha memória foi-se esvaziando

como uma árvore que não é regada –

as minhas raízes estiolaram,

os meus braços ficaram pendentes

como ramos secos, sem dar frutos

e o vento que me arrancou os sonhos como folhas

arrasta-me aos baldões de esquina em esquina.

Hoje vivo numa fábula moderna,

transformado pela vara de condão

de um mago da finança

num caracol que arrasta lentamente

a casa de cartão roubado ao lixo

pelo país da indiferença;

sou uma roda inútil na grande engrenagem,

uma sílaba supérflua na palavra progresso,

um nome feito em número, arredondado,

até ser só um resto de zero.

Fernando Correia Pina, poeta português contemporâneo


Fotografia de Sebastião Salgado (1999)

sexta-feira, 26 de outubro de 2007


Charge de Eugênio Neves



A sabotagem silenciosa contra o PAC

Em setembro, o estoque da Dívida Pública Federal (DPF) atingiu R$ 1,315 trilhão, acusando um crescimento de R$ 78,97 bilhões nos nove primeiros meses do ano. Esse aumento não foi produzido pelo déficit nominal do Tesouro no período, mas, essencialmente, pela apropriação dos juros, da ordem de R$ 72,5 bilhões, respondendo, portanto, por 91,8% do crescimento do estoque da dívida. A informação é do Estadão, de ontem.

O valor dos juros pagos depende de vários fatores, como a taxa cambial e a evolução dos índices de preços, mas, principalmente, da taxa Selic fixada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que favorece as operações de arbitragem e é em parte responsável pela apreciação da moeda nacional em razão da entrada de capital especulativo

.........

Eu fiz questão de manter a linguagem hermética tal como está no Estadão.

E o quéco? – perguntará o alienado fundamental.

Ora, meu bom fundamental, isso significa que o Banco Central está arbitrando, decidindo, mandando e não pedindo, que os que investem em papéis da dívida pública federal estejam ganhando muito dinheiro – e à sombra.

A “apropriação dos juros” em linguagem terrena quer dizer que os com-Rolex amealharam 72,5 bilhões de reais, só nos nove primeiros meses do ano. O Pochmann afirma que não chegam a 80 mil brasileirinhos que esperam sorrindo esse carvão. A Máfia italiana ganha muito mais e em Euro, claro, mas para lograr êxito na profissão fora-da-lei tem que cumprir funções desagradáveis como executar comerciantes recalcitrantes, lidar com os escrotos que não entendem a função social do crime organizado no capitalismo, enfim, de alguma forma, trabalhar.

No Brasil, não tem disso, o branquinho portador de Rolex e polpuda conta bancária, dirige-se via telefônica ao seu gerente de banco e aplica seus caraminguás na dívida pública do seu País. Pronto. Serviço limpo e satisfação garantida pelo tio Meireles (calçado pelo tio Lula).

Os números acima são uma espécie de sabotagem silenciosa contra o PAC. Banco Central versus PAC.

Foto: Henrique Meireles, presidente do Banco Central do Brasil, xerife das chamadas "operações de arbitragem" eufemismo tecnocratês para dizer que "comigo os especuladores tem todo o privilégio do mundo".



Banco do Sul preocupa FMI e Banco Mundial

No momento em que o Banco Mundial e o FMI estão envolvidos em questionamentos sobre a sua eficácia e o seu futuro, a Venezuela apresentou em Washington, sede dessas duas instituições, o Banco do Sul, uma instituição que pretende substituir os organismos financeiros internacionais junto aos governos da América do Sul e saciá-los de créditos fartos e baratos. A informação está no jornal El País, da última quarta-feira.

O ministro venezuelano de Finanças, Rodrigo Cabezas, disse diante de um grupo de jornalistas que o Banco do Sul é “o primeiro elo de uma nova arquitetura financeira” com a qual se procura por fim a dependência dos países sul-americanos do mercado tradicional de empréstimos e às condições impostas pelo FMI. O passo seguinte, explicou Cabezas, será a criação de um fundo monetário sul-americano ou um fundo de reservas “que administrará 16 bilhões de dólares de reservas globais na região para colocá-las a serviço do desenvolvimento”.

O ministro disse que os oito países que a princípio formarão o Banco do Sul (Venezuela, Brasil, Argentina, Equador, Bolívia, Uruguai, Paraguai e Colômbia – anunciou a sua participação na semana passada) estão trabalhando intensamente para que a ata de fundação do novo organismo possa ser assinada no dia 3 de novembro em sua sede em Caracas, mesmo reconhecendo que restam pendentes algumas discussões que poderão atrasar essa data. No momento, a instituição se limitará ao âmbito da América do Sul.

As dificuldades maiores se relacionam com os aportes de capital de cada um dos membros, assim como sua capacidade de decisão. Cabezas disse que o aporte inicial “se fará por vontade de cada uma das nações”, ou seja, que ninguém será obrigado a depositar uma quantidade para ser sócio. Em suma o banco pretende iniciar com 7 bilhões de dólares.

O governo do Equador sugeriu que cada um dos membros aporte como mínimo a mesma quantidade com que participa do Banco Mundial e o FMI. O Brasil, que com maior insistência está pedindo rigor no manejo da instituição, prefere alguma forma de obrigatoriedade nos primeiros aportes e que estas não dependem apenas da Venezuela e do próprio Brasil.

O governo venezuelano pretende assim mesmo que a ata de fundação garanta o princípio de um voto para cada país, de forma que todas as decisões se tomem por consenso, sem levar em conta o tamanho de cada economia ou sua contribuição ao capital total. “Se trata de demonstrara que isso não é o banco de Chávez e para Chávez”, disse Rodrigo Cabezas, procurando desmentir as suspeitas de que o Banco do Sul é um instrumento da política exterior do presidente da Venezuela contra os EUA.

Ainda que neste país não se tenha produzido ainda uma reação oficial, alguns funcionários estadunidenses reconheceram em privado sua preocupação com as possibilidades que esta instituição dê a Hugo Chávez a capacidade influir na estabilidade da América Latina por décadas.

Essa mesma preocupação era visível nos organismos de crédito tradicionais, especialmente na instituição mais ameaçada com a nova criação, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Fontes do BID reconheceram que se Caracas está disposta a por dinheiro a fundo perdido nessa iniciativa, o novo banco é perfeitamente viável a curto prazo.

Em que pese o ministro Cabezas assegurar que este projeto “não é contra ninguém”, é óbvio que a Venezuela procura aproveitar as dificuldades do BID e de seus irmãos maiores, o Banco Mundial e o FMI, grandes protagonistas da economia mundial no passado para adaptar-se a novos tempos. Ainda que os três grandes tenham colocado acento nos últimos anos em atender as necessidades dos países pobres, seus conceitos e condições às vezes resultam incompatíveis com alguns governos que tem assumido o poder na América Latina.


quinta-feira, 25 de outubro de 2007


Democracia ocidental

Na França imigrante só entra depois de realizar exame de DNA. Nos Estados Unidos não há mais habeas-corpus, o que dá a qualquer policial o poder de prender o cidadão se não for com a sua cara. Na Inglaterra, suspeito é eliminado a bala. Na Suíça está proibida a construção de mesquitas.

E Fidel Castro e Hugo Chávez é que são ditadores.

Pescado integralmente daqui.



Espanha faz limpeza na memória do fascismo franquista

Na Espanha está sendo votada no Congresso a chamada Lei da Memória Histórica, que entre outras normatizações, obriga as administrações públicas a tomarem medidas para a retirada completa de escudos, insígnias ou placas e outros objetos ou menções comemorativas de exaltação, pessoal ou coletiva, da sublevação militar, da Guerra Civil ou da repressão da longa ditadura franquista (1939-1975).

O sindicato dos estudantes (lá, eles se organizam formalmente em sindicatos), o conhecido SE, está procedendo o levantamento completo de colégios públicos e privados cujos nomes homenageiam personagens que foram ligados ao fascismo franquista ou que exaltam o horror anti-republicano na Guerra Civil Espanhola. Já se constatou que onze centros de educação chamam-se José Antonio Primo de Rivera (o advogado fundador do partido fascista Falange Espanhola), por exemplo, ou que adulam o pai de Primo, Miguel Primo de Rivera. Abundam também os colégios Villar Palasí, ministro da Educação do franquismo de 1968 a 1973.

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Eis uma pauta para a UNE, hoje completamente atrelada ao governo Lula. Mas não só da UNE, de toda a sociedade civil democrática e cidadã. No Brasil também é preciso revisar e limpar essa má consciência que exalta de forma acrítica e subalterna alguns personagens execráveis do nosso passado.

Qual a grande cidade brasileira que não tem a avenida Castelo Branco? O colégio Emílio Médici? E tantas outras menções e adulações aos protagonistas (golpistas) da ditadura militar de 1964-85.

Foto: recente manifestação da FE, os falangistas fascistas espanhóis, organização fundada por Primo de Rivera.



Bancada ruralista emperra combate ao trabalho escravo


Os parlamentares da chamada bancada ruralista dificultam a votação de matérias relacionadas à reforma agrária, influenciam nas decisões sobre a indústria da biotecnologia e emperram o combate ao trabalho escravo. De acordo com o cientista político Edélcio Vigna, assessor da ONG Inesc, o grupo representa apenas 23% da Câmara dos Deputados. No entanto, a bancada é muito articulada e consegue mobilizar outros deputados em torno de seus interesses. Como exemplo, está a articulação para barrar a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional que prevê o confisco, sem direito a indenização, de propriedades que utilizam trabalho escravo.

Segundo pesquisa do Inesc, existem hoje 116 deputados na bancada ruralista, um crescimento de 58,9% em relação à legislatura anterior, certamente fomentados pela presença de um ativista do agronegócio como o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que ocupou o importante cargo na Esplanada em todo o primeiro mandato do presidente Lula.



Racismo explícito e debochado no Programa do Jô

O gordo está mais abusado (e reacionário) do que nunca. Entra bonito na onda regressista que assola o mundo conhecido neste início de século 21. E quer segurar o estandarte do atraso e da mediocridade.

Dias atrás, ele levou no seu péssimo subprograma um gajo português algo velhusco que atende pelo nome de Ruy Moraes e Castro. Deve ser um tipo saudoso da ditadura de Salazar, pois discorreu de forma obtusa e preconceituosa contra a vida sexual das mulheres negras do Sul de Angola. Deveria, o talzinho, ser enquadrado, na forma da lei, por exercício ilegal da atividade de antropólogo. Um charlatão completo.

Sem nenhuma contextualização cultural, de maneira debochada, racista e desrespeitosa, ele procurou mostrar aspectos pontuais das práticas sexuais das mulheres negras. Jô Soares, fingindo arroubos de moralidade, representava com a máscara do espanto e da estranheza. A platéia – escolhida a dedo pelo critério da infâmia e da imbecilidade – ria à tripa forra, como se diz no jargão salazarista.

Um espetáculo circense dos mais rebaixados. Assista aqui.



Máfia é a maior empresa italiana

A associação comercial italiana Confesercenti apresentou em Roma um corajoso relatório [insuspeito, em se tratando da associação comercial italiana] sobre o crime organizado no país.

O estudo conclui que o volume de negócios dos sindicatos do crime ascende aos 90 bilhões de euros anuais, o equivalente a 7% do PIB da Itália, um dos oito países mais industrializados do mundo. A informação é da Agência EuroNews.

A agiotagem e a venda de proteção constituem os principais negócios das associações mafiosas com um faturamento anual de mais de 40 bilhões de euros, o resto do faturamento é sobre inúmeros outros ilícitos criminosos. No estudo são apontadas grandes empresas italianas que pactuam com a Máfia criando o domínio das organizações criminosas sobre a sociedade, o fenômeno chamado "Mafiopoli".


No Brasil, quem usa droga é branco que porta Rolex

Uma pesquisa divulgada na tarde de terça-feira pela Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que 62% dos consumidores declarados de drogas no País pertencem à classe A. Este segmento representa apenas 5,8% da população brasileira. O estudo mostra ainda que 85% dos usuários são brancos, grupo que compõe 53% da população total no Brasil. A informação é do portal Terra.

Os dados levantados indicam que 86% dos consumidores declarados de drogas têm entre 10 anos e 29 anos. Entre os pesquisados que se declararam usuários de drogas, 99% pertencem ao sexo masculino.

O estudo mostra ainda que 30% dos usuários freqüentam a Universidade, contra apenas 4% da população brasileira. A maioria dos usuários declarados de drogas, no entanto, freqüentam o Ensino Médio (54%).

A pesquisa "O Estado da Juventude: drogas, prisões e acidentes", utilizou como instrumento a pesquisa mais atualizada de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a FGV, o dado de quem se declara consumidor declarado de drogas deve ser interpretado como resultado da interação entre as despesas com drogas e a propensão a declará-la.

O estudo da Fundação Getulio Vargas levou em conta quatro tipos de droga: maconha, cigarros de maconha, lança-perfume e cocaína.

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O personagem protofascista (estou dizendo que o personagem é protofascista, não que o filme seja protofascista) Capitão Nascimento já canta essa pedra no Tropa de Elite.


quarta-feira, 24 de outubro de 2007


Trabalhadores protestam contra as políticas de Yeda

Nesta quarta-feira, dia 24, o SEMAPI (Sindicato dos Empregados em Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas e de Fundações Estaduais do RS) realiza uma greve de 24 horas dos trabalhadores das fundações, da Emater e da UERGS. Essa paralisação foi aprovada na assembléia geral do dia 10 de outubro, e pretende denunciar o descaso do governo Yeda Crusius (foto) para com as instituições públicas do Estado.

Neste momento, os trabalhadores estão fechando os prédios do SINE da José Montaury, no Centro, da FEPAM, na Rua Carlos Chagas, 55, e também encontram-se na frente da FASE na Av. Padre Cacique, 1372.

Eles devem permanecer nestes locais até as 10h30, quando saem em caminhada em direção ao Largo dos Açorianos, onde haverá um almoço coletivo por volta do meio-dia. Às 14h, haverá passeata pela Borges de Medeiros até o Palácio Piratini, onde será o encerramento da manifestação com um ato público.



Documentário sobre o Haiti

Recomendo que vocês assistam aqui o documentário sobre Cité Soleil, uma das comunidades mais miseráveis do mais pobre país das Américas, o Haiti.

O filme chama-se Bon Bagay Haiti, tem cerca de sete minutos, e foi produzido há poucos dias atrás pela Agência Brasil, um dos núcleos de conteúdo do que deve ser a futura TV pública brasileira. Quero parabenizar os realizadores deste pequeno documentário. O texto é muito bom e as imagens são primorosas, ainda que mostrando uma realidade degradada e desumana. Logo com o Haiti, o país que primeiro conquistou a sua independência nas Américas, resultado da luta insurgente de escravos negros.

O governo Lula precisa retirar imediatamente as tropas militares do Haiti. Trocá-las por uma real e efetiva ajuda humanitária. Como se pode ver no filme, no Haiti a água potável é um bem escasso, as pessoas não tem saneamento básico, além do mínimo para sobreviver. A cobertura vegetal naquele país não chega a 2% do território. O governo brasileiro deve mandar pessoal técnico para ajudar a encontrar água potável, e para contribuir no reflorestamento nativo do país (entre tantas outras demandas), retirando os militares que já esgotaram o seu papel.

Os governos da Venezuela e de Cuba mandaram para o Haiti brigadas de profissionais de saúde, de energia e de educação, que realizam um trabalho inestimável de promoção de saúde pública e de promoção da cidadania, num país devastado pelo abandono e o descaso da chamada opinião pública mundial.

Desenho do Latuff



Suicídio indígena só pode ser combatido com respeito às culturas locais

O poder público precisa adotar políticas de saúde indígena mais adequadas às culturas diferenciadas de cada comunidade para combater o suicídio entre os índios. A avaliação é da antropóloga Regina Erthal, consultora da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), durante a 1ª Conferência Internacional de Saúde Mental e Indígena, que vai até amanhã (25), em Brasília. A informação é da Agência Brasil.

“O suicídio entre os índios deve ser visto de maneira mais cuidadosa. Hoje temos equipes da Funasa com grande rotatividade de pessoal e sem formação necessária para enfrentar a complexidade do problema”, avaliou Erthal. Durante o seminário, ela apresentou um levantamento sobre o suicídio nas aldeias do Alto Rio Solimões, no Amazonas, que comprovou que o problema atinge principalmente os jovens.

Segundo a antropóloga, 103 índios da comunidade Tikuna, no Alto Rio Solimões, suicidaram-se entre 2000 e 2005. Desse total, 54 (mais de 50%) tinham entre 15 e 19 anos. Na região, próxima à fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia, vivem cerca de 28 mil índios em 143 aldeias espalhadas por 214 mil quilômetros quadrados. As principais terras indígenas foram demarcadas a partir de 1993.

De acordo com Erthal, os suicídios na região devem-se a conflitos familiares e às diferenças políticas na comunidade. Fatores econômicos e a escassez de recursos naturais também contribuem para intensificar problema. “O quadro é agravado ainda pela depredação da floresta e pelas disputas de terras”, disse Erthal. Para ela, a fiscalização mais rigorosa contra a exploração ilegal de madeira e de minérios também representa um meio de reduzir os índices.



Reaparece a meningite em Porto Alegre

No bairro Restinga a meningite é uma ameaça iminente. Já foram confirmados e notificados às unidades municipais de Saúde quatro casos da doença. Três deles, são de meningite viral, a mais branda. O outro, por tratar-se de meningite meningocócica, vitimou uma criança levando-a ao óbito. Todos os casos atingem crianças da rede escolar do ensino fundamental público.

Os três casos de meningite viral aconteceram com alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Larry José Ribeiro Alves. O caso de óbito ocorreu com um aluno da Escola Municipal de Ensino Fundamental Alberto Pasqualini. As duas escolas situam-se no bairro Restinga, zona Sul da Capital.

Os professores da rede municipal, pais, alunos e profissionais da saúde da Restinga temem que o surto da doença se alastre de forma incontrolável. Tanto na meningite do tipo viral quanto na do tipo bacteriana (a mais grave), as formas de contágio são muito facilitadas no ambiente escolar.

Um médico infectologista lembra que na década de 70 em São Paulo aconteceu o maior surto mundial da doença, tendo vitimado milhares de pessoas por dois longos anos.

Existem vacinas eficazes para ambas as formas de meningite. A secretaria da Saúde do governo Fogaça (PMDB) está ciente dos casos ocorridos na Restinga, mas não divulgou qualquer medida para enfrentar esse grave problema de saúde pública, o que reforça mais o temor e a insegurança de toda a comunidade do bairro.

A mídia corporativa de Porto Alegre ainda não se manifestou sobre o assunto. Talvez não estejam bem informados.


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