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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 30 de junho de 2009

Governo Yeda bate no fundo do poço


Confesso que eu nunca, jamais, vi coisa semelhante na política guasca

Essa manchete da página 2 do jornal Correio do Povo é inacreditável. O editor está tão confuso e perplexo quanto nós, os leitores. Vejam só: o Piratini, o Executivo, em suma, a governadora Yeda, pressiona para que um subordinado seu não abandone o barco do governo de insensatos.

Confesso que eu nunca, jamais, vi coisa semelhante na política guasca. Um chefe do Executivo afirma que pressiona para alguém ficar a seu lado, que não se vá, que não diga adeus, Mariana.

I-na-cre-di-tá-vel!

Este é o maior e o melhor atestado da fraqueza e da falta de capital político da governadora tucana Yeda Rorato Crusius.

O governo Yeda está nu e a pé. Uma Lady Godiva varicosa e sem cavalo.

Abstraindo os episódios que atentam contra a moralidade pública, politicamente este é o ponto mais cavo e depressivo a que poderia chegar uma administração no Estado do Rio Grande do Sul – em qualquer tempo do seu presente e passado histórico.

Deu, não tem mais o que afundar.

Se os humanos perturbarem o equilíbrio da Terra, serão pisoteados e jogados fora


O humanismo é uma religião esquecida

Os recentes relatórios científicos informando sobre mudanças climáticas praticamente irreversíveis ou de remota reversão, impõem ao homem abstrato a necessidade de entender onde foi, afinal, que errou.

Evidentemente o vilão número um do aquecimento global é o homo oeconomicus gestado nas usinas de carvão do princípio da Revolução Industrial e, claro, suas subsequentes derivações tecnológicas que teimam cada vez mais em consumir combustíveis fósseis combinado com um modelo perdulário e predatório de produção e consumo – seja no setor primário, seja na indústria de transformação.

Na sua obra Cinco ensaios sobre a psicanálise, Freud detectou aquilo que chamou de feridas narcísicas do homem da modernidade. A primeira ferida foi causada por Copérnico ao provar que o homem e seu pequeno planeta não eram o centro do Universo. A segunda ferida foi causada por Darwin ao mostrar que o homem é tão-somente um elo na evolução das espécies vivas, e não uma criatura especial de Deus para dominar a Natureza. A terceira ferida foi obra do próprio Freud ao mostrar que “o Eu não somente não é senhor na sua própria casa, mas também está reduzido a contentar-se com informações raras e fragmentadas daquilo que se passa fora da consciência, no restante da vida psíquica”.

Em suma, diz Freud, arrasador, somos periféricos, ligeiramente pós-primatas e temos uma consciência opaca, quase sonâmbula.

O homem que formulou constructos de religiões e filosofias para adornar a própria condição, sem as quais a vida seria mais penosa, aos poucos dá-se conta que não passa de mais um dos tantos animais da vasta fauna terrena. Não foi Platão e Descartes que apontaram a consciência como o elemento distintivo entre os humanos e os outros animais?

Pois hoje quem estiver com os olhos e a estreita janela da consciência abertos para aceitar que nós humanos não devemos ter tanta importância assim, está de fato contribuindo para a salvação do Planeta e o início prático da biofilia - o amor endereçado a todas as coisas vivas.

Esses densos temas estão discutidos por John Gray na obra Cachorros de Palha - Reflexões sobre humanos e outros animais (Ed. Record). Como se vê, o britânico Gray abala as convicções mais arraigadas de todos nós, atirando com pontaria em ícones humanistas, tanto à direita, quanto à esquerda. Ora extraindo inspiração da poesia, onde vale-se até de Fernando Pessoa, ora da literatura de Conrad, ora da filosofia de Hume, de Schopenhauer, de Kant, e de Nietzsche, ele consegue fazer-nos pensar que, de fato, a sombra escura do homem é bem maior do que o seu real tamanho natural.

O livro é um trabalho inspirado e muito bem escrito sobre antropologia filosófica, mas passa longe dos jargões e da linguagem hermética dos iniciados. Sobre John Gray se pode dizer que talvez seja um Schopenhauer sem a ranhetice deste, sem aquela misoginia agressiva, e que nunca empurrou a empregada do alto da escada, como o filósofo alemão.

Da biologia molecular, Gray trabalha com o que afirma Jacques Monod, segundo o qual a vida é uma casualidade que evoluiu pela seleção natural de mutações randômicas (aleatórias, contingentes). E que, portanto, nem a filosofia, nem as religiões (cuja moralidade entre o certo e o errado está informada por Deus, e que este afinal vai garantir-nos um sentido para a vida), e muito menos o progresso tecnológico podem afastar-nos da jogada de sorte de sermos o resultado (bem ou mal) sucedido de uma loteria cósmica.

O grande alvo de Gray é o humanismo pretensioso dos Iluministas, segundo o qual pode-se perfeitamente substituir a religião tradicional pela fé secular na humanidade. Gray lembra que para a hipótese Gaia, a vida humana não tem mais sentido do que a vida dos fungos.

Gaia, aliás, está na raiz do título Cachorros de Palha. Segundo uma antiga escrita taoísta, nos rituais chineses, cachorros de palha eram usados como oferendas para os deuses. Durante o ritual eram tratados com reverência e respeito. Quando tudo terminava, e não sendo mais necessários, eram pisoteados e jogados fora: "Céu e terra não têm atributos e não estabelecem diferenças: tratam as miríades de criaturas como cachorros de palha" - diz a escrita do sábio Lao-Tsé.

E completa John Gray: "Se os humanos perturbarem o equilíbrio da Terra, serão pisoteados e jogados fora".

Uma leitura que nos reconcilia com os animais e com o Planeta, sem a chatice da conversa "verde" e nem a falsa piedade dos consumidores de pet shop e mascotes caseiros.

Artigo de Cristóvão Feil. Publicado originalmente na revista mensal do MST, em setembro de 2007.

Rapazes que nunca quiseram ser brancos



O clássico Cantaloop Island executado por um time raro, nota dez: Herbie Hancock, Freddie Hubbard, Joe Henderson, Tony Williams e Ron Carter. Imbatíveis!

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Só pode ser a Mãe Natureza que desmonta a Uergs



Governo Yeda não é mencionado em matéria sobre o sucateamento da Universidade estadual

Sim, a Universidade do Estado do Rio Grande do Sul – Uergs – está sendo encolhida e aos poucos, desmontada. Zero Hora fez, na edição dominical de ontem, um apanhado sobre a situação lamentável da Universidade criada (2001) e organizada pelo governo Olívio Dutra (1999-2003), entretanto, não é atribuída responsabilidade a quem quer que seja pela grave situação pelo qual passa a instituição estadual.

O jornal do grupo RBS esquece de determinar o sujeito da oração. Quem encolhe a Uergs? Quem desmonta a Uergs?

Forças ocultas ou forças ocultadas são os responsáveis pela degradação da Universidade?

É óbvio que são forças ocultadas. Zero Hora esconde ardilosamente o sujeito responsável pelo sucateamento da Uergs. A governadora Yeda Rorato Crusius não está desmontando somente a Universidade estadual, mas o próprio Estado. O novo jeito de governar é sinônimo de desmonte da máquina pública, de corrupção em vários órgãos públicos, de desprezo pelo público em favor do privado, de irresponsabilidade com a saúde pública e com a educação de qualidade, de insolências no trato com os temas do funcionalismo, de repressão aos movimentos sociais, de descaso com a legislação ambiental e – sobretudo – do despreparo com a administração pública e o diálogo político e democrático.

Zero Hora omite o sujeito responsável pelo desmonte da Uergs porque é parte solidária desta sabotagem contra o ensino público e gratuito. O grupo RBS é a estufa morna e maternal onde se gerou e cresceu a hoje governadora Yeda Rorato Crusius. Como, então, nomear a responsável pelo dano proposital à Uergs sem se autoincriminar em definitivo?

Fac-símiles: matéria de ZH dominical (29.06.2009). O atual reitor da Uergs, nomeado pela governadora tucana Yeda Rorato Crusius, toma o cuidado de omitir o nome da própria, ao dizer que tem "conversado com o Palácio". O interlocutor dele é o Palácio. O reitor dialoga com o Palácio. O Palácio é o culpado de tudo. O Palácio é mesmo muito feio e mau.

Sempre a obsessão com Chávez



Líder bolivariano pauta noticiário internacional de ZH

De roupa nova, repaginado, o jornal Zero Hora não consegue esconder as suas compulsões. Uma delas, talvez a mais gritante, é com a figura do presidente venezuelano Hugo Chávez.

O golpe militar sofrido pelo presidente hondurenho, Manuel Zelaya, no dia em que promovia consulta popular para respaldar uma nova Assembleia Constituinte, acaba sendo elemento secundário para os editores de ZH, o mais importante é informar que ele é aliado de Chávez, um certo esforço no sentido de desqualificar o presidente deposto. A manchete de capa passa essa informação e o mesmo acontece na manchete interna da página 26 (acima). É para não sobrar nenhuma dúvida.

O presidente Zelaya foi eleito pela direita liberal hondurenha em 2005. Mas no curso de seu governo começou a buscar apoio popular através de políticas públicas que resgatassem a imensa dívida social das oligarquias locais para com os camponeses e trabalhadores urbanos hondurenhos.

Horas atrás acabou sendo vítima da solução histórica encontrada pelas elites para impor a sua vontade minoritária e intolerante – o uso das forças armadas para golpear um presidente civil que procurava governar com soberania e espírito republicano. Um filme velho e embolorado, mas que continua sendo o predileto das oligarquias latino-americanas.

O inédito é que em nome da legalidade e do direito, os gorilas o tenham golpeado precisamente no dia em o presidente promovia uma consulta popular para preparar uma nova Constituinte, ou seja, por ter respeitado o jogo democrático e promovido a participação popular é que Zelaya foi duramente golpeado.

domingo, 28 de junho de 2009

Aprender a nadar


Mergulho II

Na primeira noite, ele sonhou que o navio começara a afundar. As pessoas corriam desorientadas de um lado para outro no tombadilho, sem lhe dar atenção. Finalmente conseguiu segurar o braço de um marinheiro e disse que não sabia nadar. O marinheiro olhou bem para ele antes de responder, sacudindo os ombros: "Ou você aprende ou morre". Acordou quando a água chegava a seus tornozelos.

Na segunda noite, ele sonhou que o navio continuava afundando. As pessoas corriam de outro para um lado, e depois o braço, e depois o olhar, o marinheiro repetindo que ou ele aprendia a nadar ou morria. Quando a água alcançava quase a sua cintura, ele pensou que talvez pudesse aprender a nadar. Mas acordou antes de descobrir.

Na terceira noite, o navio afundou.

Caio Fernando Abreu (1948-1996)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Os zóio da véia



Sem nenhuma segunda ou vigésima quinta intenção, apenas a de escutar o maior gaiteiro do Sul – Gilberto Monteiro.

John Waine bate o pé no carroção


Teremos vaia hoje?

Hoje a governadora Yeda Vaia Crusius deve estar roendo as unhas dos pés, e com motivos. Terá necessariamente que acompanhar o périplo porto-alegrense do presidente Lula, à tarde.

Por enquanto, ela está batendo o pé da bota no fundo do carroção, dizendo para si:

- O que me preocupa é esse silêncio... (*)

(*) Antológica frase do personagem vivido por John Wayne (não lembro se em Rio Bravo ou Rio Vermelho, me ajudem, leitores!). Há um clima pesado na cena, os pele-vermelhas estão para atacar a qualquer momento no horizonte. Para agravar a tensão da cena, a câmera dá uma panorâmica, corta, mostra o sol causticante do Oeste (no áudio, só o rascar de uma mosca voejando), e vem por trás de John Wayne, fechando muito lentamente na bota, que bate num compasso lento no assoalho de um carroção empoeirado. Então, JW diz a frase antológica. Mais adiante os peles-vermelhas atacam de fato.

Quem tem medo do Código Florestal?


Destrinchando o Código Florestal

Criou-se um verdadeiro pavor do Código Florestal, como se o mesmo fosse um “bicho papão” que vem para acabar com os pequenos agricultores e os assentados de reforma agrária e outras formas de produção camponesa. Muitos querem apresentar os pequenos agricultores e assentados como os grandes culpados pela devastação ambiental que atingiu o Brasil nos últimos 70 anos.

Temos que afirmar categoricamente: se há algo preservado, quem preservou foram os camponeses e os índios. O latifúndio e o agronegócio, agora comandados pelas transnacionais, foram e são os grandes devastadores. Este pavor, alimentado por ações policialescas e punitivas dos governos estaduais e uma interpretação conservacionista equivocada do Código Florestal, tem servido para os verdadeiros devastadores, o agronegócio e as empresas capitalistas, buscar nos camponeses novos aliados para continuar devastando. Um de seus principais objetivos é destroçar o Código Florestal no Congresso Nacional para continuar devastando sem piedade. E para isto insuflam os pobres do campo contra o Código.

Por isto que, para desfazer os mitos e as mentiras e acabar com o pavor criado nas famílias camponesas, é preciso conhecer o que o Código Florestal realmente diz e fazer uma interpretação correta do mesmo.

Precisamos conhecer algumas definições importantes que constam no Código Florestal e que são fundamentais para os Camponeses e Camponesas Brasileiros e seus Movimentos Sociais tomarem as decisões corretas neste momento em que o Agronegócio das Multinacionais e dos Latifundiários querem continuar fazendo uma agricultura e pecuária destruidora do solo, das águas, do ar, das chuvas, trazendo prejuízos enormes para todos os brasileiros. [...]

Excerto de artigo de Frei Sérgio Görgen, ex-deputado estadual pelo PT/RS, dirigente da Via Campesina e do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores). Leia o artigo na íntegra aqui.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Maxi racista


A agressão fere todos os negros, não só a Elicarlos

O atleta do Grêmio, Maxi López, chamou Elicarlos de “macaco”, com intenção de ofendê-lo moralmente e disso auferir alguma vantagem na disputa entre o seu clube e o Cruzeiro.

Não há menor dúvida, Maxi cometeu um ato racista, passível de ser considerado crime pela Justiça.

Não importa se Elicarlos vai perdoar e retirar a queixa policial. A ofensa moral sofrida pelo atleta do Cruzeiro não é individual e é transferível a todos os negros.

Todos os negros foram chamados de “macacos”, ontem em Belo Horizonte, embora só Elicarlos tenha ouvido a palavra ferina do jogador argentino, branco e racista.

Um maxirracismo.

Em Tempo: Este blogueiro é torcedor do Grêmio, que fique claro.

A participação de empresários na repressão e na corrupção


História sonegada

A abertura ou não dos arquivos sobre a repressão à insurgência armada durante a ditadura militar se resume numa questão: se alguém tem o direito de sonegar à nação sua própria História. Os debates sobre a conveniência de se remexer esse passado viscoso e sobre as razões e as causas de cada lado são secundários. A discussão real é sobre quem são os donos da nossa História. É se, 25 anos depois do fim da ditadura, os militares têm sobre a nossa memória o mesmo poder arbitrário que tiveram durante 20 anos sobre a nossa vida cívica.

***

Não é só a nossa história em comum que está sendo sonegada. A história individual dos mortos pela repressão também. Aos parentes são negados não apenas seus restos, como a formal cortesia de uma biografia completa. Uma reivindicação que nada tem a ver com revanchismo, que só pede uma deferência à simples necessidade das famílias reaverem seus corpos e saberem seu fim. Impedir que isso aconteça para não melindrar noções corporativas de honra ou imunidade é uma forma de prepotência que, 25 anos depois, não tem mais desculpa.

***

Revelações como as que o Estadão está publicando sobre a guerrilha no Araguaia servem como um começo para o resgate da nossa memória tutelada. Não precisa mexer na Lei da Anistia. É mais importante para a nação saber a verdade do que punir os culpados. E já que se liberou a História e se busca a verdade com novo ânimo, por que não aproveitar e investigar alguns pontos cegos daqueles tempos, como a participação de setores do empresariado em coisas como o Comando de Caça aos Comunistas e a Operação Bandeirantes, agindo como corpos auxiliares da repressão urbana, não raro com entusiasmo maior do que o dos militares ou da polícia política – como costuma acontecer quando diletantes fazem o trabalho de profissionais? Algum correspondente civil ao major Curió deve ter em seus arquivos o relato da guerra naquela outra selva.

***

Mas sei não, há uma tradição brasileira de poupar o patriciado quando ele se desencaminha. Quando descobriram que todos os negócios com o novo governo Collor teriam que passar pela empresa do P.C. Farias, não foram poucos e não foram pequenos os empresários nacionais que aderiram ao esquema sem fazer perguntas. Nas investigações sobre a corrupção que acabou derrubando Collor, seus nomes desapareceram. E, neste caso, não foram os militares que esconderam a verdade.

Artigo de Luis Fernando Veríssimo, publicado hoje em vários jornais brasileiros.

Fotos: o empresário de comunicação Roberto Marinho, apoiador e beneficiário do golpe civil-militar de 1964, sempre enganchado no poder oligárquico-ditatorial, seja com ACM, seja com o general João Figueiredo.

Desmatamento na Amazônia atingiu área menor, mas prossegue


Em relação a maio de 2008, houve queda da atividade ilegal

O desmatamento na Amazônia em maio atingiu uma área de 123 quilômetros quadrados. A informação foi divulgada ontem no relatório do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Em relação aos dados de maio de 2008, houve queda de 88%. A informação é da Agência Chasque.

A história das coisas



Vídeo imperdível! Pode e deve ser exibido (e debatido) em todas as escolas.

Você sabe que de tudo que compramos, 99% em seis meses já estará no lixo?

Pescado do blog Na Práxis.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Jazz de primeira



O trio Medeski, Martin e Wood recebe franca e sincera influência brasileira.

Direita guasca publica versão da crise do sistemão


Mas esquece a crise do RS

Economistas guascas se reúnem e publicam um livro de impressões sobre a presente crise do sistema monetário mundial.

Zero Hora corre e acende um incenso adoçado sobre a obra. Ninguém fala “qualcosa” sobre a crise endêmica do governo Yeda Rorato Crusius, mesmo porque um dos autores da referida obra é secretário de Estado no presente momento, e muitos outros autores trabalham em atividades profissionais que convergem com o “novo jeito de governar”.

“A Montanha pariu um rato”, como diriam os jacobinos na Assembléia Popular da França revolucionária.

A direita encastelada no Piratini escreve um livrão, batucado a trinta mãos, e olvida-se do indigesto “case” Yeda-no-poder.

Ficam devendo essa. Uma pena. Eu gostaria de conhecer a leitura que fazem da gestão tucana no Rio Grande do Sul.

Zero Hora faz exaltação do século 19



A fotografia da vassalagem e do patrimonialismo

Quase 120 anos de República não foram suficientes para eliminar as relações patrimonialistas no Rio Grande do Sul.

Na sociologia de Max Weber, o patrimonialismo corresponde a um tipo de dominação tradicional caracterizada “pelo fato de o soberano organizar o poder político de forma análoga a seu poder doméstico”.

Raymundo Faoro, nascido em Vacaria (RS), tratou precisamente disso na sua sempre atual obra “Os Donos do Poder”. Só que Faoro, ao não admitir que houve feudalismo no Brasil – o que está absolutamente correto –, não consegue explicar as relações de subserviência e vassalagem como a que se vê na fotografia estampada por ZH, hoje.

Talvez só Lima Barreto (“Triste Fim de Policarpo Quaresma”, entre outros) para dar conta deste fenômeno que faz eco do século 19 em pleno século 21. Lima, através de sua literatura debochada, cortante e com agulhadas anarquistas, fez uma obra ficcional toda ela marcada pela crítica ao patronato político parasitário do Brasil, que mesmo tendo origem nas relações deformadas do Brasil-Colônia e do Império, não consegue ser extinto pela República – ao contrário – têm suas bases renovadas e fortalecidas, até os nossos dias. Vide o fenômeno Sarney e o presente caso da pequena cidade de Agudo.

O curioso é que o jornal ZH – que se pretende “muderno” – não dedique um grão de crítica ao episódio de Agudo, ao contrário, faz a exaltação pitoresca e descompromissada de algo que, rigorosamente, representa o atraso e o retrocesso nas nossas relações sociais.

Ilustração do alto: pintura de Debret. Gilberto Freyre, na obra "Casa-grande e senzala", narra que os senhores de engenho do Brasil-Colônia raramente andavam a pé ou a cavalo, eram conduzidos em redes, liteiras ou mesmo nas costas de escravos negros.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Desestabilização do Irã começou há dois anos com Bush



Campanha da CIA começa a fazer os seus primeiros efeitos, neste período pós-eleitoral

No dia 27 de maio de 2007, o conservador jornal britânico “London Telegraph”, citando fontes, noticiou: "O presidente Bush assinou hoje autorização para que a CIA construa campanha de propaganda e desinformação com vista a desestabilizar, e eventualmente derrubar, o governo teocrático dos mulás." - conforme fac-símile acima, exclusivo deste blog Diário Gauche.

A luta interna entre os aiatolás e os doutores das leis corânicas, reforçada pelos protestos de rua protagonizados por uma juventude ocidentalizada e ciosa de consumo (70% da população iraniana tem menos de 30 anos de idade), com o acréscimo da mão invisível da CIA e o chamado ouro de Washington, estão abalando fortemente o governo do líder nacionalista Mahmoud Ahmadinejad.

Para piorar: o Irã tem a bomba atômica e um inimigo fascista, pró-norte-americano, que também armazena arsenal nuclear, que se chama Israel.

Naquela região do planeta, as coisas estão apenas começando e o desfecho é imprevisível.

Esse filme do Irã nós já assistimos – Parte 2



O PIG internacional tem um papel relevantíssimo nesses processos de desconstituição de governos que não querem colaborar com a Corporatocracia mundial.

Esse filme do Irã nós já assistimos – Parte 1




Sem novidades


A estrutura do roteiro é a mesma. Só mudam os nomes dos personagens, as locações, os quadrantes geopolíticos, e a trilha musical, de época.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Uma breve história sobre os fundos de investimento


A fumicultura e a química

Sábado passado encontrei um conhecido executivo do Rio Grande do Sul, que há muito não via. Entre outras coisas ele me relatou um diálogo havido entre o próprio e um diretor norte-americano da transnacional fumageira Universal Leaf Tobaccos, ocorrido há uns dois anos.

O nosso executivo crioulo perguntou ao colega norte-americano, membro do board de diretores da Universal Corporation, que controla a fumageira de Santa Cruz do Sul (RS), qual o motivo de as beneficiadoras de tabaco não investirem forte na produção orgânica de fumo e de não adotarem tecnologias conhecidas que eliminem a pesada química com o qual os cigarros são manufaturados. “Surfar a onda dos selos orgânicos e naturalistas pode ser bom para os negócios, especialmente para o setor fumageiro que carrega tantos estigmas” - completou o curioso executivo.

O manager respondeu de imediato:

“A Universal pertence a um fundo de aplicadores e rentistas que investem também nas indústrias químicas. A sua proposta é tentadora, se se analisar somente a divisão fumageira do investimento, mas isso é impossível no nosso modelo de negócio, com interesses variados e que não podem se inviabilizar mutuamente”.

Com essa, meu amigo derrubou os braços e se deu por vencido.

Yeda pinta muro e diz que são “Programas Estruturantes”



PAC guasca. Agora o Rio Grande vai...

Deu no blog do Kayser:

Para quem acha que o governo está paralisado, aí vai uma prova da pujança e do empreendedorismo de nossa governança. Nas fotos, detalhes de uma importantíssima obra, fruto dos Programas Estruturantes: a reforma do muro da Secretaria da Agricultura. Em meio à imundície e à buraqueira das ruas do bairro Menino Deus, jogado às traças pela administração municipal, emerge esta obra imponente, orçada em vultosos 43 mil reais. Sem ironia, 43 mil para dar uma tapeada no reboco, lixar uma grade e passar uma tinta, é, definitivamente, um grande investimento. [...]

..............

Isso prova que o tucanato guasca e seus aliados não têm a menor noção sobre a responsabilidade de administrar um Estado como o Rio Grande do Sul. Sem mencionar o custo exorbitante e superfaturado da “vultosa” obra de guaribar um muro por R$ 43.197,05, em um prazo de longos 60 dias.

As fotos do muro e da placa são do Kayser. Clique nas imagens para ampliá-las.

Pedido de solidariedade à Educação Pública no RS


Ouçam a nossa voz!

Nós, professoras e professores da Escola Estadual de Ensino Fundamental Porto Alegre, localizada em Porto Alegre, Morro Santana, que atendemos 800 alunos – em sua grande maioria carentes – da educação infantil à oitava série do ensino fundamental, resolvemos abrir nosso coração e dividir com vocês algumas coisas que muito têm nos incomodado com relação aos (des) caminhos da Educação do RS.

Através deste documento, gostaríamos de tornar públicos nossos sentimentos em relação às mudanças que estão sendo veiculadas sobre nosso Plano de Carreira. Essas mudanças, do nosso ponto de vista, não têm por objetivo a melhoria da Educação Pública do RS, e sim, de transformar a escola em uma empresa. O objetivo de uma empresa é gerar lucros. O objetivo de uma escola pública é gerar cidadãos conscientes, capazes de interferir em suas realidades para transformar o mundo em um local mais fraterno, justo e humano. Isso não pode ser medido com números e índices de pesquisas.

Queremos manifestar nossa indignação não apenas com nosso baixo salário, pois este fato já é bastante conhecido do público em geral. Estamos indignados com a falta de respeito com que somos tratados por este governo, representado pela Secretária de Educação do RS e seus cargos de confiança. Em reuniões, jornais, televisão, rádio, eventos, etc, somos achincalhados, humilhados, chamados de acomodados, de preguiçosos, de estagnados, somos mostrados como “um peso” no orçamento estadual, nossas aulas são chamadas de “medíocres”, nossa formação é colocada como insuficiente. Em entrevista para a imprensa, a secretária declarou que “merecemos apanhar dos alunos” simplesmente pelo fato de reclamarmos nossos direitos cada vez que sentimos que eles estão sendo atacados e por sermos uma categoria organizada. Há anos lutamos pela Educação. É graças ao nosso esforço – e somente a ele – que o Rio Grande do Sul ainda tem os melhores índices de Educação do país.

Enquanto o governo corta investimentos em educação, descumprindo a lei de aplicar 35% do orçamento do Estado em Educação Pública, nós continuamos acreditando no aluno e trabalhando.
Nossa escola mantém projetos como: “Navegar é preciso, nas ondas da Língua Portuguesa”, um projeto interdisciplinar sobre a Reforma Ortográfica. Desde 2000, realizamos atividades dentro do “Projeto Consciência Negra” durante todo o último trimestre. Há anos mantemos o projeto “Idade Média na História, na Literatura e no cinema”, e “Mitos e Heróis Gregos”. Este ano, estamos organizando o projeto “Educando para a Cidadania”, envolvendo os professores de Ensino Religioso. Temos diversos projetos na Educação Infantil e anos iniciais. As fotos e os projetos na íntegra estão em nosso blog (http://escolaportoalegre.blogspot.com) .

Sempre mantivemos reuniões pedagógicas, atendimento aos pais, gincanas culturais e esportivas, passeios culturais e de lazer, palestras e oficinas para a comunidade entre outras atividades. Investimos na apresentação e auto-estima dos alunos, promovendo recolhimento de roupas e calçados, livros paradidáticos, material escolar. Fazemos questão de organizar as formaturas dos alunos da Educação Infantil e da oitava série, celebrando-as como momentos únicos e um ritos de passagem fundamentais em nossa escola. Com todo esse trabalho e investimento pessoal do corpo docente, percebemos a mudança de postura e o crescimento de nossos alunos como pessoas e cidadãos.

Não gostaríamos de perder todas essas conquistas históricas e as vitórias que já alcançamos com nossa comunidade. Em nossa escola, temos uma marca muito forte de profissionalismo e compromisso. Buscamos formação permanentemente, levamos a sério nossas reuniões e projetos, vemos nosso papel como central na comunidade onde estamos inseridos. Porém, ultimamente, esse sentimento vem mudando... Nosso dia-a-dia tem sido tomado por colegas desestimulados, entristecidos, precarizados, buscando advogados para garantir seus direitos mínimos. Nunca ouvimos tanto a palavra “exoneração”, “cansaço”, “doença”, “dores”. Há colegas buscando ânimo até em medicamentos, travando uma luta pessoal contra o próprio desânimo e baixa auto-estima.

Pedimos sua ajuda para que esta situação não se torne ainda mais grave. Queremos ser ouvidos e respeitados, pois a grande maioria de vocês, nossos interlocutores, passou pela escola pública como educandos ou como educadores.

Pedimos que divulguem esse documento, repassem, deem sugestões e nos ajudem a encontrar saídas, lutando ao nosso lado.

ASSINADO: Professores da Escola de Ensino Fundamental Porto Alegre

domingo, 21 de junho de 2009

É necessário estar sempre bêbado


Embriagai-vos

É necessário estar sempre bêbado. Tudo se reduz a isso; eis o único problema. Para não sentirdes o fardo horrível do Tempo, que vos abate e voz faz pender para a terra, é preciso que vos embriagueis sem cessar.

Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor. Contanto que vos embriagueis.

E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto, despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio, hão de vos responder:
- É a hora da embriaguez! Para não serdes os martirizados escravos do Tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas! De vinho, de poesia ou de virtude, como achardes melhor.

Charles Baudelaire (1821-1867)

sábado, 20 de junho de 2009

Construções do impalpável


A sopa e as nuvens

A louca da minha bem-amada me dava de jantar, e pela janela aberta da sala de refeições eu contemplava as movediças arquiteturas que Deus faz com as nuvens, as maravilhosas construções do impalpável. E dizia, comigo, através da minha contemplação: "Todas estas fantasmagorias são quase tão belas quanto os olhos de minha amada, a pequena louca monstruosa de olhos verdes."

De súbito senti um violento murro nas costas e ouvi uma voz rouca e encantadora, uma voz histérica, e como enrouquecida pela aguardente, a voz da minha querida bem-amada, que me dizia:

- Trate de tomar a sua sopa, seu maluco, mercador de nuvens!

Charles Baudelaire (1821-1867)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Uma página musical dedicada ao ministro Jobim


Eu sou a lembrança do terror de Estado

La Maison Dieu

Banda Legião Urbana
Composição: Dado Villa-Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá.

Se dez batalhões viessem à minha rua
E vinte mil soldados batessem à minha porta
À sua procura
Eu não diria nada
Porque lhe dei minha palavra
Teu corpo branco já pegando pêlo
Me lembra o tempo em que você era pequeno
Não pretendo me aproveitar
E de qualquer forma quem volta
Sozinho pra casa sou eu
Sexo compra dinheiro e companhia
Mas nunca amor e amizade, eu acho
E depois de um dia difícil
Pensei ter visto você
Entrar pela minha janela e dizer:
- Eu sou a tua morte
Vim conversar contigo
Vim te pedir abrigo
Preciso do teu calor
Eu sou
Eu sou
Eu sou a pátria que lhe esqueceu
O carrasco que lhe torturou
O general que lhe arrancou os olhos
O sangue inocente
De todos os desaparecidos
Os choque elétrico e os gritos
- Parem por favor, isto dói...
Eu sou
Eu sou
Eu sou a tua morte
E vim lhe visitar como amigo
Devemos flertar com o perigo
Seguir nossos instintos primitivos
Quem sabe não serão estes
Nossos últimos momentos divertidos?
Eu sou a lembrança do terror
De uma revolução de merda
De generais e de um exército de merda
Não, nunca poderemos esquecer
Nem devemos perdoar
Eu não anistiei ninguém
Abra os olhos e o coração
Estejamos alertas
Porque o terror continua
Só mudou de cheiro
E de uniforme
Eu sou a tua morte
E lhe quero bem
Esqueça o mundo, vim lhe explicar o que virá
Porque eu sou
Eu sou
Eu sou

BNDES será responsabilizado judicialmente por desmatamento na Amazônia


Banco estatal é sócio e grande financiador de beneficiários da destruição ambiental

A organização não governamental Amigos da Terra entrou na Justiça em Belém (PA) com uma petição para que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) responda como co-responsável na ação que o Ministério Público Federal move contra vinte fazendas, o frigorífico Bertin e outras dez empresas do setor pecuário que atuam no Pará, por desmatamento ilegal da floresta amazônica.

"Hoje será em Belém, nas próximas semanas entraremos em outras cidades como Marabá, Cuiabá", diz Roberto Smeraldi, diretor da organização.

Segundo o diretor, o objetivo da organização é transformar o problema em oportunidade. "O BNDES é sócio e financiador de todos os principais frigoríficos do país. Queremos que ele seja co-responsável pelas ilegalidades cometidas pelas organizações e assine um Termo de Ajustamento de Conduta", explica o diretor da Amigos da Terra.

Por meio do Termo de Ajuste de Conduta, o banco estatal se responsabilizaria e seria uma espécie de avalista de uma nova relação dos frigoríficos com seus fornecedores. "Os frigoríficos passariam a dizer de quem compram e as fazendas produtoras seriam certificadas. As propriedades com problemas, que cometeram ilegalidades, poderiam contar com financiamentos do banco para se enquadrar à legislação", afirma o diretor.

"Imagine que ao financiar a recuperação legal da propriedade, o banco informe ao proprietário que, para obter o recurso, ele terá de produzir as mesmas cabeças de gado num espaço menor. As 72 milhões de cabeças de gado que hoje ocupam 70 milhões de hectares poderiam ser tranquilamente produzidas em apenas 25 milhões de hectares. O Brasil poderia recuperar 50 milhões de hectares e ainda gerar ao mesmo tempo uma reserva legal de bois, uma vez que eles continuariam existindo", conta Smeraldi. A informação é daqui.

Hoje tem ato "Fora Yeda"


11 horas: concentração e protesto na frente do Palácio Piratini

As centrais sindicais, os movimentos sociais e estudantis e o Fórum dos Servidores Públicos realizam na manhã desta quinta-feira 18, em Porto Alegre, um ato público estadual em defesa do impeachment da governadora Yeda Crusius.

A concentração será às 10h em frente à sede do Ministério Público Federal (Av. Júlio de Castilhos, esquina Praça Rui Barbosa, Centro da Capital). Uma hora depois (11h) haverá concentração e protestos na frente do Palácio Piratini.

O governo do Rio Grande do Sul tem se caracterizado pelas sucessivos escândalos políticos. Uma administração nula, omissa, propondo intermináveis recomeços que só levam a outras crises, sempre mais profundas e graves.

Para os organizadores do evento, a sociedade gaúcha está envergonhada diante dos escândalos que assolam o governo tucano e seus aliados. Recente pesquisa feita pelo Instituto Datafolha mostra que 70% da população do Estado defende o afastamento da governadora Yeda Rorato Crusius.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O coração bate em sua gaiola



Eu não quero o que você quer
Eu não sinto o que você sente
Veja, estou preso numa cidade
Mas eu pertenço ao campo

A rede e a farsa


Dramaturgia sob a forma de notícia

A Globo trata o assunto da recente eleição no Irã como farsa. O correspondente da rede da família Marinho fala diretamente de.... Telavive, Israel.

Por que não fala diretamente do aprazível bairro carioca do Jardim Botânico? Ou direto do Projac, já que é tudo ficção, mesmo.

É hilário honório. Depois ficam pesquisando e quebrando a cabeça para saber os motivos de estarem perdendo audiência, diariamente.

Audiência e anunciantes, por supuesto, todavia.

A charge é do Kayser.

Indígenas peruanos vencem queda de braço com a direita


Apesar de incerto, o processo político no Peru avança com a organização dos indígenas

A vitória dos indígenas peruanos - que há três dias fizeram o governo propor a anulação de duas leis de terras, depois de lançarem uma onda de protestos que durou mais de dois meses e deixou 34 mortos - consolidou a força política das comunidades nativas no Peru. A informação é do Estadão, de hoje.

"Depois disso, os indígenas não serão mais vistos como uma excentricidade antropológica, mas como uma força real, com enorme poder de expressão", disse o analista peruano Jaime Antezana, especialista em questões indígenas.

O processo vivido pelo Peru nos últimos meses lembra a luta dos indígenas pelo gás na vizinha Bolívia, onde foi fundado, em 1997, o Movimento ao Socialismo (MAS), que teria papel fundamental nas manifestações de 2000 e na eleição do atual presidente, o líder indígena Evo Morales, em 2005.

Mas, apesar das semelhanças, a solução para as demandas indígenas será, em cada caso, diferente. "Não há condição para que surja no Peru uma figura como Evo", disse Antezana, que chama atenção para "o caráter descentralizado do movimento indígena peruano, em comparação com movimento coordenado que levou Evo ao poder na Bolívia".

A morte de 24 policiais e pelo menos 10 manifestantes indígenas no dia 5, na Amazônia peruana, obrigará "os políticos locais a reconhecerem a natureza plurinacional do país, que inclui não uma, mas várias nações indígenas que não partilham da mesma ideia de desenvolvimento", disse o analista.

A tese de Antezana coincide com a posição assumida ontem pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) que "exortou o governo (do Peru) a fazer maiores esforços para garantir que não seja aplicada nem promulgada nenhuma legislação sobre exploração de recursos naturais sem consulta prévia aos povos indígenas".

Na Bolívia, as comunidades nativas fizeram com que a Constituição reconhecesse a legalidade da Justiça indígena e a autonomia das comunidades originárias sobre seu próprio território, além de estabelecer cotas para parlamentares indígenas no Congresso; situação ainda improvável no Peru.

Para Antezana, o candidato nacionalista Ollanta Humala que, em 2006, concorreu contra o atual presidente, Alan García, não representa os indígenas. "Ele tenta capitalizar o movimento, mas não dá para dizer que encarne todas essas demandas sozinho. Ele não será o Evo do Peru".

Delfim Netto: “Todas as teorias estão desmitificadas”


“A omissão do Estado é que produziu a crise que aí está”

Apesar de reconhecer o esforço feito pelo Banco Central para reduzir a taxa básica de juros (Selic) para 9,25% ao ano, o ex-ministro da Fazenda Delfim Netto considera a queda insuficiente, por acreditar que o Brasil poderia cobrar taxas reais em torno de 3%, a exemplo do que é feito em outros países.

“O Brasil não tem nenhuma razão para ter uma taxa de juros real muito maior que 3%, que é a taxa de juros do mundo”. disse ele, em entrevista ontem à Agência Brasil.

Na entrevista, Delfim também creditou ao Federal Reserve (FED, Banco Central dos Estados Unidos) parte da culpa pela crise econômica mundial. “Quem faltou foi o Estado. O Estado é que se omitiu da sua tarefa. Não podemos deixar de acreditar e de reconhecer que o Estado produziu essa crise que está aí. Boa parte dessa crise foi pelo FED não ter observado esses avanços tecnológicos”, disse ele.

Perguntado se vamos chegar, um dia, a ter juros normais no Brasil, Delfim respondeu o seguinte:

“Não tenho a menor dúvida. Todas as teorias estão desmitificadas. Primeiro, porque ninguém mais leva a sério essa ideia de que o Banco Central é portador de uma ciência monetária. Porque o Banco Central é uma contradição em si. Você elege o presidente [da República] com 60 milhões de votos e depois ele escolhe um sujeito que ele pensa que sabe e entrega todo o poder para ele. Nos levantamentos nos Estados Unidos – lá se faz levantamento para tudo – a figura mais importante do governo depois do presidente é o presidente do Banco Central. Ou seja, é justamente aquele no qual você não votou. Quando você vai fazer uma operação do coração, procura o [o médico Adib] Jatene, procura o melhor hospital, o melhor pós-operatório, porque supõe que ele sabe, e ele sabe mesmo mexer naquele negócio. Quando você contrata um presidente do Banco Central pensa que ele é portador de uma ciência. Essa crise mostrou o seguinte: na verdade, isso não é verdade”.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Jazziza



O imortal "Take Five" com Aziza Mustafa Zadeh. O jazz do Baku, Azerbaidjaão.

Banco Mundial cancela financiamento de frigorífico na Amazônia


Espera-se que o BNDES faça o mesmo

O Banco Mundial, através de seu setor de financiamento privado, cancelou o financiamento de 90 milhões de dólares que assinou com o frigorífico Bertin. A informação é da entidade Amigos da Terra, que pressionava o Banco para suspender o contrato. Segundo a organização de defesa ambiental, a Bertin comprava gado ilegal e adquiriu terras em áreas indígenas e para desmatamento na Amazônia. A Amigos da Terra agora espera que o BNDES também suspenda seus contratos com o frigorífico.

Outra boa notícia. As três maiores redes de supermercados do País, Carrefour (de capital francês), Pão de Açúcar (nacional) e Wal-Mart (norte-americano), suspenderam as compras de carnes das fazendas envolvidas no desmatamento da Amazônia. A decisão foi tomada após divulgação de relatório do Greenpeace.

O estudo motivou ação civil pública do Ministério Público Federal do Pará, que recomendou a grandes redes de supermercados para que deixem de comprar carne proveniente da destruição da floresta. As informações são da Agência Chasque.

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Agora, aguardamos que o banco estatal de fomento – BNDES – também se sensibilize com a destruição ambiental da Amazônia promovida pela pecuária destinada à exportação. Uma entidade internacional como o Banco Mundial e grandes varejistas mundiais como Carrefour e Wal-Mart já fizeram a sua parte, pequena ainda, mas fizeram, dando um exemplo para o mercado consumidor de carne bovina que esquece de perguntar a origem do alimento que consome.

Se mais entidades financiadoras, as cadeias varejistas e o consumidor final exigirem certificação de origem dos alimentos consumidos se formará um círculo virtuoso de desestímulo e sanção aos agressores ambientais da Amazônia. Sem mercado garantido, eles pensarão duas vezes antes de iniciar um negócio insustentável.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Deputado se confessa cansadinho


Neo-oportunista quer se habilitar pela direita ao Piratini

Deu na Folha, de sábado passado, coluna "Painel":

Churrascaria. Sob o discurso do novo, Beto Albuquerque (PSB) tenta amarrar PC do B, PDT, PP e PTB em torno de sua candidatura ao governo do Rio Grande do Sul. "Estamos cansados desse rodízio político que serve as mesmas carnes há 16 anos", diz o vice-líder do governo.

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O líder pessebista foi criado e cevado nas sucessivas alianças eleitorais denominadas "Frente Popular", tanto em Porto Alegre, quanto no Estado do Rio Grande do Sul.

Chegou a ocupar a titularidade da Secretaria de Transportes, na gestão do ex-governador Olívio Dutra (PT). Portanto, ele próprio é parte integrante do “rodízio de carnes servido há 16 anos” no Estado – segundo o linguajar espirituoso do líder passofundense.

Assim, o pessebista de Passo Fundo aposta na amnésia dos eleitores sulinos, e sobretudo na chance de ocupar espaço no coração dilacerado do establishment guasca, baldio com a sucessão interminável de trapalhadas da governadora tucana Yeda Rorato Crusius.

PAG - Plano de Aceleração da Grilagem


De volta ao passado

Uma área maior do que o Estado da Bahia será doada a particulares sem cuidados que garantam condições mínimas de justiça, progresso e sustentabilidade

A história da propriedade da terra sintetiza uma parte importante da história do Brasil.

Com a Independência, em 1822, caducaram as ordenações portuguesas que organizavam o sistema jurídico colonial. Nossa primeira Assembleia Constituinte, reunida no ano seguinte, não legislou sobre a terra, que se tornou um bem livre, mas nem por isso acessível. Mantida a escravidão, só os senhores podiam exercer a prerrogativa da propriedade.

A aproximação da Abolição colocou na ordem do dia um problema grave: quando os escravos fossem libertados, como se conseguiria mantê-los trabalhando nas grandes fazendas, sedes do poder oligárquico, se o país era despovoado e a terra era livre? Surgiu daí a nossa primeira Lei de Terras, em 1850. O acesso legal à propriedade fundiária passou a depender de doações da Coroa, seguidas de operações de compra e venda.

Os fazendeiros da época ganharam o direito de legalizar propriedades por meio de simples declaração, registrando nas paróquias locais os limites das terras que consideravam suas. Formaram-se assim gigantescos latifúndios, marca registrada da nossa história.

Quando a terra era livre, os trabalhadores eram escravos; quando se aproximava o dia em que eles seriam livres, ela foi aprisionada. Assim, na segunda metade do século 19, permeando Império e República, o Brasil resolveu a questão da escravidão e ao mesmo tempo criou a questão agrária, a qual, jamais resolvida, desdobrou-se na questão urbana atual.

Primeiro nas senzalas, depois nos latifúndios e agora nas favelas ou periferias, sempre o mesmo pano de fundo: multidões sem direitos.

Dada a enormidade do país, grande parte do território permaneceu na condição de terra pública até recentemente. Muitos pensadores brasileiros do século 20 imaginaram que o grau de concentração da propriedade rural diminuiria à medida que posseiros se espalhassem pelas áreas de fronteira agrícola que permaneciam em gradativa expansão.

Não foi o que ocorreu. Com a cumplicidade de sucessivos governos federais e estaduais, por meio da grilagem e da violência, por doações ou por compra a preço simbólico, implantou-se nessas áreas novas - especialmente o Centro-Oeste, a Amazônia meridional e o cerrado setentrional - uma estrutura agrária ainda mais concentrada do que aquela que predomina nas áreas de ocupação secular, com óbvias repercussões sobre o tipo de agricultura que praticamos.

A história se repete na Amazônia, a última fronteira. Se a medida provisória 458 for sancionada pelo presidente da República, na forma como saiu do Congresso Nacional, estaremos diante de uma volta ao passado.

Uma área maior do que o Estado da Bahia será doada a particulares sem cuidados que garantam condições mínimas de justiça, progresso e sustentabilidade. Grandes e médios proprietários ficarão com mais de 70% das terras que hoje são públicas. Um grileiro ou uma empresa que tenham 50 prepostos poderão legalizar, praticamente de graça, latifúndios de 75 mil hectares, mesmo que já possuam outras propriedades rurais. Com cem prepostos, reais ou fictícios, a área dobrará. Por persuasão ou por coação dos pequenos, em uma região em que o Estado é ausente e falha a cobertura da lei, estará aberto o caminho para um aumento desenfreado da concentração fundiária.
A Amazônia é uma região frágil, onde se chocam interesses nacionais e internacionais, sem que Estado e sociedade tenham sido capazes de definir e implementar um projeto coerente de desenvolvimento. É um dos grandes desafios para o nosso futuro, talvez o maior de todos.

Repetir o que foi feito em 1850 não é a melhor decisão.

Artigo de Cesar Benjamin, editor da Editora Contraponto. Publicado na Folha, de 13 de junho de 2009.

domingo, 14 de junho de 2009

O choro médio ou comum


Instruções para chorar

Deixando de lado os motivos, atenhamo-nos à maneira correta de chorar, entendendo por isto um choro que não penetre no escândalo, que não insulte o sorriso com sua semelhança desajeitada e paralela. O choro médio ou comum consiste numa contração geral do rosto e um som espasmódico acompanhado de lágrimas e muco, este no fim, pois o choro acaba no momento em que a gente se assoa energicamente.

Para chorar, dirija a imaginação a você mesmo, e se isto lhe for impossível por ter adquirido o hábito de acreditar no mundo exterior, pense num pato coberto de formigas e nesses golfos do estreito de Magalhães nos quais não entra ninguém, nunca.

Quando o choro chegar, você cobrirá o rosto com delicadeza, usando ambas as mãos com a palma para dentro. As crianças chorarão esfregando a manga do casaco na cara, e de preferência num canto do quarto. Duração média do choro, três minutos.

Julio Cortázar

sábado, 13 de junho de 2009

Este mundo anda mesmo uma falta de vergonha


Drama nos bastidores

O palhaço afinal
muito sem graça
era mesmo
além de careca
ladrão de mulher:
Só numa matinê
sumiu com cinco
bem gostosinhas...

Chamaram o delegado
que prendeu por engano
o domador de leões.

O palhaço se esbodegou
de rir e rolou
no camarim dos fundos
com duas mulheres nuas
e um prato de goiabada...
até o macaco
andou tirando umas casquinhas...

Este mundo anda mesmo
uma falta de vergonha...

Zuca Sardan

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Zero Hora não dá crédito de matéria



“Imprensa livre” surrupia material de agência estatal sem dar o crédito devido

O jornal Zero Hora, do grupo RBS, estampa hoje matéria com entrevista produzida pela estatal Agência Brasil e omite os créditos devidos.

Já o diário paulistano Folha de S. Paulo, traz a mesma matéria produzida pela estatal, mas se preocupa em informar a origem da entrevista do ministro da Defesa, Nelson Jobim.

Olho de cobra



A cantora mexicana Lila Downs, com seu vozeirão, canta "Ojo de Culebra".

Ideia de punir militares é "revanchismo", afirma Jobim


“Vamos perder um tempo imenso fazendo isso”, chuta o ministro da Defesa

O ministro da Defesa, Nelson Jobim (foto), classificou como “revanchismo” a ideia de punir militares que tenham cometido atos de tortura durante o período de ditadura militar. Embora tenha organizado um grupo de trabalho que já está em campo para localizar mortos da Guerrilha do Araguaia, Jobim destaca que a busca tem a importância de contemplar o direito à memória e não de servir ao revanchismo. “Uma coisa é o direito à memória, outra é revanchismo e, para o revanchismo, não contem comigo”, disse o ministro em entrevista à Agência Brasil.

A ideia de derrubar o perdão aos militares que cometeram atos de tortura está presente em uma ação apresentada em outubro do ano passado pela Ordem dos Advogados do Brasil no Supremo Tribunal Federal (STF). A ação questiona a prescrição e a responsabilização de crimes de tortura praticados durante o regime militar. Ela contesta a validade do Artigo 1º da Lei da Anistia (6.683/79) que considera como conexos e igualmente perdoados os crimes "de qualquer natureza" relacionados aos crimes políticos ou praticados por motivação política, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979.

Políticos e organizações defensoras de direitos humanos defendem que a Lei de Anistia não deve servir para absolver os militares que torturaram. Na avaliação de Jobim, se o STF for favorável à ação estará cometendo um equívoco.

“Se o Supremo decidir que a Lei de Anistia não é bilateral, o que eu não acredito, terá que enfrentar um outro assunto: a prescrição. Há um equívoco. Dizem que os tratados internacionais consideram alguns crimes imprescritíveis. Mas, no Brasil, não é assim. Os tratados internacionais aqui não valem mais que a Constituição. Eles estão sujeitos à Constituição brasileira, que dá imprescritibilidade para um crime só: o de racismo. Trata-se de uma questão legal”, explicou o ministro.

Jobim ressaltou a necessidade de tomar atitudes diferentes das que foram tomadas por outros países da América Latina, como a Argentina e o Uruguai sobre o período. “Quero que o futuro se aproxime do presente. Às vezes, gastamos uma energia brutal refazendo o passado. Existem países sul-americanos que estão ainda refazendo o passado, não estão construindo o futuro. Eu prefiro gastar minha energia construindo o futuro”, destacou o ministro.

“Não posso comparar o Brasil com a Argentina ou com o Uruguai. Houve um acordo político em 1979. Houve um projeto de lei que foi aprovado pelo Congresso Nacional. A questão hoje não é discutir se é a favor ou contra torturadores. A questão hoje é saber se podemos ou devemos rever um acordo político que foi feito por uma classe política que já hoje está praticamente desaparecida. É legítimo fazer isso? Vamos perder um tempo imenso fazendo isso”, destacou Jobim, que já foi presidente do STF e quando foi ministro da Justiça, no governo de Fernando Henrique Cardoso, criou a primeira comissão para investigar mortos e desaparecidos políticos.

A criação da operação para localizar mortos da Guerrilha do Araguaia, chamada de Operação Tocantins, atende a uma determinação judicial para que o Estado brasileiro dê respostas sobre o assunto. A sentença da Justiça Federal determinou a quebra do sigilo das informações militares sobre todas as operações de combate à Guerrilha do Araguaia e que a União informe onde estão sepultados os mortos no episódio.

Há uma semana, o ministro chegou a se reunir com integrantes da Comissão de Mortos de Desaparecidos Políticos da Secretaria Especial de Direitos Humanos par apresentar o planejamento das ações do grupo de trabalho, criado no final de abril. O planejamento inclui quatro fases.
"Temos uma obrigação legal de prestarmos informações em uma ação judicial que determinou que nós localizássemos os cadáveres. A primeira fase [da operação] já foi montada, que é a nomeação desse grupo de trabalho, e agora vem a segunda, que é o reconhecimento do local. Na segunda quinzena de julho começa a terceira fase. Dependendo do resultado ainda tem a quarta fase, que envolvem laboratórios para a análise do que foi encontrado”, explicou o ministro.

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Jobim afirma que houve um “acordo político em 1979”. O ministro se refere a um arranjo político unilateral de iniciativa do governo ditatorial apelidado de “anistia, ampla, geral e irrestrita”.

Em primeiro lugar, a anistia não foi ampla, nem geral, nem irrestrita. Em segundo, não resultou de um acordo político, foi muito mais um ato unilateral do governo militar do presidente João Figueiredo que tinha o objetivo de promover o esquecimento legal dos crimes cometidos pelos próprios agentes públicos – civis e militares – que praticaram toda a sorte de abusos contra os direitos humanos no País.

Jobim está falseando a verdade dos fatos, mais uma vez.

Outro ponto. Os tratados internacionais – do qual o Brasil é signatário – tornam os crimes contra os direitos fundamentais, imprescritíveis, sim. Jobim sustenta que a Constituição brasileira invalida as normas internacionais acordadas naqueles tratados. Ora, Nelson Jobim adota como sua a interpretação dada pelos advogados nazifascistas que defenderam seus ex-líderes no Tribunal de Nuremberg, segundo os quais não havia legislação internacional capaz de se sobrepor às Constituições nacionais, no caso, a alemã do Terceiro Reich nazista.

Pois bem, desde 1949, quando se concluiu o Tribunal de Nuremberg, o mundo civilizado possui normas internacionais capazes de julgar e de impor sanções punitivas aos crimes de genocídio, de guerra, de lesa humanidade, de apartheid étnico, de escravidão e seus similares, de extermínio, assassinatos, desaparições forçadas, sequestros, torturas, e crime de agressão. As cartas constitucionais nacionais estão, sim, subordinadas às normas e sanções dos tratados internacionais que aprimoraram as combinações legais de Nuremberg e que estão hoje configuradas na instituição permanente chamada Corte Penal Internacional, com sede em Haia.

Jobim, ex-ministro da mais alta corte judiciária brasileira, deveria conhecer esses fatos.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

La Llorona e a banda Beirut



Isso é criatividade! Os caras pegam um clássico mexicano e o revestem com o frescor da hora, sem corrompê-lo ou invertê-lo, apenas apresentando-o com as tintas restauradas. Magnífico.

A direita está baratinada com um simples blog


O blog da Petrobras é uma grande iniciativa do lulismo de resultados. Afinal!

Atenção, nossos quinze leitores, por favor, anotem aí o que eu vou ousar dizer: o blog da Petrobras (aqui) é uma das melhores iniciativas políticas daquilo que eu tenho chamado aqui de lulismo de resultados. Começa a se aproximar o período eleitoral e o urso polar petista desperta da sazonal hibernação política, e passa a pensar e militar, com lucidez e descortino político. Menos mal.

A direita está baratinada com o blog. Não falam em outra coisa. Há tempos se vinha notando, especialmente em programas de tevê, uma certa ranhetice com a internet e os novíssimos veículos que dela derivam, propiciando a edição customizada da informação por parte do público interessado, ou seja, a massa. A internet e seu universo de formas de comunicação constituem hoje um fenômeno de massa, uma espécie de zeitgeist incontornável, dinâmico, indomável e de cuja formulação participam infinitos sujeitos – sempre como sujeitos, e não como meros objetos.

O blog da estatal de energia incomoda muito mais pelo precedente que inaugura do que propriamente pela presença em si, na cena pública brasileira. A mídia oligárquica acusou o golpe, e trata de fazer denúncias baseadas nos argumentos mais postiços que encontrou. Reclama portando consignas democráticas que sempre pisoteou e ou fez questão de ignorar. Sem a menor intimidade com os valores da democracia e da tolerância plural, ao contrário, quando foi conveniente para o seu business (vide 1964), a mídia oligárquica atropelou tudo que hoje acalenta como sagrado e intocável.

A chamada acumulação primitiva de prestígio, reputação e tradição foi toda amealhada graças a um ambiente arranjado para a prática da farsa informativa, da notícia usinada, e do cálculo econômico visando interesses de classe, de grupo ou de família. Caso contrário, como explicar que menos de dez empresas (todas familiares) detenham o monopólio da informação midiática no Brasil?

Vou ficar sentado esperando a resposta, que certamente nunca virá, jamais.

O editorial de hoje do jornal Zero Hora, não casualmente pertencente a uma conhecida família do Rio Grande do Sul, é pródigo no uso de conceitos e categorias fundados no ideal iluminista e na revolução liberal-burguesa, a propósito do blog “Fatos e Dados”. Mas não têm a menor intimidade com essas bandeiras históricas, ao contrário, praticam um jornalismo de puro espetáculo, apoiando (sempre de forma dissimulada e oblíqua, nunca de forma aberta e franca) os maiores atentados contra os direitos da cidadania, a favor da agressão ambiental, a favor de agentes políticos conservadores, e permanentemente conspirando contra uma agenda política desobrigada dos velhos lobos em pele de cordeiro. Além do mais, trata-se de uma empresa que sente-se no direito de descumprir a lei das comunicações do País, uma vez que detém monopólio de emissoras no RS e em Santa Catarina que desafiam a obediência legal do setor.

O editorial de hoje repete a nota de ontem da ANJ (a corporação oficial do baronato midiático brasileiro) defendendo um “relacionamento elegante entre fonte e jornalista”. Muito bem. Que tal, então, a mídia reformar a informação mentirosa e grosseira, segundo a qual havia cerca de mil e quinhentos jornalistas empregados no Setor de Comunicação Social da Petrobras?

A estatal informou que não havia esse número de profissionais lá empregados. Até hoje, e já se passaram quinze dias, não saiu uma linha retificando a notícia fabricada com propósitos os mais canalhas. Que sorte de elegância estão clamando?

Essa é a mídia brasileira, de ontem, de hoje, mas que não será a do amanhã. A mídia – tal como a conhecemos e sofremos – está com os dias contados. Por isso esperneia tanto diante de um simples blog, que qualquer menino patrocina.

Contato com o blog Diário Gauche:

cfeil@ymail.com

Arquivo do Diário Gauche

Perfil do blogueiro:

Porto Alegre, RS, Brazil
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