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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Corrida eleitoral em Porto Alegre


Coligação imobiliária já venceu a eleição

A corrida eleitoral em Porto Alegre está irremediavelmente pautada pelos especuladores do solo urbano (o nome da Natureza na formalidade civil do governo local). Com o agravante de que uma grande empresa de comunicação de massas tem igualmente um braço operacional na indústria da construção civil e na incorporação seriada de business imobiliários, formando um amplo arco de interesses que necessitam do poder público local para a realização de seus capitais.

Neste sentido, antes mesmo de corrida a carreira – que deve ocorrer em 5 de outubro, em primeiro turno – a coligação de interesses imobiliários já tem os seus objetivos praticamente contemplados.

Na prática, como isso aconteceu? Do desdobramento de dois êxitos líquidos, já registrados:

1) O completo banimento da política dos temas eleitorais. Os problemas urbanos são reduzidos a dificuldades de natureza gerencial, operacional ou metodológica – menos política. A discussão política significaria a indeterminação e o descontrole da pauta por parte da coligação imobiliária que galvanizou (de forma invisível) o processo eleitoral. Todos os candidatos (as) majoritários acatam essa determinação tácita.

2) Duas candidaturas preferenciais da coligação imobiliária – Fogaça e Manuela (foto) – disparam na feira de apostas, garantindo com grande antecipação um resultado favorável ao projeto dos especuladores associados.

A conjuntura macroeconômica exige que os militantes do urbanismo de resultados sejam vitoriosos neste pleito em Porto Alegre. Por dois motivos:

1) Depois de quase três décadas estagnada, a indústria da construção civil no País dá um salto de crescimento extraordinário, exigindo agressividade no mercado, relações amigáveis no setor público local, e novas formas de apropriação privada dos bens públicos.

2) A Copa Mundial de Futebol de 2014 projeta novas oportunidades de negócios para os quais é exigido igualmente administração local pró-ativa e propósitos convergentes.

Mas existem dois complicadores que certamente preocupam os vitoriosos por antecipação: a criminalidade do bas-fond organizada em torno do comércio de drogas e o domínio de territórios móveis na periferia da cidade, bem como, as comunidades cidadãs subtraídas e sonegadas de direitos pela inação e negligência do poder público local.

Analisando rapidamente a retórica televisiva dos candidatos Fogaça (PMDB-PDT-PTB) e Manuela (PCdoB-PPS do ex-governador Britto), verificam-se acentuadas convergências de propósitos, quase constrangedoras.

Ambos, porta-vozes e intérpretes burocrático-administrativos da coligação imobiliária, propugnam – sem ousar dizê-lo – por uma cidade-empresa que se constitua num território privilegiado de formas de gestão, eliminando o antigo (porém atual) conceito de cidade como suporte de identidades políticas.

Ambos – Fogaça e Manuela – propugnam claramente pela aceleração do processo de encolhimento dos espaços públicos na cidade, em favor de espaços censitários. Uma perfeita tradução disso é o Projeto Pontal do Estaleiro, na área do extinto Estaleiro Só, para citar exemplo único. A área será híbrida: nominalmente, continuará sendo uma área pública, com vias de acesso, equipamento urbano público instalado, circulação consentida, mas o privilégio de apropriação do landscape é privado, segundo as regras não escritas do poder aquisitivo, renda, etc. Portanto, censitário.

A estratégia dos espaços censitários não-públicos deve ser prática usual da coligação imobiliária, em toda a extensão da cidade, nos próximos anos.

Ambos – Fogaça e Manuela – adotam o discurso dos empreendedores da construção civil urbana que, se repetidos acriticamente (como o são), resultam em mais e profundas diferenças sociais e econômicas na cidade, porque hierarquizam e estratificam concretamente o perfil urbano.

No momento em que Porto Alegre se prepara para grandes transformações na superfície de seu território urbano, haja vista o já referido boom da construção civil brasileira, e se mantidas as atuais correlações sociais de profunda desigualdade, isso irá significar uma super-transferência de riqueza e oportunidades econômicas, das comunidades cidadãs em geral para os grupos especuladores e rentistas, sejam daqui, sejam d'alhures.

Coisas da vida.


16 comentários:

Anônimo disse...

Perfeita análise, Feil. Isso vale para outras grandes cidades brasileiras onde os fenômenos só mudam de nome mas se repetem com a mesma fome especulativa.

Anônimo disse...

Dia 5/10 os cordeirinhos aqui vão só disfarçar que estamos votando democraticamente.
O faz de conta de certas democracias é disso que vcê está falando né Feil.

Anônimo disse...

A conta mais cara que o PT vai pagar, começará logo que se saiba que a Manu e a turma do Britto irão disputar o 2o.turno com Fogaça.É certo que o PT das "oportunidades" ficará doidinho para sentar e negociar a fatia que pode lhe caber caso vença a turma da Manu/Britto.E aí começa o pau.Vem de Brasília a ordem para apoiar Manu/Britto, que poderá acarretar a desetabilização de Roberto Freire (cabo Anselmo)e sua direitalha no Congresso.Os do contra verão que coisas piores já aconteceram como a aliança Pimentel/Aécio em BH e ficarão distantes do bolo do poder.Afora a depressão a outra saída será a da porta....Benvindos a mundo dos céticos/realistas

Anônimo disse...

Eu disse q a eleiçao estava decidida quando da previa do PT.

Rossetto era a alternativa, era a SAUDE, PUJANçA, SERIEDADE, CONFIANçA, ALEGRIA DE PARTICIPAR!!!

Minha tese (outra q se confirma) é a de q nao se disputa mais eleiçoes e sim previas, se todos os candidatos forem "alinhados", nao importa quem vença.

O importante é deixar de fora os candidatos sérios e comprometidos com a populaçao.

Anônimo disse...

"Casanova" e seu costumeiro semblante de serenidadade.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Se o Rossetto fosse o candidato do PT, ele estaria empatado com o Onix e a Luciana para disputar o terceiro lugar. Eu penso exatamente ao inverso do Feil. Acho que Porto Alegre vai entrar num tempo de grandes oportunidades. Vejam o que está acontecendo no Pontal do Estaleiro, as minorias participativas protestam. Se o Fogaça já patina com isso, imaginem a Maria do Rosário... Ela simplesmente não faria nadica daquilo. Aliás se dependesse do PT não haveria hoje Av. Beira Rio... Porto Alegre faz bem em optar por dois projetos mais modernos e menos medíocres do que os 16 anos do PT.

Anônimo disse...

Esta é uma das questões para o próximo período que deve ser pauta de resistência da esquerda, apesar da falta de articulação para barrar qualquer ação do capital imobiliário.
Um outro projeto que seria interessante conseguir tentar barrar é o do prédio em frente ao cine guion.

Anônimo disse...

Esta é uma das questões para o próximo período que deve ser pauta de resistência da esquerda, apesar da falta de articulação para barrar qualquer ação do capital imobiliário.
Um outro projeto que seria interessante conseguir tentar barrar é o do prédio em frente ao cine guion.

Anônimo disse...

Grande análise. Fadados ou não à tragédia, ainda dá tempo de pegar uma bandeira e lutar. Não nos desacreditemos: um governo não se faz só do Prefeito, logo, Maria do Rosário é o PT de volta à Porto Alegre. Um passo fundamental para voltarmos ao Piratini e aí sim termos POLÍTICAS DE GOVERNO e não GESTÕES DE GOVERNO(?).

Anônimo disse...

Esse é o diagnóstico da constatação de forças econômicas que apoiam uma candidatura que tem duas caras: fogaça e ela. Não há diferença entre ele e ela. Eles são sustentados pelas mesmas fontes patrocinadoras, partidárias, bancárias, sem falar do dinheiro público vindo da corrupção.
Não sei o que se passa aqui no RS. Parece que um contingente da população está infectado pelo virus da alienação, da hipocresia, do consumismo... que contagiou até o PCdo B e o PSB.
Quem tem luz de uma Estrela segue na Frente, caminhando em sintonia com os projetos do Presidente Luiz Inácio do Partido dos trabalhadores. Esse sim, é um caminho da Ética, da Política, da Estética, da Liberdade, da Fraternidade, da Democracia, da Cidadania... e aqui está representado pela Maria do Rosário.
Cândida

Anônimo disse...

O Diagnostico de Feil é super realista. O que a gente ver hoje em POA está em perfeita sintonia com o qeu o PT nacional está fazendo....

Anônimo disse...

Realmente os carniceiros incompetentes, financeiros especuladores, banqueiros falsarios, politicos traidores nao conhecem o PT da Democracia Socialista.

Aquela q venceu em 1998, e realizou o melhor governo q o RS viu nos ultimos 30 anos.

Seres como o maia e os especuladores do setor imobiliario sao incompententes, funcionam a força de trapaça, basta ver o q fizeram nos usa, 13 trilhoes q caem agora na cabeça da populaçao.

Decadas de luxo e arrogancia desmascaradas agora, os padeiros, pedreiros e carpinteiros pobres deverao pagar pelos iates e aptos de luxo...

Que blza...

Anônimo disse...

E se fosse Olivio Dutra a querer salvar mais Morgan e Goldman???

kkkkkkk, nao consigo colocar isso no meu cerebro como sendo uma frase possivel!!!

Anônimo disse...

O MAIA, PRÁ MIM, TÁ FALIDO ! SUA CABECINHA TÁ DEFORMADA !! NEOLIBERAL ESTATIZANDO ??

Anônimo disse...

Oi, Edu!
Do ponto-de-vista da escolha partidária nas prévias do PT, eu tb seria mais Rossetto. No entanto, sou do tempo em que não importava o nome a ser escolhido, pois qualquer pessoa estaria apta a promover o projeto político do Partido dos Trabalhadores.
É com este espírito que voto, mesmo num contexto político diferente, em que as individualidades passam a ser o atrativo, em detrimento da política, essa coisa marqueteira que todos os partidos aderiram sem questionar o porquê.
Os eleitores que terminam votando no PT, sabe-se lá porque razões, não têm a mínima idéia que existem tendências, quanto muito, se lembram que houve uma prévia pela "badalação" midiática. Falo daquele eleitor que o PT tem, digamos, "flutuante".
Por isso, esse tipo de discussão sobre a responsabilização das tendências em caso de uma tragédia eleitoral petista, será a última coisa que desejo ver pautada numa análise acurada da derrota da Mª do Rosário. Porque o furo é bem mais embaixo. Essa deve ser uma discussão interna, que dirá respeito aos filiados, mas que não atendem à pergunta sobre o anti-petismo, a despolitização, estas sim, as responsáveis pela vitória da direita e tudo o que a gente, que é de esquerda, pensa, discute, formula.
Estou te escrevendo numa boa, porque esse tipo de debate que propões é gasto de energia que não condiz com àquilo que propões. Tangencia o problema, mas não dá conta das derrotas eleitorais petistas nos 3 últimos pleitos mui caros a nós, porto-alegrenses.
É preciso uma análise acurada, levantamento de outras hipóteses, pesquisa, tudo visando a formulação de estratégias para a eleição de 2010 no estado.
Te digo mais: este tipo de análise deve ser feita, principalmente, em caso de vitória da Mª Rosário, pois eu acredito ser possível. Responder a pergunta: por que foi tão difícil vencer, deve ser a questão. E o resultado das prévias eleitorais partidárias deve ser o último item a ser analisado pelo Partido dos Trabalhadores na minha opinião.
Abraço!

Anônimo disse...

Caríssimos:
O amigo do amigo enviou-me este link. Já adorei o título. Falta neste país o projeto da nova esquerda. Luto para dar minha contribuição, o que é difícil, pois insisto demais na bandeira do igualitarismo. E aproveito para desqualificar os comentários de Edu, que -aparentemente- ainda não se deu conta de que precisamente na Administração Olívio começou a tomar corpo em Porto Alegre o aparelhismo do partido e sub-partido deles. Não teria sido o caso de nosso Bigode ter procurado criar uma "administração das coisas" decente para a cidade, por exemplo, sem cargos em comissão, mas buscando democracia para a própria administração municipal? O puxa-saquismo e os cargos em comissão acabaram com este projeto de partido de esquerda que já foi meu. O que eles fazem é apenas "governo dos homens". Se é que era mesmo isto o que Marx dissera na "Crítica do Programa de Gotha".
saudações de la gauche gaúcha.
Dudu

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