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terça-feira, 2 de setembro de 2008

Discussão sobre o pré-sal



Senadores fazem audiência pública com cartas marcadas e figurinhas carimbadas do neoliberalismo brasuca

A Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT) do Senado Federal realizará, em setembro, uma Audiência Pública para discutir as novas tecnologias de prospecção de petróleo nas camadas de pré-sal. A convocação da Audiência atende ao requerimento dos senadores Gim Argello (PTB/DF), Wellington Salgado (PMDB/MG), Antônio Carlos Magalhães Júnior (DEM/BA) e Flexa Ribeiro (PSDB/PA). A informação é da Agência Petroleira de Notícias.

Os convidados para participar da audiência no Senado são: Edison Lobão, ministro de Minas e Energia (MME); Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras; Haroldo Lima, presidente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP); David Zylbersztajn, ex-presidente da ANP; Jean Paul Prates, secretário de Energia e Assuntos Internacionais do Rio Grande do Norte; Luis Carlos Costa Milan, presidente da BG – Bristol (empresa parceira da Petrobras); Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE); Eike Batista, presidente do Grupo EBX e da MMX; German Efromovich, empresário; Eloy Fernandes, presidente da Organização Nacional da Indústria do Petróleo; e João Carlos França de Lucca, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP).

Nesta audiência pública, apesar de ter sido declarado que irão ser discutidas “as novas tecnologias de prospecção de petróleo nas camadas de pré-sal”, na realidade serão discutidos temas diversos com relação ao pré-sal, pelo simples fato que a lista dos convocados não contém um único especialista em tecnologias relativas ao pré-sal. Mas, este fato é até louvável, pois o pré-sal é extremamente importante para nossa sociedade e o fato de existirem senadores preocupados com o tema é meritório.

O que se lamenta é a composição da lista de convocados. Ela é reveladora, pois os senhores senadores já mostraram como pretendem se posicionar com relação ao pré-sal. Na lista, existem quatro representantes do governo federal que não poderiam deixar de ser convocados, pelo cargo que ocupam, mesmo que algum seja dispensável por sua figura simplória, como o caso do ministro Édison Lobão.

A seguir vemos quatro representantes da classe empresarial, dois dos quais são representantes de empresas estrangeiras (o senhor De Lucca é presidente da Repsol, alem do IBP). Dentro dos princípios de uma convocação idelogicamente ampla, eles merecem estar presentes, também. Os senhores David o-petróleo-é-vosso Zylbersztajn e Elói Fernandes são ex-diretores da ANP, reconhecidos pela visão neoliberal, incluindo a defesa da imutabilidade do modelo existente, que foi por eles implantado. O senhor Jean Paul Prates, antes de ser secretário de um governo estadual, era bastante conhecido como consultor de visão neoliberal, muito atuante na fase de implantação do modelo vigente. Se retirarmos da análise os representantes do governo federal e os dois empresários nacionais (que aspiram fatias do pré-sal), todos os demais convocados se posicionam a favor da permanência do atual marco regulatório (entreguista e privatizante).

É com estes nomes que os senhores senadores querem obter informações para se posicionarem?

E os representantes dos sindicatos (CUT, CONLUTAS, Sindipetros, FUP, FNP, FISENGE, FNE e outras entidades)?

E os representantes das associações de classe (Ordem dos Advogados do Brasil, Clube de Engenharia, Federação Brasileira de Associações de Engenheiros, Associação Brasileira de Geólogos e muitas outras)?

E os de outras entidades da sociedade civil (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, Clube Militar, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra e tantas outras), pois o pré-sal é de interesse de toda a sociedade brasileira?

Por que os senhores senadores não consideram a opinião desta parcela majoritária da população? Será que é porque estas entidades excluídas não contribuem financeiramente nas suas campanhas eleitorais?

Ilustração: foto de David Zylbersztajn - ex-genro de FHC -, conhecido por ter declarado certa vez numa roda internacional de investidores, a célebre consigna nacionalista (invertida) da campanha pela Petrobras:
- O petróleo é vosso!

3 comentários:

Anônimo disse...

CF, parabéns por este blog atento, inteligente e crítico. Ainda bem que - como dizia Mafalda de Quino a seus amigos: nós os bons não estamos sozinhos. Há poucos dia me deparei com um blog um tanto ameaçador e assustador de um tal de reinaldo azevedo, onde a direita deita e rola pedindo cabeças e chamando militares, etc. num "revival" de obscuridades tão a gosto dessa corja.
Teu blog tem nos dado lições de como estar sempre atento ás linhas e entrelinhas dos jornalões e revistões que se intitulam "imprensa livre" - de que eu não sei -, porque certamente não falam e opinam por mim e um monte de gente. Isso, estão livres do povo, das instituições republicanas que amolecem, se liquificam, quando se trata do poder econômico e suas redes de influência.
Enfim, longa vida a este blog e seu editor.
Um abraço
Marcos

Anônimo disse...

Mas que tchurma!! Que nominata!! Donde sai tanta gente "interessada"? Como chegaram lá e sentaram à mesa? E os outros? Os que não estão na lista? Junto com o petróleo do pré-sal já estou vendo jorrar no horizonte, fortunas rápidas, criação de megapoderes à margem, remessas secretas, calotes, patifaria aos montes, inquéritos inócuos, operações da PF (criticadas), lambuzos de toda espécie e nós aqui da planície assistindo tudo, levando (só) os respingos dessa dança dos espertos. Em algum lugar do planeta, o petróleo acenou com respeito, democracia, sustentabilidade e distribuição de riqueza?
Sei não!!
Democracia e república pra cima deles.
Marcos

Anônimo disse...

Excelente intervenção, Cristóvão! A mim parece que, se não houver uma ampla mobilização da sociedade, representada pelas referidas entidades, só restará, depois de tudo "juramentado e sacramentando", partir para a velha estratégia de apresentar pautas reinvindicatórias que serão objetos de inúmeras negociações. Acho que os movimentos sociais e suas entidades de classe devem pautar essa discussão a partir de uma grande mobilização nacional. Afinal, se as reservas forem da dimensão que se anuncia, o petróleo poderá mudar a face do país. Será que a tal democracia participativa ficará na base do "fala que eu te escuto"? Não seria o momento de articular uma grande conferência nacional para debater esse assunto? Com relação aos senadores, todos são profundos ignorantes não só em relação ao petróleo mas também em questões de Ciência e Tecnologia. Wellington Salgado, talvez por conter "sal" no sobrenome, possa se imaginar temperando algum debate. cadê o convite ao MMA?

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