Você está entrando no Diário Gauche, um blog com as janelas abertas para o mar de incertezas do século 21.

Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O grande Ry Cooder

Governadora expressa regozijo com a tragédia das enchentes no RS


O estranho comportamento de YRC

Recebo mensagem de um leitor que pede para não ser identificado. Ele manda o link para um vídeo da RBS onde aparece a governadora Yeda Rorato sobrevoando a região noroeste do estado, municípios de Três Passos e Três de Maio, na última sexta-feira, dia 27 de novembro.

Como se pode ver nas imagens, a governadora encontra-se a bordo de helicóptero que sobrevoa uma área urbana alagada pelas chuvas intensas que assolam o Sul, há três semanas. Até aí, tudo normal, aparentemente, tirando o drama humano dos desabrigados. Mas, de súbito, a governadora esquece que está perto de uma tragédia, casas alagadas, sofrimento para milhares de pessoas, bens e pertences inutilizados, ameaça de disseminação de doenças, prejuízos incontáveis, etc., e - sabe-se lá pra quem - começa a acenar, como se reagisse com regozijo diante do que estava vendo. De outro lado, custa a acreditar que alguém estivesse enxergando a governadora no helicóptero, a uma distância entre 500 e mil metros, e abanando efusivamente para Sua Excelência, que retribui a alegria.

Fica o registro. Me abstenho de comentar. Declaro-me incapacitado.

Com a palavra os profissionais da área psi.

Veja o vídeo aqui.

Obama negociou com a cabeça de Zelaya



Venceu a política do fato consumado ou do golpe consumado da direita, com o carimbo da Casa Branca

Acho que esse é o recado que a situação de Honduras envia para toda a região. E isso não é visão de brasileiro, ou de sul-americano.

É um legítimo representante da diplomacia americana que expressou a decepção com a nova equipe da Casa Branca.

Robert White foi embaixador americano em vários postos. Entre março de 1980 e março de 1981, serviu em El Salvador. Tempos difíceis. Era o começo da sangrenta guerra civil que durou 12 anos.

Na época, criticou a ultra direita e denunciou militares e grupos paramilitares de estavam cometendo atrocidades. Claro, foi chamado de volta assim que Ronald Reagan assumiu a presidência.

O ex-embaixador é presidente do Centro de Política Internacional e escreveu um artigo sobre a situação de Honduras que começa com a seguinte frase:

“Agora é possível reconstruir, com um bom grau de precisão, como a administração Obama transformou um triunfo diplomático iminente em uma derrota negociada”.

Ele deixa claro que os Estados Unidos trocaram o apoio que vinham dando a volta da ordem democrática, em Honduras, pela aprovação de duas indicações para o corpo diplomático (uma delas o futuro embaixador no Brasil) que a direita radical estava bloqueando no Congresso.

E o que é pior, ele descreve, para quem ainda não tinha percebido, como o Departamento de Estado enganou Manuel Zelaya, fazendo o presidente crer que havia realmente um acordo com os golpistas liderados por Roberto Micheleti.

Zelaya acreditou que os Estados Unidos zelariam pelo cumprimento do acordo. Pura ficção. Os gringos, mais espertos, deixaram a linguagem do acordo vaga o suficiente para permitir que nunca fosse levado a cabo.

O ex-embaixador conclui: “O resultado desta diplomacia cínica e amadora não poderia ser pior”.
Mas é o último parágrafo do artigo do diplomata americano que mostra para onde vai a relação dos Estados Unidos com o resto do hemisfério, que tanto acreditou nas promessas de mudança do candidato democrata:

“É triste contemplar como a administração Obama se atrapalhou com um desafio para o qual tinha o apoio de todo o hemisfério. Não é a toa que o Presidente Lula acusou o Presidente Obama de estar revertendo a promessa de uma nova relação com a América Latina”.

Eu só acrescentaria um dado a mais. Durante a campanha eleitoral, já havia sinais de que os novos ares nem sempre se traduziriam em novas práticas.

O candidato Obama publicou um documento traçando as linhas mestras da política para a América Latina que adotaria, caso fosse eleito.

E um dos parágrafos dava apoio à operação do exército da Colômbia em território equatoriano, em março de 2008. A plataforma de Obama não levou em conta o repúdio unânime da região à operação militar colombiana.

E agiu agora, mais uma vez, sem dar a menor pelota para a unidade diplomática contra o golpe de Estado que se formou na OEA. Ou seja, não foi uma grande surpresa.

Texto (menos os títulos) da jornalista Heloísa Vilella, do R7.

domingo, 29 de novembro de 2009

Campos geíricos


Tarefa


Morder o fruto amargo e não cuspir
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...


E quando em muitos a noção pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.


Geir Campos (1924-1999)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dubai se dissolve no ar


Desanda mais uma fraude neoliberal

O paraíso na Terra, a nova Xanadu, um lugar dos sonhos, o mel correndo nas ruas - todos os clichês são nada para definir o que foi Dubai. Foi - pretérito perfeito do verbo ser.

Um país pequeno (83 mil quilômetros quadrados), com pouca gente (4,7 milhões de pessoas) e com algum petróleo, Dubai parecia fadado a ser mais uma das ditaduras árabes em que uma minoria usufrui dos petrodólares e a massa da população vive na miséria das tendas. Esse script, porém, não valeu.

Os Emirados não apenas atingiram um elevado padrão de vida como também conseguiram algo raro para um país árabe. Sua economia reduziu a dependência do petróleo. Hoje, Dubai depende em apenas 15% da renda do petróleo. As faraônicas construções não são palácios reais, mas hotéis e sedes de bancos.

Mais do que tijolos e concreto, Dubai conseguiu firmar-se como um centro financeiro regional, ao oferecer um ambiente favorável aos negócios e uma sociedade islâmica aberta. Por isso a forte repercussão da notícia que circulou nesta madrugada, segundo a Reuters, de que a holding Dubai World estava tentando postergar o pagamento dos 59 bilhões de dólares em dívidas.

Com cerca de 80 bilhões de dólares em ativos, a Dubai World é o veículo de investimentos do governo do emirado que permite aos investidores internacionais participar, por exemplo, da construção de hotéis, resorts e marinas às margens do Golfo Pérsico. Julgava-se que as reservas em moeda forte de Dubai tornavam sua economia tão sólida quanto seus hotéis.

A rigor, Dubai se sustentou até o momento porque resulta da combinação de dois fatores favoráveis ao capitalismo de cassino: 1) licença ilimitada para depositar qualquer moeda ou valor nos bancos locais, sem ter que explicar a origem do recurso; 2) sossego absoluto para milionários de qualquer parte do mundo, não importando a origem - legal, criminosa ou mista - da fortuna de seus hóspedes.

Admira que essa fraude monumental tenha durado quase trinta anos.

TV Globo quer um Itamaraty de vira-latas


O sabujismo diplomático foi formulado pelo Farol de Alexandria

Ontem à noite, consegui ver o Jornal Nacional da tevê Globo. Admito que se continuar cometendo essa imprudência, em poucos dias mais estarei definitivamente convertido ao lulismo de resultados. É inevitável, a estupidez da Globo provoca o efeito contrário ao pretendido por seus editores, joga o espectador nos braços gordinhos de Lula. Se o sujeito não for Homer Simpson ao-pé-da-letra, se tiver o lampejo mais adiantado - pouca coisa - que as governadoras Yeda Rorato e Sarah Palin, se não zurrar agudo e não andar de quatro, vira lulista no ato. Inverte-se, assim, a intenção original da Globo. [Aliás, suspeito que aí mora um dos motivos da popularidade exponencial de Lula.]

A tevê da família Marinho está atacando o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim. É que o ministro afirmou que o Brasil não vai reconhecer as eleições de Honduras, marcadas para o próximo domingo. Já o governo dos Estados Unidos defende que o reconhecimento do resultado das eleições presidenciais em Honduras pode ajudar a colocar um fim à crise política que se instalou no país desde a deposição de Zelaya, em 28 de junho passado.

Se vocês desconfiam que o presidente Lula é conciliador, tenham a mais absoluta certeza que o presidente Obama incorpora no fundo cavo de sua nobre alma a quintessência da própria conciliação. Obama está convicto que eleições, qualquer eleição, têm propriedades mágicas de "branquear" (a ótima expressão é de Marco Aurélio Garcia) a sujeira e a vileza de um golpe de Estado, como o golpe que foi desfechado contra Manuel Zelaya em Honduras, meses atrás. Obama acredita nisso porque quer proteger os interesses dos 10 ou 15 bilhões de dólares que empresas norte-americanas têm aplicados em Honduras, especialmente, em suspeitos business de maquiagem de mercadorias. Obama quer combinar variáveis inconciliáveis de interesses multitudinários: democracia formal com golpe sujo com eleições fake com investidores inescrupulosos com pose de detentor de Nobel da paz com anti-Bush com oligarquias fascistas centro-americanas... Quer harmonizar num bolo único dezoito ou setenta fios desencapados. Só isso.

O que a tevê Globo está propondo ao Itamaraty, da forma mais desavergonhada e vira-latas, é que o Brasil siga com subserviência e abnegação a política externa do Departamento de Estado dos EUA.

Quem é o formulador da política sabuja de acompanhar os Estados Unidos em todos os âmbitos da sua política externa? Ora, o nosso Farol de Alexandria, o príncipe dos sociólogos, o homem que estudou anos a fio o Rio Grande do Sul e jamais suspeitou que aqui tivesse havido um processo de revolução modernizadora, no final do século 19.

Dias atrás esteve no Brasil o chefe de Estado de um país emergente da Ásia, com um mercado de 70 milhões de pessoas, e a tevê Globo orientou os seus Homers espalhados pelo território brasileiro a manifestarem seu protesto contra o tal líder. Em Porto Alegre, eu vi uma dúzia de sionistas, se tanto, e o untuoso vereador Alceu Brasinha, atendendo o chamado da Globo. Fiquei comovido.

Essa é a política externa que a Globo e o Farol querem para o Brasil.

Não vejo mais a Globo. Caso contrário, daqui a pouco irei pendurar no peito um bótom com os dizeres: Volta Zé Dirceu!

Coisas da vida.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Mujica será eleito no Uruguai


Candidato governista lidera com 49,6% das intenções de voto

A três dias do segundo turno da eleição presidencial no Uruguai, o candidato governista José Mujica (Frente Ampla, centro-esquerda) mantém a dianteira nas pesquisas com 49,6% das intenções de voto, contra 42,1% de Luis Alberto Lacalle (Partido Nacional, direita). A informação foi tirada parcialmente da Folha, de hoje.

Analistas consultados pela Folha dão como certa a vitória do ex-guerrilheiro e senador Mujica, 75 anos, candidato do presidente Tabaré Vázquez, cuja gestão é aprovada por 70% da população.

"Lacalle não vence nem com os votos de todos os indecisos", afirmou Juan Doyenart, da Interconsult, responsável pela pesquisa que ouviu 900 pessoas de 19 a 22 de novembro. Votos em branco somam 3,8% e indecisos, 4,5%.

Para o cientista político Gerardo Caetano, o ex-presidente Lacalle (1990-1995), 68 anos, errou ao tentar vincular Mujica a um caso policial. "Houve efeito bumerangue", afirma. Tentou ainda outra estratégia, com tom emocional na propaganda e ênfase em uma ampla baixa de impostos, mas a mudança veio tarde, diz Caetano.

O clima de enfrentamento foi responsável pela ausência de debate durante o segundo turno - os candidatos não entraram em acordo sobre regras.

Outro revés na opinião pública para Lacalle, segundo Caetano, foi a revelação de que sua publicidade de TV usou sobras de imagens de campanha do deputado eleito na Argentina Francisco De Narváez. O ex-presidente contratou o mesmo publicitário do deputado argentino.

Já Mujica (foto) apostou em uma campanha discreta, com poucas entrevistas e aparições públicas, para evitar erros e garantir a vitória. O candidato da Frente Ampla recebeu nesta semana mensagem de apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi entregue pessoalmente pelo ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT).

A incontrolável vontade de ajudar o prefeito-preguiça


Mel na direita, cera na verdade

É tanta e tão apaixonada a vontade de exaltar o apático prefeito José Fogaça (PMDB), que a abelhinha de ZH (fac-símile acima) não se importa em atropelar os fatos e a memória que as pessoas têm deles.

A operária do mel e da cera afirma que a ministra Rousseff teria desmontado - ontem, em entrevista à radio Gaúcha - o "discurso dos petistas de que o metrô não saiu porque o prefeito José Fogaça não se esforçou".

Do "discurso petista" eu nada sei, mas a ministra jamais diria que o prefeito-preguiça não se esforçou - oh! Pedro Bó.

Rousseff - que não bebe água quente - espera contar com o voto dos peemedebistas - preguiçosos ou não - para 2010, portanto, não cometeria esse deslize grosseiro em época pré-eleitoral.

Ademais, a falha de Fogaça no que se refere ao metrô de Porto Alegre não foi a de pouco ou nenhum esforço, foi sim - e isto está fartamente documentado - a falha grave de ter apresentado um traçado completamente inadequado a um transporte de massas. O prefeito-preguiça não queria transportar trabalhadores todos os dias, o prefeito-preguiça queria transportar torcedores só em dias de jogos de futebol. Ponto.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O Rio Grande Corrupto

Jornal JÁ, edição extra de novembro/2009, pode ser adquirido nos seguintes endereços, em Porto Alegre:

CENTRO
Banca do Julio – Mercado Público
Banca do Leandro – Largo Glênio Peres
Banca das Apostilas – Borges de Medeiros c/ Sete de Setembro
Banca do Clovão – Borges de Medeiros, 915, c/ Fernando Machado
Banca do Paulo – Andrade Neves c/ Borges de Medeiros
Banca da Alfândega – Praça da Alfândega, Andradas c/ Caldas Jr.
Miscelânia Sáskia – Fernando Machado, 806 (ao lado de um supermercado)

BOM FIM/SANTANA
Palavraria – Vasco da Gama, 165 (tele-pedido pelo 3268 4260)
Tabacaria Braz – Venâncio Aires, 1137, em frente ao HPS
Banca Folhetim – Jacinto Gomes c/ Venâncio Aires
Locadora Mondo Vídeo – Jerônimo de Ornellas, 531, c/ Santa Therezinha
Mercado Zerbes – Jacinto Gomes, 463

INDEPENDÊNCIA
Av Independência, em frente a 375, perto do Colégio Rosário

MOINHOS DE VENTO
Revista & Chocolate – Padre Chagas, 330

Telefone da Editora JÁ: (51) 3330 7272

O discurso delirante do yedismo de fracassos



A fala da Fiergs
está carregada de violência simbólica

O hábito de viver isolado da sociedade de massas e da insegurança que a mesma acarreta têm provocado uma certa alienação suplementar nos indivíduos. Refiro-me aos indivíduos exclusivistas, os endinheirados, que moram em condomínios de segurança máxima, deslocam-se em veículos de vidraçaria negra, frequentam rodas existenciais e negociais tão reduzidas quanto seletas. Esses.

Entre esses, certamente está o presidente Paulo Fernandes Tigre, da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul, Fiergs. Hoje, em artigo publicado no jornal Zero Hora, Tigre teve oportunidade de mostrar o quanto está alheio à realidade que o cerca. Para tanto, ele montou um discurso completamente artificial para representar a realidade, não para narrá-la, mas para substituí-la com palavras postiças, eufemismos, retóricas e outros rolando-lerismos nauseantes. A conversa fácil do presidente Tigre bóia no mesmo molho marrom onde foi gerado e nutrido o discurso do yedismo de fracassos.

O pensamento autônomo e a percepção consciente e politizada da realidade sul-rio-grandense sentem-se violentados com o discurso mecânico da propaganda yedista. Essa retórica é violenta, porque debochada. Supõe que está tratando com uma vara de porcos ou um rebanho de cordeiros. Implícito a esse blablablá tigre-yediano há um profundo desprezo pela cidadania e sua memória, porque é uma linguagem que induz ao esquecimento quando afirma que "esse é o momento de o Estado dar um salto, baseado no ensino de qualidade, na pesquisa e na tecnologia. [...] As condições estão postas para o Rio Grande ser reconhecido como o Estado da Inovação".

Como assim? Um estado - como o RS yedista - que ocupa o 24º lugar entre os demais em investimentos em educação básica, como pode investir (no luxo) de pesquisa e tecnologia? Onde estão esses recursos, presidente Tigre?

Já não se exige que o presidente da Fiergs vá censurar a governadora pela anomia administrativa do estado, nem pelo pântano moral no qual chafurda - mesmo porque a Fiergs é fiadora política do atual governo - mas esperar que o RS seja "reconhecido como o Estado da Inovação" já é um exagero imperdoável. Prova de severa alienação que pode abalar a própria saúde mental de seu desventurado portador.

Coisas da vida.

Na mídia, tudo é publicidade


Só se podem chamar notícias ao que alguém, em qualquer lugar, pretende ocultar, tudo o mais é publicidade.

Lord Alfred Charles William Harmsworth (1865-1922), o Visconde de Northcliffe, grande magnata da imprensa inglesa, foi dono dos jornais Daily Mail, The Daily Mirror, Sunday Times, Observer, etc.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

PMDB/RS mergulha na realpolitik



Direita irá procurar o candidato petista?


Depois de ler o texto "Indícios de reviravolta" na coluna da abelhinha Rosane de Oliveira, hoje, em Zero Hora (aqui), constata-se que o PMDB de Pedro Simon e Eliseu Padilha está mergulhando lenta e inexoravelmente naquilo que Metternich chamava de realpolitik. Sim, porque desistir de Fogaça, cogitar novamente Rigotto e acabar correndo com um parelheiro veterano e cansado como Ibsen Pinheiro, é o mesmo que ceder tacitamente a vitória ao flamante candidato petista Tarso Genro, antes de corrida a carreira. Ibsen será um mero cabide eleitoral para pendurar as candidaturas proporcionais peemedebistas à Assembléia e à Câmara Federal, nada mais.

Acaba vingando, assim, ainda que por linhas tortas, a velha obsessão de Lula para o Rio Grande do Sul, materializa-se praticamente o sonhado palanque único em apoio à candidatura de Dilma Rousseff.

Mas as coisas no Rio Grande, nunca são tão simples como parecem. Desde 1994, quando da eleição de Antonio Britto, e retirando o interregno do governador Olívio Dutra, em todas as equações vitoriosas de poder no estado houve a militante participação - ainda que nas sombras - de atores físicos e jurídicos, a saber, a federação da agricultura, a federação da indústria, do comércio, o conjunto de seus afiliados capilarizados em todas as regiões, e a ubíqua mídia sulina, hegemonizada pelos veículos da RBS.

A presente política desmotivadora do PMDB/RS em parte pode ser debitada à participação desastrada no yedismo de fracassos, em parte, pode ser creditado a um esforço planaltino para asfaltar o caminho de Dilma em 2010 no Sul. De qualquer forma, seus líderes não estão considerando os demais players não-partidários acima nominados e que conformam o bloco no poder, desde pelo menos 1995 (sempre desconsiderando o período Olívio).

Abandonados, virtualmente isolados, o que farão as representações das classes patronais e a própria RBS diante do cenário sombrio que se avizinha em 2010?

Face ao comprovado pragmatismo negocial, do qual são pródigos, certamente não hesitarão em procurar o candidato do Partido dos Trabalhadores para encetar diálogos do tipo ganha-ganha.

Resta saber - eis a grande incógnita - o que lhes responderá o candidato do Partido dos Trabalhadores ao Palácio Piratini.

Quem souber, me conte. Eu não sei.

Flagrantes da vida real


Recebi, ontem, de um advogado amigo, nosso leitor:

Hoje vivi um momento ímpar.

Lembro bem, que há anos, lá em Passo Fundo, quando andava de bicicleta aos domingos via sempre os piás vendedores de jornal. Eles gritavam nas esquinas as manchetes, para atrair os seus leitores. Eram coisas do tipo “Presidente Figueiredo não virá a Expointer” ou “Falcão é dúvida para o Gre-Nal”...


Algum tempo depois, notei que a estratégia de venda era outra. Passaram simplesmente a gritar o nome do jornal: “Olha a Folha”, “Zéééééroooo!”, e assim ia.


Pois hoje, parado em uma sinaleira da avenida Ipiranga, aproximou-se de mim uma jovem uniformizada e portando um exemplar de "O Sul" e, pegando-me de vidro abaixado, disse:

- Moço, compra um pra me ajudar...

Pensei que a mídia jornal estava morrendo, hoje vi que já está morta. Vender jornal é o mesmo que esmolar. Refestelo-me nesse velório.


Inês é morta!

Abraço,


Rodrigo Foscarin Pedroso

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Quando o Rio Grande do Sul era modelo para o país


Ou os corvos do Piratini, hoje

Na quinta-feira passada, na hora da tormenta destruidora, me refugiei num porão. Explico: no subsolo da Fundação de Economia e Estatística (FEE) funciona o auditório da mesma. Fui assistir às palestras de dois estudiosos do Rio Grande do Sul: os economistas Pedro Cezar Dutra Fonseca e Luiz Roberto Pecoits Targa.

Não perdi o meu tempo. O tema da conversa foi "República, Revolução Burguesa e Desenvolvimentismo: o Rio Grande do Sul e o Brasil antes e depois de 1930".

Os dois autores sustentam - no que eu concordo inteiramente - que no Rio Grande do Sul estava a vanguarda do processo de modernização do Brasil a partir de 1930. A revolução burguesa ocorreu no RS, em termos clássicos, e serviu de "laboratório" para que depois Getúlio Vargas propiciasse as condições objetivas e subjetivas para a modernização brasileira. O castilhismo-borgismo, tripulando o ideário comtista-positivista, promove a revolução no Sul, varrendo do poder os interesses pequenos e atrasados do regime agropastorial de exportação, configurado no modelo de exploração do latifúndio da Campanha sul-rio-grandense, subordinado ao circuito de mercado internacional sem nenhum dinamismo e - pior - decadente. Implantam um regime republicano, autoritário e de intenso fomento à diversificação da base produtiva, bem como a estratificação das classes sociais. Gravam de impostos o latifúndio, estimulam a pequena propriedade, a indústria, o comércio de mercadorias, seja através da encampação das ferrovias (em mãos de belgas e norte-americanos), a criação do porto de Rio Grande, a criação do Banrisul (levado a efeito por Vargas em 1928), o reconhecimento dos direitos dos trabalhadores, especialmente depois das greves de 1917, quando Borges negocia com os grevistas e admite as suas reivindicações.

A experiência sulina inspira Vargas a partir de 1930. O país se institucionaliza, reconhece direitos civis e trabalhistas, se industrializa e cresce muito. Da década de 1930 até a década de 1980, num longo ciclo virtuoso de desenvolvimentismo, o Brasil é o país que mais cresce no mundo. Os dados comprovam. A política delfiniana, influentes fatores internacionais e o início da financeirização da vida social - nas décadas de 80 e 90 - interrompem a corrida produtivista brasileira. A partir do segundo governo Lula, esse ciclo volta - lentamente - a ser retomado, mas ainda não se poderia afirmar - dizem os palestrantes - de forma segura, que estamos experimentando um novo desenvolvimentismo no Brasil.

Já o Rio Grande do Sul - eles não disseram, digo-o eu - nunca mais teve uma elite política capaz de criar condições históricas para modificar o curso dos acontecimentos e colocar a região no ciclo virtuoso do desenvolvimento sustentável, sem autoritarismo, democrático, participativo e que possa servir - novamente - de modelo para o país.

Com o yedismo de fracassos, parece que milhares de corvos edgar-alan-poetas nos espreitam do alto do Piratini e num coro sombrio, compassado e cavo repetem à náusea:

- Nunca mais! Nunca mais! Nunca mais!

P.S: O debate político-eleitoral de 2010 no RS - se houver debate político ano que vem - deve, a meu modesto juízo, incorporar essa questão, a saber: o que houve com o estado nestes últimos governos que não consegue mais ser modelo para nada, a não ser para a vergonha e o opróbrio de seus governantes e líderes regionais?

P.S. do P.S: o pensamento acadêmico brasileiro - hegemonizado pelos intelecas da USP - nunca admitiram essas verdades proferidas por Fonseca/Targa. O sociólogo Fernando Henrique Cardoso - só para ilustrar com exemplo singular - estudou o escravagismo no RS, objeto de sua tese, e jamais se deu conta de que aqui houve o desdobramento de um processo de revolução burguesa. Salvo Alfredo Bosi (in "Dialética da Colonização") se ignora autor fora do RS que tenha reconhecido valor revolucionário no castilhismo-borgismo sul-rio-grandense.

O negócio é adular


Publicidade quer pegar carona na popularidade do presidente Lula

O jornal serrista, Folha de S. Paulo, de hoje, chama a atenção para um fenômeno recente da publicidade brasileira, a exaltação ao governo federal, tentando pegar carona na popularidade do presidente Lula. Vejam:

Empresas aproveitam a popularidade do presidente Lula e o momento econômico favorável para fazer do governo seu garoto-propaganda.

Ambev, GM, Bradesco, Vale e Embratel produziram comerciais de televisão recentes enaltecendo a firmeza do país na crise, a capacidade de superação dos brasileiros, a harmonia entre o público e o privado e a relevância do país no mundo.

O Brasil é o país "da iniciativa privada em equilíbrio com o setor público", diz a campanha televisiva "Presença", do Bradesco, segundo maior banco privado brasileiro.

"Há dez anos, quem poderia imaginar a gente emprestando dinheiro para o FMI?", lembra o anúncio televisivo do carro Aprile, da Chevrolet/GM.

"A crise foi passageira", avisa comercial da maior siderúrgica do mundo, a Vale. "O Brasil vive um momento de ouro", exalta o comercial da Brahma, marca da Ambev. [...]

..........................

A matéria da Folha esqueceu de apontar a adulação feita semana passada pelo jornal Zero Hora, do grupo RBS de Porto Alegre (ver fac-símile acima, publicado na página 45 da edição de 19/11/2009, quinta-feira última).

Durante a ditadura civil-militar - de 1964 a 1985 - o exercício da adulação ao regime por parte da publicidade das empresas privadas foi prática corrente. Em especial durante o governo Médici (1969-1974), quando o país atingiu taxas de crescimento econômico expressivas e houve forte investimento estatal. Paradoxalmente, foi o período de maior repressão dos governos ditatoriais originados do golpe de 1964.

Na Itália, os crimes de Battisti foram classificados como de natureza política


Mas, o STF torce e classifica-os de crime comum


Trecho de artigo do jurista Dalmo Dallari, que mata a questão:

[...] No caso em questão, em que o governo italiano pede a extradição de Cesare Batistti, existe um ponto essencial: os crimes de que Battisti foi acusado já foram qualificados anteriormente, pelo governo italiano, como crimes políticos.

Com efeito, numa das ações do grupo a que pertencia Battisti foi morto um homem, Torregianni, e seu filho, que se achava no local, foi gravemente ferido, sendo obrigado, desde então, a locomover-se em cadeira de rodas. Um dado fundamental é que, desde então, o governo italiano vem pagando pensão mensal ao jovem Torregianni, por reconhecer que ele foi vítima de crime político. A legislação italiana prevê esse pensionamento somente para vítimas de crime político, excluídas as vítimas de crime comum. E nos termos expressos do artigo 5º, inciso 52, da Constituição, “não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião”.

Como fica evidente, o Presidente da República deverá decidir se concede ou não a extradição de Cesare Battisti, mas sua decisão não poderá ser arbitrária, devendo ser consideradas, obrigatoriamente, as disposições da Constituição brasileira.
[...]

Leia aqui o artigo do professor Dallari, na íntegra, publicado no Jornal do Brasil, edição de 19/11/2009.

domingo, 22 de novembro de 2009

O Exército de Cavalaria


Saí ontem para levar um relatório ao comissário do exército, na casa de um padre foragido. Na cozinha, fui recebido por pani Eliza, a governanta do jesuíta. Ela me serviu um chá cor de âmbar e biscoitos. Tinham cheiro de crucifixo. Havia neles o sumo traiçoeiro e a aromática fúria do Vaticano.

Na igreja ao lado da casa, troavam os sinos, tangidos por algum sineiro desvairado. Era uma noite coalhada de estrelas de julho. Sacudindo os cabelos grisalhos e bem cuidados, pani Eliza me oferecia biscoitos e eu me deliciava com o manjar dos jesuítas. [...]

Pani: senhora, em polonês.

Trecho breve de "O Exército de Cavalaria", de Isaac Bábel (1894-1941). Bábel foi um dedicado militante do socialismo de Estado, na versão stalinista, mas nem por isso deixou de ser perseguido, sequestrado, preso, torturado e morto na prisão de Lubianca, pela KGB, em 1941, vítima do chamado "Grande Expurgo" de Stálin, sob a acusação de ser trotskista. De origem judaica, foi jornalista, escritor e roteirista de filmes de propaganda soviética. Trabalhou com o legendário cineasta Sergei Eisenstein, sempre fazendo roteiro de filmes.

O velho e bom John Lee Hooker (1917-2001) e amigos



sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O atrevido editorial de Zero Hora




Pede menos ideologia ao presidente Lula no caso Battisti

Maquinista de um bojudo e fuliginoso trem ideológico, o jornal Zero Hora, em seu editorial de hoje, se atreve a exigir do presidente Lula "mais sensatez, menos ideologia" no que se refere ao pedido de extradição do prisioneiro brasileiro Cesare Battisti.

Pelo que se depreende do editorial de ZH, aliás, grafado em texto confuso, mal escrito e onde há mais sofismas do que vírgulas, a expressão "sensatez" poderia ser traduzida como "estrito cumprimento das exigências do Estado democrático".

Todas as vezes que algum veículo da RBS invoca a palavra "democracia" soa tão falso quanto um coelho (sem ser o de Alice) pronunciar sílaba por sílaba a palavra pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico (vocábulo de 46 letras, que seria segundo o dicionário Houaiss, a maior palavra da língua portuguesa). Enquanto a RBS não fizer a já tardia autocrítica por ter apoiado e - sobretudo - se beneficiado do golpe civil-militar de 1964-85, haverá uma permanente (e incômoda) interdição cívico-moral sobre a autenticidade de suas convicções democrático-republicanas. Ponto.

Dos sofismas: "...Lula recebe agora uma carta extra de pressão: nunca na história deste país um presidente brasileiro deixou de seguir uma orientação do Supremo Tribunal Federal" - consegue dizer o editorial.

O editorialista de ZH, por algum deficit cognitivo irrecuperável, ainda não entendeu o que se passou no âmbito do STF relativamente ao caso Battisti. Como não é possível - aqui - usar o recurso lúdico-pedagógico do desenho com canetinha infantil hidrocor, vamos resumir de forma bem esquemática, o que foi exarado pelo STF, dois dias atrás: quatro Excelências votaram pela não extradição do ex-ultra italiano; cinco Excelências votaram pela devolução de Battisti à Itália. Muito bem, só que aqueles quatro primeiros - os adeptos da não-extradição acrescido do ministro Ayres Britto, portanto, cinco agora, portanto, formando maioria, optaram por não decidir nada, passando o ananás-do-mato com recheio de pregos para o presidente Lula. Assim, o STF decidiu que nada estava decidido, a decisão é do presidente da República. Foi isto.

Eis o sofisma grosseiro de ZH, o pai cascudo de tantos outros sofismas-júniors espalhados pelas linhas e entrelinhas do editorial de hoje: o STF não deu "orientação" alguma ao chefe do Poder Executivo. Aliás, chama a atenção o comportamento dos ministros do STF, durante quase um ano examinaram o caso Battisti e decidiram que nada decidiriam, tingindo o judiciário brasileiro com o sinal amarelíssimo da pusilanimidade e omissão. Ademais, os votos textuais dos senhores ministros são um primor de primarismo na interpretação do Direito, sejam aqueles contra, sejam aqueles a favor da extradição.

De resto, o editorial da Azenha serve para a RBS provocar (de forma rebaixada, oportunista e eleitoreira) o ministro Tarso Genro, candidato petista à sucessão do yedismo de fracassos, no qual ZH tem saliente protagonismo e indisfarçada influência. Mas quem deve ser "sensato" e evitar a "ideologia" é o presidente Lula.

Vá entender.

Imagem: fac-símile parcial da página 3 de ZH, edição de hoje. O desqualificado garatujador de sinais, um certo MA, bem que poderia ilustrar o editorial de hoje, uma vez que estão nivelados em atrevimento e desprezo, tanto à ética quanto à estética. MA, aliás, é a imagem que a RBS faz de si própria - a realidade em traços borrados, ignorância e as piores intenções.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

É assim que Gilmar Mendes trata uma senhora



A fotografia, que está na capa da Folha, edição de hoje, flagra uma pacífica cidadã jogada ao chão por seguranças do STF, em Brasília. A entidade máxima do Poder Judiciário é presidida pelo ministro Gilmar Mendes, porta-voz do regressismo e liderança tácita da direita brasileira.

Fotografia de Fernando Bizerra Jr/EFE

Clique na imagem para ampliá-la.

RBS, cinismo e esquizofrenia





Sem comentários, por absoluta desnecessidade.


Fac-símiles das páginas 15 e 45 da edição de hoje do jornal Zero Hora, grupo RBS.

A propósito da gangsterização crescente do Rio Grande



"Diz são Tomás – que se os príncipes tiram dos súbditos o que segundo justiça lhes é devido para conservação do bem comum, ainda que o executem com violência, não é rapina ou roubo. Porém, se os príncipes tomarem por violência o que se lhes não deve, é rapina e latrocínio. Donde se segue que estão obrigados à restituição como os ladrões, e que pecam tão mais gravemente que os mesmos ladrões, quanto é mais perigoso e mais comum o dano com que ofendem a justiça pública, de que eles estão postos por defensores"

Excerto do "Sermão do Bom Ladrão", Padre Antônio Vieira (1608-1697), jesuíta.

Foto: Palácio Piratini, em Porto Alegre, sede do Poder Executivo estadual. 

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A mãe do Jorge Luis Borges



Uma figura

A mãe de Jorge Luis Borges se chamava Leonor Acevedo Suárez, nascida no Uruguai. Culta, ela fazia traduções do inglês para o espanhol. Muito religiosa, quando foi presa, nos dias gelados do inverno de 1974, foi flagrada rezando pela alma de Perón, que havia morrido dias antes, disse que não tinha ódio dele e orava para encomendar-lhe aos céus. Suspeito que não tenha sido atendida. Deus - consta em algum lugar - não gosta de milico metido a popularesco.

O próprio filho relata sobre Leonor: "Sim, lembro que uma vez recebeu uma ligação, e que uma voz devidamente grosseira e terrorista lhe disse: 'Vou matar você e seu filho'. 'Por que, senhor?', respondeu minha mãe, com uma cortesia um pouco inesperada. 'Porque sou peronista'. 'Bom, disse minha mãe, 'meu filho sai de casa todos os dias às dez da manhã. É só esperar e matá-lo. Quanto a mim, eu fiz (não lembro a idade, oitenta e tantos anos); te aconselho a não perder tempo falando ao telefone, porque, se não se apressar, morro antes'. Então, o outro desligou. No dia seguinte, lhe perguntei: 'Ligaram ontem à noite?' 'Sim', me disse, 'ligou um idiota às duas da manhã', e me contou a conversa. Depois disso não houve mais ligações; o terrorista telefônico deve ter ficado tão surpreso, não? Que não se atreveu a reincidir".

Já com quase cem anos de vida (morreu com 99 anos), Leonor Acevedo Suárez leu "A ilustre casa de Ramires". Borges (foto) diz que ela comentou com o pai dele:

"É o melhor romance que li na minha vida". "De quem é" - perguntou meu pai, e ela disse: "De um escritor português, que se chama Eça de Queirós".

"E parece que acertou" - concluiu Borges.

Leia "A ilustre casa de Ramires", na íntegra, aqui.

O lendário Dr. John



Direto de New Orleans.

Barbeiragem de Fogaça faz Porto Alegre perder o metrô



Projeto do traçado inicial é um completo equívoco

A imprensa direitista de Porto Alegre está dando a sua versão sobre o metrô da Capital. Ontem, o prefeito José Fogaça (PMDB) recebeu um redondo não em Brasília. O metrô não tem condições de sair antes da Copa de 2014.

A versão da mídia pode ser resumida pelo que disse ontem à tarde, por volta das 15h, na rádio Gaúcha, o locutor Lasier Martins. Segundo o veterano radialista - uma espécie de voz-do-dono da RBS - "[...]desmancha-se de uma vez por todas essa ilusão que vinha a ser mantida há tantos meses, portanto, o governo federal não vai ajudar ao tão ambicionado metrô de Porto Alegre e tudo aquilo que temos ouvido nos últimos anos não passa de uma engambelação, de uma ilusão, principalmente eleitoreira, o governo federal não tem ou não pode ou não quer as obras do metrô até a Copa do Mundo." [...]

Dito isto, praticamente um veredicto de autoridade, o locutor Martins colocou no ar o senador Paulo Paim (PT-RS). Este, incapaz de oferecer um contraponto ao irrecorrível julgamento do revoltado locutor rebessiano, limitou-se a discorrer - de forma queixosa - sobre o seu demagógico projeto de aumento irreal aos aposentados e pensionistas da previdência.

Hoje, os jornais lamentam a negativa do metrô, mas não informam os motivos do governo federal para fazê-lo. Semeando confusão, querem fazer acreditar que há uma má vontade do governo da União ou uma "engambelação para fins eleitorais" como se referiu o locutor da rádio Gaúcha. O argumento é anêmico, não resiste a um sopro de pulga: como se explica que uma negativa pode visar vantagens eleitorais?

A verdade é a seguinte, no que se refere ao metrô de Porto Alegre: o traçado inicial é um completo equívoco, uma "barbeiragem", como diz o governador Serra a respeito de suas próprias obras cadentes, não atende a exigência básica de um projeto urbanístico de cunho eminentemente social, qual seja, o de atender o conjunto da população em tempo integral e sem prazo de validade. Proposto pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, gestão José Fogaça, o projeto inicial do metrô vai do Mercado Público, no Centro, ao estádio Beira-Rio, na avenida Padre Cacique, portanto, ao contemplar somente o público do futebol, por mais prioritário que este possa ser, exclui liminarmante áreas mais densas e usuários do transporte público coletivo com demandas mais importantes e permanentes do ponto de vista social, econômico e ambiental.

Assim, é relevante que o locutor da Gaúcha e os jornais direitistas apontem as suas baterias de críticas em outra direção, mais precisamente mirando o Paço Municipal de Porto Alegre, gabinete do prefeito José Fogaça. Com a disposição equivalente a de um tropeiro de lesmas, Fogaça perde o metrô, mas quem sai prejudicado é a população de Porto Alegre.


Confira aqui a diatribe estomagada do locutor Martins, na rádio Gaúcha, ontem por volta das 15h.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

1ª Confecom do RS começa hoje à noite na AL


Conferência estadual é preparatória da Confecom nacional

A 1ª Conferência Estadual de Comunicação será realizada nos dias 17 e 18 de novembro (hoje e amanhã), na Assembléia Legislativa, Teatro Dante Barone, em Porto Alegre, o tema é "Meios para a Construção de Direitos e Cidadania na Era Digital".

Hoje, na abertura, o credenciamento terá início às 19h e término às 21 horas. Amanhã, dia 18, o credenciamento inicia às 8h30min e encerra às 14 horas.

A conferência estadual vai debater as propostas e escolher os delegados do RS para a a 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) em Brasília, que acontecerá entre 1º e 3 de dezembro próximo.

PT define a comunicação brasileira como "anacrônica e autoritária"



Partido finalmente tirou posição para a Confecom em dezembro

A participação mais intensa do Estado em setores estratégicos poderá chegar às comunicações. O assunto estará em pauta, entre 1º e 3 de dezembro, quando o governo vai promover a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) em Brasília. O PT já aprovou resolução, defendendo a "revisão do arcabouço legal" do setor que o partido define como "anacrônico e autoritário".

Organizado em torno de normas como o Código Brasileiro de Telecomunicações (1962) e a Lei Geral de Telecomunicações (1997), "o arcabouço legal brasileiro privilegia grupos comerciais, em detrimento dos interesses da população". Esse modelo, segundo o PT, permite a "uns poucos grupos empresariais - muitas vezes associados a fortes conglomerados estrangeiros - exercer controle quase absoluto sobre a produção e veiculação de conteúdos informativos e culturais".

O partido vê "monopólios" e "desvios do sistema atual", dizendo que é "preciso intervir". "O PT lutará para que as demais ações estatais nessa área promovam a pluralidade e a diversidade, o controle público e social dos meios e o fortalecimento da comunicação púbica, estatal, comunitária e sem finalidade lucrativa", diz o texto, aprovado em 17 de outubro. "Mais do que combater os monopólios e todos os desvios do sistema atual, é preciso intervir para que eles não se repitam ou se acentuem nesse novo cenário tecnológico - que em poucos anos superará completamente o antigo modelo."

Com as mudanças provocadas por tecnologias digitais, o PT vê risco de o modelo ficar "mais concentrado e excludente". "A definição de um marco regulatório democrático estará no centro de nossa estratégia, tratando a comunicação como área de interesse público, criando instrumentos de controle público e social", diz a resolução.

O PT quer estabelecer "atribuições e limites para cada elo da indústria de comunicação". Defende intervencionismo na produção de conteúdo, ao propor "políticas, normas e meios para assegurar pluralidade e diversidade de conteúdos". E pede revisão nas concessões de emissoras de rádio e TV. A informação é do Estadão.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A guitarra de Ry Cooder



Em "Paris, Texas" (1984), música e imagem são uma coisa só, ambas são belas e impressionam.

Debate sobre o Censo Agropecuário do IBGE







É amanhã, terça-feira.

Lamento informar: o governo Yeda ainda não é o nosso fundo-do-poço



PL 154 representa o quanto ainda podemos regredir no RS

Uma gracinha o editorial de Zero Hora, hoje. Parte dele, está aqui:

"Avanços ambientais dependem antes de mais nada de decisões de âmbito individual que, ao se somarem umas às outras, possam contribuir de alguma forma para um desenvolvimento capaz de conciliar progresso com preservação. É óbvio, porém, que os governantes têm um papel importante nesse aspecto e precisam se preocupar em definir políticas factíveis para esta área, que permitam crescimento seguro sem impor prejuízos irreversíveis para as futuras gerações".

ZH sugere - não afirma de forma categórica, porque pode pegar mal com os leitores-consumidores -, apenas sugere, que não precisa legislação ambiental, já que "avanços ambientais dependem antes de mais nada de decisões de âmbito individual".

Ora, sendo assim, também não precisa de legislação contra o trabalho escravo, os avanços nessa área dependem igualmente "antes de mais nada de decisões de âmbito individual". Sendo assim, não precisa de legislação que proíba e puna o ato de matar para roubar, os avanços nessa área dependem igualmente "antes de mais nada de decisões de âmbito individual". Estado? Para quê Estado? Cada pessoa de forma ordeira e civilizada, no âmbito de sua própria consciência individual, irá procurar construir o bem comum, respeitar os direitos do próximo e calcular o cumprimento estrito dos seus deveres.

O espírito de Polyanna moça de ZH é comovente. Mas enquanto ocupa suas páginas com essa conversa fiadíssima, não tem espaço para estampar o verdadeiro objeto de seu interesse na esfera ambiental e suas legislações pertinentes. Hoje, curiosamente, ao lado deste editorial rolando-leroso, há um pequeno artigo do deputado Luiz Carlos Heinze (PP) onde estão alinhados todos os motivos para a completa erradicação de toda e qualquer legislação ambiental no estado e na União. Outra peça que comove e aperta o coração da gente. Fica-se sabendo que o agronegócio será confiscado em 30% das suas terras e que logo logo não haverá mais comida na mesa dos brasileiros, que os "rurícolas" (como eles se denominam, aliás, o que será isso?) caminham a passos largos para a mais profunda miséria e desintegração moral. Só faltou o deputado Heinze informar o número bancário de uma conta-solidariedade para que a população passe a fazer donativos espontâneos a esses futuros párias brasileiros com o objetivo humanitário de minorar-lhes o infortúnio e a exclusão social.

Brincadeiras à parte, o que de fato paira, qual entidade fantasmática ronda esses discursos pela metade? O que querem expressar estes gestos confusos, esse claro-escuro entre a verdade e a negaça?

O que eles querem, seja ZH, seja esse deputado da direita, está grafado no Projeto de Lei 154/2009. O famigerado PL 154 foi gestado no ventre do atraso sulino e tem a paternidade da Farsul, do governo Yeda, seus aliados e apoiadores na Assembléia Legislativa, além, claro, das papeleiras, da mídia sulina e os predadores ambientais do estado.

Assim, o Rio Grande do Sul mostra que caminha na contramão da tendência mundial, enquanto os governos de todas os matizes ideológicos se preparam para se autoimpor novos limites ao desenvolvimento e à sustentabilidade, o nosso estado anuncia um aniquilamento geral e irrestrito na legislação ambiental, sendo que grande parte dela nem regulamentada está.


Então vocês achavam mesmo que o governo Yeda representa o ponto mais rebaixado a que pode chegar o Rio Grande do Sul? Ledo-ivo-engano!

É que vocês ainda não conhecem o que promete o PL 154. É o inverso da revolução castilhista, a hegemonia definitiva dos maragatos (agora quebrados e gangsterisados), quando o Rio Grande se transformar numa imensa (e deserta) Bagé - uma espécie de Mad-Max-guasca-apocalíptico.

Coisas da vida.

Foto-mosaico do filme Mad Max 2 (1981).

domingo, 15 de novembro de 2009

sábado, 14 de novembro de 2009

Obras do tucanato desabam outra vez em São Paulo




Sem comentários, lembrando que o jornal Folha de S. Paulo é aliado e porta-voz do tucanato brasuca.

The Gulag Orkestar



Com a Beirut, banda de um certo Zacarias Camisinha.

O lulismo é um bolo inorgânico formado pelo apoio de massa, do sindicalismo, do agronegócio e dos banqueiros


Algo mais complexo que apoio das massas

O perfil do governo petista que ascendeu ao poder pelo voto nas últimas duas eleições vai dar um trabalho maior de análise, no futuro, do que apaixonadas declarações sobre o caráter da inserção das forças sociais no jogo de poder. Existem elementos que precisarão ser analisados longe de um período eleitoral.

A primeira exigência de uma análise futura será a de evitar comparações automáticas - e fáceis - com o período de João Goulart, no pré-64. Jango era o líder claudicante de um governo populista, herdeiro de um pacto de poder que não era seu e com uma base social que herdara do getulismo e sob a qual não tinha grande controle.

O que existia de seu era uma base trabalhista formada, sobretudo, no interior do Estado - o peleguismo - e que não necessariamente tinha, ela própria, inserção social. A liderança populista não tinha também vínculo orgânico com seu partido, o PTB, nem este partido era depositário de um projeto de poder. O PTB, também criado por Getúlio Vargas, foi criado para capitalizar a popularidade getulista, não para servir a um projeto que lhe fosse próprio.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT e a Central Única dos Trabalhadores (CUT) não são organizações e lideranças constituídas à sombra do Estado. Os três têm ligação umbilical: surgem das lutas oposicionistas do início dos anos 80, em especial a partir dos primeiros movimentos sindicais de massa do pós-ditadura, liderados por Lula.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) foi a primeira construção organizada das novas lideranças sindicais que emergiam no cenário político.

O Partido dos Trabalhadores (PT) foi a construção política da articulação sindical, montada com base na crítica do modelo político varguista em que a base política de um projeto de poder se confundia com a estrutura sindical.

PT, Lula e CUT constituíram suas lideranças fora do Estado e ficaram na oposição até 2002, quando Lula ganhou a eleição para a Presidência no PT e com o apoio da CUT. O governo Lula, portanto, não é uma construção pessoal do presidente Lula - é possível dizer que é produto de uma luta pelo poder em que participaram, do mesmo lado, PT e CUT, forças constituídas fora do Estado e que a ele ascenderam pelo voto.

Segundo o sociólogo argentino Torcuato Di Tella, da Universidade de mesmo nome, na reunião anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs) deste ano, o fato de essas forças terem se constituído de fora do Estado já tornam relativa a afirmação de que o governo Lula tem um perfil populista.

A ascensão de Lula ao Palácio do Planalto trouxe para o poder todos esses elementos - o PT, a CUT e, de forma indecisa e menos compacta, os movimentos sociais. Esse era um elemento novo em relação aos demais governos.

Embora o PSDB tivesse desempenhado um inegável papel na luta contra a ditadura e incorporado elementos importantes da social-democracia na sua constituição, nos governos Fernando Henrique Cardoso não conseguiu levar para dentro de seu governo setores sindicais e populares.

Primeiro, porque a sua base social não era a mesma que a do PT - já no Plano Real, a aliança no poder tendia ao centro do espectro partidário. Depois, porque o PSDB sempre disputou com Lula - que era, devido à sua origem e à constituição do próprio PT, o depositário do apoio político da maior parte do movimento sindical e também dos movimentos populares.

O PSDB não incorporou o movimento sindical no seu governo porque não o tinha; não teve o apoio dos movimentos sociais porque a aliança que o mantinha no poder excluía essa possibilidade. Difícil imaginar que, se tivesse bases sindical e social mais sólidas, o PSDB não as tivesse incorporado na sua base de apoio.

O outro elemento a ser analisado é o caráter dessa aliança tão ampla como a que conseguiu Lula. Um elemento claro é a incorporação de grandes massas não apenas ao mercado de consumo, mas ao mercado político, como eleitores de Lula, via programas de transferência de renda.

Outros dados são a excessiva força que teve o setor financeiro em seu governo, em especial no seu primeiro mandato (2003-2006); a opção clara pelo agronegócio, mesmo quando ele representa a manutenção de um setor que carrega enorme atraso político; e a configuração de um governo que abriga pequenos partidos de direita.

Mas é certo também que o apoio do sindicalismo e dos movimentos sociais - nem todos estão com o governo, mas parte deles está - é o que Lula tem de apoio de setores organizados. Isto quer dizer que a gestão Lula não pode ser descrita como um governo tomado por grandes massas desorganizadas beneficiadas por programas sociais.

É um governo apoiado por grandes massas, mas também por setores sociais tão variados como o sindicalismo e o setor agrário, além do setor financeiro. Esses apoios podem ser tão amplos quanto os que mantinham uma liderança populista no poder, mas são organizados e não são uma construção política do governante, mas ascenderam ao poder com ele.

Artigo da jornalista Maria Inês Nassif, publicado no jornal Valor Econômico, edição de 12 de novembro, 2009.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Enviado pelo meu aparelho Strawberry Fields da Bomb Telefonia

And nothing to get hung about

Strawberry Fields forever


Comediantes completivos



O conselheiro João Luiz dos Santos Vargas e a governadora Yeda Crusius. Feitos um para o outro.

Sem comentários.

Clique nas imagens para aumentá-las.

O mistério do tiroteio na Fabico


Ser pusilânime virou uma regra de conduta?

Recebo um e-mail me informando sobre um fato ocorrido na última segunda-feira no prédio da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico), no bairro Santana, em Porto Alegre.

O mesmo fato foi objeto de notícia na edição de terça-feira (10) do jornal Zero Hora (leia aqui). O diário da RBS, entretanto, como é do seu feitio, contou da missa a metade, e a outra metade é ficcional.

Mas vamos ao relato de Maria (nome fictício da pessoa que me mandou a mensagem):

[...] Escrevo para o blog por que sei que o senhor ficará indignado com o que vem ocorrendo na Fabico, onde trabalho junto com várias outras mulheres. Somos profissionais de higiene e limpeza, trabalhamos para uma empresa especializada que presta serviços para a Ufrgs. [...]

Acontece que as mulheres que trabalham comigo estavam sendo assediadas por um guarda da segurança da Fabico, que pertence também a uma empresa contratada da faculdade. Esse guarda dava cantadas em todas as minhas colegas. Segunda-feira passada o marido de uma delas foi cedo da manhã dar um susto no guarda, porque ele estava sendo ousado com a mulher dele. O marido foi a faculdade e deu tres tiros no guarda, mas não acertou e acho que ele queria isso mesmo. Depois, o marido fugiu numa moto e o guarda deu dois tiros nele na rua Ramiro onde tinham muitos carros na sinaleira com a avenida Ipiranga. Foi um horror, todo mundo gritando sem saber o que estava acontecendo na real.

Estou escrevendo para o senhor saber da verdade. [...] No jornal saiu que era um assalto que tinha um mistério no caso, mas na verdade eu quero denunciar que enquanto as mulheres eram assediadas pelo guarda ninguém na faculdade foi capaz de tomar providências para punir aquele guarda e denunciar a safadeza dele. Ninguém, nem os alunos, nem os professores, nem a direção da faculdade. Muitos sabiam o que estava acontecendo, mas ninguém se colocou no nosso lugar de estar sendo humilhada por um cara que queria abusar das mulheres, usando a sua condição de guarda armado. [...]

Fiquei sabendo que só o professor Ongareti falou em aula sobre o abuso que estava acontecendo. O resto ficou em silêncio como se isso estivesse acontecendo em Marte. Gostaria que o senhor divulgasse esse nosso problema e alertasse para o descaso de gente que poderia ter nos ajudado a tempo. [...]


Obrigado,
Maria

.................................

São os "fascismozinhos ordinários" que referimos aqui por ocasião do comentário sobre os rapazes misóginos da Uniban (ver post mais abaixo).

Um guarda armado comete assédio sexual em série, dentro da Fabico, próximo a alunos, alunas, professores, professoras, e da direção da Faculdade e nada acontece. Um marido enfurecido comete um quase desatino e foge, tiroteio na via pública, pânico nos transeuntes, alunos e população do entorno. Jornal publica o fato de forma fantasiosa e inverídica emprestando um tom de mistério à notícia.

Que comentário se pode fazer?

Que existe um acanalhamento geral no ar. Ser pusilânime - para muitos - é quase uma regra de conduta. Como explicar que professores da Fabico, alunos da Fabico, direção da Fabico, sabedores desse assédio continuado de um guarda boçal não tomaram providências a tempo?

Isso sim que é um mistério!

PS: O "professor Ongareti", referido por Maria, a rigor, é o professor da Fabico, Wladimir Ungaretti, jornalista, fotógrafo e blogueiro.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

História Social do Campesinato no Brasil

A obra completa tem dez volumes, hoje. Curiosamente, a maioria dos pesquisadores e ensaístas são mulheres, mas o objeto das obras pouco se refere à luta da mulher camponesa. Verificando isso, os organizadores resolveram fazer um esforço e devem lançar mais três volumes, onde será contemplada a luta das camponesas no Brasil, por ora uma história quase oculta.

Clique na imagem para ampliá-la.

O apocalipse de Charles Kiefer


Muito barulho por nada

Considero um exagero o pequeno artigo do professor Charles Kiefer publicado hoje no jornal Zero Hora (aqui). O escritor e ex-patrono da Feira do Livro de Porto Alegre, denuncia de forma alarmada que o evento literário-comercial irá acabar um dia, quando vender poucos volumes. Kiefer garante que a queda nas vendas mostram "números apocalípticos".

"Em 2005, a Feira do Livro - diz Kiefer - vendeu 530.980 exemplares; em 2006, vendeu 472.348 exemplares; em 2007, vendeu 459.521 exemplares; e, em 2008, vendeu 424.046 exemplares. Uma retração, em quatro anos, de 106.934 exemplares! É pouco? Vinte por cento de queda nas vendas é pouco? Arrisco um palpite: em menos de 10 anos, estaremos vendendo, no máximo, 200 mil exemplares por edição da Feira!"

Admira que um escritor - um bom escritor - fique tão abichornado com apenas uma das dimensões da festa dos livros de Porto Alegre, precisamente aquela que deveria preocupar menos um intelectual sério como ele, a dimensão do volume de vendas. Isso é preocupação para os comerciantes, os editores e os banqueiros.

O que pode e deve preocupar o intelectual Kiefer é a qualidade desses milhares de livros vendidos a cada ano. Ninguém desconhece que os campeões de vendas são os Paulo Coelho, o sujeito da tevê que repete receitas surradas, o cardiologista tolo que ensina truques aos obesos, sem esquecer a indefectível Lya Luft e as interessadas "recomendações" da Veja, ou seja, o lixo literário de sempre.

E a CESP, não tem responsabilidade no apagão? O fato ocorreu em São Paulo


PIG ganha um apagão para agourar com menos factóides

Um insuspeito jornalista que trabalha no coração do PIG, Janio de Freitas, dá as suas impressões sobre o apagão de terça-feira passada, publicado hoje na Folha:

Mais apagão

O apagão deu a amostra do que virá dos meios de comunicação na campanha eleitoral. Já durante a escuridão, um comentário radiofônico explicava à população ansiosa que a redução do IPI de geladeiras, fogões, televisões, e demais produtos da chamada linha branca, levara a muitas compras, que provocaram excesso o consumo de energia. Logo, também o apagão.


Na manhã de ontem, desta vez pela TV, um outro dava o seu bom dia com a sugestão de que o apagão poderia dever-se a ato do MST ou de índios. Horas depois, outra vez pelo rádio, uma intervenção chamada de comentário político já começava com tudo: "Dilma não fica imune nesse apagão". Com o esclarecimento geométrico: "No centro da questão fica a capacidade de gestão da ministra".


Causa explicada, fontes do ato causador indicadas, responsabilidade pessoal apontada - para que tanta procura da origem do apagão pelos técnicos? E, sobretudo, para que tanta determinação, nas áreas oficiais, de não citar a Cesp entre os prováveis motivadores do apagão, o que seria dado como propósito de chutar a responsabilidade para o governo José Serra?

O apagão não foi só de luz.


......................................

Os fatos e os acontecimentos fortuitos do cotidiano não têm significado em si. Eles necessitam ser narrados para adquirirem significação. Nesse fluxo transitivo do fato bruto e a sua narração existem filtros representados por valores dominantes, subjetividades pessoais, objetividades comerciais, pasteurização ideológica, interesses eleitorais, etc. Depois desse processamento simbólico a realidade empírica deixa de existir em favor de um real construído.

Ontem, os jornais televisivos exibiram um real construído, a propósito do relato sobre o apagão de terça-feira passada. Lá pelas tantas, mostraram (TV Globo) o apartamento completamente incinerado de um senhor idoso, no Rio. Texto do locutor, enquanto as imagens rolavam na tela: "Quando a luz (sic, não seria energia?) voltou, veio com grande força e provocou um curto-circuito no apartamento deste senhor, que pegou fogo".

Pronto, a responsabilidade pela desgraça do mundo já está identificada, pela ordem: 1) É de Lula; 2) Ou de Dilma; 3) Ou dos índios; 4) Ou do MST.

E para que outro apagão não volte a ocorrer é preciso que se derrubem todos os códigos ambientais brasileiros, se permitam todas as derrubadas de madeira, todas as pastagens no Cerrado e na Amazônia, se liberem todos os projetos de monocultura intensiva das papeleiras no bioma Pampa, se construam todos os prédios de quarenta andares dentro do Guaíba, etc. Estou brincando? Então leia o pequeno artigo (de grandes pretensões) de um empresário da mineração de carvão publicado hoje em ZH. É assustador.

P.S.: Não é de se descartar uma sabotagem nas linhas e subestações da CESP. Qui prodest? - como diz o latim. (A quem isso serve?)

No desespero em que se encontra a direita brasuca, não é de duvidar de nada mais, daqui pra frente.

Contato com o blog Diário Gauche:

cfeil@ymail.com

Arquivo do Diário Gauche

Perfil do blogueiro:

Porto Alegre, RS, Brazil
Sociólogo