A guerra civil de 1893-95
O Rio Grande do Sul entrou na fase do conflito armado a partir de fevereiro de
É considerada a mais bárbara das revoluções americanas, não só pelo número de mortos, mas pela brutalidade e extensão do conflito que incluiu a eliminação quase completa dos prisioneiros, que eram degolados (na foto, o célebre degolador Adão Latorre exibe a sua perícia macabra) impiedosamente pelo adversário, de ambos os lados. Existem relatos de que cerca de trezentos prisioneiros de determinada batalha tenham sido degolados após cessados os combates. Não existiam prisioneiros de guerra, neste sentido.
A guerra civil de 1893 resultou do conflito de dois setores bem identificados da elite político-econômica sulina.
De um lado, os federalistas (ou maragatos, ou quero-queros, ou gasparistas), de outro, os republicanos (ou chimangos, ou pica-paus, ou castilhistas).
De um lado o retórico, vaidoso e tagarela Gaspar da Silveira Martins, que segundo o insuspeito historiador oficialista Darcy Azambuja, não tinha “maiores preocupações doutrinárias” e o máximo de pensamento a que alcançou resume-se numa frase tola: “idéias não são metais que se fundem”.
De outro, Júlio de Castilhos, um convicto positivista comtiano, liderança forte e com objetivos definidos, marcado por planos universalizantes do papel do Estado e sobretudo pela busca da modernização das relações sociais, tudo isso embalado numa personalidade austera e incorruptível, uma espécie de Robespierre pampeano.
Todos sabem que venceu o grupo castilhista, representado pelo Partido Republicano Rio-grandense (PRR). Castilhos foi sucedido em 1898 por Borges de Medeiros, da mesma linhagem castilhista-comtiana, que saiu do poder somente em
Que rivalidades tão profundas eram essas?
É o velho e eterno embate entre o moderno e o arcaico. Curiosamente, um líder saído deste “laboratório” meridional da modernidade brasileira, Getúlio Vargas, um militante do PRR, é que vai promover a partir de 1930 um novo Brasil, mais ajustado às exigências do século 20.
No Rio Grande do Sul, no final do século 19, se gestou, então, com muita dor e sangue, o que viria a ser o País em grande parte do século 20, pelo menos – segundo alguns estudiosos – até o advento de Collor e Fernando Henrique, que cortam em definitivo as amarras sócioinstitucionais criadas e mantidas pela Era Vargas (1930-1954).
A vanguarda republicano-castilhista-borgista (chimangos) fez a parte da revolução burguesa no País. Florestan Fernandes diz que “a Revolução Burguesa [brasileira] não constitui um episódio histórico” definido singularmente, marcado e datado. O caso brasileiro, segundo Florestan, foi um longo processo de absorção de “um padrão estrutural e dinâmico de organização da economia, da sociedade e da cultura”.
Já no Rio Grande, a revolução de 1893 é o ponto – sim – inaugural da revolução burguesa e modernizadora na região mais meridional do Brasil.
Continua amanhã...
6 comentários:
Obrigado pela importante contribuição. Acompanharei (assim como meus alunos) as postagens deste resgate histórico que, por certo, a contar pela fotoneste post, não receberá as cores pastéis tão comuns.
É muito complicado fazer comparações entre épocas. As lentes são outras, são outros pontos de vista. Outros contextos. A história definitivamente não se repete. O Rio Grande e o Brasil são hoje completamente diferentes da época de Castilhos, Borges e Vargas. O que era importante num determinado momento histórico deixou de ser em momentos posteriores. Se antigos líderes criaram certas leis para aquele momento histórico não significa que os novos governantes não possam revisá-las, flexibilizá-las, aperfeiçoa-las. Aliás, eles devem fazer isso.... Devem sempre fazer isso. Mas os conservadores não permitem, lembram do passado para impedir as reformas do futuro. Isso é triste.
Maia, o rei do lugar comum e da chatice.
Dá um tempo, cara.
12 mil pessoas em 1 milhão é como 120 mil pessoas em 10 milhões, hoje. É muito povo.
Proporcionalmente deve ter morrido mais do que na revolução Francesa, estou certo?
Desse episódio da degola coletiva (os 300!), diz-se que os prisioneiros foram colocados numa mangueira e, ao saírem, iam sendo degolados, um a um. A civilidade de um povo também é conhecida pelo seu comportamento na guerra. Por falar nisso, não tem como mudar o patrono do Exército?
Os méritos e deméritos de Castilhos são uma coisa. Mas qual a alternativa à época? O "grande" Silveira Martins e seus democráticos métodos? Sei não...Caro Cristóvão: que terra é esta na qual quem ganha, perde e quem perde,ganha?
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