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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

RBS começa a esculpir o próximo governador





José Fogaça é o novo darling da direita guasca

O arranjo maragato para 2010 está sendo montado agora. Não vê, quem não quer. A coisa é escancarada, despudorada. O jornal Zero Hora de hoje mostra sobradas razões para que o senso comum sulino assimile com naturalidade e entusiasmo a nova liderança a ser investida como governador do Estado. Eles chegam ao requinte de estampar uma declaração (inédita) da governadora Yeda Rorato Crusius de que não disputará a reeleição.

Depois de se ler o diário da Azenha, hoje, a conclusão é quase um imperativo categórico: o substituto de Yeda Rorato Crusius é José Alberto Fogaça de Medeiros, do PMDB. Não tem outro. Este é o homem.

A carga publicitária da RBS não tem um traço sequer de censura ao fato de que Fogaça acabou de se eleger prefeito municipal para um mandato de quatro anos, portanto, que terminariam somente em 2012. Em abril de 2002, quando o então prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, renunciou ao cargo para disputar as eleições ao Piratini, recebeu da mesma RBS as maiores reprovações morais por não cumprir com a integralidade do mandato conferido pelos seus eleitores.

As eleições estaduais de 2010 começaram nesta semana, nos veículos da RBS. A construção de uma candidatura forte e invencível começa cedo, e reveste-se de cuidados para bem além da objetividade fria da política, porque trata de projetar um pequeno mito no imaginário do senso comum, buscando a montagem de uma “persona” que seja dotada de todas as subjetividades positivas com acréscimos de carisma, bonomia, firmeza, e capacidade de liderança.

José Fogaça não é nada disso, mas os escultores de candidaturas amigas da RBS tratarão de entregar o “produto” imagético pronto e acabado até março de 2010.

Mãos à obra.

Todas as imagens (fac-símiles) acima foram extraídas da edição de hoje de ZH.

Presidente Henrique Meirelles reafirma que a prioridade é o combate à inflação


Monteiro Lobato tinha razão

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve ontem à noite a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%, sem viés. Essa taxa remunera os títulos depositados no Serviço Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e é usada pelo BC como instrumento de controle da inflação.

Quanto mais alta a Selic, mais caro fica o crédito, o que desestimula o consumo de bens e serviços. Quando a Selic é alta, os bancos preferem comprar títulos do governo, remunerados pela Selic, do que emprestar aos consumidores.

No início deste ano, a Selic estava em 11,25%, permaneceu assim em março, subiu para 11,75% em abril, e na reuniões seguintes do Copom também foi elevada: 12,25% em junho, 13% em julho e 13,75% em setembro. A reunião de ontem foi a penúltima prevista do ano. A última reunião de 2008 está marcada para dezembro.

Esta é a notícia. Agora, observem a esquizofrenia deste governo do ex-metalúrgico.

Hoje, a ministra Dilma Vana Rousseff irá fazer um balanço geral do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), e na próxima segunda-feira deve começar um super road show do PAC pela Europa. Haverá apresentações em Lisboa, Madri, Frankfurt e Londres. O governo quer transmitir uma imagem internacional de enfrentamento da crise marcado pela preocupação com o crescimento da economia real, mostrando determinação em investir em infraestrutura para que o País deixe para trás a estagnação das últimas três decadas perdidas.

Portanto, em menos de 24 horas o mesmo governo toma decisões distintas e antagônicas, cujos princípios são conflitantes, e que tendem a se anular mutuamente.

Na última terça-feira, em Salvador, o presidente Lula fez um discurso forte, turbinado por considerações pertinentes e agudas sobre o papel social do capital bancário no País. “Teve uma época, por muito tempo, em que os políticos andaram de cabeça baixa diante do neoliberalismo” – disse Lula. “O que estou defendendo não é o Estado se intrometer na economia, mas é o Estado que tenha força política para regular o sistema financeiro”.

Já se vê, agora, que o presidente Lula estava falando apenas em tese, ou – talvez – se referindo àqueles países estrangeiros, povos longínquos e primitivos, que enfrentam uma crise financeira devastadora e que desanda a se transformar numa recessão paralisante de longo prazo. Lula, percebe-se, acredita na tese do “descolamento”, segundo a qual o Brasil e alguns outros poucos países ficarão ilesos do desastre capitalista. Mesmo depois que o Prêmio Nobel de Economia/2008 e keynesiano, Paul Krugman, tenha afirmado que o “descolamento” não se aplica à presente crise, todos sofrerão de forma intensa e desigual os efeitos amargos da recessão econômica. Todos.

Mas, Lula não acredita em previsões catastrofistas. Prefere acreditar no presidente do Boston Bank, ops presidente do Bacen, Henrique Meirelles que assegura que o mais importante é controlar a inflação. Para tanto, é necessário manter altas – segundo Meirelles – as taxas de juros básicas para inibir o consumo.

O mundo todo, as autoridades monetárias de todos os países atingidos pela crise se empenham em injetar recursos líquidos ao meio para que se retome a atividade econômica produtiva e conseqüentemente o consumo, e o Brasil – ilha da fantasia bancária subtropical – bancando o joãozinho-do-passo-certo.

Para quê?

Para beneficiar menos de duzentas mil pessoas – todas, milionárias e abastadas – que vivem qual parasitas, sem trabalhar, apenas abocanhando as altíssimas remunerações da taxa Selic. Ano passado, está contabilizado, foram destinados 146 bilhões de reais para recompensar essa récua de mimosos do lulismo de resultados.

Deste jeito, o Brasil do presidente (de fato) Henrique Meirelles faz cada vez mais justiça àquela dura sentença de Monteiro Lobato, quando reclamava ainda na década de 40 que não havia ousadia para explorar o nosso petróleo ao dizer – sem exagerar – que vivemos num imenso tartarugal, pois, aqui tudo se arrasta.

O País se arrasta na estagnação econômica há trinta anos (período conhecido como "vôo de galinha"), por força da hegemonia do capital financeiro. E o presidente nominal da República, Luís Inácio Lula da Silva, se arrasta na subserviência e na conciliação de classe mais paralisante.

Soberania, já!


quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Quem bolou o cartaz da Feira do Livro 2008?


Criatividade em tempos de crise

Quem será o autor do cartaz publicitário da Feira do Livro de Porto Alegre, edição 2008?

É muito ruim o tal cartaz. Está assinado pela agência de publicidade denominada Matriz. Mostra a representação da fachada de uma casa construída com livros, simulando duas colunatas fake, dois chaminés de lareiras, varanda superior e térrea, evocando uma estética arquitetônica vitoriana/norte-americana.

Nada mais infeliz. A pessoa que concebeu isso teve a criatividade roçando o nível jegue. A crise financeira na qual o mundo chafurda originou-se na farra do crédito fácil baseado em hipotecas do quê mesmo? Ora, de casinhas simpáticas tal qual essa retratada no cartaz da agência Matriz.

E o slogan, então?

“Ler enriquece”. Falando de corda em casa de enforcado. Valoração de mau gosto para a conjuntura bicuda que vivemos. Ler enriquece e uma casinha estilo e-o-vento-levou (hipotecada) ao lado. Este é o cartaz oficial da 54ª Feira do Livro de Porto Alegre.

Inacreditável.

Governo Yeda já amortiza mais caro o empréstimo em dólar


Primeira parcela foi paga este mês e a população continua desconhecendo o contrato com o Banco Mundial

A alta do dólar, provocada pela crise financeira, já está influenciando o pagamento do empréstimo do Banco Mundial ao governo do Rio Grande do Sul. Neste mês, a governadora Yeda Crusius pagou a primeira parcela no valor de US$ 867 mil, que saiu por R$ 1,8 mi. Quando o governo contraiu o empréstimo, com o dólar a R$ 1,90, a primeira parcela sairia por quase R$ 1,65 mi.

Os valores mostram o que o fiscal de tributos aposentado João Pedro Casarotto já tinha alertado sobre o perigo de adquirir empréstimo em dólar para ser pago em real. O contrato está sujeito aos altos e baixos da moeda estrangeira. O valor pago pelo governo recentemente saiu R$ 150 mil mais caro do que quando fez o empréstimo.

“O empréstimo já está se mostrando, na sua primeira parcela, como um empréstimo prejudicial, na época da tomada do empréstimo já se dizia que o dólar não se manteria naquela situação, que era uma situação irreal. O governo não estava contando com a desvalorização cambial”, diz.

Casarotto afirma que a tendência é que aumente o valor das próximas parcelas, que vão se estender por 30 anos. Sobre uma possível alternativa para o pagamento, o fiscal aposentado é pessimista, já que dependeria de mudanças no contrato. Para ele, isso é pouco provável.

“Aqui no Brasil, os contratos são quase divinos, não se consegue mexer nos contratos. A gente mexe até na Constituição do País com uma facilidade bastante grande. No entanto, contrato não pode ser mais tocado. Então, para diminuir o prejuízo desse contrato vai ser meio complicado”, diz.

Casarotto teme que sejam feitos outros contratos com o Banco Mundial. Ele afirma que é de praxe a existência de acordos para o pagamento de consultoria e assessoria nos empréstimos da organização. No entanto, o governo ainda não enviou o contrato para a Assembléia Legislativa e a população não conhece os detalhes do mesmo.

O empréstimo de US$ 1,1 bilhão ao Estado foi aprovado pelo Banco Mundial em julho deste ano. Em reais, correspondia na época a R$ 1,920 bilhão. A matéria é da jornalista Paula Cassandra da Agência Chasque.

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Nenhum jornal do Rio Grande do Sul comenta sobre essa notícia. Que estranho mecanismo de censura branca estará inibindo a divulgação de informações sobre a caixa-preta do empréstimo junto ao Banco Mundial?

Presidente Lula discursa bonito contra o sistema financeiro



Lula: “Chegou a hora da política”

“Chegou a hora da política”, afirmou ontem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao defender papel do Estado como regulador do sistema financeiro. Em Salvador, onde participou da 9ª Cúpula Brasil-Portugal, Lula se colocou contrário aos que defendiam o liberalismo econômico sem a interferência do poder público. A informação é da Agência Brasil.

“Teve uma época, por muito tempo, em que os políticos andaram de cabeça baixa diante do neoliberalismo. O que estou defendendo não é o Estado se intrometer na economia, mas é o Estado que tenha força política para regular o sistema financeiro”, disse o presidente no pronunciamento que fez, ao lado do primeiro-ministro de Portugal, José Socrates.

“Fomos eleitos, assumimos compromissos com o povo, e o Estado, diante da crise mundial, volta a ter papel extraordinário, porque todas essas instituições que negaram o papel do Estado na hora da crise procuram o Estado para socorrê-las da crise que elas mesmo criaram”, afirmou Lula.

O presidente também voltou a criticar as empresas que especularam e tiveram prejuízos com a crise mundial.

“As empresas brasileiras têm grandes investimentos, rodovias, ferrovias, siderurgia, portos, agricultura. Trabalhamos honestamente por seis anos para por a economia num padrão respeitável no Brasil inteiro. É por isso que juntamos US$ 207 bilhões em reservas. É por isso que fizemos ajustes fiscais. Entretanto, por que estamos vivendo sinais da crise? É porque alguns setores resolveram investir em derivativos, fazer um cassino. Portanto quem foi para a jogatina perdeu. Ninguém tinha o direito de tentar, diria de forma ilícita, mais que aquilo que o próprio sistema produtivo oferecia ao país”, disse o presidente

Lula enfatizou que os setores da economia devem concentrar seus esforços em ganhar dinheiro com a produtividade. “O sistema financeiro tem obrigação de ganhar o seu dinheiro em coisas que gerarão empregos, produtos, riqueza. Não podemos permitir que o sistema financeiro mundial brinque com a sociedade. Não podemos admitir que alguém fique rico apenas trocando papéis e poucas vezes se gerou um paletó, uma bota e um alfinete”.

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Como discurso está muito bem, presidente Lula. Muito bem, como discurso.

Mas e os juros básicos do Banco Central, presidente Lula? E a autoridade e a soberania do seu governo sobre a área financeira, hoje entregue inteiramente aos próprios banqueiros?

A hora é agora, presidente Lula. Há trinta anos que os banqueiros, rentistas e especuladores formam uma casta intocável nesta República.

Até quando, presidente Lula?

Em Tempo: só os jornais O Globo e Estadão deram algum espaço para essa notícia, assim mesmo de forma discreta. Os demais jornalões da oligarquia (associada e dependente da banca) fizeram olho branco para a fala de Lula. Estão pagando para ver.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O estalo do coronel Mendes


Um apedeuta falando sobre Lawrence Kohlberg?

Duvido que o coronel Mendes conheça o piagetiano Lawrence Kohlberg, mas fala com desenvoltura sobre o professor do pensamento pós-convencional, em artigo publicado hoje em ZH. É certo também que o militar não teve o estalo do padre Vieira, para subitamente intelectualizar-se do nada.

Convenhamos, o coronel Mendes tem visíveis dificuldades para alinhar sujeito/verbo/predicado e mesmo para conjugar verbos corretamente. Portanto, é certo que o apedeuta coronel da Brigada Militar valeu-se de um ghost writer para expressar-se por ele.

Pois, esse escritor fantasma – saibam – está com um livro a ser publicado. A obra, que trata sobre segurança pública e movimentos sociais no RS, será lançada na Feira do Livro de Porto Alegre, no dia 15 de novembro, um sábado.

Neste dia saberemos quem é o ghost writer do tosco coronel Mendes.

Há uma nítida queda-de-braço entre Lula e os banqueiros


Tudo indica que Lula capitulará novamente

Faço questão de copiar/colar a íntegra da matéria de capa da Folha de hoje, assinada pelo jornalista Kennedy de Alencar (que, sabe-se, não é nenhum míriam-leitão-da-vida, que apenas repete o que o mercado lhe assopra). Alencar foi no ponto.

De resto, são disputas de poder e conflitos de classe recorrentes que temos tratado aqui no blog, desde que estourou a crise financeira mundial no começo deste tumultuado outubro.

Tudo indica que Lula vai sucumbir novamente ao seu irrefreável espírito cordial e conciliador, e continuar abrindo mão da soberania sobre parte vital de seu próprio governo, em favor dos bancos, dos rentistas e especuladores de sempre.

O ex-sindicalista, hoje convertido ao pragmatismo expresso da governabilidade de resultados, parece que não está convencido de que a força política e econômica do capital financeiro está com os dias contados, no Brasil e no mundo todo, pelo menos na ênfase e no tom dos últimos trinta anos. Mas vamos ler atentamente o que conta Kennedy Alencar:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conversou com grandes banqueiros na semana passada para pressioná-los a abrir as torneiras do crédito. Ouviu respostas desanimadoras.

Segundo a Folha apurou, os grandes bancos disseram que a prioridade, no momento, é construir um "muro de liquidez" - ação preventiva e de sobrevivência no médio e longo prazo em relação à crise econômica mundial, que estrangula o crédito e as empresas.
Lula ficou contrariado, segundo relato de integrantes da equipe econômica. Os grandes bancos aumentaram muito o grau de seletividade para concessão de crédito. A maior parte do dinheiro que entra via redução do compulsório após medidas do Banco Central não retorna ao mercado sob a forma de empréstimo.

Receosos em emprestar e preocupados em manter sua solidez num momento de grandes incertezas, os grandes bancos seguram em caixa os recursos e aplicam nos títulos do próprio governo, atraídos por uma taxa básica de juros (Selic) de 13,75% ao ano.

A Folha apurou ainda que os maiores bancos privados do Brasil têm também procurado se capitalizar para, caso apareça uma oportunidade de compra estratégica de carteiras ou de instituição, terem recursos em caixa para a operação.

Ou seja, a liberação condicionada de estimados R$ 50 bilhões do compulsório (parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a recolher no BC), deixando mais recursos livres para empréstimos, tem tido pouco efeito prático.

Os bancos acreditam que neste momento de incerteza o mais importante é manter o caixa reforçado e não comprar carteiras de crédito de instituições menores, que têm pouca liquidez.

Na semana passada, Lula enviou alguns emissários para conversas com empresários e banqueiros. O presidente tem ouvido opiniões de fora da equipe econômica tradicional -Fazenda, Planejamento e BC. Esses emissários detectaram um pessimismo maior do que Lula imaginava. Os contatos diretos do presidente com banqueiros receosos reforçaram a percepção do presidente de que o efeito sobre o Brasil será maior do que a "marola" prevista por ele anteriormente.

Para complicar, há a divisão na equipe econômica e no próprio BC (Banco Central) em relação à taxa de juros. O presidente do BC, Henrique Meirelles, está no grupo mais ortodoxo. Ou seja, o que cogita até elevar juros para combater eventual efeito inflacionário em razão da alta do dólar.

Os críticos do presidente do BC afirmam que é hora de seguir o movimento dos outros bancos centrais, que reduziram juros para tentar aquecer a economia. O argumento é o seguinte: com os juros tão altos, os bancos vão continuar a preferir a segurança dos títulos do Tesouro do que a concessão de crédito. Seria hora de priorizar o crescimento e não a inflação, apesar de a função oficial do BC ser buscar a meta de inflação.

Esse debate reforça, na avaliação do Planalto, o cenário no qual o BC deverá manter inalterada a Selic na reunião desta semana.

PMDB está bêbado


Porre faz Michel Temer lançar Fogaça à presidência em 2010

O PMDB está bêbado. Bebeu o guaraná gasoso e turbinado dos votos municipais de domingo passado e se emborrachou. Está se achando o partido mais querido e gostoso do Brasil. Ontem, o presidente do condomínio de bêbados eleitorais, Michel Temer, ousou lembrar do nome de José Fogaça para a presidência da República em 2010. É para ver como meia dúzia de votos municipais podem ter o efeito de turbinar as ilusões dos que empinaram em demasia.

É fundamental que se faça, pois, a seguinte pergunta: quando em algum tempo no Brasil um prefeito teve poder e influência política para além do seu território municipal? César Maia, prefeito do Rio de Janeiro, que influência tem na política nacional ou mesmo na última disputa presidencial? Jânio Quadros, Luísa Erundina, Paulo Maluf, Celso Pitta, Marta Suplicy, ex-prefeitos da maior cidade do País, quando tiveram força nacional capaz de alterar uma palha que seja na escolha presidencial?

O professor Cardoso, só para ficar num exemplo pela direita, foi derrotado nas eleições municipais em São Paulo e depois foi eleito e reeleito presidente da República.

O PMDB, na sua embriaguez de juntar criancinha, está fazendo pior, soma os votos conquistados nas grandes cidades e apresenta uma contabilidade falsa com o intuito de representar aquilo que nunca teve em toda a história de sua existência, ser um partido nacional uno e monolítico, e não o condomínio precário de líderes regionais em decadência, como Pedro Simon, Luiz Henrique, Orestes Quércia, Newton Cardoso, Iris Resende, Jarbas Vasconcelos, José Sarney e Jáder Barbalho - todos em fim de carreira.

A única energia que ainda conta para o PMDB – para além do porre eleitoral do último domingo – é aquela emprestada pelo próprio presidente Lula, ao colocar cupinchas adesistas em alguns ministérios da Esplanada, como Nelson Jobim, Hélio Costa, Gedel Vieira Lima e o indizível Edison Lobão.

Como todo o bêbado, quando o efeito da ingesta etílica amazônica passar, ele, o PMDB, logo logo cai na realidade novamente.

BNDES não é hospital


Ouviu, dona Yeda?

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, disse ontem, durante evento realizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, em Campinas, que o governo não vai socializar os prejuízos das empresas que perderam com operações de derivativos cambiais.

“Quero deixar bem claro que o BNDES não está fazendo operações de socorro. O BNDES não é hospital. Nós não estamos bancando prejuízo”, afirmou. “Quando afirmei, na sexta, que o BNDES atuaria para apoiar as empresas que estavam perdendo com operações com derivativos, deixei muito claro que as empresas que tiverem prejuízo terão de arcar com eles. É algo difícil que terão de equacionar com o sistema bancário privado, que já se mostrou disposto a refinanciar”, disse Coutinho. A informação está no Estadão, de hoje.

Ele afirmou que o papel do BNDES será, após as empresas equacionarem seus prejuízos, o de ajudar e examinar tipos de reforços a programas de exportação e expansão das companhias afetadas. Mas sem taxas ou operações privilegiadas e dentro das condições de mercado, garantiu Coutinho.


Governadora Yeda - quem diria? - virou simples lobista de jogadores quebrados


Enquanto isso, permanece o silêncio sobre o empréstimo do Banco Mundial

É inacreditável. A governadora tucana Yeda Rorato Crusius vai à Brasília hoje fazer lóbi em favor de empresas exportadoras que estavam arriscando na jogatina com derivativos cambiais no extra-limite da responsabilidade.

Paralelo a isso, o governo Yeda está metido em um compromisso de empréstimo de 1,1 bilhão de dólares junto ao Banco Mundial, firmado recentemente. A sociedade sulina desconhece por completo os termos e as obrigações que o Tesouro estadual assumiu, apenas se sabe vagamente que as amortizações do empréstimo são em dólar norte-americano, com opção por uma cesta de moedas outras. É tudo quanto se sabe.

Agora, a governadora desvia-se de funções constitucionais, abandona suas obrigações no Estado e vai à Brasília tentar dissolver resistências do governo federal, que – corretamente – nega-se a oferecer socorro às mais de duzentas empresas exportadoras que estavam brincando de game financeiro para engordar seus lucros não-operacionais. Entre estas, estão inúmeras empresas exportadoras do Vale do Sapateiro. Com a subida do dólar, esses praticantes da jogatina irresponsável correm sérios riscos de tornarem-se insolventes e depois quebrarem em definitivo.

Comenta-se (no mercado tudo se sabe!), que a governadora não iria quebrar lanças somente por pequenas empresas do Vale, mas empregaria todos os esforços pelas suas aliadas preferenciais, as papeleiras, em especial a Aracruz e a Votorantim, que juntas tiveram um rombo de 4,3 bilhões de reais na aposta temerária dos derivativos cambiais.

Enquanto a governadora excursiona exclusivamente em favor de socorro à empresas privadas, cujos executivos foram imprudentes, o Rio Grande do Sul aguarda explicações sobre o perigoso empréstimo caixa-preta de 1,1 bi de dólares.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Por que uma massa de eleitores fica marginalizada do processo eleitoral?


É preciso atender as demandas cidadãs do voto negativo

Os analistas eleitorais costumam examinar somente os resultados dos votos positivos, que eu chamaria àqueles votos concedidos nominalmente a algum concorrente majoritário. Mas e os votos negativos (abstenções, brancos e nulos) como ficam? Por que não examinar a totalidade mesmo dos votos (ou expressões eleitorais) de um processo eletivo?

Vejamos como foram os votos negativos (expressões cidadãs tão legítimas quanto o voto positivo), ontem, em Porto Alegre.

Abstenções: 184.747 votantes (17,78%)

Brancos: 25.070 votos

Nulos: 30.573 votos

Soma dos votos negativos: 240.390

Como a diferença do vitorioso José para a derrotada Maria alcançou 142.897 votos, pode-se verificar que os votos negativos supririam em muito o déficit da perdedora, caso esta empolgasse mais eleitores a seu favor. Assim sendo, pode-se dizer que Maria perdeu tanto para os votos positivos destinados ao seu oponente, quanto para os votos negativos, que não se sentiram suficientemnte estimulados a sufragá-la com determinação e confiança.

A rigor, Porto Alegre ontem dividiu-se em três partes, e não em apenas duas, como querem os especialistas positivistas:

José Fogaça recebeu 470.696 votos

Maria do Rosário recebeu 327.799 votos

Votos negativos: 240.390 eleitores

Portanto, esses mais de 240 mil eleitores (quase 1/4 do total) revelam um sintoma de que o sistema político-eleitoral não está dando conta da riqueza de demandas da cidadania. Mais: que o formato do processo eleitoral está hipertrofiado, merecendo reparos profundos que sejam capazes de atender um espectro social mais amplo e denso, com situações mais plurais e diversidades maiores dos requerimentos públicos.

A inclusão eleitoral (positiva) de uma enorme parcela da cidadania é tarefa inadiável da sempre adiada reforma política. Mais um débito na contabilidade política do lulismo de resultados.

"Pontal do Estaleiro" em debate crítico


Clique no cartaz para ampliá-lo.

Dirceuzismo sofre derrota em Porto Alegre


Um partido que perdeu a alma

A campanha eleitoral da candidata petista Maria do Rosário foi tão chocha e caricatural que o PT ficou irreconhecível aos olhos dos eleitores, além de quase ausente das ruas, salvo os diaristas contratados para balançar bandeiras descoradas e apáticas. O dirceuzismo representado por Rosário e sua patota foi derrotado na ex-Capital do Fórum Social Mundial e do Orçamento Participativo. Derrota política, derrota eleitoral. E pelo tom das primeiras declarações, sequer sabe o porquê das derrotas ou refugiam-se no auto-engano.

Um partido que perdeu a sua alma, em algum lugar do passado, perde a razão da existência, não tem energia ideológica e convicção política suficientes nem para se aplicar à única dimensão a que se dedica atualmente – as corridas e feiras eleitorais.

No dia 6 de outubro último, publicamos aqui no blog DG o post abaixo, que explica um pouco – minimamente – a descaracterização sofrida pelo ex-PT de Lutas.

O eleitor

A nobre estirpe dos çábios do marketing eleitoral criou uma categoria nova nas ciências sociais de nossos dias – o eleitor.

O eleitor é um derivativo de consumidor. Portanto, não tem classe social, identidade cultural, expressão étnica e personalidade organizada que o oriente como cidadão/cidadã portador de demandas, direitos e crítica políticas.

O eleitor é tratado como um consumidor de refrigerante ou sabonete. Alguém que age pelo impulso momentâneo ou pelo estímulo pavloviano dos cães e dos gatos. Logo, alguém destituído de razão e constituído somente de emoções, receptáculo permanente de meras sensações que devem ser agradáveis, coloridas, imagéticas, simplificadas e de quase ou nenhuma complexidade.

O eleitor é um banana! Está bem, não vamos a tanto, é como um fanático torcedor do Inter (ou do Grêmio), vá lá.

Orientado, então, por esse conceito sociológico de “altíssima relevância científica” – o eleitor – os marqueteiros afirmam que “o consumidor de produtos eleitorais” não gosta de briga, debate ou discussão entre candidatos a cargos públicos.

Em suma, o eleitor não gosta de política, por que a política divide em vez de unir, a política inspira ódios, em vez de estimular o amor e a harmonia entre as criaturas, a política provoca discussões chatas, inúteis e que fazem o consumidor trocar de canal. A política é tudo o que o eleitor/consumidor não quer. E, fantástica coincidência: como também os investidores e especuladores do solo urbano de Porto Alegre.

Disseram-me que Maria sou-uma-vitoriosa do Rosário tem desses marqueteiros çábios como quadros profissionais para enfrentar o segundo turno.

A ver.

Fac-símile: declaração (imprópria, personalista) de Maria do Rosário em 6 de outubro de 2008, feliz da vida por ter passado para o segundo turno em Porto Alegre, mostrando o quanto foram estreitos os horizontes do PT em 2008.

domingo, 26 de outubro de 2008

Mediocridade e impotência


Em qualquer grande cidade onde o azar me leva, me surpreende que não desatem levantes diários, massacres, uma carnificina sem nome, uma desordem de fim de mundo. Como, em um espaço tão reduzido, podem coexistir tantos homens sem destruir-se, sem odiar-se mortalmente?

Para dizer a verdade, se odeiam, mas não estão a altura do seu ódio.

Esta mediocridade, esta impotência, salva a sociedade, assegura a sua duração e estabilidade.

E. M. Cioran (História e Utopia)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Governo Lula já trata de forma diferente o capital financeiro


A fotografia acima não tem preço


O conservadorismo brasileiro tem que se dar conta de uma realidade que veio para ficar: seu mundo caiu. Todas as justificações que sustentavam o modelo neoliberal agora jazem por terra. Falo justificação para não falar em conceitos e categorias, até mesmo porque estes eram muito débeis para sustentar a ideologia do business, business esse descolado do real, da economia mesmo.

A propósito disto, hoje, a Folha em editorial ("Pacote infeliz") ataca furibunda a Medida Provisória 443, editada para autorizar que o Banco do Brasil e a Caixa Federal intervenham no mercado adquirindo participações ilimitadas em instituições financeiras, públicas ou privadas.
O argumento da Folha é quase ingênuo, se não fosse caviloso, “dissemina a impressão de que, para o governo, os problemas com as finanças domésticas são muito mais graves do que se supunha”. Por fim, chama a MP de carente de democracia e incita ao Congresso Nacional para que não a endosse, “em nome do interesse público”.

Agora, eles lembram das velhas palavras mágicas “democracia”, “interesse público”. Quando mergulharam de cabeça na defesa da hipertrofia capitalista chamada neoliberalismo, lá pelo final da década de 80 – que nega e pulveriza todo o ideário liberal-democrático-burguês – eles jamais hesitaram em atropelar as conquistas e a acumulação começadas no Iluminismo.

O mais grave, entretanto, é que o conservadorismo – do qual a Folha é um dos porta-vozes mais refinados – reclama cataplasmas e remédios que fazem parte dos próprios fundamentos desastrosos que conduziram o mundo para a crise na qual chafurda. Continua a mesma lenga-lenga contra o alegado excesso de gastos públicos e a necessidade de menor intervenção do Estado na economia.

Já se vê que a crise ainda não está sendo suficientemente forte e duradoura para convencê-los que está tudo acabado para a hegemonia quase imperial do capital financeiro e seus aliados de ocasião (ou aposta).

Quarta-feira, depois do depoimento no Congresso, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles fazia uma cara contrariada ao sair do recinto, no mesmo momento em que estava sendo editada a MP 443. Um fotógrafo da Agência Brasil captou o flagrante (foto acima), aparece Meirelles com cara estomagada (já sabia da MP 443), e Guido Mantega porta o sorriso-monalisa número 4. Essa fotografia não tem preço.

O governo Lula está agindo dentro dos ensinamentos de Lord Keynes. Já é um bom começo de conversa para superar as marcas neoliberais que contaminam o lulismo de resultados. Este, tem aproveitado a oportunidade única da conjuntura favorável para se desvencilhar de velhos medos, talvez, até de alguns compromissos odiosos de colaboração de classes, de reverências cordiais (no sentido buarqueano), e de caronas conciliatórias que lhe impediam o pleno movimento e a total soberania requerida para um chefe de Estado com os altos níveis de popularidade que ele alcança.

Muitas concessões ainda serão feitas – esse estímulo à indústria automobilística, em detrimento de alternativas sustentáveis – e muitos embates a direita interna ainda irá conquistar, mas o combate ao inimigo principal – o capital financeiro – já foi minimamente iniciado.

PT, entre a alienação e o desengano


A direita também argumenta assim

Quarta-feira fiz aqui uma provocação intelectual aos petistas afirmando que “Nem Che salva o PT”. Cerca de 98% dos comentários evitou discutir o mérito das assertivas lá expostas. Preferiram o recurso mais direto, me atacaram pessoalmente, inclusive me apontando como portador de “pensamento ressentido”.

Não me darei ao trabalho de responder algo subjetivo que sequer estava pautado pelo post. Esses petistas que pensem o que quiserem sobre o blogueiro, afinal, quem está na chuva é para se queimar – não é assim que se diz?

De qualquer forma, é de lamentar que a comunicação, o diálogo é impossível com autistas e refratários ao pensamento crítico. Justamente numa organização partidária que carece tanto de pensamento crítico, nem que seja para entender o que está se passando a sua volta, onde tudo perde consistência e sentido.

Avulta nos comentários a mais completa despolitização, e o que é pior: uma inconsciência de segundo grau sobre a realidade petista. Ou seja, o sujeito não sabe que não sabe. Mais: não raro surgem mesmo argumentos extraídos do mais puro pensamento de direita (e anticomunista). Exemplo: tratar com argumentos de subjetividade algo que é a mais pura expressão da realidade objetiva.

Quando classifica alguém de “ressentido”, o autor da afirmação refugia-se num velho e gasto argumento da direita para fazer a disputa do conflito social. Deixa de lado o exame da realidade objetiva – as lacunas orgânicas do partido, as falências ideológicas, as desfuncionalidades políticas, a unifuncionalidade eleitoral, o abandono da busca da hegemonia – para se fixar num objeto escolhido a seu bel prazer – a subjetividade pessoal do interlocutor. Sou faltou me chamar de “invejoso”, que é como a direita endinheirada classifica os despossuídos que lutam por mudanças sociais.

Esse pequeno e microscópico debate – havido, afinal entre apenas cerca de quarenta pessoas que fizeram comentários no post – é uma amostra reduzida da gravidade da situação do PT como partido que se quis transformador, democrático, de massa e de quadros, mas que no momento, e cada vez mais, ratifica a intenção de abandonar a luta que o originou para se transformar no mais novo partido tradicional do Brasil.

Espero que pelo menos esta última intenção seja consciente, e não fruto da alienação ou do desengano.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

É agora que o Banrisul vai


Medida Provisória 443 facilita o negócio entre o Banco do Brasil e o Banrisul

A Medida Provisória 443 permite ao Banco do Brasil adquirir sem licitação outras instituições bancárias e à Caixa Federal fica permitido a criação de um banco estatal de investimento que atuará no segmento empresarial e terá uma área específica para comprar participações acionárias, a CaixaPar (Caixa Participações).

Com isso, asfalta-se a rodovia, até agora esburacada e cheia de obstáculos, para que o BB compre finalmente o Banrisul.

Depois da presente crise, acentuou-se exponencialmente a tendência mundial de concentração dos capitais bancários.

Haverá verticalização, igualmente, no Brasil, e a MP do governo Lula é medida keynesiana relevante para a presente conjuntura, porque antecipa políticas necessárias, intervém num mercado alucinado e desconexo com o real, trazendo racionalidade e regramento (ainda) mínimo à balbúrdia reinante.

O Banrisul, por sua vez, pode escolher entre duas situações excludentes:

1) Ser incorporado ao Banco do Brasil e continuar um ativo estatal, com ênfase no fomento à geração de emprego e renda no RS.

2) Ficar sangrando na crise, desvalorizar-se mais e mais, e depois de esgualepado (tudo o que a governadora Yeda e seus bad boys querem), ser vendido (“doado”) a um santander-qualquer na bacia-das-almas-penadas-bancárias-de-resultados, sem nenhuma garantia e respeito aos direitos dos trabalhadores bancários.


As microondas estão danificando o cérebro de Míriam Leitão


Jornalista de mercado diz que “o governo está cedendo à sua compulsão estatizante de sempre”

Está muito hilária a coluna de Míriam Leitão (foto), de ontem. Ela diz que “o governo deu um tiro no pé hoje com a Medida Provisória que permite aos bancos públicos comprarem bancos”. Bom, se Leitão diz que foi "tiro no pé", desde já fico sereno. A jornalista, das Organizações Globo e “de mercado”, é porta-voz privilegiada do que há de mais financista e predatório no Brasil. Tudo que ela diz e escreve deve ser lido com o sinal trocado.

Mais adiante, Leitão afirma que essa “compulsão estatizante de sempre” do governo Lula resultou no aumento do risco Brasil que foi a 650 pontos, os juros futuros explodiram e a Bovespa teve circuit breaker. E segue o “terrorismo” de Leitão: “rumores circularam de que existem fundos e bancos com problemas”. Esse alerta, certamente é um “furo” na concorrência. Notável.

Vejam a desonestidade intelectual (e moral) desta senhora: ela corta o fio condutor dos fatos, isolando-os da realidade internacional, e daí para a frente passa a examinar a conjuntura solteira e singular, a partir do evento que denomina “compulsão estatizante de sempre”. Imaginem, 650 pontos no risco Brasil. Imaginem, explosão de juros. Imaginem, circuit breaker. Imaginem, (e agora conta um segredo de polichinelo) “rumores circularam de que existem fundos e bancos com problemas”.

Leitão nacionalizou, abrasileirou, lulalizou a crise estrutural do capitalismo, edição 2008.

A hecatombe financeira internacional não conta? Quem produziu a crise e seus efeitos foi o governo Lula, com a sua “compulsão estatizante de sempre”? Aliás, que “compulsão” é essa, Leitão? Lula nunca estatizou um banco de jardim, que fosse. Ao contrário, dá provas continuadas de que não se mete em política bancária, tendo emitido carta branquíssima ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, para fazer o que bem entendesse, inclusive manter os juros básicos mais elevados do mundo, mesmo depois da eclosão da crise e mesmo face à tendência internacional dos BC’s de diminuirem juros para aumentar a liquidez e o consumo. Sem falar no estímulo do BC à especulação perigosissíma com moedas futuras, que está quebrando mais de 200 empresas, inclusive a Sadia e as papeleiras guascas. É o reconhecimento desta irresponsabilidade mesmo que está na raiz do motivo da Medida Provisória que permite ao BB e CEF comprarem bancos privados. Lula deu uma de Gordon Brown (dizem que aí tem o dedo de Rousseff): se o mercado não é responsável por seus atos, o Estado o será.

Leitão, finalmente, tem que parar de acreditar nestas agências de classificação, as mesmas que apontam 650 pontos no chamado risco Brasil. Se essas agências fossem idôneas e confiáveis teriam antecipado a tempo o “risco capitalismo mundial”. Mas agora estão completamente desmoralizadas, e levam de roldão para a rua da amargura e do opróbrio as jornalistas “de mercado”.

Leitão, que passa o dia no celular recebendo pitacos furados de operadores temerários e investidores suspeitos, deve cuidar com a exposição prolongada às microondas do telefone móvel. Houve caso em que o usuário de risco – como ela – teve o cérebro cozinhado pelo celular.

Coisas da vida.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Nem Che salvaria o PT


José, Maria, e a vitória do indiferenciado

Petistas sinceros – mas fetichizados e nostálgicos de uma organização partidária fantasmagórica que já se desmanchou no ar – insistem no voto em Maria do Rosário.

Tais militantes supõem que o PT é um partido-minhoca (a classe de anelídeos que reconstitui suas células a partir de apenas um segmento vivo). O Partido dos Trabalhadores perdeu completamente suas estruturas orgânicas e por conseguinte a original capacidade de intervenção na realidade política, econômica e social. Como está reduzido a uma dimensão meramente eleitoral (onde não raro é igualmente derrotado), esses petistas, repito, sinceros (porém, enfeitiçados e ingênuos) imaginam que este cotoco amputado da antiga vida orgânica possa se reproduzir por geração espontânea e mágica. Uma vitória eleitoral – sonham eles – vai recompor celular e organicamente, como que por encantamento, os saudosos predicados de combatividade política do ex-PT de lutas.

Isso não ocorreria nem que – hipoteticamente – Ernesto Guevara de la Serna, El Che, fosse o candidato ao Paço Municipal de Porto Alegre, nesta corrida de 2008. Agora, imaginemos – ou caiamos na real – que a candidata é a melíflua, risonha e conciliadora Maria do Rosário. De onde menos se espera, é daí que não sai nada mesmo, diria o menos humorado dos realistas.

Ainda assim, eu admito que os projetos que disputam o pleito de 2008 em Porto Alegre sejam distintos. Até dou de barato que há mesmo duas concepções diversas de administração pública em competição aberta. Mas os seus protagonistas – José e Maria – não diferem em nada. Ambos são os responsáveis pela sonegação da política e a exaltação da espuma, da bolha, do nadismo neste pleito que chega ao fim domingo próximo.

De qualquer forma, as duas concepções administrativas em disputa (eu diria, hipóteses de trabalho oferecidas ao mercado local), acabam ficando em abstrato face à materialidade e unipessoalidade delegada a quem é chefe do Poder Executivo no Brasil. Para o bem ou para o mal, o titular do Executivo é quem manda na sua administração. É ele quem dá o tom e a direção do seu governo ou do seu desgoverno.

Logo, não importam que as concepções e os projetos sejam completamente distintos, uma vez que acaba prevalecendo sempre a personalidade do chefe ou da chefa. Então, se José e Maria são indissociáveis na mediocridade e indiferenciados na política, não há como negar que ambos se merecem.

Só quem não merece é a população de Porto Alegre.

Ilustração: no segundo turno, José e Maria fazem jogos cordiais e negaças de boa vizinhança. A mídia local se delicia com o expurgo da política da cena do "debate" eleitoral 2008.

Justiça espanhola investiga mortes durante a Guerra Civil


Povo espanhol quer acertar contas com o fascismo

O juiz espanhol Baltasar Garzón iniciou investigação sobre os desaparecidos da Guerra Civil espanhola (1936-39) e do regime fascista do ditador Francisco Franco (1936-1975), nesta semana.

Também pediu a abertura de inúmeras valas comuns, entre elas a que contém os restos do poeta Federico García Lorca. O juiz se declarou competente para a investigação e abriu instrução sobre as milhares de vítimas da Guerra Civil, esquecidas nas valas comuns.

A decisão é uma resposta às várias associações de famílias de vítimas republicanas e anti-franquistas As entidades pedem à Justiça que localize os corpos e esclareça as circunstâncias das mortes. A informação é da Agência Chasque.

Foto: Adolf Hitler e Francisco Franco (fazendo saudação fascista).

União assumiu a defesa de torturadores e assassinos da ditadura


Ministro Jobim ganha outra queda-de-braço dentro do governo Lula

A União assumiu a defesa dos coronéis da reserva Carlos Alberto Brilhante Ustra e Audir dos Santos Maciel, alvos de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal (MPF) pela tortura de presos políticos e a morte de pelo menos 64 deles entre 1970 e 1976, período em que comandaram o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI/Codi) do Exército.

Na prática, segundo fontes do Ministério Público, significa que o governo optou pela defesa dos acusados, quando poderia se manter neutro ou até mesmo se posicionar a favor das punições. Agora a União também é ré na ação.

Este ano, o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o secretário nacional de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, chegaram a se manifestaram a favor da punição aos torturadores, mas foram desautorizados pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim, que teria manifestado opinião do próprio presidente Lula.

Na contestação de 44 páginas apresentada em 14 de outubro pela Advocacia Geral da União à 8a Vara Federal Cível de São Paulo, a advogada Lucila Garbelini e o procurador regional da União em São Paulo, Gustavo Henrique Pinheiro Amorim, defendem a tese de que a Lei da Anistia de 1979 protege os coronéis: “A lei, anterior à Constituição de 1988, concedeu anistia a todos quantos, no período entre 2 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos (...). Assim, a vedação da concessão da anistia a crimes pela prática de tortura não poderá jamais retroagir”.

A ação do Ministério Público contra Ustra e Maciel é a primeira a contestar a validade da Lei da Anistia para acusados de tortura. Na ação, os procuradores federais Marlon Weichert e Eugênia Fávero pedem que Ustra e Maciel restituam à União todo o dinheiro pago em indenizações a vítimas de tortura no DOI/Codi, principal centro de repressão política em São Paulo entre 1970 e 1976.

No período, segundo dados das próprias Forças Armadas divulgados no livro “Direito à Memória e à Verdade”, da Presidência da República, 6.897 pessoas consideradas inimigas do regime ditatorial passaram pelo DOI/Codi.


Governo federal não vai socorrer papeleiras que fizeram jogatina


Ministro diz que esse é um problema privado

O ministro da Fazenda, Guido Mantega (dir.), disse ontem que o governo não vai assumir os prejuízos das empresas com derivativos de câmbio. Várias empresas exportadoras fizeram operações financeiras arriscadas apostando na queda do dólar e tiveram grandes perdas quando a moeda disparou, em virtude da crise financeira.“Essas empresas é que terão que arcar com os prejuízos, o governo não vai dar um tostão”, garantiu, em audiência pública, ontem, na Câmara dos Deputados. A informação é do Estadão, de hoje.

Mantega disse que esse é um problema privado e assim será tratado pelo governo. O governo não sabe o volume do prejuízo com derivativos cambiais, de acordo com Mantega. Informações extra-oficiais dão conta de que cerca de 200 empresas exportadoras estariam em dificuldades decorrentes dessas operações.

Até agora, apenas a Sadia Alimentos, e as papeleiras Aracruz e Votorantim assumiram publicamente perdas milionárias, e o fizeram porque têm satisfações a dar à Comissão de Valores Mobiliários, que defende os investidores em bolsa no Brasil.


terça-feira, 21 de outubro de 2008

Atrevido, Meirelles avisa: juros não cairão!


“É importante que a sociedade saiba disso” – alerta o maroto presidente do BC

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (foto), afirmou ontem que, apesar da crise financeira, o BC continuará cumprindo com as metas estabelecidas para inflação. A meta estabelecida para a inflação de 2008, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), é de 4,5%, podendo variar dois pontos percentuais para cima ou para baixo. A informação é da Agência Brasil.

Em discurso realizado em São Paulo, na posse da diretoria da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), Meirelles disse que o Comitê de Política Monetária (Copom) manterá sua estratégia e avaliará os efeitos da crise para melhor se decidir sobre os juros.

“Engana-se quem vê uma manobra de estratégia na nossa atuação. Temos um compromisso com as metas de inflação. E é importante que a sociedade saiba disso ”, afirmou. De acordo com o presidente do BC, as decisões do Copom sobre a taxa de juros levam em conta as projeções de inflação e os riscos que a taxa pode trazer para a economia nacional.

A próxima reunião do Copom será realizada nos próximos dias 28 e 29. A taxa básica de juros (Selic) está, atualmente, em 13,75% ao ano.

Semanalmente, o BC elabora o boletim Focus, com estimativas de analistas do mercado sobre os principais indicadores da economia e, na publicação de ontem (20), a projeção dos analistas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano passou de 6,20% para 6,23%. O IPCA é o índice oficial que mede a inflação.

Para 2009, os analistas mudaram a expectativa de inflação de 4,80% para 4,90%. A meta oficial de inflação para 2009 também é de 4,5%. Já as projeções dos analistas registradas pelo boletim Focus para a Selic é de que a taxa esteja, até o final deste ano, em 14,50%. No boletim anterior, a previsão era de 14,75%.

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Que leitura pode ser feita destas declarações marotas do presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles?

Esta leitura. Não importa a possível recessão econômico-produtiva mundial. Aqui no Brasil, as metas continuam sendo o combate à inflação. As medidas continuarão inspiradas em políticas monetaristas e ponto final. Keynes é um demônio que não pode ser invocado, jamais. Para o Banco Central nada – absolutamente nada – irá mudar a altíssima taxa básica de juros praticada no Brasil. Assim, o Banco Central do Brasil continuará na contramão das políticas salvacionistas implantadas por outros BC’s e por outros governos de economias centrais, como Europa e Japão.

Perseguir unicamente metas inflacionárias (em meio a uma ameaça recessiva mundial profunda e prolongada) com o remédio singular dos juros altos é a justificação mais cômoda para a reafirmação da hegemonia política e econômica do sistema financeiro no Brasil.

A insolência de Henrique Meirelles (É importante que a sociedade saiba disso!) é um recado direto para o centro de governo: a política é esta, e continuará sendo está, enquanto os bancos brasileiros quiserem que assim seja. Ponto final.

Fica cada vez mais claro que urge ao presidente Lula fazer valer a condição singular de sua altíssima popularidade retomando a soberania sobre a integralidade de seu governo, especialmente no que se refere à área econômico-financeira. Os bancos, enfraquecidos conjunturalmente no mundo inteiro, não podem fazer do Brasil uma ilha da fantasia em meio ao oceano de turbulências estruturais.

Soberania, já!

Blindagem do Brasil é de papel crepom


Soberania, já!

O Brasil será um dos países mais afetados na América Latina pela crise do mercado financeiro, de acordo com estudo da UFRJ. Para o economista Reinaldo Gonçalves, a blindagem do Brasil contra a crise é de "papel crepom" em razão da vulnerabilidade externa e de erros de estratégia e de política econômica do governo Lula. A informação é da Folha, de hoje.

Segundo o estudo, os argumentos que sustentam a maior blindagem do país para lidar com a crise são falsos, como a menor dependência dos EUA na exportação, o elevado nível de reservas internacionais e o dinamismo da absorção interna.


Segundo Gonçalves, apesar de o país ter reduzido a participação das exportações para os EUA de 24,7% em 2001 para 18% em 2006, houve aumento no período da participação de países como China e México, que têm economias dependentes do mercado americano.


Em relação às reservas internacionais, Gonçalves argumenta que o país já perdeu mais de US$ 4 bilhões desde que o Banco Central começou a intervir no mercado de câmbio para evitar que o dólar continuasse em alta.

Segundo ele, as reservas são pequenas se comparadas ao passivo externo do país, que passou de US$ 343 bilhões em 2002 para US$ 939 bilhões em 2007. Ele representa o estoque de todos os recursos estrangeiros no país, incluídas aplicações financeiras, investimentos produtivos e empréstimos. Houve um erro grave do governo, de ter permitido um dos maiores desalinhamentos cambiais da América Latina."

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O governo Lula precisa se dar conta do seguinte: o neoliberalismo acabou. Kaput!

A autonomia do Banco Central – que impõem ao País a tirania dos juros mais elevados do mundo – precisa ser revista. A hora é de políticas de incentivo ao mercado interno, e os juros básicos de 13,75% são uma barreira para a expansão produtiva voltada para o consumo dos desfavorecidos.

O presidente Lula precisa ser, finalmente, soberano, e tomar em definitivo e de forma integral a direção da política econômica, que está entregue já há quase três décadas ao capital financeiro.

Soberania, já!

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