Você está entrando no Diário Gauche, um blog com as janelas abertas para o mar de incertezas do século 21.

Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Flaco Spinetta



Grande nome do rock argentino, fez 60 anos em janeiro último. Continua muito bom. Essa canção romântica aí é uma das mais fracas do flaco, mas ainda carrega um sopro do seu enorme talento. Ele tem grandes composições, e criou pelo menos duas ótimas bandas roqueiras. Um artista desconhecido no Brasil. Quem perde somos nós.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Boçalidade guasca


Que culpa eu tenho se tu matas o teu cavalo? Morreram dois, o que é natural. Se morrerem 15 cavalos, não tenho nada com isso. Quem sou eu para dizer que alguém não pode participar? O animal tem de ser preparado. Esse é um problema do dono do cavalo. É como mulher. Se tu não tratares bem, vais levar guampa.

Sentença proferida pelo organizador da chamada "Cavalgada do Mar", o tradicionalista guasca, Vilmar Romera, publicada no jornal Zero Hora, edição de hoje, página 4.

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Sem comentários.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Mas não se mata cavalo? - perguntou a secretária de Yeda


A cavalgada dos desesperados

"Mas não se mata cavalo?" é um livro do escritor estadunidense Horace McCoy. "A noite dos desesperados" é o filme do diretor Sydney Pollack (1934-2008), adaptado em 1969 da excelente obra de McCoy. Os protagonistas são Robert e Gloria, interpretados por Michael Sarrazin e Jane Fonda, esta na flor fresca da tenra idade.

A ação passa-se durante a depressão de 30, um tempo de violência social e inferno existencial, e o argumento é o seguinte: se as pessoas são tratadas como animais, por que não se pode matá-las impunemente, como se faz com os cavalos? Robert e Gloria tentaram a vida - sem êxito - em Hollywood. Agora, querem vencer um concurso estúpido para ver quem ganha a maratona de dança de salão por horas a fio (não lembra o BBB da Globo?), em troca de alguma miserável e incerta pecúnia.

McCoy escreve bem, seco, objetivo, implacável. Há um assassinato na trama (não vou revelar por motivos óbvios), mas o escritor encara como se fora um dever moral do assassino, algo na linha de Camus, ao encarar o suicídio.

O livro de McCoy pode ilustrar o atual ambiente político-cultural do Rio Grande do Sul: pesado, cínico, acanalhado... e onde se matam cavalos para ostentação de caprichos fúteis e cultura mamarracha.

A chamada "Cavalgada do Mar" de 2010 teve como protagonista a atual secretária de Cultura do governo Yeda. Resume-se a uma corrida inútil na beira do mar sob um sol de 50 graus e sobre cavalos montados por homens e mulheres urbanos mas que querem parecer rurais, em nome de delirantes tradições inventadas.

Uma "noite dos desesperados" sob um calor de matar cavalos.

Para quê?

Para nada!

PS: O livro foi editado originalmente pela Editora Globo, de Porto Alegre. Tradução de Érico Veríssimo. Recentemente a editora L&PM reeditou a obra de McCoy. Fui verificar nos sebos, custa por volta de 5/10 reais. Tem 149 páginas. Leitura para sábado à tarde... com os cavalos desencilhados e à sombra.

A galopar, com voz e raiva



Com a poesia de Rafael Alberti (1902-1999) e a música de Paco Ibáñez.

Rio Grande do Sul: zero ânimo, apatia mil


Como previu Érico Veríssimo: "e o resto é silêncio!"

Deu no blog RS Urgente:

A sala de cinema Norberto Lubisco foi fechada. O auditório Araújo Vianna foi fechado. A Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA) ficou sem sala. No governo do Estado e no governo da capital gaúcha, admiram-se as palavras “choque”, “moderno” e “zero”, entre outras. Ser moderno é dar choques para garantir alguns zeros. Para isso, é preciso fechar coisas, vender bens, desfazer-se do que é (supostamente) secundário. Esse é o padrão de eficiência de gestão que vem sendo perseguido pelos últimos governos no Rio Grande do Sul. Há quem fale de um profundo retrocesso cultural em curso no Estado. As autoridades da área rejeitam veementemente essa afirmação e garantem que o Estado cavalga na direção do último grito da modernidade. E fica tudo por isso mesmo. O clima de apatia que estacionou sobre a Província de São Pedro se encarrega do resto. E o resto, no caso, é silêncio.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O imortal Hendrix



Já nos primeiros acordes vocês sabem com quem estão lidando. Inconfundível. Inimitável.

A composição é de Bob Dylan.

Petkovic desmonta preconceito "global" de Ana Maria Braga



"Quando nasci não tinha dificuldade nenhuma. Era um país 'marravilha', vivíamos um regime socialista, todo mundo bem, todos tinham salário, todos tinham emprego, os problemas aconteceram depois dos anos 80 [por causa da guerra separatista]" - disse o jogador sérvio, que atua no Flamengo.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Um clássico do pop internacional

Nothing Else Matters, do Metallica. Os metaleiros ortodoxos acham coisa de bunda mole, "muito melódico", dizem.

Essa composição já foi gravada por inúmeras bandas e intérpretes, inclusive por coral de frades, vertido em canto gregoriano (claro, para vender disco!), aquele canto plano, monódico, diatônico e de ritmo livre, baseado na acentuação e nas divisões do fraseado. Ficou bonito, para frenesi dos metaleiros. O Metallica esteve em Porto Alegre, agora em janeiro de 2010.

A grande Joan Baez



Coisa difícil para o intérprete é não desafinar. Todos desafinam. Todos. Todas. Menos Joan Baez. Aqui, a interpretação afinadíssima de Brothers In Arms (clássico da banda Dire Straits), uma raridade.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Planeta Atlântida/RBS lançava esgoto na via pública


TAC assinado em dezembro de 2009 foi uma alternativa proposta pela Promotora de Justiça de Capão da Canoa

Até o final do mês de fevereiro [2010], a RBS Participações, por meio da rádio Atlântida, divulgará spots durante os intervalos comerciais com informações e dicas de preservação ambiental, a fim de estimular a conscientização sobre o tema. A veiculação das inserções teve início em janeiro, e decorre de um termo de ajustamento de conduta firmado entre o Ministério Público e a empresa.

O TAC, assinado em dezembro de 2009, foi uma alternativa proposta pela promotora de Justiça de Capão da Canoa, Caroline Gianlupi, após a constatação de danos ambientais ocorridos durante a realização do Planeta Atlântida do ano passado. Na ocasião, a Patrulha Ambiental identificou que o esgoto, proveniente de banheiros químicos instalados no local do evento, estava sendo despejado em via pública, onde transitavam pessoas. Na época, a empresa providenciou reparos na coleta de esgoto e a coleta dos dejetos. Mesmo assim, após um levantamento, ficou estimada multa de R$ 20 mil pelos danos ambientais.

“Nós identificamos que seria melhor reverter esta multa em divulgação de uma campanha publicitária com foco na conscientização ambiental”, esclarece a promotora Caroline Gianlupi. Ao todo, devem ser veiculados 100 spots de 30 segundos cada na Rádio Atlântida de Porto Alegre (durante a semana) e de Tramandaí (aos sábados e domingos), entre 11h e 20h. Após o dia 20 de fevereiro, quando encerra o prazo para cumprimento do TAC, a RBS deve fornecer uma planilha com dia e hora das inserções. Além disso, a empresa se comprometeu a impedir a repetição do problema nas edições posteriores do Planeta Atlântida.

O não cumprimento da medida acarretará multa de R$ 50 mil pela não compensação do dano ambiental, que reverterá para o Conselho Pró Segurança Pública de Xangri-Lá.

Pescado do portal web do MP/RS

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Esta é a pedagogia da RBS dirigida aos pré-adolescentes e adolescentes frequentadores desavisados do evento Planeta Atlântida. Este é o espírito de cidadania que brota da empresa midiática da família Sirotsky.

Edificante!

A velha e boa análise sintático, lembram?


Filho da puta é adjunto adnominal (ou paronomástico), se for "conheci um juiz filho da puta". Se for "o juiz é um filho da puta", daí é predicativo.

Agora, se for "esse filho da puta é um juiz", daí é sujeito.

Porém, se o cara aponta uma arma para a testa do juiz e diz:

"Agora nega a liminar, filho da puta!" - daí é vocativo.

Finalmente, se for: "O ex-juiz Nicolau dos Santos Neto, aquele filho da puta, desviou o dinheiro da obra pública tal" - daí é aposto.

Que língua, a nossa, não?

O porrão de Madonna



A Material Girl já andou em melhores companhias (na foto p&b, com o grande ator Sean Penn).

Andar com José Serra, vamos convir, é um porre com água de bateria por canudinho.

Como conseguiu?

Que pecados têm para expiar? Que promessas estará cumprindo?

Vem ao Brasil e justo vai se encontrar com José Serra, Sérgio Cabral, Eduardo Paes... um tour oficialista careta e nauseante. Bleaaaaargh! Todos Mister Right, de "Material Girl".

Caiu muito no meu conceito, a ex-iconoclasta cantora pop. (Ela vai morrer de preocupação!)

P.S: A expressão de Madonna na fotografia com o inebriante governador José Serra (acima) é o que se pode chamar de tesão do mórbido. Concordam?

Flagrante de jornalismo iletrado



Pequena amostra da grande consideração e elevado apreço que a RBS tem com os seus consumidores-leitores.

"Café para louco não precisa açúcar" - pensa o editor da coisa.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

A morena Marina

Cantando Taí, do mineiro Joubert de Carvalho (1900-1977).



Petrobras começa a explorar petróleo no Uruguai e reforça a especulação sobre a reserva de Pelotas


Só a vitória de Tarso Genro pode desvendar o mistério do petróleo sulino

Em julho de 2009 o governo uruguaio promoveu um certame licitatório chamado Ronda Uruguay 2009, que objetiva explorar e produzir petróleo e gás natural em blocos da plataforma continental do país vizinho, na bacia sedimentar de Punta del Este (foto).

A Petrobras participou da licitação, em consórcio com as empresas YPF (espanhola) e Galp Energia (portuguesa). A forma de contrato definida para a Ronda Uruguay 2009 foi a partilha de produção, modalidade que implica a participação do governo uruguaio na produção, através da Ancap.

A Petrobras será a operadora do Bloco 4 (40%), tendo a YPF 40% de participação e a Galp 20%. No Bloco 3, a Petrobras possui 40% de participação, a YPF será a operadora da área (40%), tendo a Galp 20% dos direitos.

Terça-feira passada (9/2), foi assinado em Montevideo o contrato para imediata exploração do petróleo e gás natural. A produção fica condicionada à melhor prospecção do montante de combustível fóssil e a dimensão do bloco continental uruguaio. As perspectivas, entretanto, são otimistas, segundo técnicos da Petrobras, haja vista que o consórcio se sentiu estimulado a iniciar desde logo o trabalho de exploração no Uruguai. Outro fator que contribuiu para a imediata operação foi a vitória da Frente Ampla, dando continuidade à política de Tabaré Vázquez, agora através da liderança de Pepe Mujica, recém eleito presidente do país.

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A decisão da Petrobras de explorar a bacia uruguaia reforça a quase certeza de que há mesmo um grande manancial de petróleo na costa do Rio Grande do Sul, em especial na plataforma de Pelotas.

Os entraves ao anúncio de que de fato há muito petróleo no litoral sul-rio-grandense - uma espécie de compensação pela sua notável feiura e rudeza - se devem a dois fatores:

1) A dificuldade quase intransponível de fazer interlocução séria e responsável com alguém do governo estadual no RS;

2) A recusa em premiar um governo temerário com o anúncio de um pré-sal no RS.

Assim, "a persistir um arranjo de governo semelhante ou derivado da desqualificada experiência yedista" no estado - me confessa uma confiável fonte petroleira - dificilmente a estatal brasileira de energia fará qualquer movimento para modificar o quadro de incógnita atual, mesmo que aumentem as especulações sobre a existência de muita riqueza de energia fóssil em nosso litoral, com os fortes investimentos brasileiros no Uruguai.

- Com a vitória de Tarso Genro, se ela acontecer, o anúncio da Petrobras sobre o pré-sal no Sul será rápido - arremata a mesma fonte.

A ver.

Lulismo fomenta um capitalismo brasileiro de grandes monopólios


O Estado arbitrando em favor da concentração do capital, uma irresponsabilidade histórica e, sobretudo, social

A decisão do governo Lula, de viabilizar grandes grupos empresariais nacionais, com recursos do BNDES, para serem companhias globais, não é uma questão pacífica e traz de volta o debate sobre a política industrial dos anos 70. Foi quando o governo do general Ernesto Geisel (1974 a 1979), com o 2º Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) e o projeto de substituição de importações, criou os capitalistas nacionais e as bases do parque industrial que o país tem hoje.

Há quem chame aquela política de "capitalismo de Estado", ou "capitalismo patrimonialista".

Para os economistas e principais formuladores do governo Lula, as críticas, em geral, são "fáceis e ociosas". Eles garantem que o modelo de hoje não guarda qualquer semelhança com o passado. "Hoje, o governo entra para viabilizar processos que estão maduros, que têm consistência empresarial, que são reconhecidos no mercado. Isso é muito diferente da estratégia do Brasil no passado, e da de outros países da Ásia, por exemplo", aponta um graduado assessor oficial.

Nessa opção, são vários os benefícios que o país poderá ter, no médio e longo prazos, dispondo de grandes grupos empresariais globais, assinalam. Primeiro, o Brasil passaria a ser "um centro de decisão relevante", tendo empresas fortes e competitivas no exterior, com capacidade de gerar empregos de alta qualificação no país, podendo, assim, desenvolver tecnologia e inovação também aqui.

Soma-se a isso, o fato de que "o desenvolvimento da cadeia produtiva dessas empresas a montante e a jusante - no caso da petroquímica, a terceira geração está a jusante - dá mais oportunidade de desenvolvimento na cadeira de fornecedores", completa.

Ou seja, na medida em que uma empresa brasileira tem subsidiárias no exterior, abre-se espaço para mais exportações a partir do país e pode-se contar com um fluxo de remessa de lucros, ao contrário de hoje, quando as empresas estrangeiras é que remetem lucros daqui para suas matrizes. Se o Brasil pretende ser participante ativo dos fóruns internacionais, isso não pode estar dissociado da presença de grandes companhias, dizem as fontes oficiais.

Há riscos, salientam, porém, economistas avessos à ideologia intervencionista. "O governo está escolhendo os campeões e escolhendo empresas com alto poder de monopólio. O que está acontecendo na petroquímica é uma concentração absoluta. Se ele deixasse entrar empresas estrangeiras no país, teríamos concorrência", disse uma fonte do setor privado. "É a tese do "Brasil potência", diz: "Temos que ter submarino nuclear e empresas nacionais globais. Mas uma potência artificial e não construída por eficiência, crescimento, alto nível educacional".

Nem todas as compras de empresas estão sendo patrocinadas pelo governo, através do BNDES ou de políticas de incentivos fiscais. Não houve dinheiro público na compra do Ponto Frio e da Casas Bahia pelo Grupo Pão de Açucar, assim como também não houve na associação da Cosan com a Shell. Foram negócios estritamente privados. Os economistas do governo alegam que o país tem, hoje, um conjunto de bancos de investimentos ávidos por realizar negócios que podem ser feitos à margem do setor público. Outros precisam de um empurrão do Estado para se viabilizar.

No governo, assinalam-se as distinções entre hoje e os anos 70. Naquele período, vigorou o modelo tripartite, onde os grandes investimentos teriam que ser distribuídos igualmente em um terço (1/3) de participação do Estado, de capital estrangeiro e de um grupo privado nacional. Foi quando se montou um forte parque industrial no Brasil, com recursos públicos pesadamente subsidiados: os empresários nacionais pagavam somente 20% da correção monetária pelos empréstimos do BNDES. Foi a origem da indústria do aço, de fertilizantes, da petroquímica, papel e celulose, equipamentos.

"Naquela ocasião, muitos atores foram verdadeiramente 'laçados'. O presidente Geisel resolveu fazer a indústria petroquímica privada, criou a a Petroquisa e 'laçou' os empresários para entrarem no setor. O que estamos fazendo é radicalmente distinto.". Trata-se, agora, segundo assessores governamentais, "do coroamento de um processo de desenvolvimento que tem o padrão do BNDES para apoiar: tem que ser empresas abertas, participantes do novo mercado, com proteção aos acionistas minoritários e mais, tem que ter o reconhecimento do mercado, pois as operações feitas até agora foram via mercado, com aumento de capital".

O BNDES subscreve uma fração das ações, atraindo o mercado que subscreve o resto. "Isso significa que são operações reconhecidas pelo mercado de capitais como agregadoras de valor" e não um sistema de escolha da empresa "vencedora", explicam as fontes. Ela já é vista como vencedora pelo mercado e o BNDES age somente como "um facilitador", assinalam.

Atualmente, as operações do BNDES não são subsidiadas como nos anos 70. O banco tem cobrado pelos financiamentos mais recentes, que envolvem aquisições, fusões, CDI mais 1,5% a 2% ao ano, e não a TJLP, que é inferior à Selic com a qual o governo remunera sua dívida, asseguram fontes da instituição. Mas, muito provavelmente, as empresas em questão não conseguiriam levantar recursos no mercado, interno ou externo, a esse preço para alçar grandes negócios, suspeitam economistas mais liberais.

O Brasil entra atrasado nessa história, alegam fontes oficiais. A elevada instabilidade econômica que marcou o país por quase três décadas postergou o movimento de concentração de capital e a formação de uma "estrutura empresarial com a robustez relativa correspondente ao tamanho e a importância da economia brasileira". Nesse período, as empresas estavam preocupadas em "sobreviver" . Portanto, agora será a fase "das consolidações", asseguram.

Texto da jornalista Claudia Safatle publicado no diário Valor Econômico, edição de hoje.

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Esse retorno à fixação doentia dos gorilas de 64 com o chamado "Brasil Grande Potência" é uma das coisas mais estúpidas e provincianas já formuladas pelas elites brasileiras. Uma patriotada infame e perigosa.

É a perseguição de um mito que sempre serviu de justificação político-ideológica para aumentar a concentração de renda e de riqueza no País. É lamentável que o lulismo de resultados caia nessa velha armadilha das nossas classes endinheiradas. Não há a menor garantia que o fomento à formação de monopólios vá redundar - sabe-se lá quando - em distribuição de riqueza, criação de renda, igualdade de oportunidades e justiça social. O que se experimenta - comumente - é o contrário, os monopólios conspiram contra as políticas sociais e acabam trazendo mais fome, miséria e desesperança.

O que está havendo, hoje no Brasil, é a pura e simples transferência de recursos públicos para o setor privado, sem a menor contrapartida na qualidade dos serviços prestados, na regulação do mercado e da concorrência, e na modicidade de preços. Vide o caso da fusão das operadoras de telefonia Oi-Brasil Telecom: tarifas as mais altas do mundo e péssimos serviços. Quem ganhou? Ora, os vivarachos de sempre, os Daniel Dantas e quejandos. Com a ajuda da mão amiga do ex-torneiro mecânico e ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva e do banco estatal de fomento, BNDES.

Senado rejeita o projeto que criava imposto sobre grandes fortunas


Tucano jura que a "sociedade já não tolera mais nenhum tipo de imposto"

Os senadores da Comissão de Assuntos Econômicos enterraram o projeto que institui o Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), terminando de vez com a possibilidade de criação do tributo. O IGF teria a tributação de 1% para fortunas acima de R$ 10 milhões – valor que seria ajustado anualmente conforme a inflação. A informação é da Agência Brasil.

O valor da tributação foi considerado insignificante pelo relator Antônio Carlos Júnior (DEM-BA). Ele considerou que “apesar de louvável” por tentar promover distribuição de renda, o projeto de lei é um “retrocesso e não atingirá as metas imaginadas”. O recente Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) propõe a criação deste tributo recusado agora pelo Senado.

Diante de argumentos de alguns senadores de que existem o Imposto Predial e Territorial Urbana (IPTU), o Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotivo (IPVA) e o Imposto sobre Transferência de Bens e Imóveis (ITBI), que já tributam os bens de quem tem grandes fortunas, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) tentou defender o projeto do senador Paulo Paim (PT-RS).

“Os argumentos apresentados são todos considerados pelo autor do projeto, ao permitir que se abatam esses impostos [do pagamento do IGF]”, disse Suplicy.

Mas a maioria presente na comissão se manteve contra e rejeitou o projeto. O senador Roberto Cavalcante (PRB-PB) alegou que diante das disparidades sociais do país, é difícil mensurar a riqueza.

“Quanto vale o metro quadrado em Angra dos Reis (RJ) e no interior da Bahia? Não é possível auferir a riqueza num país de grandes contrastes sociais como o Brasil, e nesse ponto o projeto de lei é extremamente danoso ao país”, alegou o senador.

Já o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) se posicionou contra a criação do imposto por considerar a carga tributária brasileira já muito alta. “O PSDB é radicalmente contra o aumento de carga tributária, e a sociedade não tolera mais qualquer tipo de aumento de tributação”, afirmou o senador.

Segundo ele, esse assunto poderá ser retomado quando for discutida a reforma tributária e essa tarefa ficará para o presidente que assumir em 2011.

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Uma casa parlamentar completamente artificial - o Senado -, desmoralizada, e formada basicamente por pequenos barões regionais decide que os muito ricos não devem pagar impostos.

Alegam que esses já pagam IPVA.

Tomam-nos por idiotas.

Ninguém alimentava a ilusão que o projeto fosse ser aprovado - talvez só mesmo o senador Paulo Paim (PT-RS), seu autor -, mas a sua rejeição - com argumentos balofos - serve para comprovar a inutilidade absoluta do Senado da República.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A música de Gustavo Santaolalla



Uma das composições do CD chamado Ronroco, lançado em 1996. Esse disco está muito bonito. Uma raridade, se encontrar, compre, grave, alugue, mas ouça. O violonista argentino é um dos fundadores do Bajofondo, uma banda tangueira-tecno-pop de Buenos Aires. Hoje, no diário Página 12, informa-se que ele fundou um novo "colectivo musical" (os argentinos são metidos!), chamado Terraplén, que vai de chacarera, baguala, zamba, vidala e carnavalito. Não a conheço.

A ver.

Muito complicado


Viajando de carro se ouve mais rádio. Fora de casa, eu pelo menos, vejo mais televisão. Com dificuldades de acessar a web, buscam-se notícias nos meios mais diretos, os tradicionais. Por isso mesmo, posso dizer de boca cheia e o coração contrito: o nível está cada vez mais rasteiro. Há uma praga que contamina dez entre dez repórteres, trata-se do recorrente "complicado", "muito complicado". O rapazinho ou a moçoila estão ali para narrar sobre as consequencias da chuva, o trânsito lento, mas limitam-se a um enigmático (e irritante) "a situação aqui está muito complicada". O sujeito adjetiva no ato. Nem narrou ainda, mas já está adjetivando. Começa a frase com o sonoro adjetivo: "complicado".

Pode ser algum mecanismo inconsciente, alguma contrapartida minimalista à merreca de salário que sofrem no fim no mês. A economia narrativa corresponderia - em contida represália - à economia salarial da empresa que trabalha?

Se a minha suspeita estiver próxima da verdade, fico feliz pela brava consciência de classe dos repórteres de rádio e televisão que tenho ouvido ultimamente. Me alegro, como dizem os uruguaios. Os caras estão fazendo uma revolução por dentro, silenciosa, em regime de procedimento padrão, cumprindo com o estritamente necessário para a emissora não sair do ar e eles não serem demitidos por justa causa.

Se é assim, rendo-me incondicionalmente. As novas tecnologias e a aguda consciência política do proletariado da imprensa burguesa estão cumprindo com o seu irrenunciável papel que os dogmas fixos da história lhes reservaram. Ufa!

Tudo que é sólido está se dissolvendo no ar, tudo que é sagrado está sendo profanado...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

65 anos do massacre de Dresden



Inexprimível


Em 1968, o ano em que escrevi Matadouro 5, finalmente estava maduro o suficiente para escrever sobre o bombardeio de Dresden. Foi o maior massacre na história européia. Eu, naturalmente, sei sobre Auschwitz, mas um massacre é algo súbito, que num tempo muito curto promove a matança de uma enorme quantidade de pessoas. Em Dresden, em 13 de fevereiro de 1945, cerca de 135.000 pessoas foram mortas por bombardeios britânicos em uma noite.

Foi pura insânia, destruição sem sentido. Toda a cidade foi arrasada e queimada e foi uma atrocidade britânica, não americana. Mandaram bombardeiros noturnos que chegaram e puseram toda a cidade em chamas com um novo tipo de bomba incendiária. E assim tudo que era orgânico, exceto meu pequeno grupo de prisioneiros de guerra, foi consumido pelo fogo. Foi uma experiência militar para descobrir se era possível queimar uma cidade inteira espalhando bombas incendiárias sobre ela.

É claro que, como prisioneiros de guerra, nós metemos a mão à procura de alemães mortos, desenterrando-os dos porões, porque eles haviam sufocado ali, e levando-os para uma imensa pira fúnebre. E ouvi dizer - não vi fazerem isto - que desistiram deste processo porque era muito lento e, naturalmente, a cidade começava a cheirar mal. Então mandaram sujeitos com lança-chamas.

Por que meus companheiros prisioneiros de guerra e eu não fomos mortos eu não saberia dizer.

Eu era um escritor em 1968. Era um picareta. Escrevia qualquer coisa para ganhar dinheiro, vocês sabem. E, que diabo, eu tinha visto aquela coisa, eu sobrevivera a ela, por isso ia escrever um livro oportunista sobre Dresden. Sabem, do tipo que seria transformado num filme em que Dean Martin, Frank Sinatra e outros desempenhariam o nosso papel. Tentei escrever, mas não conseguia encontrar o jeito certo. Continuava escrevendo merda.

Então fui até a casa de um amigo - Bernie O'Hare, que tinha sido meu camarada. Estávamos tentanto lembrar coisas engraçadas do nosso tempo de prisioneiros em Dresden, papo da pesada e tudo o mais, coisas que dariam um filme de guerra bacana. E sua mulher, Mary O'Hare, soltou os cachorros. Ela disse: "Vocês não passavam de bebês na época."

Isso é verdade em relação a soldados. São de fato bebês. Não são astros do cinema. Não são Duke Wayne [*]. Percebendo que aquela era a chave, senti-me finalmente livre para contar a verdade. Éramos crianças e o subtítulo de Matadouro 5 se tornou A cruzada das crianças.

Por que levei 23 anos para escrever sobre o que experimentei em Dresden? Todos voltávamos para casa com histórias, todos queríamos faturar com elas, de um jeito ou de outro. O que Mary O'Hare estava dizendo, com efeito, era: "Por que não conta a verdade, para variar?"

Ernest Hemingway escreveu um conto depois da Primeira Guerra chamado "O lar de um soldado", sobre como era rude perguntar a um soldado o que ele vira quando voltava para casa. Acho que muita gente, eu mesmo, inclusive, perdia a fala quando um civil perguntava sobre o combate, sobre a guerra. Era chique. Uma das maneiras mais impressionantes de contar a sua história de guerra é recusando-se a contá-la, vocês sabem. Os civis teriam então de imaginar todo tipo de atos de bravura.

Mas acho que a Guerra do Vietnã me libertou, e a outros escritores, porque fez nossa liderança e nossos motivos parecerem muito sórdidos e esssencialmente estúpidos. Podíamos finalmente falar sobre maldades que praticamos contra as piores pessoas possíveis, os nazistas. E o que eu vi, o que tinha a relatar fazia a guerra parecer muito feia. Sabem, a verdade pode ser uma coisa realmente poderosa. Não é algo que se espera.

Claro, outra razão para não falar da guerra é que ela é inexprimível.

Kurt Vonnegut (in Um homem sem pátria, 2005)

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Achei que o texto do grande Kurt Vonnegut combina com a música de Philip Glass. Sábado de carnaval, portanto, será o aniversário do massacre de Dresden, onde quase 140 mil pessoas - quase todas civis - foram incendiadas por milicos britânicos. Para quê, se os nazistas já estavam derrotados? Hitler já se arrastava como rato de esgoto nos subterrâneos de Berlim, e em abril se suicidaria, para quê?

Ora, para deleite e cupidez de milicos doentes.

Só a música de Philip Glass para exprimir essa tristeza.

[*] O ator norte-americano John Wayne (1907-1979), o eterno cowboy, também conhecido como "Duke". A tradução brasileira do livro de Vonnegut - A man without a country -, feita por Roberto Muggiati (Editora Record), por algum motivo desconhecido, omite essa informação.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O falso nacionalismo da TV Globo

Está começando a guerra digital no Brasil

Com os níveis de audiência em vertiginosa queda, as tevês abertas (não pagas) estão a beira de um ataque de nervos. Para tanto, apelam para o velho truque do nacionalismo ao reclamarem ao ministro das Comunicações Hélio Calixto da Costa o cumprimento estrito do artigo 222 da Constituição brasileira. Este artigo diz o seguinte, segundo a livre interpretação da TV Globo em matéria veiculada no Jornal Nacional, ontem à noite: "Empresas jornalísticas, mesmo na internet, tem que pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos".

Com truque ou sem truque, o certo é que a ameaça à hegemonia das empresas de radiofusão é real. O grande bicho-papão da Globo e demais redes de televisão e rádio no Brasil são as empresas de telefonia, que se preparam para disputar o nosso vasto mercado de comunicação social. As velhas redes representam um modelo tecnológico e uma fórmula comunicacional (ideologizada e unidimensional) que aos poucos estão ficando obsoletos.

Estamos no ponto exato do que se pode chamar de encruzilhada tecnológica da comunicação brasileira. Os grandes capitais do setor disputam o mercado, mas esquecem os requerimentos da democratização horizontal da comunicação, recentemente pautados pela Conferência Nacional de Comunicação (1ª Confecom), de dezembro de 2009.

Em 2008, a rede Globo faturou cerca de 6 bilhões de reais, ao mesmo tempo que a operadora de telefonia Brasil Telecom teria faturado cerca de 40 bilhões de reais. Isto demonstra que, de fato, é uma luta desigual, considerando o tamanho dos capitais envolvidos e a atratividade do negócio em si. As novíssimas mídias, a permissão da lei brasileira para que estrangeiros operem e controlem totalmente as empresas de telefonia, a chegada de empresas de comunicação da Europa (Vivendi e Prisa/El País) promovem um abalo sísmico no mercado de comunicação do Brasil. As velhas redes de radiofusão contam com uma bancada numerosa e mobilizada no Congresso (no vídeo acima fica evidente), contam mesmo com o próprio Ministério das Comunicações, cedido a eles pelo lulismo de resultados, mas essas alianças são precárias e podem migrar em busca de ambientes mais confortáveis para seus interesses eleitorais e pecuniários.

O processo vai se precipitar até que se complete a conversão tecnológica brasileira para o sistema digital, em pleno curso, hoje. As verbas publicitárias das televisões abertas encolhem a cada mês, na razão direta da queda nas audiências de sua grade de programação, os investimentos precisam ser feitos para acompanhar o salto tecnológico, a concorrência da internet é acirrada, e, assim, o futuro nada mais é que uma sombra ameaçadora que pode liquidar com os velhos baronatos de antigas famílias. Restam as alianças, as fusões e as incorporações, fórmulas igualmente antigas de o novo incorporar o arcaico em nome de um progresso que sempre foi para poucos. Ao Estado resta, na mesma medida, arbitrar menos em favor dos grandes capitais e mais em proveito da verdadeira democratização dos meios de comunicação. Este é um compromisso que a futura candidata Dilma precisa assumir, já que Lula ficou sentado no meio do caminho, entre o rochedo inarredável do seu espírito conciliatório e a pedra dura de sua incompreensão sobre o papel da comunicação social em nossos dias.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Direita tem nova estratégia para tentar desmontar Dilma Rousseff


Adeus ao método Zé do Caixão

Os jornais da direita brasileira - o denominado Partido da Imprensa Golpista (PIG) - estão começando uma campanha contra a ministra Dilma Rousseff, virtual candidata do presidente Lula à presidência da Republica em 2010. Quem dá a largada é o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, pertencente ao grupo RBS, um dos grandes beneficiários sulinos da ditadura civil-militar que assolou o País de 1964 a 1985.

A abordagem da campanha contra a única candidata da esquerda com vivas chances de vitória parte de uma estratégia oblíqua e por isso sutil e astuciosa. Trata-se de identificar a candidata Dilma como protagonista de cenários de conflito, de situações pregressas de confronto, de perturbações da ordem, de sublevação social, de motim contra o establishment, etc. A idéia é aterrar a classe média e deixar os investidores com as barbas de molho.

A série de reportagens de ZH, denominada "Os infiltrados", publicadas de domingo até ontem (3/2), tem como objetivo isso: reunir elementos objetivos e sobretudo subjetivos que apontem Dilma Rousseff como alguém com um perfil muito próximo de ser considerado como o de uma "terrorista" - na releitura ampla dada ao vocábulo por parte de Bush Jr. e o ultrapragmatismo Neoconservador com viés bélico - fonte na qual dez entre dez jornais brasileiros beberam até a embriaguez.

Em publicidade, essa velha técnica é denominada merchandising editorial (ou tie-in, no jargão norte-americano de publicidade & propaganda). Consiste em diluir o objeto da reportagem, no caso, a desconstrução da imagem da candidata lulista, em uma narrativa com muitos protagonistas, formando um painel abrangente e elucidativo de fatos obscuros ou mal contados pela história recente. O tie-in na publicidade comercial da televisão, por exemplo, é a introdução sutil de uma certa marca de carro na cena onde o mocinho persegue o bandido, ou de um refrigerante na cena doméstica da novela seriada. A força do apelo comercial está precisamente na sutileza e não na ênfase grosseira dos comerciais da publicidade comum.

A técnica da reportagem do tipo tie-in - desfocar para crivar com mais eficácia - está sendo uma das estratégicas do PIG, seus agentes e operadores. Só que ao invés de promover o seu objeto de incidência, como faz a publicidade comercial, no caso do jornalismo ideologizado do PIG, ao contrário, procura rebaixar a sua reputação e prestígio social.

Temos informações seguríssimas que a matéria de Zero Hora é apenas a primeira de outras tantas que estão sendo preparadas pela imprensa direitista brasileira. A revista Veja estaria preparando uma matéria sobre o famoso roubo do cofre do ex-governador Adhemar de Barros, de São Paulo, ocorrido em julho de 1969. A rigor, é a mesma matéria requentada da edição 1.785, de Veja, de 15 de janeiro de 2003. Só que naquela ocasião, o tom do texto era grosseiro, inquisitorial e policialesco, cenas de filme B. Com a nova estratégia tie-in, a matéria deverá ser mais extensa, na forma de um painel (pseudo) histórico, com mais personagens e um tratamento refinado e sutil ao texto.

Será mais para o cinema de Ingmar Bergman do que para o de Zé do Caixão.

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Alguém ainda terá dúvida sobre o caráter orgânico-partidário da grande imprensa brasileira? Um bloco unido, coeso, linha ideológica única, discurso afinado, militância articulada, ações coordenadas, intelectual orgânico de setores da classe média (urbana e rural), classes proprietárias, lúmpen-burguesia, do agronegócio exportador, setores bancário-financeiros, de representantes e associados dos interesses corporativos internacionais, militares com interesses econômicos e negociais, etc.

A prova evidente do caráter partidário da mídia brasuca é a flacidez dos partidos cartoriais tradicionais - PSDB, Democratas, PMDB, PPS, PTB, e outros menos votados.

Quanto mais a mídia faz-se porta-voz potente da direita, mais obsoleta e irrelevante torna a existência das aglomerações parlamentares-eleitorais, que acabam servindo só para registro legal de candidaturas junto à Justiça Eleitoral e valhacouto de lúmpens ascensionais.

Como alguém já disse, acho que foi o Stedile, os parlamentares e políticos profissionais deveriam - em vez de se identificar pelas siglas partidárias - usar jalecos ou macacões (como na Fórmula Um) com as logomarcas dos seus patrocinadores - aos quais dedicam as suas carreiras públicas como zelosos funcionários corporativos subalternos.

P.S.: Recebo nota do leitor Amaury: "Feil, pede aos teus leitores que alguém explique o que significa a frase que dá título à matéria de ZH, 'PM vira cabeludo com jeito hippie para investigar'. O que será que o editor quis dizer?"

Fac-símile da matéria "Os infiltrados", na edição de 01/fev/2010, de Zero Hora, páginas 20 a 22.

Policial da repressão faz apologia da tortura em ZH




Isto é crime!

As convicções do policial Omar Fernandez são perigosas porque antissociais, anti-republicanas, antidemocráticas e atentam contra os direitos humanos.

Ele está apregoando a prática da tortura como método eficaz (e legal) de condução das coisas do Estado.

A apologia da tortura é crime: Omar Fernandez defende, justifica e elogia a prática da tortura, como agente público que é, e foi durante um período de ditadura no Brasil. Não compete a ele fazer este juízo. Isto é ilegal. Como funcionário público ele deveria saber (e cumprir) os limites de sua competência profissional e legal.

Omar Fernandez está cometendo crime. A prova está no jornal Zero Hora de hoje, página 40 (acima, foto de Ricardo Chaves/ZH).

Com a palavra o Ministério Público.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O trabalho escravo que faz o Brasil crescer



O sentido que as coisas fazem

Deu no blog do Sakamoto:

Os veículos de comunicação noticiaram nesta segunda [01/2]:

Cosan e Shell anunciam aliança de US$ 12 bilhões (Uol)
Joint venture de Cosan e Shell terá faturamento de R$ 40 bilhões (Valor Econômico)
União entre Shell e Cosan altera lógica do mercado global de etanol (iG)

Ninguém segura este país, né? Mas vamos fazer um pequeno exercício de memória. Leia esses três títulos depois de ler os outros abaixo, publicados algumas semanas atrás, e veja a diferença:

Cosan e mais 11 empregadores entram para a “lista suja” do trabalho escravo (Repórter Brasil)
Cosan é incluída em lista de trabalho escravo (Exame)

Com isso:

Ação da Cosan despenca com inclusão em lista de trabalho escravo (O Globo)
Wal-Mart suspende contrato com Cosan por trabalho escravo (Reuters)

Aí, é claro:

Cosan adotará medidas para sair de lista de trabalho escravo (Estado de S. Paulo)
Inclusão de Cosan em lista de trabalho escravo é um erro, diz Stephanes (Folha de S. Paulo)
Liminar tira Cosan da ‘lista suja’ de trabalho escravo (Estado de S.Paulo)

Limpando o caminho para:

Cosan e Shell anunciam aliança de US$ 12 bilhões (Uol)
União entre Shell e Cosan altera lógica do mercado global de etanol (iG)

Tudo faz sentido. É a gente que só percebe tarde demais.

De como burlar a legislação eleitoral, no varejo


...E fazer campanha mesmo assim


O futuro candidato Moacir Volpato, catarinense de nascimento, ex-prefeito de Lagoa Vermelha (de 2001 a 2008), e dono de uma cadeia de lojas de eletrodomésticos, está visivelmente burlando a legislação que proíbe a propaganda eleitoral antes das convenções partidárias. Basta ver a publicidade paga (página inteira) hoje no jornal Zero Hora (acima).

O grande varejista foi filiado ao PDT até 2008, quando saiu e optou por se filiar ao Democratas (ex-Pefelê). Volpato, pelo jeito, quer tudo, mas por enquanto se satisfaz com a candidatura ao governo do Estado, caso contrário, a deputado federal.

Os marqueteiros do grande varejista são muito criativos, a imagem do candidato com o dedo polegar fazendo um "positivo e operante" é praticamente inédita. Um achado! Prova mesmo que Volpato é "gente como a gente" e acima de tudo um "homem de bem".

Suas apregoadas qualidades são comoventes e ao mesmo tempo modestas: "Bom, bonito e barato".

Resta saber para quem, ele é tudo isso.



Foto: o grande varejista e a governadora Yeda

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Obama é mesmo um rapaz engraçadinho



No último dia 27 de janeiro, o presidente Obama atacou, com uma retórica forte e estudada (o cara tem pose!), o deficit dos EUA que atualmente se situa em 1,4 trilhão de dólares. A solução, segundo Obama será o "congelamento dos gastos públicos durante os próximos três anos, exceto no que diz respeito às Forças Armadas, Segurança Interna e Assuntos Internacionais".

O acalorado cavalheiro, a suada dama, perguntarão:

- Assuntos Internacionais? O que será isso?

Ora, meus prezados e derretidos leitores, "Assuntos Internacionais" é um eufemismo para as guerras imperialistas do capital pelo mundo afora.

Congelam-se tudo, menos os orçamentos militares norte-americanos e o clima de Porto Alegre.

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Porto Alegre, RS, Brazil
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