Era o Zé
Policiais davam instruções precisas para uma dupla de garis. A ordem era limpar rapidamente a calçada, destacada por um cordão de isolamento colorido e bem esticado. A limpeza era o arremate do trabalho. Quem chegou primeiro já havia levado a informação maior, e de história concreta sobrava apenas um boné encardido, no canto de uma pilastra.
-“Morreu de frio”, disse o gari que varria a poeira dolorida do chão. Disse para si mesmo, já que o amontoado de pessoas que passava ignorava o fato e também o gari.
-“Foi um morador de rua que faleceu?”, perguntei.
-“É”, respondeu o policial constrangido. A expressão da face não dizia se o constrangimento era por atrapalhar o trânsito dos pedestres, ou por achar que a culpa também era sua.
Do outro lado da rua, um homem com sua sacola de latas nas costas olhava a esquina vazia. Invisível, disse para o vento: “Era o Zé”.
Isto aconteceu hoje, dia 19/08/2008, às 09h20 da manhã. O Zé morreu embaixo da marquise do Banco do Brasil, defronte ao Paço Municipal de Porto Alegre.
Ninguém viu.
Texto-depoimento de Thais Fernandes, 24 anos, jornalista.
A fotografia é meramente ilustrativa, não diz respeito ao fato ocorrido, hoje.
......
Sábado passado, o jornal Zero Hora fez uma matéria sobre moradores de rua de Porto Alegre, num tom intolerante e irresponsável. Manchete no alto da página: "Como se fossem os donos da rua".
No mesmo dia, fizemos um post sobre o tema, aqui no blog. O post está logo aí abaixo.
27 comentários:
Ah, esse era um dos "donos da rua" de que falava a ZH. e como dono, faz dela o que quiser, até morrer nela ele pode. Teve onde cair morto...
É tão convicto dos teus preconceitos, que sequer tem a capacidade de assinar o nome.
parabéns, anônimo.
thais, acho que ele está tirando sarro
Espero que sim. O texto ficou ambíguo.
Obrigado...
Eu não diria 'sarro', pois falei com muita tristeza, mas sarcasmo, sim. Perdão pela falta de clareza. E a assinatura não me pareceu relevante.
Roberto
Thais, meus parabéns!
Você demonstrou senso crítico, espírito objetivo e iniciativa, além de um texto bastante bom, incomum, mas que pode melhorar.
Abç.
CF
A guria vai longe. Só não pode ir trabalhar no PIG.
Também achei o texto ótimo, por isso comentei. Mas a ambigüidade na escrita é um recurso muito rico e instigador, às vezes mais do que a objetividade. Sugiro que a agregues aos que já dominas, Thais.
Mais uma vez, parabéns pelo texto.
Roberto
Duvido que tenha perdido, mas não vi o clicrbs dar notícia sobre isso.
PS: é nas notinhas desse safado portal que o cara saca o sensível da construção monstruosa da subjetividade pro(im)posta por eles.
...
O texto da moça é bom. Porém, não se desprendeu por completo. Se não é pra ser "o que foi", que seja "mais delirante", diria Thompson. De todas as formas parece o Usain Bolt.
Abs.
Jonny Johnson
É mais uma estória degradante, de uma cidade que vai perdendo seu senso de humanidade.
Poucos(boa parte freqüenta esse tipo de blog) ainda se importam com as mazelas do capitalismo e o gerenciamento neoliberal do "capital" humano.
Onde estão as Rondas sociais, o justo financiamento a entidades beneméritas para cuidar destes deserdados da sorte?
Parabéns, moça, pela sensibilidade social e ao blogueiro pela publicação.
Ricardo Mainieri
só quero saber se a Zero vai publicar alguma coisa disso amanhã, nem aquele papel de embrulho chamado Diário Gaúcho
a morte deste mendigo é uma praga que eles rogaram contra os moradores de rua
aquela porcaria nem pra limpar a b... serve, qto. mais pra embrulho. a única coisa que aquele lixo embrulha é o estrombo.
Certamente esse era mais um dos sujeitos que, toda as noites, se recusa a ir para os albergues da prefeitura, mesmo quando tem uma van da prefeitura à disposição para levá-los. Já falei a repito: esquerdinhas de apartamento, vão conhecer a realidade antes de fazer essas pataguadas pra arrancar lagriminha de estudante de jornalismo.
RBS noticiar? RBS que está de olho no novo plano diretor e que tem interesses na orla do guaíba! O máximo que podemos ver é "Petistas colocam corpo de sem teto em frente a prefeitura para prejudicar Fogaça". É que podemos esperar da fonte da desinformação! Com relação a reportagem nauseante de dias atrás digo, cuidado RBS com o que desejas e publicas, teus pedidos podem se realizar!
Imagino o carnaval que a RBS faria se fosse durante o governo do Raulzão. Mas como é o queridinho Fumaça ...
Prezados companheiros, ousamos postar esta e a outra matéria relacionada em nosso blog: www.guerrilheirosvirtuais.blogspot.com
Citamos a fonte.
Qualquer problema, pls, comuniquem que tomaremos as providências.
Atenciosamente
Saroba & Suzana
O Zé morreu porque não quis ir para um albergue dos muitos que existem por ai. E o Zé morreu de quê mesmo? Será que não foi de overdose de crack? Ou tomou litros e litros de cachaça ou as duas coisas ao mesmo tempo? Mas isso não importa, a culpa é do poder público, do Fogaça, da Yeda. A culpa não é do Lula, porque este é 'companheiro'. Muito lindinho pegar um fato isolado e montar e maquiar uma historinha para cativar os viventes do pensamento politicamente correto criticarem o estabilishment.
Quando morre um Zé morador de rua é porque tomou litros e litros de cachaça ou porque não quis ir dormir no albergue. Ou seja, os Zés morrem porque são desobedientes, revoltados, não querem seguir as normas mais simples de nossa sociedade.
E quando morre a filha do vice-governador Feijó? Do que mesmo que morreu a mocinha? Porque se matou a mulher de Pedro Simon? E o filho do Odacir Klein? E o deputado Daudt?
Estes também foram desobedientes como o Zé?
O anônimo das 14:44 é o mesmo fassista que vistou e emporcalhou o meu blog, com as mesmos preconceitos. Ele "pensa" que conhece a realidade, sentadinho em algum escritóriozinho com ar condicionado.
É um covarde, que nem para se identificar é homem.
Um palhaço (igual ao Maia)
Tudo tem sua história, inclusive o Zé. Quem era, afinal, o Zé? Um pobre morador de rua. Mas por que o Zé morava na rua se existe espaço para ele dormir nos albergues? Mas tem gente que não quer ir para os albergues, querem ficar na rua, dormir ao relento, na calçada, embaixo das pontes. Existem opções e isso parece que não é importante, porque é omitido. O que não parece correto é pescar, buscar uma história infeliz e triste que aconteceu e generalizá-la, fazer uma bela maquiagem e montar um romance em cima dela para criticar a 'enfadonha sociedade de consumo', o mundo bobo do capitalismo neoliberal ou quiçá os governos municipal e estadual e a grande mídia. Se isso não é demagogia, o que é demagogia?
Aquilo que tu vives escrevendo aqui.
Um showzaço de demagogia...
Realmente: os mendigos suicidas são uma praga...
O Maia e um dos anônimos têm jeito de assistente social frustrado...
A eleição, segundo o STF de Gilmar Mendes:
1- 19/08/2008 inicia a propaganda eleitoral gratuita em todo o Brasil!
2- 22/08/2008 mensalão vai a julgamento (globo):
http://tinyurl.com/6p96qe
3- desde 6 horas da manhã de hoje (19/08) já pipocava esta notícia nas rádios locais. Para os alienados e cretinos locais de plantão é preciso explicar?
O Caso do "Zé" não é um caso isolado, é a conseqëncia da política adotada pela polícia da Yeda.
Não é a van que recolhe os "mendigos". É a polícia com luvas de borracha que leva para os quartéis parqa "fichar". Ah, recolhe em ônibus e são obrigados a sentar no chão para não sujar o onibus. Isto quem conta é o próprio PIG. Saiu na ZH do PRBS, ainda há alguns dias.
Depois vem o Maia dizer que é fato isolado.
Claudio Dode
Infelizmente, esse tal de Maia não é um caso isolado. É uma manifestação autêntica e legítima do pensamento único liberal.
Provavelmente ele crê, aassim como muitos, que o morador de rua morto teve todas as oportunidades de se tornar um milionário por seu próprio esforço, suor e dedicação, como muitos Dantas da vida.
É o sentido que vejo em sua frase "Existem opções e isso parece que não é importante, porque é omitido."
Existem opções? Será que foi por sua própria opção que Zé acabou morando nas ruas? Sem trabalho, sem dignidade, tendo como opção mais um "depósito de indesejados", que são, pelo senso comum, apontados como panacéia para esse tipo de "Opção de vida".
Um equivalente moral a um presídio, um manicômio ou um asilo, vilolências simplesmente pelo fato de existirem.
Tomei a liberdade de publicar o belo texto de Thais em meu blog: http://naoestaavenda.blogspot.com
Cristiano Freitas Cezar
São Borja
Há uns quase quatro anos atrás, assisti a curso sobre responsabilidade social. A Ulbra apresentou como um "case" de sucesso o projeto do governo Fogaça apresentado pelo Busatto, por video conferência.
Deu no Que deu! Era tudo empulhação. O Busatto só foi sincero com o Feijó.
Claudio Dode
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