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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Vice-presidente boliviano Álvaro Garcia Linera diz


Agora se silenciam as imposturas, e falará o soberano

Para o vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera o referendo de ontem irá redefinir a geografia política do país governado por Evo Morales, bem como a correlação de forças internas. Hoje, - diz o intelectual García Linera – “se silenciam as imposturas e falará o soberano”. A entrevista abaixo foi concedida por ele ao jornal conservador argentino Clarín, publicada na edição de ontem.

Clarín: Evo ainda conta com o mesmo apoio, considerando que caiu em algumas zonas do país?

García Linera: Não estou de acordo com essa idéia. Em 2005, ganhamos com maioria absoluta e em 2006 voltamos a ganhar com maioria absoluta. Hoje ratificaremos esta maioria pela terceira vez. Há um despertar social em regiões tradicionalmente conservadoras, marcadas pelo autoritarismo de um regime de caciques políticos. Isso explica a agressividade da oposição.

Os prefeitos mostram forte apoio. Isso não contradiz essa avaliação?

Não. Temos aí dois níveis distintos: o local e o nacional. Uma prova é que os prefeitos (prefeitos departamentais, equivalentes a governadores) não conseguiram construir um projeto nacional a partir da soma de projetos locais. Outra coisa que deve ser destacada é que não estão sendo debatidos pela oposição regional temas cruciais como a nacionalização dos hidrocarbonetos, porque se ela fizesse isso sua liderança desmoronaria.

Evo está perdendo a classe média?

Essa leitura também é falsa. Este governo se sustenta em núcleos profissionais e acadêmicos de classe média. Com um acréscimo importante: trata-se de uma classe média mestiça, mas também indígena. Claro, antigos redutos fortemente elitistas já não têm o poder que tinham antes.

Hoje a classe média se beneficia do fortalecimento do Estado e da internalização dos lucros, mas em função das políticas de austeridade o Estado já não serve para atender aos interesses da classe alta como ocorria antes.

Se Evo não fosse indígena haveria menos rejeição por parte da oposição?

A presença de uma liderança indígena é o que provoca o incômodo mais profundo no hábito racista das antigas classes dominantes. No fundo é uma disputa por recursos, mas está sendo invertida a ordem moral de elites acostumadas a ver os índios subjugados como um fato normal e isso está levando-as para as ruas. Então reagem com o bolso, mas também com o fígado.

Hoje a Bolívia se encaminha para um processo de aproximação ou de maior polarização?

O que o referendo está definindo é redefinir a geografia política do país, a correlação de forças. E com isso habilita o melhor ponto de partida para novos cenários de diálogo e de aproximação. No último ano, houve um superdimensionamento do poder de certos grupos opositores que se auto-atribuíram o direito a veto a partir de sua inflação midiática. Mas deve ser a cidadania a responsável pela atribuição de poder e não os meios de comunicação. Hoje, se silenciam as imposturas e falará o soberano.


11 comentários:

Anônimo disse...

i think you add more info about it.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Nenhum pais socialmente desenvolvido tem algo parecido. Mas na presidencialista Bolívia, o país campeão de golpe de estado, existe esse tal de referendo revogatório. Existe para quem? Para a construção da cidadania ou para dar poderes ao populista de plantão? A Bolívia segue a via da republiqueta, é um pais dividido geograficamente entre a pobreza absoluta dos indígenas do alto das montanhas e a pequena e quase ínfima "riqueza" dos
remediados do leste, das terras baixas. E nessas províncias do leste, a cidadania deu, também, poder aos governadores da região, opositores de Evo, que se mantiveram no cargo. Pobre Bolívia.

Anônimo disse...

A Bolívia foi, tradicionalmente, governado por uma elite que se valia da entrega de suas riquezas para as grandes corporações, en troca de poder e dinheiro.

Lembro de um fato histórico deste país pobre (por culpa dessa mesma elite), que deu inicio a mudança, da renacionalização sobre os recursos minerais.

Aconteceu com a retomada dos serviços de saneamento e fornecimento de água, selvagemnete privatizados na cidade de Cochabamba ao consórcio multinacional liderado pela Bechtel Corporation (uma das maiores empresas de engenharia e construção do mundo), sediada nos Estados Unidos, que obteve uma concessão de 40 anos para prestar serviços de abastecimento de água para os 600.000 habitantes de Cochabamba. Durante o breve período que esse consórcio atuou, quisproibir a população de, até mesmo, guardar a água da chuva, pode?

O consórcio anunciou enormes aumentos nas tarifas de água, o que causou protestos de rua, que foram violentamente reprimidos pela polícia (movimentos sociais sendo reprimidos pela polícia? Srá que o MendeSS não estava lá?).

Um jovem manifestante foi morto nos confrontos, e a revolta pública logo levou o governo a rescindir o contrato.

Com o referendo, legitimando o Evo Morales, a Bolívia demonstrou que não é mais uma "republiqueta", disse não aos golpes, seguindo a via democrática.

Parabéns aos bolivianos!

Anônimo disse...

Na Bolívia, 0,6% da população possui 76% das terras agricultáveis do país.

Esse é o X,o Y, o Z e o Ômega do problema.

Tudo mais é ideologia do Maia.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Existe uma linguagem de desenvolvimento que os índios nunca estiveram interessados em aprender. A cultura indígena americana é exatamente a que está no cabeçalho deste blog. Praticamente todas as civilizações pré colombianas eram canibais, inclusive os 'evoluídos' incas, aztecas e maias. Comia-se os inimigos para adquirir sua força, seu poder, seus hábitos. E a Bolívia é um país indígena que continua, ainda, patinando na linguagem do desenvolvimento econômico e social. Não é a toa que a área indígena boliviana, é a mais pobre, menos evoluída, com menos educação, mais insalubre, com mais problemas sociais. É, sobretudo, essa população de índios que apoia o Evo. Se eu fosse aymará eu também apoiaria Evo. Mas existe um discurso, um chavão barato, simplório e hipócrita que corre por ai que diz o seguinte: os índios são explorados e pobres porque sempre foram explorados por uma elite branca entreguista. Essa é uma meia verdade. E apenas uma meia verdade. Se não houvesse essa elite branca exploradora os índios continuaram paupérrimos. Como não existe verdade absoluta, essa assertiva deve ser melhor analisada. Há questões culturais, sociológicas, de linguagem, de aprendizado, de educação, de vontade, que são intrínsecas às questões indígenas. Os compromissos, a linguagem, os valores, a cultura do mundo ocidental não são bem absorvidas pelos índios. Grande parte deles não está minimamente interessada em seguir e aprender a linguagem de desenvolvimento do homem branco, do capitalismo, do desenvolvimento social e é uma violência fazer com que esses índios aprendam essa linguagem. E essa é a verdadeira causa da divisão boliviana. Uns querem seguir uma linguagem de desenvolvimento econômico e social e outros não querem seguir essa linguagem.

Anônimo disse...

Paupérrimo é você, cabeça de bagre. Esses valores pobre-rico, vencedor-perdedor, não existiam no mundo pré-colombiano.
Você não pode avaliar os autóctones com a régua e o compasso dos europeus. Para isso são necessários outros instrumentos, que eu vejo que você sequer conhece, sr. Maia. Abra sua cabeça e pense por alguns segundos de outra forma que não a que você é viciado em pensar.
Diga pra você mesmo que hoje é o seu último dia de cabeça de bagre.
Você conseguirá, seu cabeça de bagre.

Anônimo disse...

Maia, esta foi braba, puro etnocentrismo burro e preconceituoso!

Carlos Eduardo da Maia disse...

Não estou dizendo que valores "ocidentais" existiam no mundo pré colombiano. É evidente que não existiam e por isso não podemos analisar esses povos com o pensamento e a cabeça de hoje. Todos os povos pré colombianos eram canibais e isso não é preconceito, mas cultura de vida deles. A questão é a seguinte, esse tempo não existe mais. O tempo, os valores e os contextos são outros. E existe uma linguagem de desenvolvimento que grande parte dos índios (não vamos generalizar) não estão interessadas em aprender e é uma violência impor esse ensino e por isso a Bolívia vive um grande paradoxo.

Anônimo disse...

Carlos da "MALA". Por favor não venha com tais argumentos, pois é notório no seu discurso que apóias a ELITE BRANCA da América do Sul!! Você é um agente desta Elite FALCATRUA(yEDINHA) QUE AÍ ESTÁ PARA EXPLORAR O POBRE E NADA FAZ!! O que a YEDINHA vai fazer com 1 Bilhão de dólares?? Vai prá mão grande dela?? "olhos altivos , língua mentirosa, mãos que derramam sanque inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos."Quando os perversos se multiplicam, multiplicam-se as transguessões, mas os justos verão a riona deles."Provérbios cap.29.

Anônimo disse...

São poucos os espaços democráticos, mesmo na blogosfera. Daí eu pedir licença para convidar a todos que se interessam pela Bolívia para o lançamento de meu livro "A Bolívia de Evo Morales - a refundação de um país". O prefácio é do José Dirceu e a apresentação do autor,do Audálio Dantas. O lançamento será no dia 23, às 15 hs, estande da LivroPronto Editora, Rua "M" com Av. 6 da Bienal do Livro de SP. Obrigado, e apareçam todos! Viva Latinoamérica!!!

Anônimo disse...

O Maia esqueceu que foram os europeus que dizimaram os nativos das Américas.

O que o racismo não faz?

Claudio Dode

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