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sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Depois de enquadrado, lulista ataca


Ministro Vannuchi ataca o Cimi, gratuitamente

O ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, deu uma entrevista à Agência Brasil, do qual extraímos o trecho final, abaixo:

Agência Brasil: Como o senhor vê o caso da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol?

Ministro Vannuchi: Raposa Serra do Sol é o mais importante dos procedimentos do governo Lula na temática indigenista. Há a resistência de um conjunto muito pequeno de produtores de arroz, liderados por um gaúcho que está lá há 20 anos, e que se insurgiu de armas na mão contra todas as regras do Estado democrático de direito. Explodiram bombas, fizeram assaltos à aldeia Surumu, agrediram, deixaram um carro bomba, que não explodiu, em frente à Polícia Federal durante a operação. A imprensa brasileira tratou isso como se fosse um legítimo recurso, um protesto. A ação da Polícia Federal foi interrompida por uma ação no Supremo. E, mesmo que a gente discorde da determinação do Supremo, vamos acatar. Nós argumentamos, trabalhamos, eu visitei ministros. Quando consultados sobre a visita do relator da ONU para questões indígenas [James Anaya] no período do julgamento, nós respondemos que o Brasil tem convite permanente para relatores, mas pedimos para que ele não viesse agora. Ele veio mesmo assim. Mas nós achamos que a presença do relator pode fazer o Supremo ficar tentado a demonstrar sua soberania e que não é por causa da presença de um relator que ele vai dar uma decisão favorável aos índios. Então, votos que estavam indecisos podem ser decididos sob essa influência, o que não é bom. Ele disse que se for o caso não vai comparecer ao julgamento. Quanto aos movimentos sociais, nesse caso, acho que eles acertam e erram. Condeno declaradamente o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) que tem uma posição estreita e sectária em relação ao presidente Lula. No episódio da decisão do Supremo [que suspendeu a operação da PF de retirada de não-índios do local] fizeram um editorial dizendo que a culpa era do Lula. A vontade de se opor partidariamente e politicamente suplantou o reconhecimento de que o presidente Lula determinou o cumprimento integral de uma bandeira [retirada dos arrozeiros] do Cimi, do Conselho Indigenista de Roraima (CIR). Mas nós não vamos criminalizar o Cimi, chamá-lo de ilegítimo. Apenas lamentamos.

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Não entendi a expressão de Vannuchi “a vontade de se opor partidariamente...”, referindo-se ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

O Cimi é uma entidade autônoma não-partidária que milita desde sempre pela emancipação completa dos indígenas brasileiros, inspirado nos princípios da solidariedade, dos direitos humanos e da democracia não-liberal. Não há oposição partidária, porque os indígenas não constituem partido político formal, nem o Cimi representa tal insinuação inconseqüente e despolitizada do ministro lulista.

Dias atrás, o ministro Vannuchi – por ter defendido (corretamente) o julgamento e punição aos torturadores e criminosos da ditadura civil-militar de 64-85 - teve as orelhas puxadas, em reunião ministerial no Palácio do Planalto.

Devidamente enquadrado pelo irrefreável espírito de conciliação lulista, Vannuchi agora só faz disputa com a esquerda. Este é o motivo de atacar duramente o Cimi.

9 comentários:

Carlos Eduardo da Maia disse...

Fico pensando aqui com os meus botões: o que seria, afinal, uma 'democracia não liberal'? Certamente, pelo andar da carruagem ,seria uma democracia sem o espírito de conciliação... Então, cara pálida, isso não seria democracia, porque não existe democracia sem espirito de conciliação...

Anônimo disse...

Realmente o Maia deve estar pensando com o seu botão.

Até porque hoje é sexta feira o botão está pensando em conciliação...

Claudio Dode

Anônimo disse...

Conciliação é o que os agrobandidos que "tomaram na mão grande" terras dos indios estão pregando. Os indios ficam com a conciliação e eles com as terras roubadas.

O Maia gosta de defender estas coisas, barbaridade.

Fabrício Nunes disse...

Eu também fico pensando com "meus botões": por que será que este governo nunca colocou o Rolim nos Direitos Humanos?
Meus botões respondem: porque ele não é enquadrável no sistema.
Simples!

Carlos Eduardo da Maia disse...

Pois é, Fabrício, seria bom ver o Rolim nos Direitos Humanos. Rolim lançou uma tese "para uma esquerda mais humanista" que é exatamente o que eu defendo. Essa tese foi execrada por certa esquerda. Grande Rolim.

Fabrício Nunes disse...

Hehehe.. não força a barra, Maia.
Marcos é um democrata e, sobretudo, humanista, coisa que não cabe nas tuas posições reacionárias e tributárias do mercado.
Por favor, né!

Anônimo disse...

Rolim foi esmagado pelos métodos do Sargento Pimenta, por isso não se reelegeu no PT de Sta. Maria. Mas não se iludam Rolim sempre esteve à direita do Tarso.

Fabrício Nunes disse...

Eu não estou discutindo a posiçao "ideológica" do Rolim (que, por sinal, é muito interessante - mesmo que possamos divergir), mas suas condições morais, que não se adaptam aos atuais métodos petistas de governo.

Anônimo disse...

que interessante, Cristóvão. Na primeira vez pensei que tinha havido problemas no envio, mas não publicar um comentário de crítica à Santa Madre Igreja me parece tããããão estranho!
Suzana

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