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sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Justificações encabuladas


Que hegemonia é essa, professor?

Como o lulismo conciliador de resultados é a expressão política do espontaneísmo e do pragmatismo mais desenfreado, faltam-lhe suportes conceituais que sustentem a sua condição política. O PT já é impotente para oferecer qualquer discurso forte que sirva de plataforma categorial a posteriori (uma vez que a liderança unipessoal de Lula se descolou do partido, deixando-o à deriva no deserto do real).

Resta, pois, àqueles que querem aderir ao lulismo apenas oferecer justificações abonatórias e, - como todos sabemos – estas, as justificações, sempre são produtos da retaguarda, sempre feitas a posteriori dos fatos e feitos.

No vazio intelectual do PT, no vácuo mesmo do silêncio constrangedor petista, surgem dois militantes respeitados e potentes: um, é o professor Juarez Guimarães, outro, é o também professor, Emir Sader. Ambos tentam – ainda que de forma encabulada e inconclusiva – justificar o estado da arte do lulismo conciliador de resultados. Tarefa solitária e quixotesca, a que se propuseram, talvez equivalente a engarrafar nuvens – mas sem a poesia desta.

Falo tudo isso, para indicar a leitura de entrevista do professor Sader ao jornal portenho Página/12, publicada domingo último (leia aqui).

Sader seguidas vezes tem falado em “hegemonia”. Nesta entrevista volta a mencionar a categoria, mas o faz de forma tão indeterminada que não ficamos sabendo a qual hegemonia se refere. Será aquela de corte leninista? Será a hegemonia gramsciana? Será a defendida por Ernesto Laclau? Ou a hegemonia pedestre dos jornalistas do PIG, equivalente singelo à conquista e manutenção de maiorias eleitorais tout court?

É interessante na entrevista, que o jornalista que indaga ao professor Sader, lá pelas tantas, flagra a militância de justificação do entrevistado e pergunta-lhe direto sobre a mesma. De qualquer forma, vale a pena a leitura das palavras de Sader, que, para além da doença infantil do lulismo, tem muitas passagens saudáveis.

Eu quero retomar aqui esse assunto da hegemonia, mais adiante. Apesar de estar na boca dos justificadores do lulismo, é um tema que não faz parte do vocabulário lulista oficial, cujos horizontes são meramente eleitorais, nada além disso.

Quem está remontando um processo de hegemonia, a rigor, é o movimento social no Brasil, que tem sabido tensionar pela esquerda o lulismo planaltino (sem trair aspectos políticos estratégicos), enfrentar vis-à-vis a direita e suas polícias de choque, e ainda pensar um projeto alternativo para o País (embora ainda careça de universalidade).

O projeto hegemônico se confunde com o projeto democrático, no seu sentido mais substativo e horizontal. Portanto, o lulismo, ao cobrar determinação e fixidez ao movimento social, conspira contra o caráter indeterminado e criativo (por isso democrático) dos movimentos sociais. Essa permanente tensão de contrários é que faz avançar o projeto democrático estratégico, porque incorpora direitos novos, demandas genuínas e novas formas de representação e participação (para bem além das duas instituições caducas, Parlamento e sistema eleitoral formal).

O lulismo, mesmo que não queira, mesmo sem saber, avança igualmente com os movimentos sociais. Mesmo a reboque. Mesmo sob um abstrato cabresto.

Foto: até a fotografia do professor Sader está encabulada, lateral, oblíqua no Página/12.

19 comentários:

Anônimo disse...

Esse descolamento PESSOAL, do eleito faz parte da extrategia moderna de manobra humana.

Lula, Sarkozy, berlusconi, bush etc, sao pateticos, sua politica nao tem raizes sociais, apenas financeiras e midiaticas.

Nao existe uma populaçao representada, um partido q responda pelos atos de governo, apenas um processo de furto das economias acumuladas em anos de trabalho, depenamento do estado q nao conseguira pagar as aposentadorias em funçao das dividas bancarias q devera assumir.

Uniao dos exercitos ocidentais, q serao empregados em breve, quando da decisao do novo "player" mundial, os paises marcham obedientes à "mao invisivel do mercado".

Apenas o PT do Rio Grande do Sul ainda mantem essa representatividade popular, tendencia chamada Democracia Socialista, atacada fora e dentro do partido, por ser exemplo de representaçao dos interesses do proprio povo.

Lulinha, era de se prever, nao resistiria à pressao, o bonito foi ver Olivio deixar o governo quando o partido resolveu abandonar sua identidade.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Quando é que certa esquerda vai largar de vez o ranço da burrice ideológica? Qual o problema de um partido de esquerda como o PT fazer um governo de conciliação? Qual o problema com a conciliação? Fazer politica é conciliar. Política é conciliação. Discurso forte para quê, cara pálida? Para alimentar antagonismos sociais, como disse Olívio Dutra, no fim de seu fracassado governo? O que adianta alimentar antagonismos sociais? Isso é ingenuidade da pura.

Anônimo disse...

Pois é MAIA! O que faz a tua governadora que manda baixar a lenha nos agricultores!! Uma governadora fracassada a serviço da Elite Branca^! Pior, nada faz pelo estado! Tinha é que estar na cadeia!! isso seria justo!!

Anônimo disse...

Quando é que uma certa direita (fascista e reacionária) vai largar de vez o ranço do anti-petismo?

Conciliar partidos entorno de ações sociais é uma coisa. Conciliação entorno de interesses econômicos das grandes corporações é outro, muito diferente dos interesses do País.

Para esta certa direita (fascista e reacionária), é óbvio, o governo Olívio foi um fracasso, pois este, não se moncumunou com a corja de ladrões que rouba o RS a seis anos e que o Maia defende.

Se tivesse que votar no Lula, votaria novamente, pois é melhor ele lá, do que os representantes da certa direita (fascista e reacionária). Mas é inegável que, o lulismo, é fruto da pressão do capital, representado pelas corporações sobre o Estado, aqui representado pelo governo Lula.

Infelizmente, as ações sociais e emancipatórias, que eu esperava do Lula e do PT, ficaram para depois (ou para trás).

Esta certa direita (fascita e reacionária)

Anônimo disse...

Maia, vai ler o Weber e pára de propagar estultices só para garantir teus argumentos.

Carlos Eduardo da Maia disse...

O assunto é importante e está na ordem do dia. Vamos argumentar com argumento e não com agressões. Estou a dizer, como dizem os portugas, que em um mundo complexo, difuso, diversificado e pluralista é completamente impossível exercer o santo poder sem uma política de conciliação, inclusive com o capital. Isso não significa que o poder de um governo de conciliação seja corrupto ou subserviente.

Anônimo disse...

Segundo o Weber (que imagino tu não leu)a política é a guerra pelas palavras. É tanta violência que para ordenar esse caos cabe ao Estado o monopólio da violência física. Ou então o Bourdieu com a violência simbólica e vá gorjear em outros cantos seu burro.

Anônimo disse...

O Canalha do Maia diz

"Quando é que certa esquerda vai largar de vez o ranço da burrice ideológica?

E Depois:

" Vamos argumentar com argumento e não com agressões."

Primeiro: augumentar ou é com argumento ou então é outra coisa.

Segundo: só no dicionário do canalha, quando interessa ao canalha, chamar os outros de rançoso e burro não é agreção.

Terceiro: O canalha se travesti de conciliador. quando a unica conciliação que pratica é no restaurante que a Yeda faz a refeiçaõ, e toma malbecs em saudações ao Deus Mercado.

Vai te conciliar com o Busatto, com o Culau, com o Lair; Estes são d atua laia.

Claudio Dode

Anônimo disse...

Correto: Agressão

Claudio Dode

Anônimo disse...

Canalha, canalha, canalha!

MASQUINO disse...

Vamos discutir sem agredir,gente.Eu tenho o maior prazer em vir aqui.Moro em Teresina,no Piauí, e gosto muito dos textos do Cristóvão Feil.Se ficarmos agredindo uns aos outros vamos nos tornar inimigos.Nada mais.Se o sujeito acredita nas coisas que diz,tudo bem.Não vou me tornar inimigo dele só porque o cara acredita que existem mercados livres.Fazer inimigos em política é ficar cada vez mais sozinho.Essas agressões afugentam as outras pessoas.
Marco Aurelio,Teresina,Piauí.

Anônimo disse...

Uma das limitações da nossa democracia é que a direita tupiniquim não quer muita conciliação, e manda baixar o cacete... FHC, Prevarycadora e outros que o digam. Vem daí, também, o relativo sucesso do chamado "lulismo de resultados", que, do seu ponto-de-vista, faz um governo vitorioso.
Mas eu considero também o governo Olívio uma grande vitória popular... fora outras considerações, salvou o BANRISUL e desalojou a quadrilha-de-sempre do DAER, pelo menos por 4 anos... e se não fizessem guerra política total contra ele, o Tarso teria sido eleito facilmente.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Fica tri difícil conciliar quando a agenda alimenta o ranço,a amargura o ressentimento e o rancor. Não se faz conciliação alimentando antagonismos e demagogias da mentira. A questão é o Estado. Como deve ser o Estado ideal? A quem ele deve servir? Alguém aqui acredita que o Estado deve fenecer, como nos catequisa Meszarós? Alguém aqui acredita que o Estado deve ser mínimo? Eu não acredito nem numa coisa e nem em outra. Eu acredito no serviço público razoável, eficiente, que funcione. Mas o Estado brasileiro é arcaico, medieval e é lamentável ver certa esquerda defendendo esse Estado, seu corporativismo, seu status quo, etc... Há espaço para negociação e o governo do PT está fazendo isso e razoavelmente bem (talvez um dia eu volte a votar no PT).

Anônimo disse...

Masquino, infelizmente a gauchada é assim, maniqueista!
Muito boa a entrevista do Emir, Cristóvão. Acho que estás vendo fantasmas.
Suzana

Anônimo disse...

É masquino, o gaúcho é diferente, pelo menos os que votam em Yeda Crusius e fingem não enxergar a corrupção no governo dela!

Anônimo disse...

O Feil tomou todas, ou ... e viajou. Não escreveu coisa com coisa. Utilizou um linguajar rebuscado e elitista "espontaneísmo"??? " a posteriori" ??? ... "equivalente a engarrafar nuvens, mas sem a poesia desta."???? Ou "O projeto hegemônico se confunde com o projeto democrático, no seu sentido mas substativo e horizontal..."????????????? Que feil o texto, além de não dizer nada.

Anônimo disse...

panoramix, porque não paramos de dizer que somos diferentes???????
Suzana

Anônimo disse...

Suzana quem diz (ou dizia) que o "gaúcho é diferente" eram alguns conhecidos "deformadores de opinião locais" que enalteciam nossas façanhas...até agora! Me sinto igual a qualquer outro brasileiro nascido nesta país bonito! Este foi a intenção do comentário acima! Com relação as brigas que o nosso amigo de Teresina falou é atávico: Ximangos/Maragatos, Grêmio/Inter;PT/resto do estado; Maia/Gente Boa e tantos outros exemplos. Tá no sangue masquino, não dá pra evitar!

Anônimo disse...

que alívio, Panoramix! Abraço da Suzana

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