A voz do que apodrece

O governo tucano de dona Yeda Crusius, de Zeagá, do grupo RBS, da FIERGS, da Farsul, do grupo Gerdau e dos milhares de babaquaras de classe média que estavam com medinho do PT (pobre PT!) desanda como sorvete ao sol. O governo do Piratini pinga sua substância em decomposição a cada hora, a cada dia, a cada semana. Dona Yedinha já não tem mais pose para aparecer em público e falar sua fala doente, cansada, quase morta.

A fala da direita é um discurso morto.

Pois, ainda assim, o celetista da família Sirotsky, Lasier Martins, ontem à noite no canal TVCom, programa Palavras Cruzadas, ou algo cruzado, teve a pachorra de perguntar "por que a Polícia Federal algema pessoas que não oferecem perigo?", "por que a PF expõem homens probos, homens de bem e de bens, homens brancos, homens bem nascidos?"

Essa segunda frase o celetista semi-alfabetizado não disse, mas pensou! E pensou mais: essas pessoas - os brancos, perfumados, banhados, nutridos, de boas relações sociais, que pensam positivo, que empreendem - praticamente tem o direito de fazer o que fizeram, afinal, eles são o esteio da nossa sociedade, é um direito que lhes cabe apanhar alguns tostões daquilo que é fruto do trabalho coletivo de gerações de brancos empreendedores e que pensavam positivo.

Antigamente havia um selo genial da gravadora RCA Victor, depois virou logomarca da empresa. Mostrava a figura de um simpático cãozinho interessado na corneta de um gramofone, abaixo a legenda dizia: A voz do dono. Exaltava a fidelidade do som dos discos RCA.

Lasier é a voz de um sorvete que se derrete, de um governo que se decompõe, de uma elite política que apodrece - a voz dos seus donos, brancos, perfumados, que pensam positivo e que têm direitos quase divinos (sagrados) sobre tudo que existe sobre o solo do Rio Grande.