O PT e o erro humano
Pelo menos até domingo não comento mais sobre o assunto de ontem, aqui tratado e replicado por uma nota do grupo petista Mensagem ao Partido. Tenho o melhor apreço pessoal pelos companheiros que fazem parte desta aliança partidária. Se eu fosse votar domingo, votaria nas chapas do Mensagem ao Partido. Verdade. Não critico os demais arranjos eleitorais porque acho-os casos perdidos. Não vou perder tempo e aborrecer os nossos nove leitores com temas de renegados e/ou carreiristas profissionais. Me refiro a quatro personagens que estarão disputando o voto popular em Porto Alegre, ano que vem, a saber: a Genro, Manuela, Rosário e o inefável Beto Albuquerque. Quatro convictos (porém dissimulados) carreiristas de carteirinha e com a tesouraria em dia. Já comentei desses quatro personagens aqui e me cansa um pouco voltar a assunto vencido e aborrecedor como esse.
Ainda a propósito da PED de domingo, e dos documentos das diferentes chapas que concorrem às direções partidárias do PT, é de notar que as críticas assinaladas e comentadas tem pelo menos dois pontos em comum: 1) não conseguem identificar a essência da crise petista; 2) não admitem que a crise petista é estrutural e - pior - terminal.
Em 1956, quando os estudantes de Budapeste, na Hungia, se mobilizam (pela esquerda) no que ficou conhecido como "levante húngaro", houve um debate intenso na esquerda mundial. Os PC's do mundo todo se manifestaram oficialmente contra a revolta da esquerda húngara, que aspirava apenas a ver-se autônoma em relação a Moscou e livre para construir o que chamavam de "socialismo verdadeiro". Os dirigentes do PC magiar chegaram a romper com o Pacto de Varsóvia, mas foram barbaramente esmagados pelo Exército Vermelho, quando pereceram mais de 20 mil pessoas e o próprio primeiro-ministro Imre Nagy foi preso e executado pelos stalinistas soviéticos. Doze anos depois, 1968, em Praga, a história se repetiria, gerando igualmente um intensíssimo debate na esquerda internacional.
Relativamente ao levante húngaro, Sartre teve oportunidade de se manifestar contra o stalinismo em textos brilhantes e didáticos sobre o marxismo e o método dialético. Mostrou que o stalinismo é uma farsa teórica e uma má-fé (uma categoria sartreana) política. Profundo conhecedor da obra de Marx, Sartre, motivado pelos acontecimentos de Budapeste, rompe com o PC francês e escreve "O fantasma de Stálin" (este havia morrido biologicamente em 1953). Mas é no pequeno panfleto denominado "Questão de Método", onde faz as distinções e identidades entre o marxismo e o existencialismo, que Sartre é mais ácido com o stalinismo do PCF. Chama-os depreciativamente de "esquematizadores" da realidade e das análises de conjuntura, e acusa-os de tentarem justificar a "tragédia húngara", assim: "Sublinham os erros do Partido [do PC da Hungria], mas sem determiná-los: tais erros indeterminados tomam um caráter abstrato e terno que os arranca do contexto histórico, para deles fazer uma entidade universal - é o erro humano". [...]
O PT está pois, guardadas as devidas e preventivas proporções, como o stalinismo frente aos fenômenos e contradições da sua própria existência. O PT não consegue identificar a sua essência. Só enxerga os epifenômenos da sua trajetória errante. É como um foguete que serve para impulsionar um artefato em órbita. O artefato foi Lula, agora o foguete segue o seu descenso gravitacional e logo vai se espatifar no solo duro do mundo real, ou seguir gravitando sem rumo como um inofensivo partido tradicional. Os companheirinhos insistem em ver a crise ético-moral de 2005 como frutos imaturos da entidade universal chamada erro humano. Está bem! Cada um coloca os óculos róseos como quiser e faz o jogo-do-contente da forma como o seu lado Pollyanna mandar.
Só não digam depois que não foram prevenidos - já dizia a minha saudosa avó.
Pelo menos até domingo não comento mais sobre o assunto de ontem, aqui tratado e replicado por uma nota do grupo petista Mensagem ao Partido. Tenho o melhor apreço pessoal pelos companheiros que fazem parte desta aliança partidária. Se eu fosse votar domingo, votaria nas chapas do Mensagem ao Partido. Verdade. Não critico os demais arranjos eleitorais porque acho-os casos perdidos. Não vou perder tempo e aborrecer os nossos nove leitores com temas de renegados e/ou carreiristas profissionais. Me refiro a quatro personagens que estarão disputando o voto popular em Porto Alegre, ano que vem, a saber: a Genro, Manuela, Rosário e o inefável Beto Albuquerque. Quatro convictos (porém dissimulados) carreiristas de carteirinha e com a tesouraria em dia. Já comentei desses quatro personagens aqui e me cansa um pouco voltar a assunto vencido e aborrecedor como esse.
Ainda a propósito da PED de domingo, e dos documentos das diferentes chapas que concorrem às direções partidárias do PT, é de notar que as críticas assinaladas e comentadas tem pelo menos dois pontos em comum: 1) não conseguem identificar a essência da crise petista; 2) não admitem que a crise petista é estrutural e - pior - terminal.
Em 1956, quando os estudantes de Budapeste, na Hungia, se mobilizam (pela esquerda) no que ficou conhecido como "levante húngaro", houve um debate intenso na esquerda mundial. Os PC's do mundo todo se manifestaram oficialmente contra a revolta da esquerda húngara, que aspirava apenas a ver-se autônoma em relação a Moscou e livre para construir o que chamavam de "socialismo verdadeiro". Os dirigentes do PC magiar chegaram a romper com o Pacto de Varsóvia, mas foram barbaramente esmagados pelo Exército Vermelho, quando pereceram mais de 20 mil pessoas e o próprio primeiro-ministro Imre Nagy foi preso e executado pelos stalinistas soviéticos. Doze anos depois, 1968, em Praga, a história se repetiria, gerando igualmente um intensíssimo debate na esquerda internacional.
Relativamente ao levante húngaro, Sartre teve oportunidade de se manifestar contra o stalinismo em textos brilhantes e didáticos sobre o marxismo e o método dialético. Mostrou que o stalinismo é uma farsa teórica e uma má-fé (uma categoria sartreana) política. Profundo conhecedor da obra de Marx, Sartre, motivado pelos acontecimentos de Budapeste, rompe com o PC francês e escreve "O fantasma de Stálin" (este havia morrido biologicamente em 1953). Mas é no pequeno panfleto denominado "Questão de Método", onde faz as distinções e identidades entre o marxismo e o existencialismo, que Sartre é mais ácido com o stalinismo do PCF. Chama-os depreciativamente de "esquematizadores" da realidade e das análises de conjuntura, e acusa-os de tentarem justificar a "tragédia húngara", assim: "Sublinham os erros do Partido [do PC da Hungria], mas sem determiná-los: tais erros indeterminados tomam um caráter abstrato e terno que os arranca do contexto histórico, para deles fazer uma entidade universal - é o erro humano". [...]
O PT está pois, guardadas as devidas e preventivas proporções, como o stalinismo frente aos fenômenos e contradições da sua própria existência. O PT não consegue identificar a sua essência. Só enxerga os epifenômenos da sua trajetória errante. É como um foguete que serve para impulsionar um artefato em órbita. O artefato foi Lula, agora o foguete segue o seu descenso gravitacional e logo vai se espatifar no solo duro do mundo real, ou seguir gravitando sem rumo como um inofensivo partido tradicional. Os companheirinhos insistem em ver a crise ético-moral de 2005 como frutos imaturos da entidade universal chamada erro humano. Está bem! Cada um coloca os óculos róseos como quiser e faz o jogo-do-contente da forma como o seu lado Pollyanna mandar.
Só não digam depois que não foram prevenidos - já dizia a minha saudosa avó.
13 comentários:
Fala aí,Feil!!Como sempre,você vai na "nervura do real"-só para citar uma expressão de nossa mais famosa filósofa petista.
Não vou participar do PED.Sou filiado na Paraíba e estou no Piauí,em Teresina.
Também acho que existem problemas mais estruturais e que esses problemas não podem ser personificados.
É como se da "realidade implícita",nos termos de David Bohm,nosso partido quisesse ver apenas o que é manifesto;não aquilo que subjaz no seu mais íntimo existir.Só que essa realidade está lá e vai esgotar nossa proposta de país.É ela que impede que façamos a "ruptura necessária"(outro termo esquecido)com o modelo que existe no Brasil desde 1964.
Felizmente,ainda podemos falar o que quisermos dentro do PT.
Um grande abraço!
Marco A.N.L. de Almeida(petista de Campina Grande,Paraíba)
Abraço, Marco!
Salve! Nem tudo está perdido, contigo aí.
DOS LÍDERES E DOS VOTOS
Cristóvão, concordo que é conveniente encerrar, pelo menos até domingo, essa discussão. Não sem antes registrar, por esclarecedor, um comentário postado no blog da Rosane de Oliveira, de um conhecido dirigente do PT, ao responder a um internauta (obviamente um poodle direitista) que questionava a "liderança" dos cinco companheiros da Mensagem (palavras da Rosane, a abelha-rainha dos jornalistas da RBS) na desastrada visitinha à Zero Hora e a outro que vinculava todo o PT à crise ético-moral de 2005.
Segue o comentário:
Nome: xxxxxxxxxxxxxx
Cidade: Porto Alegre
Estado: RS
Data: Sábado, 24/11/2007 às 22h26min
Gian, Marcos Valério nunca foi do PT e Delúbuio(sic) foi expulso. Carlos Santos, Estes(sic) são honestos e são líderes sim. Nesta foto tem mais de 1,5 milhão(sic) de votos.
Cristóvão, veja você: voto passou a ser sinônimo de liderança. Explica tudo.
Quanto à outra questão me nego a comentar para não criar uma guerra civil no blog, como diz o Marco W.
Estou seriamente pensando em seguir um conselho teu: não te mete em política!
Marcos, o conselho não é meu. É do velho Getúlio.
Uma vez o líder sindical José Vecchio foi ao Catete se queixar dos cupinchas do PTB de Porto Alegre, traições, longos e agudos punhais, etc. Falou, se exclamou... e o velho quieto só cuidando a ponta das unhas por baixo dos óculos. Quando o Vecchio parou pra tomar um fôlego, o Getúlio vira-se pra ele e diz a famosa frase:
- Vecchio, faz como eu, não te mete em política!
A essência do PT sempre foi da crítica fácil e demagógica para chegar ao poder, como confessou o Genoínio. O PT é um partido igual a todos os outros. Só não enxerga quem não quer ver. Minha decepção com o PT se deu ainda na década de 80, porque tive uma síndrome de Nostradamus e percebi, naqueles velhos e bons tempos estudantis, o que hoje é realidade, o que importa -- não interessa o que custar -- é a conquista do poder para lá ficar e usufruir.
caro gauche,
um único mas, a meu ver importante, reparo à sua lúcida avaliação. São dez os seis leitores e não apenas nove (e eu nem conto o mala, ás vezes até acho que ele nem lê o blog, apenas escreve...
abraço,
zeca
A gente percebe que não há uma diretriz do PT no que diz respeito ao trato com a mídia hegemônica, quando, por exemplo, a Perseu Abramo edita livros sobre mídia e política; quando o Ministério da Cultura apóia a TV Pública e Ministério das Comunicações criminaliza rádio comunitária; quando intelectuais do partido, que não tem relação alguma com a blogosfera, escrevem sobre o poder midiático e as lideranças ignoram solenemente tudo isso e agem, sabe-se lá impulsionados por que razões. Sobra produção intelectual dentro do PT a respeito desse tema, mas, no momento da ação política, é o desastre que a gente acompanha todos os dias. A coisa toda tem um tom esquizofrênico.
Cláudia, o problema é que "a gente percebe que não há uma diretriz do PT...". Cristóvão, tens 11 leitores!
Feil,
sempre se fala sobre a repressão violenta aos movimentos libertários dentro do extinto bloco soviético. Mas será q essas tendências eram tão libertárias assim? Não dá para esquecer q, à medida q os russos foram avançando pela Europa Oriental durante a guerra, tiraram do poder governos visceralmente fascistas q já existiam antes da ocupação alemã. Não existiam, ali, nada q se pudesse considerar como uma democracia. E vide o exemplo do Solidariedade, um sindicato de coroinhas a serviço do Vojtilla. O que a Polônia é hj? Um estado fascista, território livre para prisões clandestinas, onde são torturados os inimigos dos EUA. Será isso saudosismo do tempo em q o país era um campo d extermínio dos inimigos do Reich? A Romênia, idem. A Ucrânia se alinhando com a política norte-americana bem como as demais ex-repúblicas soviéticas da Europa. As ex-repúblicas soviéticas da Ásia prestes a servirem d base para atacar o Irã. A Alemanha unificada com um pé q é um leque para se meter em alguma arruaça internacional junto com os EUA. Enfim, a velha reedição do "cordão sanitário" em volta da Rússia pós-revolucionária. Seria essa tendência direitista uma "vingança" contra a ocupação russa? É claro, q a repressão do bloco soviético foi uma barra, mas tenho sérias dúvidas quanto à vocação democrática e socialista desses países no pré e no pós-muro d Berlim.
Eugênio, esse foi o debate na esquerda internacional desde pelo menos 1956, quando do levante de estudantes de Budapeste. O Sartre e inúmeros outros intelectuais tiveram papel importante no debate, sempre apontando o obscurantismo stalinista.
Penso que a Hungria ainda foi pela esquerda, o movimento. Mas já não digo o mesmo na Primavera de Praga, onde já havia uma mescla de oportunismo de direita com alguns poucos elementos de esquerda.
E na Polônia de fato, o Solidariedade foi um movimento igrejeiro (de direita) liderado pelo safado do Walesa e o Wojtila por trás. A esquerda era minoria no Sindicato de Gdansk. E hoje é que se vê, a máfia dominando quase todos esses países... olha a Rússia, um consórcio de mafiosos dominando o Estado e a Polônia, como disseste, é um país francamente fascista na mão daqueles gêmeos-metralhas.
9 leitores não, Cristóvão. Já que é pra usar número simbólico, prefiro 13. Hehehehe...
caro toia, aqui pelo interior também a companheirada cansou (não o cansei reacionário da burguesia brasileira) mas da convardia das lideranças petistas (se não era o caso de arrebentar com a rbs no triste episodio do lambe botas do careca do jornal do almoço (agora além de puxa saco e mentiroso confesso), mas não vê-se o pt puxando o saco dessa midia podre.
Prá completar tem um artigo do Miguel Rossetto na ZH de sábado,
1º/12. O que vocês acharam do tal artigo?
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