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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007


A lava da culpa e as cinzas do ressentimento

Fui procurar na Wikipédia sobre o rei da Espanha. É muito punk! O cara é também rei de Jerusalém. Tudo por presunção hereditária, e segundo vontades divinas ancestrais perdidas no pó do tempo. O poder terreno é um direito dado por Deus, conforme critérios de la sangre y apellidos.
É muito muito punk! Se para um comum mortal plebeu as coisas da vida já não são muito claras e mansas, imagine-se na cabeça de um Juan Carlos de Bourbon e o cacete?

Vocês viram naquele filme do Stephen Frears, A Rainha, o grau de loucura concentrada e aparentemente estabilizada (quase mansa) que cerca a realeza britânica. Foi ali que eu descobri o motivo pelo qual eles necessitam de tantos e tão enormes castelos. É para abrigar o próprio ego e o dos ancestrais fantásmicos que assombram e turvam a consciência desses seres tidos como superiores. Dois ingredientes garantidos para o sujeito ter direito à Casa de Orates: a) ser/estar funcionalmente inútil; b) supor paranoicamente que representa a vontade de deus na Terra.

Mas têm outros dados conhecidos: essa gente casa e se procria entre eles, com o intuito pragmático de manter o poder num círculo familial controlado e previsível. A família imperial brasileira é também Bourbon, Bragança e Órleans se extendendo por linhagens que começam na velha Rússia, passando pela Alemanha, Áustria, Grécia e acabando hoje na Espanha (e há pouco fiquei sabendo que vai até Jerusalém). Pois, não são poucos os historiadores que relatam a nódoa da sífilis no sangue azul brasuco-português. Vários deles tinham a chaga sifilítica na própria gene real. Isso afetava o juízo dos indivíduos. Dona Maria, a Louca, assim o era por efeito da sífilis brava.

Assim que, imaginem, o rei Juan Carlos de Espanha carrega um fardo ancestral de fato pesadíssimo. Precisaria de uns três novos Shakespeare e uns cinco Sigmund Freud para dar conta de parte da tragédia que é a cabeça de um sujeito desses. Essa explosão que ele teve lá no Chile, no sábado, equivale ao vômito de lava de um velho vulcão que se julgava extinto. Só que o vômito de Juan Carlos é feito da lava da culpa e das cinzas do ressentimento. É muito muito muito punk!

Que prato cheio para um grande escritor!

4 comentários:

Anônimo disse...

A canalha nobre, com esse gesto do reizinho de Espanha, demonstram o que gostariam de fazer de fato: calar a boca "dessa raça" de índios, negros, nordestinos, pobres, etc, que não sabem o seu lugar, pois insistem em não respeitar a "Casa Grande".

Anônimo disse...

A canalha nobre, com esse gesto do reizinho de Espanha, demonstram o que gostariam de fazer de fato: calar a boca "dessa raça" de índios, negros, nordestinos, pobres, etc, que não sabem o seu lugar, pois insistem em não respeitar a "Casa Grande".

MASQUINO disse...

Continuo lendo seu blog,Cristóvão Feil.Daqui de Teresina,leio e divulgo.
Sem puxasaquismos,me lembro do velho Nelson Rodrigues.
Essa do Juan Carlos foi tri!!!

Anônimo disse...

Enquanto isso, o auto-intitulado Príncipe do Brasil (Bertrand de Orleans e Bragança) faz campanha contra negros, índios e sem-terra:
http://www.paznocampo.org.br/Blog/Blog_db.asp

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