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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 1 de novembro de 2007



As duas aves blogueiras

Foi a socióloga Agnes Heller, essa ex-aluna do velho Lukács, que melhor estudou o cotidiano, porque classificou-o como território da história, ao qual nós estamos plantados, participando e (muito mais) sendo participados. Mas esse território está crivado de armadilhas perigosas, especialmente para um blog. Depois de 19 meses com esse blog, já é possível suspeitar desses perigos iminentes. Um dos elementos mais difíceis para mim, aqui atrás dessa tela virtual, sempre foi o de descobrir o tom da escrita. Achar a afinação do instrumento. Um blog é um instrumento novo, uma mídia de múltiplas e variadas possibilidades, você pode fazer dele um diário róseo ou um repositório doentio de fel e ressentimentos, um instrumento político ou a expressão psicanalítica de neuroses e paranóias, ou nada disso, muito antes pelo contrário.

Hoje, penso que o tom é o do panfleto político, a recuperação desse instrumento histórico da esquerda, agora sob a forma eletrônica e virtual do blog.

Isto posto, é preciso evitar as armadilhas do cotidiano, sendo a maior delas – a meu ver – a de querer estampar e dar conta da avalanche de informações que são jogadas diariamente pelo mundo midiático corporativo (instrumento político privilegiado do capital financeiro e da lei do valor).

Neste sentido, o cotidiano é um pega-ratão, para o blogueiro. O que eu mais admiro no Luís Fernando Veríssimo é – entre outras – a virtude de evitar os temas candentes do cotidiano. LFV não tem mentalidade de ferreiro, que só trabalha com objetos quentes. É preciso deixar as coisas esfriarem, morrerem um pouco, para melhor decompô-las, afim de examinar-lhes as entranhas reveladoras da sua verdadeira origem e natureza.

É quase inevitável, agora, lembrar da coruja de Minerva, do velho Hegel, que só levanta vôo quando cai o dia, quando fecham-se as luzes falseadas do cotidiano. Entretanto, dialeticamente, como lembravam os alunos do velho filósofo, é preciso não esquecer do galo da madrugada, que canta alto anunciando um novo dia. Desta forma, o cotidiano fica menos desprotegido, este blog fica menos burro, com a coruja de um lado e o galo de outro. Duas aves blogueiras, por excelência.

Coisas da vida.

7 comentários:

Anônimo disse...

Usando um termo caro a ti, amigo:
Muito bom, meu filho, muito bom...

Abraços

André

Anônimo disse...

Ocupar os espaços, ocupar os espaços. Nas escolas, no trabalho, na associação de bairro, no sindicato, no clube, até no lazer, etc. Nisso, eles (os canalhas) são bons. Temos que melhorar.

Anônimo disse...

Bom saber que alguém pensa como eu, você não está sozinho.... Saiba que leio seu blog todo dia. Continua, tá?

Cristóvão Feil disse...

Tá!

Anônimo disse...

Você é bom porque é amargo. Nem pensa! Vai fundo. bianca

Anônimo disse...

Por enquanto - longe, longe - o melhor blog gaúcho. Do Brasil só leio, diariamente,este e o do Nassif.

Anônimo disse...

Estas falando de artigos fascistoides como aquele sobre o filme "Tropa de Elite" que tu escreveu? Ou sobre os artigos estilo Velhinha de Taubaté, defendendo o governo revolucionário do Lula? Escuta: panfleto sobre o passado não existe. Panfleto é chapa quente, é pra botar fogo e para se queimar. Gosto de te chamar de ingenuo, mas não vou te chamar de burro e nem vou infantilizar as ideologias. A plateia do LFV é outra. E voce começa a criar a sua. Abs

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