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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 13 de novembro de 2007


Os Detran-boys, esses incompreendidos

Com relação ao eclipse ético-moral de parte da elite branca guasca (altos dignatários de partidos de proprietários, honorificentíssimos cidadãos de bem, ilustres homens probos o que são mesmo senão elite branca?), eu quero sugerir uma linha de pesquisa empírica a investigadores acadêmicos e estudantes de sociologia.

Trata-se de examinar a seguinte hipótese, no que se refere aos atos suspeitos (e preliminarmente reprováveis) praticados por aqueles cidadãos: estabelecer relações sociais que, mesmo não sendo francamente republicanas, são pautadas pelo paradigma da dádiva, segundo a sociologia de Marcel Mauss (1924). Já justifico.

Mauss é o sujeito que estudou os sistemas de trocas, tanto materiais, quanto simbólicas. Ele estudou as formas de circulação de bens - antes e além do mero interesse material e econômico - se dedicando a compreender o caráter livre e gratuito, mas ao mesmo tempo obrigatório e interessado, das ações de dar, receber e retribuir.

No Brasil, por obra de alguns jornalistas tolos e ignorantes de Marcel Mauss, os praticantes das trocas simbólicas e materiais foram - equivocadamente - classificados como adeptos (pagãos) da famosa oração de São Francisco - o famoso "dar e receber" do santo "verde" de Assis. Antes fosse assim tão simples, como essa bela oração cristã.

Assim, a pesquisa poderia tentar identificar, para além do bem e do mal, as novas relações de sociabilidade que os Detran-boys tentam fundar no Rio Grande. Observar com atenção, que não há operações bancárias. Só isso já denota um ato insurreto de grande relevância sociológica, especialmente quando a presente quadra histórica está marcada pela acachapante hegemonia do sistema bancário-financeiro que penetra em todos os poros e moléculas das relações humanas.

Estou querendo me convencer, pois, de outra leitura possível sobre o caso dessa elite branca meridional. Vejam que um dos rapazes chegou a adquirir um imóvel duplex e instalou na cobertura um campo verdejante (de grama natural) a fim de praticar ações esportivas e de congraçamento intersocial ancorado em relações de mútua solidariedade e ajuda recíproca. Um benemerente distinto, sem dúvida. Um desprendido do vulgar utilitarismo mundano de nossos dias. Um notável abnegado. Um amigo do verde e do ar não-corrompido dos céus de Porto Alegre. Mas ainda assim um incompreendido, sempre um incompreendido, até que a sociologia de Marcel Mauss o ampare com o "paradigma da dádiva" para que ele mostre aos moralistas apressados a genuína solidariedade que sustenta as suas ações aparentemente criminosas. Mas só aparentemente, porque eivadas de bons e - porque não dizer - revolucionários propósitos de estabelecer uma distinção radical entre troca de dons e troca de mercadorias. Mauss chamava isso de "o rochedo da moral possível".

Para finalizar, quero dizer que os Detran-boys são praticantes (incompreendidos) da ação solidária da troca de dons, jamais da ação mesquinha e utilitarista da troca de mercadorias e/ou de influências simbólicas que possam destruir o tecido social e favorecer a corrupção moral da sociedade como um todo, e dos jovens em particular.

Daí a sugestão da pesquisa. A investigação acadêmica, se levada a cabo, provará empiricamente, através do método consagrado do "testando hipóteses", que os Detrans-boys são rigorosa e autenticamente os verdadeiros adeptos da oração de São Francisco, agora sim, reposta em bases acadêmicas e científicas sérias e responsáveis.

18 comentários:

Anônimo disse...

Hahahahahahahahahaha!!!!!!!! Tadinho dos lalaus, Cris!

Só debochando mesmo.

Omar disse...

Assino em baixo (ou em cima, como queiras).

Carlos Eduardo da Maia disse...

A história é sempre a mesma e se repete, por um simples e categórico motivo: atrás de toda a picaretagem sempre tem uma estatal, um provedor de verbas públicas que sustenta a farra dos homens brancos, dos homens mestiços e dos homens de preto. Enquanto isso, na Vila Areia, falta tudo. E essa casta -- que está além das ideologias -- é que está no poder, toma conta do poder e toma conta da fiscalização do poder. É o mensalão do PT, é o Detran do Rigotto e da Yeda, é a voz gravada do Diógenes pedindo para a polícia não reprimir a contravenção. Enquanto isso, repito, na Vila Areia falta tudo.

Anônimo disse...

Falta especialmente inteligência a EDUCADA ELITE BRANCA. Aquele que numa pesquisa diz que não rouba e por isso não vota no PT, mas vota no PSDB do Lair Ferst e no PP do Ubiratan e dos Germanos. Colocar tudo no mesmo saco é uma estratégia para tirar o foco de um rotundo fracasso, do ninho tucano guasca, então definido como ético. Em resumo, ladrão são os outros.

Anônimo disse...

Na vila Areia falta tudo?

Ora, comam areia!

Agora, são as estatais as responsáveis pela ladroagem dos homens brancos, foguinhos, grisalhinhos, perfumadinhos...

O fetiche da mercadoria levado à quintessencia do absurdo. Só falta dizer que é o dinheiro o responsável pela ganância burguesa.

Anônimo disse...

O Carlos Eduardo da Maia põe numa vala comum o mensalão e o Diógenes com o Detran de Rigotto e Yeda. Sabemos que ninguém é santo e que o poder corrompe. Ao mesmo tempo, também sabemos que, infelizmente, no Brasil, é impossível manter a governabilidade sem trocar favores com a elite branca e oligárquica composta pelos coronéis dos partidos de direita sob o atual regime político-partidário e institucional (governos, universidades, empresas multinacionais, indústrias nacionais, banqueiros, latifundiários e aquilo que meu pai chamava de 'os cordéis de fora').

Que a quantidade relativa de pessoas extremamente "boas" e extremamente "más" é irrelevante nos extremos de uma Curva de Gauss, isso também é óbvio: afinal de contas, a esmagadora maioria da população, seja de que país, religião, raça, profissão ou profundidade do bolso for, está em uma média, na qual todos ora tomam atitudes solidárias, cidadãs e altruístas, ora são capazes de matar, de corromper e de serem corrompidos.

Não há infalibilidade nem isenção de corrupção. Todavia, responsabilizar as instituições públicas e esquecer da farra privatista das teles, da CRT, da CEEE, da Vale, dos bancos estaduais, do mensalão para os deputados aprovarem a reeleição, do mensalão do Azeredo, do desmanche do estado de SP após 12 anos de PSDB é um absurdo sem tamanho.

Afinal de contas, é nos meios que justificam os fins (e não nos fins que justificam os meios) que reside a transferência de razão social, de atitude em relação a como investir, como gerar e o que fazer com o excedente: são os sujeitos que fazem a transferência do público para o privado através da permissão da corrupção, do sucateamento do patrimônio público e do mau provimento de serviços ao cliente-cidadão os responsáveis pela corrupção gorda.

Dos males, o PT é, sem sombra de dúvida, o menor de todos.

Anônimo disse...

O Collares diz que o "voto é a tua única arma". Mas eu acho que o deboche é mesmo a única arma contra o descaramento da gentalha do andar de cima, dos donos de duplex com campo de futebol, como informa o site do Vide-Versus. Lá informa também que o prefeito de Canoas, o Ronqueti, e o de Gravataí, Stasinski, também estariam na maracutaia dos Detran-boys.

Gente, que PÂNTANO!!!!!!!!

Anônimo disse...

Hélio, perdão, mas essa é a autêntica fala dos relativistas sociais. O ethos social é assim mesmo e não tem jeito, temos que nos conformarmos e nos locupletarmos juntos (vide o Silvinho Land Rover).

Só que aí vem um mestiço como o Chávez e inverte tudo isso.

Diante de Chávez, os relativistas e os Land Rovers petistas, alpinistas sociais se calam envergonhados!!!! Aí só falta jogar pedra como fez Sua Majestade o rei da Espanha ou o bosta do Tião Viana, um bobo alegre.

Anônimo disse...

Todo o poder ao cinismo do deboche!

Toda a força à carnavalização do poder burguês!!!!!!!!!!

Cé S. disse...

Que postagem -- parabéns !

Cristóvão Feil disse...

Obrigado, César!

Anônimo disse...

Excelente, Cristóvão.

Anônimo disse...

Longa purgação na cadeia aos canalhas, canalhinhas e canalhões!

Duplex com campo de futebol! Morro e não vi nada!

Carlos Eduardo da Maia disse...

Hélio, eu apenas pincei fatos para mostrar que a picaretagem está além das ideologias. Ninguém é santo. É claro que os "donos do poder" vão ter mais experiência nesse tipo de negócio. Mas existe, infelizmente, o legado. Que bom que a vida está longe de ser conservadora, porque a história é movida a motor. A velha e decadente elite dá espaço a uma nova casta. É assim que o mundo caminha. Focos de picaretagem acompanham essa transição, essa troca de atores. Isso faz parte da necessária alternância no poder. O poder cativa e o vivente -- que trabalha na esplanada -- fica deslumbrado com a vida na Corte: o poder, o dinheiro fácil, as visitas dos lobistas (dos Lair Ferst da vida), os bons restaurantes. E o legado da corrupção sobrevive. Land Rovers, dólar na cueca, empréstimos são simulados para fraudar o que é real. Mas tá ficando difícil, cada vez mais difícil fazer picaretagens nesses novos tempos, porque existe um controle maior do Estado e da sociedade civil sobre a vida das pessoas. Computador deixa rastro, telefone também, as contas correntes mostram movimentos incompatíveis, as câmaras big brother da vida estão em quase todos os lugares, monitorando o individualismo de todos. Os movimentos são controlados e o canalha pode ser descoberto -- com certa facilidade. Basta ter uma polícia que ganha bem e eficiente. Esse é o fluxo da vida moderna. É por isso que serviço público é essencial num país como o Brasil, mas certas estatais - que alimentam a picaretagem -- poderiam ir para o espaço ou para a Venezuela.

Anônimo disse...

O Maia quer transformar luta de classes e briga de catigorias. Não vai dar para receber e retribuir. E não sinto muito.

Anônimo disse...

Eu disse "luta de classes em briga de catigorias".

Anônimo disse...

Excelente post e o título nem se fala - Detran-boys, tá demais! Aliás, esse blog tá q tá. Que bandidagem! Tomara que a pf chegue em todas as coberturas deste sul meridional.

Anônimo disse...

O Que o Maia esconde é que por trás de cada roubo sempre tem alguém que gosta muito de dinheiro (capital),
um capitalista...

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