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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 7 de novembro de 2007


Maria Rita saiu

“Teoria e Debate”, revista bimestral da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, traz um artigo da respeitada intelectual e psicanalista Maria Rita Kehl, a respeito da votação no Senado da absolvição de Renan Calheiros.

Se desde 2005 os eleitores e militantes não sabem quantos, entre os políticos eleitos pelo PT, permanecem petistas, agora temos a impressão de que a sigla nos foi definitivamente roubada. Aqueles que se consideram petistas em função do compromisso histórico com o projeto político e os valores éticos que o partido um dia representou perderam qualquer condição de ostentar o simpático símbolo da estrelinha.

(...) Um governo que não consegue sustentar nenhum preceito simbólico superior aos interesses econômicos –ou o que é pior, no cenário atual, aos interesses corporativos e privados—lança a sociedade em um cenário de “topa tudo por dinheiro” que põe em risco a própria ordem social. Um governo que fecha os olhos para a falta de ética, de decoro e de transparência em nome da governabilidade produz, na sociedade, efeitos ingovernáveis –além de uma descrença generalizada, próxima do abatimento melancólico.


Walter Benjamin escreveu que a melancolia fatalista, no quadro da luta de classes, é provocada pela “identificação afetiva com os vencedores”. É quando os derrotados abrem mão de sua história e abandonam sua perspectiva, fascinados pelo “cortejo triunfal” dos que os derrotaram. A famosa frase “não existe um documento da cultura que não seja, ao mesmo tempo, um documento da barbárie” coroa o límpido argumento de Walter Benjamin. Se um dia os vencedores de turno, que já se curvaram de maneira fatalista ante as condições impostas pelas velhíssimas oligarquias ao exercício da política no Brasil, resolverem erguer um monumento à sua vitória, quero ficar fora dele.

Ato contínuo, Maria Rita Kehl comunicou seu afastamento do quadro de colunistas de "Teoria e Debate", pelos motivos óbvios.

5 comentários:

Anônimo disse...

Maria Rita Kehl subiu agora no meu conceito.

Omar disse...

Pois muito bem. Ultimamente tenho recebido muitas notícias, como a da Maria Rida, do que as pessoas não vão mais fazer. Gostaria de receber mais notícias do que as pessoas estão pensando fazer no futuro. Muito balanço e poucas perspectivas...

Anônimo disse...

Boa questão, Omar. Mas parece que a Kehl não saiu do PT, embora mostre nítidas razões para fechar a conta com o garçom. De fato, corre o debate sobre o que estão chamando de pós-PT. As janelas não estão fechadas, ao contrário, as janelas estão se abrindo. Depende do cenário que queremos ver e interagir. Só o movimento social já nos dá muitos palpites e opções concretas. Neste momento tem gente marchando em algum lugar do País por melhorias sociais e como denúncia de exploração e abuso de poder. Basta ter olhos pra sentir e mãos pra fazer. Ficar nesse lamento pequeno-burguês é o mesmo que a alienação mental.

Anônimo disse...

Peço licença para palpitar, pois não sou petista, mas, apesar de gostar da pensadora Maria Rita, entendo que há um certo exagero.

Política é ocupar espaços e, por vezes, colocar as mãos na m...
Partido não é fim, mas meio de atingir o bem da maioria e garantir a dignidade humana. E para isso, por vezes, temos que conviver com toda sorte de aventureiro e predador.

Carlos Eduardo da Maia disse...

Maria Rita pode ter até uma pequena dose (um traguinho) de razão em relação aos complicados aspectos éticos do PT, mas em relação ao lado político -- e também econômico -- seu discurso anda meio mofadinho. Eu concordo em parte com o Armando. A finalidade é realmente atingir o bem da maioria -- é para isso que se deve lutar -- e a política está mergulhada na m.. Fugir dessa luta é deixar a m.. vencer. A desilusão com os políticos de todos os partidos e de todas as ideologias é uma realidade. Estamos aprendendo com nossos desiludidos irmãos argentinos que votaram na candidata oficial, apenas porque ela estava na frente.

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