Organizações e movimentos sociais do Brasil e do mundo inteiro comemoram mais um colapso das negociações para a conclusão da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Essas entidades questionam a validade das premissas da instituição desde o seu nascimento, no auge do neoliberalismo dos anos 90. Denunciam também as graves conseqüências que o fechamento desta rodada poderia causar para os povos em diversas partes do mundo.
Essas conseqüências dizem respeito, principalmente, à liberalização do comércio de bens industriais e serviços por parte dos países do Sul, em troca da abertura de mercados no Norte para exportações agrícolas. Isto significaria a cristalização de um modelo em que os países em desenvolvimento continuariam como exportadores de commodities agrícolas – com uso intensivo de água e outros recursos naturais na sua produção, concentração fundiária e utilização de insumos químicos que resultam em um agravamento da crise sócio-ambiental. Enquanto isso, os países desenvolvidos se manteriam como fornecedores de tecnologia e bens e serviços de alto valor agregado. Significaria também o aprofundamento da abertura comercial e financeira proposta pelo modelo neoliberal. E seria um golpe contra os direitos dos povos e a soberania dos países em relação à capacidade de formularem suas políticas públicas.
Ao longo da semana, cerca de trinta países tentaram sem sucesso chegar a uma fórmula que fosse capaz de acomodar os interesses em temas tão complexos como as políticas de agricultura, indústria e serviços. Mais uma vez o formato restrito e antidemocrático de tomada de decisões na OMC se revelou esgotado: dos 153 países-membro da OMC, apenas cerca de trinta estavam presentes nas reuniões de Genebra. Na verdade, entre estes, apenas sete – Estados Unidos, União Européia, Brasil, Japão, Austrália, China e Índia – conduziram de fato o processo decisório enquanto os demais aguardavam em protesto as decisões na ante-sala.
O Brasil manteve a sua já conhecida posição, que prioriza a abertura dos mercados dos países do Norte para as exportações do agronegócio, concordando em fazer importantes concessões nas áreas de redução de tarifas industriais e no setor de serviços. A insistência do país em manter esta posição acabou tendo graves conseqüências políticas. Uma delas foi o esgarçamento do G-20, importante coalizão de países em desenvolvimento criada em 2003 durante uma reunião ministerial da OMC realizada em Cancun, quando o Brasil liderou uma posição de resistência destes países e, com isso, alterou a balança de poder e a correlação de forças na OMC. Desta vez, no entanto, o país acabou esvaziando a sua liderança por ter se distanciado de preocupações e interesses de parceiros estratégicos da coalizão.
Esse foi o caso da Argentina, que vinha liderando uma importante posição de resistência nas negociações de Nama – a sigla em inglês para as tentativas de acordo sobre reduções nas tarifas de importação de produtos industriais que tanto interessam aos Estados Unidos e União Européia. A falta de compromisso do Brasil com os nossos vizinhos poderá ter repercussões políticas negativas nos processos de integração regional em curso na América do Sul. O Mercosul, por exemplo, possui uma Tarifa Externa Comum (TEC) que seria bastante prejudicada caso as propostas que estavam em curso nas negociações de Doha fossem aprovadas, tornando ainda mais difícil que nossa região pudesse estabelecer preferências comerciais internas ao bloco.
A estratégia negociadora brasileira também abalou as alianças do Brasil com Índia e China. Refletindo o peso econômico que o agronegócio exportador tem na balança comercial brasileira, o Brasil não deu a devida importância a temas importantes para estes países parceiros e para a agricultura familiar e camponesa. O tema das salvaguardas e outros mecanismos de defesa e promoção da agricultura que garante a segurança e soberania alimentar não foi priorizado pelos negociadores brasileiros, ao passo que se mostrou um aspecto central para estes parceiros-chave do país.
Nesse momento, os movimentos sociais do mundo todo estão comemorando. Mais uma vez está provado que o modelo promovido pela OMC caducou. Agora é hora de pensar alternativas a este sistema de comércio global. Esse debate deve se orientar pelos processos de integração regional e por novas instâncias globais voltadas para os interesses dos povos. Chegou o momento de construirmos um sistema de comércio verdadeiramente voltado para a justiça econômica, social e ambiental e não para os interesses das corporações transnacionais.
Artigo de Fátima Mello e Clarisse Castro, assessoras da Rede Brasileira Pela Integração dos Povos (Rebrip), publicado originalmente no jornal Brasil de Fato.
Ilustração no alto da página: Hupper
22 comentários:
O fato é que o governo Lula se deu mal, muito mal em Genebra. Largou de mão seus parceiros do Mercosul em troca de pífias vantagens comerciais que o governo dos Estados Unidos lhe oferecera. Saiu de Genebra sem nada e preocupado em acalmar parceiros que se sentiram traídos.
Vou defender dessa vez o governo Lula. Acho que a participação do Brasil foi muito boa e o país não pode ficar atrelado a certos interesses de seus parceiros de Mercosul. Está na hora do Brasil partir para acordos bilaterais, sobretudo com os EUA e com a Comunidade Européia. E o artigo do Post é de uma ingenuidade e de um reacionarismo inimaginável. O pessoal que escreveu o artigo não entende bulhufas de comércio internacional. Essa história mofada de neoliberalismo não cativa mais ninguém. E é por isso que os movimentos de esquerda estão perdendo dia a dia seguidores e ovelhinhas.
Na verdade o Maia, os seguidores e ovelhinhas, são exatamente aqueles que seguem repetindo os chavões da direita, esta sim reacionária.
A apologia ao colonialismo servil é o forte do Maia: "O Brasil não deve ficar atrelado aos parceiros do mercosul (tudo pobre), deve ter acordo bilateral com os EUA."
Quer mais ingenuidade que esta acreditar que os EUA são parceiros de alguém. Logo os EUA que se aproximam dos outros povos só para saquearem.
As vezes até vem com a "lábia", caracteristica dos vigaristas, auxiliados por "Veja" e outros Maias da vida.
Outras vezes vem com suas frotas e esquadrilhas, como faz no Iraque, no Irã, etc., e até aqui com a famigerada operação Condor.
O Maia propõe que o Brasil faça a famosa operação Caracu...
Claudio Dode
É Manchete do PRBS de hoje:
" Haia tem nova chance de vingar Srebrenica".
É mais sincera confissão do tipo de sentimento de justiça deste tipo de gente.
E depois tem gente que acha que isto é que é imprensa livre....
Claudio Dode
Fomos salvos pela India e China que se mantiveram firmes. O que eu nao entendi foi essa guinada do ministro Celso Amorin (que eu considerava dos bons no gov. Lula). Desta vez está em jogo algo realmente grande. Está em jogo o destino do próprio capitalismo que vai comecar a desaquecer se nao for suprido com mais e mais commodities. Os EUA/UE vao pressionar cada vez mais, e quando a crise comecar a bater no bolso deles, vai ficar uma situacao quase insuportável em que eles vao deixar cada vez mais de lado o cavalheirismo que ainda resta. No Brasil a pressao tb vai ser grande, pq o Agronegócio é o grande interessado. Eu só espero que os nossos governos se mantenham firmes e nao dêm mais uma de porra-loca como se viu dessa vez.
Os interesses da China e India são diferentes dos interesses brasileiros que são diferentes dos interesses argentinos e por ai vai. Sim, o agronegócio, a grande empresa agrícola, inclusive a Petrobrás da vida, o produtor, a cooperativa de diversos produtores que querem vender sua carne, sua soja, seu milho, sua mação, na mesa européia ou americana é o grande prejudicado pelo fracasso da rodada de Doha. A insensatez prevaleceu, porque certos atores forçaram a barra e prejudicaram todos. Mas o resultado não é ruim, porque o Brasil tem que fazer que nem o Chile que vai muito bem obrigado, porque não tem o ranço ideológico que o limita de celebrar acordos bilaterais por ai.
O fracasso das negociações da Rodada de Doha é o último prego no caixão da estratégia de multilateralismo do governo Lula. O Brasil, na era petista, dobrou as suas vendas ao exterior, sem que o governo assinasse um único acordo comercial que auxiliasse os empresários. O que comprova que os méritos são todos do empresariado brasileiro, que mesmo pagando uma das cargas tributárias mais altas do mundo, conseguiu duplicar os seus negócios, embalado pelo excelente conjuntura internacional. Da inatingível cadeirinha almejada por Lula no Conselho de Segurança da ONU até o reconhecimento da China como uma economia de mercado, passando pela paralisia do Mercosul e pelo fracasso de Doha, o que sobra da diplomacia petralha são as dezenas de viagens do Lula, nas quais sempre cafetinou o empresariado nacional exportador para gerar dividendos políticos aqui dentro.
CCJ
Com o pseudônimo de CCJ, que deve quer dizer, "Cargo de Confiança Jumento", o anônimo das 14;05, que não entende bulhufas de geopolítica e, muito menos de economia, fez uma tese sem pé nem cabeça, simplesmente para achincalhar o Lula, é claro. É só ver os adjetivos "petralha" e "cafetinou". De resto, as negociações diplomáticas não têm resultados de um dia para o outro, pois estão atreladas aos interreses dos envolvidos (estados-nação). Não é possível que, sem o esforço diplomático do governo brasileiro fez (queira ou não queira o "CCJ"), a produção e as exportações brasileiras tivessem o substancial crescimento nos últimos anos (era Lula). Ao contrário de FFHH, na era "tucanalha", onde o Brasil somente andou para trás e se individou. Antes de elaborar pseudo-teses, vá estudar o assunto. Até mais!
Este blog tá ficando importante, até a CCJ (comissão de constituição e justiça) veio opinar aqui, parabens Cristovão. Lula jogou certo e está jogando certo. Não subestimem este nordestino semi-analfabeto de 9 dedos. O acordo mundial como estava tentando ser feito é inviável. Cada um cuida do seu quintal. Acordos Bilaterias - este é o caminho. O Uruguai já viu isto e está seguindo esta forma. Penso que o Brasil será o próximo. O Mercosul não existe! Concordo plenamente que "Chegou o momento de construirmos um sistema de comércio verdadeiramente voltado para a justiça econômica, social e ambiental e não para os interesses das corporações transnacionais", enquanto isto precisamos comer, trabalhar e...viver! Quem sabe uma alternativa menos teórica e mais palpável, algo que funcione na pratica 24 horas por dia!
O Brasil vai voltar a fazer tratados bilaterais, mas em pauta deveriam estar as trocas comerciais que interessam ao conjunto do povo brasileiro.
Evo Morales esta se revelando um grande pensador e alguém de muita coragem. Ele nao escreve mais do que o óbvio, é dificil discordar dele, mas mesmo assim soa como algo tao distante. A carta dele sobre a rodada de Doha é excelente e saiu na carta maior, aqui o link:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15135
O Maia e o CCJ são muito ridículos, dizer que o agronegócio vai ser prejudicado pelo fechamento de Doha, é puro delírio colonialista.
Os frigoríficos estão sem gado para abater no MS, o arroz dobrou de preço porque estão exportando, o feijão triplicou de preço. E foram prejudicados! Prejudicado é o povo brasileiro que na falta paga mais caro, porque eles só tem compromisso com o lucro.
E o CCJ diz:
"O Brasil, na era petista, dobrou as suas vendas ao exterior, sem que o governo assinasse um único acordo comercial que auxiliasse os empresários. O que comprova que os méritos são todos do empresariado brasileiro,"
Está bem são muito competentes, mas porque não usaram esta competência tôda na gestão do FHC, o queridinho deles?
Quer saber porque? é porque o Min. das Rel. Ecteriores deles arriava as calças quando entrava no EUA.
A Petrobras que no governo Lula passou a ser a sexta maior empresa do mundo, e multinacional. E por ser multinacional dispensa comentários.
E o Brasil voltou a ser a oitava economia do mundo, que tinha perdido no governo da piratização.
De resto nem o modêlo do Uruguai, nem do Chile servem para o Brasil, já que o Brasil até para Opep vai enquanto eles vão continuar sendo o balneário dos latifundiários, e a horta da gringalhada.
Claudio Dode
Acontece que quem entende do mercado é o Maia, os autores do artigo não entendem "bulhufas do comércio internacional!Era só o que faltava?!a cada dia ele se supera!Trata de um "gênio":especialista em todos os assuntos possíveis, pois todos ele discute com uma propriedade impressionante!
Estou de pleno acordo com o que disse o Panoramix. Está na hora do Brasil fazer acordos bilaterais por ai, como faz o Chile há décadas. E por isso o Chile está onde está.
Os acordos bilaterais não saem da pauta das autoridades brasileiras.
Vejam a notícia abaixo:
BOGOTÁ - A presença das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) no Brasil "chegou até as mais altas esferas" do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao PT, aos líderes políticos brasileiros e ao Poder Judiciário, publicou hoje a revista colombiana "Cambio".
A mesma reportagem diz que "a expansão das Farc na América Latina não incluiu apenas funcionários dos governos de Venezuela e Equador, mas também comprometeu importantes dirigentes, políticos e altos membros do PT".
A "Cambio" cita o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, o ex-ministro de Ciência e Tecnologia Roberto Amaral, a deputada distrital Erika Kokay e o chefe de Gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho.
Também são mencionados nesses e-mails o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, o assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, o subsecretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Perly Cipriano, o secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, e o assessor presidencial Selvino Heck.
Olha só a gurizada aí!
Nunes
Vai cagar spam em outro lugar canalha!
Se você analisar a pauta de exportações do Brasil,no Ministério,vai ver que nosso comércio explodiu no eixo sul-sul-o que joga por terra esse papode que o nogócio é fazer acordos bilaterais com EUA e Europa.O Chile,por sua vez,vai muito bem pra uma casta de cerca de 20% da população enquanto a outra parte mal tem previdência social.O Chile privatizou tudo e seu deu mal.O que mantém a entrada de dinheiro no país é justamente o cobre-setor que o Chile não privatizou.Interessante,não?Gente,vamos baixar a fervura.Eu não concordo com o Da Maia;mas não podemos agredir o cara da forma como vi por aqui.Ele,pelo,menos vem aqui conversar conosco.Sinal de que nos ouve.Então,sejamos educados e escutemos os argumentos do cara.
Marco Aurélio,Teresina,Piauí.
Eu não sei se entendo de "cmércio internacional", acho que um pouco sim, pois uvi essa cantinela por 5 anos, mas que eu me irrito cada vez que ue olho esse Celso Amorim, ah, eu me irrito!
Fiquei satisfeito com o resultado, mas com cautela, pq sei que por aqui com o Lula não muda nada...ele encampou o modelo...
Onde está o Chile Maia? Na merda?
E sobre as FARC ninguém está sabendo das últimas notícias?
Nunes
Nunes,
Olha o Selvininho Heck aí gente!
Dinheiro para as FARC? Ajudinha, mesmo pequena igual contribuição de igreja?
Acho que a IV Frota é bom sinal.
Temos salvação.
Carlos
É ilusão entrar neste debate porque os debatedores estão preocupados em defrender seu partido, e não o país.
Piadistas...
O Nunes e o Carlos:
Viraram "cavalo de santo" dos cablocos do golpe de 64, pedindo a IV frota. Isto é patolagem virtual.
Claudio Dode
Postar um comentário