A disputa pela terra no Brasil hoje não é mais contra o latifúndio improdutivo, mas sim contra o agronegócio. A afirmação é do geógrafo, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Presidente Prudente, e especialista em reforma agrária, Bernardo Mançano.
Para ele, de agora em diante, haverá uma grande disputa entre agronegócio e a agricultura familiar pela expansão de suas áreas. Hoje, segundo Mançano, 70% das terras agricultáveis pertencem às grandes empresas agrícolas - algumas multinacionais - e 30% dos pequenos agricultores.
“Então, o que teremos de agora em diante no País é uma disputa ferrenha por terra para poder produzir e viver. As lutas por terras serão muito mais importantes do que as greves”, prevê o professor. “Essa é a questão que está sendo colocada: o campo no Brasil não pode ser monopólio de um único modelo de desenvolvimento. Tem que ser diverso”, observa.
De acordo com Mançano, antes os movimentos sociais lutavam contra as grandes áreas improdutivas e agora é briga é contra a altíssima produtividade. Ele argumenta que uma empresa transnacional instalada em um pequeno município deve ocupar uma grande área e ter altos ganhos de rendimento. Mas isso não resultará em progresso e desenvolvimento para esse município, ao contrário. "Toda a produção, bem como a renda desse negócio, irá para outras regiões ou para fora do País".
“O que temos hoje é uma situação de miséria extrema dentro do próprio País, enquanto as empresas transnacionais, o capital internacional, estão produzindo riqueza e desenvolvendo em seus territórios [propriedades]”, afirmou.
Com isso, na visão do professor, a tendência é que as pessoas “excluídas” passem a lutar contra o agronegócio. “O que está acontecendo hoje é que a disputa territorial da terra não é somente contra o latifúndio. Na maior parte das regiões do País, essa luta já é contra o agronegócio”, afirmou Mançano. “Não mudou o foco [da luta pela reforma agrária], o que mudou foi o personagem”, completou Mançano. A informação é da Agência Brasil.
9 comentários:
Caro Cristóvão.
Qual a base teórica para usar o termo “Agronegócio” como sinônimo de Agricultura Patronal? Para mim o termo vem sendo incorretamente utilizado. A disputa é entre A. Familiar x A. Patronal e ambas inseridas no agronegócio.
A produção familiar ( milho, leite, queijo , salame) quando comercializada está no Agribusiness ( traduzido para nós como agronegócio), termo concebido por Goldemberg e Davis, na metade do século passado.
O conceito permitiu identificar a interdependência existente entre os diversos estágios da produção (insumos, agropecuária, industrialização, comercialização) e tem servido para a A. Familiar, ocupar espaço de grandes empresas, como nos projetos de Agroindústria Familiar. Para ver é só visitar o pavilhão na Expointer..
Grato
Neimar D.P.
Prezado Neimar, eu até gostaria de escrever uma nova Enciclopédia.
Mas o tempo me trai e o blog não é apropriado para tal.
Abç.
CF
O Neimar,
Presta atenção! a diferença já começa na relação com a terra, com a natureza.
No Agronegócio o principio é produzir e dar lucro (até para pagar royalties por contrabando-trangenicos)e a terra é simplesmente um componente de produção a ser explorado.
Na Agricultura Familiar, além de prover o alimento que a familia consome, a relação com a terra e a natureza é d necessidade de sua preservação para o desenvolvimento.
Claudio Dode
O agronegócio no Brasil representa um retrocesso, pois parece-me que estamos voltando aos tempos das "plantations" (sistema agrícola baseado em uma monocultura de exportação mediante a utilização de latifúndios e mão-de-obra escrava. Foi bastante utilizado na colonização da América, principalmente no cultivo de gêneros tropicais e é atualmente comum a países subdesenvolvidos - definição da Wikipédia). Que encaixa-se perfeitamente a explosão verificada, atualmente no Brasil, em relação ao cultivo da cana-de-açúcar. O triste nisto tudo é que não se trata de imposição de um potência colonial, mas de política deliberada de um governo legitimo e popularmente eleito.
Neimar,
é preciso tb ter em mente que a agroindústria (diferente do agronegócio) é importante pra agricultura familiar e tem inclusive a simpatia de movimentos sociais como o MST.
"70% das terras agricultáveis pertencem às grandes empresas agrícolas - algumas multinacionais - e 30% dos pequenos agricultores."
Dúvida real: não existe ninguém no "meio" entre as grandes empresas e os pequenos agricultores? Médios produtores, por exemplo? O número apresentado pelo Mançano parece estranho.
Mançano é um carinha tri comprometido. Os dados que ele traz são completamente furados. Nem vale a pena discutir.
Sem enganação o Maia, não são completamente furados os numeros do Mançano, o que está traçado é uma divisória em Grandes propriedades e o resto. Pode parecer estranho mas embora sejam numericamente inferiores, os latifundiários ainda tem a posse da grande maioria das terras.
E este é o verdadeiro risco-Brasil que ninguém quer discutir.
Claudio Dode
Falando nisso, vejam a opinião de um profissional:
"Não podemos deixar que a minoria ruidosa ( representada por setores que manipulam e financiam ongs ambientais e sociais para chegar ou se manter no poder fazendo uma espécie de terrorismo verde ) nos ganhe no tapetão ou no grito neste tema.
O RS tem a chance de dobrar seu PIB do setor madeireiro ( hoje de 3,5 bilhões de reais ) só com a implantação de 3 indústrias de celulose até 2011/12 ( cada uma gerará um PIB de ao redor 700 milhões de dólares ). Este PIB aumentado para a metade sul, é uma necessidade urgente para diminuir desigualdades regionais. Na seqüência, com o adensamento da cadeia produtiva do setor madeireiro que inclui todo o processamento da madeira para outros fins de uso pela sociedade civilizada, poderemos fazer com que o PIB do setor no RS chegue a 10 bilhões de reais e dobre seus empregos num período de até 10 anos.O Adensamento já está acontecendo, via implantação das empresas de MDF( duplicação da fábrica de Glorinha) e MDP ( Montenegro e Taquari).Devidos aos ganhos de logística, a competitividade da indústria gaúcha de móveis aumentará sobremodo com a auto-suficiência gaúcha no abastecimento de MDP e MDF.
Em complemento, acrescento:
1) uma indústria de celulose se deprecia em 50 anos, portanto este é o horizonte que deve ser considerado no cálculo de geração de emprego e renda.
Todos os empreendimentos estão sendo implantados, respeitando o código ambiental brasileiro> No RS, mais as normas do zoneamento aprovado pelo Consema e o conceito de desenvolvimento sustentável ( equilíbrio entre os vértices ambiental, econômico e social). É o grande pano de fundo para fazer este setor crescer e gerar emprego e renda.
2) os que são contra empreendimentos econômicos com base na madeira, usam a tese do meio ambiente como nova bandeira política fazendo uma espécie de “terrorismo verde sobre a população”para chegar ou se manter no poder e parece que o fazem porque a bandeira socialista já não lhes é mais viável neste sentido, mas como precisam de bandeiras ou teses, vamos lá pois poder é poder.... e não importa os meios....
3) a tecla que os contra batem muito é a do consumo de água pelas florestas, dizendo que secam o solo> isto não resiste a simples contraponto técnico, que pode ser feito por engenheiro florestal ou agrônomo, pois em todo o estado chove mais anualmente ( 1200mm ou mais dependendo da região) do que uma árvore consome de água ( ao redor de 900 mm anuais) . Então, se o ciclo das águas é superavitário, não confere a tecla de que árvores plantadas secam o solo.
3) por último, se não plantarmos árvores vamos tirar papel e madeira para uso da civilização de onde? De florestas nativas? Vamos voltar a idade da pedra em termos de consumo humano, se não tivermos mais árvores? Claro que não. Temos que plantar, pois por muito tempo ainda vamos precisar de madeira para fazer papel higiênico, madeira para construção de casas, móveis, energia, etc etc."
Wallau, Rogério
Engº Agrônomo
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