A escritora Marguerite Duras reflete sobre o ato de escrever numa pequena obra de pouco mais de cem páginas, chamada Escrever. Dois trechinhos:
“Creio que é isso que eu censuro aos livros em geral: o facto de não serem livres. Vêmo-lo através da escrita: são fabricados, são organizados, regulamentados, poderíamos dizer, conformes. Uma função de revisão que o escritor tem muitas vezes em relação a si próprio.
O escritor, então, torna-se no seu próprio chui [policial].
Quero dizer com isso a procura da boa forma, quer dizer, da forma mais corrente, mais clara e mais inofensiva.
Há ainda gerações de mortos que fazem livros pudicos. Mesmo os jovens: livros encantadores, sem qualquer prolongamento, sem noite. Sem silêncio.
Por outras palavras: sem verdadeiro autor. Livros diurnos, de passatempo, de viagem.
Mas não livros que se incrustem no pensamento e que digam o luto negro de todas as vidas, o lugar-comum de todos os pensamentos.” (p.35)
“O insulto é tão forte como a escrita. É uma escrita, mas dirigida. Insultei pessoas nos meus artigos e é tão satisfatório como escrever um belo poema.” (p.38)
Marguerite Duras, Escrever, Editora Difel, 2001. Tradução de Vanda Anastácio. Esta obra infelizmente não foi editada no Brasil, ainda. A editora brasileira CosacNaify está lançando duas outras obras de Duras.
Marguerite Duras (foto de Robert Doisneau) nasceu em 1914 no Vietnã e se mudou para a França em 1932. Em 1943, publicou seu primeiro livro – Les impudents – já com o pseudônimo de Marguerite Duras. Participou da Resistência Francesa na Segunda Guerra, foi membro do Partido Comunista até 1950 e participou ativamente do movimento de Maio de 68. Duras desenvolveu inúmeras obras, em diversos meios de expressão – cinema, teatro, artigos para a imprensa, romances e contos. Morreu em março de 1996, em Paris.
Um comentário:
Teu "Porque hoje é sábado (ou domingo)" é muito superior ao meu.
Excelente post. Vai para meu arquivo de referências.
Obrigado por dar inteligência a este domingo chuvoso.
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