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segunda-feira, 28 de julho de 2008

Cabeça de jornalista


Deu no blog do Nassif:


O enigma MST

Confesso que o MST (Movimento dos Sem-Terra) ainda é uma incógnita para mim.

No ano passado estive em sua sede, na via Dutra, para falar sobre meu livro “Os Cabeças de Planilha”. É surpreendente. Militantes do Brasil inteiro por lá, uma cultura mstiana sendo formada, os prédios construídos por eles próprios, uma ânsia de aprender. Me lembra o pouco o que me relatavam amigos judeus sobre as primeiras colônias comunitárias de Israel.

No início, o MST foi acusado de estimular a adesão às invasões prometendo posses de terra. Mas hoje o que se vê é uma comunidade organizada em nível nacional, com valores políticos e culturais próprios, uma identidade que vai se tornando mais nítida, à medida que se afasta a sombra de José Rainha e se consolida a liderança de João Pedro Stédile. Existe uma música do MST, um modo de ser do MST, enfim os ingredientes fundamentais que consolidam uma estrutura e lhe permite expandir-se sem se descaracterizar.

Hoje [ontem, domingo] o Estadão traz um bom material sobre a universidade do MST, sem preconceito, bastante informativa.

E aí dá o nó. Quem monta uma Escola Latino-Americana de Agroecologia e Escola Nacional Florestan Fernandes, que ministram cursos de especialização de nível superior, tem um projeto mais amplo do que ficar invadindo fazendas e ferrovias. Presume-se que tais escolas visem criar uma capacitação para atuar na economia – não na guerrilha.

Por outro lado, é nítida a extração marxista, passada especialmente pela liderança maior, Stédile, sujeito articulado, com idéias claras sobre economia, assim como as ações espetaculosas que chamam a atenção para o movimento, mas provocam resistências variadas.

Não tenho claro para mim qual o objetivo final do MST. Montar uma capacitação que lhe permita desenvolver um modelo de economia comunitária, como alternativa para o agronegócio e para a agricultura familiar, para depois dar o salto? E qual seria esse salto: transformar-se em um partido político? Ampliar o nível de confronto? Fortalecer o tal modelo bolivariano de Chávez (um dos apoiadores do movimento), que ainda não se sabe bem o que é?

O MST ainda é uma incógnita. Mas não dá para enquadrá-lo em visões simplificadoras.

..........

Tenho um grande respeito pelo Nassif. Mas neste comentário sobre o MST, ele deixa vazar o seu lado de jornalista positivista, de quem precisa de qualquer maneira simplificar as coisas para que sejam palatáveis ao senso comum, leitor de jornal. Se a coisa não pode ser resumida e explicada conforme padrões mentais consagrados, logo ela é carimbada de enigmática.

O MST não é nenhum enigma, é um movimento social – hoje nacional – que rompe com a política tradicional e institucional praticada na nossa democracia formal. Como movimento que é, ainda está no vir-a-ser do processo social e político, por isso, muitos não conseguem analisá-lo com os velhos instrumentos teóricos de que dispõem.


14 comentários:

Anônimo disse...

“Como movimento que é, ainda está no vir-a-ser do processo social e político, por isso, muitos ainda não conseguem analisá-lo com os velhos instrumentos teóricos de que dispõem.”

Feil, acho que compartilho as visões que tens exposto sobre o MST no teu blog, de forma geral. Dito isso, será que a frase acima (principalmente ‘vir-a-ser’ e ‘ainda’) não tem também seu cunho teleológico e cientificista, ou seja, a de que se pode explicar necessariamente um fenômeno social a partir conceitos e estruturas dadas de antemão que ele finalmente cumprirá, sem que a história nos possa surpreender? E isso não simplifica a realidade?

Um abraço

Anônimo disse...

Vejam a entrevista do Stedile na Band. Da gosto de ver ele respondendo perguntas, que sairam nitidamente do imaginário dos conservadores brasileiros, e expondo um ponto de vista muito sensato.
Tem no youtube e dura uma hora. Aqui vai o Link: http://br.youtube.com/watch?v=AsCxkvnax4w

Anônimo disse...

É possível que simplifique, Roberto.
Criar conceito sobre o fenômeno é uma forma de simplificação, eu diria, de entendimento do mesmo, uma forma de apreensão do fenômeno.
O conceito é uma ferramenta para desmontar a complexidade do fenômeno e nos capacitar a compreender as partes que o organizam de forma singular.

Novos fenômenos exigem novos conceitos. Para os positivistas, bastam os velhos conceitos para explicar os novíssimos fenômenos.

Também não acho que haja uma finalidade já escrita no fenômeno MST, uma teleologia, como tu queres, não. Nem que esteja programado para cumprir as etapas tradicionai: movimento-institucionalidade-partido político-poder-decadência-e-arquivamento histórico. Não.

O avanço do movimento dependerá de tantas variáveis quantas a história puder lher oferecer como desafio.

O assunto é bom.

Abç.

CF

Carlos Eduardo da Maia disse...

A democracia formal não é uma realidade apenas brasileira, ela é mundial. Mas ela não é apenas a que está ai. Ela deve ser melhor e para todos. E esse é um grande desafio. E é por isso que devemos todos lutar. Tenho dúvidas se o MST, como movimento politicamente organizado, está interessado em participar dessa caminhada. Não considero o MST como movimento democrático, porque ele é dominado por uma elite que dita as ordens, tudo é feito e imposto de cima para baixo, com base na fé de
uma ideologia que acredita que os passos da história já estão determinados: a luta de classes como motor da história, o caminho, a verdade e a vida. efinitivamente, o burguês Nassif não gosta da maneira de agir do MST, mas ele mudou de público consumidor e era necessário fazer uma certa propagandinha para quem consome seus artigos. NO fundo, no fundo, Nassif não disse nada.

Anônimo disse...

No fundo, assim como no raso, Maia não disse nada... nem entendeu nada...

Anônimo disse...

Fantástico, é isso mesmo. Sem querer brincar, mas sendo positivista, a mesma impressão que o Nassif teve sobre o MST eu tinha sobre ele, Nassif. Achava ele uma incógnita, fez o dossiê da Veja, mas é tão conservador em alguns aspectos, não via claramente a posição dele. Mas é isso mesmo, não temos que simplificar tudo, o Nassif tem um ranço de funcionário de jornalão do PIG que às vezes custa a sair, mas é um grande jornalista, ele tem muito talento e não é hipócrita, coisa rara hoje em tempos do PIG, he, he.... Um abraço.

Anônimo disse...

Movimento social, talvez o único sério e com capacidade de fazer história e incomodar a aristocracia. Um dos fatos apontados por Nassif, a questão da educação, não deveria surpreendê-lo, ao contrário, porque demonstra o projeto de longa duração do MST, sem aventureirismo e sem improvisos.

armando

Anônimo disse...

"Criar conceito sobre o fenômeno é uma forma de simplificação, eu diria, de entendimento do mesmo, uma forma de apreensão do fenômeno."

Feil, casualmente ontem li um texto budista que fala sobre a conceitualizacao dos fenomenos. Vou botar aqui o trecho desse texto.

[54] Assim como a sabedoria não vê
Uma natureza inerente nos fenômenos,
Tendo analisado a sabedoria em si pelo raciocínio,
Medite não-conceitualmente sobre isso.

[55] A natureza desta existência mundana
Que vem da conceitualização
É conceitualidade. Assim, a eliminação da
Conceitualidade é o estado mais elevado do nirvana.

[56] A grande ignorância da conceitualidade
Nos faz cair no oceano da existência cíclica.
Descansando da estabilização não-conceitual,
A não-conceitualidade que é como o espaço manifesta-se claramente.

[57] Quando os bodhisattvas contemplarem não-conceitualmente
Este ensinamento excelente, transcenderão
A conceitualidade tão difícil de superar
E eventualmente alcançarão o estado não-conceitual.

[58] Tendo afirmado através das escrituras
E através dos raciocínios que os fenômenos
Não são produzidos nem são inerentemente existentes,
Medite sem conceitualidade.
...

http://www.dharmanet.com.br/vajrayana/bodhipathapradipa.htm

Apesar da difícil leitura, me chamou a atencao pq a mensagem é muito parecida. O texto indica que a criacao de conceitos (ou vias de pensamento, paradigmas) nos impede de enxergar a verdade sobre os fenomenos. O nirvana (iluminacao, vizao da verdade) seria alcancado no momento em que nos livramos de todos os conceitos que nos sao impostos.

abracos.

Anônimo disse...

Ou não, como diria Caetano, kkkkkkk.......
Marcelo, interessante a questão do texto budista, condordo plenamente. Já havia chegado a esta conclusão também. No entanto, o "ou não", foi sério, há momentos em que é essencial conceituar o fato. Enfim.
Um abraço.

Anônimo disse...

O Maia é sempre o mesmo,

Presta atenção! A Yeda que o Maia vota e defende desesperadamente, é aquela que compra casa nova e fecha sala de aula.

A casa nova do MST são salas de aulas que eles detestam. A pobreza com educação e organizadas é o que eles mais sentem raiva.

Esta é diferença, e não é que o Nassif não tenha dito nada, é que ele não quer entender. A defesa do latifundio só com muita radicalização. Tem que dobrar tudo para a direita.

Claudio Dode

Enquanto dos quadros do MST

Anônimo disse...

sim, estou de acordo. Os próprios budistas têm consciência da necessidade dos conceitos, apesar da sua validade temporal, pra transmitir as informacoes com mais facilidade para um público mais amplo. :)

Carlos Eduardo da Maia disse...

Conceito é fundamental para discutir qualquer assunto, se não a generalização da mediocridade toma conta de tudo. E os scholars de esquerda parece que gostam mesmo é da generalização.

Anônimo disse...

O Maia:

Quem pratica a "generalização" é a Yeda Compra Casa de Laranja. A "Generalização" da Segurança Pública. Que quer significa a generalização da porradaria.

Agora o que nós queremos é a "generalização" da educação;e aí nada!

Claudio Dode

Anônimo disse...

Poderoso Maia os scholars de esquerda, sem bola de cristal, previam o que segue abaixo e não poderia ser diferente (O deus mercado não era tão deus assim). Logo bate a nossa porta também:

A corrida aos bancos nos EUA
(viomundo-Azenha)

http://tinyurl.com/686mww

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