MEC quer acelerar implantação da lei sobre ensino da história afro-brasileira
O Ministério da Educação (MEC) vai elaborar um Plano Nacional de Implantação da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileiras nas escolas. O principal objetivo é induzir os sistemas de ensino a acelerar o processo por meio de metas e planejamento de projetos. A proposta irá se basear em relatório elaborado por uma comissão formada por entidades da área educacional e do movimento negro que se reuniram em seis encontros regionais. A informação é da Agência Brasil.
De acordo com o documento, que foi apresentado na última semana ao ministério e que será levado ao ministro Fernando Haddad na próxima quinta-feira (20) – data em que se comemora o Dia da Consciência Negra – a principal dificuldade para implantar a lei é a falta de institucionalidade e continuidade das ações.
O secretário de Educação, Alfabetização e Diversidade do MEC, André Lázaro, concorda com a crítica, mas defende que a responsabilidade não é apenas da pasta. Para ele, as redes estaduais e municipais precisam investir mais na questão.
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O conhecimento de história e cultura afro-brasileira é fundamental para o alargamento das consciências de todas as etnias que formam o Brasil. Vivemos numa aparente democracia étnica, mas é um fenômeno apenas superficial. Na essência, o País apresenta profundas desigualdades que separam, oprimem e são fontes duráveis de conflitos irresolvidos ao longo dos séculos.
Neste campo, temos um desconhecimento generalizado de segundo grau – as pessoas não sabem que não sabem. E o pouco que julgam saber é fruto de velhas ideologias etnocêntricas, brancas, européias, atulhadas de preconceito, religiosidade, mito e senso comum – tudo isso vitaminado por um ensino convencional (público e privado) que reforça a nossa miséria cultural, paralisa o debate público e normaliza a injustiça social.
Sexta-feira passada, aqui neste blog DG, tentamos introduzir um debate sobre o tema da consciência negra, já que estamos em plena Semana Oficial da Consciência Negra. Comentei, bastante superficialmente é claro, sobre o cabelo alisado da futura primeira-dama norte-americana, Michelle Obama, dela e de suas duas graciosas filhinhas.
A participação foi numerosa (cerca de 80 comentários), mas bastante confusa e fulanizada. As pessoas tem dificuldade de enxergar o problema de forma política e coletiva, cada um quer particularizar o tema, que é vasto, complexo e ocultado por camadas de elementos falsos e postiços. Provando que o neoliberalismo teve sucesso na operação ideológica de separar profundamente a política da economia (e das demais esferas da vida social), as pessoas abdicaram de pensar politicamente. “Michelle Obama tem toda a liberdade de fazer o que quiser com a estética de seus cabelos”, foi uma frase recorrente. Ora, a grande questão da liberdade – talvez a maior questão de nosso tempo – não pode ser tão amesquinhada assim. Quem enxerga alguns centímetros para além do senso comum, sabe o que estamos falando. Caso contrário ficaremos como o bêbado da anedota, procurando a cédula de dinheiro perdida somente debaixo do poste de luz e quando alguém perguntar por que não procuramos a cédula fora daquele círculo iluminado, nós responderemos como o gambá:
- Porque é aqui que está iluminado! Nunca cogitando que o que perdemos ou sequer conhecemos, assim está precisamente porque não há postes de luz em todos os trajetos da vida social. As luzes precisam ser desbravadas, inventadas e instaladas em pontos pioneiros da nossa vida e consciência.
Por isso, a iniciativa do MEC de acelerar a implantação da lei sobre ensino da história afro-brasileira é altamente meritória e bem-vinda por todas as comunidades do vasto e rico mosaico étnico brasileiro.
O Ministério da Educação (MEC) vai elaborar um Plano Nacional de Implantação da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileiras nas escolas. O principal objetivo é induzir os sistemas de ensino a acelerar o processo por meio de metas e planejamento de projetos. A proposta irá se basear em relatório elaborado por uma comissão formada por entidades da área educacional e do movimento negro que se reuniram em seis encontros regionais. A informação é da Agência Brasil.
De acordo com o documento, que foi apresentado na última semana ao ministério e que será levado ao ministro Fernando Haddad na próxima quinta-feira (20) – data em que se comemora o Dia da Consciência Negra – a principal dificuldade para implantar a lei é a falta de institucionalidade e continuidade das ações.
O secretário de Educação, Alfabetização e Diversidade do MEC, André Lázaro, concorda com a crítica, mas defende que a responsabilidade não é apenas da pasta. Para ele, as redes estaduais e municipais precisam investir mais na questão.
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O conhecimento de história e cultura afro-brasileira é fundamental para o alargamento das consciências de todas as etnias que formam o Brasil. Vivemos numa aparente democracia étnica, mas é um fenômeno apenas superficial. Na essência, o País apresenta profundas desigualdades que separam, oprimem e são fontes duráveis de conflitos irresolvidos ao longo dos séculos.
Neste campo, temos um desconhecimento generalizado de segundo grau – as pessoas não sabem que não sabem. E o pouco que julgam saber é fruto de velhas ideologias etnocêntricas, brancas, européias, atulhadas de preconceito, religiosidade, mito e senso comum – tudo isso vitaminado por um ensino convencional (público e privado) que reforça a nossa miséria cultural, paralisa o debate público e normaliza a injustiça social.
Sexta-feira passada, aqui neste blog DG, tentamos introduzir um debate sobre o tema da consciência negra, já que estamos em plena Semana Oficial da Consciência Negra. Comentei, bastante superficialmente é claro, sobre o cabelo alisado da futura primeira-dama norte-americana, Michelle Obama, dela e de suas duas graciosas filhinhas.
A participação foi numerosa (cerca de 80 comentários), mas bastante confusa e fulanizada. As pessoas tem dificuldade de enxergar o problema de forma política e coletiva, cada um quer particularizar o tema, que é vasto, complexo e ocultado por camadas de elementos falsos e postiços. Provando que o neoliberalismo teve sucesso na operação ideológica de separar profundamente a política da economia (e das demais esferas da vida social), as pessoas abdicaram de pensar politicamente. “Michelle Obama tem toda a liberdade de fazer o que quiser com a estética de seus cabelos”, foi uma frase recorrente. Ora, a grande questão da liberdade – talvez a maior questão de nosso tempo – não pode ser tão amesquinhada assim. Quem enxerga alguns centímetros para além do senso comum, sabe o que estamos falando. Caso contrário ficaremos como o bêbado da anedota, procurando a cédula de dinheiro perdida somente debaixo do poste de luz e quando alguém perguntar por que não procuramos a cédula fora daquele círculo iluminado, nós responderemos como o gambá:
- Porque é aqui que está iluminado! Nunca cogitando que o que perdemos ou sequer conhecemos, assim está precisamente porque não há postes de luz em todos os trajetos da vida social. As luzes precisam ser desbravadas, inventadas e instaladas em pontos pioneiros da nossa vida e consciência.
Por isso, a iniciativa do MEC de acelerar a implantação da lei sobre ensino da história afro-brasileira é altamente meritória e bem-vinda por todas as comunidades do vasto e rico mosaico étnico brasileiro.
9 comentários:
A exemplo dos EUA, o sistema assimilou, domesticou e normalizou segmentos de diversas minorias étnicas, mantendo intacto o sistema de opressão que adquiriu novos fundamentos. Não se trata mais só da cor da pele, mas daqueles que possuem, estão incluidos contra os excluidos, despossuidos, insolventes. Mesmo no período colonial, de plena escravidão, soube-se incluir individuos negros e mulatos nas figuras de capitães d e mato e feitores. Inclusive um negro liberto pelo movimento abolicionista e enviado de volta à Àfrica tornar-se-ia um dos maiores traficantes de escravos do mundo. É muito importante conhecer a história para desmistificar esses fatos e não para acentua-los em detrimento do que realmente importa.
Simão assume sua parcela de cegueira no assunto. Não consigo ainda enxergar a chapinha da Michelle Obama como manifestação de uma "traição étnica", embora reconheça que esse fenômeno existe, e no Rio de Janeiro, onde moro, ele está nas ruas. Mas insisto que não está na cabeleira linda e negra da Dona Michelle, e que esta chapinha em particular não depõe contra a negritude de sua família. Tampouco contra a credibilidade do presidente eleito.
É fundamental ir além do senso comum e tentar enxergar além dos focos luminosos. Mas há também fatias imensas de arrogância, como se as vias da escuridão estivessem disponíveis apenas para quem é dono da boa consciência que geralmente são os mesmos que emitem as mesmas respostas - muitas vezes religiosas. O que, afinal, existe nos "buracos negros" onde os focos de luz da ideologia dominante não conseguem ou não tem interesse em alcançar? Bingo, só pode ser o caminho, a verdade e a vida.
Anta das anas, você é um cristão primitivo, já lhe vejo de sandálias, pescando almas e comendo gafanhotos e mel do deserto.
anta das antas... sorry
anta das antas... sorry
Escravidão negra: o verdadeiro holocausto.
Excelente Feil,
estou trabalhando com os alunos a história do continente africano em seus grandes séculos, tal qual definiu Ki-Zerbo, na perspectiva de estudar a África pela África. Estudo sobre a temática e só para lançar um dado relativo a efetivação da Lei 10.639/03. Baseado numa consulta que fiz para escrever um artigo: dos vinte livros indicados pelo MEC para o Ensino Médio em 2008(válidos por três anos letivos), apenas 2 deles possuiam capítulos específicos a história do continente.
Às vezes devemos nos perguntar: em que país vivemos? Porém, a resposta para esta consciência faz ver que a loucura que gera esta questão tem origem nos outros, e não numa possível ilusão geográfica.
A Semana de Consciência Negra, comemorada no dia 20 de novembro no Brasil, é um evento inspirado na idéia norte-americana do “politicamente correto”. Lá o preconceito é evidente, e o que está se fazendo aqui no Brasil, é o ato de copiar problemas, e não soluções, a chamada colonização cultural. Pois, em nosso país, os negros brasileiros, que, em termos de aceitação social, têm uma vida muito melhor do que a dos negros americanos.
Casos como o dos artistas brasileiros, noticiado nesta semana, em que passaram por constrangimentos dentro do avião da Cia. American Airlines, são notórias a divisões de conceitos sobre este tema. Quando os tripulantes americanos da Cia. aérea começaram a ofende-los referindo-se a eles como “macacos”, a reação da família foi mais que natural, pois nos EUA são considerados apenas negros e aqui no Brasil são símbolos de sucesso. Por isso a não aceitação deste tipo de provocação.
Já a vitória de Obama como Presidente dos EUA soou para os americanos como um ato heróico e desbravador, pois um negro chegando ao cargo mais elevado do Estado é como que se uma mulher fizesse o mesmo aqui no Brasil. Algo inédito por ser o menos habitual.
Promover uma raça, etnia, ou minoria social, qualquer que seja, é racismo! Isto soa como se estas camadas e classes precisassem desesperadamente de uma auto-afirmação. Zumbi (morte em 20 de novembro de 1965), um dos baluartes da redenção da escravidão no Brasil, é lembrado por sua atitude perante uma repressão, e também por defender seu ponto de vista diante disto, foi um fato da época. Hoje, é o símbolo dos negros. Quando lemos uma poesia de Cruz e Souza, em que toca nossa alma e o nosso sentimento, e percebemos ao final que o autor deste feito tão comovente é negro, não nos retiramos de nossa emoção, isso não importa. O mesmo acontece ao vermos o Ministério da Cultura do Brasil sendo assumido por Gilberto Gil, e tendo a certeza de que ele esteve lá não por ser negro, e sim por ser um dos pilares da nossa cultura tropical musical e por suas ideologias. Então, por que se comemorar esta data em um país, cuja sua maior lembrança e exemplo que se dá para os outros é ser reconhecido como a “terra de todas as raças”? Ora, os dons e habilidades é inerente ao homem, não escolhe a cor da pele ou o olho que vai se manifestar; quem decide se este dom aparecerá mais que outro é o próprio homem, por sua impensável segregação racial.
O Brasil tem a mania de dar ênfase às coisas pequenas (no caso, a minoria social) para passar a idéia de ser responsável e ético. Mas, o que acontece na verdade é chamado “racismo é sutil”. Quem não gosta de uma raça sempre manifesta isso de uma maneira, ainda que muito sutil. O grande racismo, nada sutil, mas que pouca gente percebe, está em eventos como esta Semana de Consciência Negra. Sim, porque ninguém acharia bonito se fizéssemos uma Semana da Consciência Branca (o corpo da pirâmide social). Que se faça Semanas da Poesia, Artes e Idéias... Mas, criar Semana para nos conscientizar de que somos diferentes no tom de pele, já é falta de atenção.
O dia é celebrado desde a década de 1960, embora só tenha ampliado seus eventos nos últimos anos; até então, o movimento negro precisava se contentar com o dia 13 de Maio, Abolição da Escravatura – comemoração que tem sido rejeitada por enfatizar muitas vezes a "generosidade" da princesa Isabel, ou seja, ser uma celebração da atitude de uma branca.
Ter esta Semana como algo ético civilizado é até bonito aos olhos, mas, o que deve se ter como fator principal é de que isso tudo não passa de uma reparação das injustiças cometidas no passado. O pior mesmo é que ninguém atenta para isto. E continuam achando que ter cotas de vagas para negros nas universidades é um ato de vanglória. Tais práticas, que só aumentaram o racismo nos EUA, produzem um efeito muito mais letal no Brasil, que apesar de não ter valores culturais tão próprios, têm como maior valor a boa convivência racial. Só vai ter como único resultado a importação de um problema que nós não temos. Estamos inventando a consciência de uma contradição que não existe.
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