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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O complexo industrial-militar a ser vencido por Obama



Um Estado (guerreiro) dentro do Estado liberal

De cada dólar pago em impostos pelos norte-americanos, 40 centavos são destinados a gastos militares. A educação recebe dez vezes menos. Estas informações dão uma idéia geral do peso das Forças Armadas na primeira potência militar mundial, onde existe positivamente um Estado dentro de outro Estado, e que emprega diretamente quase 3 milhões de pessoas.

Sintomaticamente, em 2007, nesse Estado dentro do Estado realizaram-se 1,4 milhão de contratos com mais de 76 mil empresas privadas.

Para financiar essa mega estrutura, os EUA terão em 2009 o maior orçamento com a Defesa desde a Segunda Guerra: 585,4 bilhões de dólares.

O governo norte-americano estima que seja 20% do Orçamento, mas a verdade é que se incluirmos muitas outras despesas, como os rendimentos canalizados para os veteranos, etc., aquela porcentagem sobe para 50% do Orçamento do Estado.

Dessa verba, mais de 129 bilhões de dólares são para pagamentos a militares na ativa. Só no Exército, há 522 mil soldados, 189 mil na reserva e 325 mil na Guarda Nacional. A Marinha tem cerca de 366 mil efetivos, a Aeronáutica, 360 mil, e há ainda 178 mil fuzileiros navais. Outros 680 mil civis trabalham para o setor militar.

Em época de desemprego crescente, a área militar é atraente. Os militares recebem ajudas para a habitação e alimentação. Têm despesas médicas 100% cobertas, que representam custos no valor de 57 bilhões de dólares anuais. Os membros ativos têm direito a 65 mil dólares para o ensino superior. E a aposentadoria se dá com 20 anos de serviço - se conseguirem chegar lá, vivos.

"O sistema social do Exército é quase de bem-estar social", afirma Lawrence Korb, ex-secretário assistente de Defesa (de 1981 a 1985) e membro do Centro para o Progresso Americano. "Isso não existe pura e simplesmente nos outro setores estatais ou no setor privado."

Com a economia em crise, o recrutamento aumenta. Os quatro braços das Forças Armadas atingiram as metas de recrutamento em 2008, com um total de 185 mil recrutas, o número mais alto desde 2003.

Mas tem surgido cada vez mais um novo fenômeno que tem ganho uma importância crescente, e que diz respeito a pagamentos a empresas para-militares e de segurança, fora das Forças Armadas. Em 2007, os contratos de defesa com terceiros consumiram 315,5 bilhões de dólares, um aumento de 137% em relação a 2000. Seis empresas - Lockheed Martin, Boeing, Northrop Grumman, General Dynamics, ON e Raytheon - receberam um terço do montante.

Assim, o que se assiste hoje nos Estados Unidos é a crescente privatização das funções militares. Não por acaso os deputados federais que supervisionam os contratos com essas empresas privadas possuem, segundo dados recolhidos por entidades não-governamentais, 196 milhões de dólares do capital dessas mesmas empresas. Um escândalo de promiscuidade entre os parlamentares e os interesses do complexo industrial-militar, agravado muito pelo belicismo do governo Bush júnior.

Já se vê que Barack Obama terá muito trabalho pela frente, caso queira vencer as crostas de resistências aos ideais democráticos e de paz no mundo.

Temo que o presidente Barack Obama não comprará essa briga. Se comprar, corre sério risco de vida.

A ver.

Dados e texto parcial pescado do blog do Viriato, o ótimo Pimenta Negra (link abaixo).

14 comentários:

Gustavo Schirmer disse...

Cristóvão,

esse é um dos grandes abacaxis que o governo Obama precisará descascar. A indústria bélica é parte essencial da economia estado-unidense, uma das poucas que restou lá. Um artigo recente na Monthly Review tratou do assunto. É preciso lembrar disso ao considerar as possibilidades que o governo Obama vai ter.

Ah, faltou o crédito ao Pimenta Negra!

Abraços!

Anônimo disse...

Movimento popular pelo Pontal do Estaleiro! Chega de atraso!

http://movepoa.blogspot.com/

Cristóvão Feil disse...

Valeu, Gustavo.
É imperdoável.
O crédito é sempre do Viriato/Pimenta Negra, claro.

Abç.

CF

PS: Para quem sempre dá crédito ao PIG, é imperdoável não dá-lo a um blog sério e de esquerda como o Pimenta.
Salvaste a minha reputação.

Anônimo disse...

Já se especula que essa será a próxima grande bolha do capitalismo. E se ela estourar, teremos mais bons tempos de reorganizacao das relacoes economicas mundiais. Entao o grande esforco de Obama deve ser reorientar essa estrutura para o setor civil.

Anônimo disse...

Saindo um pouco do post! Se vê que a ficha do pessoal do "mercado" ainda não caiu. Ainda estamos assistindo coisas como esta:
Jornal: banco em dificuldade faz festa de R$ 1 milhão
http://br.invertia.com/noticias/noticia.aspx?idNoticia=200811101427_RED_77614942

Omar disse...

A "doutrina" Bush é claríssima: 1. criar países inimigos (eixo do mal, terroristas). 2. Atacar preventivamente. 3. Destruir sua infraestrutura. 4. Ocupar. 5. Reconstruir sua infraestrutura. 6. Recomeçar o processo em outro país.
Os apoiadores de campanha de Bush querem, basicamente, duas coisas: 1. Faturar com a guerra (venda de armas, venda de segurança). 2. Faturar com a reconstrução dos países (empreiteiros norte-americanos).
É difícil, mas não impossível, Obama sair desse círculo vicioso no longo prazo.

Anônimo disse...

Meu caro Feil. Pela fonte aonde o Obama foi buscar conselhos sobre o que fazer de seu governo, não podemos esperar muita coisa em dele em termo de mudança efetiva.
Veja o que escreveu o economista argentino, Atílio Borón, em artigo publicado em http://www.rebelion.org/noticia.php?id=75661:
"En efecto: solicitar la opinión de Paul Volcker, ex chairman de la Reserva Federal en los años de Reagan; de Warren Buffett, un megaespeculador del casino financiero mundial; o de Lawrence Summers, ex funcionario del Banco Mundial y secretario del Tesoro de Clinton, al igual que Robert Rubin; a Jamie Dimon, actual presidente del Banco de Inversión J. P. Morgan, y Timothy Geithner, ex gerente del FMI y actual presidente del Banco de la Reserva Federal de Nueva York, no parece ser el camino más apropiado para quien hizo su campaña predicando incansablemente que representaba el cambio y que iba a garantizar el cambio que la sociedad norteamericana reclamaba con creciente insistencia."

Anônimo disse...

E Obama já deu uma de Lula, ao manter Bernanke no Fed, como tudo indica. Lula fazendo escola. Meirelles aqui, Bernanke lá.

armando

Anônimo disse...

Basta lembrar da tentativa de Kennedy e o que aconteceu com ele. O que esperar de um estado que mata seus presidentes?

Anônimo disse...

Um livro muito interessante sobre a privatização dos exércitos e promiscuidade das autoridades é:
Blackwater de Jeremy Scahill

Informações sobre a empresa em:
http://resistir.info/eua/jeremy_scahill_p.html
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2008/06/421390.shtml

Anônimo disse...

Tenho sérias dúvidas quanto a possibilidade do Obama fazer um governo diferente dos últimos governos norte-americanos.
Na minha opinião ele já foi colocado nos "trilhos": a sua primeira reunião foi com o pessoal da CIA, e em um dos seus primeiros pronunciamentos discursou contra o Irã, afirmando que este país não pode obter a bomba atômica. As pessoas bem informadas sabem muito bem o que significa este tipo de discurso. Talvez internamente o governo dele faça algumas modificações (afinal, foi o que ele mais prometeu na campanha), mas em termos de política externa deve continuar com o modus operandi de agressão e intervenção em outros países.

Anônimo disse...

Eu acho que criaram muita expectativa com o Obama.

Para começar está bordando de sionistas o seu "ministério", já deu uma cortada na cabeça do pastor de porque defendia as questões dos negros com muita veemência.

Os azuis claros primeiro...

Claudio Dode

Anônimo disse...

As únicas diferenças entre Obama e Bush, é que o primeiro irá combater o desemprego - dentro dos EUA, é claro - e não vai entrar em mais guerras, muito embora os ianques possam continuar fomentando "guerras civis" pelo mundo afora.

Anônimo disse...

Presidente eleito vira imediatamente CEO de uma poderosa indústria de fazer guerra e matar. Tanto que manterá conselheiros de Bush Jr, além de avançar na guerra do Afeganistão (remember URSS lá mesmo).

armando

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