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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 19 de março de 2009

França faz hoje a segunda greve geral em sessenta dias

Quando a França se levanta, o mundo – mais cedo ou mais tarde – se agita

Nesta quinta-feira tem lugar na França a segunda greve geral em menos de dois meses. Os sindicatos reivindicam mais apoio ao emprego e ao poder de compra da população e as pesquisas de opinião indicam o apoio maciço do país aos grevistas. As mais de 200 manifestações previstas vão juntar milhões de trabalhadores nas ruas, mas o governo avisa que não aumentará o pacote de ajudas às vítimas da crise e do desemprego. As informações são do portal português Esquerda.net.

Ao início do dia, as complicações já afetavam o sistema de transportes com o aeroporto de Orly, anulando um terço dos voos e os ferroviários anunciaram adesão como da greve anterior. Os atrasos nos transportes estendem-se às principais cidades do país.

A grande mudança em relação a protestos anteriores é o clima de apoio que contamina a sociedade. Numa sondagem publicada pelo jornal Libération, 62% dos inquiridos (e 42% dos eleitores de Sarkozy) dizem-se "solidários" com a greve. Quando a pergunta é se os motivos justificam a greve, o apoio sobe para 78% (53% dos apoiantes do partido do governo).

A crise e o desemprego que afetou mais 90 mil franceses só em janeiro - o dobro do mês anterior - estão fazendo soar as campainhas de alarme na sociedade francesa. Depois da greve geral de 29 de janeiro, que juntou mais de um milhão nas manifestações de protesto, o governo Sarkozy apresentou um pacote de ajuda de 2,6 mil milhões de euros, entre benefícios fiscais e medidas pontuais de apoio ao emprego.

Mas na véspera do novo protesto, o governo de direita fez questão de dizer que não irá ampliar a ajuda às vítimas da crise. Apesar disso, o pacote é insuficiente para estabilizar a economia e o emprego, pelo que os sindicatos insistem em que não devem ser os trabalhadores a pagar a crise.

Nas últimas semanas, a notícia do desemprego de 555 trabalhadores da petrolífera Total, pouco depois da empresa ter apresentado lucros de 13,9 mil milhões de euros, incendiou ainda mais os ânimos dos franceses e fez aumentar o apoio aos grevistas.

O protesto social não é exclusivo dos trabalhadores e mesmo entre estes, a novidade é a forte adesão do setor privado, tradicionalmente avesso às greves nacionais convocadas pelos sindicatos. Desta vez, os trabalhadores do setor automotivo e de outras grandes empresas privadas vão engrossar ainda mais as manifestações. Também as Universidades francesas estão há meses em protesto contra a reforma do ensino superior, com metade das Universidades do país em greve nos últimos dias.

Os líderes da oposição de esquerda estarão presentes na manifestação de Paris, hoje, com o PS representado pelo presidente da Câmara, Bertrand Delanoe. Também Olivier Besancenot, do Novo Partido Anticapitalista, desfilará junto dos carteiros de Hauts-de-Seine antes de se juntar ao cortejo do partido. A secretária-geral do PCF Marie-George Buffet e o líder do Partido de Esquerda Jean-Luc Mélenchon, estarão juntos na manifestação. A lista eleitoral Europe-Ecologie, que junta Daniel Cohn-Bendit a José Bové, também integram os protestos desta quinta-feira.

Quando a França se levanta, o mundo – mais cedo ou mais tarde – se agita.

Foto de Robert Pratta/Reuters/Libération: Manifestante francesa levava cartaz hoje cedo, onde diz que "a crise são eles", referindo-se aos especuladores, financistas e rentistas, no alto do post.

8 comentários:

Anônimo disse...

Esses flaneurs franceses não tomam jeito. Enquanto os banqueiros estão caladinhos ne pas mot com o dinheiro pũblico que a mão invisível do mercado (se é permitida uma boutade politicamente incorreta, a crise mostrou que o mercado é maneta) passou pra eles, os trabalhadores ao invés de bater o ponto protestam somente porque alguns milhares vão ficar sem empregos. Nisso dá a ganância humana!

anonime.
au revoir et ademan, tá faltando um Ibrahin Sued nessa crise

Anônimo disse...

do Viomundo:

Gilmar Mendes pede a retirada do ar de programa da TV Câmara que ouviu jornalistas de “O Globo” e “Carta Capital”
Atualizado em 19 de março de 2009 às 21:31 | Publicado em 19 de março de 2009 às 21:11

Carta aberta aos jornalistas do Brasil

19/03/2009 20:54:59

Leandro Fortes

No dia 11 de março de 2009, fui convidado pelo jornalista Paulo José Cunha, da TV Câmara, para participar do programa intitulado Comitê de Imprensa, um espaço reconhecidamente plural de discussão da imprensa dentro do Congresso Nacional. A meu lado estava, também convidado, o jornalista Jailton de Carvalho, da sucursal de Brasília de O Globo. O tema do programa, naquele dia, era a reportagem da revista Veja, do fim de semana anterior, com as supostas e “aterradoras” revelações contidas no notebook apreendido pela Polícia Federal na casa do delegado Protógenes Queiroz, referentes à Operação Satiagraha. Eu, assim como Jailton, já havia participado outras vezes do Comitê de Imprensa, sempre a convite, para tratar de assuntos os mais diversos relativos ao comportamento e à rotina da imprensa em Brasília. Vale dizer que Jailton e eu somos repórteres veteranos na cobertura de assuntos de Polícia Federal, em todo o país. Razão pela qual, inclusive, o jornalista Paulo José Cunha nos convidou a participar do programa.

Nesta carta, contudo, falo somente por mim.

Durante a gravação, aliás, em ambiente muito bem humorado e de absoluta liberdade de expressão, como cabe a um encontro entre velhos amigos jornalistas, discutimos abertamente questões relativas à Operação Satiagraha, à CPI das Escutas Telefônicas Ilegais, às ações contra Protógenes Queiroz e, é claro, ao grampo telefônico – de áudio nunca revelado – envolvendo o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás. Em particular, discordei da tese de contaminação da Satiagraha por conta da participação de agentes da Abin e citei o fato de estar sendo processado por Gilmar Mendes por ter denunciado, nas páginas da revista CartaCapital, os muitos negócios nebulosos que envolvem o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), de propriedade do ministro, farto de contratos sem licitação firmados com órgãos públicos e construído com recursos do Banco do Brasil sobre um terreno comprado ao governo do Distrito Federal, à época do governador Joaquim Roriz, com 80% de desconto.

Terminada a gravação, o programa foi colocado no ar, dentro de uma grade de programação pré-agendada, ao mesmo tempo em que foi disponibilizado na internet, na página eletrônica da TV Câmara. Lá, qualquer cidadão pode acessar e ver os debates, como cabe a um serviço público e democrático ligado ao Parlamento brasileiro. O debate daquele dia, realmente, rendeu audiência, tanto que acabou sendo reproduzido em muitos sites da blogosfera.

Qual foi minha surpresa ao ser informado por alguns colegas, na quarta-feira passada, dia 18 de março, exatamente quando completei 43 anos (23 dos quais dedicados ao jornalismo), que o link para o programa havia sido retirado da internet, sem que me fosse dada nenhuma explicação. Aliás, nem a mim, nem aos contribuintes e cidadãos brasileiros. Apurar o evento, contudo, não foi muito difícil: irritado com o teor do programa, o ministro Gilmar Mendes telefonou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, do PMDB de São Paulo, e pediu a retirada do conteúdo da página da internet e a suspensão da veiculação na grade da TV Câmara. O pedido de Mendes foi prontamente atendido.

Sem levar em conta o ridículo da situação (o programa já havia sido veiculado seis vezes pela TV Câmara, além de visto e baixado por milhares de internautas), esse episódio revela um estado de coisas que transcende, a meu ver, a discussão pura e simples dos limites de atuação do ministro Gilmar Mendes. Diante desta submissão inexplicável do presidente da Câmara dos Deputados e, por extensão, do Poder Legislativo, às vontades do presidente do STF, cabe a todos nós, jornalistas, refletir sobre os nossos próprios limites. Na semana passada, diante de um questionamento feito por um jornalista do Acre sobre a posição contrária do ministro em relação ao MST, Mendes voltou-se furioso para o repórter e disparou: “Tome cuidado ao fazer esse tipo de pergunta”. Como assim? Que perguntas podem ser feitas ao ministro Gilmar Mendes? Até onde, nós, jornalistas, vamos deixar essa situação chegar sem nos pronunciarmos, em termos coletivos, sobre esse crescente cerco às liberdades individuais e de imprensa patrocinados pelo chefe do Poder Judiciário? Onde estão a Fenaj, e ABI e os sindicatos?

Apelo, portanto, que as entidades de classe dos jornalistas, em todo o país, tomem uma posição clara sobre essa situação e, como primeiro movimento, cobrem da Câmara dos Deputados e da TV Câmara uma satisfação sobre esse inusitado ato de censura que fere os direitos de expressão de jornalistas e, tão grave quanto, de acesso a informação pública, por parte dos cidadãos. As eventuais disputas editoriais, acirradas aqui e ali, entre os veículos de comunicação brasileiros não pode servir de obstáculo para a exposição pública de nossa indignação conjunta contra essa atitude execrável levada a cabo dentro do Congresso Nacional, com a aquiescência do presidente da Câmara dos Deputados e da diretoria da TV Câmara que, acredito, seja formada por jornalistas.

Sem mais, faço valer aqui minha posição de total defesa do direito de informar e ser informado sem a ingerência de forças do obscurantismo político brasileiro, apoiadas por quem deveria, por dever de ofício, nos defender.

Leandro Fortes
Jornalista

Brasília, 19 de março de 2009

Unknown disse...

Às armas, cidadãos!

armando

Anônimo disse...

Esta noticia nos dá uma idéia do quanto nosso cordial povo brasileiro é bovinamente passivo.
Em nome da otimização dos lucros dos grandes empresários, os governos brasileiros estão a todo momento metendo a mão nos direitos dos trabalhadores e do povo em geral.
Por exemplo, o absurdo, o ignominioso Fator Previdenciário está aí e nós, o que fazemos?
Assistimos uma novelinha às 6 da tarde, outra às 7, mais uma às 9, e, para arrematar, um BBB às 10 e meia.
Quando chegamos perto da aposentadoria, é só choradeira... pelos cantos. Nenhuma ação concreta contra tanta sacanagem.
Realmente, temos muito a aprender com os franceses.

Carlos Eduardo da Maia disse...

A França continua sendo um país do serviço público. Quando existe uma greve por lá, o país inteiro pára. E, talvez, por isso, grande parte da população não concorde com esse tipo de ação. Mas enquanto isso, Sarkô e Bruni continuam navegando na onda da popularidade.

Anônimo disse...

Não sou lá grande fã do serviço público, porque quem está nele em geral perde totalmente a noção da barra que é ser um "cidadão comum".
A França, entretanto, por mais antipáticos que possam ser os caras atrás dos guichês, funciona!!! Quer dizer, ser funcionário público pode ter diferentes conotações, dependendo do país em que se está.
E como se lê aqui mesmo no blog, a população francesa está apoiando as greves.
Animador. Ninguém suporta mais ver escroto mamando bilhões, se fartando com tudo o que deveria ser de domínio público (inclusive a orla do RIO Guaíba) e depois ainda querendo meter em cana os Protógenes da vida...

Anônimo disse...

Pas un mot chien !
Tous voulons être français !!

Anônimo disse...

Se a França é o país do serviço, e é o que é, eu quero que o Brasil seja também um país do serviço público, também.

Claudio Dode

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