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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

O grupo Prisa e os golpes de Estado


Chávez, Zelaya e o Correio do Povo

O influente jornal espanhol El País (grupo Prisa) modificou seus conceitos sobre golpe de Estado. Se em 2002 aprovou o golpe midiático contra o presidente constitucional da Venezuela, Hugo Chávez, agora, reencontra-se com a verdade dos fatos e reprova duramente o processo golpista em Honduras.

No editorial publicado ontem, o jornal madrilenho considera que "Micheletti não tem feito outra coisa que mostrar a luz do dia o que tratou de ocultar depois de chegar à presidência nos braços do Exército: seu governo é incompatível, tanto em origem como em exercício, com a Constituição hondurenha".

O jornal trouxe ainda uma informação importante para analisar a situação naquele país, a de que o general Romeo Vásquez, chefe das Forças Armadas de Honduras, "lavou as mãos" quanto a deposição do presidente Manuel Zelaya. Ele tirou o corpo fora e não admitiu que o golpe fosse obra dos militares, mas dos civis, liderados pelo deputado vitalício Roberto Micheletti.

Isso demonstra que os golpistas estão muito divididos. O título do editorial do El País é "Micheletti a descoberto", o mesmo que dizer que o impostor está isolado. Um líder empresarial, Adolfo Facussé, presidente da Associação Nacional de Indústrias, chegou a admitir mesmo a volta de Manuel Zelaya ao poder. Outros líderes empresariais se manifestaram na mesma direção. Para contrariar, e não quebrar a escrita do agronegócio, o presidente da Federação Agropecuária de Honduras, Santiago Ruiz disse que opta por um terceiro nome, pois acha que Zelaya pode tornar o país "ingovernável".

Já se vê, portanto, que as decisões em ziguezague do impostor Micheletti tem razão de ser. A pressão internacional - mesmo com a vacilação norte-americana - e as repercussões internas na queda da atividade econômica e a resistência popular ao golpe estão dissolvendo o autoritarismo intrínseco das oligarquias locais.

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Fiz questão de referir o noticiário do El País porque no Brasil não pára de crescer o rumor segundo o qual o grupo Prisa está por comprar jornais brasucas. Logo, todos pensam no centenário diário "Correio do Povo" de Porto Alegre, atualmente controlado pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), do bispo Edir Macedo, que parece querer se desfazer dos seus jornais de papel.

Basta ir à Wikipédia para saber que o grupo midiático Prisa (Promotora de Informaciones, Sociedad Anónima) já possui diários, publicações e editoras em 22 países da Europa e da América Latina. Apesar das dívidas que contraíram, os espanhóis querem operar no Brasil, e mais fortemente no México.

Os jornais editados pelo Prisa são de caráter liberal, sem adotar completamente o chamado neoliberalismo, mas uma edição jornalística mais oxigenada, plural e com menos linhas de conflito com a verdade dos fatos. Importante: para trabalhar no Prisa, o sujeito tem que saber redigir bem, o que não é o caso dos principais diários brasileiros, especialmente os de Porto Alegre, hoje.

Na Espanha o grupo cultiva uma certa proximidade (eu diria, comprometedora) com o ex-primeiro ministro Felipe González, do PSOE (social democracia que introduziu o neoliberalismo na península) e mantém distância (eu diria, auspiciosa) do protofascismo de José Maria Aznar (PP).

Seria importante a vinda do grupo Prisa para Porto Alegre. Uma lufada de ar menos corrompido e bons textos.

8 comentários:

Anônimo disse...

Enfim uma luz!

Guga Türck disse...

Impressionante, Feil.
A que ponto chegamos, hein?
Temos que saudar a possível chegada de um grupo de mídia oligopolista pra ver se oxigena esse rio de merda que é o "jornalismo" daqui...

Jordi disse...

Feil, olha só que mimosura essa notícia do portal UOL (Grupo folha). Consultaram especialistas para descobrir que Micheletti é golpista (depois de passar uns dias chamando de 'governo interino' - porque ainda não tinham consultado os especialistas, claro).

Governo de Honduras é golpista, dizem especialistas
A falta de devido processo legal, a inexistência de apoio da comunidade internacional e a origem em um levante para remover um chefe de Estado legitimamente eleito só permitem chamar o governo de Honduras de golpista, não de interino, afirmam especialistas consultados pelo UOL Notícias. A atual administração do país centro-americano acusa o presidente deposto, Manuel Zelaya, de tentar violar a Constituição para buscar a renovação de seu mandato presidencial.

http://noticias.uol.com.br/ultnot/internacional/2009/09/29/ult1859u1550.jhtm

Anônimo disse...

O governo americano está dividido. Parece que o baixo clero da política, os servidores remanescentes do governo Bush, a imprensa marrom americana e os funcionários dos serviços de inteligência veteranos saudosistas apóiam o golpe.
O novo governo hesita em condenar o golpe porque antecipa a agenda interna da "limpeza" ideológica que CIA e assemelhados precisariam sofrer e traz um desgaste inconveniente no momento da votação do plano de saúde.
É notável que ao se ler NYT, o que aparece é o Iran, Honduras não existe para eles.
O golpe hondurenho para os americanos foi "naturalizado", não é um escândalo como é na comunidade latino-americana.
Além do mais, o governo Obama ficaria na situação constrangedora de ter de concordar com a liderança moral da ONU e da OEA sendo que o governo Bush tinha decretado a falência desse órgãos e o nascimento da famigerada "comunidade internacional", vaga definição oportunista e conveniente.
Esse baixo clero da política e da comunidade de defesa americana, bem como os afiliados brasileiros, apoiou o golpe sabendo que estavam jogando uma casca de banana para o governo de Obama.
Obama tem o desafio de fazer o que que é certo sem passar por traidor diante dos ultra-direitistas que infestam sua imprensa e governo.
Mas até para os democratas, golpe na AL é coisa corriqueira e não entraria na pauta.
O que ainda é bom sinal.
O melhor é que nos esqueçam mesmo e nos deixem em paz.

Anônimo disse...

Vamos fazer um abaixo assinado convidando o grupo para se instalar em PoA?
Podemos prometer de cara algumas assinaturas se eles mantiverem a linha editorial e a qualidade factual das reportagens da matriz.

Oscar T. disse...

Estado que chegamos...um grupo neoliberal é sinonimo de ar fresco.
Com todo respeito, prefiro a UNIVERSAL do que os liberais estrangeiros aqui.

Anônimo disse...

Um jornal forte, para fazer frente ao tablóide dos sirotzki seria muito interessante

Agente 65 disse...

Será? No creo.

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