Você está entrando no Diário Gauche, um blog com as janelas abertas para o mar de incertezas do século 21.

Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Relaxa, meu filho!

Sexta-feira coisa e tal... Relaxa ouvindo e vendo aqui o Manu Chao, num clip chamado Rainin in Paradize que contou com a direção do ótimo cineasta sérvio Emir Kusturica, gravado em Buenos Aires e outros rincões do mundo.

Só te dou barbada, meu filho!

Como diz um “balestino” pachola, meu amigo:

- Bendizinho nu bolso, diñerinho noudro bolso e broteçon di Alá... que querés mas amigo?

A mentalidade berzoínica que assola o PT

O presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, pôs fim de forma sumária a uma rebelião que ameaçava se instalar no partido contra privatizações como a da Companhia Vale do Rio Doce. Em discurso fechado aos delegados de sua tendência, a Construindo um Novo Brasil, ele descartou a realização de um plebiscito sobre a legalidade da venda da estatal, há dez anos, com o argumento de que isso seria uma afronta ao governo. A informação foi dada na Folha de hoje. Berzoini não desmentiu.

"Hoje somos o partido do presidente da República. O partido não deve institucionalmente se envolver com esse assunto. Vai criar problemas entre o partido e o Lula", disse Berzoini. O plebiscito teria a oposição da equipe econômica e provavelmente do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois despertaria velhos fantasmas e dúvidas sobre o respeito do PT a contratos e regras de mercado. A tese do plebiscito sobre a Vale surgiu em tendências "radicais" do PT, mas se espalhou pelo partido, a ponto de ter algum respaldo inclusive entre membros da direção afinada com o Planalto.

....

Quando Berzoini diz que “o partido não deve institucionalmente se envolver com esse assunto”, logo nos assalta a seguinte pergunta, que pula de dentro da meiga afirmação berzoínica:

- Com o quê então o Partido deve se envolver, cara pálida?

A vigorar essa mentalidade berzoínica, o PT teria que cerrar as portas, hibernar no longo inverno do poder planaltino e somente acordar quando o lulismo fizer parte dos compêndios de história do ensino fundamental.

Nada pessoal, mas Berzoini simboliza e representa o melhor figurino da vanguarda do atraso. Patético!

Alienação em grau máximo

A ideologia neoliberal cria o mito ciência como instituição social autônoma dotada de capacidades renovadoras inesgotáveis, tanto na base econômica quanto na superestrutura.

Os crescentes aportes tecnológicos à produção de mercadorias geram efeitos deletérios no mundo do trabalho. A tecnologia vem casada com a exigência de trabalhadores especialistas e competentes. Mas isso não é novidade, o taylorismo é um processo de cientificização da produção e de "integração" subordinada dos trabalhadores.

A máquina e o tempo da máquina dão o ritmo da produção, alienando não só o esforço e o tempo do homem trabalhador, mas, sobretudo negando-lhe a capacidade de reconhecimento do produto gerado, como seu. "A divisão de tarefas é levada ao absurdo não porque seja um meio necessário para aumentar a produtividade, mas por ser o único meio de submeter o trabalhador que resiste, tornando seu trabalho absolutamente quantificável, controlável e substituível" (Chauí).

Assim, o avanço tecnológico, para além de promover a produtividade, é a matriz de difusão da ideologia da competência, base da lógica da exclusão; prontamente absorvido pelo senso comum. Daí a vigarice horizontal do "up-grade" nos conhecimentos de superfície (muitas Universidades estão nessa estratégia "moderninha"), cursos profissionalizantes relâmpagos, reengenharia profissional, marketing pessoal, a obsessão pela informática, a neurolingüística, e um rosário interminável de velhas "novidades" que "irão mudar a sua vida!", "seja um vencedor!", etc.

São os mecanismos ideológicos de individualização do fracasso, para preservação do winner system de exclusão da vida. É a indução sistemática da mentalidade fatalista e resignada à uma ordem disciplinadoramente autoritária e proto-fascista. É a autoridade da ciência como substituto moderno do papel das antigas autoridades míticas, religiosas ou de Estado. A sujeição totalitária do homem à ordem do valor: o máximo possível da inversão impossível. Nem com todos os mitos e todas as religiões reunidos e sintetizados se conseguiria tamanha inversão nos desígnios humanos.

A que ponto chegou a alienação do homem! O mundo todo abarco e nada aperto/ É tudo quanto sinto, um desconcerto (Camões).

O contrato social, um instituto alienado quando regulamenta a igualdade somente na sua dimensão jurídica, perde a validade residual, porque está anulado nas fronteiras do Estado-Nação. O capital, tratando de evitar as cíclicas crises, temendo o recrudescimento da luta de classes, refugia-se na estufa tecnológica das transferências em tempo real, monetizando-se nos mercados mundiais de papéis.

Esse mundo financeiro da moeda tende a descolar-se do mundo da produção, do qual originou-se; não conseguindo (porque depende da riqueza da mais-valia), descarrega uma maldição sob a forma de pregão modelar dos rendimentos capitalistas.

Ora, o mundo real da produção fabril, ali onde se origina a riqueza do sistema, fica comprometido com a estreita elasticidade das metas impostas pelo mundo virtual da moeda e seus incontáveis papéis. A ciência (como tendência neutralizadora da queda da taxa de lucro de Marx), desdobra-se na invenção de artefatos que, aumentando a produtividade do trabalho (bem como, a taxa de exploração), possam contribuir para alcançar as metas amaldiçoadas do mundo monetizado. Onde os incrementos da produtividade do trabalho são conseguidos pela maciça introdução de trabalho morto embutido na robótica e nos chips "inteligentes", em detrimento do uso outrora intensivo de trabalho vivo e pisoteando toda a pauta histórica de direitos e garantias conquistadas nos últimos 150 anos de lutas sociais.

Se a social-democracia tornou "natural" a incorporação de direitos do trabalho; o neoliberalismo, agora, desnaturaliza-os por eliminação dos direitos e dos postos de trabalho.

Coisas da vida.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

RBS faz jornalismo marmiteiro

Está explicada a quizila da RBS (que apoiou o golpe gorila de 64) com a CGTEE. A estatal federal de energia não investe um tostão de publicidade e propaganda nos veículos da RBS. Essa é a gana deles.

Como se sabe, os veículos da RBS tem feito uma verdadeira cruzada contra a CGTEE, nas últimas semanas. Requentam a bóia fria a cada dois dias, para denunciar nada, o vazio.

A origem do problema na CGTEE foi a existência de um ex-diretor pilantra que, de fato, quis fraudar procedimentos com vistas a tirar vantagem pecuniária pessoal e de grupo. Mas a própria direção da empresa denunciou o feito criminoso à Polícia Federal. Não há nenhum prejuízo aos cofres públicos, porque a armação do ex-diretor suspeito não se consumou, embora constitua-se em crime grave. E tudo está sendo investigado na forma da lei.

Entretanto, o grupo RBS aproveita e pega carona no fato e trata de tirar proveito político-ideológico e – por que não – negocial do episódio.

Mas marmita requentada tem um limite, passou do ponto, azeda.

Fora, povo!

Pesquisa recente concluiu que a elite brasileira é mais moderna, ética, tolerante e inteligente do que o resto da população. Nossa elite, tão atacada através dos tempos, pode se sentir desagravada com o resultado do estudo, embora este tenha sido até modesto nas suas conclusões. Faltou dizer que, além das suas outras virtudes, a elite brasileira é mais bem-vestida do que as classes inferiores, tem melhor gosto e melhor educação, é melhor companhia em acontecimentos sociais e é incomparavelmente mais saudável. E que dentes!

A pesquisa reforça uma tese que tenho há anos, segundo a qual o Brasil, para dar certo, precisa trocar de povo. Esse que está aí é de péssima qualidade. Não sei qual seria a solução. Talvez alguma forma de terceirização, substituindo-se o que existe por algo mais escandinavo. As campanhas assistencialistas que tentam melhorar a qualidade do povo atual só a pioram, pois, se por um lado não ajudam muito, pelo outro o encorajam a continuar existindo. E pior, se multiplicando. Do que adianta botar comida no prato do povo e não ensinar a correta colocação dos talheres, ou a escolha de tópicos interessantes para comentar durante a refeição? Tente levar o povo a um restaurante da moda e prepare-se para um vexame. O povo brasileiro só envergonha a sua elite.

Se não tivéssemos um povo tão inferior, nossos índices sociais e de desenvolvimento seriam outros. Estaríamos no Primeiro Mundo em vez de empatados com Botsuana. São, sabidamente, as estatísticas de subemprego, subabitação e outros maus hábitos do povo que nos fazem passar vergonha.

Que contraste com a elite. Jamais se verá alguém da elite brigando e fazendo um papelão numa fila do SUS como o povo, por exemplo. Mas o que fazer? Elegância e discrição não se ensina. Classe você tem ou não tem. Mas o contraste é chocante, mesmo assim. Esse povo, decididamente, não serve.

Se ao menos as bolsas-família fossem Vuitton...

Crônica de Luis Fernando Veríssimo publicada em vários jornais brasileiros, hoje.

Superávit primário (economia para pagar juros) é o mais alto desde 1991

Apesar da promessa de aceleração dos investimentos do governo Lula, a economia do setor público para o pagamento de juros só tem aumentado. A combinação de receitas subindo com um ritmo ainda baixo de investimentos fez o superávit primário do setor público em julho atingir R$ 7,9 bilhões, levando o saldo em 12 meses ao maior nível do ano: R$ 106,9 bilhões, ou 4,37% do Produto Interno Bruto (PIB). O valor está bem acima da meta de superávit para o ano de R$ 95,9 bilhões (3,8% do PIB). Os dados foram divulgados ontem pelo Banco Central do Brasil.

De acordo com o BC, o presente desempenho foi o melhor de toda a série histórica, iniciada em 1991.

Com o superávit primário de todo o setor público mantendo-se elevado neste ano, o déficit nominal (receitas menores que despesas, quando se incluem os juros da dívida) em 12 meses atingiu nova mínima histórica: 2,08% do PIB (R$ 50,919 bilhões). Isso aconteceu mesmo com o saldo negativo do setor público mais elevado em julho (R$ 6,184 bilhões), por causa do maior gasto com juros. Isso ocorreu por causa da valorização de 2,5% do real, que elevou a carga de juros, uma vez que o governo é credor em câmbio e perde quando há valorização do real.

O BC avalia que o Brasil está diante de um novo nível de déficit público, muito mais baixo que no passado. 'Caminhamos para resultados nominais comportados e bastante baixos', diz o chefe do Depec, que projeta déficit nominal de 2,3% do PIB no fim do ano. Essa projeção considera o câmbio a R$ 1,90 no fim do ano, o cumprimento da meta de superávit primário de 3,8% do PIB e um crescimento da economia de 4,7%.

Quem lucra com esse esforço nacional gigantesco são alguns poucos rentistas – cerca de 70 mil brasileiros privilegiados que possuem papéis da dívida pública.

Os limites do mundo do trabalho

O último capitalismo exige uma "noção ampliada do trabalho", conforme sugere Ricardo Antunes. Noção essa que vai borrar ainda mais os limites fronteiriços das subclasses do mundo do trabalho, bem como de todo o espectro social resultante dessa última (mas não derradeira) divisão social do trabalho. Desta maneira, o conceito tradicional de classes, se já era um cobertor curto; hoje, precisa ser reinventado para que acompanhe a complexidade, cada vez mais alargada, da divisão social do trabalho, bem como as múltiplas formas de trabalho que contribuem para o valor das mercadorias, sem esquecer, a subordinação progressiva de parcelas crescentes da vida social à lógica da lei do valor.

Uma noção ampliada do trabalho implica uma noção ampliada da alienação do trabalho e uma conseqüente noção ampliada da ideologia no imaginário social da nossa época. O conceito de classe, por ser uma noção dinâmica, deve considerar a nova ordem ampliada dos problemas do trabalho, da alienação, da ideologia e suas mútuas interpenetrações; bem como a luta de classes, que é o movimento vivo dessas contradições da realidade objetiva e subjetiva dos indivíduos.

Marx, que morreu antes de terminar o capítulo 52 de O Capital, o capítulo das classes sociais, no afã de explicar a totalidade do modo de produção capitalista, simplificou e esquematizou o fenômeno das classes em dois sujeitos principais; embora sempre tenha reconhecido que "camadas intermediárias e transitórias obscurecem os limites das classes". E polemizando com Malthus, no capítulo 19 de O Capital, reconheceu que "o proletariado trabalhador forme uma proporção constantemente diminuída do total da população (mesmo se ela crescer em números absolutos); esta é, de fato, a tendência da sociedade burguesa".

O que Marx preconizava como tendência, transformou-se em realidade, na sociedade burguesa contemporânea.

A razão iluminista vê agora uma chance de realização completa de sua aspiração revolucionária, e cavalgando a ciência, tecnologiza todo o processo produtivo, se autotransformando em razão instrumental, conforme foi apontado pelo pessoal da Escola de Frankfurt.

A racionalidade fordista e os cálculos científicos do engenheiro Taylor, desde pelo menos a década de 80, já esgotaram o seu contributo à modernidade. O fordismo, a partir da década de 20, mais fortemente depois da Segunda Guerra, já vinha reduzindo drasticamente o trabalho vivo na produção; ele funda o grande consumo de massa, operando em economia de escala que barateava custos e propiciava preços vantajosos para os novíssimos consumidores. O fordismo é um fenômeno fabril, que se originou na indústria de automóveis, tendo uma incidência privilegiada na produção, mas já com repercussões na distribuição: uma racionalidade que "iluminava" muito além das fábricas e dos automóveis.

Depois do fordismo, o mundo do trabalho, ao contrário de extinguir-se, torna-se complexo e quase insondável, por que submetendo invisivelmente setores outros a sua condição de existencia; existencia esta, cada vez mais subordinada à lógica inexorável da mercadoria.

Essa dificuldade de conhecer os limites do mundo do trabalho é próprio da fragmentária multidivisão social do trabalho animado pela constante incorporação de novas tecnologias e as conseqüentes necessidades (urgentíssimas) de realização do valor.

Ilustração do pintor norte-americano Norman Rockwell (1894-1978) que foi, digamos assim, o retratista mais saliente do fenômeno fordista e da nascente sociedade de consumo dos EUA. Acima, um desempregado pela crise de 29.


Robert Fisk escreve:

Até eu questiono a “verdade” sobre o 11 de setembro

Toda vez que faço uma palestra sobre o Oriente Médio tem sempre alguém na platéia — apenas um — que eu chamo de ''raivoso''. Desculpem-me aqueles homens e mulheres que vão até minhas palestras com questões brilhantes e pertinentes — na maioria das vezes muito deferentes para mim como jornalista — e que mostram que sabem sobre a tragédia do Oriente Médio muito mais que os jornalistas que cobrem o assunto. Mas o ''raivoso'' é real. Ele toma a forma física tanto em Estocolmo quando em Oxford, tanto em São Paulo quanto em Ierevan, no Cairo, em Los Angeles e, na forma feminina, em Barcelona. Não importa o país, sempre haverá um raivoso.

A pergunta dele — ou dela — é mais ou menos assim. Por que, se você se diz um jornalista livre, não relata o que realmente sabe sobre o 11 de setembro? Por que você não conta a verdade — que a administração Bush (ou a CIA, Mossad, sabe-se lá o quê) explodiu as torres gêmeas? Por que você não revela os segredos por trás do 11 de setembro?


A convicção em cada pergunta é que Fisk sabe — que Fisk tem um absoluto, concreto, cofre de metal que contém a prova final do que ''todo mundo sabe'' (essa é a frase usual) quem destruiu as torres gêmeas. Algumas vezes o raivoso está claramente estressado. Um homem em Cork gritou sua pergunta para mim, daí — no momento que sugeri que sua versão do plano era um pouco ímpar — ele deixou a platéia, xingando e chutando as cadeiras que via pela frente.

Geralmente, tento dizer a ''verdade''; que, enquanto existem questões não respondidas sobre o 11 de setembro, eu sou o correspondente do The Independent, não o correspondente conspiratório; que eu vejo muitas maquinações concretas às minhas mãos no Líbano, no Iraque, na Síria, no Golfo, etc, para me preocupar sobre planos imaginários em Manhattan. Meu argumento final — um nocaute, no meu ponto de vista — é que a administração Bush ferrou tudo — do ponto de vista militar, politico e diplomático — que tentou fazer no Oriente Médio; então, como na Terra essa administração poderia realizar com sucesso os crimes internacionais contra a humanidade nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001?

Bem, eu ainda defendo esse ponto de vista. Qualquer militar que diga — como os americanos fizeram dois dias depois — que a al-Qaida está desbaratada não é capaz de fazer algo na escala do que aconteceu em 11 de setembro. ''Nós desbaratamos a al-Qaida, a pusemos para correr'', disse o coronel David Sutherland sobre a ''Operação Martelo Relâmpago'' na província iraquiana de Diyala. ''Seu medo de encarar nossas forças prova que os terroristas sabem que não há lugar seguro para eles''. E, mais do mesmo, tudo isso é falso.

Horas depois, a al-Qaida atacou Baquba com a força de um batalhão e massacrou todos os xeques locais, que haviam sido encastelados pelas mãos dos americanos. Isso me fez lembrar o Vietnã, a guerra que George Bush assistiu dos céus do Texas — o que pode explicar o porquê dele, esta semana, misturar o fim da guerra do Vietnã com o genocídio em um outro país chamado Camboja, cuja população foi salva pelos mesmos vietnamitas contra os quais os colegas mais corajosos de Bush lutaram anos a fio.

Mas, aqui vamos nós. Eu estou cada vez mais encafifado com as inconsistências da narrativa oficial do 11 de setembro. Não apenas pelo óbvio ''non sequiturs'': onde estão as partes da aeronave (motores, etc) que atacou o Pentágono? Por que as autoridades envolvidas com o vôo 93 da United (que caiu na Pensilvânia) foram obrigadas a fechar o bico? Por que os restos do vôo 93 se espalham por quilômetros quando supostamente o avião chocou-se contra o solo ainda inteiro? Novamente, não estou falando sobre a ''pesquisa'' maluca de David Icke (Alice no País das Maravilhas e o Desastre do World Trade Center), que poderia fazer qualquer homem são tentar decorar a lista telefônica.

Eu estou me referindo a questões científicas. Se é verdade, por exemplo, que o querosene queima a 820º Celsius sob ótimas condições, como é que o aço das duas torres, cujo ponto de fusão está supostamente acima de 1.480ºC, poderiam ter entrado em colapso na mesma velocidade? Elas cairam em 8,1 segundos e 10 segundos. E a terceira torre, o World Trade Centre Building 7, ou edifício Salmon Brothers, que desmoronou em 6,6 segundos até seus alicerces às 17h20 do dia 11 de setembro? Por que ela desmoronou daquele jeito se nenhuma aeronave a atingiu? O Instituto Americano de Padrões e Tecnologia analisou a causa da destruição dos três edifícios. Eles ainda não relataram nada sobre o WTC 7. Dois proeminentes professores americanos de engenharia mecânica — com toda a certeza fora da categoria dos ''raivosos'' — processam o Instituto na Justiça contra o que vaticina o relatório final, argumentando que ele pode ser ''fraudulento ou enganador''.

Jornalisticamente, existem muitas coisas ímpares sobre o 11 de setembro. Relatórios iniciais de repórteres que afirmam terem ouvido explosões nas torres — que bem poderiam ser as estruturas se rompendo — são fáceis de desmentir. Menos o de que o relato de que o corpo de uma comissária da tripulação de um dos vôos foi descoberto nas ruas de Manhattan com suas mãos atadas. OK, então vamos assumir que isso foi só boataria de momento, assim como a lista da CIA de seqüestradores-suicidas, que incluiam três homens que estavam — e ainda estão — vivos da silva e vivendo no Oriente Médio, foi um erro inicial da inteligência americana.

Mas e o que dizer da esquisita carta supostamente escrita por Mohamed Atta, o assassino-seqüestrador egípcio de cara assustada, cujo conselho ''islâmico'' a seus cruéis camaradas — revelado pela CIA — mistificou cada amigo muçulmano que eu conheço no Oriente Médio? Atta mencionou sua família — o que nenhum muçulmano, mesmo mal-intencionado, gostaria de incluir em tal oração final. Ele lembra seus companheiros-de-morte para fazerem a primeira oração muçulmana do dia e então continua a citá-la. Mas nenhum muçulmano precisa de tal lembrança — para não dizer nada do texto da oração do ''Fajr'' que foi incluído na carta de Atta.

Deixem-me repetir mais uma vez. Eu não sou um teórico da conspiração. Poupem-me dos raivosos. Poupem-me das maquinações. Mas como todo mundo, eu gostaria de conhecer a história completa do 11 de setembro, não só porque ela foi o estopim dessa campanha lunática e meretrícia da ''guerra ao terrorismo'', que nos levou ao desastre no Iraque e Afeganistão e à maioria do Oriente Médio. Uma vez, Bush despachou alegremente seu assessor Karl Rove com a frase: ''nós somos um império agora — nós criamos nossa própria realidade''. Verdade? Então conte para a gente. Isso iria evitar que pessoas saíssem chutando as cadeiras por aí.

Artigo do respeitado jornalista Robert Fisk publicado no jornal britânico The Independent, dia 25 de agosto último.
Leia no original
aqui.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007


FHC também é réu

Apenas um fato, entre vários, já justifica perante a justiça anular o processo de privatização [da Vale]:

O "sumiço" de 9,688 bilhões de toneladas em reservas de minério de ferro.

Em maio de 1995, a Vale informou oficialmente à Securities and Exchange Commission - SEC, órgão responsável pela fiscalização do mercado de ações norte-americano - que suas reservas de minério de ferro nas minas do Sistema Sul, todas localizadas em Minas Gerais, totalizavam 7,918 bilhões de toneladas.

No edital de venda da empresa (item 6.5.1), o Sistema Sul aparece com apenas 1,4 bilhão de toneladas, ou seja, 6,518 bilhões de toneladas a menos.

A Vale informou à SEC que as reservas minerais do complexo de Carajás, situado no Pará, eram de 4,970 bilhões de toneladas.

No edital, as reservas de Carajás foram estimadas em 1,8 bilhão de toneladas - 3,170 bilhões de toneladas a menos.

Se você quiser consultar a movimentação do processo acima no TRF1 clique no link abaixo:

http://www.trf1.gov.br/Processos/ProcessosTRF/ctrf1proc/ctrf1proc.asp?proc=199939000073039

Pescado inteiramente do blog do Azenha.

Mário de Andrade já sabia

Os vagabundos do “Cansei” são descendentes dos escravocratas e do bandeirantismo paulista que caçava, submetia e exterminava índios no período do Brasil colonial. Essa gentalha é pré-capitalista.

Vejam a simbologia das coisas. São Paulo e, de resto, a modernização geral do Brasil devem muito a Getúlio Vargas. O velho Vargas foi quem assentou as bases para a construção do Brasil moderno, não só do ponto de vista do desenvolvimento das forças produtivas, mas da institucionalidade estatal de um País que queria e precisava deixar de ser agrário e atrasado.

São Paulo, entretanto, não tem uma rua sequer, uma escola de periferia, uma estrada, um monumento que preste homenagem a Vargas. Ressentimento de 32. Já para Borba Gato, aquele caçador-escravizador-exterminador de índios tem uma enorme estátua em Santo Amaro (foto), uma coisa horrorosa, mas tem. Para Raposo Tavares, outro exterminador de índio, tem uma rodovia inteira. E assim por diante. Certamente são ícones do “Cansei”.

Já se vê que o movimento “Cansei” (um oxímoro) não acontece de graça em São Paulo, eles têm história, tem raízes, tem os seus heróis, como denunciou ainda em 1922 o maravilhoso paulistano Mário de Andrade, assim:

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
Fora os que algarismam os amanhãs!

Grande Mário de Andrade! E viva a São Paulo que não cansa!

A derrocada da revolução na URSS

A propósito do caráter da revolução bolchevique, Lênin nunca escondeu as suas limitações presentes e nunca perdeu de vista a natureza do processo que ajudara a construir. Em 1921, no 11º Congresso do PCUS, Lênin condicionava o caráter que assumiria a revolução, assim: "o capitalismo de Estado será um capitalismo que nós saberemos limitar e, deste modo, fixar-lhes as fronteiras; este capitalismo está ligado ao Estado, mas o Estado são os operários, é a vanguarda, somos nós. (...) O que será o capitalismo de Estado? Isso depende de nós".

Aliás, essa expressão "capitalismo de Estado" para classificar o processo russo era recorrente em Lênin, nessa época e até sua morte em 1924. Embora o tom do seu uso fosse acerca de algo inevitável e provisório, depois do seu desaparecimento permaneceu não só inevitável, mas tornou-se permanente.

Temos visto reprovações de toda a ordem, de todo o espectro, e de todo o gênero contra o regime stalinista da ex-União Soviética. Quase sempre são reprovações de natureza moralista (reclamam os aspectos da crueldade e a ausência de democracia representativa), que recriminam aspectos fenomênicos do Estado bolchevique, pré-políticas ou francamente ideológicas. Outras, mesmo que bem formuladas (mas que só reclamam da ausência de democracia), são superficiais, formalistas; querem desmascará-lo, mas usam a mesma lógica que o sustenta, daí o malôgro. Não apontam a essência do fenômeno stalinista. Tanto as pedras de arenito da pseudo-esquerda, quanto as pedras de mármore da direita, poucas conseguem atingir o nervo constitutivo do tema.

O sistema caiu por negar a negatividade da filosofia marxista. Era, portanto, acionado por um móvel positivista, que encontrou o seu objeto no desenvolvimento das condições de acumulação do capital, ainda que de uma maneira alternativa à acumulação privada. Uma opção de monopólio estatal do capitalismo (Hyams), com veto à apropriação privada.

Rosa de Luxemburg na sua famosa polêmica com Lênin, e que a ideologia stalinista sempre minimizou, porque aí residia uma das gêneses do problema, já vaticinava o fracasso dos bolcheviques. Na revolução russa de 1905, começaram a surgir divergências de fundo, pelo menos nos temas básicos: a questão nacional e a questão da organização.

Em 1916, Rosa oferecia um prognóstico severo à história do socialismo, no sombrio e lúcido panfleto A Crise da Democracia Socialista: "Enquanto existirem Estados capitalistas, enquanto, mais precisamente, a política imperialista universal determinar e moldar a vida interior e exterior dos Estados, o direito das Nações a disporem de si mesmas não passará de palavra vã, quer em tempo de guerra, quer em tempo de paz. Ainda mais: na atual conjuntura capitalista não há lugar para uma guerra nacional de defesa e qualquer política socialista que abstraia desta conjuntura histórica, que apenas se guie, no meio do turbilhão universal, pela ótica de um só país, estará desde o início destinado ao fracasso".

Rosa não fazia concessões a Lênin, aos bolcheviques e muito menos ao revisionismo menchevique. Criticava com energia a inconsistência de duas palavras de ordem, simultâneamente contraditórias: o centralismo democrático do Partido e o direito à autodeterminação das nacionalidades satélites da Rússia.

Lênin, em 1914, havia lançado um panfleto intitulado Do direito das Nações a disporem de si mesmas. Rosa sustentava que havia oportunismo político na questão nacional defendida por Lênin. Afinal, essas nações tinham interesses dominantes das burguesias locais e interesses não-dominantes do proletariado. Ela como polonesa e ativista política na Alemanha queria um processo revolucionário articulado em toda a Europa e não somente na Rússia, que era uma forma de diminuir o conteúdo da revolução, isolar e dividir o proletariado nos guetos nacionais, onde as derrotas seriam facilmente impostas pelas burguesias de cada país. Stalin, depois da morte de Lênin, seguiu à risca a política do socialismo em um só país e a história teve o desenrolar que se lamenta. Fracasso sobre fracasso.

A prosperidade econômica posterior da URSS não foi obra do ideal socialista. Foi resultado de uma deliberada política econômica de formação de uma acumulação primitiva capitalista. “O socialismo em um só país desanda finalmente no socialismo em país algum” – conforme apontou Ernest Mandel.


Pesquisa eleitoral em Porto Alegre: novidades

O Pantaleão Kalil manda essa avaliação sobre a surpreendente pesquisa da Methodus, divulgada dias atrás:

A pesquisa do Instituto Methodus realizada em agosto para investigar as preferências dos eleitores de Porto Alegre para as eleições do ano vindouro, apresenta obviedades e novidades.

Primeiro vamos ao que é óbvio: faltando mais de um ano para o pleito 62,6% do eleitorado não escolheu um candidato. Dos que escolheram – espontaneamente, sem indução – outra obviedade: Fogaça desponta em primeiro lugar, com o dobro do percentual do segundo colocado, um rapaz chamado Nenhum. Mas as respostas espontâneas são assim mesmo, sempre descortinando o lugar comum.

Nas respostas às perguntas induzidas por cartão, mostrando os nomes de possíveis candidatos, são apresentados vários cenários que no final mostram a mesma coisa. Vamos selecionar um destes cenários, cujo resultado é o seguinte:

Não sabe – 16,3%

Fogaça – 15,8%

Manuela (PC do B) – 14,2%

Luciana (PSol) - 11,7%

Nenhum – 11,1%

Miguel (PT) – 10,4%

Ônix (DEM) – 8,0%

Vieira (PDT) – 7,2%

Beto (PSB) – 5,3%

Primeiro, cabe destacar o belo desempenho do senhor Não Sabe e a boa colocação do menino Nenhum.

Como a margem de erro da pesquisa é de 3,2% temos três grupos empatados, próximos uns dos outros: Fogaça e Manuela, Luciana e Miguel e, por último, Ônix, Viera e Beto.

A novidade: o fraco desempenho do candidato do PT, partido que nos bons tempos potencializava cerca de um terço dos votos, ficando um potencial de mais um terço para a direita e o restante de indefinidos que decidiam o jogo. Para onde foram os votos do PT nesses tempos de Governo Lula com programa neoliberal e do distanciamento dos movimentos sociais do partido que outrora fôra sua vanguarda?

Para um diagnóstico mais claro será necessário uma série de pesquisas e informações, principalmente quando for mais próximo das eleições. Porém, essa pesquisa retrata um momento em que o potencial eleitoral do PT parece migrar para outros candidaturas que se apresentam como de esquerda (Manuela e Luciana, principalmente) e candidatos que representam os indecisos e insatisfeitos (Não Sabe e Nenhum).

O desfecho deste quadro só será revelado no filme 2008. Que poderá ser uma farsa ou uma tragédia.


terça-feira, 28 de agosto de 2007

A cumplicidade entre a mídia e a repressão

O relato abaixo serve para demonstrar a ação combinada e orgânica entre a repressão da ditadura militar de 64 e os órgãos da mídia oligárquica no Brasil.

O assassinato de Eduardo Collen Leite, o “Bacuri” é um dos mais terríveis dos que se tem notícia, já que as torturas a ele infligidas duraram 109 dias consecutivos, deixando-o completamente mutilado. Quando o corpo foi entregue aos familiares estava sem orelhas, com olhos vazados e com mutilações e cortes profundos em toda a sua extensão.

Foi preso no dia 21 de agosto de 1970, no Rio de Janeiro, pelo delegado Sérgio Fleury e sua equipe, quando chegava em sua casa. Passou pelo CENIMAR/RJ e DOI-CODI/RJ, onde foi visto pela ex-presa política Cecília Coimbra, já quase sem poder se locomover.

Do local da prisão, Eduardo foi levado a uma residência particular onde foi torturado. Seus gritos e de seus torturadores chamaram a atenção dos vizinhos, que avisaram a polícia. Ao constatarem de que se tratava da equipe do delegado Fleury, pediram apenas para que mudassem o local das torturas.

Após ser torturado na sede do CENIMAR, no Rio de Janeiro, Eduardo foi transferido para o 41° Distrito Policial, São Paulo, cujo delegado titular era o próprio Fleury.

Novamente transferido para o CENIMAR/RJ, Eduardo permaneceu sendo torturado até meados de setembro, quando voltou novamente para São Paulo, sendo levado para a sede do DOI/CODI. Em outubro, foi removido para o DOPS paulista, sendo encarcerado na cela 4 do chamado “ fundão” (celas totalmente isoladas).

No dia 25 de outubro, todos os jornais do País divulgaram a nota oficial do DOPS/SP relatando a morte de Joaquim Câmara Ferreira (Comandante da ALN), ocorrida em 23 de outubro. Nesta nota, foi inserida a informação de que Bacuri havia conseguido fugir, sendo ignorado seu destino. Foi encontrado nos arquivos do DOPS, a transcrição de uma mensagem recebida do DOPS/SP pela 2ª seção do IV Exército, assinada pelo coronel Erar de Campos Vasconcelos, chefe da 2ª Seção do II Exército, dizendo “que foi dado a conhecer a repórteres da imprensa falada e escrita o seguinte roteiro para ser explorado dentro do esquema montado”. O tal roteiro falava da morte súbita de Câmara Ferreira após ferir a dentadas e pontapés vários investigadores. E mais adiante diz “Eduardo Leite, o Bacuri, cuja prisão vinha sendo mantida em sigilo pelas autoridades, havia sido levado ao local para apontar Joaquim Câmara Ferreira (...) Aproveitando-se da confusão, Bacuri, (...) logrou fugir (...)”. Estava evidenciado o plano para assassinar Eduardo Collen Leite.

O testemunho de cerca de 50 presos políticos recolhidos às celas do DOPS paulista (entre eles, o gaúcho Ubiratan de Souza, da VPR) neste período prova que Eduardo jamais saíra de sua cela naqueles dias, a não ser quando era carregado para as sessões diárias de tortura. Eduardo era carregado porque não tinha mais condições de manter-se em pé, muito menos de caminhar ou fugir, após dois meses de torturas diárias.

O comandante da tropa de choque do DOPS/SP, tenente Chiari da PM paulista, mostrou a Eduardo e a inúmeros outros presos políticos, no dia 25, os jornais que noticiavam sua fuga.

Para facilitar a retirada de Eduardo de sua cela, sem que os demais prisioneiros do DOPS percebessem, o delegado Luiz Gonzaga dos Santos Barbosa, responsável pela carceragem do DOPS àquela época, exigiu o remanejamento total dos presos, e a remoção de Eduardo para a cela n° 1, que ficava defronte à carceragem e longe da observação dos demais presos. Seu nome foi retirado da relação de presos, as dobradiças e fechaduras de sua cela foram lubrificadas de forma a evitar ruídos que chamassem a atenção.

Os prisioneiros políticos, na tentativa de salvar a vida de seu companheiro, montaram um sistema de vigília permanente.

Aos 50 minutos do dia 27 de outubro de 1970, Eduardo foi retirado de sua cela, arrastado pelos braços, pela falta total de condições de pôr-se em pé, com o corpo repleto de hematomas, cortes e queimaduras, sob os protestos desesperados de seus companheiros. Segundo testemunho de Ubiratan, todos os presos chegaram junto às grades e estendiam braços e mãos para cumprimentar ou simplesmente tocar em Bacuri, ao mesmo tempo que vibravam talheres e copos metálicos no ferro das grades numa demonstração de protesto pela iminente morte de um companheiro. Todos sabiam que Bacuri seria executado.

Eduardo não foi mais visto. Os carcereiros do DOPS, freqüentemente questionados sobre o destino de Bacuri, só respondiam que ele havia sido levado para interrogatórios em um andar superior. Os policiais da equipe do delegado Fleury respondiam apenas que não sabiam; apenas o policial conhecido pelo nome de Carlinhos Metralha é que afirmou que Eduardo estava no sítio particular do delegado Fleury. Tal sítio era usado pelo delegado e sua equipe para torturar os presos considerados especiais ou os que seriam certamente assassinados e, por isso, deveriam permanecer escondidos.

No dia 8 de dezembro, 109 dias após sua prisão, e 42 dias após seu seqüestro do DOPS, os grandes jornais do País publicavam nota oficial informando a morte de Eduardo em “um tiroteio nas imediações da cidade de São Sebastião”, no litoral paulista. Era evidente o conluio entre a repressão e a mídia, nesta farsa montada para eliminar Eduardo Leite.

A notícia oficial da morte de Eduardo teve um objetivo claro: tirar as condições da inclusão de seu nome na lista das pessoas a serem trocadas pela vida do Embaixador da Suíça no Brasil, que havia sido seqüestrado no dia 7 de dezembro. Seu nome seria incluído nessa lista e seria impossível soltar o preso Eduardo que, oficialmente estava foragido e, além do mais, completamente desfigurado e mutilado pela tortura.

As informações são do grupo Tortura Nunca Mais e de Ubiratan de Souza. A fotografia é do monumento Pau-de-arara de Recife, em memória dos que sofreram com a ditadura militar de 1964.

O homem sem qualidades no mundo da mercadoria

No capitalismo, o trabalho produz mercadorias e produz o próprio homem. As mercadorias são valores de uso que servem para trocar no mercado. A mercadoria tem um valor de troca que a iguala a todas as outras mercadorias. Essa equalização das mercadorias é dada pelo trabalho que cada uma contém em quantidades diferentes.

Portanto, o valor de uma mercadoria é diretamente proporcional à quantidade de trabalho abstrato nela materializado e inversamente proporcional à produtividade do trabalho concreto que a produz. Sendo que o trabalho abstrato é o trabalho social despojado de suas distinções qualitativas (indiferente à forma, ao conteúdo e à individualidade do trabalhador), só importando as quantidades de força de trabalho gasta na produção de um bem. Já o trabalho concreto é o trabalho qualificado específico de cada trabalhador (pedreiro, carpinteiro, serralheiro, etc.). Assim, o ato singular de trabalho – ele mesmo uma mercadoria – compreende trabalho concreto e trabalho abstrato; sendo o trabalho concreto um valor de uso, uma qualificação do trabalhador; e o trabalho abstrato um valor de troca, uma quantificação do tempo empregado pelo trabalhador no processo de trabalho.

Marx nota que o trabalho concreto específico é reduzido – no mercado - a trabalho abstrato universal. E essa redução é também uma degradação do trabalho; ele é subtraído das suas qualidades para ser reconhecido (e daí remunerado, parcialmente) como quantidade, em medida de tempo.

O mercado, assim, não reconhece a qualidade da força de trabalho (apesar de esgotá-la), e sim a sua quantidade parcial. A transferência/incorporação de valor do trabalho à mercadoria é alienação de qualidade e de quantidade de valor, agora materializado num objeto. Objeto esse que será estranho ao trabalhador (esgotado de qualidades), sobre o qual ele não terá a mais mínima identidade; e que se voltará contra ele sob a forma de capital, para novamente subtraí-lo e condená-lo à alienação material e ideológica. Material, porque nega remunerá-lo segundo a grandeza efetiva da riqueza criada; e ideológica, porque lhe cega o conhecimento de que ele próprio é o sujeito do processo de criação de riqueza e geração de poder, fazendo-o crer que é tão-somente um objeto, tal qual a mercadoria que produz.

O mercado é definido, então, como uma instituição social, histórica que supre a sociedade de valores de uso determinada (governada) pela lei do valor, que submete a liberdade individual às quantificações sem-qualidades de sua própria reprodução fetichizada. As qualidades (valor de uso) do trabalhador (agora) sem qualidades estão diluídas para sempre em reproduções seriais de valores de troca que o representam de forma transfigurada no mercado de quantidades "sisificamente" repetidas.

A transcendência máxima do máximo de mercadorias é realizar-se (qualificar-se) freneticamente como dinheiro – a mercadoria modelo/forma da última vida social ou, como diz Marx, a "expressão social do mundo das mercadorias".

Todas as demais mercadorias querem "imitar" a capacidade de valorização do dinheiro, que é "a vida do que está morto (força de trabalho alienada na mercadoria, e esta transformada em moeda) se movendo em si mesma" – na genial síntese de Hegel.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Charge do Angeli
Nelson Jobim, o “impoluto”

Deu na Folha, de ontem.

Quem conhece os bastidores do STF se divertiu vendo Nelson Jobim reagir ao vazamento do papo eletrônico entre ministros da Casa com a declaração de que ali não existem pré-combinados. Durante seu período no tribunal, o hoje titular da Defesa era considerado um especialista em negociações para "amarrar" votos dos colegas.

Um combinado famoso foi o que derrubou as ações de inconstitucionalidade contra medidas adotadas pelo governo FHC em resposta ao apagão de energia, em 2001. Na ocasião, especulou-se que Jobim chegara a ajudar a redigir o voto da então novata Ellen Gracie.

O punhal de Brutus

Os anarquistas eram divididos. Cada grupo seguindo um líder, e entre esses estavam Kropotkin, Bakunin e Proudhon. Os livros de Proudhon eram muito vendidos em toda a Europa, na segunda metade do século 19. Bakunin pregava o recurso ao assassinato político; e seus correligionários eliminaram Alexandre II da Rússia (1881); o rei Humberto, da Itália (1900); o presidente francês, Carnot (1894); a imperatriz Elisabeth, da Áustria (1898); e o presidente dos EUA, William McKinley (1901). Esse recurso extremo foi defendido por muitos pensadores, não só anarquistas.

Alfieri, um dos protagonistas da unificação italiana, tinha a "teoria do punhal", como método político; compartilhada por Mazzini, um dos ideólogos da unidade da Itália. Já bem antes, Santo Tomás de Aquino considerava um direito, baseado na lei natural, o assassinato de um tirano para o bem comum.

Atualmente esse recurso político é desprezado. Certamente, não por razões morais de incivilidade, selvageria, etc., mas por pura ineficácia de propósitos. O dirigente tirano, déspota, já não reduz-se ao indivíduo que governa ("o Estado sou eu"); hoje, a complexidade do poder de Estado elimina, ou civiliza, esses impulsos voluntariosos. O "punhal de Brutus" como método político é peça de museu.

O sacrifício de Getúlio Vargas, em 24 de agosto de 1954, tem alguns ingredientes desse método, embora de modo invertido. O dirigente imola-se para denunciar um sistema conspiratório anti-nacional. Tudo em vão, o suicídio só empurrou o problema para 1964.

Evo Morales denuncia conspiração dos EUA

O presidente da Bolívia, Evo Morales, denunciou que a embaixada dos Estados Unidos no país está financiando ações de desestabilização contra seu governo. De acordo com o jornal La Prensa, a embaixada estaria pagando subornos a seis dirigentes da oposição para estimularem rebeliões em algumas províncias do País.

dez dias, moradores e o governador da província de Chuquisaca (ver mapa da Bolívia acima), que é da oposição, protestam contra a Assembléia Constituinte defendida por Evo Morales. Eles querem que Sucre, que é a Capital do departamento, passe a ser a Capital do país, hoje La Paz. Vários protestos estão sendo marcados por outra regiões de oposição ao governo federal. Evo afirma que o movimento é político e que pretende parar as reformas feitas por ele no país. Movimentos indígenas que apóiam o governo de Evo Morales também marcam protestos de apoio para esta semana. A informação é da Agência Chasque.

domingo, 26 de agosto de 2007

Um teólogo na morte

Os anjos me disseram que, quando Melanchton morreu, lhe foi oferecida no outro mundo uma casa ilusoriamente igual àquela que possuíra na Terra. (A quase todos os recém-chegados à eternidade acontece o mesmo e por isso acreditam que não morreram). Os objetos domésticos eram iguais: a mesa, a escrivaninha com suas gavetas, a biblioteca. Quando Melanchton despertou nessa casa, reatou suas tarefas literárias como se não fosse um morto e escreveu durante alguns dias sobre a salvação pela fé. Como era seu hábito, não disse uma palavra sobre a caridade. Os anjos notaram essa omissão e mandaram pessoas a interrogá-lo. Melanchton lhes falou: "Demonstrei de maneira irrefutável que a alma pode dispensar a caridade e que para entrar no céu basta a fé". Dizia isso com soberba e não sabia que já estava morto e que seu lugar não era o céu. Quando os anjos ouviram essa afirmativa o abandonaram.

Em poucas semanas, os móveis começaram a se encantar até se tornarem invisíveis, com exceção da poltrona, da mesa, das folhas de papel e do tinteiro. Além disso, as paredes do aposento se mancharam de cal e o assoalho de um verniz amarelo. Sua própria roupa já estava muito mais ordinária. Continuava, entretanto, escrevendo, mas como persistia na negação da caridade, foi transferido para uma sala subterrânea, onde estavam outros teólogos como ele. Ali ficou preso alguns dias e começou a duvidar de sua tese e lhe deram permissão de voltar. A roupa que vestia era de couro cru, mas procurou imaginar que a que tivera antes fora uma simples alucinação e continuou elevando a fé e denegrindo a caridade. Uma tarde, sentiu frio. Então percorreu a casa e comprovou que as demais peças já não correspondiam às de sua casa na Terra. Uma delas estava cheia de instrumentos desconhecidos; outra estava tão reduzida que era impossível entrar nela; outra não tinha sofrido modificação, mas suas janelas e portas davam para grandes dunas. A do fundo estava cheia de pessoas que o adoravam e lhe repetiam que nenhum teólogo era tão sábio quanto ele. Essa adoração agradou-o, mas como uma das pessoas não tinha rosto e outras pareciam mortas, acabou se aborrecendo e desconfiando delas. Determinou-se então a escrever um elogio da caridade, mas as páginas que escrevia hoje apareciam apagadas amanhã. Isso aconteceu porque eram feitas sem convicção.

Recebia muitas visitas de gente morta recentemente, mas sentia vergonha de mostrar-se num lugar tão sórdido. Para fazer-lhes crer que estava no céu, entrou em acordo com um feiticeiro dos que estavam na peça dos fundos, e este os enganava com simulacros de esplendor e serenidade. Era só as visitas se retirarem, reapareciam a pobreza e a cal; às vezes isso acontecia um pouco antes.

As últimas notícias de Melanchton dizem que o mágico e um dos homens sem rosto o levaram até as dunas e que agora ele é como que um criado dos demônios.

Jorge Luis Borges

Foto: Borges e Maria Kodama em Paris, 1983.

sábado, 25 de agosto de 2007

Panfleto ordinário

O jornal Zero Hora (do grupo RBS apoiador do golpe gorila de 1964) de hoje superou-se. Ver reprodução da capa acima.

É um panfleto de propaganda, que estampa imagens e signos subliminares de inegáveis intenções político-ideológicas.

Observem: a manchete mais destacada informa que [José] Dirceu está livre. No contraponto, com a força dramática da fotografia aparece o “filatelista” Macalão com uma expressão de dor sendo conduzido algemado para o camburão policial.

O panfleto ordinário da RBS quer passar a idéia que na área federal os (supostos) corruptos estão livres, enquanto na área estadual (tucana) o mero suspeito está sendo tratado no rigor da lei e da justiça.

Entretanto, o mais grave é que o fato principal de ontem na província de São Pedro foi o anúncio do próprio presidente Lula de que serão aplicados no Rio Grande do Sul cerca de 1,755 bilhões de reais provenientes do PAC. O relevante factual está noticiado com letras minúsculas e laterais, e como um distante "pacote de promessas".

Mas o que são quase dois bilhões de reais diante da possibilidade de denegrir os meus inimigos de classe? – haverão de pensar os editores de Zeagá.

Eis, pois, um panfleto ordinário!

A comprida e sertaneja poética rústica de Riobaldo Tatarana

[...]

Porque ele tinha me estatutado os todos projetos. Como estava reunindo e pervalendo aquela gente, para sair pelo Estado acima, em comando de grande guerra. O fim de tudo, que seria: romper em peito de bando e bando, acabar com eles, liquidar com os jagunços, até o último, relimpar o mundo da jagunçada braba.

— “Somente que eu tiver feito, siô Baldo, estou todo: entro direto na política!”

Antes me confessou essa única sina que ambicionava, de muito coração: e era de ser deputado. Pediu segredo, e eu não gostei. Porque eu estava sabendo que todos já aventavam aquela toleima, por detrás dele até antecipavam alcunha: “o Deputado”... O mundo é assim. Mas, mesmo desse jeito, o pessoal todo não regateava a ele a maior dedicação de respeito. Por via de sua macheza. Ah, Zé Bebelo era o do duro — sete punhais de sete aços, trouxados numa bainha só! Atirava e tanto com qualquer quilate de arma, sempre certeira a pontaria, laçava e campeava feito um todo vaqueiro, amansava animal de maior brabeza — burro grande ou cavalo; duelava de faca, nos espíritos solertes de onça acuada, sem parar de pôr; e medo, ou cada parente de medo, ele cuspia em riba e desconhecia. Contavam: ele entrava de cheio, pessoalmente, e botava paz em qualquer rutuba. Ô homem couro-n’água, enfrentador! Dava os urros. E mesmo, para ele, parecia não ter nada impossível. Com tanta bobéia assim, desfrutável e escurril, e ai de quem pensasse em poitar olho de chacotas: morria vertiginoso...

— “O único homem-jagunço que eu podia acatar, siô Baldo, já está falecido... Agora, temos de render este serviço à pátria — tudo é nacional!”

Esse que já tinha morrido, que ele falava, era Joãozinho Bem-Bem, das Aroeiras, de redondeante fama. Se dizia, tinha estudado a vida dele, nos pormenores, com tanta devoção especial, que até um apelido em si se apôs: Zé Bebelo; causa que, de nome, em verdade, era José Rebelo Adro Antunes.
[...]

João Guimarães Rosa
Pequeno trecho da magistral obra Grande Sertão: Veredas
Editora José Olympio, Rio de Janeiro, 1ª edição, 1956.

Foto: Mark Nozeman, no sertão do Nordeste brasileiro.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Viúvas dos gorilas fazem protesto anti-Lula

Hoje à tarde em Porto Alegre, um grupo de manifestantes do movimento Luto Brasil protestou contra a presença do presidente Lula na Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul – Fiergs. Estavam vestidos de preto e portavam faixas e cartazes de apelo moralista. Um dos cartazes pedia a volta dos militares ao poder no Brasil.

A foto acima deve ser o sonho de consumo daqueles manifestantes para tratar os conflitos sociais do País.

Território cinzento

Estamos em plena temporada de caça ao voto visando as eleições municipais de 2008. Me explico: caça aos cabos eleitorais, lideranças comunitárias, posições de cabeça-de-ponte em entidades, clubes, associações, etc.

É agora ou nunca. As urnas de 2008 começam a falar é neste momento – agora, antes das convenções e das definições das nominatas majoritárias, coligações, etc. Vejam que começam a surgir os blogs eleitorais, oportunisticamente eleitorais.

Neste sentido, o ex-partido de vanguarda está com seus candidatos a vereador em febricitante mobilização... pelo voto, num contraste desolador com a apatia relativamente às tarefas que deveria desempenhar na luta social (ver post abaixo).

Vou contar um episódio acontecido semanas atrás. Um fato ilustrativo que habita o território cinzento situado entre a comédia e a tragédia. Vejam só!

Um certo ex-dirigente e burocrata petista quer concorrer a vereador em Porto Alegre, ano que vem. Para tanto, procura uma liderança da Lomba do Pinheiro, na zona leste da Capital guasca. A tal liderança surpreende-se com a manifestação de vontade do burocrata aspirante a vereador, dizendo:

- Tchê, companheiro, me admira que tu queiras ir para o parlamento burguês, fazer essa disputa rasa e despolitizada e ainda legitimar uma assembléia formada por uma maioria de oportunistas e carreiristas... me admira muito!

O burocrata responde:

- Companheiro, essa minha candidatura é pra mobilizar, agitar e fazer um barulho...

- Mas, então, - responde o líder comunitário interrompendo o burocrata – vamos entrar para uma escola de samba e bater tambor que o resultado é muito melhor!

O burocrata desanimado ainda deu um tapinha no ombro do outro e disse:

- Valeu! – e foi adiante em busca de incautos.

E o partido de vanguarda, onde está?

Quando se constatou a inevitabilidade da vitória do tucanato aqui no Rio Grande do Sul, através da professora neoliberal Yeda Crusius, muitos observadores – inclusive este blog – previram o advento de um tempo de grandes mobilizações de corporações, de sindicatos e de movimentos sociais.

Agora este tempo chegou. As mobilizações organizadas crescem a cada semana no Estado. Resultam do temor pelas ameaças de subtração de direitos, pela ameaça de alienação de patrimônio público, pelo descumprimento das funções mínimas do Estado, como saúde e educação, pela manutenção de incentivos e renúncia fiscal que implicam prejuízo grave ao Tesouro, pelo descontrole do Estado para com práticas predatórias ao meio ambiente, pelo desmonte da máquina pública, pela anomia administrativa, etc, etc.

De parte das entidades que estão se mobilizando, entretanto, falta uma coordenação geral unitária que organize todos os movimentos contra o Piratini de forma mais concentrada, racional, orgânica, com palavras de ordem unitárias, e em regime de convergência de energias políticas. Por exemplo: é necessária uma discussão sobre o ponto final das mobilizações, por enquanto a manifestação final é defronte ao Palácio Piratini. Mas é preciso cogitar de levá-la para a frente da sede da RBS, na avenida Ipiranga esquina com a Érico Veríssimo; afinal, a RBS é o partido real e efetivo que está no poder, é o núcleo orgânico deste poder e através de seus inúmeros veículos (jornal, rádio e tevê) pauta o debate político dizendo o que é certo e o que é errado na província de São Pedro. Dona Yeda é apenas uma marionete neste jogo de luzes e sombras do bloco no poder guasca.

Nesta hora, pois, é que falta um partido político de vanguarda, confiável e legítimo que dê a linha política unitária do movimento antineoliberal no Estado.

Mas onde está este Partido? Ele existe? Não existe? Se existe só cartorialmente, estará ele debaixo da cama?

A gênese da disciplina para o trabalho

Em A Ideologia Alemã, Karl Marx comenta os efeitos do progresso social, representado pela manufatura, e as repercussões disso no mundo da vida.

Com a manufatura, o comércio expande-se e o feudalismo tem dificuldades em reproduzir-se, e as cidades adquirem novas dimensões para receber o capital mercantil e manufatureiro.

Estamos no fim do século 15 e início do século 16, e Marx relata que "o início da manufatura foi acompanhado de um período de vagabundagem ocasionada pela dissolução das comitivas feudais, o licenciamento dos exércitos de aventureiros que haviam auxiliado os reis contra os vassalos, pela melhoria da agricultura e pela transformação em pastagens das grandes extensões de terras aráveis. [...] Tais vagabundos eram tão numerosos que, por exemplo, Henrique 8º da Inglaterra mandou enforcar 72 mil; e foi com as maiores dificuldades, forçados pela miséria extrema que, após longa resistência, esses párias se sujeitaram ao trabalho. A rápida evolução das manufaturas, principalmente na Inglaterra, absorveu-os progressivamente" – completa Marx.

Foto: Trabalho infantil intensivo como forma de acumulação primitiva nos Estados Unidos (veja mais aqui no acervo da Biblioteca do Congresso, USA). O trabalho infantil teve três funções no início do capitalismo: promover a acumulação primitiva, extrair mais-valia sem direitos, e disciplinar didaticamente para o trabalho, na vida social, frente ao Estado, às autoridades e às leis burguesas.

Contato com o blog Diário Gauche:

cfeil@ymail.com

Arquivo do Diário Gauche

Perfil do blogueiro:

Porto Alegre, RS, Brazil
Sociólogo