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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 31 de maio de 2011

Já se admite que Palocci deva cair


Ministros do PT são cotados para substituir Palocci


Desde o início da crise envolvendo o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, apesar das informações da Presidência de que ele não será demitido, indicam-se nomes de possíveis substitutos. Os três nomes mais citados, entre os petistas e outros partidos da base são o ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Paulo Bernardo (Comunicações) e Alexandre Padilha (Saúde). "Claro que tem muito olho crescendo na direção do cargo", disse um articulador do PT na Câmara. A informação é do jornal Valor Econômico, edição de hoje.


O nome mais forte nas especulações petistas é Pimentel. O titular do MDIC é amigo de longa data da presidente Dilma e militaram juntos contra a ditadura militar. Indicado pela própria presidente como um dos principais nomes da campanha presidencial do ano passado, acabou perdendo espaço com o surgimento do escândalo do dossiê contra os tucanos.


O segundo cotado para o cargo é o atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Bernardo e Dilma não eram próximos antes de 2003, mas se tornaram amigos durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Lula também gosta muito de Bernardo - até mais do que de Pimentel, já que este, quando era prefeito de Belo Horizonte, defendeu uma aliança com o PSDB de Aécio Neves para a sucessão na prefeitura e colocou o diretório nacional do PT com um pé atrás com a sua conduta.


Na semana passada, quando almoçou com senadores petistas, a residência escolhida por Lula foi a da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher de Bernardo, o que reforça o prestígio do casal. Bernardo também é o favorito dos setores do PT que se sentem pouco atendidos pelo governo.


Embora não citado diretamente ao cargo, o ministro Alexandre Padilha é lembrado como alguém que teve bom desempenho como coordenador político do governo Lula, ao ocupar o Ministério das Relações Institucionais, com a ressalva de que no período não houve crise do governo com o Congresso. Padilha poderia ao antigo cargo, fortalecendo o gabinete da presidente. Durante a transição, ele chegou a ser confirmado para permanecer na Pasta. Foi para a Saúde depois de Dilma desistir do secretário estadual de Saúde do Rio, Sérgio Côrtes.


Com a situação delicada de Palocci, o PMDB aumentou a pressão por mais espaço no governo. Segundo pemedebistas, existe uma longa lista de cargos abertos e que precisam ser preenchidos.


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O desgaste do governo Dilma é sensível, no caso Palocci. A queda do ministro é um requisito inadiável. A presidenta perde capital político a cada hora de permanência do chefe da Casa Civil, acusado de enriquecimento meteórico, em poucos meses do ano passado. 


O motivo da hesitação do Planalto é um enigma indecifrável, especialmente quando se sabe que o próprio Antonio Palocci foi derrotado ainda no governo Lula pelas fortes disposições desenvolvimentistas de Dilma e do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Reabilitado por um falso mito corrente no PT e alhures, segundo o qual Palocci era um elemento garantidor do apaziguamento dos chamados mercados (leia-se capital financeiro e especulativo), quando se sabe que esses mercados só se satisfazem com o combustível da remuneração dos seus papéis especulativos em escala crescente, nada mais. 


O movimento de retirada do ministro deve ser rápido e cirúrgico, sob pena de comprometer o conjunto da obra de Dilma, nestes mais de oitos anos de Esplanada. 
   

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ruralistas vaiam anúncio de morte de extrativistas do Pará


Era perto das 16h quando uma cena grotesca aconteceu no plenário da Câmara dos Deputados. O líder do Partido Verde, José Sarney Filho, lia uma reportagem sobre o extrativista José Claudio Ribeiro da Silva (foto), brutalmente assassinado pela manhã no Pará, junto com sua mulher Maria do Espírito Santo da Silva, também uma liderança amazônica. Ao dizer que o casal que procurava defender os recursos naturais havia morrido em uma emboscada, ouviu-se uma vaia. Vinha das galerias e também de alguns deputados ruralistas.A indignidade foi contada no Twitter e muito replicada. "Foi um absurdo o que aconteceu", diz Tasso Rezende de Azevedo, ex-diretor geral do Serviço Florestal Brasileiro. "Ficamos estarrecidos". A informação é do jornal Valor Econômico, edição de hoje 25/5.


O assassinato de Zé Claudio, como era conhecido, e de Maria do Espírito Santo aconteceu às 7h da manhã, a 50 km de Nova Ipixuna, sudeste do Estado, na comunidade de Maçaranduba. "Eles vinham no carro deles, indo para a cidade. Tinha uma ponte meio danificada no igarapé. Ele desceu para ver e ali foi a emboscada", conta Atanagildo Matos, diretor da regional Belém do Conselho Nacional das Populações Extrativistas, o ex-Conselho Nacional dos Seringueiros. Zé Claudio foi morto fora do carro, Maria foi baleada dentro do veículo. Uma orelha foi arrancada pelos pistoleiros, conta Atanagildo, o primeiro a ser avisado por Clara Santos, sobrinha de Zé Claudio.


O casal vinha sofrendo ameaças desde 2008. "É um área muito tensa, que vinha sofrendo muita pressão de madeireiros e carvoeiros", conta Atanagildo. "Era a última área da região com potencial florestal muito bom. Zé Claudio e Maria resistiam muito ao desmatamento." Os dois viviam em Nova Ipixuna há 24 anos, em um terreno de 20 hectares no Projeto de Assentamento Agroextrativista (Paex) Praialta - Piranheira, às margens do lago de Tucuruí. Extraíam óleo de andiroba e castanha.


Em palestra em novembro, no evento TEDx Amazônia, Zé Claudio denunciava o desmate. "É um desastre para quem vive do extrativismo como eu, que sou castanheiro desde os 7 anos da idade, vivo da floresta e protejo ela de todo jeito. Por isso, vivo com a bala na cabeça, a qualquer hora".


Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência estava no Fórum Interconselhos quando um dirigente da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) deu a notícia. Foi ao Palácio, relatou à presidente Dilma Rousseff e ela determinou ao ministro da Justiça José Eduardo Cardozo que a Polícia Federal apure o assassinato dos sindicalistas.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Reinvenção democrática para além da democracia liberal


Grito sem voz

Desde o dia 15 de maio, as praças nas cidades espanholas foram tomadas por jovens manifestantes (foto). As imagens parecem evocar as megamanifestações egípcias na praça Tahrir, com seus acampamentos e sua insistência.

As exigências não são muito diferentes: revolta contra um processo econômico de pauperização social e concentração de riquezas, exigência de uma reinvenção democrática que nos leve para além dos limites da democracia liberal com (no caso espanhol) o velho sistema de dois partidos que se alternam no poder: o da direita descomplexada e o da esquerda envergonhada.

No entanto a Espanha foi às urnas no domingo, dando a vitória ao direitista PP. Como explicar o paradoxo de um país assolado por megamanifestações juvenis, mas que vota em um partido cuja plataforma eleitoral representa apenas o aprofundamento dos princípios econômicos que geraram a crise que deixou a Espanha de joelhos?

Talvez seja o caso de lembrar que vemos um profundo hiato entre as opções eleitorais e as expectativas de mudança cada vez mais presentes nas massas europeias (já vimos cenas parecidas em Portugal e na Grécia). Este é o resultado da ausência de uma "terceira geração" de partidos de esquerda.

A primeira geração foi marcada pela polaridade entre partidos sociais-democratas e partidos comunistas. A partir dos anos 1980, grandes partidos comunistas (como o italiano e o francês) entraram em colapso. Uma "onda rosa" social-democrata invadiu a Europa com Tony Blair, Gerard Schroeder, Lionel Jospin e resultados sociais vergonhosamente pífios. Estes dois modelos de partidos esgotaram-se.

A segunda geração foi marcada pelos partidos verdes e por alguns partidos libertários que nasceram no bojo das exigências emancipatórias de maio de 68.

Hoje, os partidos verdes são, cada vez mais, partidos de centro que fornecem a roupagem ideológica para a nova aliança entre um sistema financeiro embalado pela "bolha verde" e a má consciência de uma classe média que prefere não ouvir falar em conflito de classe. Dos partidos libertários, não sobrou sequer rastro.

Falta, pois, um terceira geração de partidos ou agremiações de mobilização eleitoral capazes de dar representação política a uma massa disposta a lutar pela efetividade de princípios reguladores como igualdade e liberdade social.

Liberdade que não seja bloqueada pela transformação do Estado em ambulatório de bancos falidos embalado pelo discurso do caráter inevitável do desmonte de sistemas elementares de seguridade social. Enquanto este passo em direção à institucionalização da revolta não for dado, giraremos em falso.

Artigo do professor Vladimir Safatle, publicado hoje na Folha.

“Palocci está liquidado politicamente”


Palocci não tem mais condições de ficar, dizem cientistas políticos


O chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, tem até o início de junho para explicar sua evolução patrimonial à Procuradoria Geral da República (PGR). Com base na justificativa, a Procuradoria decidirá se abre inquérito contra o ministro, como pediram partidos adversários do governo (PPS e DEM). A reação da PGR aos esclarecimentos será decisiva para o futuro de Palocci. Independentemente disso, no entanto, cientistas políticos acreditam que o enfraquecimento do ministro não tem volta e que ele já não reúne mais condições de permanecer no coração do governo.


“Palocci está liquidado politicamente. Está numa situação muito precária e indefensável”, diz Fabio Wanderley Reis, professor emérito de ciência política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para ele, é sintomático da fraqueza do chefe da Casa Civil, e da impossibilidade de continuar no núcleo da gestão Dilma Roussef sem prejudicar a presidenta, que o ministro tenha sido alvejado de forma contundente apenas quatro meses depois de assumir. “Essa tentativa de alegar confidencialidade é bizarra e insustentável. Por que não dizer quem são os clientes?”, questiona o professor.


Palocci é suspeito de enriquecimento ilícito por ter amealhado patrimônio milionário nos últimos anos. Sem ter salário suficiente, como deputado, para justificar a compra de um apartamento de R$ 6,6 milhões em São Paulo, o ministro afirma que ganhou dinheiro prestando consultoria econômica e financeira por intermédio da empresa Projeto, da qual é sócio com 99% das ações.


Adversários e até mesmo aliados do governo cobram de Palocci que abra o nome da clientela da Projeto, para afastar dúvidas sobre a empresa ser, na verdade, fachada para tráfico de influência. Ele argumenta, entretanto, que precisa preservar o nome dos clientes, pois seus contratos tinham cláusula de confidencialidade.


“Esse caso é muito forte. Um autoridade pública, como o ministro-chefe da Casa Civil, que exerce um um cargo estratégico como ele, não pode ter negócios secretos”, afirma o cientista político João Paulo Peixoto, da Universidade de Brasília (UnB). “Palocci já passa por um retraimento, o que é natural na situação dele, já está frágil no governo. E a oposição será contundente. Talvez ele não tenha como ficar”, completa.


Os partidos adversários do governo estão tentando convencer deputados e senadores aliados de Dilma Roussef a apoiar a abertura de CPI contra Palocci. Sozinha, a oposição não tem força suficiente para impor a investigação. Esse é um risco para o governo, que vinha endurecendo com aliados e criou insatisfeitos que agora podem querer dar o troco. “Obviamente, a oposição, que estava sem rumo e sem discurso, não vai entregar facilmente esse presente”, diz Fabio Wanderley.


Mas também há quem ache ser preciso esperar mais um pouco, antes de decretar o fim da linha para o chefe da Casa Civil. “Não estou convencido de que há uma crise incontornável”, afirma Fabiano Guilherme Santos, presidente da Associação Brasileira de Ciência Política. “É possível que existam elementos para enfraquecer o Palocci a ponto de ele não permanecer no governo. Por outro lado, não há nada, até agora, que indique que ele ultrapassou limites éticos e legais.”


Professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Guilherme Santos acredita que, se tiver de substituir Palocci, Dilma ficará sem um auxliar com boa interlocução junto ao sistema financeiro, que não é fã do governo. Para Fabio Wanderley, se houver a troca, um bom palpite sobre o sucessor seria o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que tem experiência em negociar com o Congresso (foi deputado e ministro do Planejamento, pasta encarregada de administrar emendas parlamentares).


Artigo do jornalista André Barrocal, do portal Agência Carta Maior.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A dimensão e a medida da pobreza extrema: o caso do RS


É quinta-feira próxima no auditório da Economia (UFRGS), avenida João Pessoa, 52 - Porto Alegre

Como multiplicar seu patrimônio


A fórmula é antiga na política brasileira. Em primeiro lugar você tem que ocupar um cargo público com poder decisório. Quanto mais relevante o cargo, maior o potencial de retorno financeiro ao seu ocupante.

O segundo passo é estabelecer boas relações com o poder econômico, principalmente com concessionárias e fornecedores do Estado. Lembre-se, é indispensável o alinhamento aos interesses privados. Promova privatizações, concessões, parcerias público/privadas, regulamentações que atendam ao interesse privado. O interesse público e nacional deve sempre ficar relegado ao segundo plano. Em primeiro lugar sempre o interesse do "mercado", leia-se das oligarquias dominantes.

Não se preocupe com o oligopólio midiático. Ele promoverá sua imagem de competência técnica e defenderá suas decisões como "modernas", "acertadas" e "fundamentais para o crescimento econômico" (só não dizem de quem?). Se você conseguir promover privatizações de rodovias, do sistema de saneamento ou de empresas estatais, maior será o retorno do seu investimento. Caso consiga privatizar monopólios naturais (como o setor energético) ou setores estratégicos (como a Infraero) mais sucesso terá nessa carreira. Ocupar um acento no Comitê de Política Monetária (COPOM) ou no Banco Central pode render bons frutos no futuro com os barões das finanças.

Observados os compromissos anteriores com sucesso e fidelidade aos senhores do "mercado", você estará apto a "realizar consultorias econômicas" e justificar a multiplicação e crescimento exponencial do seu patrimônio. Não se preocupe, a fórmula é certeira independentemente da sua formação profissional. Funciona para todos, médicos, jornalistas, funcionários públicos de carreira, etc.

A grande questão é saber até quando o povo brasileiro vai tolerar a privatização do Estado.

Pescado do blog O Partisan

domingo, 22 de maio de 2011

Imagens e falas da Espanha



Produzido por Attac TV, Espanha.

Espanha Insurgente



Um fenômeno sóciopolítico novo já havia se manifestado nas insurgências (é prematuro classificá-las de "revoluções") dos países árabes, agora parece se repetir na Espanha: a forma partido exibe o esgotamento quase definitivo. Todo o espectro partidário dá mostras de comprometimento com o sistema. A multidão repele a liderança de partidos que já não têm mais nada a dizer. Novas formações orgânicas de ocasião se criam, garantindo apenas que nada está garantido.


Preocupa, neste caso, é a quase ausência de discurso político. Estamos diante de ação pura. Uma práxis sem lexis, sem fala.  

quarta-feira, 18 de maio de 2011

“Pequeno grupo de terroristas financeiros querem porque querem a volta da inflação” – diz Ipea



As instituições financeiras trabalham para "sabotar" as medidas do Banco Central, para conter o crédito e defendem juros mais elevados, focadas apenas em seus "próprios interesses e resultados". A opinião é do coordenador do Grupo de Análise e Projeção do Ipea, Roberto Messenberg. A informação é da Folha Online.


Para Messenberg, o uso de juros maiores como instrumento de política monetária é mais vantajoso para bancos e outras instituições do que as medidas macroprudenciais de restrição crédito - que afetam as operações bancárias "mais rentáveis", ao ampliarem compulsórios e cortarem recursos disponíveis para empréstimos.


Diante dessa discordância, diz, teve início uma campanha para difundir que a "inflação está fora de controle", o que não é, segundo Messenberg, verdade. Para o economista, o patamar mais elevado da inflação neste ano se deve a dois fatores: no mercado internacional, os preços mais altos das commodities (alimentos, minérios e energia) puxam os preços para cima no Brasil; já no cenário doméstico, a pressão vem principalmente do setor de serviços.


"Não há descontrole da inflação. O que há é que muitos querem sabotar [as ações de política monetária do BC]."


Para Messenberg, antes, as instituições financeiras e um grupo "pequeno, mas ativo" de críticos havia tentado fazer "terrorismo" na área fiscal, apontando descontrole nesse campo. Feito o ajuste fiscal do governo, eles perderam "esse argumento" e passaram a centrar fogo na inflação.


O economista criticou, porém, a intensidade e o modo que o ajuste fiscal foi realizado pelo governo, cortando gastos de investimentos - necessários para ampliar o potencial de crescimento da economia brasileira e eliminar o histórico de "voo de galinha" da país, que oscila anos de boa expansão do PIB com outros de baixo incremento.

Lucro dos oligopólios é que pressionam os preços, não os salários



A inflação não pode ser considerada resultado de reajuste salarial em razão da existência de diversos fatores, na opinião da economista da subseção do Dieese na CUT, Patrícia Pelatieri. A afirmação vem em apoio ao artigo do presidente da central, Artur Henrique, publicado no jornal O Globo na última quinta-feira (12). No texto, ele defende que o salário não é o motivo de uma possível inflação e sim o lucro dos oligopólios.


"Neste meio, já começa a mostrar o declínio da inflação mas muito mais pelo impacto do combustível do que de qualquer outra coisa", citou a economista em referência à recente alta da gasolina. "Não existe mágica na economia. Temos uma produção de riqueza no país, que é distribuída entre lucros e trabalho. Se você aumenta muito um dos campos, você tem que diminuir o outro senão não cabe. A questão é que, o que a gente vê a mais, é de que o que aumentou muito foi a margem de lucro e o salário subiu muito pouco", ressaltou.


No artigo, Artur critica a tributação adotada e reitera a necessidade de uma reforma. "O fato de a estrutura tributária ser regressiva, punindo quem ganha menos, também causa inflação, pois os impostos incidem majoritariamente sobre o consumo e são repassados diretamente aos preços", lembrou. Os setores oligopolizados na indústria, por ter menos concorrência, também aumenta as chances de que preços sejam elevados, segundo ele.


Dados de balanço realizado pelo Dieese sobre os componentes da inflação revelam que houve aumento de 3,5% das taxas acumuladas de bens e serviços no Índice do Custo de Vida (ICV) nos primeiros quatro meses de 2011, em conjunto com o consumo das famílias a 60,6% do PIB em 2010, ante 21,2% de gastos do governo. A conclusão da pesquisa é de que não existem causas definidas para inflação. O responsável direto para a alta de preços seria um conjunto de situações como o aquecimento de demanda, tarifas públicas, inflação mundial e oligopólios, afastando a teoria de que os reajustes salariais seriam causas da aceleração da inflação.


Patrícia ressalta ainda que as negociações coletivas buscam somente reivindicar ganhos que já foram consolidados pelas empresas. "Na verdade, quando você discute reajuste salarial, você é está discutindo o passado e não o futuro. Não há indexação de inflação. Está se discutindo o passado que foi, em alguma medida incorporada pelo capital", disse.


Em resposta às repercussões, a CUT organizará mobilizações no segundo semestre, além de atualizar a pauta de reivindicações. "É tempo de ousadia, especialmente para mostrar nossa contrariedade com a ideia de que aumentos reais de salário podem representar uma ameaça ao controle da inflação no Brasil", disse Artur em seu artigo.


A informação é de Letícia Cruz, da Rede Brasil Atual.

terça-feira, 17 de maio de 2011

“A guerra que você não vê” – o documentário



Neste filme, o jornalista, escritor e documentarista John Pilger expõe como os grandes meios de comunicação dos países imperialistas (assim como seus representantes nos países periféricos) manipulam as informações com o objetivo de justificar suas guerras de rapina e outras políticas contrárias aos interesses das maiorias populares. John Pilger revela como estes meios agem de modo orquestrado para beneficiar as políticas imperialistas dos Estados Unidos, por exemplo, e de seus agentes no Oriente Médio (Israel).


A vida humana nada conta para estas potências, nem para a mídia que as defende. Nada está por cima dos interesses econômicos ou estratégicos militares dos Estados e grupos econômicos que exercem a hegemonia política no planeta. As cenas das atrocidades cometidas no Iraque, no Afeganistão e na Palestina são amostras do grau de perversidade a que se pode chegar com o objetivo de garantir privilégios.


Duração: 1h36min

Plano de Ajuste Interpessoal

Daniel Paz e Rudy

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Ao amigo Minhoca, que partiu hoje


Santo e senha

Deixem passar quem vai na sua estrada.
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada.

Deixem, que vai apenas
Beber água de Sonho a qualquer fonte;
Ou colher açucenas
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.

Vem da terra de todos, onde mora
E onde volta depois de amanhecer.
Deixem-no pois passar, agora

Que vai cheio de noite e solidão.
Que vai ser
Uma estrela no chão. 

Miguel Torga

terça-feira, 10 de maio de 2011

Enfim, os EUA já podem dormir em paz

Angeli

Formando adolescentes ao sabor dos ventos



Um equívoco


O Ministério da Educação está prestes a cometer um grave equívoco. Na semana passada, o Conselho Nacional de Educação aprovou diretrizes "flexibilizando" o ensino médio. Tais diretrizes dão às escolas públicas e privadas autonomia para compor a grade curricular de seus alunos a partir de quatro obscuros eixos temáticos: trabalho, tecnologia, ciência e cultura.


Tal possibilidade de composição visa, entre outras coisas, favorecer o agrupamento de disciplinas, que se organizarão a partir de projetos comuns capazes de levar em conta os interesses específicos das comunidades nas quais as escolas estão inseridas.


As novas diretrizes ainda sugerem que a lei que aumenta em 20% o número de horas-aula leve em conta atividades fora da sala de aula.


O argumento para a primeira modificação é a adequação às particularidades. Uma escola em área industrial poderia, assim, dar mais ênfase a disciplinas como física e química. Certamente, para fornecer mão de obra mais adequada para as industrias locais.


Uma outra, estabelecida em área turística, talvez pudesse ensinar uma versão "Club Med" [foto] de geografia.


Vejam que interessante. Em um momento no qual se insiste na necessidade de formações capazes de abrir nossos alunos para realidades globais, resolve-se formá-los para trabalhar melhor na fábrica de tecidos da esquina. Como se eles passassem o resto de suas vidas no mesmo lugar.


Há de se perguntar se não necessitaríamos, na verdade, da definição de um currículo básico unificado a ser ministrado em todas as escolas e cuja aplicação adequada seria objeto de avaliação feita por uma inspetoria nacional.


Não creio haver alguém que discorde da importância de ensinar, de maneira aprofundada, as causas da Segunda Guerra, equações de segundo grau, o sistema literário brasileiro e as leis de Newton, em São Paulo ou em Roraima.


Podemos não estar de acordo sobre todos os conteúdos, mas se o Ministério da Educação ouvisse diretamente os professores, certamente ele seria capaz de criar um currículo básico que não colocaria nossos alunos à mercê dos caprichos do dia.


Tais caprichos ficam claros em ideias como "agrupamento de disciplinas". Trata-se de organizar os conteúdos através dos interesses mais imediatos, normalmente aqueles ligados a notícias que aparecem na imprensa.


Assim, se a notícia do mês é o terrorismo islâmico, então agrupa-se disciplinas de história, geografia etc. para "criar projetos" capazes de dar conta da curiosidade geral.


Se nada aparecer sobre "ditadura militar", então seus conteúdos serão secundarizados. O mínimo que se pode dizer é: triste o país que forma seus adolescentes ao sabor dos ventos.


Artigo do professor Vladimir Safatle, do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP). Publicado hoje na Folha.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O que a publicidade vende é exclusão


Fetiches e perversões


O casal jovem está sentado frente a frente na mesa de um restaurante caro. A cena reproduz o tipo de encontro que já está configurado no imaginário romântico de nossa época. É nas mesas de bares e restaurantes, frente a frente, que as pessoas flertam, se declaram, se encontram para conversar e namorar. Sabemos que o encontro amoroso, assim como todas as relações humanas, é atravessado por alguns objetos: a decoração da sala, a comida e as bebidas, as roupas e adereços dela e dele. 


O encontro amoroso não acontece entre dois; ele é mediado pela linguagem, que se faz presente também na forma de objetos que a cultura e a classe social consideram adequados para a ocasião. Assim o vinho, os talheres, a música ambiente, a comida e o preço da comida participam do encontro, demarcando e ao mesmo tempo preenchendo um intervalo entre os parceiros. Este intervalo, esta descontinuidade entre um e outro é que permite a circulação do desejo, como se fosse – mas não é – o puro desejo de um pelo outro.


Na cena que descrevo, o rapaz está tentando dizer algo à moça. Começa timidamente, hesita – o espectador percebe que ele esboça um pedido de casamento. Mas o olhar da moça é distante. Custamos a interpretar seu sorriso de polida indiferença, até que a câmera faz um giro e conduz nosso olhar para fora da janela, para onde o olhar da moça se dirige. Lá está um carro novinho, de cuja marca não me lembro (mas sei que é vermelho). Quando o noivo, cada vez mais embaraçado, termina seu pedido, ela cai em si e pergunta: “desculpe, o que você dizia…?” A ironia é confirmada pela voz do locutor que alerta os espectadores para o objeto que realmente interessa às moças casadoiras. Se o rapaz não puder oferecer a ela o carro x, desista da empreitada.


O carro introduz-se entre os dois namorados não como um objeto a mais entre os outros – vinho, talheres, cardápio, preço – uma série cujos elementos podem sempre ser substituído por outros. Nessa propaganda, o carro não é um entre os muitos objetos mediadores do desejo (sexual); é ele, este artefato mecânico revestido de lata e tinta brilhante, que se instala no lugar de um dos parceiros como se fosse o próprio objeto do desejo. 


Se os outros acessórios fálicos recortam o lugar da falta a partir do qual o desejo circula, o carro x, que desvia a atenção da mulher no momento em que o homem lhe pede que seja sua esposa, está no lugar (imaginário) do objeto (simbólico) do desejo. Agora, o homem é que ocupa o lugar acessório; casar-se com ele seria, para ela, apenas um meio de acesso ao gozo/carro. O homem tornou-se supérfluo diante do único bem que interessa à moça de maneira absoluta. 


O carro é o objeto irrecusável do desejo, tanto dela quanto do espectador, convocado a identificar-se não com o olhar ingênuo do moço, que ignora o que sua noiva vê, mas com o olhar indiferente e sonhador dela, focando o carro zero estacionado do lado de fora. Ao contrário da mulher freudiana, esta personagem publicitária sabe exatamente o que quer; diante disso o pretendente, que lhe oferece o pobre substituto de um compromisso de amor, faz papel de otário.


Como bem lembrou Eugênio Bucci em vários de seus artigos sobre televisão para a Folha de S. Paulo e o Jornal do Brasil, o apelo psicológico comum a todas as formas de publicidade visa à dinâmica da inclusão e da exclusão. A publicidade, escreve Bucci, vende sempre a mesma coisa: a proposta de uma inclusão do sujeito às custas da exclusão do outro. A identificação do espectador como consumidor do produto que se apresenta como capaz de agregar valor à sua personalidade promove sua inclusão imaginária no sistema de gosto, na composição de estilos, que move a sociedade de consumo. 


Goza-se com isso: não tanto da própria inclusão (que pode não passar de uma fantasia), mas da exclusão do outro. O que a publicidade vende, portanto, é exclusão. Não é imprescindível que a exclusão seja de classe, como ocorre em outro anúncio em que os meninos de rua que pedem para tomar conta e limpar os carros ao preço de um real brigam pelo privilégio de polir o modelo top de linha de um feliz playboy que acabou de estacionar. A exclusão pode ser de estilo. 


Durante a copa, um comercial de cerveja mostrava um torcedor que errou ao oferecer uísque em vez de Skol aos amigos que foram assistir ao jogo em sua casa. Diante da gafe imperdoável, foram todos tomar a cerveja certa no bar ao lado, excluindo o anfitrião da alegria coletiva. Não foi uma troca de produto – a cerveja pelo uísque – mas de companhia. O uísque, bebida errada na hora errada, desqualificou o anfitrião perante seus amigos. Este mostrou-se tão otário quanto o pretendente da moça do primeiro comercial que não entendeu qual seria o verdadeiro objeto da sua paixão. É óbvio que a relação que se estabelece é entre as pessoas e as coisas. Ou entre as próprias coisas, que se relacionam, se avaliam e se atribuem significações na medida em que as pessoas (reduzidas a consumidores) se perfilam diante de suas marcas.


Aquela mulher que sabe o que quer, no entanto, não é o mestre do gozo na pequena peça publicitária que escolhi para abrir esse artigo. Se ela sabe que quer é porque um outro, em posição de mestria, lhe apresentou um objeto imperativo da satisfação garantida. Para nós, espectadores, o mestre é o publicitário. É ele quem dirige nosso olhar para o objeto que atrai o olhar dela. É ele quem promove a iniciação dos sujeitos desejantes, convocados desde o lugar de consumidores, em relação às possibilidades de gozo em circulação no mercado. Mas para a personagem do filme de propaganda, no qual a autoria do publicitário está elidida, o objeto do desejo se apresenta por conta própria, como por obra dos deuses do acaso. Ele entra em cena através de um giro da câmera que conduz, “naturalmente”, o nosso olhar; está ali, na calçada fora do restaurante, para que a moça reconheça em suas formas, em sua cor vermelha, mas acima de tudo na marca de fabricação, o objeto inquestionável do desejo.


Os deuses do acaso dispõem as mercadorias em circulação no mundo contemporâneo como o antigo Deus cristão dispunha das forças da natureza para abençoar ou castigar seus fiéis. Uma nova versão imaginária do Outro ocupa o lugar – lugar de um Ser onipresente, onisciente e onipotente – deixado vazio quando parte da humanidade deixou de orientar suas escolhas a partir da crença no Deus judaico-cristão. 


Um Outro que enuncia o que deseja de nós e promete suas bênçãos para aqueles que melhor se dispuserem a atender suas demandas. Este Outro pode ser, simbolicamente, o Mercado, filho enviado à terra por seu Pai, o Capital – abstrações sem nome e sem rosto que determinam nosso destino e, de um lugar simbólico fora do nosso alcance, nos submetem às leis inflexíveis do Seu gozo.


Artigo da psicanalista Maria Rita Kehl, doutora em psicanálise pela PUC de São Paulo, poeta e ensaísta. Publicado originalmente no blog da Boitempo.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Dilma começa a enfrentar os grandes tubarões de águas turvas


Contrariar interesses empresariais, a agenda silenciosa de Dilma


O principal assunto dos cem primeiros dias da gestão Dilma Rousseff, a consumir a energia presidencial, foi o combate da inflação. A pressão sobre os preços é anterior à posse de Dilma e, na avaliação do Palácio do Planalto, parece sob controle, graças a uma combinação de ações do Ministério da Fazenda e do Banco Central. Com isso, aos poucos, o governo começará a impor sua própria agenda. Foi o que fez ao lançar, dia 28 de abril, programa para incentivar o ensino em escolas técnicas, o Pronatec. Em maio, anunciará plano contra a pobreza, principal bandeira da atual administração.


São iniciativas que o governo faz questão de divulgar com pompa, em solenidades com a presidenta. Mas há também uma agenda silenciosa, sobre a qual se fala de forma mais discreta, em gabinetes e corredores. Aproveitar a folgada maioria no Congresso e a fragilidade dos adversários para, mesmo fora do ambiente parlamentar, enfrentar e contrariar interesses empresariais que atrapalhariam o desenvolvimento e o interesse nacional.


No mesmo dia em que anunciou o Pronatec, por exemplo, Dilma assinou medida provisória (MP) que permite aos Correios montar um banco e atuar como operadora de telefone celular. A intenção é botar a estatal para acossar o sistema financeiro e as telefônicas e derrubar o preço das tarifas cobradas da população nas duas áreas.


O ministério das Comunicações, a quem os Correios se subordinam, tem orientação "incisiva" de Dilma, de acordo com o ministro Paulo Bernardo, para tocar o Plano Nacional da Banda Larga (PNBL) a todo o vapor. É um projeto que também bate de frente com as telefônicas, que praticam preços que o governo considera altos demais e agora, vêem a rediviva Telebrás no seu encalço.


Dias antes de assinar a MP dos Correios, Dilma havia convocado à sua sala o presidente de quatro bancos públicos – Banco do Brasil, do Nordeste, da Amazônia e Caixa Econômica Federal – para cobrar que façam mais empréstimos do tipo “microcrédito”. É uma modalidade de crédito criada no governo Lula para pessoas pobres pegarem dinheiro a juros mais baixos, mas que o sistema financeiro boicota, por falta de interesse (lucro).


Ainda em abril, o governo viu sacramentar a troca no comando na Companhia Vale do Rio Doce, cujo ex-presidente, Roger Agnelli, tinha uma filosofia que desagradava o Palácio do Planalto desde a gestão Lula. A mudança resultou de uma operação liderada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, com respaldo de Dilma. O governo acredita que, com o novo presidente, Murilo Ferreira, conseguirá influenciar a Vale a ter uma postura mais favorável ao que entende ser do interesse nacional. Exemplo: finalmente tirar do papel a construção de siderúrgicas no Brasil, em vez de só exportar minério de ferro.


A troca da direção da Vale é um caso ilustrativo de como o governo tira proveito político da fragilidade atual dos adversários. Se a oposição não estivesse reduzida e desarticulada, aposta-se que Agnelli teria mais chance de resistir no cargo. Ele apelaria aliados no PSDB e no DEM para acertar alguma forma de reação no Congresso ou junto à opinião pública que poderia ter feito o governo abandonar a pressão.


O governo prepara-se ainda para instituir um fundo de pensão exclusivo para funcionários públicos, a fim de utilizá-lo como arma de captação de recursos e, com isso, também “contrariar interesses”. É possível criá-lo desde 2003, quando o Congresso alterou a Constituição para servidor público pagar contribuição previdenciária a um fundo específico. Mas não nasceu até hoje porque depende de lei. É um projeto com tal proposta de lei que o governo finalizará em breve.


O Palácio do Planalto calcula que, com a contratação federal média de 20 a 25 mil servidores por ano, o fundo tem potencial para ser tão poderoso quanto a Previ, dos trabalhadores da Petrobras, o maior da América Latina, com patrimônio superior a R$ 150 bilhões.


No controle do fundo, que por um tempo apenas coletará dinheiro, sem ter de pagar aposentadorias, o governo escolherá onde investir. Poderá usá-lo, por exemplo, para rolar a própria dívida pública, a juros menores, contrariariando o “mercado” de novo. Fundos de pensão detém hoje 15% da trilionária dívida federal, segundo a Secretaria do Tesouro Nacional, que tem feito reuniões com gestores de fundos para incentivá-los a comprar mais títulos públicos.


Os banqueiros, aliás, serão alvos preferenciais da disposição presidencial de “contrariar interesses”. Como ela disse em viagem recente à China, o país tem “o grande desafio” que “vai ter de enfrentar, pelo menos desta vez”, de derrubar a taxa real de juros, a maior do planeta. A equipe econômica recebeu a orientação de Dilma de estudar como fazer para diminuir os chamados spreads bancários, pedaço das taxas de juros que se reverte em lucros bancários. “O mercado será um foco de tensão permanente com o governo”, afirma um assessor do Palácio do Planalto.


Mesmo no processo de domar a inflação, agenda herdada de 2010, o governo já enfrenta o “mercado” e os bancos. A presidenta dá apoio total para que a área econômica enfatize o uso de medidas alternativas ao juro do BC contra o aumento dos preços. Ela acredita que, quanto menos a taxa do Banco Central subir agora, menor será o patamar a partir do qual o governo terá de forçar sua redução até níveis "compatíveis com as taxas internacionais", como diz Dilma.


Ao montar a cúpula do BC, a presidenta já havia sinalizado suas intenções. Dos sete diretores, cinco são funcionários de carreira do banco, sem passagens pelo “mercado” - portanto, menos suscetíveis às influências do pensamento no setor.


Artigo de André Barrocal, publicado hoje no portal Carta Maior.

domingo, 1 de maio de 2011

O beato assustador






Enfim, o canalha fundamental, o pai de todos os canalhas de nosso tempo: o beato-canalha 


A Igreja cria, por um artifício de marketing santeiro, um ícone para representá-la na sua opção preferencial pelos ricos. O papa Woitila, o mais novo beato em trânsito para a santificação, é o estandarte-conceito da direção terrena da Igreja romana. Rumo acelerado à defesa do atraso e do regressismo. O beato Woitila é uma tentativa de paralisação do processo de decadência da evangelização urbi et orbi, representa uma guinada à direita, uma aposta no obscurantismo, e na manutenção do mandonismo dos mais ricos sobre os pobres - pela eternidade.


Os dirigentes hegemônicos da Igreja católica chapinham numa contradição antagônica insustentável, qual seja, continuam sendo o esteio de um mundo decaído através de dogmas e certezas risíveis em oposição aguda a uma realidade repleta de incertezas e prenhe de possibilidades criativas. 


O circo místico acabou e se esqueceu de tombar.  


Cristo – uma histórica formulação ético-moral edificante ou a sua representação religioso-cultural (como vocês quiserem) – deve estar ofendido nesta hora. 


Não é para menos.


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P.S.: O que pensar dos que abandonam o Cristo fundador em nome da cobiça pelas moedas seculares de César?



Dia dos Trabalhadores e Trabalhadoras



Com a banda marselhesa Dupain, influenciada por acentos do flamenco andaluz, do blues mediterrâneo e da musica tribal do Magreb. Um estranhamento sonoro que contesta, humaniza e seduz.

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