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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

domingo, 30 de setembro de 2007


Cavalo do comissário sai na frente em Porto Alegre

Pantaleão Kalil manda comentário sobre a pesquisa RBS-Ibope, divulgada ontem.

A primeira pesquisa IBOPE contratada pelo "partido político" RBS deve ser analisada com muita reserva, pois como qualquer abordagem desse tipo, principalmente faltando 12 meses para as eleições, envolve manipulações mas, ao mesmo tempo, não pode encobrir a verdade por inteiro.

Uma coisa é certa: o PT não consegue contrapor-se como a única opção aos candidatos da direita como aconteceu até um passado recente. Agora, muito próximo ao petismo, e a pesquisa mostra isso, apresentam-se outras opções no leque da esquerda.

Dentro do espectro petista é necessário levantar uma questão: a diferença entre Maria do Rosário e Miguel Rosseto é tão significativa assim? Ou a pesquisa, espertamente, força a barra com o objetivo de influenciar a prévia do PT e ver vitoriosa a candidatura menos indigesta?

As grandes novidades, com boa performance eleitoral, são Manuela e Luciana que aparecem sempre empatadas tecnicamente com Maria do Rosário. Aliás, com a margem de erro de quatro pontos percentuais para mais ou para menos, nos cenários mais importantes para o primeiro turno, a situação também é de empate técnico, pela margem de erro, entre Fogaça-Rosário-Manuela ou Fogaça-Rosário-Luciana.

Nas simulações para o segundo turno a situação de empate técnico entre Fogaça e Rosário ou Fogaça e Manuela se torna mais próxima E nesse ponto é interessante introduzir a questão da rejeição, onde vamos encontrar Fogaça em primeiro lugar com 29%, seguido por Maria do Rosário com 15%, Luciana Genro com 14% e Manuela D’Ávila com 10%.

Considerando a boa preferência entre o eleitorado e a baixa rejeição com base nos dados desse primeiro levantamento realizado pelo IBOPE, a candidatura de Manuela seria forte indicada para um segundo turno com José Fogaça. O que pesa contra a jovem candidata do PCdoB é a sua inexperiência, a escassa estrutura e o pouco tempo que seu partido terá no rádio e na TV.


sábado, 29 de setembro de 2007


Os “fazendeiros” de São Sepé e a lembrança do futuro

Ontem conversei por telefone com um jornalista que está em São Sepé, onde um grupo de ruralistas-fazendeiros fazem manifestações provocativas a militantes do MST que marcham rumo a Santa Maria, motivados por uma pauta legítima de lutas seculares.

Esse profissional, que conhece a região, me dizia que os ruralistas manifestantes nem chegam a ser fazendeiros, no sentido clássico da palavra. Trata-se de uma classe média de origem rural, cujas propriedades – hoje diminutas – foram de seus avós e bisavós, mas que ainda consegue mantê-los em regime estrito de sobrevivência, como para “manterem o penacho erguido”. Portanto, a reação deles advém muito mais das terras que já possuíram do que dos retalhos que ainda mantém. Os sem-terras são uma afronta simbólica, por que podem materializar o futuro a que estão destinados. É uma “lembrança do futuro” no sentido surreal, o medo de resvalarem como classe para àquela situação que rechaçam.

Os fazendeiros quebrados sabem que seu inimigo real é o capital financeiro, que lhes come nacos de propriedade e safra a cada ano, entretanto, os bancos não tem a presença física como a das famílias de agricultores mal vestidos, os bancos são assépticos e contra eles pouco ou nada se pode fazer.

É mais fácil provocar covardemente famílias despossuídas do que ameaçar os bancos e o poder “naturalizado” do capital financeiro.

São Sepé é o Rio Grande rural dos maragatos que declina na penúria e não quer aceitar o futuro, porque o futuro tem uma estética que não é féxiom, calça sandálias de tiras precárias, cheira a fumaça de rancho e desobedece as autoridades do atraso.

Afinal, não é de graça que o município tem o nome de Sepé.


Foto de Bianca Backes/ZH: protesto dos ruralistas de São Sepé contra o MST.


sexta-feira, 28 de setembro de 2007


Parabéns, Joaquim Barbosa!

Este blog quer se congratular com o ministro do STF, Joaquim Barbosa (foto), ontem envolvido num qüiproquó com um colega seu do STF. A advertência de Barbosa ao ministro branco é um marco nas relações sociais do Brasil.

Este fato deve ser examinado e exaltado. Um negro aponta a um branco – em situação de igualdade – que a prática rebaixada do senso comum (o famigerado “jeitinho brasileiro”) não pode continuar a ser consagrada pelo Estado e seus agentes.

Semana próxima voltaremos ao tema.



Fazendeiros trancam entrada para São Sepé

Ruralistas-fazendeiros da região de São Sepé (região central do RS) estão trancando as entradas da cidade neste momento, impossibilitando a chegada da marcha do Movimento Sem Terra. A Brigada Militar se encontra no local e tenta negociar a liberação da estrada.

Os cerca de 500 integrantes do MST estão marchando (foto) desde quarta-feira (26), em direção à São Sepé, sempre seguidos de um grupo de fazendeiros e provocadores armados. Na madrugada de quarta-feira ficaram acampados na BR-392 e praticamente não conseguiram dormir, devido aos foguetes e rojões lançados durante toda a noite pelos fazendeiros.

As famílias pretendem permanecer em São Sepé até a próxima segunda-feira, quando se deslocam para Santa Maria.



Há quem creia que procurar uma sociedade justa seja uma perda de tempo. O que significa o convite de Sarkozy de “ganhar e trabalhar mais”? Este tipo de pensamento proclama que é inútil, e mesmo prejudicial unir as forças por uma causa comum. Assim, se perde de vista a solidariedade, e se zomba do princípio da responsabilidade. Estes são alguns dos temas abordados por Zygmunt Bauman no artigo abaixo, que recomendamos vivamente a leitura.

A ideologia sem ideais

Em junho passado, pouco após sua eleição a Presidente da França, Nicolas Sarkozy declarou, numa entrevista televisiva: “não sou um teórico, não sou um ideólogo, não sou certamente um intelectual: eu sou um concreto”. O que quer dizer com estas palavras: Com toda probabilidade queria dizer que crê firmemente em algumas convicções, enquanto com igual firmeza rejeita resolutamente outras.

Tudo somado, afirmou publicamente ser um homem que crê “no fazer, não no pensar” e conduziu sua campanha presidencial convidando os franceses a”trabalhar mais e ganhar mais”. Disse bastantes vezes aos eleitores que trabalhar mais duramente e por mais tempo para se tornarem ricos é coisa boa. (Trata-se de um convite que os franceses parecem ter achado atraente, mesmo que não o tenham de fato considerado unanimemente sensato do ponto de vista prático: segundo uma sondagem TBS-Softes, 39% dos franceses consideram que seja possível se tornarem ricos ganhando na loteria, contra 40% que consideram que se fica rico graças ao trabalho). Declarações como estas, se são sinceras, respeitam todas as condições da crença e cumprem a principal função que se espera das crenças: dizem o que se deve fazer e suscitam a confiança que, assim fazendo, se obterão resultados positivos. Manifestam, além disso, o comportamento agnóstico e partidário normalmente conexo com uma “ideologia”.

À filosofia de vida de Nicolas Sarkozy falta somente uma das características das “ideologias que conhecemos até agora”, ou seja, uma certa concepção de uma “totalidade social” que, como foi sugerido por Emile Durkheim, seja “maior que a soma das partes”, vale dizer diversa, por exemplo, de um saco de batatas e, por conseguinte, não redutível ao acúmulo dos elementos singulares nele contidos. A totalidade social não pode ser reduzida a um agregado de indivíduos, cada um dos quais persiga suas finalidades privadas e seja guiado pelos seus desejos e por suas regras privadas.

As reiteradas afirmações públicas do Presidente francês sugerem, ao invés disso, precisamente uma redução deste tipo.

Não parece que as previsões sobre o “fim das ideologias”, comuns e amplamente aceitas há vinte e três anos, se tenham realizado ou estejam por fazê-lo. As afirmações aparentemente paradoxais que citei indicam, ao invés, a surpreendente virada realizada hoje pelo conceito de “ideologia”. Em contraposição a uma longa tradição, a ideologia que é atualmente pregada pelas cúpulas para que seja apropriada pelo povo coincide com a opinião de que pensar na “totalidade” e elaborar concepções da sociedade justa sejam uma perda de tempo, enquanto irrelevante para os destinos individuais e para o sucesso na vida. A nova ideologia não é uma ideologia privatizada e, de resto tal noção seria um oxímoro, porque a provisão de segurança e confiança em si mesmos, que constitui o principal empenho das ideologias e a condição primária de seu caráter sedutor, seria irrealizável sem uma adesão pública e de massa. Mas ela é, ao invés, uma ideologia da privatização. O convite a “trabalhar mais e ganhar mais”, convite dirigido aos indivíduos e adaptado somente a usos individuais, solapa aqueles do passado a “pensar na sociedade” (ou na comunidade, na nação, na igreja, na causa).

Sarkozy não é o primeiro que procura aviar ou fazer acelerar tal transformação: a precedência cabe a Margaret Thatcher e ao seu memorável anúncio segundo o qual “não existe algo que se possa chamar de 'sociedade', existem somente o governo e as famílias”. Trata-se de uma nova ideologia para a nova sociedade individualizada, a propósito da qual Ulrich Beck escreveu que homens e mulheres, enquanto indivíduos, deverão agora encontrar soluções individuais a problemas criados pela sociedade e implementar individualmente tais soluções com a ajuda de capacidade e recursos individuais. Esta ideologia proclama que é inútil, e mesmo contraproducente, unir as forças e subordinar as ações individuais a uma “causa comum”. Ela perde de vista a solidariedade social, zomba do princípio da responsabilidade comum pelo bem-estar dos membros da sociedade, considerando-o fundamento do “Estado assistencial”; admoesta que interessar-se pelos outros é a receita para criar a aborrecida “dependência”.

Trata-se também de uma ideologia feita na medida da nova sociedade de consumidores. Ela representa o mundo como um depósito de objetos de consumo potencial, a vida individual como uma perpétua busca de transações que ocorrem tendo por objetivo a máxima satisfação do consumidor e o sucesso como um incremento do valor de mercado dos indivíduos. Amplamente aceita e solidamente acolhida, ela liquida com suas antagonistas com um seco “não existem alternativas”. Tendo, assim, redimensionado os seus adversários, ela se torna, para usar a memorável expressão de Pierre Bourdieu, verdadeiramente ‘pensée unique’, pensamento único. Pelo menos na parte rica do planeta a implantação desta impiedosa concorrência entre indivíduos não é a sobrevivência física, nem a satisfação das necessidades biológicas primárias e necessárias à sobrevivência, nem o direito de auto-afirmação, de se dar os próprios objetivos e decidir que tipo de vida se pretenderia viver.

Exercitar tais direitos é considerado, vice-versa, um dever de cada indivíduo. Além disso, parte-se do pressuposto de que tudo aquilo que acontece aos indivíduos seja conseqüência do exercício destes direitos, ou então, de gravíssimos erros em tal exercício, até sua blasfema recusa. Assim, tudo o que acontece aos indivíduos é, em geral, definido retrospectivamente como devido à responsabilidade de cada um. O que agora está plena e verdadeiramente em jogo é o “reconhecimento social” daquelas que são vistas como escolhas individuais, ou então, da forma de vida que os indivíduos praticam (por escolha ou forçosamente).

“Reconhecimento social” significa aceitação do fato de que o indivíduo que pratica uma certa forma de vida conduz uma existência digna e decente, e por este motivo merece o respeito devido e prestado aos outros indivíduos dignos e decentes. A alternativa ao reconhecimento social é a negação de dignidade, isto é, a humilhação e este sentimento nutre ressentimento. É correto afirmar que, numa sociedade de indivíduos como a nossa, esta seja a mais venenosa e implacável forma de ressentimento que cada um pode experimentar, bem como a mais comum e prolífica causa de conflito,de rebelião e de sede de vingança.

Negação do reconhecimento, recusa de prestar respeito e ameaça de exclusão têm substituído desfrutamento e discriminação, tornando-se as formas mais comuns para explicar e justificar o descontentamento que os indivíduos experimentam no confronto com a sociedade ou daqueles setores e aspectos da sociedade aos quais eles são diretamente expostos (pessoalmente ou através da mídia) e dos quais fazem experiência de primeira mão. Isso não quer dizer que a humilhação seja um fenômeno novo, específico da atual forma da sociedade moderna, porque, ao contrário, ele é antigo quanto à socialidade e à convivência entre os homens. Isso quer dizer, todavia, que na sociedade individualizada de consumidores as mais comuns e “eloqüentes“ definições e explicações das aflições e dos mal-estares que derivam da humilhação deslocaram rapidamente, ou estão deslocando, a própria referência do grupo e da categoria às pessoas singulares.

Ao invés de serem atribuídas à injustiça ou ao mau funcionamento do organismo social, procurando, então, remédio numa reforma da sociedade, os sofrimentos individuais tendem a ser sempre mais percebidos como resultado de uma ofensa pessoal, de um ataque à dignidade pessoal e à auto-estima, invocando, então, uma reação pessoal ou uma vingança pessoal. Esta ideologia, como todas as ideologias por nós conhecidas, divide a humanidade. Mas, além disso, ela gera divisão também entre quem lhe presta fé, dando capacidade a qualquer um e tornando todos os outros incapazes. Deste modo, ela endurece o caráter conflituoso da sociedade individualizada/privatizada.

Debilitando as energias e neutralizando as forças que potencialmente estariam em condições de atacar-lhe o fundamento, esta ideologia conserva tal sociedade e torna mais frágeis as perspectivas de uma renovação da mesma.

Artigo do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, publicado no jornal La Repubblica, do dia 16 de setembro último.


Para quê Reforma Agrária?

Novamente a questão agrária está na pauta das discussões da opinião pública brasileira. Reforma agrária, Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), Via Campesina, agronegócios, marchas e ocupações ocupam espaço na mídia em geral. Neste sentido, é correto afirmar que no Brasil a questão agrária é um problema histórico que nos remete ao período colonial (capitanias hereditárias), e que permanece até nossos dias como uma das principais mazelas sociais do país. Diante disso, a necessidade da Reforma Agrária ser implantada no Brasil se justifica pelas seguintes razões:

a) Gera desenvolvimento

Enquanto os Estados capitalistas desenvolvidos efetivaram a reforma agrária diversas vezes no tempo e nos referidos espaços territoriais (pois entendiam que a distribuição da terra beneficiava o próprio sistema), o Estado brasileiro opta pelo atraso, trata a Reforma Agrária com desdém e até com coação e violência. Foi o caso da infeliz, retrógrada e inconseqüente afirmação do subcomandante-geral da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, coronel Paulo Roberto Mendes (20/09-07), ao pedir o fim da marcha dos sem-terra à fazenda Guerra no município de Coqueiros do Sul (314 km de Porto Alegre): “Estou fazendo este pedido para que a marcha seja parada pela força da lei, antes que seja parada pela força da bala”, disse o coronel. Entende-se que no Estado de Direito o indivíduo tenha, em face do Estado, não só direitos privados, mas também direitos públicos. O Estado de Direito é o Estado dos cidadãos (Bobbio, 1990). Neste sentido, a função do Estado é garantir os direitos públicos de todos e não apenas os direitos privados de poucos.

b) Resolve o problema da concentração da terra

Existem mais de 371 milhões de hectares disponíveis para a agricultura no país. No entanto, o que é otimizado para a produção é coisa ínfima; além do mais, a metade desta área é disponível para a criação de gado. Ao mesmo tempo em que a vocação do Brasil é a agricultura, tem-se uma população faminta. Dados estatísticos mostram que, quase metade da terra cultivável está nas mãos de apenas 1% dos fazendeiros (poucos), enquanto uma pequena parcela, menos de 3% da terra, pertence a 3,1 milhões de produtores rurais (muitos). Dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) comprovam igualmente, que dos 4,9 milhões de imóveis rurais cadastrados no Brasil, em torno de 10% deles correspondem à média e grande propriedade, e ocupam quase 80% da área total das terras cadastradas. Já os pequenos imóveis, que representam cerca de 90%, ocupam pouco mais de 20% dessa área total.

c) Os minifúndios são produtivos, o latifúndio não

Indicadores comprovam que os pequenos agricultores produzem mais. Boa parte dos alimentos vem dos proprietários que possuem até 10 hectares de terra. Dos donos de mais de 1.000 hectares, sai uma parte relativamente pequena do que se come. Ou seja: eles produzem menos, embora tenham 100 vezes mais terra. O latifúndio (agronegócio) produz monoculturas de exportação gerando poucos empregos, agregam pouco valor e os lucros não são socializados. Neste quesito, percebe-se que o governo Lula tem priorizado mais o avanço do agronegócio no Brasil do que a agricultura familiar. Este setor foi o que mais recebeu incentivos do governo. Por exemplo, no plano safra 2006/2007 foram cerca de R$ 50 bilhões destinados aos grandes produtores.

d) Ajuda a resolver os problemas sociais

É importante que as pessoas possam viver no campo tendo condições dignas de plantar e colher. Se as nossas cidades já apresentam déficits habitacionais, saneamento, educação e emprego, imaginem se a população urbana aumentar drasticamente: não aumentaria o desemprego, a marginalidade, a violência? O que faremos se o êxodo rural acentuar-se ainda mais? Como serão nossas cidades?

Por estes e outros motivos acredita-se que a Reforma Agrária, junto com outras políticas mais audaciosas, possa contribuir para o desenvolvimento e o fortalecimento da democracia do Brasil; sem ela, estamos fadados ao atraso econômico, político e social.

Artigo do cientista político Dejalma Cremonese.

Pescado daqui.


Por que o Rio Grande do Sul é assim – parte IX

No Rio Grande do Sul não houve crise da tabuleta

Em 1901, Machado de Assis lança o seu último grande romance, Esaú e Jacó. Como bom monarquista que era, aproveita e critica a República nascente. E enfia uma anedota na história dos gêmeos deputados. A chamada “crise da tabuleta”.

Um sujeito de nome Custódio tinha um comércio de doces no Catete, a “Confeitaria do Império”. Quando vem a República, dia 15 de novembro, o doceiro, que por casualidade já havia mandado pintar uma tabuleta nova, escreve um bilhete telegráfico às pressas ao pintor ordenando-lhe de forma categórica: “Pare no D”. Mas este não o atendeu e lascou os dizeres completos “Confeitaria do Império”. Desolado, o confeiteiro foi conversar com o Conselheiro Aires. O ardiloso amigo, considerando que de fato nada estava definido na instável conjuntura nacional sugere o nome “Confeitaria do Governo”, mas acaba ficando “Confeitaria do Custódio” – o nome próprio do doceiro, o que evitaria qualquer transtorno político para o promissor comércio de pastéis de Santa Clara da nova Capital republicana.

Com essa anedota crítica, Machado, repito, monarquista convicto, faz quase uma sociologia do espírito “ética dupla” (Weber) do Rio de Janeiro – e do Brasil – da época, mais tarde muito bem estudado por Sérgio Buarque em Raízes do Brasil.

Um episódio como esse seria inconcebível no Rio Grande do Sul de então. Se no resto do Brasil, em todas as Províncias, a passagem do Império para a República foi rigorosamente uma simples troca de tabuleta, na Província meridional houve uma modificação radical e definitiva.

Nenhum quadro monarquista permaneceu no poder, depois de novembro de 1889. Muito menos os liberais, e menos ainda os vacilantes liberais republicanos. Os piolhos da monarquia deram lugar à novíssima geração do Partido Republicano Rio-grandense (PRR), liderada pelo jovem Júlio de Castilhos.

Como se dizia na época, era uma “plêiade de jovens idealistas radicalizados” positivistas anti-liberais, anti-monarquistas, favoráveis a um Estado forte e autoritário, federalistas separativistas (mas não separatistas), contrários ao Poder Legislativo (que nunca prosperou com o castilhismo), modernizadores burgueses, politizados e, apesar de militarizados, sempre, radicalmente civilistas. Entretanto, o traço fundamental, não só da doutrina positivista, mas sobretudo da administração concreta dos militantes do PRR, foi o marcado caráter anti-oligárquico e anti-patrimonialista dos seus governos de quase quatro décadas.

Tal era o programa do PRR, tal foi o governo do PRR. Racional e coerentemente uma coisa se alimentava da outra, sem vacilações ou revisões de ocasião, tanto que era chamada de administração da "ditadura científica".

A inexistência de Poder Legislativo, só de uma assembléia de representantes que funcionava sessenta dias ao ano como conselho fiscal das contas do Executivo, e o tratamento convergente com as demandas populares fez do castilhismo-borgismo um regime singular no mundo, naquele final de século 19 e início de século 20.

Nada do regime monárquico-liberal ficou de pé naquele Rio Grande autenticamente heróico e vitorioso, muito mais heróico do que a mitificada (e derrotada) guerra civil Farroupilha – do qual a direita hoje tenta se apropriar de forma oportunista e ideologizada.

Adiante veremos mais desse candente e atual tema histórico.


Fotografia de Machadinho, por Marc Ferrez.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007


- Eles riam de mim!

Angeli

A privatização da floresta amazônica é lamentável, diz Aziz Ab’Saber

Para o geógrafo Aziz Nacib Ab’Saber (foto), professor emérito da USP e ex-militante do PT, a medida trará renda apenas para os intermediadores do comércio dos produtos da floresta com o mercado nacional e estrangeiro. A informação é do jornal Brasil de Fato, de ontem.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou na segunda-feira numa conferência da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, a privatização de áreas da floresta amazônica. A primeira a ser licitada fica na região do Jamari (RO). A unidade possui 220 mil hectares, dos quais 90 mil hectares serão privatizados.

A ministra defende que a privatização terá como alvo a exploração sustentável da floresta por meio de empresas nacionais e ressaltou que a medida ajudará no combate à grilagem de terras na região. Mas especialistas como o geógrafo Aziz Ab’Saber criticam a medida. "É lamentável que no momento em que o país inteiro faz um movimento para quebrar a privatização absurda da companhia Vale do Rio Doce, alguém lá do Ministério do Meio Ambiente, assessorado por idiotas, resolve fazer uma primeira concessão de áreas florestais para [uso de] particulares", afirma o cientista-pesquisador.

Para ele, a exemplo do que aconteceu com a Vale do Rio Doce, a privatização trará renda apenas para os intermediadores do comércio dos produtos da floresta com o mercado nacional e estrangeiro. Aziz afirmou que o argumento de evitar grilagens é precário e que o Ministério do Meio Ambiente não terá controle sobre a extração de produtos, porque nunca desenvolveu nenhum projeto de exploração sustentável na região.

"Dizer que ao invés de possibilitar grilagens na floresta é melhor fazer uma privatização parcial, significa dizer que o ministério não tem condições de fazer uma fiscalização de áreas florestais mais contínuas. Eles dizem sempre que vão conceder desde que haja uma ocupação auto-sustentada, só que nem eles sabem como fazer uma ocupação auto-sustentada piloto na Amazônia".



Mostrando as unhas longas

Depois de ler a manchete principal do Correio do Povo de ontem (acima), me assaltou uma imagem de filme B: um mascarado apontando o revólver para a cabeça da governadora Yedinha e forçando-a a baixar um novo tarifaço no Estado, grita nervoso, “Perdeu, perdeu, vai aumentar impostos, vai aumentar impostos!”

“Déficit obriga Estado a elevar alíquotas do ICMS” – mais imperativo que isso, só com um revólver na cabeça.

Aliás, o Correinho está aos poucos mostrando suas longas unhas, agora sob a direção dos “crentes” da Igreja Universal do Reino de Deus. Só vem provar que temos de fato uma imprensa de pensamento único. Este jornal está franca e nitidamente sendo um instrumento político do governo tucano no Estado. Uma matéria paga pela Secretaria de Comunicação Social de dona Yedinha não teria essa força e esse impacto imperativo.

Temos agora, então, dois diários oficiais no Estado, ou melhor, três: o próprio, o jornal Zeagá, e o Correinho, sem contar as dezenas de pequenos panfletos partidários espalhados pelo Estado – todos com a mesma orientação político-partidária.

Já se vê que a nossa superestrutura cultural é bem mais miserável do que a nossa combalida infra-estrutura econômica. Nesta, pelo menos a União supre e provê, já a outra...


Confirmado, RS é mesmo discriminado pela União

O economista Sérgio Kapron, da assessoria técnica da bancada do PT na Assembléia Legislativa, fez um levantamento sobre os investimentos federais e estaduais previstos para o Rio Grande do Sul, em 2008. A conclusão é que os recurso que o governo Lula destinará ao Estado são superiores aqueles previstos pelo governo Yeda. Os investimentos federais, aponta Kapron, serão de R$ 1,006 bilhão, dos quais R$ 554 milhões em cerca de 30 obras em estradas, como a finalização da duplicação da BR 101 e a Rodovia do Parque na Região Metropolitana.

Kapron prossegue: “outros R$ 55 milhões serão destinados à construção de barragens para irrigação. R$ 180 milhões são para obras no Porto de Rio Grande. Na educação, para expansão das universidades federais e escolas técnicas estão destinados R$ 57 milhões. Na saúde serão R$ 45,6 milhões em investimentos e R$ 1,95 bilhões para o custeio dos serviços de atendimento à população”.


Já na proposta de orçamento para 2008, o governo Yeda indicou R$ 898 milhões para investimentos no RS. Destes, assinala o economista, R$ 348 milhões virão de convênios, maioria absoluta do governo federal. Ou seja, a governadora diz que irá investir apenas R$ 550 milhões de recursos estaduais, praticamente a metade dos investimentos federais no RS.

O governo federal não faz mais do que sua obrigação, poderá dizer alguém. É verdade. Mas é bom ter esses números em mente quando alguém vier falar que o governo Lula discrimina o RS por diferenças partidárias.

Pescado integralmente (menos o título) do blog RS Urgente.

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Confirma-se, então, que o governo tucano de dona Yedinha é mesmo discriminado pela União Federal, sob a orientação do presidente Lula. Segundo o dicionário Houaiss, discriminar significa distinguir, discernir, perceber, classificar. Ou seja, o governo federal percebe a completa inoperância e ineficácia do governicho de dona Yedinha e trata de investir no Estado no sentido de amenizar as dificuldades e os prejuízos sofridos pela população em geral.

Enquanto dona Yedinha desmantela a educação pública do Estado, o governo federal investe e cria dez novas escolas públicas profissionalizantes (tipo o velho Parobé), só para citar um dado isolado mas revelador do fundo contraste aqui estabelecido, aqui discriminado. O RS não inaugurava escola pública profissionalizante desde o segundo governo de Getúlio Vargas, no início da década de 50. É mole? Para não falar das duas Universidades federais...

Dias atrás, este blog ainda chamava a atenção para o caráter mágico da gestão yedista no RS, que adota a política do “deus ajuda e a União provê”. Falávamos de forma empírica, e o economista da bancada do PT prova-o com dados concretos irrefutáveis.


quarta-feira, 26 de setembro de 2007


Ministro escalado volta a bater no MST

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) ocupou mais prédios públicos e bloqueou mais estradas para protestar contra o governo federal e em favor da reforma agrária. Os atos, que começaram na segunda-feira, passaram de 10 para 13 Estados, ontem.

Guilherme Cassel, ministro do Desenvolvimento Agrário, declarou que o protesto é descabido porque o governo Lula tem ampliados os investimentos na desconcentração fundiária e na qualificação de assentamentos. Segundo ele, o orçamento do Incra triplicou entre 2003 e 2007.

Para Cassel, que sempre pretendeu pautar a luta do MST, "substituir a agenda da produção pela da violência, da ocupação de prédio público, atrapalha a reforma agrária". "Reconheço quem tem expectativas superiores, mas desde que aceite que o governo tem feito muito." Cerca de 150 mil famílias acampadas ainda esperam ser assentadas.

Este blog tem informações confiáveis de que o ministro Cassel está expressamente escalado pelo núcleo estratégico do Palácio do Planalto para “bater e rebater” nos movimentos sociais, especialmente no MST.

O ministro do Desenvolvimento Agrário filia-se a uma tendência interna do PT, a Democracia Socialista. A corrente DS é considerada nominalmente de esquerda, mas atualmente está inteiramente comprometida e instrumentalizada pelas políticas neoliberais do lulismo. O que para Cassel deve ser uma prova pessoal de fogo, já que a sua estrita fidelidade ao esquema de poder constitui condição indispensável (conditio sine qua non) para que a sua tendência permaneça no Ministério-ônibus do presidente Lula.

Para o Planalto, por sua vez, é taticamente relevante a presença da DS no buquê ministerial a fim de assegurar-lhe pelo menos um brando aroma de esquerda.

Coisas da vida.

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Em Tempo: Se desconhece a informação de que o núcleo estratégico do Palácio do Planalto tenha “escalado” algum ministro para “bater e rebater” na mídia corporativa e oligárquica do País, que desrespeita e enxovalha o próprio presidente Lula, diariamente, nos seus veículos.

O Estadão, hoje, atreve-se a associar a notícia da fala do presidente Lula na ONU com a “sutil e inocente” fotografia de um jegue.



Charge do Angeli

O enfraquecimento do poder da imprensa tradicional

Tiragens reduzidas, fragmentação do mercado de mídia, distanciamento entre veículos e público, são várias as razões para o enfraquecimento do poder da imprensa tradicional, fato que não ocorre apenas no Brasil. Em julho, o The New York Times publicou um editorial defendendo a saída das tropas americanas do Iraque. Mas, como disse Paul Harris dias depois no britânico The Observer, o impacto do editorial foi mínimo, como se governo e sociedade americanos pouco ligassem hoje para o que pensa o mais importante jornal do país. "O poder dos jornais de influenciar políticas de governo é muito menor numa era em que pressões políticas parecem vir de canais de notícias de TV a cabo e da internet, via blogs ou o YouTube", escreveu Harris. Nesta semana, os senadores republicanos reafirmaram apoio à política de George W. Bush no Iraque, e o editorial do NYT segue no esquecimento.

Na Grã-Bretanha, a imprensa popular (os chamados "tablóides") ainda goza de influência significativa. Muitos creditam parte do sucesso de Tony Blair em seus dez anos como premiê ao apoio do conservador The Sun, de Rupert Murdoch. Mas o The Sun, com seus 3 milhões de cópias diárias, pode ser visto como exceção. A força de títulos da chamada "imprensa de qualidade" é muito limitada, como bem sabe Blair, que sobreviveu a pressões em vários momentos.

Com a imprensa mais fraca e o leitor cada vez mais cético em relação à política, governantes podem se achar imunes a ataques. Mas é bom lembrar que jornalismo e informação são maiores do que os veículos que os transmitem e sempre serão capazes de influenciar políticas públicas, em qualquer país. Se o poder de pressão não está mais nas mãos dos jornais e revistas, isso não significa que ele desapareceu. Blogs pessoais? Salas de discussão na internet? Não importa. Esse poder estará sempre vivo onde for gerado debate, onde houver questionamento e onde estiver a informação.

Pescado daqui (Blog dos Editores, da BBC).

Foto: os cães que me perdoem...


O trabalho não é nenhum fim em si, dizia André Gorz

A publicação acadêmica Lugar Comum, editada pelo Programa de pós-graduação da Escola de Comunicação da UFRJ, de maio-dezembro de 1998, publicou uma longa entrevista com André Gorz. Abaixo, na íntegra.

O trabalho deve perder – na nossa consciência, no nosso pensamento, em toda a nossa compreensão do mundo – a sua posição central. Desta forma se expressa uma das principais formulações de seu livro. Trata-se, portanto, do fim do trabalho?

Gorz - Eu estabeleço diferenciações entre trabalho [Arbeit] e ganha-pão [Erwerbsarbeit]. O trabalho, em sentido antropológico, jamais desaparecerá enquanto a humanidade existir. Todas as sociedades fundaram-se no trabalho em sentido antropológico [Arbeit], no trabalho como realização e tendência da natureza, através da atividade do ser humano. Entretanto, esta definição nada revela sobre as relações sociais e as relações de produção, sobre o trabalho que fazemos e o trabalho que temos. O trabalho que se faz, não se possui; o trabalho que se tem é feito para outrem, que paga por ele e que o determina de fora. Desta forma de trabalho é derivada a função social do Estado. Naturalmente, na sociedade fordista, o trabalho era a base de um status e de um direito social, ambos ligados a ele. Em troca, hoje nos transformamos numa sociedade na qual o trabalho nem é auto-apropriado, auto-atividade no sentido filosófico, nem tampouco vinculado a direitos sociais e econômicos. Isto significa que o neoliberalismo, associado à globalização, desmontou aquilo a que o capital sempre foi antipático – ou seja: a conexão entre exploração e obrigação social.

Não falo em “fim do trabalho” no sentido propriamente ontológico, mas, sim, no fim do trabalho fordista. O trabalho organizado socialmente será sistematicamente extinto, sem que o espaço de tempo livre que surge através da eliminação do trabalho possa ser apropriado por aqueles que trabalham. E, aqui, devemos retomar a utopia de Marx e Hegel, isto é, de que, mais cedo ou mais tarde, o trabalho terá de ser revogado.

Como o senhor avalia o processo de informatização?

Gorz - Hoje, tanto o saber vivo quanto o saber informaticamente registrado são as mais importantes forças produtivas. O volume de trabalho assalariado se reduz cada vez mais rapidamente. O trabalho ganha-pão [Erwerbsarbeit] será cada vez mais descontínuo, precário. A magnitude desta mudança, até agora, foi muito pouco compreendida. Na Inglaterra, por exemplo, atualmente 55% dos trabalhadores e trabalhadoras já estão em empregos precários e inseguros, sem contratos, à disposição do empregador. Na Itália, na Alemanha e na França, esta taxa é praticamente a mesma. Na França, um estudo elaborado pelo Estado, e publicado em outubro passado, demonstrou que, nos últimos anos, dentre aqueles que tinham entre 25 e 39 anos, 55% experimentaram um ou mais períodos de desemprego; entre os que dispunham de diploma universitário a taxa era de 39% - o que revela, entre outras coisas, que todas as camadas sociais, mesmo as altamente qualificadas, foram afetadas pela precarização. Ademais, quando até a força-de-trabalho bem qualificada começa a trabalhar nos chamados macjobs, trabalhos ocasionais não qualificados, a pressão sobre a força-de-trabalho pouco qualificada cresce ainda mais.

Como os senhores sabem, as grandes empresas empregam cada vez menos pessoas. Nos Estados Unidos, por exemplo, nas 100 maiores indústrias do país estão empregados apenas 10% dos trabalhadores ainda efetivos. Entre outras coisas, isso significa que cada vez menos gente produz cada vez mais riqueza.

O ponto alto dos programas dos sindicatos é a redução da jornada de trabalho. Esta redução pode melhorar a situação dos ainda empregados e dos desempregados?

Gorz - Se eles exigirem 35 ou 32 horas semanais sem fixar as condições de uma tal redução da jornada de trabalho, então uma reforma como essa deixa de ter qualquer sentido prático atualmente, quando já mais de 50% da força-de-trabalho se insere em empregos do meio expediente, inseguros e preenchidos sem liberdade de escolha. A redução da jornada de trabalho, além disso, pode ser controlada apenas no setor estatal e, quando muito, nas grandes industrias.

É certo que o Estado tem que fixar legalmente uma jornada máxima de trabalho, válida para todos os que trabalham segundo uma escala salarial – seja no setor privado, seja no setor estatal. Mas isto não é suficiente. Quando se aspira a uma redução da jornada de trabalho, esta não deve ser calculada apenas tomando por base a semana: ela deve também garantir o seguro social para aqueles que trabalham descontinuamente, temporariamente ou em empregos de meio expediente. Uma renda básica deve ser garantida para todos os que se coloquem à disposição para o trabalho, mesmo que não o encontrem.

O senhor está afirmando que não existe libertação no trabalho assalariado, mas libertação do trabalho assalariado – e, desta forma, esboça também a questão da autonomia?

Gorz - No trabalho assalariado, dados os limites da divisão social do trabalho, a autonomia existe apenas sobre a base da heteronomia.

Mesmo no trabalho fragmentado de uma divisão de trabalho fordista, que é, em alto grau, cronométrica, constróem-se espaços livres – mas pelos quais também se tem que lutar. Este é o seu espaço de autonomia. Mas, por outro lado, a jornada de trabalho é subordinada ao critério de rentabilidade, em face do qual nada se pode fazer, sobre o qual nem se está informado, pois permanece determinado exteriormente pelo capital. Nem mesmo numa indústria fordista – digamos assim – humanizada, como a Volvo, o trabalhador e a trabalhadora podem determinar o produto que eles criam, e menos ainda os critérios da necessidade social do que produzem.

Cedo ou tarde, chegaremos à situação na qual o volume dos meios de pagamento não poderá e não deverá mais suportar os atuais critérios de demanda e oferta, situação onde a sociedade fará circular os meios de pagamento para que a produção escolhida de valores-de-uso possa ser dividida, partilhada.

Na sua opinião, existe hoje um plano capitalista, uma espécie de cérebro capitalista, voltado para o processo econômico?

Gorz - Sim, com certeza! Por toda a parte, o capital serve-se da concorrência industrial, aprofundada por ele mesmo, para exigir do Estado que destrua sua política social, desregule os mercados e as condições de trabalho, liberando-os ao domínio das puras leis de mercado. Estas leis, anônimas e puramente estatísticas, servem para proteger o capital contra as leis elaboradas pela sociedade. É o que afirma o chefe do Banco Central alemão: “Os Estados serão fiscalizados pelo mercado financeiro, e podem ser arruinados quando sua política não agradar a este”.

A renda básica e incondicional que o senhor exige é uma forma de estratégia contrária a tudo isto?

Gorz - Penso que não haverá estratégia contrária se não nos colocarmos o objetivo de sair da sociedade do ganha-pão para nos dirigirmos para uma sociedade do trabalho reapropriado. Temos que partir da conclusão de que sempre haverá menos trabalho pago. Nesta perspectiva, a renda básica garantida tem um sentido: é uma arma potencialmente sempre mais contundente para a superação do capitalismo e a saída de uma sociedade prostrada diante da valorização do capital.

Contudo, apenas uma renda mínima garantida não é nenhuma solução para os problemas econômicos e sociais da sociedade. Por mínima que for, ela é a mais importante fonte de participação de cada um, de cada uma, na riqueza produzida pela sociedade. Mas isso não é tudo! A riqueza mais decisiva é sempre a riqueza cultural, em capacidades humanas e em relações interpessoais – riqueza não comprável ou pagável.

Uma tal renda mínima garantida, hoje, não se deixa colocar em prática, nem política nem financeiramente. Uma renda básica universal suficiente não é hoje possível justamente porque as grandes indústrias, que administram os principais lucros, praticamente não pagam mais impostos – e, quando os pagam, é porque, na maioria das vezes, eles são baixos.

Sei, naturalmente, que não se pode passar de repente da situação atual para aquela de uma renda social universal, incondicionais e suficiente. Com relação a isso, parece-me interessante o modelo que hoje se implementa na Holanda. Lá, 37% da população ativa realiza trabalho de meio expediente; desses 37%, um terço trabalha menos que 13 horas semanais. Lá, todos têm direito a um salário básico tabelado – e, a propósito, todas as formas de trabalho de meio expediente são negociáveis, protegidas e reconhecidas legalmente e não devem provocar qualquer discriminação.

Como pode ser introduzida uma divisão mais justa da riqueza produzida? No seu livro, por exemplo, o senhor exige “menos Estado” – o que levou um redator de economia do Le Monde a chamá-lo de “liberal disfarçado”.

Gorz - Não estamos tão longe que o Estado não possa ser eliminado! Mas, por enquanto, para a introdução de todas as reformas, é necessário uma institucionalização por parte do Estado. E aqui gostaria de retornar à renda básica, universal e suficiente.

É hoje urgente o direito de vincular o tempo livre deixado pelo trabalho para atividades pessoais a uma segurança material garantida. Na Dinamarca, esta exigência começa a ser implementada. Os profissionais têm direito a um ano de férias com a garantia de 72% do salário tabelado. O sociólogo alemão Claus Offe, por exemplo, sugere propiciar a todas as pessoas, durante todo o seu período de vida de trabalho, dez anos de férias garantidas e pagas.

Precisamos, antes de mais, reconhecer definitivamente que o futuro não está em trabalhos seguros, duradouros, com expedientes integrais, mas na relação de alternância entre períodos de trabalho pago cada vez mais curtos e períodos sempre maiores de atividade livre – e que, portanto, o prestígio e o reconhecimento social do trabalho assalariado deve ser deslocado para as atividades pessoais. Além disso, o capital humano – isto é: riqueza de idéias, criatividade, capacidade de aprendizagem – é hoje, no processo de valorização, mais importante que o capital material pois o trabalho não mediatizado, como Marx o chamou, represente somente ainda pequena fração do tempo usado pela força-de-trabalho para a sua produção e reprodução. A capacidade de autonomia das pessoas deve ser constituída, entre outros meios, através da aquisição constante do conhecimento.

Em seu livro, o senhor acentua que de modo algum podemos sair da sociedade do trabalho sem que este modelo social moribundo seja substituído por outro, por um novo modelo de sociedade.

Gorz - Mesmo o tempo livre disposto pelo trabalho mediatizado é, no final das contas, produtivo. Assim, existem hoje, por exemplo, indústrias de alta tecnologia que exigem que seus empregados saiam de férias e se envolvam com outros assuntos que não a produtividade empresarial – filosofia, dança, música, etc. A criatividade é desejada pela direção da empresa porque ela observou que a força-de-trabalho torna-se apática, que sua fantasia inventiva desaparece quando ela não pode usar o tempo livre como pessoas criativas.

E isto mesmo se, por pouco ou muito tempo, as “eternas perguntas” sejam dramaticamente colocadas: - como se vendem produtos para os quais não há mais poder de compra? – de onde deve vir a demanda, se, para a aquisição de riqueza, cada vez mais, menos pessoas receberão salário?

Cada vez mais, menos pessoas produzem mais riquezas. Coloca-se porém, a questão do poder de compra, de venda. Isso é, na verdade, algo positivo – pois significa que a produção fundada no valor-de-troca sucumbirá. O capital não está na condição de pagar pela compra de sua produção. Chegaremos, mais cedo ou mais tarde, à situação na qual o volume dos meios de pagamento não mais estará sob os critérios atuais de demanda e de oferta, mas sim na qual a sociedade, o estado, colocará em circulação os meios de pagamento para poder distribuir a produção de valores úteis preferida e escolhida por ela.

“A riqueza do possível” significa, na sua opinião, entre outras coisas, que a sociedade do trabalho se transforme numa sociedade da cultura, fundada economicamente no auto-abastecimento, em elos de cooperação. O senhor almeja o retorno à sociedade da troca?

Gorz - É claro que a liberação do tempo de trabalho deve conduzir ao desenvolvimento de relações baseadas na reciprocidade e que as relações mercantis e monetárias, a partir daí, serão parcialmente substituídas. Além disso, é possível organizar as instituições públicas de modo tal que se possa desenvolver todo tipo de auto-atividade, auto-abastecimento e ajuda mútua. Autarquia e elos de cooperação sinalizam uma direção sensata, na qual uma economia solidária pode se desenvolver. Em nenhum lugar está escrito que um trabalho deve servir apenas para ser vendido a um empregador, que dele se apropria. O capitalismo moderno conduziu à expropriação do trabalho e ao monopólio radical sobre os meios de trabalho. Como seria se as pessoas trabalhassem anualmente apenas seis meses e, nos outros seis, fizessem aquilo com que sonham?

Como é possível romper o monopólio a que o senhor refere?

Gorz - Mediante uma reapropriação dos meios de trabalho.

Mas como é possível superar o capitalismo quando se está completamente excluído pelo capital, seja pelo desemprego, seja pelas formas de autarquia?

Gorz - “O sonho das pessoas de ter um salário fixo está profundamente enraizado”. “Devemos pensar assim – Eu quero um trabalho, mesmo que seja uma droga de trabalho? -, pois todos desejam um trabalho”. Não: eu considero falsas essas opiniões! São uma propaganda do trabalho – pois como os detentores do capital podem fortalecer e defender o poder do capital sobre as pessoas senão fazendo crer que não existe uma outra vida que não aquela que é preenchida com um trabalho assalariado?

A pior de todas as políticas que hoje se pode fazer é tratar de criar nas pessoas expectativas de ocupação integral, expectativas sempre fraudadas. Com essa política, impede-se que as pessoas percebam ou entendam a natureza e o princípio das mudanças nas quais estamos inteiramente imersos. Essa pessoas haverão de perseverar na opinião segundo a qual ninguém pode fazer nada contra a onipotência do mercado e do capital – com exceção, talvez, de uma ditadura. E, obviamente, elas podem me retrucar que não há provas de que a ocupação integral jamais será novamente viável, assim como podem qualificar como simples fatalismo a recusa dessa “esperança”.

A opinião dominante não quer perceber, nem aceitar, que não nos encontramos simplesmente em uma crise, mas em uma “mutação”, numa época de transição. Não uma nova “revolução industrial”, mas sim no “advento da economia do imaterial”, no qual as leis até hoje conhecidas carecem de validade.

Em outras palavras, chega-se àquele processo que o senhor chamou de “êxodo” do trabalho assalariado, do capitalismo?

Gorz – Sim. Precisamos nos libertar intelectualmente da idéia fixa de que para além do trabalho não haveria sociedade. Numa pequena pesquisa, publicada na Universidade de Munique, 50% dos cidadão e cidadãs inquiridos chegaram à conclusão de que trabalho descontínuo corresponde a uma situação de trabalho normal, e que trabalho descontínuo começa a revelar-se um valor importante para o desenvolvimento de sua capacidades pessoais – somente 50% consideram hoje o emprego seguro como uma normalidade. A descontinuidade do trabalho deverá ser “normal”, enquanto, ao mesmo tempo, a sua precariedade deverá ser reduzida.

Isto não é uma contradição?

Gorz - Pelo contrário! Devemos, de uma vez por todas, nos afastar da idéia fixa de que a “sociedade” seria uma “ordenação”, na qual cada sujeito deve ter seu lugar coordenado previsto. A sociedade do trabalho assalariado não é o estágio mais alto das humanidade; o trabalho assalariado não é, simplesmente, a mais alta forma de produção das relações sociais. A ocupação não é nenhum fim em si. Assim vista, a descontinuidade do trabalho profissional pode se tornar, para todos, uma fonte de uma vida altamente rica, criativa e livre – sob a condição de que os períodos de trabalho e de não-trabalho possam ser tanto escolhidos individualmente quando negociados coletivamente, autárquicos, estendidos à semanas, mês, ano e assim por diante; e que, durante o período de não-ocupação, a todos seja garantida incondicionalmente uma renda suficiente.

Sublinho: incondicionalmente, pois, quando for consagrado que, durante o período de não-ocupação, as pessoas deverão usar este tempo para estudar, educar seus filhos, praticar esportes ou entregar-se, de novo, em uma ocupação, submetida a um controle institucional, administrativo. Reproduzimos, assim, o trabalho assalariado, apenas sob outra forma.

O senhor deposita, particularmente, grande esperança na unificação européia, político-social e econômica, como sendo, de certo modo, uma força contrária à globalização do capital financeiro.

Gorz – Normalmente, quem possui o maior poder comercial do mundo possui igualmente o poder de estabelecer as regras do comércio mundial. E a comunidade européia possuiria o maior poder comercial do mundo se tivesse a vontade política de determinar as regras econômico-sociais do comércio, ao invés de entregar-se ao livre-comércio americano. Mas isso supõe, todavia, uma vontade política comum que até hoje não se criou, como supõe a imposição, aos consórcios industriais, de uma política diferente da que hoje tem vigência no âmbito da globalização.

Quem luta, então, contra quem?

Gorz - O capital financeiro globalizado e desnacionalizado contra o nascimento de um Estado europeu supranacional. Até aqui foi possível, ao chamado “mercado financeiro”- portanto, ao capital financeiro -, tornar os Estados nacionais largamente impotentes e impor, sob o apelo das chamadas “leis de mercado”, a sua ordem.

Diariamente, são trocados cerca de 1.400 bilhões de dólares nos mercados cambiais. Apenas 4% do balanço das economias correspondem à troca de serviços e de mercadorias. A economia é colocada a serviço da multiplicação de dinheiro desprovido de substância e conteúdo. O saldo é puramente especulativo. A economia aparece carente da força criadora democrática da sociedade. O poder do dinheiro dos mercados financeiros eleva-se acima do poder político-social dos Estados e substitui os legisladores pelas chamadas “leis de mercado”, pelas quais – e também pelas suas conseqüências – ninguém é responsabilizado. Esta é a situação atual, para a qual não há nenhuma saída nacional, senão supranacional. Uma formação de Estados supranacionais da magnitude da comunidade européia poderia restabelecer a primazia da política, com a capacidade político-econômica, social e democrática de controle, pelos Estados dos partícipes, do comércio.

Após a introdução do euro, seria possível estrangular amplamente as transações especulativas de divisas através de um imposto mínimo chamado Imposto Tobin. Naturalmente, o mercado financeiro não deseja nada disso: a taxação das transações financeiras (que recebeu a denominação de Imposto Tobin por causa de James Tobin, Prêmio Nobel de Economia) seria insignificante do ponto de vista financeiro, mas importante só o ponto-de-vista econômico-político, porque, a partir dela, a especulação de divisas poderia ser consideravelmente represada. De acordo com alguma cálculos, o Imposto Tobin reduzir-se-ia a uma percentagem de meros 0,1% de dois terços do volume das transações e traria 150 bilhões de impostos. Isso é pouco! E não acreditem os senhores que, com tal tributação, poder-se-ia financiar uma renda mínima incondicional garantida. Hoje, por exemplo, na Alemanha, nem sequer a escola primária, muito menos a universidade, é financiável. As grandes empresas quase não pagam impostos e, ao mesmo tempo, reduzem a massa salarial. Consequentemente, apenas uma outra lógica pode trazer algo de novo: uma economia plural, na qual o domínio do capital – e sua exigência de lucro – seja superado".



André Gorz: um crítico radical do capitalismo

“Quando conheci Gorz e Dorine, nos anos 1970, escreve Michel Contat no Le Monde, de hoje, encontrei-os com Ivan Illich, Herbert Marcuse, Rossana Rossanda, William Klein juntamente com intelectuais mais jovens e ativos no movimento social”.

“Hoje, escreve o Michel Contat, embora mais espaçadamente, lhe visitavam jovens que se sentiam inspirados por ele na sua ação, sindical, política e social. Igualmente o procuravam universitários que pesquisam a sua obra. Assim, o mundo não lhes vinha ao encontro lá na campanha somente pelas publicações que ele lia assiduamente como as revistas Multitudes ou EcoRev. Estas revistas publicam artigos muito claros exprimindo um pensamento radicalmente sobre a economia política da que reina normalmente”.

Quando das últimas eleições presidenciais na França ele disse que votaria, “mas sem acreditar no discurso dos candidatos que prometem pleno emprego e emprego por toda a vida. Todos mentem quando falam deste tema. E o pior é que todos sabem disso. O futuro não se joga no nível da política do Estado. Ele se constitui nas pequenas coletividades, no nível comunal, por meio de comportamentos que rompem com a lógica do lucro financeiro. É lá que as lutas têm um sentido”. Sobre este tema ele era capaz de falar horas, animado de uma convicção impressionante. Sua crítica radical ao capitalismo nunca foi desarmada. Seus livros a desenvolvem de maneira cada vez mais fina.



A parlamentar da adulação envergonhada

Abaixo transcrevemos o discurso inteiro da deputada federal Luciana Genro (PSOL-RS) proferido por ocasião da Sessão de Homenagem aos 50 anos do grupo midiático-partidário RBS, realizado na Câmara Federal, no último dia 18 de setembro, às 12h12.

Trata-se de um discurso laudatório, mas ao mesmo tempo embaraçoso, quase envergonhado. Usa o velho ardil populista de redirecionar as homenagens aos empregados da empresa, como se essa empresa fosse de propriedade coletiva, autogestionária e sem patrões.

Quando considera categoricamente que “não existe a possibilidade de uma cobertura [jornalística] ser totalmente imparcial” faz o papel da advogada pressurosa que trata de isentar preventivamente o seu cliente de responsabilidades por algo que considera uma fatalidade naturalizada. O subtexto diz: como não existe imparcialidade na mídia (e de fato não existe), se justifica, então, tacitamente que a RBS seja o paraíso azul da parcialidade e do proselitismo político-ideológico em favor da direita e do conservadorismo mais atrasado. Isto posto, a RBS está de plano anistiada pela deputada do PSOL.

Esse comportamento errante, por vezes ambíguo, mas que ao fim e ao cabo sempre resulta em carregar água para o moinho da direita, não é novidade na militância de dona Luciana. Quando petista, essa senhora também adotava um discurso radicalizado, tempestuoso, com uma liturgia vocal e visual de esquerda, mas quando era hora de decidir no voto, ficava invariavelmente com as posições mais atrasadas e de direita do espectro partidário petista. No governo estadual de Olívio Dutra teve comportamentos políticos reprováveis: queria “faturar” o fato de ser governo e igualmente “faturar” as contradições próprias de quem é governo em condições as mais adversas na mídia, no governo federal e no fato de se assumir um Estado desmontado e esgualepado herdado de Antonio Britto.

Em suma, politicamente, dona Luciana é uma caricatura de si própria. Leia o seu discurso e comprove.

A SRA. LUCIANA GENRO (PSOL-RS. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Srs. Diretores do Grupo RBS, jornalistas, funcionários, aproveito esta solenidade em homenagem ao meio século do Grupo RBS para falar da qualidade do trabalho desenvolvido na televisão, no rádio, na Internet por profissionais que são altamente qualificados e que, no dia-a-dia desse trabalho, colocam sua alma, sua dedicação em cada reportagem, em cada matéria que desenvolvem.


Não tenho dúvida de que a grande aceitação dos veículos de comunicação do Grupo RBS no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina se dá pela qualidade desses profissionais, desde a área técnica até os que fazem os bastidores de cada programa e do jornal.


Em Brasília, contamos sempre com a presença do Klécio, chefe da equipe local. Homenageio todos os que aqui trabalham, sabendo que a cobertura de Brasília não é tarefa fácil, especialmente para um jornal do Sul do País. Ainda assim, com todas essas dificuldades, com a imensidão de assuntos que Brasília proporciona, sempre encontramos no jornal Zero Hora uma matéria sobre o assunto mais relevante do dia na Capital Federal.


Evidente que não usarei a tribuna para simplesmente fazer elogios. É óbvio que nem sempre eu e outras pessoas ficamos satisfeitos com a cobertura dada pelo jornal, pelo rádio ou pela televisão. Não existe a possibilidade de uma cobertura ser totalmente imparcial. Qualquer cobertura jornalística está sempre sujeita aos sentimentos e às opiniões daqueles que a fazem e a coordenam e dos dirigentes do grupo. No entanto, o importante é que conseguimos sempre encontrar um canal de expressão nos veículos da RBS, mesmo que nem sempre tenhamos a satisfação de ver o que consideramos o mais adequado, o melhor enfoque, a melhor opinião. Sabemos que o canal está sempre aberto.


Nesse sentido, acredito que podemos buscar sempre contemplar as diferentes opiniões, enfoques e abordagens a respeito dos diversos temas que os veículos de comunicação são obrigados a abordar.
É muito importante essa diversidade de veículos que a RBS nos proporciona. Muitas vezes não encontramos o que buscamos no jornal, mas o encontramos na Internet; não encontramos na televisão, mas o encontramos na rádio. Dessa maneira, nesse pool de meios de comunicação, são veiculados os diferentes assuntos, acontecimentos e opiniões.


Deixo a homenagem e os parabéns a todo o grupo, a todos os que fazem o dia-a-dia da empresa, a todos os que trazem a informação, a diversão e a cultura, a todos que incentivam autores, escritores e artistas do Sul do País, tornando-os conhecidos pelo grande público.


É inegável o extraordinário alcance dos meios de comunicação da RBS, que ajudam o Rio Grande do Sul a se conhecer melhor. As pessoas que estão na fronteira de Livramento ou de Uruguaiana conseguem saber, por meio desse potente veículo de comunicação, o que acontece na capital e vice-versa. Da mesma maneira, o Rio Grande do Sul consegue conhecer melhor aqueles que fazem a vida do Estado por meio das lideranças políticas e culturais das mais diversas esferas, que têm sempre espaço em algum veículo de comunicação da RBS para expressar suas opiniões, demonstrar seus talentos ou levar suas informações.


Parabéns! Espero que nos próximos 50 anos a RBS aprimore ainda mais seu trabalho e promova maior difusão de todas as opiniões e manifestações políticas, culturais e intelectuais de nosso Estado.


Muito obrigada. (Palmas.)

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