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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O fenômeno Carro Velho

Inoxidável, a espera de estudo etnográfico

Para o grande antropólogo Clifford Geertz (1926-2006), Carro Velho seria um prato cheio. O cearense de Quixeramobim é uma "teia de significados" falantes e ambulantes, como diria Geertz. A fala do cara é um mosaico de palavras (próprias, impróprias e inventadas) que formam um sentido surreal e non sense, muito imaginoso, poético e divertido.

Penso que a antropologia cultural (ou hermenêutica, como queiram) teria muito a estudar sobre os Carros Velhos espalhados pelo Brasil. Existem muitos que falam assim, talvez não com tanta espontaneidade e simpatia. É uma fala pósmoderna, mas que comunica, minimamente. Ou a fala do Carro Velho é muito diferente do discurso comercial da publicidade, por exemplo?

Heidegger dizia que nós pensamos e falamos muito pouco, quase nada, em conceitos, que a nossa fala cotidiana é mesmo a "tagarelice" - o suficiente para flanar e se defender sobre o básico da existência reificada. Pois bem, o Carro diz a mesma tagarelice, mas com graça, com poesia (quase concretista) e uma mais-criatividade, um plus criativo que encanta e aproxima.

A dinâmica do discurso de Carro Velho merece o que Geertz chamou de "descrição densa", ou seja, uma interpretação de cada signo presente à comunicação, como num trabalho de crítica literária, mesmo. Carro Velho é uma antena de recepção e emissão: ele emite o que escuta e monta uma ressignificação formada de palavras e sílabas justapostas como num vasto painel de arte naïf, primitiva e, ao mesmo tempo, original, espontânea e ingênua.

Carro Velho é muito rélpis, batráquios, tecnológico e sobretudo inoxidável.




No You Tube tem mais vídeos do cearense Carro Velho.

3 comentários:

Juarez Prieb disse...

o cara é gênio!

o novo chacrinha, veio pra confundir.

gustavo disse...

No YouTube tem mais Carro Velho.

Que figura!

Ricardo Mainieri disse...

Já tinha lido alguma coisa de um pernambucano, Xico Sá, que cunhou a escola do portunhol selvagem, elo de integração de nossa latino-américa. É engraçado.
Mas, este Carro Velho, extrapolou. O cara é uma bricolage só. Vai desde o inglês "the book on the table" até as gírias nordestinas, misturando tudo com muita palavra errada, mesmo.
Elomar, Guimarães Rosa e Manoel de Barros que se cuidem...(rs)

Ricardo Mainieri

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