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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Gaza: para os telejornais a história começou ontem


Bombardeio de Ashkelon é ironia trágica

Como é fácil desconsiderar a história dos palestinos, apagar a narrativa de sua tragédia, evitar mencionar uma grotesca ironia sobre Gaza que em qualquer outro conflito estaria entre os primeiros fatos a serem mencionados pelos jornalistas: o fato de que os proprietários originais, legais, das terras israelenses que os foguetes do Hamas agora tomam como alvo vivem em Gaza.

É por isso que Gaza existe: os palestinos que viviam em Ashkelon e nos campos vizinhos - Askalaan, em árabe - foram expulsos de suas terras em 1948, quando Israel foi criado, e terminaram nas praias de Gaza. Eles ou seus filhos, netos e bisnetos estão entre o 1,5 milhão de palestinos amontoados na fossa fétida de Gaza, onde 80% das famílias um dia viveram em terras que hoje pertencem a Israel. Esse é o verdadeiro assunto, em termos históricos: a maioria dos moradores de Gaza não vem de Gaza.

Mas, ao assistir aos telejornais, seria de imaginar que a história começou ontem, que um bando de islâmicos anti-semitas, barbados e lunáticos subitamente irrompeu dos cortiços de Gaza e começou a disparar mísseis contra Israel, um Estado democrático e amante da paz, e por isso atraiu a justa vingança da Força Aérea israelense. O fato de que as cinco irmãs mortas no campo de Jabaliya tenham avós oriundos das mesmas terras cujos proprietários mais recentes as mataram em um bombardeio simplesmente não é mencionado.

Tanto Yitzhak Rabin quanto Shimon Peres disseram, nos anos 90, que desejavam que Gaza simplesmente desaparecesse, e o motivo é compreensível. A existência de Gaza serve como lembrete aos israelenses das centenas de milhares de palestinos que perderam seus lares, que fugiram ou foram expulsos por medo da limpeza étnica que Israel conduziu 60 anos atrás, quando levas de refugiados ainda vagueavam pela Europa e um bando de árabes expulsos de suas terras não preocupava o mundo.

Bem, o mundo deveria se preocupar, agora. Aglomerado em uma das regiões mais superpovoadas do planeta vive um povo que mora em meio ao lixo e aos esgotos e, nos últimos seis meses, vive sem energia elétrica ou comida suficiente, vítima de sanções impostas por nós, o Ocidente. Infelizmente para os palestinos, a mais poderosa voz política - e falo do intelectual Edward Said, e não do corrupto Iasser Arafat (que falta os israelenses devem sentir dele no momento) - se calou, e o sofrimento deles não está sendo exposto ao mundo por seus deploráveis e tolos porta-vozes.

"Trata-se do lugar mais aterrorizante que já visitei", disse Said sobre Gaza. É claro que coube à ministra do Exterior israelense, Tzipi Livni, admitir que "ocasionalmente os civis também têm de pagar", argumento que ela não apresentaria caso as estatísticas sobre mortos fossem revertidas. Se mais de 300 israelenses tivessem morrido, podem ter certeza de que os números seriam enfatizados.

Descobrir que tanto os EUA quanto o Reino Unido se recusam a condenar a agressão israelense e atribuem a culpa ao Hamas não surpreende. A política dos EUA e a de Israel para o Oriente Médio se tornaram impossíveis de distinguir. Como de hábito, os sátrapas árabes, em larga medida bancados pelo Ocidente, optaram pelo silêncio e convocaram uma ridícula conferência de cúpula sobre a crise, que apontará um comitê para preparar um relatório que jamais será redigido.

Pois é assim que funciona o mundo árabe e seus corruptos governantes. Quanto ao Hamas, ele com certeza apreciará o desconforto causado aos potentados árabes e esperará cinicamente que Israel dialogue com ele. E o diálogo acontecerá. Na verdade, dentro de alguns meses, seremos informados de que Israel e o Hamas vinham conduzindo "negociações secretas" da mesma maneira que um dia ouvimos a mesma notícia sobre Israel e a ainda mais corrupta OLP (Organização para a Libertação da Palestina). Mas, quando isso acontecer, os mortos já estarão sepultados, e nós estaremos enfrentando a crise que surgirá depois da mais nova crise.

Artigo do extraordinário repórter Robert Fisk do jornal inglês The Independent. Publicado hoje na Folha.
Foto: Menino palestino em escola de Gaza, no ano de 1943. Cinco anos depois, Gaza passou a ser a sucursal do inferno, até hoje.

Condomínio 2009


Angeli

De copo na mão esperas amanhecer


Passagem do ano

O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o
[ calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória,
[ doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o
[ clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.

O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...

Recebe com simplicidade este presente do
[ acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos
[ séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras
[ espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.

O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.

As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Israel testa munição de tungstênio em Gaza


Corpos ficam desfigurados e enegrecidos

Médicos em Gaza têm relatado acerca de lesões inéditos provocados por armas israelenses que causam queimaduras severas e deixam ferimentos internos profundos, que muitas vezes resultam em amputações ou na morte.

Estas lesões foram vistas pela primeira vez em julho de 2006, quando Israel atacou Gaza depois de militantes palestinos terem capturado um soldado israelense.

"Os corpos chegaram severamente fragmentados, fundidos e desfigurados", afirma Jumaa Saqa'a, médico do Hospital Shifa na cidade de Gaza.

"Descobrimos queimaduras internas de órgãos, enquanto externamente havia minúsculas porções de metralha (shrapnel). Quando abrimos muitas das pessoas lesionadas descobrimos pós sobre os seus órgãos internos".

Não está claro se as lesões provêm de uma nova arma. Os militares israelenses negaram que as lesões proviessem de um Explosivo de Metal Inerte Denso (Dense Inert Metal Explosive, DIME), uma arma experimental.

Em Gaza, o Dr. Saqa'a afirma que as pequenas porções de metralha descobertas nos corpos dos pacientes não se mostram sob o Raio X. "Costumávamos ver a metralha penetrar os corpos fazendo danos localizados. Agora não vemos a metralha, mas descobrimos a destruição", afirmou.

Os médicos também descobriram que pacientes que estavam estabilizados após um dia ou dois morriam subitamente. "O paciente morre sem qualquer causa científica aparente", informou o Dr. Saqa'a.

Fotografias de alguns dos mortos do Hospital Shifa mostram corpos que foram fundidos e enegrecidos para além do reconhecimento. Em vários casos os médicos amputaram membros gravemente queimados.

No Hospital Kamal Odwan, em Beit Lahiya, o vice-director, Saied Jouda, disse que pacientes admitidos nos últimos dias ainda mostram sinais de lesões inabituais. O ministro da Saúde em Gaza relatou que estas lesões vêm de um "tipo de projétil sem precedentes" e também notou queimaduras severas e órgãos internos seriamente danificados.

Um laboratório italiano que analisou as amostras confirmou que os resultados eram compatíveis com a hipótese de uma arma DIME.

A arma ainda está na fase preliminar de desenvolvimento nos EUA. Ela tem uma cápsula de fibra de carbono e contem partículas de tungstênio fino ao invés de fragmentos metálicos. Ela provoca uma explosão muito poderoso, mas com um raio muito mais limitado do que outros explosivos. A médio prazo o tungstênio (ou volfrâmio) pode provocar leucemia. As informações são do portal Resistir.info.

TV Globo editorializa genocídio em Gaza


A violência seria recíproca

O cinismo da TV Globo para com a situação do genocídio em Gaza é algo que merece estudos prolongados.

Hoje às 13:34h, Jornal Hoje, um de seus tantos noticiários inúteis ou mentirosos, a emissora carioca conseguiu a proeza de abordar a grave situação da Faixa de Gaza mas sem informar quem está promovendo os bombardeios e quem está sofrendo os bombardeios. Eram mostradas imagens das áreas destruídas, mortos, choro, crianças feridas, prédios em ruínas, fumaça negra, etc., mas nunca era mencionada a autoria daquela violência toda.

A editorialização do genocídio israelense em Gaza, contra o povo palestino, quer fazer crer ao senso comum que a destruição no Oriente Médio é recíproca, que há tanta destruição e mortes em território palestino, quanto em território israelense.

No texto, a Globo diz que “as Nações Unidas condenaram os dois lados pelos ataques e pediram um cessar-fogo imediato, mas ninguém parece disposto a ceder, pelo contrário, ambos os lados aumentam o poder de fogo”.

Como os palestinos poderiam aumentar o seu poder de fogo? Com aqueles foguetinhos fabricados artesanalmente?

Enquanto isso, Israel, que emprega armamento proibido pela Convenção de Genebra, ontem destruiu a totalidade dos prédios da Universidade Islâmica de Gaza, incluindo sua biblioteca de cinco andares e contendo 130 mil livros. A Universidade palestina tinha trinta anos. Tudo foi destruído em minutos.

Lula rebaixa-se cada vez mais à direita brasuca


Cumpriram-se as ordens de Mendes, o desejo de Jobim e o sonho de Dantas

Ontem, o presidente Lula ficou menos presidente. Sucumbiu ao presidente do STF, Gilmar Mendes, ao ministro Nelson Jobim, e ao criminoso do colarinho branco e banqueiro, Daniel Dantas.

Depois de quatro meses de negaças, bem ao estilo de Lula, ontem foi defenestrado do governo o diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o delegado Paulo Lacerda. Exoneração desta monta no intervalo do Natal e do Ano-Novo cheira a ocultamento de algo reprovável ou temerário.

E é.

O delegado Lacerda foi afastado por Lula do comando da Abin no dia 1º de setembro, após a revista "Veja" ter publicado reportagem sobre um grampo que teria sido realizado pela Abin de uma conversa entre o presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

A revista do grupo Abril (família Civita) começou a circular com a falsa denúncia de grampo no domingo, dia 31 de agosto. No mesmo dia, Gilmar Mendes, articulado com Nelson Jobim, exigiu do presidente Lula uma reunião para tratar do caso. Lula atendeu-o prontamente, e a reunião foi realizada na manhã de segunda-feira, 1º de setembro, na sala presidencial do Palácio do Planalto. Um dos resultados desta fatídica reunião foi o afastamento do delegado Lacerda da direção da Abin, atendendo ordens de Gilmar Mendes, o desejo de Nelson Jobim e o sonho de Daniel Dantas.

O período de afastamento do delegado vencia ontem. Duas semanas atrás, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional) arquivou sindicância para investigar a participação de agentes da Abin no episódio. O gabinete diz não ter encontrado provas contra os agentes. A gravação dos alegados grampos contra a dupla Gilmar Mendes/Demóstenes Torres nunca apareceu. Ninguém sabe como a revista “Veja” teve acesso a algo que sequer existe.

Hoje, fica tácito que tudo não passou de uma armação para precisamente derrubar o delegado Lacerda da Abin.

Daniel Dantas, banqueiro e criminoso, já havia tentando derrubar o delegado Lacerda da direção da Polícia Federal, conseguiu apenas fazê-lo cair para cima, quando o delegado foi indicado para dirigir a agência de inteligência.

Mas, agora é definitivo, Daniel Dantas, ainda que por vias transversas e periféricas, obteve pleno êxito no afastamento de um agente público que o incomodava e atrapalhava seus business heterodoxos que envolvem inúmeros figurões (e figurinhas) da institucionalidade brasileira.

Desde ontem, muitos - à sombra da República - bebem champanhe em comemoração à queda definitiva do delegado, enquanto isso, o presidente Lula apequena-se no cargo que ocupa.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Genocício israelense em Gaza


Israel usa armas consideradas ilegais pela Convenção de Genebra

Razões eleitorais internas de Israel (em fevereiro próximo) estão na base da decisão de atacar um território bloqueado há 18 meses, com o consentimento da União Européia. Ângela Merkel, a primeira-ministra alemã, manifestou apoio aos bombardeios de Israel sobre Gaza, certamente obedecendo mecanismo inconsciente que remete a alguma nostalgia nazi.

- Devido ao criminoso cerco que impede contatos e abastecimentos a partir do exterior, na véspera de Natal nem pão havia em Gaza.

- Binyamin Netanyahu lidera as sondagens, mas as facções de extrema direita, o Likud (profundamente desacreditado após a derrota no Líbano em 2006) e o Kadima pretendem assegurar que a linha fundamentalista permanecerá. A campanha eleitoral foi suspensa.

- O ataque atingiu os edificios da administração civil e quartéis de polícia. O Hamas exerce de fato o governo no território de Gaza, um dos mais superpovoados do mundo: perto de 2 milhões de pessoas numa área de pouco mais de 300 km quadrados. É impossível diferenciar "alvos do Hamas" da população civil, a maioria das primeiras vítimas são policias de segurança pública, mas como foram bombardeados também campos de refugiados há mais de 20 crianças mortas e muitos idosos.

- Israel inventou a história do lançamento dos 80 foguetes (que teriam feito apenas uma vítima fatal). Porém, o porta voz do governo norte americano, quando confrontado com a situação comentou que "Israel precisa se defender das centenas de rockets lançados pelos terroristas".

- O Hamas venceu as eleições em 2006 e tinha direito a formar governo em toda a Palestina, porém tal não lhe foi permitido, privilegiando-se como interlocutor Mahmoud Abbas o líder do Fattah, que perdeu as eleições.

- Enquanto o mapa do Oriente Médio for desproporcional como está representado acima, a região jamais terá paz. Ao mesmo tempo que o povo palestino foi esbulhado de seus direitos territoriais, Israel formou-se baseado no uso reiterado de armamentos considerados ilegais pela Convenção de Genebra, inclusive nos bombardeios das últimas horas. Alguém do governo israelense, bem como do governo norte-americano, precisa ser responsabilizado por esses crimes de guerra, reiterados e cada vez mais letais.

Clique na imagem para ampliá-la.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Gatos gordos


Papai Noel

A luta de classes – lembra dela? – voltou. Dizem que quem compra em lojas de grife na Quinta Avenida de Nova York está pedindo para botarem as compras em sacolas de supermercado, para evitar olhares raivosos na rua.

A revolta com os “fat cats”, gatos gordos, cuja desonestidade e incompetência estão pondo abaixo a economia americana, foi atiçada quando os executivos das três maiores montadoras de carro do país chegaram a Washington para pedir dinheiro ao governo, cada um no seu jato particular. A desculpa era que teriam ido de carro se seus carros fossem de confiança. Revelou-se que muitas das financeiras subsidiadas para não falirem estão usando parte da ajuda para dar as regalias e os milionários abonos de sempre aos seus executivos.

O socorro ao capital financeiro mundial lembra aqueles programas adotados em países que em vez de combater o comércio de drogas dão dinheiro para o usuário manter seu vício sem precisar recorrer ao crime. As financeiras estão sendo pagas com dinheiro público para manter seus maus hábitos.

Acho que foi o Paul Krugman quem escreveu, esses dias, que a única diferença entre o esquema do megavigarista Bernard Madoff e o que, em essência, faz todo o setor foi que o Madoff se autodenunciou. Senão, ele também acabaria recebendo dinheiro para sustentar seu vício.

Crônica de Luis Fernando Veríssimo, publicada em vários jornais brasileiros, hoje.

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O jornal Zero Hora de Porto Alegre (grupo RBS) publica essa mesma crônica, só que assinada por um certo L. F. Verissimo.

Quem será esse senhor, esse genérico do filho de Érico Veríssimo? Aliás, não é de hoje que o jornal do bairro Azenha vem publicando crônicas desse tal de L. F.

Em Tempo: o grupo RBS de Porto Alegre foi fundado pelo radialista e apresentador de programas de auditório M. S. Sobrinho, no final da década de 50.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Valor de troca

Angeli

A paciente construção de uma candidatura ao Piratini


Para a RBS, o bom José é o cara

O jornal Zero Hora “descobriu” uma menina prodígio de nove aninhos, redatora de manifestos políticos que constroem subjetividades consistentes do prefeito José Fogaça, candidato preferencial da direita guasca à sucessão de Yeda Rorato Crusius.

A menininha Nayhu Ziegler é mesmo um fenômeno, "redigiu" um texto altamente articulado para a sua idade e conseguiu cercá-lo de simbolismos que vão ao encontro do que a RBS pensa para o líder que deve ocupar o Piratini, a partir de 2011.

Que coincidência fantástica, não?

Paul Joseph Goebbels, o Propagandaminister de Adolf Hitler, teria muito a aprender, hoje, na redação de ZH.

Com uma pequena dose dessas a cada semana, é o que basta para José Fogaça (PMDB) chegar à campanha eleitoral de 2010 como um candidato com perfil sólido, imagem de líder irretocável, de administrador exitoso e de político ético e ao mesmo tempo terno e familial.

Yeda faz do engodo uma política pública


Uma fabulosa fábula guasca

José das Couves estava muito endividado, devia todas as couves que colhia e mais as que estavam por colher, e as próprias sementes das couves futuras. Lutava para manter sua família de mulher e oito filhos, mas todos comiam três vezes ao dia, estudavam, tinham saúde, e mesmo tendo uma vida de privações conseguiam manter o essencial da existência.

Um dia, José foi ao banco onde tinha um dos seus muitos débitos e o gerente lhe propôs o seguinte: o agricultor não gastaria mais com o conforto, a educação e a saúde de seus familiares, tudo que José recebesse do comércio das couves seria destinado a cobrir o seu débito naquele e em outros bancos, em pouco tempo – garantiu o gerente – ele estaria com as contas equilibradas e os credores satisfeitos.

- Mas, e os meus oito filhos, e a minha mulher? – perguntou José, aflito.

- Ora, José, você compra uma televisão nova, com imagem em alta definição, que a sua turma se distrai e pouco irá sentir das privações. Veja, meu bom agricultor, será apenas uma sensação de privação, você continuará amando-os e acolhendo-os, apenas tem que fazê-los passar por essa fase para que tudo se organize em sua vida e você consiga superar as dificuldades – completou o gerente, observando o efeito que suas palavras produziam no José das Couves.

José acabou aceitando a proposta milagrosa do gerente. Ao cabo de um ano, voltou ao banco e viu que de fato suas contas estavam organizadas, ainda tinha muitas dívidas, mas pelo menos a contabilidade estava equilibrada e seu nome ficava limpo para assumir novos débitos.

O gerente, todo sorrisos, veio lhe atender, solícito:

- Então, José, viu como foi sensato você fazer um pequeno sacrifício e organizar a sua vida de modo a não se preocupar mais com contas atrasadas e débito sem pagamento? E a família, como vai?

- Olha, seu gerente, a família diminuiu. Perdi três filhos de desnutrição, e a mulher e três outros filhos estão penando com doença em cima de doença, e os dois mais velhos largaram os estudos para poderem fazer uns bicos e ajudarem no orçamento doméstico. Mas tirando isso, o resto vai indo bem, graças a Deus!

- José, venha tomar um cafezinho que eu vou mostrar agora uma proposta sensacional para o amigo. Vejamos a coisa pelo lado positivo, com uma família menor, seus compromissos também diminuiram, logo, sua renda aumentou, e as oportunidades se ampliaram. Você conseguiu, José! Você é um vencedor, amigo!

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A governadora tucana Yeda Crusius abriu mão de administrar o Estado. Só cuida do caixa do Tesouro e o resto empurra com a barriga. Claro, para isso, conta com a ajuda de seus aliados da mídia local, a fim de que estes passem ao grande público uma sensação de consistência administrativa e empenho político à frente do Piratini.

Como se vê, o engodo também pode ser um elemento importante na agenda das políticas públicas.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Aracruz está nas últimas


Investidores só aguardam o preço da papeleira chegar ao nível bacia-das-almas

Mais uma vez a Aracruz Celulose não finalizou as negociações com as instituições financeiras em relação às operações de derivativos. A empresa tinha até ontem, domingo, para concluir as negociações. Peter Ping Ho, analista de investimento da Planner Corretora, avalia que a demora de acerto com os bancos evidencia que a situação da empresa está se complicando e, agora, a sobrevivência desta está em jogo.

"Mesmo que a Aracruz venda toda a produção, não terá caixa para quitar as operações com derivativos", relata Ho. Em novembro, a maior fabricante de celulose de eucalipto do mundo anunciou uma perda de US$ 2,13 bilhões com derivativos.

De acordo com o analista de investimentos, a Aracruz teria duas alternativas: colocar a empresa a venda por conta desse impasse ou fazer um aumento de capital. Diante do atual cenário econômico global, a segunda opção não é considerada muito viável por Ho.

Há pouco, as ações ordinárias da Aracruz apresentavam queda de 1,32%, cotada a R$ 3,75. A informação é do portal InvestNews.

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A saída para a papeleira será a sua venda definitiva para um novo grupo de investidores. Estes, certamente, ainda estão torcendo para que a empresa de celulose caia afinal a preços de bacia-das-almas, bem como analisando o remanejo do mercado mundial de celulose e papel face à crise internacional do sistemão.

Foto: exemplar do marketing agressivo da papeleira Aracruz, sempre de cunho racista e falsamente preocupado com os seus (poucos) empregados.

Lula quer falar em soberania?


Presidente adota concepção de soberania da risível dupla Jobim-Mangabeira

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje, em seu programa semanal de rádio "Café com o Presidente", que o Brasil precisa montar uma estratégia de defesa pensando não em guerra, mas “em se defender”. Segundo ele, esse é o motivo do lançamento, na última semana, do Plano de Defesa Nacional. Para Lula, a indústria de defesa no Brasil está desmontada e precisa ser reorganizada.

“Um país que acaba de descobrir reservas imensas de petróleo em águas profundas, que tem a Amazônia para defender, precisa montar uma estratégia de defesa não pensando em guerra, mas pensando em se defender mesmo. Em garantir o seu patrimônio, em garantir a tranqüilidade da sociedade brasileira”, disse.

Segundo Lula, o país precisa de um Ministério da Defesa “que realmente seja um Ministério da Defesa. “É um projeto a longo prazo, não é uma coisa que vai acontecer em dois dias ou em dois anos. O Brasil precisa estar efetivamente preparado”, avaliou. A informação é da Agência Brasil.

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O tema acima já foi tratado aqui no blog, embora o personagem fosse o ministro Nelson Jobim e não o presidente Lula. Mas não importa, nota-se que o lulismo de resultados está monolítico na concepção de uma soberania puramente militarista-comercial (a fim de entrar com mais agressividade no circuito internacional do comércio de armas e munições). A garantia do patrimônio do pré-sal, por exemplo, deve resultar de um plano de defesa de viés belicista e militarista, e não de uma concepção política que leve em conta os múltiplos aspectos da soberania cidadã.

Semana passada, ainda, a ANP – aquele reduto de entreguistas – promoveu leilão de jazidas pretrolíferas que são lesivos ao interesse nacional. A Petrobras, hoje, é apenas 50% estatal.
Portanto, de nada vai adiantar um Plano de Defesa Nacional dito moderno e atualizado tecnologicamente se as riquezas naturais brasileiras continuarem sendo objeto de valor de troca por parte dos grandes players internacionais de energia espertamente associados a discretos operadores nacionais.

O governo Lula, a rigor, não busca a soberania tout court, mas adota o discurso da soberania como mera justificação patrioteira para dar incentivos ao complexo industrial-militar do Brasil associado e tecnologicamente dependente dos grandes expoentes norte-americanos do setor. Mais: a concepção de defesa da dupla Jobim-Mangabeira Unger é uma concepção subalterna aos interesses geopolíticos norte-americanos.

É de lamentar que o presidente Lula arrisque manchar a sua biografia embarcando na aventura ao mesmo tempo belicista e negocial da dupla Bolão e Azeitona, Nelson Jobim/Mangabeira Unger.

Ademais, quem é o presidente Lula para falar em soberania? Ele, que abriu mão de sua soberania no que diz respeito aos assuntos da política monetária e fiscal, perde totalmente a autoridade para vir falar em soberania, muito menos por esse viés obsoleto de um militarismo pré-Guerra Fria, fuleiro e risível.

Quer falar em soberania e defesa dos interesses nacionais? Muito bem. Então, trate de verificar o que anda fazendo a Agência Nacional de Petróleo, presidente Lula. Trate de chamar o presidente Meirelles e peça a ele que explique o fato de o Brasil exibir as mais altas taxas de juros do planeta, especialmente agora que o mundo se prepara para uma recessão profunda e prolongada.
Faça com que o presidente Meirelles se explique, ato contínuo, demita-o, senhor presidente dos justos e merecidos 80% de popularidade!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

A matriz da violência no mundo


O crime como força produtiva

Todos os ideais Iluministas estão mortos, subsiste somente o aspecto negocial ("geralmente colocado sob o signo da vigarice", no dizer de Ernst Bloch), o lado puramente econômico, produtor de mercadorias e alienação, que se reproduz de modo ampliado pelos aportes incessantes da ciência reificada através das tecnologias de dinheirização da vida.

O mestre dos gangsteres, Salvatore Lucky Luciano (foto), dizia com conhecimento de causa, que ao entrar em qualquer negócio o importante é não ser o morto. Uma moral definitiva sobre o seu negócio e, de resto, sobre o negócio do capitalismo em geral. Um jogo com regra singular: não ser o morto. O resto vale tudo. Que o diga Bernard L. Madoff, o esperto que enganou meio mundo vendendo pirâmides de ganância, a um preço de 50 bilhões de dólares.

Qualquer estudante de economia, mesmo os não-estudantes, os transeuntes próximos a uma escola de economia, sabem que nos primórdios do capitalismo, na fase de acumulação primitiva, está o roubo, o saque, a escravidão e a pilhagem. Aí está a transnacional Siemens, há 70 anos cometendo crimes, sempre prosperando. Muitas dessas ações de apropriação nem sempre foram consideradas crime. O abigeato, por exemplo, nem sempre sofreu sanção. Bento Gonçalves da Silva, o grande herói guasca, foi um abigeatário confesso. Hoje, é crime passível de severa punição, e os fazendeirotes da Campanha guasca exigem veículos e força pública para inibir o crime de abigeato em suas propriedades.

O Direito anda a pé, o fato social anda a jato. E essa diferença de velocidade é fator econômico de grande relevância, quem dela tirar proveito tem inegáveis vantagens comparativas sobre o concorrente.

O vale-tudo da acumulação primitiva foi sendo abrandado pela lei e pelo Estado, mas não foi totalmente eliminado da vida social moderna. A concorrência entre os capitais reproduz incansavelmente novos vale-tudo, para os quais o Estado e a lei não estão e, muitas vezes, não querem estar preparados.

No Brasil, meses atrás, houve a constatação de maquiagem de mercadorias (pacote de alimento de 200 gramas, com apenas 190 gramas, de 1 kg, com 980 gramas, etc.): uma franca manifestação local do que é o negócio capitalista, na essência.

A fraude, aqui, é força produtiva.

O aumento de rentabilidade do capital pode vir tanto do incremento de produtividade quanto do esforço de desprezar a lei, para aquele, é preciso investimento, para esse, só é preciso empenho criativo e cara-dura.

As novas “forças produtivas” podem ser: “acordos e cartéis, abusos de posição de liderança, dumping e vendas casadas, delitos de iniciados e especulação, absorção e desmembramento de concorrentes, balanços falsos, manipulações contábeis e de preços de transferências, fraude e evasão fiscal por filiais off shore e sociedades virtuais, desvio de créditos públicos e mercados fraudados, corrupção e comissões ocultas, enriquecimento ilícito e abuso de bens sociais, vigilância e espionagem, chantagem e delação, violação do direito do trabalho e da liberdade sindical, da higiene e da segurança, das cotizações sociais e ambientais” (Brie), etc. Que grande grupo negocial está fora de um, dois ou todos esses poucos itens de “esforço criativo” para aumentar rentabilidade e vencer concorrentes?

A lavagem de fundos ilícitos pelos principais bancos dos Estados Unidos constitui uma fonte importante de fluxos externos para aquele país. Uma subcomissão do Senado americano calculou essa cifra em torno de 500 bilhões de dólares/ano. São recursos de múltipla origem: desde o narcotráfico, máfia russa e japonesa até o caixa dois de companhias multinacionais, depósitos em paraísos fiscais “legalmente” tolerados. Tráfico de tudo: novos narcóticos sintéticos, cocaína, armamento pesado, órgãos humanos, alta prostituição, falsificação de grifes (muitas vezes pelos próprios proprietários para aproveitar o crescente mercado informal subterrâneo mundial), pirataria na informática e na indústria fonográfica, o tráfico de animais (só este movimenta anualmente cerca de 20 bilhões de dólares), etc.

Toda a logística estatal norte-americana do serviço secreto que era empregado na Guerra Fria onde opera, hoje? Ganha um doce quem disser que é na nova guerra econômica pela americanização de fundos legais e ilegais, tanto faz; a moeda é uma mercadoria vil que procura proteção máxima; e os EUA podem dispor de meios para dar-lhe segurança e rentabilidade.

O comércio mundial anual situa-se, hoje, “ao redor de 5 trilhões de dólares, calcula-se que 20% por via do crime, ou 1 trilhão de dólares” (Brie). Essa “riqueza” é administrada lisa e serenamente pelos grandes bancos do planeta, por grandes escritórios de advocacia, mega-corretoras, intermediários diversos, gerentes e diretores de trustes e fiduciárias, constituindo um bolo internacional que é lavado todos os dias, em quantidades parcelares, pela chamada economia legal.

A guerra contra o grande crime é uma nova guerra fria (uma guerra de mentirinha), na qual os Estados nacionais pouco podem, porque dominados pelos interesses que sustentam e reproduzem tal situação. Aí reside a matriz primal da violência de nossos dias. Violência globalizada, que se alastra e se reproduz nos quatro cantos do mundo, em pequenas sucursais do inferno.

É da natureza mesma do negócio capitalista, essa prática heterodoxa. É da natureza mesma do escorpião picar o sapo que o ajudou a vencer a forte correnteza.

Mudar a natureza das coisas, quase sempre, envolve mudar as próprias coisas.

Artigo de Cristóvão Feil, sociólogo.


quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Globo defende elite branca e de olhos azuis


Sempre existiram cotas nas Universidades, para brancos e endinheirados

A Rede Globo, no Jornal Nacional, criticou o projeto que regulamenta cotas para alunos do ensino público, bem como para negros e indígenas: os Deficientes Cívicos. O jornalista dizia que não foi feita uma ampla discussão envolvendo a sociedade e que o imediatismo era eleitoreiro e irresponsável. Como um desastrado partidário da dialética, o Jornal Nacional ouviu duas pessoas: uma antropóloga, contrária ao sistema de cotas, e um deputado do PSB do Espírito Santo - que apareceu pela primeira vez em cadeia nacional -, também contrário às cotas. Qual debate? Ora, eu pergunto, se a Globo realmente tem interesse num debate amplo envolvendo a sociedade, acadêmicos e políticos, por que ela nunca promoveu uma discussão? Por que ela nunca patrocinou um debate no horário do besteirol Big Brother?

O fato é que o senhor Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo, é contrário às cotas, e sempre que pode externa isso em suas colunas, sempre com comparações de senso comum e exemplos pessoais inadequados. Veja a metodologia de discussão sobre cotas engendrada pelas Organizações Globo, sob o comando do senhor Ali Kamel: a antropóloga da USP entrevistada ontem disse que o sistema de cotas iria instituir a raça no Brasil, seja lá o que essa afirmação estapafúrdia queira significar, ela também disse que isso é obra de um governo às vésperas de uma eleição. Minha senhora, o sistema de cotas não é uma iniciativa deste governo, é resultado de uma intensa discussão entre a academia, movimentos sociais, movimentos negros etc. Aqui em Brasília a discussão foi encabeçada pelo antropólogo José Jorge (UnB), que deveria ter sido entrevistado pela Globo, porque está envolvido na discussão desde o seu início.
Por que a Globo decidiu pela antropóloga contrária às cotas? Por que ninguém tem coragem de dizer que as universidades federais brasileiras sempre operaram num sistema de cotas para brancos endinheirados? Por que ninguém tem coragem de dizer que a metodologia dos vestibulares visa beneficiar os alunos de escolas particulares?

A Universidade surgiu no Brasil para servir à elite, que não queria mais mandar os seus filhos para Coimbra ou Londres! A USP, segundo o antropólogo Claude Levi-Strauss, foi feita pelos barões de São Paulo para atender aos seus filhos; ali as aulas eram ministradas por sumidades européias em italiano e francês. Sempre se privilegiou a Europa no ensino de história, filosofia, literatura e artes em geral nas universidades brasileiras, como se não existissem correlatos na América Latina (cheia de Prêmios Nobels em literatura), na África ou na Ásia. Não é à toa que não se fala na contribuição árabe para a constituição do que é hoje o mundo ocidental!

A Universidade é monotemática, não representa a diversidade brasileira, não traz as minorias para discussão e não enriquece o seu discurso com contribuições originais. É sempre mais do mesmo!

Por isso, os cursos de Nutrição têm disciplinas obrigatórias voltadas a emagrecer os ricos, e não têm disciplinas obrigatórias voltadas a engordar os pobres, como dizem; as faculdades de Agronomia têm disciplinas obrigatórias voltadas ao latifúndio e às monoculturas, nada em relação à agricultura familiar e de subsistência; há cursos de Publicidade nas Universidades Federais - o que é um acinte e um contra senso -, a quem irão servir esses senhores depois de formados?; os cursos de Literatura não falam em Literatura Africana, Latino Americana ou Oriental, somente se fala em franceses e ingleses; as Faculdades de Filosofia não falam dos continentes colocados como periféricos, só falam em gregos e troianos; os homens civilizados, que viviam em cidades enormes e com edificações maravilhosas na América Central, com cidades mais populosas que qualquer outra na Europa, ainda são descritos pejorativamente como índios.

Mas, como definir quem é negro, perguntam os racistas incautos. Eu sugiro uma metodologia muito simples: coloque na banca examinadora um PM, uma gerente de loja de um Shopping Center, um empregador que exige boa aparência, um diretor de televisão, uma mãe cafetina procurando um bom partido pra filha etc. Não faltam agentes sociais versados em identificar negros e discriminá-los. A hipocrisia é que cega a sociedade!

Por que não se fala na Lei do Boi, que garantia vagas nas universidades aos filhos de pecuaristas? Por que ainda acham que o vestibular, no modelo em que é feito, é a melhor maneira de escolher cidadãos críticos e inteligentes para pensar a sociedade?

Por que os vestibulares não são elaborados de acordo com o conteúdo programático das escolas públicas? É interessante para o país que as escolas particulares tenham se convertido em laboratórios onde se treinam jovens para passar no vestibular?

O modelo atual de vestibulares nos faz crer, e sobretudo àqueles que falam no mérito de se tirar uma nota cada vez mais alta para passar no vestibular, que garotos que passaram em primeiro lugar em Medicina ou Direito são futuros intelectuais, gênios prontos a servir à sociedade com soluções inovadoras e inteligentes. É como se a juventude formada em Direito e Medicina, pelas universidades federais, fossem a elite intelectual da nossa geração, profissionais de ponta na função que exercem. Por que o cara que consegue decorar a tabela periódica e as fórmulas de química, física e matemática; e decore datas, nomes de livros, vida de autores, perfil dos grandes vultos (tudo dentro da perspectiva monotemática e eurocêntrica de nossas academias), são os que têm o mérito de entrar para a academia e propor soluções inteligentes para o país, que faça um país cada vez melhor? Por que o cara que tem vocação pra ser Assistente Social, Educador, Filósofo, Historiador etc. tem que decorar a Tabela Periódica? Porque se não decorar as fórmulas de química e física, embora nunca vá utilizá-las, o cidadão não pode entrar na universidade!!! A maior parte do conteúdo estudado para o vestibular é decorado para uma finalidade, desvanecendo depois de cumprido o objetivo. Você que estudou numa federal há mais de dez anos, volte lá e faça vestibular para o mesmo curso que você passou, sem ter que entrar num cursinho para lembrar aquelas coisas todas que meteram na sua cabeça e você nunca mais ouviu falar. Porque as leis da física são as mesmas, Napoleão não fez nada de novo, a tabela periódica tem a mesma configuração, as regras gramaticais continuam inalteradas etc. O que mede o vestibular? O que é mensurado ali?

As cotas vão diminuir o nível das universidades? Qual nível? De que universidades? Que pesquisas comprovam isso? Recentemente a UFBA (Universidade Federal da Bahia) fez uma pesquisa e constatou, por meio de números, que não há diferença de rendimento entre alunos cotistas e não cotistas; os números revelam inclusive que no quesito freqüência, os alunos cotistas estão em vantagem, são mais assíduos. Não é problemático que numa pesquisa feita por um professor da USP, com base no cadastro de alunos que ingressaram nesta universidade em 2003, demonstrou que uma única rua da região abastada dos Jardins, colocou mais alunos na USP do que 80 bairros pobres da periferia da cidade! Cotas? É um velado sistema de cotas? Qual é a metodologia? Qual a finalidade?

Artigo de Lelê Teles, blogueiro de Brasília, acesse aqui.

Por quem os sinos dobram


A menina morta de Bagdá

No dia 29 de abril de 2008, a capital do Iraque, Bagdá, foi bombardeada pela aviação do exército norte-americano de ocupação. O bombardeio visava principalmente alvos civis, uma vez que o serviço de inteligência das tropas de ocupação supunham que aqueles locais-alvos eram os esconderijos de perigosos terroristas iraquianos. Não eram. Era apenas a casa da menina morta de Bagdá (acima), em registro da fotógrafa Kareem Raheen da agência inglesa Reuters.

Corte rápido.

Nesta semana, quando um lúcido jornalista iraquiano tentou atingir o presidente Bush com os próprios sapatos muitos riram e taxaram-no de “iraquiano fanático”.

Logo, a máquina de fazer doido do “american way of life” tratou de desconstituir o gesto simbólico e altamente politizado do jornalista iraquiano produzindo games eletrônicos em massa com a temática do arremesso de sapatos. É instantâneo e mecânico: uma despolitização da revolta e a subseqüente confecção de um gadget para ser ofertado como valor de troca no mercado da idiotice de massas.

Bush sabe porque levou a sapatada. Nós sabemos porque Bush levou a sapatada.
Por que, como disse o poeta John Donne (1572-1631):

Se o gênero humano perde um homem [uma menina, no caso],
Todo o gênero humano perde e se sente diminuído,
Por isso
não me perguntem por quem os sinos dobram
Eles dobram por ti

Transnacional Siemens é uma empresa criminosa


Parte dos seus capitais resultam de exploração de trabalho escravo

Sacudida por uma série de casos de corrupção nos quais perdeu dinheiro e prestígio, a Siemens concordou na última segunda-feira, 15, em pagar mais de 1 bilhão de dólares em multas na Alemanha e Estados Unidos.

A Siemens, sediada em Munique, acordou pagar mais de 800 milhões de dólares compensatórios por responsabilidade em corrupção nos Estados Unidos, e outros 395 milhões de euros (533,6 milhões de dólares) às autoridades européias. Na última segunda-feira foram divulgadas as importâncias das multas.

Com ações nas Bolsas de Valores de Nova York e no índice DAX da Alemanha, os fiscais norte-americanos descreveram planos nos quais os executivos da Siemens subornaram funcionários estrangeiros com maletas cheias de dinheiro e criaram amplos fundos para corrupções a fim de obter contratos governamentais.

A empresa está em 30 países e atua nas áreas de indústria, energia e setores de saúde, vende produtos que vão desde turbinas de vento até trens, está comprometida em um escândalo de corrupção de grande amplitude e reconheceu haver feito pagamentos de legalidade duvidosa para assegurar contratos. Uma investigação realizada no interior da Siemens encontrou evidências de violações em toda a companhia e em vários países.

Sob os termos do acordo fechado nos Estados Unidos, Siemens e três de suas subsidiárias internacionais pagarão aproximadamente 450 milhões de dólares ao Departamento de Justiça para cobrir as movimentações financeiras destinadas a subornos e intenção de falsificar os livros corporativos de 2001 até 2007. A empresa pagará outros 350 milhões pelos cargos cooptados na Comissão de Valores e Câmbio. A informação é da Associated Press.

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Parte da acumulação de capital da Siemens foi auferida graças ao trabalho escravo de presidiários judeus durante o regime nazista na Alemanha.

Essa história é conhecida na Alemanha. Fernando Morais contou-a no livro "Olga", mas foi suprimida, por evidentes motivos comerciais, no filme brasileiro do mesmo nome produzido pela Globo Filmes. A Siemens, assim, trabalha com capitais malditos, que resultam de exploração da escravidão, racismo, contubérnio com o regime hitlerista e agora corrupção pesada para obtenção de contratos governamentais ilegais.

A exemplo do Tribunal de Nuremberg, deveria haver um tribunal internacional para judiciar essas transnacionais criminosas que causam danos inominados a milhões de pessoas no planeta durante dezenas e dezenas de anos, como é o caso da famigerada Siemens.

Cuidado, neste natal você pode ter comprado inadvertidamente um presente produzido por uma empresa inescrupulosa cujas raízes estão plantadas no pântano do racismo, da escravidão e da corrupção. Cuidado!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Direita acuada pede desculpas pela corrupção na Grécia















Grécia insurgente

O primeiro-ministro grego, Kostas Karamanlis, pediu, ontem 16/12, desculpas pelos escândalos de corrupção ocorridos no país desde que assumiu o poder, em 2004. O pedido de desculpas do chefe do governo ocorreu num dia em que eclodiram novos distúrbios nas ruas, em protesto contra a morte de um adolescente no último dia 6 de dezembro pela polícia do governo.

Num discurso perante o grupo parlamentar do partido governamental Nova Democracia (novo partido da direita grega), Karamanlis garantiu que não se tinha apercebido da seriedade dos referidos casos de corrupção e afirmou que assume, totalmente, a "responsabilidade política" que lhe cabe. O primeiro-ministro grego prometeu ainda novas reformas no sistema de ensino, um dos pontos que mobilizam a população contra o governo.

Entretanto, a capital da Grécia, Atenas, foi cenário de novos tumultos. Entre outras ações violentas, um grupo de jovens lançou coquetéis molotov contra a sede das forças policiais antimotim. Os jovens também lançaram pedras e provocaram danos em veículos estacionados nas imediações.

Os anarquistas são muito fortes na Grécia, eles lutam contra uma reforma do ensino que foi implantada ainda no final da década de 90, pela não-concessão de minas de ouro a investidores estrangeiros, contra a corrupção dos sucessivos governos de direita no País e contra a estagnação econômica que aumenta o desemprego e a falta de horizontes para os jovens. Os anarquistas acusam militantes do Partido Comunista da Grécia de apoiarem a repressão do governo de Karamanlis.

A Grécia é um caldeirão insurgente, hoje, na Europa. Talvez uma antecipação do que virá caso se confirme a forte recessão econômica mundial para os próximos anos.

As fotos acima são dos seguintes fotográfos e fotógrafas (sem ordem): Yiogos Karahalis, Louisa Gouliamak, Dimiter Dilkoff, Satris Mitrolidis, Nikolas Giakoumidis, Grigoris Siamidis, Petros Karadjias, Aris Messinis, Olivier Laban-Mattei, Bela Szandeszky. Agências: Reuters, AFP, AP, Getty Images.

Os protestos de 6 de dezembro começaram com a morte pela polícia grega do jovem de 15 anos, Alexandros Grigoropoulos (na primeira foto, de baixo para cima).

Clique nas imagens para ampliá-las.

Diminui a diferença salarial entre homens e mulheres


No ritmo que vai, lulismo de resultados levará 87 anos para alcançar a igualdade de gênero

O estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que, se as políticas de igualdade de gênero não forem aceleradas, serão necessários 87 anos para igualar salários de homens e mulheres.

A ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Nilcéa Freire, comemorou a redução das desigualdades entre homens e mulheres, mas reconheceu que é preciso acelerar o ritmo de implementação das políticas.

“Desde as últimas Pnads [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios], temos tido notícias boas e más em relação às desigualdades das mulheres. A boa é que existe redução das desigualdades no Brasil. A mais importante seria que diminuiu a diferença salarial entre homens e mulheres”, disse a ministra.

“A má é que a velocidade não é a que queremos. Se fizermos uma regra de três simples, projetando os dados da Pnad para o futuro, levaríamos 87 anos para superar a diferença salarial entre homens e mulheres”, lamentou.

Na avaliação do presidente do Ipea, Marcio Pochmann, as desigualdades de gênero estão diminuindo no país, mas ainda são “acentuadas”. Segundo ele, a diferenças entre homens e mulheres no mercado de trabalho são conseqüência dos modelos agrícola e pecuário que o país viveu no passado. Para acabar com as desigualdade, disse Pochmann, é preciso que as políticas afirmativas sejam de Estado, portanto, contínuas, e não apenas de governos.

O estudo analisou 11 blocos temáticos sociais para traçar um perfil das desigualdade de raça e gênero no país. Entre os aspectos analisados estão mercado de trabalho, população, saúde, habitação e Previdência Social. A informação é da Agência Brasil.

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Não foi por nada
que Monteiro Lobato, na década de 30 ainda, classificou o Brasil de "um imenso tartarugal", face a lentidão das nossas mudanças sociais.

Situação da RBS é totalmente ilegal


MP entrou com ação contra o oligopólio midiático sulino

Vale a pena ler a entrevista do procurador catarinense Celso Tres concedida ao jornal-laboratório Zero, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), edição de novembro 2008.

Semana passada, o Ministério Público Federal de Santa Catarina entrou com uma Ação Civil Pública (processo nº. 2008.72.00.014043-5) contra o oligopólio da empresa Rede Brasil Sul (RBS) no Sul do Brasil.

O MPF requer, entre outras providências, a diminuição do número de emissoras da empresa em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, de acordo com a lei, e a anulação da compra do jornal A Notícia, de Joinville, consumada em 2006 – que resultou no virtual monopólio da empresa em jornais de relevância no Estado de Santa Catarina.

O quadro pode ser conferido nos trechos da entrevista com Celso Tres, um dos procuradores que elaborou a medida judicial:

Ação contra a RBS

"A ação está sendo instruída há dois anos, por meio de um Inquérito Civil Público (ICP), porque é bem complexa. Também participam vários procuradores no estado. A RBS tem uma posição totalmente dominante. No RS e em SC, são 18 emissoras de televisão, dezenas de estações de rádio, uma dezena de jornais. E a culminância disso foi quando a RBS comprou o jornal A Notícia, o que a tornou dona de todos os jornais de expressão dos dois estados".

A ilegalidade da situação

"Em cada estado, um titular só pode ter no máximo duas emissoras – emissoras, não retransmissoras. Este é outro vício: as emissoras têm outorgas de emissão, ou seja, elas deveriam produzir programação, mas não produzem ou fazem uma programação local ínfima, como é o caso da RBS. Existem várias "emissoras", em Florianópolis, Criciúma, Lages, Xanxerê, Blumenau, Joinville. Mas, na verdade, elas só produzem um noticiário local.

Hoje, na verdade, em SC, ou você trabalha na RBS ou você está fora. Você vai estar trabalhando ou em órgãos bem pequenos, espaço de trabalho inclusive bastante reduzido, caso do que eles fizeram com o AN. As matérias são as mesmas, teve um momento assim que chegaram ao ridículo de colocar a mesma manchete, a mesma matéria.

A radiodifusão – emissora de rádio e TV – deve estar em nome de pessoa física, não de pessoa jurídica, e cada pessoa só pode ter duas por estado. Daí, o que eles fazem é colocar em nome de pessoas da família. E isso tudo está demonstrado claramente na ação. Inclusive a questão da retransmissão".

A criação da TV Brasil poderia ter sido uma saída

"A questão é permitir a multiplicidade. A rede pública de televisão, com a criação da TV Brasil, poderia ter sido uma saída, mas o governo fez tudo errado. O correto seria que o Estado disponibilizasse canais, não adianta tentar produzir programação.

Seria fácil: criar 30 canais de TV para serem disponibilizados à população. Depois seria só colocar retransmissoras públicas nos centros urbanos, para os canais transmitirem programação independente. Uma medida simples, percebe? Bastava criar os canais e construir as retransmissoras. É uma questão tecnológica e de vontade política.

Custaria muito mais barato do que o governo tentar produzir programação e todos teriam oportunidade de fazer sua produção. O governo faria as retransmissoras, pura e simplesmente. Seria uma revolução na comunicação. A mídia, em pouco tempo, mudaria porque, com uma multiplicidade de canais, o canal com maior audiência chegaria a 15%, 10%, como é nos EUA, que é o correto".

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

MST inicia marcha


Recebo nota do MST:

Marchantes partem de Santa Margarida do Sul (RS), de onde foram impedidos de seguir à São Gabriel em 2003.

Uma marcha em direção à São Gabriel marca a conquista do mais recente assentamento das famílias do Movimento Sem Terra no Rio Grande do Sul. Na manhã de hoje (16/12), os trabalhadores rurais partiram de Nova Margarida do Sul em direção ao novo assentamento na Estância do Céu. A escolha do local de partida é simbólica: foi em Santa Margarida do Sul que, em 2003, o MST foi impedido de prosseguir marchando para São Gabriel.

O complexo Southall foi desapropriado em 2003, porém o Supremo Tribunal Federal impediu a desapropriação da área maior do que o território de 133 municípios gaúchos e com dívidas com bancos públicos. Na época, os ruralistas que já haviam ameaçado a vistoria das terras com seqüestros e bloqueios, distribuíram um panfleto que incitava à violência contra os trabalhadores, sugerindo o uso de veneno e armas de fogo contra os acampados.

Cinco anos depois, parte da área é agora desapropriada e junto com outros novos assentamentos na região, irá assentar mais de 600 famílias, gerando 1800 empregos diretos e injetando cerca de R$ 20 milhões na economia da região.

A Marcha deve chegar no novo assentamento na quinta-feira, dia 18/12, pela manhã.

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A expressão “marchante”, no caso, é imprópria. Marchante é o negociante de gado, o atravessador entre o pecuarista e o retalhista.

Marchar significa caminhar. Portanto, o mais apropriado seria caminhante, aqueles que caminham, que andam, que marcham. Uma sugestão ao setor de imprensa do movimento. De resto, força e saúde aos caminhantes.

CUT critica presidente da Vale do Rio Doce


Roger Agnelli quer precarizar emprego no Brasil

A Central Única dos Trabalhadores divulgou nota pública em que critica as declarações do diretor-presidente da mineradora Vale do Rio Doce, Roger Agnelli. A nota assinada pelo presidente da central sindical Arthur Henrique, classifica como oportunista a proposta de Agnelli de reduzir os direitos dos trabalhadores para que as empresas saiam da crise financeira.

Segundo Henrique, é indecente que empresas como a ex-estatal Vale, que sempre receberam dinheiro público, agora queiram que os trabalhadores paguem por seus prejuízos. A Central reafirma que irá realizar mobilizações em defesa dos empregos e contra demissões. A informação é da Agência Chasque.

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Falta a CUT denunciar e se mobilizar contra a intenção da Vale do Rio Doce – a segunda maior mineradora do mundo – de encomendar a compra de doze navios de grande porte para transporte de minério de ferro na China.

Roger Agnelli (foto), a quem o presidente Lula chama de “querido companheiro”, quer precarizar o emprego no Brasil e dar emprego na China.

Impressiona o fato de que os neoliberais - como Agnelli - ainda não se deram conta de que o modelo por eles consagrado acabou.

Kaputt!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O vento e o lixo


O litoral guasca é coisa pra macho

Dias atrás dei uma recorrida no Litoral Norte. Entrei via Cidreira e percorri praticamente todas as praias, até Torres. Na natureza se destacam o vento forte e constante, molhado de maresia e um mar achocolatado, revolto e gelado. Coisa pra macho. Na paisagem urbana uma arquitetura pobre e repetida, muito lixo em terrenos baldios, lixo nas ruas, lixo nas poucas calçadas, o que denota a existência de um poder público que está se lixando para moradores e turistas, e uma novidade que cresce como cogumelo: condomínios fechados, muros altíssimos, com nomes que nada significam mas demonstram fantasias povoadas de monarcas, nobrezas e imaginários pré-capitalista e pré-republicano.

Passei por um condomínio cujo nome é Condado da Riviera, uma mescla tola de ignorância com desorientação. Falei com um zelador que estava visivelmente assoleado, sentado num abrigo inútil, na portaria do tal Condado:

- O senhor pode me dizer onde mora o Conde?

Ele nada respondeu. Acho que estava sofrendo uma forte insolação.

Roda Morta


Gilmar Mendes & amigos

Hoje, na TV Cultura, programa Roda Viva, o entrevistado é o ministro Gilmar Mendes. Até aí nada demais. Eu bem que gostaria de ouvir o tucano Mendes falar sobre si e sobre o Brasil. Afinal, Mendes, hoje, é a própria encarnação do pensamento de direita no País. É aguerrido nos seus propósitos, milita com força e determinação, como se diz. Certa feita, chegou até a determinar ordens ao próprio presidente Lula, que o obedeceu pressuroso.

Ocorre que o programa Roda Viva é de cartas marcadas. O time de entrevistadores é formado dos tipos mais carimbados do PIG. Cito dois: Eliane Cantanhede e Reinaldinho “Quico” Azevedo. É pra vocês verem com quem estão tratando.

E a direção do programa é do “escritor” Paulo Markun, aquele carinha que escreveu uma biografia da heroína Anita Garibaldi (que eu li, acreditem!). A folhas tantas, Markun conceitua o movimento carbonário na Itália, século 19, do qual fez parte o mercenário Giuseppe Garibaldi: foi um grupo de rapazes que comiam massa à carbonara. Eu tinha esquecido disso. Fui lembrado pelo blog do Mino, que também faz um juízo pouco edificante do coordenador do Roda Viva.

Enfim, como diz o Mino, o tucano José Serra está mostrando como (não) se faz uma emissora estatal (Fundação Padre Anchieta) em São Paulo.

Imaginem esse mafuá tucano voltando ao poder em 2011. Vou morar em Macau.

É hora de mudança!


Alternativas construídas por mais de 50 entidades, e apresentadas recentemente ao governo federal

O nosso país tem uma importante oportunidade de aproveitar a crise econômica mundial para deixar para trás a atual política econômica neoliberal e tomar medidas para adotar um novo modelo de desenvolvimento nacional, com base em distribuição de renda, geração de empregos e fortalecimento da indústria e do mercado interno, melhorando as condições de vida do povo brasileiro.

A crise demonstra em todo o mundo que o neoliberalismo não tem condições de sustentar o desenvolvimento social, ambiental e econômico, sendo necessário aplicar medidas de regulação da economia e fortalecimento do Estado. Chegou à falência o modelo econômico caracterizado pela hegemonia do capital financeiro, altas taxas de juros, superávit primário e prioridade ao setor exportador.

Não encontraremos a solução em políticas que reforcem ou amenizem os problemas do neoliberalismo, apoiando bancos e grandes empresas, mas com iniciativas que apontem para mudanças estruturais. No Brasil, precisamos reduzir imediatamente as taxas de juros e controlar a movimentação do capital especulativo, impedindo a livre circulação, instituindo quarentenas e taxações.

O governo deve revisar uma desgastada orientação do FMI, um dos responsáveis pela crise: o superávit primário. O Tesouro Nacional gastou nos primeiros quatro anos do governo Lula cerca de R$ 600 bilhões com a rubrica relativa aos juros da dívida pública! Temos que usar esses recursos para construir escolas e contratar professores para universalizar o acesso à educação pública.

Nas grandes cidades, é urgente fazer investimentos em transporte público, hospitais e moradias populares, fazendo uma reforma urbana. No campo, a produção de alimentos da agricultura familiar e camponesa precisa receber investimentos públicos, com o fortalecimento da pequena e média propriedade e realização da reforma agrária.

O governo deve estabelecer metas de geração de postos de trabalho formais, dentro de um amplo programa público, reagindo ao aumento do desemprego causado pela crise. Ao mesmo tempo, para dar força ao mercado interno e garantir o consumo, o salário mínimo e os benefícios da Previdência Social devem aumentar, distribuindo renda.
Essas medidas só serão viáveis se os recursos públicos forem aplicados com responsabilidade. Os subsídios para salvar bancos e empresas especuladoras -que ganharam muito dinheiro com o neoliberalismo- apenas reforçam as contradições do modelo que entrou em crise.

É uma incoerência os que sempre defenderam o mercado como "deus regulador" recorrerem ao Estado em um momento de dificuldade. Os bancos públicos, como BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, não têm que socorrer o grande capital e devem só aprovar empréstimos com garantia de desemprego zero.

Estamos preocupados também com a investida predatória sobre os recursos naturais, que aumentam em tempos de crise, porque proporcionam acumulação rápida.

Não podemos aceitar as propostas irresponsáveis do agronegócio para mudanças na legislação ambiental, reduzindo áreas de preservação na Amazônia e no que resta da Mata Atlântica. As grandes empresas do ramo petrolífero estão de olho no petróleo na camada do pré-sal e querem a manutenção do regime de concessão, impedindo mudanças legais que garantam a soberania nacional.

A atual crise econômica é de responsabilidade dos países centrais e dos organismos dirigidos por eles, como OMC, Banco Mundial e FMI.

Defendemos uma nova ordem internacional, que respeite a soberania de povos e nações. O Brasil precisa fortalecer a estratégia de integração regional, com foco no Mercosul, na Unasul e na Alba. Com isso, por exemplo, poderemos substituir o dólar nas transações comerciais por moedas locais em toda a América Latina, como recentemente fizeram Brasil e Argentina.

Participamos de reunião com o governo federal para apresentar essas alternativas, construídas por mais de 50 entidades. Não estamos preocupados com as eleições, mas com o futuro do país. Queremos contribuir com o debate para que o povo brasileiro se mobilize por um novo modelo econômico diante da gravidade da crise.

Não podemos perder esta oportunidade de fazer mudanças necessárias em nosso país.

Artigo redigido por: João Pedro Stedile, economista, é integrante da coordenação nacional do MST e da Via Campesina. José Antônio Moroni, filósofo, é membro do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) e diretor da Abong (Associação Brasileira de ONGs). Nalu Faria, psicóloga, é coordenadora-geral da Sempreviva Organização Feminista (SOF) e integrante da Secretaria Nacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil.

A última bravata de dona Yeda


Governadora fala em “revolução”

O jornal Zero Hora de ontem trouxe uma matéria sobre o que a RBS entende como incontinência verbal do presidente Lula. O texto tresanda a moralismo por todas as letras e sinais. Traz um pequeno box com velhas falas lulistas, comentários de uma época que Lula nem era presidente, e conversas privadas que vazaram para a mídia oligárquica como aquela sobre os prováveis homossexuais de Pelotas.

Como sempre, ZH trata de colocar um “especialista” para falar as maiores platitudes, mas com foros de verdade absoluta, recoberta no glacê da autoridade “científica”. Velho truque do sub-sub-sub-jornalismo que insiste em praticar: editorializa sua rançosa visão do mundo com opinião de terceiros, no geral “especialistas” de quinta, figurinhas carimbadas do reacionarismo (os editores devem ter um catálogo desses colaboradores “científicos”), para forjar uma verdade conveniente.

É curioso que o jornal da RBS ainda não tenha reunido o melhor do pensamento da governadora Yeda Rorato Crusius. Estamos ansiosos para relembrar as frases memoráveis da capadócia senhora.

A última bravata de dona Yeda é digna de constar num futuro almanaque de suas lorotagens:

- Temos de fazer uma nova Revolução Farroupilha. Não podemos aceitar essa intromissão. Estão querendo antecipar a eleição de 2010 – disse a governadora, depois que recebeu a notícia de que o Ministério dos Transportes se negava a dar o aval para a prorrogação dos contratos de pedágios no RS.

ANP conspira contra a nossa soberania energética


Petroleiros paralisam e fazem vigília contra novo leilão de petróleo

Petroleiros de Pernambuco, Paraíba, Amazonas, Paraná e Santa Catarina, entre outros estados, paralisam amanhã unidades da Petrobras contra a décima Rodada de Licitação do Petróleo e Gás promovida pela Agência Nacional do Petróleo. Sindicatos e trabalhadores também iniciam nesta terça uma vigília na Praça da Candelária, no Rio de Janeiro, em frente à sede da ANP. As caravanas ficam no local até o dia 18, quinta-feira, quando acontece o leilão. O objetivo é impedir a licitação, que aumenta a participação de transnacionais na extração do petróleo a royalties baixos. A informação é da Agência Chasque.

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Um dia ainda será contada a história de traição e entreguismo da ANP, agência de regulação responsável pelos combustíveis fósseis. O presidente desta entidade híbrida é o ex-deputado Haroldo Lima, dirigente nacional do PC do B.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Dez por cento é mentira

De O Guardador de Águas

Idiotas de estradas gostam de urinar em morrinhos de
formigas. Apreciam de ver as formigas correndo de
um canto para o outro, maluquinhas, sem calças, como
crianças. Dizem eles que estão infantilizando as
formigas. Pode ser.

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Com 100 anos de escória uma lata aprende a rezar.
Com 100 anos de escombros um sapo vira árvore e cresce
por cima das pedras até dar leite.
Insetos levam mais de 100 anos para uma folha sê-los.
Uma pedra de arroio leva mais de 100 anos para ter murmúrios.
Em seixal de cor seca estrelas pousam despidas.
Mariposas que pousam em osso de porco preferem melhor
as cores tortas.
Com menos de 3 meses mosquitos completam a sua
eternidade.
Um ente enfermo de árvore, com menos de 100 anos, perde
o contorno das folhas.
Aranha com olho de estame no lodo se despedra.
Quando chove nos braços da formiga o horizonte diminui.
Os cardos que vivem nos pedrouços têm a mesma sintaxe
que os escorpiões de areia.
A jia, quando chove, tinge de azul o seu coaxo.
Lagartos empernam as pedras de preferência no inverno.
O vôo do jaburu é mais encorpado do que o vôo das horas.
Besouro só entra em amavios se encontra a fêmea dele
vagando por escórias...
A 15 metros do arco-íris o sol é cheiroso.
Caracóis não aplicam saliva em vidros; mas, nos brejos,
se embutem até o latejo.
Nas brisas vem sempre um silêncio de garças.
Mais alto que o escuro é o rumor dos peixes.
Uma árvore bem gorjeada, com poucos segundos, passa a
fazer parte dos pássaros que a gorjeiam.
Quando a rã de cor palha está para ter - ela espicha os
olhinhos para Deus.
De cada 20 calangos, enlanguescidos por estrelas, 15 perdem
o rumo das grotas.
Todas estas informações têm uma soberba desimportância
científica - como andar de costas.

Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT) no Beco da Marinha, beira do Rio Cuiabá, em 19 de dezembro de 1916. Uma vez, muito depois de haver nascido, Manoel disse: "Noventa por cento do que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira". Drummond garantia (de pés separados) que Manoel era o maior poeta vivo do Brasil. Ainda é.

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