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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 28 de junho de 2012

A revelação (inédita) de Tarso Genro, que a mídia ignorou



Em artigo publicado no blog RS Urgente (aqui) o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, fez uma avaliação acerca do golpe parlamentar contra o presidente Fernando Lugo, do Paraguai. Análise objetiva, no estilo de Tarso, sem novidade. 

Mas o que chama a atenção é a revelação inédita que o artigo porta. E chama mais a atenção, o fato de que tal testemunho não tenha sido objeto de repercussão na grande mídia brasileira, uma vez que foi publicado no domingo passado (24). O trecho a que me refiro é este:

[...]  Aqui, eles não tiveram sucesso porque – a despeito das recomendações dos que sempre quiseram ver Lula isolado, para derrubá-lo ou destruí-lo politicamente – o nosso ex-Presidente soube fazer acordos com lideranças dos partidos fora do eixo da esquerda, para não ser colocado nas cordas. Seu isolamento, combinado com o uso político do ”mensalão”, certamente terminaria em seu impedimento. Acresce-se que aqui no Brasil – sei isso por ciência própria pois me foi contado pelo próprio José Alencar - o nosso Vice presidente falecido foi procurado pelos golpistas “por dentro da lei” e lhes rejeitou duramente.  [...]

Aí está, pois, rica matéria prima para a pesquisa histórica e recomposição da nossa memória política recente.

Os fatos recentes do Paraguai, tentativas frustradas na Venezuela, o caso que envolve o ex-vice-presidente José de Alencar, com o testemunho do ex-ministro Tarso Genro, e muitos outros indícios mostram que o golpismo é uma saída política estratégica que está sempre presente nos estudos de cenário avaliados pela direita de qualquer quadrante, inclusive nos Estados Unidos. Aliás, lá eles não dão golpes, assassinam seus presidentes caso estes não se enquadrem no formato exigido pelo establishment das grandes corporações associado ao que o imaginário médio conservador exige do império do qual faz parte.

Coisas da vida.

Golpistas paraguaios exageraram na farsa que montaram




O crime perfeito contra Lugo


O sociólogo Felippe Ramos (Universidade Federal da Bahia) fez para o site da revista "América Economia" o que os jornalistas deveríamos ter feito antes: visitou a peça de acusação que serviu para o fuzilamento sumário do presidente Fernando Lugo.


Fica evidente que Lugo estava condenado de antemão. No item "provas que sustentam a acusação", se diz que "todas as causas [para o impeachment] são de notoriedade pública, motivo pelo qual não precisam ser provadas, conforme o ordenamento jurídico vigente".
Como é que Lugo - ou qualquer outra pessoa - poderia provar o contrário do que não precisa ser provado? Impossível, certo?


O processo pode até ter seguido as regras constitucionais e o "ordenamento jurídico vigente", mas, nos termos em que foi colocada a acusação, só pode ser chamado de farsa. Veja-se, por exemplo, a primeira das acusações: Lugo teria autorizado uma reunião política de jovens no Comando de Engenharia das Forças Armadas, financiado por instituições do Estado e pela binacional Yacyretá.


Se esse é argumento para cassar algum mandatário, não haveria presidente, governador ou prefeito das Américas que poderia escapar, de direita, de centro, de esquerda, de cima ou de baixo. Ademais, não consta que a Constituição paraguaia proíba o presidente ou qualquer outra autoridade de autorizar concentrações de jovens. Aliás, é até saudável que se estimule a participação política dos jovens.


Mais: o evento foi em 2009. Se houvesse irregularidade, caberia ao Congresso ter tomado à época as providências, em vez de esperar três anos para pendurá-lo em um processo "trucho", como se diz na gíria latino-americana.


A acusação mais fresca, digamos assim, diz respeito, como todo o mundo sabe, à morte de 17 pessoas, entre policiais e camponeses, em um incidente mal esclarecido no dia 15 passado. Diz a acusação: "Não cabe dúvida de que a responsabilidade política e penal dos trágicos eventos (...) recai no presidente da República, Fernando Lugo, que, por sua inação e incompetência, deu lugar aos fatos ocorridos, de conhecimento público, os quais não precisam ser provados, por serem fatos públicos e notórios".


De novo, a acusação dispensa a apresentação de provas e condena por antecipação o réu, como faria qualquer república bananeira ou qualquer ditadura.


Nem o mais aloprado petista pediu o impeachment do presidente Fernando Henrique Cardoso por conta da morte de 19 sem-terra em Eldorado dos Carajás (Pará), em abril de 1996, no incidente que mais parentesco tem com o que ocorreu há duas semanas em Curuguaty, no Paraguai.


É importante ressaltar que líderes dos "carperos", os sem-terra paraguaios, disseram que os primeiros disparos no conflito do dia 15 não saíram nem deles nem dos policiais, mas de franco-atiradores.


Enquanto não se esclarecer o episódio, qualquer "ordenamento jurídico" sério vetaria o uso do incidente em qualquer peça de acusação.


Deu-se, pois, o crime perfeito: cobriu-se um processo sujo com o imaculado manto da Constituição.


Artigo do jornalista Clovis Rossi, da Folha (leia-se família Frias, apoiadores civis do golpe de 1964 no Brasil), publicado hoje no referido diário.

Encontro de Blogueiros Guascas


Em Porto Alegre, claro. Fascista não entra.


ATENÇÃO: O EVENTO FOI CANCELADO, POR ORA.

4ª Olimpíada Nacional em História do Brasil




O Museu Exploratório de Ciências – Unicamp está recebendo, desde o dia 01/06/2012, as inscrições para a 4ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB).

Poderão participar estudantes regularmente matriculados no 8º e 9º anos do Ensino Fundamental e demais séries do Ensino Médio, de escolas públicas e privadas de todo o Brasil, incluindo alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Para orientar a equipe, composta por três estudantes, é obrigatória a participação de um professor de História.

O formulário de inscrição e o boleto para pagamento estarão disponíveis no site do Museu Exploratório de Ciências até 10 de agosto. A taxa de inscrição é de 21 reais para as equipes de escolas públicas e 45 reais para as equipes das escolas particulares. O valor da inscrição corresponde à inscrição de todos os membros da equipe (incluindo o professor-orientador).

Em 2012, O Museu Exploratório de Ciências custeará, para participarem da final, as passagens de avião das 27 equipes mais bem colocadas em cada estado da Federação (escolas públicas ou particulares) e mais 10 equipes de escolas públicas com a maior pontuação, sendo uma por região do país, e cinco escolas públicas com mais alta pontuação em todo o Brasil, independente de sua região. Após a final da Olimpíada, os professores responsáveis por essas equipes são convidados a permanecer na Unicamp para realizar capacitação de uma semana, com custos de hospedagem cobertos também pelo Museu.

A ONHB premiará escolas, alunos e professores, com medalhas de ouro (60), prata (100) e bronze (140) e certificados de participação para todos os inscritos e também para as escolas.

A 4ª Olimpíada Nacional em História do Brasil é uma iniciativa do Museu Exploratório de Ciências – Unicamp. O evento é patrocinado pelo CNPq e tem o apoio da Revista de História da Biblioteca Nacional.

A última edição, realizada em 2011, inscreveu mais de 65 mil participantes e reuniu cerca de duas mil pessoas na final presencial, realizada na Unicamp, nos dias 15 e 16 de outubro.

A ONHB é organizada pela equipe do Museu Exploratório de Ciências e as provas são concebidas e elaboradas por historiadores, professores e pós graduandos de História da Unicamp. Como proposta, os participantes têm a oportunidade de trabalhar com temas fundamentais da história nacional e de conhecer de perto as práticas e metodologias utilizadas pelos historiadores.

Calendário da 4ª ONHB

Inscrições e pagamento dos boletos: de 01/06/2012 a 10/08/2012.

Primeira fase: inicia no dia 20/08/2012 e finaliza no dia 25/08/2012.
Segunda fase: inicia no dia 27/08/2012 e finaliza no dia 01/09/2012.
Terceira fase: inicia no dia 03/09/2012 e finaliza no dia 08/09/2012.
Quarta fase: inicia no dia 10/09/2012 e finaliza no dia 15/09/2012.
Quinta fase: inicia no dia 17/09/2012 e finaliza no dia 22/09/2012.
Grande Final Presencial: Prova: 20/10/2012

Cerimônia de Premiação: 21/10/2012

Inscrições no portal: www.mc.unicamp.br

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Paraguai: nova democraCIA da América Latina



Berzé (grato Hupper!)


Como o agronegócio não pode dar um golpe no Brasil, dirigiu sua sanha antidemocrática e anti-republicana onde achou terreno fértil: 400 mil brasileiros sojicultores e dinheiristas, mais os interesses do Departamento de Estado dos EUA, e mais a pequena elite paraguaia formada por 60 mil proprietários de terras que detém 77% do solo fértil do País. Junte-se a isso um presidente Lugo, débil, com capital político interno próximo do zero, sem sustentação de nenhuma grande organização partidária e movimento social - uma gazela na pradaria coalhada de leões famintos.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Quando absolutizadas, as leis podem ser instrumento de golpistas



As leis


Egito e Paraguai não têm muita coisa em comum, a não ser a fragilidade de suas democracias. Eis países que gostariam de se ver caminhando em direção à consolidação democrática, mas que descobrem como tal caminho pode ser atrapalhado, vejam só, pelas leis.


Certamente, uma afirmação dessa natureza será rapidamente contraposta pelos ditos defensores do Estado democrático de Direito.


Na verdade, tais defensores querem nos fazer acreditar que as leis que temos devem sempre ser respeitadas, sob o risco de entrarmos em situações de puro arbítrio nas quais o mais forte impõe sua vontade. Eles esquecem como, muitas vezes, criamos leis que visam permitir que grupos interfiram e fragilizem os processos democráticos. Ou seja, leis que são, na verdade, a mera expressão da vontade dos grupos sociais mais fortes.


Isso explica porque a democracia, muitas vezes, avança por meio da quebra das leis. Ela reconhece que ações hoje vistas como criminosas possam ser, na verdade, portadoras de exigências mais amplas de justiça. Foi assim, por exemplo, com as greves -compreendidas durante muito tempo como crimes, e aceitas hoje como direito de todo trabalhador. Vale a pena lembrar desse ponto porque vimos no Egito e no Paraguai situações exemplares do uso da lei contra a democracia.


No Egito, um tribunal constitucional dissolveu o primeiro Parlamento democraticamente eleito da sua história por julgar inconstitucional uma lei parlamentar que proibia membros do regime ditatorial de Mubarak de participar de eleições. Não só a lei aprovada pelo Parlamento era justa, como o ato de dissolvê-lo por julgar inconstitucional uma de suas ações é claramente uma aberração. Mas tal golpe foi feito na mais clara "legalidade" e sem nenhuma manifestação da comunidade internacional.


Já no Paraguai, o Congresso votou o impeachment do presidente em um processo sumário, que durou algumas horas e sob a acusação nebulosa de incompetência (há de perguntar qual parlamentar escaparia de uma acusação dessa natureza). Tal lei serve apenas para tornar o presidente refém de um Congresso que, há mais de cem anos, representa as mesmas oligarquias. Um processo sério de impeachment exigiria amplos direitos de defesa e esclarecimento. Mas tudo foi feito "legalmente".


Diga-se, de passagem: até o golpe de Estado brasileiro (1964) foi feito "legalmente", já que o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade [vídeo acima], declarou vacante a Presidência por Goulart ter "abandonado" o governo ao procurar abrigo no RS, tomando posse o presidente da Câmara, Ranieri Mazzilli. O que demonstra como nem sempre estamos protegidos pelas leis.


Artigo do professor Vladimir Safatle, da Filosofia da USP. Publicado hoje a Folha.

VídeoPresidindo a sessão parlamentar de 1º de Abril de 1964, o Senador Auro de Moura Andrade declarou vaga a Presidência da República, tendo em vista a "fuga" do presidente constitucional João Goulart diante do golpe civil-militar que estava se desdobrando naquelas primeiras horas de abril de 1964.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Folha chama presidente Lugo de "líder"



A volta dos eufemismos golpistas da Folha de S. Paulo

Uma vez golpista, sempre golpista. O jornal Folha de S. Paulo, na manchete principal de hoje, chama o presidente constitucional do Paraguai de “líder que pode ser destituído” (só falta chamá-lo de "líder religioso"). Ora, destituído não seria o termo apropriado. O correto seria dizer “golpeado”.

O que está acontecendo? O presidente paraguaio está sendo derrubado por um golpe branco, que têm pundonores de dizer o seu nome. Em menos de 24 horas, a direita paraguaia pretende ser exitosa na derrubada do presidente Fernando Lugo.

A Folha tem a boca torta de tanto fumar o cachimbo golpista de 1964. Se adianta, e minimiza com eufemismos a baixeza e a envergadura dos fatos que ora se desenrolam no país vizinho. 

Em vez de presidente, chama de líder. Em vez de golpe, chama de destituição. Em vez de ditadura, chama de ditabranda.

A crise da ordem mundial é política



A guerra é constitutiva do sistema

A convite da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), de São Leopoldo (RS), o professor José Luis Fiori palestrou, quarta-feira 20, sobre “Mudanças e Tendências do Sistema Mundial: a Conjuntura e a História”. 



Pelo menos quatro novos atores sobem ao palco mundial, segundo ele, e o tabuleiro mais complicado é, sem dúvida, o da Europa, com a ascensão da Alemanha, que pode mudar a face geopolítica do mundo.

O professor Fiori, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), admitiu a complexidade da dimensão econômica financeira, ela é importante, mas não é a questão central que a humanidade enfrenta no momento.


A crise presente, analisou Fiori, decorre de uma contradição endógena da tendência que existe entre o sistema econômico e político que se move de forma globalizante e nacionalmente. “As transformações que estão acontecendo são e foram produzidas pela escalada vertiginosa, pelo impulso expansivo e destrutivo do poder americano, que, aliás, segue intacto e em expansão”.


Sobre o futuro, parece mais provável a Fiori que esteja em fase de redesenho um novo núcleo central do sistema capitalista mundial. Esse núcleo terá cinco potências que controlam um terço do território mundial e quase a metade da população, que são ChinaEUAEuropaIrã Brasil. As potências não estão exigindo uma nova ordem mundial, mas um reordenamento da hegemonia regional, explicou.


Ao contrário do que analistas internacionais, economistas e jornalistas afirmam a China não vai desbancar os Estados Unidos do topo das nações, avaliou o palestrante. “A China é um ator regional incontornável, mas não é um ator global. Ela não tem capacidade de projeção de poder sobre o mundo”, disse.


Europa volta a ter uma grande potência econômica, com um exército significativo. A Alemanha de Hitler, com todo o poderio bélico que o Führer construiu, não conseguiu competir com a moeda e a finanças inglesa e norte-americana. “Hoje os alemães, aproximando-se da Rússia, estão jogando de maneira pouco sutil, mas de forma clara contra o triângulo Estados UnidosFrança Inglaterra

Aqui se entra num terreno mais complicado, não pelo fator econômico. mas pelo ressurgimento de uma velha e complicadíssima potência, que é a Rússia, bem mais imprevisível do que era a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas”, discorreu o professor da UFRJ.

Um outro tabuleiro é o Oriente Médio, com o Irã, que já se transformou numa potência regional. É, talvez, o tabuleiro mais explosivo, do ponto de vista de ameaça imediata, mas o de menor repercussão no todo. O quarto tabuleiro, muito menos tenso e complexo, é o desafio da absorção do Brasil como nova potência no Atlântico Sul.


“Nesses quatro tabuleiros se esconde o futuro”, previu o cientista social. Em todos eles existe um ator que parece externo, mas que é transcendental e não chega a ser uma incógnita variável, pois trata-se de uma certeza absoluta, que são os Estados Unidos. Sua hegemonia é incontestável, pois tem uma capacidade de interferência, em terra, mar e céus, em todos os campos do mundo. Os Estados Unidos mantém acordos militares com 130 países do mundo, lembrou Fiori.


O expansionismo dos Estados Unidos é contínuo e injeta energia em vários centros do sistema. Fiori frisou que não haveria reconstrução da Alemanha e do Japão, se não fosse a maneira como os Estados Unidos absorveram os derrotados na II Grande Guerra.”Trata-se de uma parceria virtuosa, não é obra do mercado, é estratégia, uma verdadeira genialidade estratégica dos últimos dois séculos”, disse.


De acordo com Fiori, os Estados Unidos estão mudando a sua gestão de inserção mundial, que será exercida na forma de império, mais bem ao estilo romano, com um mínimo de intervenção e uso de tropas, mas administrando os equilíbrios e as divisões internas dos outros.


Esse novo reordenamento seguirá, de acordo com a análise do cientista político, o sistema globalizado, que só tem uma forma de viver: expandindo-se sem parar. Ele será movido pela contradição do nacional e do global. 

O paradoxo desse sistema é que ele é movido, para se inovar e construir constantemente, por grandes predadores. 

Daí que a guerra é co-constitutiva do sistema, comprovado historicamente. Entre 1650 e 1950 a Grã-Bretanha, a grande potência da época, esteve envolvida em 140 a 150 guerras. Os Estados Unidos tem o envolvimento médio de uma guerra a cada três anos. Neste novo século, o país hegemônico está em guerra desde o início, há 12 anos, o mais longo período contínuo de todos os tempos.

Pescado do portal IHU-Unisinos, edição de hoje.

Foto: Moça refugiada dos conflitos armados no Sudão do Sul, África. No campo de refugiados onde ela está (fotografia de 20/jun/2012) também permanecem cerca de vinte mil pessoas, todas civis. Há falta de comida e sobretudo de água. Foto de Giulio Petrocco/AFP.

A quantidade de pessoas forçadas a abandonar suas casas por causa de guerras ou desastres naturais passou dos 43 milhões de pessoas em todo o mundo - o equivalente à população total de Colômbia. Segundo dados divulgados em 2011 pelo Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), o ano de 2010 teve o maior número de refugiados dos últimos 15 anos.

Desse total, o relatório classifica 15,4 milhões como refugiados, ou seja, pessoas forçadas a abandonar seus países, 27,5 milhões como pessoas deslocadas de suas casas, mas em seus próprios países, e 850 mil solicitantes de asilo em outros países. Segundo a Acnur, apenas 25 milhões desse total recebem alguma assistência das Nações Unidas.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Lula, sem querer, está revalorizando um político profissional de pijama




O ultrapragmatismo do que eu sempre chamei de 'lulismo de resultados' está dando mostras que passou do ponto. Lula, fazendo aliança com Maluf, passou do ponto. É o equivalente à defesa súbita e intransigente do Brizola ao então cadente presidente Collor, em 1992. Passou do ponto.


Os líderes populares que fazem interlocução direta com a base social e eleitoral, sem mediações institucionais, como partidos, imaginário político-ideológico, movimento social, tendem a ficar com a mão pesada, no decorrer do tempo. Aconteceu com Brizola, está acontecendo com Lula.


Lula ficou com a mão pesada. Lula re-valorizou um político profissional que já estava de pijama e pantufas de pelúcia. Não quero, porque não devo (porque isso é papel da direita), olhar o lado moral de Maluf, talvez o político profissional mais identificado com a corrupção horizontal e vertical da cena pública brasileira nos últimos 35 anos. 


A questão é política. Trata-se de um erro político que pode abortar a ascensão de um novo quadro ao primeiro plano da política nacional, como o ex-ministro Fernando Haddad. Não é à toa que a deputada Luiza Erundina abandonou pela segunda vez o PT/SP. Outro erro político, mas que fica subsumido ao erro matricial do ex-presidente Lula nas relações perigosas com Paulo Maluf.


Uma observação final: acho muito curioso que gente da direita (especialmente certos jornalistas) fique manifestando estar escandalizado com a recente manobra de Lula em direção à Maluf. Mera reprise do que aconteceu na aliança com Sarney. Ora, essas duas pérolas raras da direita (entre tantas e tantas outras) são patrimônio exclusivo da própria direita. Se eles querem alugar ou vender seu discutível capital eleitoral a outro empreendimento, que não o de sua origem de classe, é outra história. No capitalismo, o empreendedorismo é livre também para os mercadores de votos e falso prestígio público.   


Não sejamos cínicos, a feira eleitoral (como dizia Gramsci) é um mercado como qualquer outro.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Presta atenção nesta entrevista do Stedile





Ele diz, entre outras coisas, que o governo é nosso, elegemos o Lula e a Dilma, mas o problema é a correlação de forças. Por exemplo: por que não sai a reforma agrária? 


Para o líder do MST e da Via Campesina, João Pedro Stedile, o agronegócio internacionalizado tem mais força que o governo federal, hoje. Os recursos orçamentários da agricultura brasileira alcançam cerca de oito bilhões de reais, se somarmos os orçamentos do Ministério da Agricultura, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Incra, Embrapa, etc. 


Pois bem, o presidente da Bunge, e também presidente da Unica (os 400 grandes usineiros do açúcar e do álcool), Pedro Parente (ex-executivo da RBS/Sirotsky), dias atrás esteve com a presidenta Dilma. Ele foi anunciar investimentos da ordem de cinco bilhões de dólares no Brasil. Somente a Bunge, sem falar nas demais transnacionais que controlam o agronegócio mundializado, como a Cargill, Monsanto, etc. 

Vocês entendem, agora, por que a reforma agrária não avança?

Vídeo de 55 minutos, gravado no último domingo (17/6) pela Rede Record.  

As diferenças entre classes sociais, classes econômicas e classes de consumo




O Brasil é um país de classe média?


O conceito de classe média aparece no contexto das análises socioeconômicas em vários fóruns de discussão. No entanto, não é possível falar em consenso sobre quem efetivamente compõe essa classe, e o que ela representa em termos de desenvolvimento econômico.


No Brasil, a maior parte dos estudos que atualmente balizam o debate apresenta uma estratificação baseada em renda ou posses, que são entendidos como tradutores das potencialidades de consumo, bem-estar e condições futuras de sustento.


Por exemplo, seguindo a linha conceitual da renda pura, o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) aponta que a classe média brasileira — também referida como “classe C” — corresponde à aproximadamente 50,5% da população em 2009, sendo que, em 2003, era de 37,6%.


O ponto de corte monetário das classes foi estabelecido a partir de uma concepção relativista, que considera apenas a distribuição da renda domiciliar em termos de desigualdade e polarização. Definidas as classes, a análise passa a ser absoluta ao longo do tempo, para que se possa avaliar o seu movimento.


A Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) oferece o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB). Essa classificação, diferentemente daquela da FGV, é feita através de características domiciliares, como presença de itens de conforto e escolaridade dos moradores.


No entanto, a ABEP afirma que esse critério não tem a pretensão de definir classes sociais, mas classes econômicas. Apenas para constar, o CCEB aponta que, em 2010, 49,5% da população das nove principais regiões metropolitanas do País estavam na classe econômica intermediária C (que é subdividida em C1 e C2).


Note-se que as classificações por renda ou posses se configuram, em boa medida, partindo de critérios de relatividade. No caso da FGV, que é o estudo mais discutido atualmente, a classificação foi definida unicamente a partir de um corte relativo. Isso implica uma limitação conceitual e analítica importante: a classe média passa a ser, tecnicamente, um estrato em uma distribuição de renda.


Cabe lembrar, por uma questão de justificativa teórica, que o que está por detrás dessa abordagem é um conceito de bem-estar econômico proporcionado pela renda. No entanto, pode-se argumentar que esse conceito não se presta, efetivamente, a uma análise de classes sociais.


Boa parte da literatura sobre estratificação social define a classe média como elemento mais complexo no entendimento da malha social, de tal modo que a renda ou posses sozinhas não podem dar conta.


Escapando de uma visão estritamente oriunda da Economia do Bem-Estar, sociólogos apontam alguns perfis que ajudam a definir a classe média. Um desses perfis considera indivíduos com acesso a propriedades e com manutenção dos rendimentos de forma independente, o que implica o trabalho de profissionais especializados ou com negócios próprios.


Outro perfil é aquele de posição gerencial, onde o poder é definidor desse status e garantidor de manutenção e ascensão social. Por fim, um terceiro perfil seria aquele formado pela massa científica e intelectual, que, detendo essas características, desfruta de uma situação de menor vulnerabilidade.


Apesar de esses perfis estarem relacionados com a geração de renda, o contrário não necessariamente é verdadeiro. A classe média, sob um olhar mais amplo, é composta por indivíduos que detêm percepções de vida similares, com vontades e perspectivas de evolução.


Mais do que isso, trata-se de uma classe social onde essas perspectivas foram conquistadas e serão mantidas legitimamente pelas próprias pessoas, como é o caso da educação básica e superior, especialização, experiência profissional agregadora, etc. Daí, a conclusão de que a classe média de uma sociedade é realmente importante, pois ela demonstra o potencial e a maturidade do desenvolvimento.


De fato, o Brasil vem mostrando, especialmente na última década, importantes melhorias na qualidade de vida — a renda média experimentou uma considerável elevação, o emprego formal está em alta, a distribuição de renda (apesar de ser ainda muito ruim) melhorou. No entanto, as condições para se falar em crescimento de uma classe média ainda não se apresentam.


O que se está observando é, na realidade, um fenômeno econômico de fortalecimento de uma classe de consumo — o que é bom. Mas essa “classe C” só será classe média, se a estrutura de distribuição de outras dimensões sociais for observada. O cerne da nossa atual “classe C” ainda conta com uma educação básica precária e, por consequência, com dificuldades para ingressar no ensino superior (ou tirar bom proveito dele).


Da mesma forma, ainda se trata de uma classe consideravelmente dependente de uma situação econômica de afluência do consumo, que sustenta a atividade econômica, o que a coloca em situação de considerável vulnerabilidade aos movimentos de mercado.


Os trabalhos da FGV e outros similares, possivelmente, não estão propondo que a “classe C” seja equiparada a um conceito mais amplo e robusto de classe média. A proposta assemelhar-se-ia mais a uma ideia de “classe econômica” — como assume explicitamente a ABEP. No entanto, a discussão, por vezes, toma um caminho onde a confusão fica evidente.


Nesse contexto, é preciso ter cuidado ao relacionar a “classe C” brasileira a esse conceito mais robusto de classe média. Inegavelmente, o crescimento da “classe C” precisa ser comemorado. Mas isso deve ser feito com a parcimônia de quem sabe que o Brasil ainda não pode afirmar que mais da metade da sua população está livre da vulnerabilidade e pronta para sustentar e incrementar, autonomamente, o seu padrão de vida.


Artigo do economista Ely José de Mattos, pesquisador da Fundação de Economia e Estatística/RS.

domingo, 17 de junho de 2012

sábado, 16 de junho de 2012

O velho Iggy Pop



O vozeirão do punk com outro clássico, The Passenger, também um riff consagrado. Quem não conhece? O vídeo é recente, de 2011.

Um clássico: 'Kashmir', do velho Led Zeppelin



Aqui, com o cara que é considerado o melhor vocalista do rock (o que discordo), Robert Plant. 


Acho o punk grave do Iggy Pop bem melhor. 


Opiniões são opiniães... 

A banda 'Beirut', de volta ao blog DG

“A vida do militar é puxar o saco e trair” - afirma general



O livro da vida militar

Este vende a própria mãe.

O homem é enfático e preciso, como se espera de um general de quatro estrelas. Recorre a imagens grosseiras por hábito, pois na caserna isso era de bom tom. Preparado para comandar, sua fala é curta e grossa, embora não dê mais ordens. Foi destituído do comando e expelido do Exército por ter se oposto ao golpe.

De cabelos já brancos, mas ainda rijo e firme, ele faz um inventário de ex-colegas e ex-comandados. Pontua friamente, como se estivesse classificando uma coleção de aracnídeos. Na mesa, aberto à sua frente, o Almanaque do Exército, o rol de todos os oficiais, de tenente para cima, das três armas do Exército: infantaria, cavalaria e artilharia.

Seu irmão mais novo, cirurgião celebrado, operou e talvez tenha salvado da morte muitos dos empresários e banqueiros metidos no maldito golpe. Nem por isso o general foi poupado. A injustiça da cassação afinou sua percepção crítica e destravou ainda mais a sua língua, pois se percebe que, embora militar, é pessoa fina.

Este outro, além de vender a mãe, entrega.”

O Almanaque se parece a uma lista telefônica. Siglas miúdas, depois de cada nome, designam etapas da carreira do oficial desde seu ingresso na Academia Militar; registram cada mudança de patente; cada colocação na Escola de Cadetes e nos cursos de especialização e aperfeiçoamento. Dividido em três seções, uma para cada arma do Exército, é o livro da vida do militar.

Este aqui foi o primeiro da classe.”

Um primeiro colocado na sua turma da Academia Militar será referido para sempre como o “primeiro da classe”. Mas que surpresa! Será nosso Exército tão civilizado que nele impera o critério da erudição e, por que não, da inteligência? Ou da aplicação no estudo e na aquisição de conhecimento? Um exército que prioriza a excelência intelectual?
Não é bem assim.

Estudiosos, só os da artilharia.”

Estes têm que aprender trigonometria, balística, calcular ângulos de tiro, compensar a direção do vento, o calibre e o peso da carga útil, a movimentação do inimigo. São equações complexas. Aprendem a raciocinar com lógica. Por isso, tornaram-se o grupo dirigente do Exército; os únicos com visão estratégica. Eles organizaram e dirigiram o golpe militar.

O resto é um bando de ignorantes, piores são os da cavalaria.”

Num exército que não guerreia há trinta e cinco anos, não há medalha por bravura em campo de batalha, não há missão perigosa, nem o teste de situações-limite, seja da unidade ou do indivíduo. Só o que há é o ponto amealhado em sala de aula, o rigor da continência, a lisura da farda, o brilho da bota; o domínio retórico de hipóteses de guerras que nunca serão travadas e suas logísticas imaginárias. Tudo no papel, na teoria. Gavetas e gavetas de mapas e planos de ataques estratégicos, avanços e recuos táticos.

A principal hipótese era de guerra com a Argentina, tudo bobagem, só para manter ocupados.”

Para cada etapa dessa vida militar pachorrenta há um minucioso rito de pontuação. Postos de comando, postos de chefia de departamento, tudo é contabilizado. Mas, como em toda a organização burocrática, as regras só valem para legitimar favoritismo imanente, nunca para instaurar a meritocracia. As amizades é que decidem. Os vínculos de lealdade. Não a lealdade leal, que não precisa razões para existir. É a lealdade calculista, necessária à sobrevivência na guerra interna pela promoção burocrática. Nesse exército de oportunistas, as únicas batalhas são as travadas por cada um contra o seu igual, na disputa pela promoção. As vagas minguando mais e mais à medida que se sobe a escala da patente.

O funil mais apertado está na passagem de coronel para general de brigada. Só um em cada cinquenta coronéis será general. E quem sobra será expelido.”

Nessa milícia de gabinetes, as baixas não se dão no teatro de guerra; se dão nas listas submetidas pelo Estado-Maior ao comando, para que decidam as promoções. Preteridos tombam sem dar um tiro. Caem fora. Um oficial não pode estacionar na mesma patente.

Para ser promovido a general, o coronel tem que ter um protetor, tem que pertencer a um esquema, a um general que o proteja.”

Muito antes de atingir o coronelato o oficial já investe nesse pertecimento, através da bajulação e da subserviência. Agarra-se ao saco de um general.

Este aqui foi meu aluno no curso de paraquedistas. Tornou-se um legalista como eu. Quando resisti ao golpe, ele me acompanhou. Quando fui expulso, ele também foi. Mas a maioria dos meus subordinados traiu, aderiu aos golpistas.”

São dois os modos de assegurar a promoção, puxar o saco de um general e melar o nome do rival na lista de promoção. Puxar o saco e trair. Modos que ora se alternam, ora se complementam. Pode acontecer de ter que trair o próprio general. A traição é o corolário da lealdade oportunista. Na corporação militar-burocrática, um oficial nunca se abre com os outros dois ao mesmo tempo. Sempre a um só; assim, ao ser traído, saberá quem o entregou. Traição também é uma arte.

O Prestes levou esse cuidado à coluna e depois o incorporou às normas de segurança do Partido, ainda mais devido à sua clandestinidade quase permanente. Acabou tornando o partido mais secretivo do que já era, nunca encontros de mais de dois, e sempre aos sussurros.”

Hábitos criam valores. A prática da traição e da dissimulação incorporam-se ao ethos militar. Os valores invertem-se. São todos Esterhazys; nenhum Dreyfuss (*); no lugar da bravura, a crueldade; a desonra, em vez da honra; o povo pobre como inimigo; a maldade levada ao infinito. Degolas em Canudos; execuções de presos rendidos no Araguaia, embora crianças ainda, desmebramento de corpos, em 1974, para fazê-los “desaparecidos”. Ao crime hediondo, segue-se o delito paradoxal, para uma organização burocrática, no entanto lógico na nova escala de valores: a supressão de provas.

Este aqui é o único general que, pelo meu conhecimento, se preocupou em mandar pararem as torturas.”

Embora de extrema direita, o general era espírita; quando soube das torturas foi à Barão de Mesquita de surpresa e mandou parar tudo na hora. Espíritas não admitem que se maltrate nenhum vivente, nem bicho, porque creem na reencarnação; para eles, corpos são moradas provisórias das almas de nossos antepassados que precisam ser veneradas e respeitadas. Você pode estar torturando um bisavô ou a própria mãe, se ela já morreu.

Foi ele sair e recomeçaram tudo. Também, ele não demitiu ninguém, não denunciou, nem internamente, nem em público.”

Pela nova doutrina militar em vigor, da guerra psicológica adversa, o inimigo pode estar em qualquer um, às vezes ainda latente: no artista de teatro, no jovem ingênuo, na menina rebelde, no padre progressista. Nessa doutrina, só a tortura revela a propensão subversiva do suspeito, como na inquisição as máquinas de suplício faziam sair os demônios de dentro das bruxas e desmascaravam os fingimentos dos hereges e cristãos novos.

Este aqui é o mais inteligente e o mais cruel. Da artilharia, é claro. Por isso propôs a abertura lenta, gradual e segura, sabia que estava tudo acabado. É dos antigos, podia ter se alistado na Força Expedicionária, mas não foi; nunca travou uma batalha, nunca esteve numa guerra. Não se sabe até hoje se não se alistou por simpatizar com os nazistas ou se os americanos o vetaram, pela mesma razão.”

O general cassado fecha o almanaque. Chega. Já deu para entender.

[Trecho do livro do jornalista Bernardo Kucinski, intitulado “K.” Editora Expressão Popular, 2012.]

(*) Charles-Marie Ferdinand Welsh Esterhazy, militar frances que vendeu segredos à Alemanha em 1894. A traição foi atribuída falsamente ao oficial judeu Alfred Dreyfuss, depois considerado inocente, mas jamais foi restituído ao exército frances.

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O autor Bernardo Kucinski não menciona diretamente quem é o general que faz as declarações reveladoras do ethos militar brasileiro, ao mesmo tempo evidenciando a inutilidade desta função pública no Brasil. 


Ora, a identidade do general não é difícil de deduzir. Se trata do “irmão de um cirurgião celebrado”. Apostamos que ele está se referindo ao general Euryale de Jesus Zerbini, um grande brasileiro. 


Há, ainda assim, uma controvérsia entre o livro de Kucinski e a realidade: no livro, o militar referido é um “general de quatro estrelas”, portanto general-de-Exército, segundo a hierarquia militar brasileira. E o general Zerbini morreu em 1982 como general-de-brigada, ou seja, com duas estrelas, o posto mais baixo do generalato. Alguém se equivocou: o autor de K. ou os gorilas golpistas que esqueceram de graduar o general Zerbini antes de sua morte.


Euryale de Jesus Zerbini (1908-1982), foi um general-de-brigada do Exército brasileiro, irmão do cirurgião cardiologista Euryclides de Jesus Zerbini, o primeiro médico brasileiro a fazer transplantes de coração. Euryale foi casado com Therezinha Zerbini, uma das líderes do movimento pela anistia, na década de 1970. A informação é da Wikipédia.


No golpe civil-militar de 1964, o general Zerbini, assumiu uma posição legalista. Enveredou pelo Vale do Paraíba rumo ao Rio de Janeiro. Pretendia confrontar as tropas favoráveis ao golpe dos generais Olympio Mourão Filho e Carlos Luiz Guedes, que tinham partido de Minas Gerais também em direção ao Rio de Janeiro, ambos com propósitos francamente golpistas. 

Porém, na medida em que Zerbini foi marchando, a adesão ao golpe por parte dos generais foi se multiplicando. De modo que Zerbini se encontrou isolado no meio do Vale do Paraíba e como resultado teve de entregar-se, não tinha mais como resistir.

Foi preso, expulso do Exército, e logo reformado. Morreu em 1982, em plena ditadura. A redemocratização - que ainda não está completa até hoje - se iniciou em 1985. E desde então vivemos sob um pesado manto de esquecimento e cinismo público. 

sexta-feira, 15 de junho de 2012

RBS: paguem melhor, e não terão esses analfabetos aí



Habeas corpus não leva acento, editores da RBS. Que mico!


Habeas corpusetimologicamente significando em latim "Que tenhas o teu corpo" (a expressão completa é habeas corpus ad subjiciendum) é uma garantia constitucional em favor de quem sofre violência ou ameaça de constrangimento ilegal na sua liberdade de locomoção, por parte de autoridade legítima. A informação está na Wikipedia. É simples. É só consultar a Wiki ou o pai dos burros.

Quanto à decisão do STF, sem comentários. Um deboche!

A estética libidinosa da moral religiosa

Angeli

De vítima da guerra suja à vítima da feira eleitoral




Pela verdade e pela memória, contra o oportunismo e o eleitoralismo

A criação da Comissão Nacional da Verdade suscitou uma série de discussões com consequências muito interessantes. Uma delas, sobre o seu caráter: investigar os “dois lados” ou apurar a responsabilidade do Estado no processo de perseguições prisões, torturas, sequestros, mortes, desaparecimentos e outras violações dos direitos humanos a partir da ditadura civil-militar imposta ao país em 1964.

Assim como a publicação do livro “Memórias de uma guerra suja”, baseado no depoimento do ex-delegado do DOPS, Claudio Guerra, que desnuda os meandros da estrutura repressiva montada, principalmente, a partir de dezembro de 1968 com a decretação do AI-5. O próprio depoente em recente entrevista garantiu: “Existem muitos outros Claudio Guerra por aí”.

No rastro da criação da Comissão da Verdade foram desencadeadas ações de agitação e propaganda de companheiros e companheiras do Levante Popular da Juventude, escrachando torturadores em todo o Brasil.

Porém, esse contexto abriu caminho para os oportunistas de plantão, principalmente em ano eleitoral, garimparem os seus votinhos. Aqui em Porto Alegre surgiu até um tal Comitê Carlos De Ré, “coordenado” pelo vereador Pedro Ruas do PSOL. Para começo de conversa, Carlos De Ré não tinha afinidades pessoais, políticas ou ideológicas com o nobre edil, muito antes pelo contrário. Portanto, trata-se de uma apropriação indébita da memória de um combatente de esquerda.

Conheci Carlos Alberto Tejera De Ré (foto), chamado pelos seus familiares, amigos e companheiros carinhosamente de Minhoca, nos idos de 1967. Ele com quinze anos, e eu com dezessete.

Conhecemo-nos em plena luta contra a ditadura civil-militar que se abateu no Brasil em 1964, tendo perpetuado um golpe contra as instituições democráticas, derrubando um presidente eleito democrática e constitucionalmente.

Minhoca, com apenas dezesseis anos, conheceu a prisão pela primeira vez, preso numa panfletagem contra a ditadura. Aí, ainda, sem sofrer a ira dos torturadores. Saiu da cadeia e no mesmo dia voltou às fileiras da militância. Agora, já no processo de resistência armada contra o sistema foi preso novamente e, naquele momento, sentiu todo o peso da violência do terrorismo de Estado.

Em 1971, estava na Ilha do Presídio já há algum tempo, quando atracou a barca da guarda com um grupo de presos que, após passar pela tortura na “fossa’ do DOPS, regressava de uma temporada de brutalidades em celas solitárias de quartéis do exército situados em cidades próximas da fronteira com a Argentina.

E ali, novamente reencontrei o companheiro Minhoca: debilitado, abatido, mais magro em sua magreza, porém altivo em sua moral e sempre com a sua costumeira afetividade que, até a morte, nunca o abandonou.

Fora da cadeia voltamos a nos encontrar em 1973. Novamente militando, com os ensinamentos de uma longa autocrítica feita na prisão e fora dela: revisando métodos, formas de luta, táticas, mas conservando a visão estratégica da construção de uma sociedade livre, sem explorados nem exploradores. De lá para cá, foram muitos anos de combate. Muitas vezes na mesma trincheira, às vezes, em trincheiras separadas. Sempre combatendo o inimigo comum, e buscando a utopia da qual compartilhávamos. Sempre acompanhada de uma camaradagem muito fraterna, nos bons momentos assim como nas épocas difíceis, nas festas, como nas agruras. Por tudo isso, posso dizer: até sempre meu irmão e camarada.

Após a morte do Minhoca aconteceram algumas homenagens em sua memória nem sempre muito adequadas, no meu entender, mas sempre com boas intenções. Porém, o que está acontecendo agora extrapola totalmente o terreno das boas intenções e se configura como uma utilização oportunista e eleitoreira da memória de um revolucionário que sempre se opôs a tais práticas personalistas.

Artigo do economista Calino Pacheco Filho.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Com a feira eleitoral, o oportunismo corre solto




Lendo o jornal Zero Hora (edição de 11/6, fac-símile acima) fica-se sabendo que agora existe um tal ''Comitê Carlos de Ré", alegadamente preocupado com a memória da ditadura civil-militar de 1964-85.

De plano, se nota que estamos diante de um mero comitê eleitoral do vereador que se apresenta como “coordenador” da entidade. E que esse mesmo vereador não tinha a menor intimidade com o suposto homenageado, que se chamada Carlos Alberto Tejera De Ré, o saudoso Minhoca, falecido meses atrás.

Portanto, nem o nome do pretenso homenageado, o vereador consegue acertar. Por óbvio, como se trata de um comitê eleitoral travestido de entidade memorialística em favor do resgate da história durante a ditadura (o que seria meritório e elogiável), não houve a devida preocupação da fidelidade e o respeito ao suposto patrono da falsa entidade. Não dizem que a astúcia tem pressa e que, por isso mesmo, é inimiga da razão?

Em tempos de corrida eleitoral, o oportunismo corre solto, a ética escorre pelo ralo e a esperteza de curto prazo predomina.

Coisas da vida.

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