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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Dilma dá um passeio na Globo



Parte 1



Parte 2

Dilma Rousseff está conseguindo mostrar o que é, e o que conhece. Observa-se que ela está logrando êxito em se constituir no fio condutor e, ao mesmo tempo, na síntese de todos os processos progressistas e modernizadores do Brasil. A começar pela revolução castilhista no Rio Grande do Sul, passando pelo varguismo, tinturas de brizolismo recamado por oito anos de lulismo. Mostra estar capacitada a representar todos os momentos em que no Brasil o moderno expulsou a tradição, o nacional-popular se sobrepôs às oligarquias, e o futuro pesou mais que o passado na síntese da luta presente.

Dilma Rousseff é uma intelectual que alia uma sensibilidade política refinada às tecnologias administrativas e gerenciais mais atualizadas.

Lula, por sua vez, mostra outra qualidade: não tem o dedo podre.

Três delegados são acusados de torturar e assassinar durante a ditadura civil-militar


O Ministério Público Federal (MPF) ingressou ontem (30) na Justiça com um pedido de afastamento, perda de cargos e aposentadorias de três delegados da Polícia Civil de São Paulo que participaram diretamente de atos de tortura, abuso sexual, desaparecimentos e homicídios durante o regime militar (1964–1985). Entre as vítimas apontadas na ação, estão o ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, e seu antecessor na pasta, Nilmário Miranda. A informação é da Agência Brasil.

A ação pede a responsabilização pessoal dos delegados do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Aparecido Laertes Calandra, David dos Santos Araújo e Dirceu Gravina. Além disso, o MPF quer que os três sejam condenados a reparar danos morais coletivos e a devolver as indenizações pagas pela União.

"Essas providências são indispensáveis para a consecução do objetivo da não repetição: as medidas de justiça transicional são instrumentos de prevenção contra novos regimes autoritários partidários da violação de direitos humanos, especialmente por demonstrar à sociedade que esses atos em hipótese alguma podem ficar impunes, ignorados e omitidos”, diz a ação assinada por seis procuradores federais.

O Dops foi o órgão governamental que tinha por objetivo controlar e reprimir os movimentos políticos e sociais contrários ao regime. Calandra e David Araújo já estão aposentados. Gravina, o mais jovem dos acusados, ainda atua como delegado da Polícia Civil, em Presidente Prudente, no interior de São Paulo. De acordo com MPF, Calandra utilizava o codinome de Capitão Ubirajara, Araújo era conhecido como Capitão Lisboa e Gravina utilizava o apelido de JC.

A ação é assinada pelos procuradores Eugênia Augusta Gonzaga, Jefferson Aparecido Dias, Marlon Alberto Weichert, Luiz Fernando Costa, Adriana da Silva Fernandes e Sério Gardenghi Suiama. Eles identificaram os três policiais com base em depoimentos de ex-presos políticos e parentes de pessoas mortas pelo regime militar. Elas reconheceram os acusados em imagens de reportagens veiculadas em jornais, revistas e na televisão.

A denúncia cita que Calandra teria torturado o secretário especial de Direitos Humanos da Presidência da República, ministro Paulo Vannuchi e seu antecessor, na pasta, Nilmário Miranda. Além dos dois ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Calandra, de acordo com o Ministério Público, participou também da tortura e do desaparecimento de Hiroaki Torigoe; da tortura, morte de Carlos Nicolau Danielli; da tortura do casal César e Maria Amélia Telles, além da montagem da versão fantasiosa de que o jornalista Vladimir Herzog (foto acima) teria cometido suicídio na cadeia.

O depoimento de Maria Amélia Telles, uma das peças da ação, indica métodos de tortura física e psicológica que teriam sido aplicados por Calandra e outros agentes a serviço do Doi-Codi, que envolveriam os filhos do casal. Maria Amélia relata que, numa oportunidade, após terem sido barbaramente torturados, ela e o marido foram expostos nus, marcados pelas agressões, aos filhos, então com 5 e 4 anos de idade, trazidos especialmente para o local como forma de pressioná-los.

Também prestou depoimento no Ministério Público Federal o atual presidente do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa de São Paulo, Ivan Seixas, que foi preso aos 16 anos, junto com o pai, Joaquim Alencar de Seixas, torturado e morto pela equipe do Doi-Codi. De acordo com o relato de Ivan Seixas, David Araújo, o “capitão Lisboa”, estava entre os torturadores. “Era o que mais batia”, disse. Seixas também contou que, como forma de pressão, os policiais o levaram para uma área deserta e simularam seu fuzilamento. Depois, foi colocado em uma viatura onde havia a edição da Folha da Tarde com a manchete sobre a morte de seu pai, mas, ao chegar no Doi-Codi, seu pai ainda estava vivo. Ele disse ainda que, após a prisão, sua casa foi saqueada. Uma das irmãs de Seixas afirmou ao MPF que foi abusada sexualmente por Araújo.

De acordo com o Ministério Público Federal, Dirceu Gravina foi reconhecido em 2008, por Lenira Machado, uma de suas vítimas, em reportagem sobre investigação que o delegado conduzia sobre um suposto vampiro que agia na cidade de Presidente Prudente e mordia o pescoço de adolescentes. Presa por três dias no Dops, Lenira afirmou que teve toda a roupa rasgada por Gravina e mais dois policiais. Depois foi transferida para o Doi/Codi, ficando por 45 dias apenas com um casaco e um lenço.

A ação detalha que, em seu primeiro interrogatório no Doi/Codi, Lenira foi pendurada no pau de arara e submetida a choques elétricos. “Nesta sessão de tortura, conseguiu soltar uma de suas mãos e, combalida, acabou por abraçar Gravina – que estava postado a sua frente, jogando água e sal na boca e nariz da presa. O contato fez com que o delegado sentisse o choque, caindo sobre Lenira e, em seguida, batendo o rosto, na altura do nariz, em um cavalete”, destaca o documento.

“Após algumas horas, Gravina voltou do Hospital Militar, onde levou pontos no rosto, e retomou a tortura, a ponto de provocar uma grave lesão na coluna de Lenira e, mesmo assim, não suspendeu a sevícia. A tortura contra ela era tão intensa que, em um determinado dia, teve que ser levada ao hospital, onde lhe foi aplicado morfina para poder voltar às dependências da prisão”, relata a ação do Ministério Público Federal.

Gravina é também apontado pelos procuradores como o último agente a torturar o preso político Aluízio Palhano Pedreira Ferreira. Também foram vítimas de Gravina, de acordo com a ação os presos políticos Manoel Henrique Ferreira e Artur Scavone.

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Vejam o contraste: enquanto no Uruguai, Argentina e Chile estão sendo julgados e condenados os altos escalões das ditaduras, como ex-presidentes, ex-ministros e mesmo militares de alta patente, aqui no Brasil se pede aposentadoria de ex-delegadinhos do Dops. "Por favor, sr. torturador, queira se aposentar, por gentileza? Saiba que Vossa Senhoria errou, queira se afastar do serviço público? O senhor tem mais vinte anos para deixar a repartição, enquanto isso, fique a gosto. Desculpa-nos, estar lhe importunando, sr. torturador e assassino".

Por exemplo, na Argentina, o ex-presidente, ditador, general Jorge Rafael Videla está preso, foi julgado e condenado por crimes diversos contra os direitos humanos.

No Brasil, nenhum agente civil, nenhum militar está preso. O nosso passivo com a história, a memória e os direitos humanos é altíssimo. Esta conta, um dia virá.

Enquanto nos demais países do Cone Sul, esse tema é uma questão de Estado, no Brasil, as poucas ações judiciais de responsabilização dos crimes da ditadura são de iniciativa das próprias vítimas, numa luta quase pessoal, quixotesca e que os expõem em confrontos diretos com os seus algozes, resultando em mais sofrimento e abalo moral. Quando a vítima recebe alguma indenização do Estado, ainda é objeto de chacota pública promovida por jornalistas que apoiaram o golpe civil-militar e agora posam de cruzados da moralidade pública e zelosos guardas do Tesouro da União.  

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A banda The Clash



E aí o tenente-coronel Bill Kilgore (Robert Duvall) berrou: "Charlie don't surf...". Cena do genial Apocalipse Now, antes de os helicópteros bombardearem a aldeia vietnamita com o fim de limpar a praia para que os milicos brancos pudessem surfar em paz. "Charlie", no jargão do Exército USA, significa "estrangeiro". O filme de Francis Ford Coppola é de 1979. Essa música do Clash é de 1980.

Oh, Serra, a presidência? "Nunca mais"


            Disse o urubu, "Nunca mais".
"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
 Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
 Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
 Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
 Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
      Disse o urubu, "Nunca mais".
[Com a devida licença poética do grande mestre Edgar Allan Poe.]

O real desafio é criar mecanismos de ampliação da democracia direta


A democracia que não veio

Desde que a campanha eleitoral começou, vemos os candidatos mais bem posicionados ensaiarem a defesa da reforma política. Isso significa que, ao menos no discurso, todos reconhecem um certo déficit democrático nas estruturas de poder da sociedade brasileira.

No entanto, é interessante perceber como a maioria das propostas (quando elas, de fato, aparecem) resume-se à discussão de questões que não tocam o fundamento do problema.

Voto obrigatório ou facultativo, existência ou não do Senado, adoção ou não do voto distrital: todas essas questões, embora relevantes, não têm a força para desbloquear o processo de constituição de uma democracia efetiva entre nós.

Neste sentido, talvez fosse o caso de dirigir a atenção para dois pontos pouco explorados no debate eleitoral. Primeiro, vivemos um processo de esgotamento do chamado "presidencialismo de coalizão".

O Brasil deve ter o único Parlamento no mundo em que é impossível a um partido ter a maioria absoluta das cadeiras. Desde a redemocratização, apenas o PMDB de 1986 conseguiu alcançar essa marca.

Isso faz com que o Congresso seja um verdadeiro "balcão de negócios", no qual um Executivo sempre fragilizado (já que necessita de alianças heteróclitas com vários partidos para governar) sai perdendo.

Só seria possível mudar tal situação através de uma reforma política que permitisse situações eleitorais nas quais o vencedor leva tudo.

Isso pode significar que uma parte das cadeiras deva estar vinculada, necessariamente, ao partido vencedor, a fim de permitir que ele possa fazer maioria congressual mais facilmente (ou, ao menos, uma minoria qualificada).

No entanto, toda discussão a respeito de nosso deficit democrático deve partir da constatação da baixa participação popular nos processos decisórios de governo.

A democracia parlamentar liberal quer nos fazer acreditar que a participação popular deva se resumir, em larga medida, à criação de coeficientes eleitorais em épocas de eleição. Ela não percebe que o verdadeiro desafio democrático consiste na criação de mecanismos de ampliação da democracia direta, seja através da generalização de plebiscitos, seja através da regionalização dos processos de decisão sob a forma de conselhos populares.

Tal criação é a condição para o engajamento da população nas práticas sociais de gestão. Só uma patologia própria ao pensamento conservador pode defender que o aumento da participação popular equivale a um risco à democracia. Como se a boa democracia fosse aquela que conserva o povo a uma distância segura através dos mecanismos de representação.

Contra isto, talvez seja o caso de dizer claramente que a verdadeira democracia é medida pela possibilidade dada ao poder instituinte popular para manifestar-se, mesmo que seja criando novas regras e instituições.

Pois há uma plasticidade política própria à vida democrática que só aqueles que temem a construção de uma democracia efetiva compreendem como "insegurança jurídica".

Artigo do professor Vladimir Safatle, do departamento de filosofia da USP. Publicado hoje na Folha.

O douto Flávio Tavares tem razão, as pesquisas só erram


Vejam o que dizia o dono de um instituto de pesquisa

O doutor Flávio Tavares, colunista de ZH dominical (aquele Dilúvio - em homenagem ao riacho que banha os pés da sede da RBS, de cultura impressa), se bandeou de mala e cuia para o latifúndio improdutivo da direita brasuca, mas continua ispertu e dizendo coizas çábias.

Tão çábias, que assertou em xeio quando dice que certos institutos são meros apostadores, futurologistas de araque e cartomantes irresponsáveis.

A direita rebaixa o nível a cada dia


A fotografia acima, pescada na internet, diz tudo, ilustra o esgoto da direita e do PIG

E mais: trechos da coluna de Eliane Cantanhêde, ontem, na Folha.

[...] "não conseguiu ainda 'ensinar' a imprensa [refere-se a Lula]. Mas avança nessa direção, depois de arrastar Dilma para a Presidência e os aliados em massa para os governos estaduais e para o Congresso, onde a previsão é de uma maioria como nunca antes neste país. Exceto com a Arena, na ditadura".

Observem o palavreado: "...arrastar Dilma para a Presidência".

"Exceto com a Arena, na ditadura", vejam o paralelo que a jornalista do PIG faz com a ditadura. O que o lulismo tem em comum com a ditadura? Nada, a não ser o fato de recusar o julgamento e a punição dos torturadores e assassinos da própria ditadura.

E prossegue Cantanhêde: "Em vez de estar leve, feliz, deliciando-se diante da estrondosa vitória que se avista, Lula está armado, atiça os cães da internet e mira a imprensa, para desqualificar o último reduto do contraditório, da crítica, da investigação".

"Atiça os cães da internet...". A imprensa da oligarquia, que na sua integralidade apoiou a ditadura civil-militar de 1964-85, é cognominada de "último reduto do contraditório, da crítica, da investigação". O golpismo como prática cotidiana de um falso jornalismo agora mudou de nome.

A direita, em definitivo, está à beira de um ataque de nervos. Vocês suspeitam de algum motivo relevante que os façam chapinhar no próprio esgoto que criaram?

domingo, 29 de agosto de 2010

Por que Tarso usou dois lenços ao mesmo tempo


Lenço vermelho e lenço branco

Neste momento (13h18, domingo, 29), Tarso Genro, candidato da Unidade Popular pelo Rio Grande, está lançando a Carta aos Gaúchos e Gaúchas, no comitê de campanha, em Porto Alegre.

Tarso está portando no pescoço dois lenços, um, vermelho, outro, branco. O lenço colorado representa os maragatos. O lenço branco lembra os chimangos, o castilhismo.

Simboliza a pretendida unidade do Rio Grande, mesmo reconhecendo as peculiaridades e as diferenças históricas que sempre distinguiram o estado mais meridional do País.

Um simbolismo necessário e oportuno. Uma homenagem ao Rio Grande e suas diferenças históricas, sem pretender autoritariamente apagá-las, como a direita sempre quis, mas de sintetizá-las numa equação política que aponte para um futuro de menos desigualdades e mais solidariedade.

Eles apostavam num filme de terror para o Brasil



Ouçam o que diziam os "especialistas" do PIG e da direita

Este vídeo traça uma cronologia da crise mundial (2008-2009) sob a ótica da imprensa brasileira e da oposição ao governo Lula.

Com pouco mais de 9 minutos de duração, o vídeo traz também uma resposta aos que não entendem como o governo do professor Cardoso (1995-2002) conseguiu quebrar o Brasil três vezes, mesmo tendo vendido quase todas as estatais lucrativas.

PIG faz tempestade em dedal


Qualquer pessoa pode acessar dados confidenciais de outrem

O próprio jornal O Globo já testou a hipótese de a venda de cd's com dados confidenciais ser praticamente de domínio público. Um repórter comprou informações por 200 reais, na rua, de camelôs (ver o fac-símile acima, clique sobre a página para ampliá-la).

Portanto, não tem cabimento a "grave denúncia" de Serra, segundo a qual, quatro de seus companheiros tucanos tenham sido "bisbilhotados" (segundo a expressão do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo) pela Receita Federal. Isto é gravíssimo, mas não tem o viés político-eleitoral que a oposição tenta apontar.

Mais um tiro n'água do PIG (ver ao lado, a capa de ZH, edição da última sexta-feira, 27) e do tucanato da desesperança, que - ambos - correm céleres para a completa extinção. Um, por falta de leitorado, outro, por falta de eleitorado.

Às mulheres guerreiras



Canta León Gieco

Simpósio sobre Biopolítica



XI Simpósio Internacional IHU

O Instituto Humanitas Unisinos - IHU, em conjunto com os programas de pós-graduação em Ciências Sociais, Educação, Direito, Filosofia e Saúde Coletiva, da Universidade, promovem o XI Simpósio Internacional IHU: O (des)governo biopolítico da vida humana, que ocorrerá de 13 a 16 de setembro, no Anfiteatro Pe. Werner, da Unisinos (São Leopoldo, RS).

A proposta do Simpósio é reunir pessoas interessadas, de diversas áreas do conhecimento, para um debate transdisciplinar sobre a vida humana como objeto do poder e recurso útil nas estratégias das sociedades contemporâneas.

Conferencistas

Com a proposta de aprofundar reflexões sobre o tema, estarão presentes referências nacionais e internacionais, de áreas como Antropologia, Filosofia, Ciências Sociais e Políticas, Direito, Educação, Psicologia, Saúde Coletiva, Teologia, entre outras, para ministrar as atividades que integram o evento.

Para mais informações, acesse: www.ihu.unisinos.br

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A Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) é mantida pela Associação Antônio Vieira, denominação civil da Província dos Jesuítas do Brasil Meridional, da Companhia de Jesus, a ordem dos jesuítas fundada por Santo Inácio de Loyola


Entre as maiores universidades privadas do Brasil, concentra, no câmpus (foto ao lado), em São Leopoldo (RS), cerca de 30 mil estudantes em cursos de graduação, pós-graduação e extensão


Também integra uma rede de 200 instituições de ensino superior jesuítas, com 2,2 milhões de alunos no mundo todo.

sábado, 28 de agosto de 2010

Serra, desesperado, agora incorporou o velho padre Peyton



E faz discurso-gorila dos golpistas de 1964

José Serra (PSDB) parece que desistiu da vitória. Resignado, trata agora de segurar suas bases nos bolsões da direita brasileira, na mídia conservadora e junto aos militares "sinceros, porém radicais", como dizia o ex-ditador Ernesto Geisel.
 
Falando a militares da reserva e reformados, em palestra no Clube da Aeronáutica, no Rio de Janeiro, o candidato tucano José Serra comparou o governo Lula ao de João Goulart, deposto no golpe de 1964, referindo-se a “uma república sindicalista”. A informação é do portal Último Segundo/Ig.

“Em 64, não sei se os senhores já estavam nas Forças Armadas, mas uma grande motivação da derrubada de Jango era a ideia, equivocada, de uma ‘república sindicalista’. Não tinha menor possibilidade, tal a fraqueza (do governo). Mas eles (PT) fizeram agora uma república sindicalista. Não pelo socialismo, estatismo, mas para curtir”, afirmou ao grupo de cerca de 200 associados dos clubes militares.

Serra era presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) à época e discursou no comício da Central do Brasil, em 13 de março de 64, considerado um momento-chave para o golpe.
De acordo com Serra, o governo petista tem característica de “ocupação militar”, pelo loteamento de cargos na administração pública. “Quase a totalidade da administração pública está tomada, na prefeitura de São Paulo também era assim. O PT tem características, sem ironias, de ocupação militar. É um Exército que tem que ser acomodado. Tudo é hierarquizado, loteado”, disse.

Em tema caro aos militares, que rendeu polêmica ao atual governo, Serra afirmou ser contrário à retomada da discussão sobre a “Lei da Anistia”. “Eles reabriram a questão da anistia, que ao meu ver é um equívoco. Uma coisa é o conhecimento do que aconteceu... A lei pegaria a gente dos dois lados”.
Perguntado sobre por que não citava o sucesso do Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal, privatizações bem sucedidas na gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula, e porque FHC não participava mais ativamente de sua campanha, Serra afirmou que esses temas “não comovem a população”.

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Patrick Peyton foi um padre católico irlandês, de extrema direita, fundador da "Cruzada do Rosário em Família", movimento autorizado pela Igreja Católica que visava unir as famílias em torno da oração. Conhecido como "o padre de Hollywood", pelo gosto por holofotes e multidões, e muito dinheiro.

Sua vinda ao Brasil foi decidida no final de 1962, em Washington. Hoje já se sabe que padre Peyton (imagem ao lado) foi bancado pela Agência Central de Inteligência (CIA) do serviço secreto. A operação clandestina mais importante para derrubar João Goulart foi intermediada por um multimilionário devoto do catolicismo, J. Peter Grace. Não era apenas uma questão de fé. Grace tinha interesses econômicos na América do Sul em transporte, açúcar e mineração. As informações foram pescadas do Wikipédia.

Crack, nem pensar



Pela reabilitação do Rio Grande do Sul

Programas de reabilitação de drogados costumam prescrever a aceitação de que o mundo é maior que a dependência do drogadito. Ou, em outras palavras, que o drogadito não é maior do que o mundo. Versões mais grosseiras dessas tentativas de desintoxicação costumam meter deus no meio dessa superação. Fato é que desintoxicar exige humildade. E uma consciência da própria finitude, quer dizer, um compromisso inadiável com a própria carne, com as próprias dores e possibilidades. Desintoxicar, por isso, exige um compromisso com a verdade. Não há espaço para mentira e suas variantes do auto-engano no caminho de luta contra a dependência.

Por isso falar em desintoxicação do Rio Grande do Sul faz sentido, e não exatamente como metáfora.

Um Estado que padeceu com a experiência Yeda Crusius não precisa de metáfora, mas de realidade e, portanto, de um compromisso inadiável com a verdade. A viagem tem sempre vida curta e a chapação, ao longo do tempo, mata. De 2003 para cá, quando a direita gaúcha rearticulou seu projeto de poder no estado do Rio Grande do Sul, a situação do Estado, perante si mesmo e perante o país realmente merece uma campanha como “Crack, nunca mais”. Não é sem propósito que o esteio propagandístico da chapação lança essa campanha. E, mais uma vez, não há metáfora, aqui.

A decadência econômica vem caminhando de mãos dadas com a degeneração política. Se esse vínculo é necessário ou não, pouco importa. Fato é que constatar sua existência no RS dos dias que correm é dizer a verdade. O lero-lero delirante do Déficit Zero é propagandeado a despeito do declínio nos índices de qualidade de ensino, de saúde, dos serviços públicos e nos grandes esquemas de saque do erário já combalido. Saques, por sua vez, investigados e denunciados antes pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. A chapação e a dependência não deram lugar à oposição. Mas esta, como um fígado, seguiu se regenerando.

Seria simplesmente ridículo ver Yeda Crusius na televisão, com aquela sua peculiar mirada ao infinito, não fosse desagradável. É constrangedor e triste ver no que as drogas podem transformar uma pessoa. E a mentira das sanhas ideológicas não apenas alienam politicamente, como demenciam. Tem algo demente, ali, naquele queixo acrítico, naquele déficit zero que outro dia até a representante não escolhida pelo voto do sofrido Ministério Público Estadual repetia. Diabos, o que pode querer dizer déficit zero no MP estadual?

Para criticar o Olívio Dutra, diziam que nas Assembléias do OP se discutia até a compra de carteiras para escolas. Para criticar, diga-se. Porque o que fizeram com este homem é inominável. Agora, não podem mais fazê-lo. Não falam mais sozinhos, não intoxicam plenamente, não asseguram a terra das palavras delirantes nas mentes incautas. E o Rio Grande do Sul fica mais saudável.

Posso discordar de que tudo seja discutido numa assembléia de OP. Mas frente ao crime o que está em jogo não é a concórdia ou a discórdia; é a justiça, a lei. Ambas, em tempo, vêm sendo destroçadas neste estado. Desmantelaram a legislação ambiental, esquartejaram a legislação dos incentivos fiscais e, com isso, a mínima decência tributária (o Fundopem do governo Rigotto tornaria Britto um republicano), desinvestiram deliberada e sistematicamente na saúde, recusaram e se abstiveram do recebimento e do empenho de verbas federais destinadas a políticas públicas para jovens, crianças, mulheres, mulheres negras, comunidades indígenas, catadores de papel, usuários do SUS.

Esse acúmulo de perdas só reforçou a dependência da máquina propagandística, o estuário de verbas estaduais para seguir tentando perpetuar o vício. Como se sabe, o vício tem muitos aspectos: culpa-se o outro, projeta-se a própria miséria e se denega qualquer responsabilidade. Assim se pode ver motoristas de táxi, lobotomizados via rádio o dia inteiro, bradarem contra a Dilma porque os azuizinhos não fiscalizam as pessoas que estacionam nas ruas. Crack, nunca mais.

E por falar nisso, o senador Simon está calado. O paladino da imparcialidade ativa que embruteceu, empobreceu e corrompeu o Estado em níveis nunca dantes vividos. Seu candidato, até que se prove o contrário, é um senhor tão obscuro como descompromissado, cujo discurso vazio só é superado pela ausência de vitalidade.

Quem quer manter essa carcaça em que o RS se tornou? Como um resto de gente, com dentes empodrecidos, ira contra o mundo, sobretudo incompreensível; quem caminha pelas ruas e vê as hordas de jovens chapados sabe do que se trata a imparcialidade ativa do déficit zero. Sabe o que desinvestimento, abstenção e recusa de assistência geram. Ainda virá à tona o quanto foi devolvido à união pelos governos (sic) da imparcialidade ativa e do déficit zero, em recursos sem empenho, destinados a políticas públicas no âmbito da assistência social, médica, à criança e ao adolescente, à juventude. Crack, nunca mais.

Reabilitação é um processo doloroso, mas diariamente fortalecido. Toda desintoxicação exige mais do fígado do que os porres de palavras cruzadas e falsas polêmicas. Mas funciona, constitui, faz sentido. É um caminho incerto, com recaídas, ou sem. Mas aponta para a agregação, a consciência do mundo e a independência moral. Sem chapação, sem mentira, sem saque do erário e sobretudo sem o delírio destruidor de futuro, de responsabilidade e de saúde.

O que será do RS reabilitado não se sabe, visto que a destruição não foi pouca nem irrelevante. Mas cessar a dependência, hoje, é vencer o vício, ganhar da mentira, recusar o auto-engano mistificador e empenhar-se com o futuro. Crack, nunca mais.

Artigo de Katarina Peixoto, publicado originalmente no blog RS Urgente.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Pedro Simon está como o quadro da dor




O senador Pedro Simon (PMDB-RS), padrinho eleitoral de nove entre dez governadores furrecas do RS, é a própria desolação (ver foto de Cristiano Estrela no CP, de hoje, acima).

Enfiou a secção regional do seu partido num imbróglio eleitoral e agora não sabe como vai se sair, ao fim e ao cabo.

Ontem, reuniu às pressas os cupinchas e liberou de direito o que de fato já estava dispensado, os prefeitos e as suas escolhas incontroláveis pela candidatura de Dilma Rousseff.

O problema, para Simon, é que este vento brasileiro pró-Dilma já está lambendo as coxilhas guascas e pode empurrar a popa do barco de Tarso Genro.

Os últimos números das pesquisas eleitorais já indicam a tendência da viração lulo-dilmista no Rio Grande, com franco favorecimento de Tarso Genro.

Não nos surpreenderemos se o candidato petista também vença no primeiro turno, dropando assim a onda brasileira que parece conduzir em definitivo o lulismo para um terceiro mandato planaltino.

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Em ambientes lulistas de Brasília, comenta-se que a eleição de Germano Rigotto (PMDB) para o Senado é uma aposta com mais pules que a do petista Paulo Paim. Ninguém esqueceu as votações de Paim, contra as decisões planaltinas. Estes mesmos reconhecem a lhaneza e a cordura de Rigotto com o lulismo de resultados.

"Rigotto não nos dará problema", dizem à socapa.

Papel Prensa: viúva ratificou que a venda foi sob tortura

Há três dias o jornal oligárquico Clarín, de Buenos Aires, publicou a declaração de um personagem que visa atenuar a grave situação da mídia conservadora argentina no tão rumoroso quanto misterioso caso Graiver/Papel Prensa. Trata-se de Isidoro Graiver, irmão de David Graiver, ex-controlador da empresa Papel Prensa S/A, morto em um obscuro acidente aéreo em 1976, meses depois do golpe-gorila do general Jorge Rafael Videla e do oligarca civil Joe Martínez de Hoz. Segundo a suspeita do jornalista Juan Gasparini, a morte prematura do multibanqueiro Graiver pode ter sido sabotagem da CIA (ver post abaixo).

Ocorre que Isidoro Graiver garantiu ao jornal conservador que a venda da empresa papeleira em 1976/77 foi por livre e espontânea vontade de sua cunhada, a viúva Lidia Papaleo de Graiver (na foto acima, com o seu irmão Osvaldo Papaleo, quinta-feira, 26, saindo do tribunal em La Plata, onde depuseram durante cinco horas).

Hoje, o diário portenho Página/12 publica uma declaração de Lidia Papaleo feita ante os membros da Unidade Fiscal de Seguimento das causas por violações aos direitos humanos cometidos pelo terrorismo de Estado da cidade de La Plata, capital da provîncia de Buenos Aires. Lidia se manifestou perante este tribunal ontem, quinta-feira, portanto depois de saber das falsas palavras do cunhado Isidoro Graiver.

E o que disse Lidia, a viúva de David Graiver?

Segundo Página/12, a situação é a seguinte: "Fontes judiciais asseguraram que a mulher [Lidia] ratificou que se desfez da empresa sob pressões e que afirmou que o seu cunhado, Isidoro Graiver, tinha péssima relação com a família porque havia sido afastado na partilha de bens".

Segue a informação: "Papaleo de Graiver falou durante cinco horas ante o fiscal Marcelo Molina" em La Plata. Lidia relatou que foi a uma reunião na redação do La Nación, em novembro de 1976, onde estavam os diretores deste jornal e mais o editor Héctor Magnetto, do Clarín. Nesta oportunidade, Lidia foi apresentada a uma proposta de compra e venda, sobre a qual jamais pôde opinar, nem sobre o preço, nem sobre os termos da mesma, nem mesmo sobre a forma de pagamento.

Agora o mais grave, conforme a notícia de Página/12.

"A viúva de David Graiver assinalou que Pedro Jorge Martínez Segovia, que era presidente de Papel Prensa, lhe disse por ocasião de um jantar, que representava o [então] ministro da Economia, José Alfredo Martínez de Hoz, e que devia vender as ações de Papel Prensa a pessoas que não fossem judias e nem estrangeiras".

"Papaleo de Graiver foi sequestrada em 14 de março de 1977. A mulher foi introduzida à força em um carro e levada ao que depois soube que era o centro clandestino de detenção Posto Vasco, onde foi torturada. Depois de quatro dias ali, soube que neste lugar também se encontravam seu sogro, Juan Graiver, seu cunhado, Isidoro Graiver, e outras pessoas de sua família ou que tinham vínculos com os negócios de seu marido. Alberto Rousse e Beto Cozzani foram alguns dos torturadores que a maltrataram. Em 4 de abril de 1977 foi levada para o Poço Banfield, onde foi interrogada pelo coronel (Oscar) Gallino, que lhe perguntou sobre os bens de seu marido", conforme noticiou hoje o diário Página/12.

Os humoristas de passeata (de direita) escondem a verdade


Deputada Manuela E-aí,-beleza? D'Ávila é uma das autoras da aberração

Deu na coluna da jornalista Hildegard Angel, no Caderno B, do Jornal do Brasil, edição de ontem:

[...] A Lei das Eleições, 9.504, data de 1997 e, na minirreforma, ganhou penduricalhos que a "turbinaram", com substitutivos e emendas no que diz respeito ao humor, cujos autores têm nome: são os deputados, do PCdoB, Flavio Dino, candidato a governador do Maranhão, e Manuela D'Ávila [do RS].

Para essa minirreforma ser aprovada no Plenário da Câmara, os deputados votaram. O TSE apenas cumpre o que está escrito. Então, não é o Lula, não é a Dilma, não é o ministro Lewandowski nem é o Franklyn Martins (conforme menção leviana de um dos humoristas desfilantes).

São os nossos congressistas! E isso, os humoristas de passeata não disseram, não dizem, muito pelo contrário, querem deixar no ar a ideia de que o governo brasileiro cerceia a atividade do humor...

Essa atitude dúbia, manipuladora, só tira a legitimidade de uma causa que é boa, reduzindo-a a mero instrumento de campanha da oposição. Se no Brasil de hoje houvesse censura ao humor, nós não teríamos visto, como vimos, no CQC da última segunda-feira, um humorista dizer que o Eike Batista "faturou" a dona Marisa Lula da Silva, nem o humorista ao lado acrescentar que "dona Marisa vai fazer uma coleira com o nome Eike escrito". [...]

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O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Carlos Ayres Britto suspendeu na noite de ontem (26) a legislação que proíbe programas de humor de fazerem piadas com os candidatos que disputarão as eleições de outubro.

Sem ainda julgar o mérito do caso, que só pode ser analisado pelo plenário do STF, Ayres Britto disse que a proibição fere o princípio constitucional da liberdade de expressão e cria impedimentos "a priori" aos programas, algo que já foi debatido e vetado pelo próprio tribunal.

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A jornalista Hildegard Angel é filha de Zuzu Angel, e irmã do ex-guerrilheiro, torturado e morto pela ditadura civil-militar, Stuart Angel Jones. Hildegard já declarou que está apoiando a candidata Dilma Rousseff.

Foto: Domingos Peixoto/O Globo

A Somália ferve


Foto da AP, tirada terça, dia 24/8. A Somália ferve. Não só no sentido figurado, mas por ser o lugar mais quente da Terra, precisamente no chifre da África oriental.

Estes corpos jovens são de vítimas de brigadas armadas em Mogadíscio, o que seria a capital da Somália.

A rigor, o Estado da Somália não existe mais. Se decompôs aos poucos, nestes últimos vinte anos. Um caso, talvez, único no mundo. A guerra civil devasta o país deste 1990.

Há luta por tudo, por terra, por água, por pastos para os animais, por espaços, por armas, por animais, por sombra, por luz, por tudo que está debaixo do sol e sobre o chão.

Se no passado as tribos e clãs lutavam armados de paus e facas, hoje, a guerra civil generalizada é com armamento sofisticado, trazido por mercadores internacionais a serviço dos países produtores de material bélico, inclusive Estados Unidos, França, Inglaterra, Suíça, Israel, Canadá e muitas outras ditas "nações democráticas e civilizadas". Mas permitem que suas armas sejam negociadas e sirvam para matanças étnicas.

O Estado terminou na Somália. Vive-se no "estado de natureza", qualquer coisa localizada entre Hobbes e Locke. Se é possível ainda brincar com uma situação tão regressista dessas, suspeita-se que as pessoas já nem estão comendo alimentos cozidos, comem-nos crus mesmos. Tamanho é o retrocesso civilizatório, repito, tangido pelos interesses comerciais e a cupidez vil dos mercadores de armas e seus governos "democráticos".

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Papel Prensa, o fordismo nos crimes de lesa humanidade


É como se a Folha e O Globo tivessem o monopólio do papel de imprensa no Brasil, conseguido graças a extorsão mediante tortura, assassinato e desaparecimento de pessoas com a ajuda da mão forte da CIA

A presidente Cristina Fernández de Kirchner é uma mulher corajosa. Ela está mexendo com o thriller mais palpitante da Argentina. Suspense total. Ou como chamaríamos a uma história que está sendo contada desde janeiro de 1976, por ocasião de um jantar servido pelos generais Jorge Rafael Videla e Roberto Eduardo Viola ao bilionário casal David Graiver e Lidia Papaleo de Graiver, então donos da empresa Papel Prensa, e prossegue até nossos dias, com a ameaça de quebra da espinha dorsal dos dois principais diários da Argentina? É como se a Folha e O Globo estivessem envolvidos em crimes de lesa humanidade para lograr êxito no controle do papel de imprensa com o qual editam seus diários.

Repito: thriller, suspense.

Ingredientes: mortes violentas jamais explicadas, milhões de dólares (a preços da década de 70), CIA, sabotagem, queda de avião, muitos bancos envolvidos, a O.P.M. Montoneros, um banqueiro que financia a esquerda, grupo Abril/Civita, organizações Bunge y Born, sequestro dos irmãos Born, compra de bancos em Nova York, sequestro em massa da família Graiver, tortura, extorsão, dois presidentes argentinos, não por acaso, gorilas, assassinatos, Martínez de Hoz (que seria o cérebro do caso Papel Prensa, e ainda vive), jornais Clarín e La Nación como monopolizadores de todo o papel destinado à imprensa argentina, etc.

A psicóloga de olhos verdes, Lidia Papaleo, está com 66 anos, hoje. É viúva do conhecido "banqueiro dos Montoneros", David Graiver, morto misteriosamente aos 35 anos de idade no acidente fatal de um avião Jet Falcon de sua propriedade, quando viajava de Nova York, onde trabalhava durante os dias úteis, para Acapulco no México, onde morava e convivia com a sua família nos finais de semana. Quando morre no suspeito acidente, até hoje inexplicado, David Graiver era dono de um império avaliado em 200 milhões de dólares, hoje, certamente mais que um bilhão, corrigidos. Entre suas posses se podiam somar vários imóveis rurais e urbanos herdados de sua família judia, e mais: dois bancos na Argentina, dois bancos em Nova York, um banco na Bélgica e um banco em Israel. Sem esquecer a própria empresa de papel e celulose Papel Prensa, praticamente um monopólio na fabricação e distribuição de matéria-prima para todos os jornais argentinos.

Dudi Graiver, como era conhecido, eram também rico em amigos. Em parte, pelo casamento com Lidia Papaleo, uma mulher forte e influente junto ao marido, e que havia sido companheira de um jornalista de esquerda chamado Jarito Walker, editor da revista política El Descamisado. A relação de Graiver com Jarito Walker lhe valeu uma aproximação com a Organização Político-Militar Montoneros, um dos braços armados do peronismo, através do adjunto do comandante Mario Firmenich, Roberto Quieto.

A propriedade parcial da Papel Prensa foi conseguida em 1973, graças à intervenção de Josef Ber Gelbard, ministro de Economia tanto dos presidentes "peronistas" Raúl Lastiri e Héctor Cámpora, quanto do próprio Perón e Isabelita, quando o líder de massas já havia morrido. O montonero (ex-PC) Gelbard foi um aliado determinante de Graiver na pressão sobre os ítalos-argentinos Civita (grupo Abril) para que estes vendessem cerca de 26% das ações da Papel Prensa. Outros 25% das ações eram do Estado e os 49% restantes estavam pulverizadas em cerca de 30 mil acionistas anônimos.

No conturbado governo de Isabelita Perón (na foto ao lado com Videla e Almirante Massera), grupos de extrema direita começam a se organizar à sombra generosa do peronismo. Eram conhecidos e temidos como a Triple A, a rigor, forças parapoliciais comandadas de dentro do governo de Isabelita pelo "bruxo" José Lopez Rega. Todos eram peronistas e mesmo assim se matavam mutuamente em plena luz do dia, ora eram os sindicalistas, os autores, ora os Monto, as vítimas, ora a milícia fascista e palaciana de Lopez Rega, com a discreta aprovação da presidenta Maria Estela Martínez de Perón. E vice-versa. Os militares assistiam de camarote blindado, prontos para intervir como porta-vozes dos interesses das oligarquias latifundiárias e de suas próprias armas corporativas.

Numa tarde quente de janeiro de 1976, o casal Graiver estava veraneando em seu bangalô em Punta del Este, litoral uruguaio. O telefone toca e no outro lado da linha estava o comandante do Exército argentino, Jorge Rafael Videla, subordinado à temerária presidente Isabelita. O general-comandante estava convidando Dudi e Lidia para jantar naquela noite de verão. Eles aceitaram e seguiram para Buenos Aires de avião alugado. No jantar, estavam os três, o casal e Videla, e juntou-se a eles o subcomandante, general Roberto Eduardo Viola Redondo. O jantar foi indigesto, os dois gorilas estavam comunicando ao influente casal que o golpe estava marcado para março daquele ano, portanto, a menos de dois meses.

E assim aconteceu o "pronunciamento militar" de 24 de março de 1976, como os jornais oligárquicos chamavam os golpes militares na América Latina, em décadas passadas.

Desde o início do governo de Isabelita e com as ameaças e assassinatos da Triple A, os Graiver já haviam se mudado para o eixo Acapulco-Nova York. Mas Dudi Graiver jamais deixou abandonado os interesses negociais e sobretudo as propriedades na Argentina. O resgate pelo sequestro dos irmãos Born (do grupo Bunge y Born), operado pelos guerrilheiros Montoneros em setembro de 1974, estava investido nos bancos de David Graiver. Foram 60 milhões de dólares que circularam pelos bancos Graiver de Buenos Aires, Nova York, Bruxelas e Tel-Aviv. Em março de 1976, mês e ano do golpe gorila de Jorge Rafael Videla contra Isabelita, os bancos de Graiver remuneraram a organização guerrilheira peronista com 193 mil dólares, só de juros, segundo o jornalista investigativo argentino, que vive na Suíça, Juan Gasparini. Hoje, essa quantia não ficaria por menos de meio milhão de dólares ao mês.

Nunca um golpe militar é puramente obra de militares, limitados e parvos que são para as coisas da política, da economia e da gestão pública como um todo. Videla, assim, leva Martínez de Hoz, membro de secular oligarquia argentina, para exercer o cargo de ministro da Economia. Atualmente se sabe que Martínez de Hoz foi um dos ideólogos do golpe e do regime autodenominado de Processo de Reorganização Nacional, ou simplesmente Processo, que durou até 1983, abortado pela derrota argentina na Guerra das Malvinas.

Martínez de Hoz está sendo atualmente processado por seus inúmeros crimes, em especial os que extorquiam grandes empresários mediante tortura para que endossassem a "venda" de suas empresas e bens para militares influentes na ditadura que controlavam com grande violência e crueldade. Foram dezenas de comerciantes, proprietários rurais, industriais e banqueiros que tiveram seus bens roubados debaixo de tortura nos inúmeros aparelhos repressivos clandestinos das três armas militares. O cérebro deste processo fordista de saque consentido e operado pelo aparelho estatal foi o ministro da Economia, José Alfredo Martinez de Hoz, apelido Joe, que está agora com 85 anos.

Pois é o método pragmático e objetivo de Martínez de Hoz (ao lado, sorrindo com o general Videla) que foi empregado à família Graiver para subtrair-lhe o controle da empresa de celulose Papel Prensa. A ditadura civil-militar precisava vencer e impor uma versão ideologizada dos atos abomináveis que cometiam. Para tanto, nada mais justo e adequado do que creditar à mídia impressa o papel que lhe cabe na escrita de um novo consenso, ainda que parido pela vaca fardada da coerção. Os diários Clarín, La Nación, La Razón (hoje extinto) já haviam sido parceiros no golpe de 24 de março, assim como os dois jornais de Jacob Timmermann, La Opinión e La Tarde, este dirigido pelo seu filho Héctor, ex-embaixador argentino nos EUA e atual ministro de Relações Exteriores do governo Cristina Kirchner. Héctor Timmermann, registre-se, está, no presente momento, assumindo uma posição correta, reclamando justiça e pela completa solução do misterioso caso.

No segundo semestre de 1976, nos meses posteriores ao golpe, Lidia Papaleo de Graiver e seus familiares sofrem pressão quase insuportável até que concordam em repassar o controle da Prensa Papel para as empresas que representavam o Clarín, La Nación e la Razón. Os ativos são calculados em 8,3 milhões de dólares, bem abaixo do preço efetivo de mercado, especialmente se fosse considerado o caráter monopolista e estratégico da empresa papeleira. Lidia cedeu não só pela pressão sofrida, mas também pela insolvência que rondava as demais empresas e negócios da família. A morte prematura e misteriosa de David em agosto de 1976 desencadeou uma iliquidez em série nos negócios dos Graiver, era ele que conduzia pessoalmente todos os investimentos cruzados e interdependentes dos ativos financeiros que possuiam. Lidia e familiares estavam acuados, economicamente abalados, politicamente pressionados, e biologicamente em risco.

O jornalista Juan Gasparini assegura que tem a mão pesada da CIA no acidente que levou a vida de Graiver. Para ele, os militares argentinos e Washington não iriam tolerar que o financiador ou gerente financeiro de um grupo político considerado terrorista, como os Montoneros, fosse dono de dois bancos no coração de Nova York e ainda por cima manejar dinheiro mal havido sem que as autoridades pudessem sequer intervir. Logo, a ação de sabotagem no avião foi uma saída honrosa tanto para a Casa Branca quanto para a Casa Rosada.

Depois disso a situação estava em plano inclinado, deslizando rápido para o completo desastre. Culminou que em março de 1977, a repressão argentina desencadeou a Operação Amigo, que consistiu no sequestro de 24 pessoas ligadas às empresas Graiver. A violência se abateu sobre Lidia Papaleo e mais 23 familiares, empregados, e executivos do grupo Graiver, sendo que dois indivíduos ligados ao falecido Dudi Graiver, de nome Rubinstein e Sajón, já estavam mortos e desaparecidos.

Nesta fase há um interregno de perguntas sem respostas, em parte, devido ao trauma sofrido pela viúva de Graiver, que não quis ou não pôde se manifestar. Osvaldo Papaleo, irmão de Lidia, sustentou por algum tempo que a Papel Prensa foi adquirida pelo Clarín e La Nación enquanto a família Graiver e os empregados estavam sequestrados e sendo torturados em algum covil policial ou militar.

O certo é que Lidia Papaleo de Graiver sofreu torturas na prisão. Um torturador perguntava sempre sobre o dinheiro dos Montoneros, chamando-a de "guacha de mierda". O sofrimento foi maior quando desenvolveu um tumor no cérebro, tendo sido operada no próprio cárcere, segundo conta o jornalista Juan Gasparini no seu livro sobre David Graiver. Lidia só foi solta em agosto de 1982, quando a ditadura já havia perdido a Guerra das Malvinas para a Inglaterra de Margaret Thatcher, e estava nos seus estertores, tanto que o ditador Leopoldo Galtieri já havia renunciado. Foi sucedido ainda por outro ditador, o último, Reynaldo Bignone, que depois passou a presidência para o presidente eleito Raúl Alfonsín, em dezembro de 1983.

Antes de ganhar a liberdade, Lidia passou por choques elétricos e pontas de cigarros acesos sobre a pele nos centros militares de tortura conhecidos como Poço Banfield e Posto Vasco, ambos na província de Buenos Aires, sob a custódia do Departamento Central de Polícia. Finalmente, foi submetida à farsa judicial de um Conselho de Guerra, onde foi humilhada e acusada de crimes contra o Estado. O jornalista Juan Gasparini garante ainda que o policial Miguel Etchecolatz, Diretor de Investigações da Polícia Bonaerense, violentou Lidia depois de uma prolongada sessão de tortura física e psicológica. De fato, é certo que muitos psicopatas desenvolvem grande excitação sexual depois de assistirem cenas de sofrimento alheio, especialmente vendo a dor feminina.

Lidia, já em liberdade, ainda sofreria um câncer mamário, mas isso não a impediu de se dedicar à sua profissão de psicóloga e casar novamente, desta vez com um estadunidense chamado Steve Tage.

Segundo depoimento de um irmão de Lidia à imprensa portenha, ela não mexeu mais no áspero tema de sua vida porque considerava que este é um assunto de Estado. Ela não acreditava que as suas agruras e sofrimentos pudessem ser resolvidos por denúncias vagas na imprensa, em livros, em instâncias partidárias, em ONG's, ou na Justiça comum. Não, ela acredita - segundo seu irmão - que este é um problema para o Estado argentino resolver. Tudo leva a crer que uma mulher, Cristina Fernández de Kirchner, entendeu o recado de Lidia Papaleo de Graiver.

Trata-se, sim, de uma questão de Estado. Foram cometidos "crimes de lesa humanidade" em série, segundo consta na denúncia da promotoria argentina. Uma família foi violentada, torturada e dela foi esbulhado um bem material - Papel Prensa - que hoje está servindo de instrumento de luta política pela mídia crioula e oligárquica para que a Argentina retorne a um tempo em que as cidadãs e os cidadãos eram torturados, mortos e desaparecidos.

O assunto Papel Prensa é estratégico. É uma disputa pelo Estado. Não é de graça que o editorial do jornal Clarín assume um tom confessional quando disse há dois dias que "o Governo avança em Papel Prensa para controlar a palavra impressa". É como disse um articulista do jornal Página/12 ontem, essa admissão do Clarín em Direito se chamaria "confissão da parte" ou "relevo de provas", já em Psicologia pode-se chamar de "projeção". De qualquer forma, é sim um mecanismo de defesa que consiste em atribuir a terceiros ou ao mundo que o rodeia os erros ou desejos pessoais.

A rigor, um ciclo está se fechando na Argentina, e de resto, também em toda a América do Sul. A queda iminente e provável do grupo midiático Clarín (jornais, rádios, tevês) é uma parte da história que queremos ver pelo espelho retrovisor, e não é à toa que tem como protagonistas duas mulheres fortes, Lidia e Cristina.

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Este breve relato foi baseado na leitura do livro do jornalista argentino Juan Gasparini chamado "David Graiver - el banquero de los Montoneros" (1990), atualmente com a edição esgotada. Você pode ler esta obra na íntegra acessando aqui.

Papel Prensa: Washington está observando com atenção



EUA têm preocupações com a liberdade de imprensa no mundo, acredite

O governo dos EUA está seguindo com "especial atenção" o debate argentino sobre a situação da empresa Papel Prensa, segundo assegurou ontem o porta-voz do Departamento de Estado, Mark Toner. A informação é do jornal portenho Página/12, edição de hoje.

"Estamos prestando especial atenção nos acontecimentos", disse Toner, como resposta a uma consulta dos correspondentes argentinos em Washington durante sua habitual entrevista à imprensa. Mesmo que não tenha dado detalhes, Toner garantiu que o assunto é parte das conversações bilaterais.

Ontem à tarde, a presidenta Cristina Kirchner recebeu em seu gabinete a subsecretária de Estado para a Diplomacia Pública, Judith McHale, e a embaixadora Vilma Martínez, mas não comentou sobre os assuntos tratados.

O porta-voz do Departamento de Estado comentou que os EUA têm "preocupações com a liberdade de imprensa no mundo", por esse motivo não perdem de vista que "na Argentina se produz um forte debate doméstico neste momento".

"Obviamente, tomamos muito a sério as preocupações sobre a liberdade de imprensa", concluiu Toner.

Fac-símile de fotografia impressa que ilustra a inauguração da Papel Prensa, em primeiro plano Bartolomeu Mitre, diretor do jornal La Nación, e o famigerado cérebro civil da ditadura, Martínez de Hoz.  

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Serra, praticamente vitorioso, já discute ministério


Pescado do ótimo blog do prof. Hariovaldo

Como a vitória agora é questão de dias, é hora de começarmos a analisar o futuro ministério de salvação nacional do governo Serra. Alguns nomes já estão certos, outros ainda são dúvidas. É importante que cada um de nós dê sua opinião sobre eles ou indique substitutos. Vamos conhecê-los:

Relações Exteriores: Fernando Henrique Cardoso;
Defesa: Nelson Jobim;
Justiça: Gilmar Mendes;
Banco Central: Salvatore Cacciola
Comunicações: Ali Kamel;
Saúde: Cacá Rosset;
Economia: (Serra está em dúvidas entre Sardenberg e Míriam Leitão)

Segundo sugestões dos homens bons que frequentam este sítio noticioso, poderemos ter também as seguintes pessoas nos ministérios indicados:

Minas e Energia: David Zylbersteyn
Pró-Álcool: Lucia Hipolitro.
Cultura: Arnaldo Jabor
O IBGE será gerido pelo Datafolha.
Trabalho: Chiquinho Scarpa
Turismo: Maitê Proença
Ministério do Acarajé: Cira de Itapuã
Ministério da Juventude: Soninha
Instituto Federal de Reeducação Social Henning Boilesen: Jair Bosolnaro
Previdência Social: Georgina de Freitas
Igualdade Racial: Demétrio Magnoli
Reforma Agrária e Agricultura Familiar: Kátia Abreu
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres: Rogéria
Articulação Política: Índio da Costa
Esportes: Ricardo Teixeira

A chefia da Casa Civil ficará com a Condoleezza Rice, pois é assunto muito sério pra ser tratado por brasileiros.

O Instituto Rio Branco passará a se chamar Ronald Reagan Institute.

O Diário Oficial da União será substituído pela Folha de S. Paulo.

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Os demais pastas analisaremos a medida que formos sabendo os nomes dos indicados.

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Metendo a minha colher e já que o anunciado Ministério da Segurança Pública não foi citado pelo eminente professor Hariovaldo, sugiro para a pasta que combaterá o medo da classe média, a notável atriz global, ex-namoradinha do Brasil, Regina Duarte.

Já para o Ministério das Comunicações, eu discordo - data maxima venia - da indicação de Ali Kamel. Sugiro, pois, o nome do colunista de Zero Hora dominical, um destemido ex-homem-macaco, Flávio Tavares, elogiado redator ad hoc de um manifesto de apoio às candidaturas de José Serra em dobradinha com a esquecível governadora Yeda Crusius.

E o Caetano apareceu ontem

Caetano Veloso, um grande artista brasileiro, mas que na política só comete atropelos e tolices, posto que é um pavão sem mistério, apareceu ontem no programa de Marina presidente.

Sem novidade. Eles se correspondem, politicamente. A candidatura Marina foi uma urdidura ladina (sem criatividade) de duas sumidades em matéria de traição: o professor Cardoso e o conhecido desbundado Fernando Gabeira. A intenção instrumental era fazer com que a acreana erodisse por baixo a candidatura lulista, face a uma suposta legitimidade que ela detinha por ter militado por quase três décadas no PT (linha dirceuzismo de oportunidades, saibam todos). Nada feito. Pescadores de águas turvas só capturam botas velhas e chaleiras furadas.

Ontem, quando apareceu Caetano, na sala onde eu estava refestelado, um menino de 11 anos virou-se pra mim, surpreso pela minha gargalhada, e perguntou:

- Quem é, tio?

Caetano, mal suspeita, mas a plateia já não o reconhece.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Se não desligar, Dilma vai a 60% ou mais



Brincadeira à parte, se o Lula não a desligar, Dilma de fato vai aos 60% das preferências nacionais, ou mais. [A charge acima é do Angeli.]

Dilma reúne todas as qualidades necessárias para o exercício não-canalha e não-oligárquico da presidência da República. Tirando Lula e Getúlio Vargas, vá lá, Jango e Juscelino, estes, em parte, todos os demais presidentes foram predadores da alma popular.

Dilma só não tem carisma, que é aquele dom divino, sobrenatural de Almeida, que só os santos e os idiotas têm. O resto ela tudo tem. Dois jornalistas, semana passada na Folha, reclamavam que não conheciam a Dilma. Uma, é a Cantanhede, a musa dos babões reacionários. Não conhece a Dilma? Vá, então, conhecer as suas obras no RS e no Brasil. Olhe para o lado e verá pelo menos uma obra física ou imaterial realizada sob a batuta da futura presidente. Vá.

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A propósito, não quero deixar passar em branco a data de hoje, 24 de agosto. Marca a data do suicídio-denúncia de Getúlio Vargas ocorrido exatamente em 24 de agosto de 1954, portanto há 56 anos. O sacrifício da vida como cálculo político preciso e eficaz por dez anos. O golpe ficou adiado.

Vargas foi um marco na história brasileira. É o que eu chamo de homem-revolução-burguesa.

O Brasil se modernizou com esse petiço-grande homem, pequeno na estatura, mas um gigante na visão histórica e política. Ele foi formado na escola positivista do castilhismo-borgismo sul-rio-grandense. A revolução burguesa no Rio Grande do Sul aconteceu a partir da Constituição castilhista de 1891, seguida de uma luta sangrenta provocada pelos latifundiários conservadores e esmagada a bala, degola, e autoritarismo ilustrado e modernizador.

Getúlio Vargas emerge deste caldo primordial e modifica o Brasil. O intrépido tolo que foi (é) o professor Cardoso, que conhecia bem o varguismo, em seu discurso de posse no primeiro mandato, garantiu que iria "desmontar o Estado getulista brasileiro". Tentou, fez força, mas não conseguiu de todo.

O fato é que São Paulo, sua elite estúpida, jamais engoliu Getúlio. Acadêmicos da USP tentaram desconstituí-lo com teses tão pedantes quanto insuficientes, chegaram a reformar a categoria "populismo" em novas bases para tentar enxovalhar a memória getulista, mas tudo foi em vão.

Lula de uma certa forma retoma a bandeira nacional-popular, não o getulismo, que este, rigorosamente, não existe mais. E Dilma, que conhece bem a história do longo período castilhista-varguista (1891-1954, parte regional, parte nacional), pode sintetizar essa passagem do nacional-popular em trânsito célere para o futuro, na perspectiva de colocar um ponto final no vergonhoso ciclo de miséria e opressão de cerca de 40% dos brasileiros, bem como no oferecimento de condições emancipatórias para as grandes massas, credoras permanentes da oligarquia mais vil e ignorante do planeta Terra.

À memória de Getúlio Vargas, então!

Fotografia de Getúlio Vargas, tirada por John Phillips, publicada na revista Time, em 1939. 

Sensus confirma vitória de Dilma no primeiro turno

Pesquisa CNT/Sensus divulgada há pouco em Brasília mostra a candidata Dilma (PT) com 46%, José Serra (PSDB) com 28,1% e Marina Silva (PV) com 8,1% das intenções de votos. Não sabem ou não responderam, brancos e nulos representam 16,8%.

Neste levantamento foram apresentados aos entrevistados todos os candidatos que disputam a sucessão de Lula.

Se as eleições fossem hoje, Dilma venceria no primeiro turno.

Em comparação com a última pesquisa estimulada CNT/Sensus do início de agosto, Dilma subiu 4,4%, Serra caiu 3,5% e Marina teve queda de 0,4%.

Na pesquisa espontânea (em que não é apresentado o nome do candidato), Dilma tem 37,2 %, Serra 21,2 %, Marina 6 %. Os demais candidatos não atingiram 1%. Lula também foi citado por 2,1% dos entrevistados.

No último levantamento realizado no início de agosto, a pesquisa espontânea apontava Dilma com 30,4%; José Serra 20,2%; Marina Silva 5,0% e Zé Maria 3,0%.

Em um cenário de segundo turno entre Dilma e Serra, a pesquisa CNT/Sensus de hoje aponta Dilma com 52,9 % contra 34% de Serra.

Segundo a pesquisa de hoje, Marina apresenta o maior índice de rejeição com 47,9 %, Serra 40,7 % e Dilma 28,9 %.

Dos entrevistados, 42,9% afirmam ter assistido os programas eleitorais de rádio e TV dos candidatos. Dentre eles, 56% disseram que Dilma apresentou a melhor propaganda eleitoral, 34,3% afirmaram que foi de Serra e 7,5 o de Marina. A margem de erro é de 2,2 % para mais ou para menos.

A pesquisa foi encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e realizada entre os dias 20 e 22 de agosto em 136 municípios de 24 estados. Foram feitas 2 mil entrevistas. A informação é do blog do Noblat, reconhecido jornalista do PIG.

Contato com o blog Diário Gauche:

cfeil@ymail.com

Arquivo do Diário Gauche

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Porto Alegre, RS, Brazil
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