Você está entrando no Diário Gauche, um blog com as janelas abertas para o mar de incertezas do século 21.

Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Te arranca, lobisomem!


Escapa que estão pegando, licantropo das profundas...

Só de pensar que esse despacho será removido do Piratini - mesmo que por decurso de prazo - já borrifa um refresco em nosso espírito rebaixado e triste.

Bom, pelo menos pudemos rir bastante com as gafes, burradas e patacoadas de Sua Excelência, a tucana mais bicuda e escrota do País, um verdadeiro ebó, um canjerê encruado que paralisou o Rio Grande por quatro longos anos.

Axé, para todas/os guascas do nosso querido Rio Grande! Estamos precisando e merecendo.

Em 2080


A banda Yeasayer pergunta: "sem muro de Berlim, o que diabos você vai fazer"? 

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ZH distorce os motivos do impasse



A manchete principal na capa de Zero Hora, edição de hoje, quer passar a ideia de que existe uma diferença meramente pessoal entre a governadora que está saindo e o governador que assumirá em janeiro.

Ora, o impasse não é entre dois indivíduos, Yeda de um lado, Tarso de outro. Os obstáculos que impedem obras de presídios, rodovias, etcetera, são de natureza jurídica, uma vez que os projetos yedistas não contemplam elementos básicos como modicidade de custos/preços, os contratos estão propositalmente dúbios, mal estruturados, imperfeitos mesmo, e podem representar prejuízos para o interesse público e, como bem anota o Ministério Público de Contas, ousam trazer "dano irreparável e irreversível ao patrimônio público".

É de estranhar, embora não nos surpreenda, que o grupo RBS - donos de Zero Hora - não indague os motivos de a governadora Yeda querer administrar de afogadilho, ao apagar das luzes (perdoem-nos o clichê surrado) do seu tumultuado quadriênio.

Cada ação precipitada da governadora, neste final de gestão, curiosamente, tem sempre um grupo econômico interessado na sua consumação, bem como uma consequente lesão - "irreparável e irreversível" - aos cofres públicos estaduais. Mas sobre isso, os veículos da família Sirotsky fazem olho branco. Vocês sabem o motivo?      

...................................

Observem, temos comentado aqui, seguidas vezes, que o grupo RBS já vem fustigando o futuro governo Tarso Genro muito antes deste tomar posse na administração pública estadual. 

Isto posto, os presságios são os piores possíveis. Teme-se que o futuro governo não esteja preparado para resistir e superar esses ataques desqualificados e permanentes, mesmo que indiretos e dissimulados, como é a praxe do grupo RBS.   

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O punk bem-comportado dos Talking Heads


Aqui, num cover das meninas do Nouvelle Vague.

Barack Obama não manda nada, diz Bob Woodward


Quem - de fato - governa os Estados Unidos?

Bob Woodward, o jornalista que denunciou o caso Watergate, na companhia de Carl Bernstein, formula uma resposta a essa pergunta no seu livro mais recente "A Guerra de Obama" ("Obama’s War", edição Simon & Schuster, New York, 2010).

Woodward garante que nem é o poder Executivo, nem o poder Legislativo e menos ainda o Judiciário. Quem governa realmente, diz Woodward, é o complexo industrial-militar, quer dizer, o Pentágono e as grandes empresas produtoras de armamentos e munições, a cujas diretorias sonham entrar não poucos chefes militares quando se reformam.

Depois de ler o livro, o documentarista Michel Moore fez uma piada: "O título de comandante-em-chefe (que o presidente Obama ostenta) é tão cerimonial como o de 'empregado do mês' do BurgerKing aqui do bairro".

--------------------

Abaixo, um ótimo documentário sobre os interesses imperiais dos Estados Unidos e o uso disso por Hollywood, incentivado pelo Pentágono (em inglês). 


Um filme que, do meu ponto de vista, cai como uma luva para exemplificar o que diz o vídeo é o de Kathryn Bigelow, The Hurt Locker (Guerra ao Terror), de 2009, premiado com o Oscar de 2010 (leia a crítica deste blogueiro ao filme de Bigelow aqui).


Pescado parcialmente do blog Xatoo.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Que fumo é esse, abelhinha?




A abelhinha-operária da família Sirotsky anda fumando algo que não está lhe sentando bem. Ela garante que o presidente Lula fez uma carta-testamento nos moldes getulistas, etcetera e tal.

O balanço lulista não tem nem aroma da carta-testamento de Vargas. Nada a ver. Nada.

Lula está vivo. Lula não sofreu a sanha dos seus inimigos (ao contrário, conciliou-se com eles). Lula não se suicidou. Lula não está de pijama. Carlos Lacerda já morreu. Não há conspiração para viabilizar um golpe de Estado. Lula acaba de eleger a sua sucessora, Dilma Rousseff. Lula não sai da história. Lula não sai da vida.

Geração Palestina



Em memória das milhares de vítimas do Estado terrorista de Israel.

Papai Noel fraterno e solidário

Angeli

Horroriza-me o sentimento de falsa e melosa fraternidade geral


Por que não festejo e me faz mal o Natal

Não festejo e me faz mal o natal por diversas razões, algumas fracas, outras mais fortes. Primeiro, sou ateu praticante e, sobretudo, adulto. Portanto, não participo da solução fácil e infantil de responsabilizar entidade superior, o tal de "pai eterno", pelos desastres espirituais e materiais de cuja produção e, sobretudo, necessária reparação, nós mesmos, humanos, somos responsáveis.

Sobretudo como historiador, não vejo como celebrar o natalício de personagem sobre o qual quase não temos informação positiva e não sabemos nada sobre a data, local e condições de nascimento. Personagem que, confesso, não me é simpático, mesmo na narrativa mítico-religiosa, pois amarelou na hora de liderar seu povo, mandando-o pagar o exigido pelo invasor romano: "Dai a deus o que é de deus, dai a César, o que é de César"!

O natal me faz mal por constituir promoção mercadológica escandalosa que invade crescentemente o mundo exigindo que, sob a pena da imediata sanção moral e afetiva, a população, seja qual for o credo, caso o tenha, presenteie familiares, amigos, superiores e subalternos, para o gáudio do comércio e tristeza de suas finanças, numa redução miserável do valor do sentimento ao custo do presente.

Não festejo e me desgosta o natal por ser momento de ritual mecânico de hipócrita fraternidade que, em vez de fortalecer a solidariedade agonizante em cada um de nós, reforça a pretensão da redenção e do poder do indivíduo, maldição mitológica do liberalismo, simbolizada na excelência do aniversariante, exclusivo e único demiurgo dos males sociais e espirituais da humanidade.

Desgosta-me o caráter anti-social e exclusivista de celebração que reúne egoísta apenas os membros da família restrita, mesmo os que não se frequentaram e se suportaram durante o ano vencido, e não o farão, no ano vindouro. Festa que acolhe somente os estrangeiros incorporados por vínculos matrimoniais ao grupo familiar excelente, expulsos da cerimônia apenas ousam romper aqueles liames.

Horroriza-me o sentimento de falsa e melosa fraternidade geral, com que a grande mídia nos intoxica com impudícia crescente, ano após ano, quando a celebração aproxima-se, no contexto da contraditória santificação social do egoísmo e do individualismo, ao igual dos armistícios natalinos das grandes guerras que reforçavam, e ainda reforçam - vide o peru de Bush, no Iraque - o consenso sobre a bondade dos valores que justificavam o massacre de cada dia, interrompendo-o por uma noite apenas.

Não festejo o natal porque, desde criança, como creio para muitíssimos de nós, a festa, não sei muito bem por que, constituía um momento de tensão e angústia, talvez por prometer sentimentos de paz e fraternidade há muito perdidos, substituindo-os pela comilança indigesta e a abertura sôfrega de presentes, ciumentamente cotejados com os cantos dos olhos aos dos outros presenteados.

Por tudo isso, celebro, sim, o Primeiro do Ano, festa plebéia, aberta a todos, sem discursos melosos, celebrada na praça e na rua, no virar da noite, ao pipocar dos fogos lançados contra os céus. Celebro o Primeiro do Ano, tradição pagã, sem religião e cor, quando os extrovertidos abraçam os mais próximos e os introvertidos levantam tímidos a taça aos estranhos, despedindo-se com esperança de um ano mais ou menos pesado, mais ou menos frutífero, mais ou menos sofrido, na certeza renovada de que, enquanto houver vida e luta, haverá esperança.

Artigo do professor e historiador Mário Maestri, publicado originalmente no portal La Insignia, em dezembro de 2006.

Prisão perpétua para ex-ditador sanguinário da Argentina

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Viver em estado de interpretado



José Pablo Feinmann comenta o por quê de os imortais não dizerem "adeus" jamais. E sobre o "viver em estado de interpretado", do Heidegger. Fala também sobre aqueles que são "ávidos de novidades", sobre os que vivem uma "existência inautêntica", sobre a "ideologia-taxi" e comenta um conto de Borges. Tudo isso em pouco mais de seis minutos.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Amar la trama más que al desenlace



Do CD Amar la trama, de Jorge Drexler, lançado em março de 2010.

A Pasionaria anã e a grande Rosa


Dias atrás me deparei no Twitter com alguém que se identifica como a Pasionaria. De imediato, passei a brincar com a fantasia da pessoa. Ela se dizia feminista, mas ao mesmo tempo nega essa condição ao adorar o bezerro de ouro do stalinismo espanhol, Dolores Ibarruri, uma das coveiras da revolução na terra de Cervantes.

Manuel Vazquez Montalban, escritor de esquerda dos mais prolíficos, criador do imortal detetive Pepe Carvalho, escreveu uma pequena obra sobre a velha stalinista basca chamada "A Pasionaria e os sete anõezinhos". Ele próprio relata que houve uma inflexão de ânimo no meio do trabalho de preparação e redação do livro sobre Dolores Ibarruri. Vazquez confessa que ficou chocado com trechos da história da basca. Para não magoar a filha de Dolores e demais pessoas que entrevistara, ele passou uma versão amenizada dos fatos. Nós sabemos o que Vazquez atenuou. Certamente a traição continuada à causa revolucionária, especialmente durante a luta dos republicanos contra o fascismo franquista, entre 1936 e 1939. A vida subserviente e calada diante dos horrores de Moscou, quando Stalin elimina fisicamente toda a velha guarda bolchevique em nome do triunfo ao culto à sua própria personalidade.

A Pasionaria como ícone revolucionário de esquerda (ou feminista) é uma fraude grosseira. A começar pelo codinome altissonante e pretensamente poético. Risível. Nada disso é genuíno, entretanto. Filha de um mineiro carlista - devoção católica ultramontana -, na juventude, ele fazia parte de um círculo de oração chamado La Pasión de Jesucristo. Tinha veleidades de jornalista, o que acabou se cumprindo dentro do PC espanhol, e assinava seus textos - candidamente - como La Pasionaria. Ao entrar para o PC, mantém a alcunha, mas cuida de ocultar a sua origem religiosa de extrema-direita.

A rigor, não quero tratar de uma coisa desagradável como a Pasionaria. Esse espaço aqui é curto e deve se ocupar de personagens mais relevantes e que não expressem a vilania humana mascarada pelo manto ideológico da farsa stalinista.

Acho curioso que alguém prefira chamar-se de Pasionaria em detrimento, por exemplo, de Rosa Luxemburgo, esta sim uma autêntica revolucionária e um exemplo de conduta à mulheres, homens, a feministas e a não feministas.

Hannah Arendt, outra mulher admirável (e que jamais foi marxista), prestou uma grande homenagem a Rosa. Trata-se de um pequeno texto publicado em meio a outros tantos ensaios, onde ela destaca a vida e o pensamento da revolucionária polonesa. Em pouco mais de vinte páginas, Hannah define uma grande personalidade do século 20, brutalmente assassinada em 1919, num episódio nebuloso e que contou com a anuência dos social-democratas alemães, então no poder. Rosa era um estorvo tanto para os social-democratas quanto para o PC alemão.

Depois de provocar a Pasionaria fake do Twitter, fui reler o texto de Hannah Arendt sobre Rosa Luxemburgo (foto). Recomendo. Ele faz parte da pequena obra "Homens em tempos sombrios" (Men in dark times). No posfácio da edição brasileira consta um artigo de Celso Lafer, o conhecido tucano, sobre a biografia de Hannah Arendt. Os tucanos, diga-se de passagem, tentaram, anos atrás, subsumir o pensamento rico, vigoroso e radicalmente democrático de Arendt, mas não obtiveram sucesso, haja vista a direção regressista e protofascista que adotaram nestas eleições de 2010.

Na famosa polêmica com Lênin, e que a ideologia stalinista sempre minimizou, porque aí residia uma das gêneses do problema, Rosa já vaticinava o fracasso dos bolcheviques. Na revolução russa de 1905, começaram a surgir divergências de fundo, pelo menos nos temas básicos: a questão nacional e o tema da organização como método.

Em 1916, Rosa oferecia um prognóstico severo à história do socialismo, no sombrio e lúcido panfleto A Crise da Democracia Socialista: "Enquanto existirem Estados capitalistas, enquanto, mais precisamente, a política imperialista universal determinar e moldar a vida interior e exterior dos Estados, o direito das Nações a disporem de si mesmas não passará de palavra vã, quer em tempo de guerra, quer em tempo de paz. Ainda mais: na atual conjuntura capitalista não há lugar para uma guerra nacional de defesa e qualquer política socialista que abstraia desta conjuntura histórica, que apenas se guie, no meio do turbilhão universal, pela ótica de um só país, estará desde o início destinado ao fracasso".

Rosa não fazia concessões a Lênin, aos bolcheviques e muito menos ao revisionismo menchevique. Criticava com energia a inconsistência de duas palavras de ordem, simultâneamente contraditórias: o centralismo democrático do Partido e o direito à autodeterminação das nacionalidades satélites da Rússia. Lênin, em 1914, havia lançado um panfleto intitulado Do direito das Nações a disporem de si mesmas. Rosa sustentava que havia oportunismo político na questão nacional defendida por Lênin.

Afinal, essas nações tinham interesses dominantes das burguesias locais e interesses não-dominantes do proletariado. Ela como polonesa e ativista política na Alemanha queria um processo revolucionário articulado em toda a Europa e não somente na Rússia, que era uma forma de diminuir o conteúdo da revolução, isolar e dividir o proletariado nos guetos nacionais, onde as derrotas seriam facilmente impostas pelas burguesias de cada país. Stalin, depois da morte de Lênin, seguiu à risca a política do socialismo em um só país, e a história teve o desenrolar que se lamenta. Fracasso sobre fracasso.

Aí entram os tipos e personagens que servirão de instrumento ao horror stalinista, e um destes instrumentos bisonhos foi justamente a Pasionaria basca. A derrota dos republicanos na Revolução Espanhola foi obra muito mais da traição dos comunistas espanhóis (manipulados remotamente desde Moscou) do que propriamente da vitória armada do franquismo ultramontano associado ao nazifascismo do eixo Berlim-Roma.

Estes acontecimentos não ocorreram ontem. São fatos sociais para os quais já temos análise teórica e explicação histórica. A coruja de Minerva já sobrevoou estes escombros históricos, incansáveis vezes. Quem ainda se engana ou se ilude com esse saldo histórico catastrófico é porque está enfeitiçado pela ideologia remanescente. Por esse motivo, tanto mais se justifica a estranheza que sinto ao me deparar com alguém que acenda incenso para Pasionaria e ainda desconheça a grandeza simples e autêntica de Rosa Luxemburgo - esta sim, uma feminista exemplar.

Crítica da Razão Imperial



José Pablo Feinmann dispensaria apresentação se o Brasil, especialmente a indústria cultural, não tivesse as espaldas voltadas para a Argentina. Feinmann é um intelectual de esquerda, com sólida formação, autor de inúmeras obras de ficção onde mescla conhecimentos de psicanálise, filosofia política, história recente das ditaduras, com histórias policiais e romanceadas. Sempre um texto saboroso.

Agora, o diário Página/12 está trazendo os oito fascículos semanais da obra Crítica da Razão Imperial - Da Conquista da América à Guerra contra o Terror. Feinmann explora conceitos de Hegel, Marx, Heidegger, Sartre e Foucault para explicar o fenômeno da sujeição imperialista nas Américas.

Para ler, basta comprar o Página/12 ou aguardar que seus editores disponibilizem o texto no portal, a exemplo da obra Peronismo - Filosofía política de una obstinación argentina, igualmente um texto primoroso contando as histórias e desventuras do complexo e incompreendido movimento peronista na Argentina.

Os críticos da mídia hegemônica poderão se abastecer de argumentos já no primeiro tomo, cujo título é A colonização da subjetividade - O poder midiático e a construção do sujeito-Outro.   

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Quem falou em canalha?

"Não considero o Jobim fascista, canalha, o considero defensor de uma posição equivocada."

Paulo Vannuchi, Ministro dos Direitos Humanos do governo Lula, semana passada em entrevista à Folha.

Um silêncio vergonhoso


O Brasil no banco dos réus

"Por que vês tu o argueiro no olho do teu irmão, e não vês a trave no teu olho? (...) Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás como hás de tirar o argueiro do olho de teu irmão". Estas frases do Evangelho de Mateus caem como uma luva para as discussões recentes a respeito da posição brasileira sobre direitos humanos.

Durante todo o ano de 2010 ouvimos a indignação de vários setores da sociedade e da imprensa contra posições ambíguas do Brasil sobre problemas de direitos humanos no Irã, em Cuba, entre outros.

Com razão, eles lembravam que o Brasil é hoje um país de ambições geopolíticas internacionais, que exigem que ele seja capaz não apenas de reconhecer, mas de pautar suas ações a partir de princípios presentes no direito internacional resultantes de lutas seculares pela universalização da liberdade.

Igualdade entre homens e mulheres, liberdade de opinião e divergência são pontos importantes na pauta do longo processo de racionalização de formas de vida.

No entanto, boa parte destes setores dão a impressão de que direitos humanos é algo que cobramos apenas dos inimigos e desafetos. Pois a voz firme contra as ambiguidades brasileiras deu lugar ao silêncio vergonhoso diante de um fato que demonstra nossa posição aberrante perante do direito internacional. Na semana passada, a Corte Interamericana de Justiça condenou o Brasil pelas mortes de membros da luta armada contra a ditadura militar que desapareceram no Araguaia.

Como se não bastasse o fato das Forças Armadas brasileiras continuarem a perpetrar o crime hediondo de ocultação de cadáveres (o que, por si só, já mereceria punição), a Corte declarou que os dispositivos da Lei da Anistia que "impedem a investigação e sanção de graves violações dos direitos humanos" são incompatíveis com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário.

Neste sentido, a decisão da Corte apenas demonstra que, ao votar a questão sobre a interpretação da Lei da Anistia apelando a um acordo nacional que nunca ocorreu (a lei foi aprovada somente com votos do partido do governo, a antiga Arena), o STF colocou o Brasil na ilegalidade perante o direito internacional. Certamente, outras condenações internacionais virão.

Àqueles que procuram reeditar a "teoria dos dois demônios" e dizer que a luta armada era tão nefasta quanto a ditadura, vale a pena lembrar que mesmo a tradição liberal reconhece que toda ação contra um Estado ilegal é uma ação legal. Contra os que, por sua vez, preferem o simples esquecimento, vale a pena lembrar que nunca haverá perdão enquanto não houver reconhecimento do crime.

Nunca haverá perdão enquanto a trave ainda estiver nos nossos olhos.

Artigo de Vladimir Pinheiro Safatle, professor livre docente do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), especialista em epistemologia (teoria do conhecimento) e filosofia da música. Publicado na Folha, edição de hoje.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Os anti-semitas são os sionistas


Governo protofascista de Israel elimina a liberdade de expressão

O movimentos dos rabinos judeus contra o sionismo e pela paz não pode ter expressão em Israel, hoje. Eles lutam por um só Estado na Palestina, um Estado multi-étnico, plural, democrático e que congregue judeus e palestinos num único território soberano. Essa proposta não serve aos sionistas no poder.   

Blogueira cubana Yoani Sánchez quer mesmo é consumir


Assalariada do grupo Prisa quer gastar seu rico dinheirinho

Todos conhecem o resultado do incentivo ao endividamento para fins de consumo de bugiganga supérflua. Desde setembro de 2008 os fatos estão comprovando que o vírus do endividamento está destruindo o sistema por dentro. Endividamentos complexos, cruzados, re-cruzados, pirâmides maravilhosas, cassino financeiro, vigarice legalizada, banqueiros delinquentes, etc.

Pois vejam essa revelação do WikiLeaks. Aproveitando uma visita de Estado com vistas a aprimorar a cooperação bilateral entre Cuba e os EUA, a cubana Yoani Sánchez (a blogueira a soldo do grupo espanhol Prisa) pediu à subsecretaria de Estado adjunta dos Estados Unidos, Bisa Williams, para levantar a restrição que impede os cubanos de fazer compras pela Internet.

Eis, pois, o horizonte utópico da "progressista" blogueira: a moça quer é meter o pé na jaca do consumo desbragado.

E Cuba? Ora, Cuba que se exploda como uma Irlanda qualquer.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Walt Whitman



Quando em teu colo deitei a cabeça

Quando em teu colo deitei a cabeça, meu camarada,
a confissão que fiz eu reafirmo,
o que eu te disse e a céu aberto
eu reafirmo: sei bem que sou inquieto

e deixo os outros também assim,
eu sei que minhas palavras são armas
carregadas de perigo e de morte,
pois eu enfrento a paz e a segurança

e as leis mais enraizadas
para as desenraizar,
e por me haverem todos rejeitado
mais resoluto sou

do que jamais poderia chegar a ser
se todos me aceitassem,
eu não respeito e nunca respeitei
experiência, conveniência,

nem maiorias, nem o ridículo,
e a ameaça do que chamam de inferno
para mim nada é, ou muito pouco,
meu camarada querido: eu confesso

que o incitei a ir em frente comigo
e que ainda o incito sem a mínima idéia
de qual venha a ser o nosso destino
ou se vamos sair vitoriosos

ou totalmente sufocados e vencidos.

Walt Whitman (1819-1892)


Na foto, WW em 1887.

sábado, 18 de dezembro de 2010

A economia dos instintos no romantismo



Minha disposição é a mais pacífica. Os meus desejos são: uma humilde cabana com um teto de palha, mas boa cama, boa comida, o leite e a manteiga mais frescos, flores em minha janela e algumas belas árvores em frente à minha porta; e, se Deus quiser tornar completa a minha felicidade, me concederá a alegria de ver seis ou sete de meus inimigos enforcados nessas árvores. Antes da morte deles, eu, tocado em meu coração, lhes perdoarei todo o mal que em vida me fizeram. Deve-se, é verdade, perdoar os inimigos – mas não antes de terem sido enforcados”. [In Gedanken und Einfälle].

O autor da ironia corrosiva foi o escritor e poeta alemão Heirich Heine (1797-1856). 


Freud cita este trecho da obra de Heine em O mal-estar na civilização (1929), para enfatizar o permanente conflito humano entre as exigências do instinto (a nossa porção Natureza) e as restrições da civilização (a porção Cultura).

O poeta romântico foi um duro crítico da religião (que agora está na moda, com inúmeros autores se dedicando a escrever sobre o tema anti-religioso). 


A famosa expressão que qualifica a religião como “ópio do povo", usado por Karl Marx na Crítica da filosofia hegeliana do Direito (1844), foi inspirada numa obra de Heine de 1840, onde ele ironizava (como sempre):

“Bendita seja uma religião, que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança”

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Clip porreta para Yeda imitar





Este também é embalado pelo velho B. B. King. E inspirado num grande filme do Ridley Scott. Igualmente tem cabelos esvoaçantes, mulheres ao volante, automóveis em alta velocidade, e sobretudo decisões corajosas e definitivas... 


Seria um final épico para o seu fracassado governicho. 


Que tal? Vai encarar?

O velho Hegel apontou o hoje


O real enfeitiçado

“O indivíduo está sujeito à completa desordem e aos riscos do todo. A massa da população está condenada ao trabalho embrutecedor, insalubre e inseguro das fábricas, manufaturas, minas, etc. Ramos inteiros da indústria, que sustentam largas faixas da população, entram subitamente em falência, seja porque a moda mudou, seja porque os valores de seus produtos caíram por conta de novas invenções em outros países, seja por qualquer outra razão. Massas inteiras são assim abandonadas à irremediável pobreza. O conflito entre a extrema riqueza e a maior pobreza, uma pobreza incapaz de melhorar sua situação, aumenta sempre. A riqueza torna-se um poder predominante. Sua acumulação se processa em parte ao acaso, em parte através do modo geral de distribuição. O lucro desenvolve-se em um sistema multiforme que se ramifica por setores nos quais o pequeno negócio não pode lucrar. A máxima abstratividade do trabalho penetra nos tipos de trabalho mais individuais, e segue ampliando sua esfera. Esta desigualdade entre riqueza e pobreza, esta indigência e necessidade, tem como resultado a desintegração completa da vontade, a rebelião interna e o ódio”.

Parece um texto marxista atual, um comentário - talvez - sobre a crise severa da Europa de nossos dias. Mas não é. Foi escrito por Hegel, por volta de 1804. Marx viria a nascer somente 14 anos depois, em 1818.

Hegel vai mais fundo nas suas premonições. Chegou a elas através da compreensão do conceito de trabalho e sua crescente centralidade na sociedade burguesa que se afirmava. Ele consegue descrever o modo de integração dominante em uma sociedade de produção de mercadorias em termos que prefiguram claramente a abordagem crítica de Marx, mas que seriam escritos quase 50 anos depois.

“O indivíduo – afirma Hegel – satisfaz as suas necessidades por meio do trabalho, mas não pelo produto particular do trabalho; este último, para chegar a satisfazer as necessidades do indivíduo, tem que se transformar em algo distinto do que é”. O objeto do trabalho que era particular, torna-se abstrato e universal, torna-se mercadoria passível de troca. No ato da troca da mercadoria há uma “volta à concretude”, como diz Hegel, e por meio dela são satisfeitas – socialmente – as necessidades concretas dos homens. Essa universalidade transforma igualmente o sujeito do trabalho – o trabalhador e sua atividade individual. O trabalhador unipessoal vê-se forçado a pôr de lado as suas faculdades e desejos particulares. “Quanto mais o homem domina seu trabalho – diz Hegel – mais impotente ele mesmo se torna. Quanto mais mecanizado se torna o trabalho, menor valor ele tem e mais arduamente deve o indivíduo trabalhar. O valor do trabalho decresce na mesma proporção em que cresce a produtividade do trabalho… As faculdades do indivíduo são restringidas de modo ilimitado, e a consciência do operário é degradada ao mais baixo nível de embotamento”.

Herbert Marcuse, um dos maiores estudiosos de Hegel do século 20 (junto com Kojève e Hyppolite), comenta que o filósofo “como que teria ficado aterrado com o que a sua própria análise da sociedade de produção de mercadorias acabara de revelar”. E teria deixado esses textos (Studien über Autorität und Familie e Zeitschrift für Sozialforschung) inacabados, ficando algum tempo sem escrever.

O pavor paralisante do filósofo derivou para uma solução autoritária, visto do prisma dos nossos dias. Ele propõe um Estado absolutista para coibir as deformações sociais através do império da lei. Hegel é tributário do idealismo alemão, para quem o homem, pelos efeitos da Revolução, veio a confiar no seu espírito passando a submeter a realidade aos critérios da razão. Ele chega a ousar dizer que “o pensamento deve governar a realidade”. Os alemães como não souberam fazer uma revolução burguesa, debruçaram-se arrebatados sobre um novo objeto filosófico: a Revolução Francesa. Assim, o que se convencionou chamar de idealismo alemão, por intermédio de seus filósofos Hegel, Kant, Fichte e Schelling, constituiu-se na própria teoria da Revolução Francesa. O clássico das revoluções burguesas. A fundação do mundo ocidental, tal como é conhecido. O advento de um sistema que – hoje – abisma-se no ocaso: o sistema produtor de mercadorias.

A prevalência da idéia de razão, comum a todo o pensamento Iluminista, implicava a liberdade de agir de acordo com a razão.

Hegel, nas suas cogitações, intuiu genericamente algo de extrema atualidade e importância para se entender o mundo da vida, algo que depois seria esmiuçado por Marx: o complexo tema da alienação. Para Hegel, a história do homem era, simultâneamente, a história da alienação do homem - como aponta Marcuse. As instituições e a cultura fundadas e criadas pelo homem acabam por desenvolver leis próprias, leis essas que irão subordinar a liberdade dos indivíduos aos desígnios do estranhamento e da alienação.

O tema da alienação é considerado um dos conceitos centrais de Marx.

“A depreciação do mundo dos homens – diz Marx – aumenta em razão direta da valorização do mundo das coisas. […] Quanto mais produz o operário com o seu trabalho, mais o mundo objetivo, estranho, que ele cria em torno de si, torna-se poderoso, mais ele empobrece, mais pobre torna-se seu mundo interior e menos ele possui de seu. […] O operário põe a sua vida no objeto, a partir de então, esta não mais lhe pertence, a vida pertence ao objeto. […] A alienação do operário em seu objeto apresenta-se, segundo as leis econômicas da seguinte forma: quanto mais o operário produz, menos ele tem para o consumo, quanto mais ele cria valores, mais ele se desvaloriza e perde a sua dignidade; quanto mais forma tem o seu produto, mais disforme é a sua pessoa; quanto mais alto grau de civilização apresenta o objeto, mais rude torna-se o operário; quanto mais poderoso é o trabalho, mais impotente é o seu criador; quanto mais o trabalho se enche de espírito, mais o operário se priva dele e torna-se escravo da natureza. […] Decorre deste resultado que o homem (o operário) não se sente mais livremente ativo senão em suas funções animais: comer, beber e procriar, assim como, ainda habitar, vestir, etc., e que em suas funções de homem ele não se sente mais que um animal. O bestial torna-se humano e o humano torna-se bestial. Comer, beber, procriar, etc. são, é verdade, também funções autenticamente humanas; mas isoladas abstratamente do resto do campo das atividades humanas e se tornando assim, o fim último e único, elas tornam-se bestiais”.

Assim, na modernidade do homem alienado, a consciência dos indivíduos está invertida, porque a própria realidade está invertida. A realidade do mundo das mercadorias é uma representação do real, não é o real. O real está enfeitiçado (fetichizado), reificado, transfigurado em representações subvertidas de sujeito e objeto. As mercadorias são sujeitos qualificados pelos homens, os homens são objetos quantificados pelas mercadorias. O homem sem qualidades, exaurido de humanidade, agora, não se humaniza, por que esbarra sem cessar na hostilidade dos objetos por ele próprio criados, mas que ele não os reconhece como seus. Há um objeto no meio do caminho da nossa humanidade. O nivelamento ético-moral dominante é uma metafórica sarjeta. O resultado dessa desumanização generalizada são os horrores do nosso cotidiano: a violência como reguladora da vida; a morte como normalização do conflito; a crescente fascistização das relações no trabalho, no trânsito, na vida urbana; o capitalismo de quadrilhas; a ciência que conspira contra a Natureza; a divinização do dinheiro; a dinheirização do corpo e dos afetos, etc., etc.

Karel Kosik diz que “Marx nunca abandonou a problemática filosófica, e que especialmente os conceitos de alienação, reificação, totalidade, relação de sujeito e objeto, que alguns canhestros marxólogos [KK refere-se aos stalinistas] proclamariam prazerosamente como o pecado da juventude de Marx, continuam sendo, ao contrário, o constante equipamento conceitual da teoria de Marx. Sem eles "O Capital" é incompreensível”. Sem eles o capitalismo seria incomprensível.

Foi, portanto, com fundadas razões que o nazismo na Alemanha investiu contra Hegel e seu pensamento idealista. Alfred Rosemberg e Carl Schmitt, dois dos principais ideólogos do nacional-socialismo, se pronunciaram furiosamente contra Hegel, dizendo que em conseqüência da Revolução Francesa, “surgiu uma doutrina de poder estranha ao nosso sangue; ela chegou ao seu apogeu com Hegel e foi, então, em nova falsificação, retomada por Marx”. Schmitt chegou a dizer que no dia em que Hitler subiu ao poder, “Hegel, por assim dizer, morreu”.

Isso prova que a força de uma filosofia deve ser avaliada, para muito além do seu valor em si, mas pelos frutos que pode gerar e, sobretudo, pelas mãos que a apedrejam. Cada um a seu modo, tanto Hitler quanto Marx, valorizou como pôde o velho professor alemão.

No presente tempo global de crise terminal, regressismo, boçalidade, “fezes, maus poemas, alucinações e espera” (Drummond), uma visita aos clássicos ilumina o espírito e aquece o coração.

Artigo de Cristóvão Feil, sociólogo.


Foto de Yannis Behrakis/Reuters: protestos e repressão polícial no centro de Atenas, Grécia, durante a oitava greve geral somente em 2010, ontem (15).

A luta que nunca se apaga



Roma Insurgente

A polícia de Berlusconi investe contra manifestantes em Roma, na terça (14). Estes reagem. A crueza e o calor da luta de classes - que nunca se apaga - voltaram à cena urbana em quase todas as grandes cidades da Europa nos últimos meses e prometem se intensificar nas próximas semanas.

O refluxo do movimento popular parece que está terminando, depois de quase três décadas de ideologia neoliberal que ora se esgota na forma de bancarrotas, promessas de auteridade, fim das políticas de bem-estar, delinquência bancária, governos desnorteados e lideranças desmoralizadas que já não têm mais nada a dizer.

Tempos interessantes.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Organiza-se a greve geral na Europa



Protestos populares reforçam a luta contra a deliquencia financeira protegida pelos governos conservadores da Europa

“Denunciamos que esta crise especulativa está sendo utilizada para acabar com o Estado de Bem-Estar Social na Espanha e no conjunto da Europa”, destaca a Resolução da Conferência Territorial da ATTAC/Espanha que sugere uma greve geral europeia para combater a presente crise econômica.

Denunciamos o abandono da defesa da soberania espanhola por parte do governo em favor dos especuladores financeiros internacionais e nacionais com a desculpa de que é preciso dar confiança aos “mercados” no lugar de enfrentá-los, como tem feito o povo da Islândia, denunciando e julgando os seus banqueiros delinquentes.

Denunciamos que a guerra financeira e comercial mundial entre as oligarquias internacionais é a causa da instabilidade e da crise nos países periféricos da zona do euro. Merkel e Sarkozy impedem a defesa do euro para favorecer os interesses de seus exportadores nacionais, impedindo que defendamo-nos dos especuladores internacionais que se encontram, sobretudo na City de Londres [Square Mile, o núcleo financeiro londrino].

Denunciamos que esta crise especulativa está sendo utilizada para acabar com o Estado de Bem-Estar Social na Espanha e no conjunto da Europa.

Denunciamos os acordos do último conselho de ministros, os quais são resultantes da pressão especulativa sobre a dívida espanhola, infladas pelos planos de resgate da banca financeira e privilégios fiscais. Nestes acordos suprimiu-se sem debate algum, o pagamento dos 426 euros para pessoas desempregadas em situação de longo prazo; voltou-se a redução de impostos das corporações enfraquecendo os impostos diretos e aumentando os impostos indiretos; privatizam-se os grandes aeroportos espanhóis, Barajas e o Prat, agravando a viabilidade econômica futura da AENA; e se privatiza 30% da Loteria Nacional do Estado. E tudo isso se faz ao mesmo tempo em que se socializam novamente as perdas das empresas de autoestradas privadas no valor de 200 milhões de euros às escondidas da opinião pública.

Manifestamos que a saída da crise passa pela cobrança dos que a causaram, estabelecendo um imposto sobre as transações financeiras na Europa, aumentando os investimentos públicos com mais impostos diretos e acabando com a fraude fiscal e os paraísos fiscais. Convocamos os parlamentos autônomos que exijam um imposto sobre as transações financeiras (ITF) já!

Consideramos fundamental a elaboração de estratégias e articulações para uma convocatória de uma greve geral européia para dar uma resposta da mesma dimensão ao âmbito do que as políticas estão promovendo, atacando o Estado de bem-estar social.

Por tudo isso, convocamos que saiamos às ruas no próximo dia 18 de dezembro apoiando a convocatória dos sindicatos europeus e das organizações da sociedade civil contra os planos de ajuste em todos os países europeus e na defesa da Europa social e da democracia.

Pescado do portal IHU-Unisinos e do portal Rebelión.

Direção da EBC quer levar vespeiro religioso para dentro do Estado

Dias atrás, a presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Tereza Cruvinel (foto), afirmou que apresentará uma proposta para que todas as religiões tenham espaço na programação da TV Brasil e nas outras oito emissoras de rádio que compõem a rede pública.

A proposta de um programa para cada crença contrapõe a intenção primeira do Conselho Curador da EBC de excluir todos os programas de cunho religioso da programação de suas emissoras e produzir, em seu lugar, atrações com informações sobre o tema.

"É uma questão ainda em debate, um debate muito caloroso. Há posições divergentes. Há quem diga que o Estado é laico, então não deve ter religião. Eu digo: mas a TV não é do Estado, a TV é pública, então, ela é da sociedade, a sociedade é diversa. Na minha opinião, todas as religiões devem ter expressão na TV pública. Na próxima reunião quando o conselho for retomar o debate, a TV Brasil vai apresentar uma proposta de ampliar o papel das religiões," disse Tereza, segundo informa o portal Terra.

........................


O censo demográfico realizado em 2000 (ainda não temos os resultados do censo 2010, neste quesito), pelo IBGE, apontou a seguinte composição religiosa no Brasil:

73,8% dos brasileiros (cerca de 125 milhões) declaram-se católicos;

15,4% (cerca de 26,2 milhões) declaram-se evangélicos (evangélicos tradicionais, pentecostais e neopentecostais);

7,4% (cerca de 12,5 milhões) declaram-se sem religião, podendo ser agnósticos, ateus ou deístas;

1,3% (cerca de 2,3 milhões) declaram-se espíritas ou kardecistas;

0,3% declaram-se seguidores de religiões tradicionais africanas tais como o Candomblé, o Tambor-de-Mina, além da Umbanda;

1,8% declaram-se seguidores de outras religiões, tais como: as Testemunhas de Jeová (1,1 milhão), os budistas (215 mil), os Santos dos Últimos Dias ou mórmons (200 mil), os messiânicos (109 mil), os judeus (87 mil), os esotéricos (58 mil), os muçulmanos (27 mil) e os espiritualistas (26 mil).

A Constituição de 1891 consagrou a separação entre o Estado e as distintas igrejas, seitas, religiões, credos e convicções esotéricas. Foi um avanço inestimável, sem o qual a República já ficaria comprometida pelo vínculo religioso, sempre motivo de abismos e conflitos insolúveis nos países em que o Estado não seja laico. A conquista é dos militares positivistas que golpearam a monarquia da família Bragança para instalarem a República secular, no final do século 19.

Não é possível agora o Estado brasileiro promover a exposição religiosa eletrônica - ainda que multitudinária - em nome de uma vaga democracia hipertrofiada que acaba virando o seu contrário. O que a senhora Cruvinel precisa entender é que a democracia substantiva que buscamos não pode prescindir dos valores republicanos. Ora, não se pode deformar uma sem rebaixar o outro. Em nome da (falsa) democratização do espaço midiático estatal se compromete o valor republicano do laicismo e do secularismo?

O mundo está cheio de exemplos ilustrativos a evitar no campo dos cruentos conflitos religiosos, e que facilmente descambam para motivações outras assumindo complexidades intransponíveis e permanentes.

Já do ponto de vista puramente técnico, cabe a questão: como conciliar a grade de programação da TV Brasil com as mais de 50 religiões e cultos afins que o Brasil contempla na sua diversidade étnica e de valores materiais e transcedentais?

É de lamentar profundamente que tenhamos à frente da EBC uma dirigente que pense de forma tão simplista e populista algo que já estava dado e liquidado pela prática político-social brasileira - a questão religiosa.

Levantar esse tema é inoportuno e impertinente, mesmo porque não há polêmica instalada.

[Aliás, é de suspeitar que a polêmica artificial tenha sido incentivada pelos interesses dos grandes meios de comunicação do País, com a clara finalidade de rebaixar o debate e semear a confusão nos agentes públicos das emissoras estatais.]

Basta apenas que se retire a programação religiosa da TV Brasil, em nome do cumprimento do preceito constitucional. Nada mais. Mesmo porque muitas emissoras/canais de TV aberta e rádio já são apropriadas (ilegitimamente) por igrejas e grupos religiosos, numa clara agressão aos princípios laicos do Estado brasileiro.

Como se essa aberração já não bastasse, a senhora Cruvinel (ex-colunista de O Globo) ainda quer levar o vespeiro religioso para dentro do aparelho de Estado, sob falsas alegações de pluralidade e equilíbrio democrático. Aí tem...

NTVG ou No Te Va Gustar


Rock charrua, de Montevideo. Um rock eclético mesclado com reggae, candombe, salsa, ska, e murga uruguaia.

[Relevem, por favor, as imagens do vídeo. São péssimas. No te va gustar.]

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

"... E o pior é perder para um time africano"


A frase - de uma espontaneidade elefantina - foi proferida hoje no final do jogo entre Internacional de Porto Alegre e o Mazembe, onde o clube guasca foi eliminado por dois gols a zero pelo clube africano.

Autoria da brutalidade: me perdoem mas desconheço o nome do sujeito, apenas sei que ele é locutor esportivo da rádio Gaúcha de Porto Alegre (grupo RBS). Se tivesse que identificá-lo em uma delegacia de polícia eu diria que o elemento é sósia (ou menecma, como vocês quiserem) do coronel russo, o aloprado garoto-propaganda da Net.

Et vive le tout puissant Mazembe!

Código Florestal não é um problema, é uma solução



A Via Campesina Brasil reafirma a sua posição pela manutenção do atual Código Florestal Brasileiro.

Rechaçamos a proposta de alteração apresentada pelo deputado Aldo Rebelo [PCdoB/SP], que incorpora as grandes pautas dos ruralistas, como redução da Área de Preservação Permanente e a anistia das multas por desmatamentos.

O Código Florestal é uma legislação inovadora, que está pautada pela utilização sustentável da floresta. Ao contrário do que dizem os ruralistas e seus aliados, o Código Florestal não cria áreas improdutivas, intocadas.

Ele apenas define que, acima dos interesses privados e do lucro, está o interesse de toda a sociedade brasileira para que a floresta seja usada de forma sustentável.

A Via Campesina defende um amplo pacote de políticas públicas e programas que possibilitem a utilização sustentável das áreas de preservação permanente e de reserva legal.

Desde 2009, apresentamos como propostas assistência técnica capacitada para o manejo florestal comunitário; crédito e fomento para desenvolvimento produtivo diversificado; recuperação das áreas degradadas com sistemas agroflorestais; planos de manejo madeireiro e não-madeireiro simplificados; canais de comercialização institucional que viabilizem a produção oriunda das florestas.

Para quem produz alimento, que são os agricultores camponeses, quilombolas e indígenas, o Código Florestal não é um problema, mas sim a ausência do Estado em sua correta implementação.

Para o latifúndio do agronegócio, que se utiliza da monocultura, de quantidades gigantescas de agrotóxicos e de trabalho escravo, o Código Florestal é um empecilho, que deve ser destruído assim como as florestas da Amazônia, da Caatinga e do Cerrado.

É fundamental lembrarmos que a proposta apresentada pelo deputado Aldo Rebelo é apoiada somente pelos ruralistas.

Além da oposição de partidos como PT, PV e PSol, o relatório do deputado foi rechaçado por todos os grandes movimentos sociais do campo brasileiro, pelas principais entidades de pesquisa acadêmica do país e por inúmeras organizações e intelectuais.

Em mais um esforço para a destruição do Código Florestal, deputado Aldo está pressionando os líderes dos partidos a dar caráter de urgência ao seu relatório, colocando-o para votação imediata.

É evidente a manobra do deputado e da bancada ruralista, que visa apenas evitar o debate aprofundado da sociedade. Querem no apagar das luzes de seus mandatos imprimir um golpe fatal contra o meio ambiente e toda a sociedade brasileira, em uma atitude totalmente antidemocrática.

Conclamamos toda a sociedade e, em especial, às organizações aliadas da luta da Via Campesina, a enviarem correios eletrônicos para todos os deputados federais, exigindo que haja mais tempo para o debate desse tema tão importante e tão polêmico.

A mobilização social é fundamental, pois com o encerramento do ano essa votação pode acontecer a qualquer momento, a partir desta terça-feira, dia 14 de dezembro.

Digamos não ao pedido de urgência para o relatório do deputado Aldo Rebelo!

Via Campesina/Brasil
Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal - ABEEF
Conselho Indigenista Missionário – CIMI
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Movimento das Mulheres Camponesas – MMC
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
Movimentos dos Pescadores e Pescadoras Artesanais
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Pastoral da Juventude Rural - PJR

"Isto é como um campo de prisioneiros"



Reconhecer a Palestina

Em agosto de 2008, militantes judeus sul-africanos engajados na luta antiapartheid foram à Cisjordânia. Andrew Feinstein, antigo parlamentar judeu do Congresso Nacional Africano, sintetizou o que todos pensavam: "Isto é como o apartheid".

Dois anos depois, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, um conservador insuspeito de abraçar causas terceiro-mundistas, declarou, a respeito dos bloqueios de Gaza: "Isto é como um campo de prisioneiros".

Foi tendo em vista o caráter intolerável desse tipo de situação que a diplomacia brasileira, em um ato louvável, reconheceu o Estado Palestino nas fronteiras definidas pela ONU.

Críticos afirmaram que tal decisão em nada ajuda o processo de paz e poderia mostrar engajamento do Brasil em um dos lados do conflito. As duas afirmações são equivocadas.

Primeiro, o processo de paz nunca esteve tão bloqueado como agora. Mesmo aliados tradicionais do governo de Israel, como os EUA, demonstraram várias vezes sua exasperação contra Netanyahu e sua incapacidade de sequer congelar, de maneira efetiva, novos assentamentos na Cisjordânia e construções nos bairros árabes de Jerusalém.

Nada estranho para o líder de um partido (Likud) cuja carta não reconhece um Estado Palestino a oeste do rio Jordão. Nada estranho para um governo cujo ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, tem por objetivo simplesmente criar um Estado etnicamente homogêneo. Algo impensável no interior da noção moderna de Estado.

Nesse sentido, ações como a brasileira servem para demonstrar que a comunidade internacional está cada vez menos disposta a admitir a aberração e a afronta ao direito internacional a que os palestinos estão submetidos cotidianamente. Ela demonstra aos palestinos que a comunidade internacional não é indiferente à sua sorte.

Por outro lado, a posição brasileira não é partidária porque ela é legalista. Há uma lei internacional sustentada pela ONU, o mesmo órgão que criou o Estado de Israel, e ela é clara a respeito do direito dos palestinos a um território e a respeito de suas fronteiras.

Diga-se, de passagem, que a última proposta posta na mesa por Israel (no governo Tzipi Livin) equivalia à construção de um bantustão medonho, e não de um Estado com condições mínimas de autonomia.

Ou seja, ela não era fruto de uma negociação, mas uma proposta de capitulação.

É inegável que os israelenses têm direito a um Estado livre do terrorismo islâmico e reconhecido pelo mundo árabe, mas isso não será conseguido institucionalizando a humilhação contra os palestinos.

Melhor seria dar provas efetivas de que a via da negociação pode produzir uma solução global e digna.

Artigo de Vladimir Pinheiro Safatle, professor livre docente do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), especialista em epistemologia (teoria do conhecimento) e filosofia da música. Publicado na Folha, edição de hoje.


...........................


O reconhecimento da diplomacia brasileira é somente sobre os territórios palestinos até 1967, o que, como se pode ver no mapa acima, não é muito, face a situação territorial de 1946.

Assim, a posição brasileira, depois seguida pela Argentina, é ainda conservadora, comedida e "legalista" (como diz Safatle), conforme critérios da ONU.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Um belo documentário etnográfico



Homenagem à tolerância e à convivência harmônica

Documentário (de 14 minutos) dirigido, escrito e editado por Karpo Godina. Nações e grupos étnicos vivem em harmônica coexistência na província de Vojvodina, uma província autônoma da Sérvia (capital Belgrado).

A Sérvia é uma ex-república da velha Ioguslávia, tendo integrado, até junho de 2006, uma confederação com Montenegro denominada Sérvia e Montenegro.

O filme, como se pode ver, é uma homenagem à tolerância étnica, justamente numa região tão marcada por cruentas diferenças nacionais e religiosas. De qualquer forma, é visível a influência da Igreja. Os religiosos são como que porta-vozes de camponeses sem voz, de mulheres que não sentam, de homens sentados, de exibicionistas ingênuos, e de poucas (raras) crianças e jovens. Num pequeno território, convivem croatas, sérvios, húngaros, russos, eslovacos, montenegrinos, kosovares, romenos e ciganos. A música folk faz o fio condutor da coesão social provinciana, arrastada, tradicional e aparentemente feliz, apesar das religiões que insistem em representar uma certa referência naturalizada aos atávicos espíritos camponeses.

WikiLeaks revela: Papai Noel não existe


Angeli

O deboche de Zero Hora



O jornal da família Sirotsky chama o futuro secretário de Segurança do governo Tarso Genro, Airton Michels, de "xerife das cadeias", tratamento um tanto quanto trocista e zombeteiro. Desrespeitoso, mesmo.

E, usando uma expressão muito do agrado do ideário neoliberal, afirma que Michels irá "gerenciar" a Segurança do estado, reduzindo a complexa política pública de segurança e direitos humanos a uma mera tecnicalidade mecânica, sem nexo com as relações de produção e reprodução social.

Ratifico o que disse aqui semanas atrás, o governo Tarso já começa a trilhar caminhos de pedras pontudas e espinhos agudos, se depender do juízo da mídia guasca. Enfrentar uma jornada de quatro anos sem política pública de comunicação social e relações (de trocas simbólicas) com a cidadania é arrostar conflitos de forma temerária e perigosa.    

Quem apostar numa relação amistosa e cordial entre governo e mídia que se prepare para perder.

O esforço aliancista do governador Tarso - feito muitas vezes com meras siglas cartoriais (o caso do PTB/RS) - não incluem os russos.

A não ser que os tais russos midiáticos queiram criar (muitas) dificuldades para vender (algumas) facilidades. Hipótese essa que não se deve descartar, jamais.     

Branca, branca, branca! Leone, leone, leone!



Inacreditável! Nem o Mario Monicelli conceberia isso!

Dois tanques do Exército brasileiro, tipo Urutu, do 7º Regimento de Cavalaria Mecanizada de Santana do Livramento (RS), colidiram na rua Marques Pavão, no Cerro do Depósito, a poucos metros da sede do quartel, ontem (12) no final da tarde.

Segundo informações da Polícia Civil, os veículos militares estavam participando de um treinamento e estariam voltando para o quartel. Um dos tanques capotou. Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas.

Onde anda o notável Ministro da Defesa, Nelson Jobim, o nosso Napoleão em compota? Que explicação ele haverá de dar desse nosso Exército de Brancaleone que temos no País, que só foi valente contra o povo brasileiro durante 21 anos de ditadura?

Outra coisa: o que será mesmo "cavalaria mecanizada"?

domingo, 12 de dezembro de 2010

A banda dos oito mais um



É a banda de metais Hypnotic Brass Ensemble, de Chicago (EUA). São os oito filhos do trompetista de jazz Kelan Phil Cohran (que também é astrônomo) e outro músico.

A banda se apresenta comumente na rua, uma forma de se apresentar gratuita, democrática e ao vivo, cada vez mais difundida na Europa e nos Estados Unidos.

Ouça mais aqui:


sábado, 11 de dezembro de 2010

Eu sou novo aqui



Com Gil Scott-Heron, o criador do rap. As letras de Gil são cortantes e agressivas contra os meios de comunicação que sustentam o establishment, e sobretudo contra a ruindade da televisão, além de críticas ao consumismo e a estupidez da classe média.

Brasileiros (brancos) cordiais

Allan Sieber

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O elogio da ignorância


Basta observar o olhar perdido de adultos sem ter o que fazer durante horas, em vôos internacionais, ou, pior ainda, vendo filminhos para adolescentes no vídeo do avião, para ter certeza de que ler um livro é a melhor escolha para esses momentos. O passageiro desocupado é um chato: ri alto, chama a comissária de bordo a cada momento, toma mais bebida do que seria desejável, ou ronca alto, enquanto o leitor de livros atravessa a desagradável viagem placidamente, correndo incólume o risco alheio, podendo imaginar, a partir do seu universo de referências, o rosto e o jeito de cada personagem, e não sendo obrigado a engolir os atores que o diretor do filme escolheu para representá-las.

O chato, na verdade, é o “sem-livro”. Mesmo assim, é freqüente tratar leitores como pessoas sem graça. Uma amiga conta que, durante sua adolescência, adorava ir ao sítio de um tio, no interior de São Paulo, e ler, calmamente, seu livrinho, enquanto a brisa movia silenciosamente a rede em que se refestelava e os pássaros faziam um coral único. Seus familiares, contudo, não se conformavam com a “chata” que preferia ler a jogar buraco e diziam que ela não gostava mesmo de “se divertir”, como se diversão fosse colocar o dez perto do valete e sonhar para que uma dama aparecesse, e não a leitura do seu livro, que a transportava para mundos maravilhosos.

Com a música, o mesmo. Há até propagandas de televisão e rádio que “demonstram” a supremacia de sons bregas sobre a música clássica. Incapazes de se sentar para ouvir uma sinfonia inteira, ou mesmo o primeiro movimento de uma sonata, os ignorantes transformam o vício em virtude e atribuem ao volume produzido por super woofers a qualidade sonora que a melodia não tem. Sejamos claros: o aparelhamento de som é apenas o meio, a mídia, utilizada pela música para se manifestar. Imbecis sonorizados rodando com altos decibéis serão somente imbecis rodando com altos decibéis, nunca gente com bom gosto musical. E antes que eu me esqueça, música se discute, sim, pois gosto e ouvido podem ser educados. Quase sempre, pois sempre há uns casos perdidos. Por isso, o idiota que diz não gostar de música clássica, como um todo (sem nunca tê-la ouvido adequadamente), deve ser tratado como um idiota, e não como uma pessoa que manifesta um gosto.

Num momento em que se luta para que diferentes parcelas da população tenham acesso à universidade, em que as pessoas estão empenhadas em fazer pós-graduação, mestrado, cursos livres de cultura geral, em que todos reivindicam o direito de conhecer parcelas importantes do patrimônio cultural da humanidade, fazer o elogio da ignorância é um contra-senso. Contra-senso, por sinal, que só pode partir de dois tipos de pessoas: ou alguém da elite, que, por medo de concorrência, não quer que o contingente de pessoas cultas no país aumente; ou alguém que teve a possibilidade de adquirir um bom cabedal de cultura, mas, por preguiça ou desleixo, não o fez. Nenhum deles é bom conselheiro: não se pede para o rato opinar sobre as qualidades da ratoeira.

Respeitar o saber do povo significa dar oportunidade para que ele tenha acesso ao patrimônio cultural já estabelecido. Respeitar o povo é permitir que ele conheça Machado de Assis e Joaquim Nabuco, Sérgio Buarque e Florestan Fernandes, Glauber Rocha e Nelson Rodrigues. Entender o mundo, ao contrário do que muitos pensam, não se resume a assistir folhetins óbvios repetidos há décadas, ou programas apresentando supostas situações reais com personagens supostamente interessantes, merecidamente enjauladas, tudo entremeado com mensagens comerciais (falo, evidentemente de novelas e reality shows apresentados pelas emissoras de TV e assistidos bovinamente por telespectadores acríticos).

De resto, tenho uma profunda desconfiança... não do saber autêntico desenvolvido através dos séculos por brasileiros do Norte ao Sul, mas de certa “cultura”, orquestrada por programadores musicais cevados por jabaculês fornecidos pelas grandes gravadoras, por sinal, multinacionais. E confundir a cultura do jabaculê com cultura popular ou é burrice incurável, ou má fé evidente. Colocar a cultura, chamemos assim, erudita, à disposição do povo, não quer dizer impô-la, evidentemente, mas permitir o contato entre eles. Livre escolha. Elitista mesmo é não permitir esse acesso e, em nome de um populismo pseudo-respeitoso, abandonar a população à breguice rançosa que grassa nos meios de comunicação de massa.

O elogio da ignorância, que desqualifica a leitura, a música de qualidade, a cultura artística e humanista, tenta se apresentar como atitude democrática, mas não o é. Trata-se de uma face disfarçada do preconceito e da discriminação.

Não há porque engolir isso. Venha de quem vier.

Artigo do historiador Jaime Pinsky. Publicado originalmente na revista Panorama Editorial, na edição de abril de 2006.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Grêmio segue em primeiro no ranking da CBF



A Confederação Brasileira de Futebol divulgou na tarde de ontem (8) o Ranking Nacional de Clubes atualizado para a temporada 2011.

O Grêmio segue na liderança, seguido de perto pelo Corinthians. O atual campeão da Libertadores, Inter, está na oitava colocação. A única mudança do ano passado para este nas dez primeiras colocações foi do Vasco, que estava em quarto e agora empatou com o Flamengo, na terceira posição.

Confira os dez primeiros da CBF:

1º Grêmio – 2159 pontos
2º Corinthians – 2137
3º Flamengo e Vasco – 2086
5º São Paulo – 2049
6º Atlético-MG – 2032
7º Palmeiras – 2012
8º Internacional – 1996
9º Cruzeiro – 1950
10º Santos – 1829

Leia aqui a tabela completa do ranking com 90 clubes de futebol.

Contato com o blog Diário Gauche:

cfeil@ymail.com

Arquivo do Diário Gauche

Perfil do blogueiro:

Porto Alegre, RS, Brazil
Sociólogo