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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Zelaya não pode repetir Cámpora


Atitude do governo brasileiro é irrepreensível

A atitude do governo brasileiro em dar refúgio político ao único e legítimo presidente hondurenho Manuel Zelaya na nossa embaixada em Tegucigalpa é elogiável, sob todos os aspectos. É uma cunha política importante para pressionar os golpistas locais a deixarem o poder que tomaram pela força em 28 de junho último.

É uma notícia importante essa. O Brasil troca de lado no que se refere a apoio a situações de golpe em países latino-americanos. Se em 1973, a ditadura civil-militar brasileira acolhia no interior da embaixada em Santiago (ainda que de forma oficiosa) os golpistas que depois acabariam por derrubar o presidente civil Salvador Allende, em 11 de setembro daquele ano, hoje, com o presidente Lula, o panorama é bem outro.

O Brasil torna-se peça importante para resolver o impasse hondurenho, onde um legítimo presidente foi apeado do poder por militares e civis golpistas, apesar da grita internacional pela irregularidade grave dos acontecimentos centro-americanos.

A presença de Zelaya no interior do território hondurenho, mas a salvo da fúria dos inimigos da democracia, pode ser considerado uma jogada de mestre, seja quem for o autor desse plano até agora bem sucedido. A manobra política deve necessariamente ter desdobramentos, caso contrário, pode reprisar o desfecho do ocorrido com o ex-presidente argentino Héctor Cámpora, quando do golpe militar de 24 de março de 1976.

El Tio
, como era chamado o correto líder peronista, refugiou-se na embaixada do México em Buenos Aires (o jornalista brasileiro Flávio Tavares teve um papel determinante em favor de Cámpora, neste episódio, com lances cinematográficos) e lá permaneceu por mais de três longos anos. Só recebeu salvo-conduto para deixar o país dominado por gorilas assassinos, depois de provar que estava com um câncer terminal. Seguiu para a Cidade do México e lá morreu, meses depois, em dezembro de 1980.

Isso não pode se repetir.

Espera-se, agora, que a Casa Branca também tome atitudes mais definidas em relação à situação de Tegucigalpa, uma vez que tem oscilado desde o golpe de junho entre a defesa de seus investidores locais e a consigna da democracia liberal que tanto alega defender mundo afora.

A posição adotada pelo Itamaraty no presente caso é o que se espera de um país que pretende assumir cada vez mais protagonismo e liderança regional entre as nações democráticas da América Latina.

Foto: o presidente hondurenho Manuel Zelaya acena para a multidão postada na frente da embaixada brasileira em Tegucigalpa, ontem. Hoje, o governo golpista mandou cercar a embaixada do Brasil com tropas militares e tanques de guerra. A situação é tensa. Lula pediu respeito com a casa do Brasil em Honduras.

7 comentários:

Anônimo disse...

Importante - e curiosa - a atuação da Argentina.

Assim que o embaixador hondurenho em Buenos Aires manifestou apoio aos golpistas, o governo de Cristina Kirchner retirou o status de embaixador do mesmo. Em represália os golpistas de Tegucigalpa solicitaram o afastamento do embaixador argentino. O governo argentino respondeu que não levaria isto em consideração, vindo de um governo ilegítimo. E não retirou seu embaixador.

É a democracia lutando contra a direita golpista. Ponto para o Lula.

Anônimo disse...

A Zaro Hora fala: dezenas de manifestantes.

O que eles estão querendo esconder?

Haviam milhares de pessoas na manifestação, inclusive confrontando a policia facista de honduras. Várias viaturas foram queimadas e os subordinados do Cel. mendes de lá mandou tocar fogo. Ordem do Micheletti Cruzius.

Claudio Dode

fradinho disse...

Claudio Dode a ZH está acostumada a cobrir as manifestações pro-yeda e com o tempo perderam a noção de quantidade e principalmente qualidade!

Anônimo disse...

(pb)
Tava cortando o cabelo e tentando ouvir o noticiário da Globo News e após comentário de uma APRESENTADORA (!?!) questionando a ação do governo brasileiro e legitimando de alguma forma o "afastamento" de Zelaya, ouvi o "comentarista" Merval Pereira acusar o presidente deposto de tentar um golpe de Estado, "rasgando a constituição". Desavisadamente (ou não) uma repórter questiona sobre o papel dos EEUU já que a proposta encaminhada ao parlamento para votação de um terceiro mandato é semelhante à ação do presidente colombiano. A resposta foi algo como: "o terceiro mandato de Álvaro Uribe e a tentativa de perpetuação no poder de Hugo Chavez foram diferentes. Manuel Zelaya pretendia dar um golpe de Estado que foi rechaçado pela Justiça e o Exército..."

Nelson Antônio Fazenda disse...

Ao mesmo temo, para nossos órgãos de mídia hegemônicos e seus (de)formadores de opinião, os golpistas fazem um "governo interino".
Ditadura é o que se vê atualmente na Venezuela.

Nelson Antônio Fazenda disse...

Meu caro Feil. Creio que a Casa Branca não tem oscilado tanto assim quanto aos golpistas de Honduras. Sua opção pela manutenção do golpe me parece bem clara.
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, USAID, por usa sigla em inglês, deve entregar - talvez até já tenha entregado - US$ 47 milhões aos golpistas. Já o FMI concederá US$ 164 milhões aos ditadores hondurenhos.
Difícil acreditar que a Casa Branca não esteja sabendo disso?

dejavu disse...

Hoje vendo na televisão tropas em frente da embaixada do Brasil me lembrei das que vi, também em vídeo, relativas ao nosso golpe de 64. A diferença é que Jango não teve embaixada nenhuma pra se esconder e foi apeado do poder de forma torpe e covarde - tudo em preto e branco! Hoje alguns dos que se beneficiaram da redentora ainda tentam justificar e até legitimar mais um abjeto golpe militar, alegando qualquer coisa! Lula está certo: querem o poder, vão disputar nas urnas, não com baionetas!

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