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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Os caroneiros do mito farroupilha


Oportunistas querem mamar leitinho eleitoral da velha vaca sagrada da ideologia estancieira

Recebo de um leitor atento a cópia digitalizada do boletim eleitoral do único deputado estadual do PC do B alusivo ao 20 de Setembro (acima, fac-símile parcial).

Segundo o nosso gentil leitor, militantes pecedobistas estavam panfleteando o material eleitoral no Acampamento Farroupilha, no Parque da Harmonia, centro de Porto Alegre, ontem, dia 20 de Setembro.

Li parcialmente o panfleto laudatório ao que eles chamam de "Revolução Farroupilha". Uma confusão só. O material tem a nítida intenção de pegar carona no prestígio popularesco da ideologia do gauchismo e da mitologia farroupilha. O texto é uma simplificação grosseira da historiografia dos fatos ocorridos entre 1835 e 1845 no Rio Grande do Sul. A começar que denomina a guerra civil farrapa de "revolução farroupilha".

Já se vê que os nossos comunistas de mentirinha leram pouco e leram mal as obras de Marx. Se é que leram. Em "A ideologia alemã", casualmente escrito entre 1845/46, Marx e Engels definem o que seja um processo revolucionário. Eles falam do chamado "salto cataclísmico" de um modo de produção para o seguinte, provocado pela convergência de conflitos entre as velhas instituições e as novas forças produtivas que lutam para se impor. Ora, nos conflitos do decênio farrapo jamais foi cogitado algo semelhante. A própria ideia de república era uma consigna anêmica e mitigada. Portanto, a institucionalidade era conservadora e o modo de produção continuaria baseado nas vastas estâncias pastoris tocadas a trabalho escravo. Onde se encontram, então, os elementos necessários para a ocorrência de uma revolução autêntica e genuína?

Marx no belo texto que lhe é peculiar, cheio de pequenas anedotas, espírito agudo e fina ironia, ainda observa que em qualquer revolução é preciso "limpar as estrebarias de Áugias que estão transbordando de estrume" - referindo-se aos doze trabalhos do herói mítico Hércules que desviou dois rios para limpar num só dia as cocheiras fétidas de um velho reino grego.

As estrebarias do Rio Grande do Sul, pois, ficaram simbolicamente mais sujas, depois de 1845. Uma velha classe de civis e militares se revezaram vegetativamente no poder provincial, como xerifes vigilantes da imperial família Bragança. Enquanto isso, sua base social de sustentação política - o latifúndio pastoril (de tão atrasados sequer cultivavam a terra) de exportação - se apropriava de tantas terras públicas quanto fosse possível.

Essa farra latifundiária sem limites e com licença para roubar terminou somente em 1891, com a Constituição escrita pelo republicano Julio Prates de Castilhos, dando início, assim, a um novo ciclo político modernizador e revolucionário que vai durar mais de trinta anos no Rio Grande do Sul - onde explodiram dois conflitos sangrentos - 1893/95 e 1923/24 - sempre provocados pela reação maragata (estancieiros ex-monarquistas).

Mas isso não interessa aos oportunistas que só apostam nas leviandades e meias-verdades do senso comum mais obtuso. O negócio é continuar pescando votinhos nas águas turvas do consenso mais rasteiro e ideologizado.

19 comentários:

Jordi disse...

Acrescente-se: o deputado é formado e pós-graduado em história pela UFRGS.

Falando em PC do B, nestes tempos de águas revoltas (não revolucionárias) no estado, onde anda a deputada bonitinha?

pantalhas disse...

Estancieiro Comunista? A Farsul não vai gostar!

Anônimo disse...

A deputada bonitinha estava disputando um lugarzinho ao sol do Lula. Não é mole... Senti falta do Berfran Rosado ao lado de sua operosa companheira de pleitos no evento lulístico.

Gisa disse...

Bonitinha é a feia arrumadinha.

Anônimo disse...

Bonitinha, assim posto, me faz logo me lembrar do Nelson Rodrigues....

giovani montanher madruga disse...

peraí! a deputada é muito bonita.
só não devemos nos deixar envolver pelo "canto da seria".

Franz Neumann disse...

Caro Feil, após um longo inverno retorno lentamemnte à algumas reflexões sobre o RS, estado que tão bem me acolheu e que hoje encontra-se mergulhado na absoluta degradação de suas "elites".A "semana farroupilha" desta vez trouxe elementos que me recordaram a genese do fascismo em meu país na década de XX. Não esqueçamos que frente a uma crise de proporçoes mundiais e a retomada do nacionalismo democrático no Brasil classes decadentes - leia-se setores agrários decadentes - jogam-se,em um primeiro momento, a uma guerra cultural-simbólica-decisivas (e com apoio popular)ante-sala possível de um estado autoritário de corte fascista e que após vincula-se a movimentos urbanos pequeno- burgueses autoritários que contam com apoio de frações burguesas temerosas com a ascenção das massas (mesmo na versão social-democratica) Nesse sentido nenhuma grande novidade, a questão é se examinar se no momento no Movimento Tradicionalista Gaúcho já não se encontram estes traços com fortes raízes históricas no Brasil. Para tanto basta se examinar o pensamento autoritário dos anos 10/20 no Brasil já devidamente dissecados e que encontrou uma via de realização (felizmente frustrada na Ação Integralista).Assim , no momento,estou estudando este processo em curso na vertente agrária. Pretendo tão logo seja possivel publicar se quiseres em teu blog algumas reflexões sobre a emergência de vertente fascista em setores do MTG. Saudações socialistas de seu admirador Franz Neumann.

Cristóvão Feil disse...

Será bem-vindo, professor Neumann.

Abç.

CF

Anônimo disse...

Exato Herr Neumann.
Lembrei agora do documento que circulou recentemente "a tomada dos EUA polo fascismo".
Outro pensamento é comparar com o início das SA, acerca das quais no começo "as pessoas se riam" e para as quais entravam as pessoas mais limitadas.
A estranha tolerância com que as entidades patronais e meios de comunicação demonstram para as aventuras e desventuras de YRC nada mais é que a validação da tomada facista "branca" do Estado.

Leandro Bierhals disse...

Beleza (não "E aí, Beleza?) de texto, Feil.

Unknown disse...

Paz e bem!

Já há alguns anos
que o Raul Carrion
trabalha esta questão
dos farroupilhas,
em outros anos distribuia
um cadaerno sobre o tema;
tembém é proposta dele
(enquanto vereador)
denominar Espaço Lanceiros Negros
recanto da Redenção
próximo ao monumento
do Gaúcho Oriental.

Anônimo disse...

Guarda tua abobrinhas no armário Neumann.
Ninguém memrece.

Demétrio Cherobini disse...

Oportunista? Acho que vc foi bonzinho na hora de adjetivar...

Infelizmente, nossa esquerda ainda está longe da altura que as exigências revolucionarias do presente requerem.

Um abraço.

Oscar T. disse...

Mas o que esperar do partido que foi exterminado peka candidata simpática e bonitinha, artífice da promoçao do PPS à vereança c/ duas cadeiras?
Para os decepcionados c/ o PT eu pergunto: qual será o nivel da decepçao dos comunistas do PCdo B?

Anônimo disse...

Realmente, o Carrion tem formação em História pela UFRGS e vêm de família intelectual. Priva do convívio com historiadores do porte do Vizentini. Mas, assim como o PC do B, está em decadência.
Parece que o que ele fez foi uma simplificação oportunista, visando o pleito de 2010.
PC do B já foi um partido bem mais confiável. Agora com a Manuela(pastiche gaudério da Débora Secco)e a Cony fazendo politicagem no GHC ele vai mal das pernas...
Carrion parece que pegou o embalo...

Rick

claudia cardoso disse...

Folgo em saber que o Sr. Neumann retornou ao nosso convívio! TB aguardo os seus textos.

elektrofossile disse...

Alguém leu o ensaio de Mário Maestri no Caderno Cultura deste sábado (19/9). É hilário comparar com este panfleto. E as hostes do Partido de Carrion conta com um pós-Doutor em História (Paris)

Anônimo disse...

desculpa discordar do dono do mundo, mas chamar de oportunista quem se dispõe na semana farroupilha a informar, prestando um serviço para a comunidade tudo bem... viva no seu mundinho de faz de conta enquanto os comunistas arregaçam as mangas e vão, na realidade, buscar construir uma nova sociedade, diferente desta, onde mentiras não continuem passando por verdade e que a ação revolucionária não seja a de criticar quem faz e sim fazer no mundos dos fatos o que muito tem se discutido, como diria o próprio Marx...

Zeca Netto disse...

"Construir uma nova sociedade" com......... o Berfran Rosado, o Paulo Odone, o Busatto e o ex-governador Britto?

"chamar de oportunista quem se dispõe na semana farroupilha a informar, prestando um serviço para a comunidade", ou seja, informar que tivemos uma revolução com Bento Gonçalves e Davi Canabarro no RS?
Faça me rir seu "comunista de mentirinha"!

Hehehehehehehehehehehehehehe

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