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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Certas ações são incompreensíveis no governo Dilma. Esta é uma delas



Governo Federal presta contas aos “donos das comunicações”

Pode-se dizer que o preço de um evento define e revela em certa medida o perfil dos seus participantes. Com inscrições entre R$ 1.920 e 2.400, o 12º seminário “Políticas de (Tele)comunicações no Brasil”, promovido pela Converge Comunicações (editora das revistas especializadas TelaViva e TeleTime) em Brasília, no dia 20 de fevereiro (quarta), reuniu cerca de 400 pessoas. O seleto grupo de empresários e executivos que controlam as comunicações no país e alguns especialistas discutiram as ações e a agenda do Poder Executivo Federal para o setor em 2013.

Os palestrantes escalados para expressar esse cenário foram: o secretário executivo do Ministério das Comunicações (que substituiu o ministro, confirmado em um primeiro momento), acompanhado dos secretários de comunicação eletrônica e de telecomunicações da pasta, o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o presidente da Agência Nacional de Cinema (Ancine) e o diretor de pesquisa do Centro Berkman de Pesquisa de Internet de Harvard. 

Pode-se assim dizer, em outras palavras, que o poder político foi convidado e assumiu o papel de ir prestar contas ao poder econômico. O palco escolhido foi o luxuoso hotel Royal Tulip, situado nos “jardins” do Palácio Alvorada, residência oficial da presidenta da República.

Na equação entre poder econômico e poder político, o saldo (expresso na fala de Cezar Alvarez) foi o oposto do exigido pelas entidades que lutam pela ampliação da democracia: a subtração da discussão sobre um novo marco regulatório para as comunicações no país. É isto que foi expresso nas notícias que repercutiram a realização do evento na mídia especializada.

Posições divergentes


Os debates do seminário se centraram nas pautas específicas do setor, como o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), a regulamentação da internet nos termos do “Marco Civil da Internet” e as novas regras para a faixa de frequência de 700 MHz, disputada entre empresas de telecomunicação e de radiodifusão. Os temas expressam os centros de interesses dos empresários, mas expõem também algumas de suas divergências.

Teles e radiodifusores têm posições diferentes sobre questões como a neutralidade de rede, por exemplo. Enquanto o representante da Globo, Paulo Tonet Camargo, defende que “o princípio da neutralidade é incontestável”, o diretor de assuntos regulatórios da Oi, André Borges, afirma que “quando se começa a querer colocar, em uma lei principiológica, todas as situações, isso limita definitivamente algumas possibilidades de desenvolver o mercado”.


Outro ponto de tensão diz respeito ao uso que será dado à faixa de frequência de 700 MHz, a ser liberada com o encerramento das transmissões de TV analógica e que deve ter suas regras de uso definidas em consulta pública. 

As operadoras de telefonia possuem interesse particular em utilizar o espaço para a exploração do serviço de banda larga móvel 4G, enquanto os radiodifusores se preocupam com a possibilidade de perda de espaço para suas emissoras e interferência no sinal de TV digital. 

A Associação Brasileira de Rádio e Televisão (ABERT) reclamou durante o seminário sobre a forma como vêm sendo conduzidos os testes que orientam a decisão do governo sobre o modelo a ser adotado.

Em meio a essa disputa entre grandes interesses econômicos e políticos, à parcela da sociedade civil que reivindica a ampliação da participação na comunicação sobrou um pequeno espaço no evento, na curta fala de Jonas Valente, do Intervozes, sobre a importância da neutralidade de rede. Do lado de fora, aqueles que não têm como pagar a inscrição, continuam apartados do seu direito de participar da definição das políticas de comunicação.

Artigo de Bruno Marinoni do Observatório do Direito à Comunicação.

O funk e a mercadoria ostensiva e estridente



O vídeo "Funk Ostentação" mostra o universo urbanoide das classes populares em ascensão social e envolvidas com a música funkeira, especialmente de São Paulo.

Confesso, para mim estamos diante de uma incógnita. Como categorizar o fenômeno sociológico? Classes populares ostentam a mercadoria de forma estridente e espetaculosa embalados por um ritmo monótono, sem música, num simulacro de música, e aparentemente fruindo o ascenso social de forma debochada e frívola, numa pauta ideológica originada do mundo da publicidade mais prostituída.

O vídeo-documentário dura 36 minutos.

Yoani Sánchez: boneco de ventríloquo (remunerado) do Departamento de Estado


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

33% das crianças brasileiras sofrem da enfermidade do sobrepeso




"Muito além do peso", o documentário
Dirigido por Estela Renner, produzido pela Maria Farinha Filmes com o patrocínio do Instituto Alana, “Muito Além do Peso” mostra e discute o fenômeno da obesidade infantil no Brasil e no mundo. “Pela primeira vez na história da raça humana, crianças apresentam sintomas de doenças de adultos. Problemas de coração, respiração, depressão e diabetes tipo 2” – é disso que se trata. 
Os fatores causadores dessa epidemia têm nome e sobrenome bem definidos: indústria alimentícia, cadeias de fast-food, governos omissos, pais desinformados e agências de publicidade e meios de comunicação que faturam milhões vendendo drogas diariamente para crianças.
A conexão entre a indústria alimentícia e a plataforma das indústrias midiático-publicitária-entretenimento é particularmente mortífera e poderosa. 
O vídeo dura 83 minutos. Divulgue-o.
Dica pescada do blog "RS Urgente".

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O chamado livre-mercado pode destruir as conquistas democráticas


Contra a democracia

Um dos pilares do paradigma liberal é a crença de que livre-mercado e democracia são termos que nunca podem entrar em contradição.

Segundo essa vulgata, por meio do livre-mercado garante-se a liberdade individual de empreender e defender seus próprios interesses.

Neste mundo, ser livre equivaleria a poder estabelecer contratos de maneira "não coercitiva", seja para vender a força de trabalho, seja para alugar o útero, seja para contrair matrimônio, seja para relacionar-se com o Estado por meio dos impostos ou para tomar empréstimos no banco. Diga-se de passagem, todas essas ações são, para os liberais, pensadas a partir de uma mesma lógica unidimensional.

Nesse contexto, "democracia" só pode significar "o regime que não interfere nos contratos firmados por pessoas livres". Quanto menos interferência estatal, mais liberdade; é o que diz o velho mantra. No entanto, foi esse mantra que levou o mundo a uma das piores crises do capitalismo. Por isso, sair da crise só será possível à condição de pararmos de nos deixar enfeitiçar por ele.

Se uma ideia ruiu nos últimos anos, foi exatamente a que vê, no livre-mercado, o modelo de uma sociedade civil livre. Deixado a si mes-mo, o mercado é o regime que extorque contratos dos que não têm força social para afirmar sua liberdade, dos que não têm escolha real por estarem submetidos ao risco constante da precariedade e da vulnerabilidade. Por isso, o velho Hegel dizia que a sociedade civil nunca é suficientemente rica para acabar com a pobreza.

Tal extorsão mostra, nos dias de hoje, sua face mais clara quando vemos bancos e seus "experts" da grande imprensa mundial aterrorizarem populações com a ameaça do caos econômico, caso suas dívidas não sejam encampadas pelos Estados nacionais e transformadas em dívidas soberanas.

Ao aceitarem tal ameaça, os Estados destroem o sistema de segurança social que permitia um mínimo de liberdade à população diante da espoliação pelos economicamente mais fortes. Mas ao fazerem isso, eles destroem as verdadeiras bases da democracia.

Ou seja, a crise que o mundo vive hoje é a prova maior de que livre-mercado e democracia não andam necessariamente juntos, que há situações nas quais o primeiro pode destruir o segundo.

Com sua influência desproporcional, o sistema financeiro é, atualmente, a maior ameaça à democracia ocidental. Salvar tal sistema nos levará a uma nova forma de sociedade totalitária: a sociedade da precariedade generalizada

Artigo do professor Vladimir Safatle, da Filosofia da USP. 


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Grande Inquisidor encontra Jesus Cristo



Deus hipotético

Um religioso dirá que não faltam provas da existência de Deus e da sua influência em nossas vidas. Quem não tem a mesma convicção não pode deixar de se admirar com o poder do que é, afinal, apenas uma suposição. A hipótese de que haja um Deus que criou o mundo e ouve as nossas preces tem sobrevivido a todos os desafios da razão, independentemente de provas. Agora mesmo assistimos ao espetáculo de uma empresa multinacional às voltas com a sucessão no comando do seu vasto e rico império, e o admirável é que tudo – o império, a riqueza e o fascínio dos rituais e das intrigas da Igreja de Roma – seja baseado, há 2000 anos, em nada mais do que uma suposição.

Todas as religiões monoteístas compartilham da mesma hipótese, só divergindo em detalhes como o nome do seu deus. E todas tem causado o mesmo dano, em nome da hipótese. Não é preciso nem falar no fundamentalismo islâmico, que aterroriza o próprio islã. Há o fundamentalismo judaico, com sua receita teocrática e intolerante para a sobrevivência de Israel. O fundamentalismo cristão que representa o que há de mais retrógrado e assustador no reacionarismo americano, e as religiões neo-pentecostais que se multiplicam no Brasil, quase todas atuando no limite entre o curandeirismo e a exploração da crendice. A igreja católica pelo menos dá espetáculos mais bonitos, mas luta para escapar do obscurantismo que caracterizou sua história nestes 2000 anos, contra um conservadorismo ainda dominante. A hipótese de Deus não tem inspirado as religiões a serem muito religiosas.

Há aquela parábola do Dostoiévski sobre o encontro do Grande Inquisidor com Jesus Cristo, que volta à Terra – o filho da hipótese tornado homem – para salvar a humanidade outra vez, já que da primeira vez não deu certo. Os dois conversam na cela onde Cristo foi metido por estar perturbando a ordem pública, e o Grande Inquisidor não demora a perceber que a pregação do homem ameaçará, antes de mais nada, a própria Igreja, a religião institucionalizada e os privilégios do poder. Não me lembro como termina a parábola. Desconfio que, se fosse hoje, deixariam o Cristo trancado na cela e jogariam a chave fora.
Crônica de Luis Fernando Veríssimo, publicada hoje em vários jornais do Brasil.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Dilma vai usar BNDES para a reforma agrária


O governo quer intensificar o uso de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social em projetos de áreas desapropriadas para reforma agrária.

A iniciativa ocorre num momento em que Dilma Rousseff é criticada por movimentos sociais por ser um dos presidentes após o fim da ditadura militar que menos desapropriou terras, perdendo só para Fernando Collor.

No BNDES estão em fase de análise, aprovação ou contratação cinco projetos - no valor total de R$ 96,5 milhões - para os assentamentos.

Entre os projetos há duas propostas de R$ 30 milhões: uma de qualificação da estrutura produtiva de assentamentos gaúchos e outra de estruturação de empreendimentos produtivos coletivos.

Nos últimos quatro anos, o banco apoiou diretamente cinco projetos com R$ 16,2 milhões e indiretamente outras 50 propostas com R$ 6 milhões, em 19 Estados.

Em 2011, por exemplo, uma cooperativa ganhou cerca de R$ 800 mil para promover a inclusão de famílias assentadas na cadeia produtiva do café com insumos, máquinas e equipamentos, veículos e a construção de uma unidade de beneficiamento do café.

BNDES diz que apoia projetos dos assentados em razão do grande número de beneficiados e de sua experiência na agropecuária.

Inaugurada ontem por Dilma, a usina de laticínios (iogurte, queijo, doce de leite) de uma cooperativa de mulheres do assentamento do MSem Arapongas (PR) é vista como um modelo. Ela obteve R$ 8 milhões do BNDES. A informação é da Folha, edição de 5/2.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

O barato da banda Beirut







A grande, a himalaica Nina Simone

Por que os evangelhos do neoliberalismo atacam o ministro Mantega


Por uma cabeça
Quando, em dezembro último, a "Economist" pediu a demissão de Guido Mantega, brasileiros cordatos se perguntaram se a vetusta revista britânica teria perdido o senso. A sequência dos acontecimentos iria mostrar que havia método naquela loucura, pois, na véspera do Natal, o também inglês "Financial Times" iniciou uma série de ataques à condução da economia pátria.

Na quarta passada, aproveitando a oscilação do dólar ao longo do dia, o "FT" voltou à carga. Algumas horas depois de Guido assegurar a prefeitos reunidos em Brasília que não iria permitir "uma valorização especulativa do real", o jornal de negócios publicou na internet comentário segundo o qual seria "exaustivo" tentar entender o que o ministro queria para o câmbio. De modo a acentuar o tom crítico da observação, o texto levantava a hipótese de que os membros do governo não teriam a menor "ideia do que estão fazendo".

Outra vez, patrícios de boa índole se indagaram sobre o que estaria ocorrendo com o tradicional discernimento anglo-saxão. Seria preciso escandir mais as sílabas para que ficasse compreensível a determinação de evitar a "valorização especulativa do real"? Os leitores que tenham tido a paciência de chegar até aqui já terão entendido que aos súditos de Sua Majestade não falta capacidade cognitiva. Ocorre que alguns deles não gostam das posições assumidas pela Fazenda do Brasil e, treinados na caça ao pato, decidiram alvejar o titular da pasta em pleno voo industrialista.


Naquele dia, Mantega adotara tom menos moderado do que o de hábito. "O câmbio é flutuante, mas, se exagerar na dose, a gente vai lá e conserta", prometeu. Em outras palavras, garantiu que o ganho de competitividade que a indústria nacional terá com a diminuição do preço da energia elétrica não vai ser anulado por uma valorização indesejada da moeda, a qual facilitaria a entrada de produtos estrangeiros.

Havia um segundo recado implícito no discurso ministerial. Para estimular a reindustrialização do país, o Executivo está disposto a arriscar alguma pressão inflacionária, uma vez que, ao recusar a apreciação do real, abre mão, em certa medida, de contar com as importações para segurar os preços internos.

Tudo somado, assiste-se a um embate político de proporções razoáveis. Sem abandonar o lulismo, mas à diferença de Lula, Dilma adotou posição menos conciliadora na defesa do industrialismo. Comprou briga séria com os bancos ao forçar a redução dos juros. Impôs restrições ao capital internacional flutuante. Enfrentou a ferro e fogo poderosos interesses no setor energético. A resposta dos prejudicados, lá fora e aqui, é exigir a cabeça de Guido, que, todos sabem, no fundo é a da presidente.

Artigo do sociólogo André Singer.

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