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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Surto



Orlandeli

Movimentos sociais comemoram o fracasso de Doha


Organizações e movimentos sociais do Brasil e do mundo inteiro comemoram mais um colapso das negociações para a conclusão da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Essas entidades questionam a validade das premissas da instituição desde o seu nascimento, no auge do neoliberalismo dos anos 90. Denunciam também as graves conseqüências que o fechamento desta rodada poderia causar para os povos em diversas partes do mundo.

Essas conseqüências dizem respeito, principalmente, à liberalização do comércio de bens industriais e serviços por parte dos países do Sul, em troca da abertura de mercados no Norte para exportações agrícolas. Isto significaria a cristalização de um modelo em que os países em desenvolvimento continuariam como exportadores de commodities agrícolas – com uso intensivo de água e outros recursos naturais na sua produção, concentração fundiária e utilização de insumos químicos que resultam em um agravamento da crise sócio-ambiental. Enquanto isso, os países desenvolvidos se manteriam como fornecedores de tecnologia e bens e serviços de alto valor agregado. Significaria também o aprofundamento da abertura comercial e financeira proposta pelo modelo neoliberal. E seria um golpe contra os direitos dos povos e a soberania dos países em relação à capacidade de formularem suas políticas públicas.

Ao longo da semana, cerca de trinta países tentaram sem sucesso chegar a uma fórmula que fosse capaz de acomodar os interesses em temas tão complexos como as políticas de agricultura, indústria e serviços. Mais uma vez o formato restrito e antidemocrático de tomada de decisões na OMC se revelou esgotado: dos 153 países-membro da OMC, apenas cerca de trinta estavam presentes nas reuniões de Genebra. Na verdade, entre estes, apenas sete – Estados Unidos, União Européia, Brasil, Japão, Austrália, China e Índia – conduziram de fato o processo decisório enquanto os demais aguardavam em protesto as decisões na ante-sala.

O Brasil manteve a sua já conhecida posição, que prioriza a abertura dos mercados dos países do Norte para as exportações do agronegócio, concordando em fazer importantes concessões nas áreas de redução de tarifas industriais e no setor de serviços. A insistência do país em manter esta posição acabou tendo graves conseqüências políticas. Uma delas foi o esgarçamento do G-20, importante coalizão de países em desenvolvimento criada em 2003 durante uma reunião ministerial da OMC realizada em Cancun, quando o Brasil liderou uma posição de resistência destes países e, com isso, alterou a balança de poder e a correlação de forças na OMC. Desta vez, no entanto, o país acabou esvaziando a sua liderança por ter se distanciado de preocupações e interesses de parceiros estratégicos da coalizão.

Esse foi o caso da Argentina, que vinha liderando uma importante posição de resistência nas negociações de Nama – a sigla em inglês para as tentativas de acordo sobre reduções nas tarifas de importação de produtos industriais que tanto interessam aos Estados Unidos e União Européia. A falta de compromisso do Brasil com os nossos vizinhos poderá ter repercussões políticas negativas nos processos de integração regional em curso na América do Sul. O Mercosul, por exemplo, possui uma Tarifa Externa Comum (TEC) que seria bastante prejudicada caso as propostas que estavam em curso nas negociações de Doha fossem aprovadas, tornando ainda mais difícil que nossa região pudesse estabelecer preferências comerciais internas ao bloco.

A estratégia negociadora brasileira também abalou as alianças do Brasil com Índia e China. Refletindo o peso econômico que o agronegócio exportador tem na balança comercial brasileira, o Brasil não deu a devida importância a temas importantes para estes países parceiros e para a agricultura familiar e camponesa. O tema das salvaguardas e outros mecanismos de defesa e promoção da agricultura que garante a segurança e soberania alimentar não foi priorizado pelos negociadores brasileiros, ao passo que se mostrou um aspecto central para estes parceiros-chave do país.

Nesse momento, os movimentos sociais do mundo todo estão comemorando. Mais uma vez está provado que o modelo promovido pela OMC caducou. Agora é hora de pensar alternativas a este sistema de comércio global. Esse debate deve se orientar pelos processos de integração regional e por novas instâncias globais voltadas para os interesses dos povos. Chegou o momento de construirmos um sistema de comércio verdadeiramente voltado para a justiça econômica, social e ambiental e não para os interesses das corporações transnacionais.

Artigo de Fátima Mello e Clarisse Castro, assessoras da Rede Brasileira Pela Integração dos Povos (Rebrip), publicado originalmente no jornal Brasil de Fato.

Ilustração no alto da página: Hupper

Trabalho de Hércules


A propósito

Onde anda o tal norte-americano perito em imagem pessoal que a governadora Yeda Rorato Crusius contratou semanas atrás?

ZH noticiou com ênfase a presença do "especialista" (arghhh!!!) no Palácio Piratini, anunciando que ele iria modificar – para melhor – a imagem pública da governadora tucana.

De duas hipóteses, uma:

a) o sujeito é um picareta e foi despachado;

b) ou, vendo-se diante de empreitada tão hercúlea (matar leões, serpentes de muitas cabeças e centauros a cada hora), pediu para sair.

Segurança pública guasca será globalizada?


Recebo do sempre bem informado jornalista Wanderley Soares:

Em 2006, surgiu em Porto Alegre um estranho “grupo de estudos” sobre segurança pública composto por rapazes de currículo duvidoso que, entre outras coisas, pregava a integração de policiais das Américas – do Sul, Central e do Norte – África e Europa.

Naturalmente esses especialistas tupiniquins dirigiriam a fantástica integração. Alguns representantes desse grupo estão buscando espaço na nova fase da SSP-RS [agora com o general e cientista político formado na Urbra, Édison de Oliveira Goularte, hoje filiado ao PTB e que fez carreira no Exército brasileiro exatamente no período 1964-1985, quando aqui tivemos uma ditadura civil-militar].

Procurador desaprova as contas de Yeda, TCE aprova


O procurador Geraldo Da Camino, do Ministério Público de Contas fez o relatório sobre as contas do primeiro ano do governo de Yeda Crusius (PSDB). O parecer tem 26 apontamentos (registro de irregularidades ou insuficiências que devem ser corrigidas) e Da Camino concluiu ser desfavorável à aprovação das contas daquele período.

O procurador, que também está examinando as explicações oficiais da governadora para a aquisição de um imóvel particular logo antes da sua posse, afirma no relatório que “o cenário não sofreu transformação substancial, a ponto de demonstrar evolução nas finanças”. Isto, ZH omite.

Já o próprio TCE, aprovou as contas da governadora, embora com algumas ressalvas gritantes, o descumprimento do porcentual orçamentário mínimo para a educação e os saques freqüentes no caixa único. Mas quando se informa que o relator foi o ex-brigadiano, ex-deputado do PMDB, conselheiro João Osório tudo pode ser compreendido e justificado.

O Tribunal de Contas do Estado, de fato, cada vez dá mais provas de que precisa de uma ampla faxina ética e uma revisão completa nos seus fundamentos institucionais. O provimento de seus conselheiros – com altíssimos salários, gozando de vitaliciedade, e desprovidos da menor capacidade técnico-profissional – através de escolhas viciadas na Assembléia Legislativa é um deboche à cidadania, ao republicanismo e ao Estado democrático de Direito.

O TCE é um reduto hipertrofiado e doente (desmoralizado) do nosso organismo institucional guasca.


quarta-feira, 30 de julho de 2008

Pesadelo líquido II


Santiago

Nova fase do mesmo governo


Deu hoje na coluna de Rosane de Oliveira, em ZH:

Ao empossar Márcio Biolchi (E) como seu terceiro secretário de Desenvolvimento, a governadora Yeda Crusius voltou a dizer que o governo está entrando em um novo momento:

- É um ato de nova fase do mesmo governo. Vamos trabalhar por um projeto de desenvolvimento.

Afinado com o secretário da Fazenda, Aod Cunha, que desde o início do governo prega a necessidade de uma Lei de Inovação e da necessidade de buscar empreendimentos na área da alta tecnologia, Biolchi [PMDB] deixou claro que esse é o seu norte.

Prometeu trabalhar integrado com as secretarias da Educação e de Ciência e Tecnologia, para tornar o Rio Grande do Sul atraente para os investidores.

........

Está se vendo.


Uma disputa feroz na Amazônia


O Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter) registrou 870 km2 de floresta derrubada ou degradada na Amazônia em junho, segundo boletim divulgado ontem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Isso representa uma queda de 20,6% em relação a maio e de 38% se comparado a junho de 2007. A informação está em vários jornais do País, hoje.

Na soma dos últimos 11 meses, porém, o desmatamento aumentou 98%. Com apenas um mês faltando para fechar o calendário de monitoramento da Amazônia (que vai de 1º de agosto a 31 de julho), isso significa que a devastação da floresta este ano poderá ser o dobro do período anterior. Entre agosto de 2007 e junho de 2008, o Deter registrou 7.823 km2 de desmatamento, comparado a 3.949 km2 no período anterior (2006-2007).

Em contrapartida, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse ontem que é possível, do ponto de vista agronômico, o plantio de cana-de-açúcar em áreas da Amazônia. Em junho último, em Roma, o presidente Lula chegou a admitir que era impossível aceitar o plantio de cana na Amazônia.

Stephanes, um agente político do agronegócio no coração do governo Lula, está começando a queda-de-braço no aparelho de Estado face ao novo zoneamento agrícola da Amazônia, que deve ser anunciado nos próximos dias.

Luta de classes em estado puro, com viés de vantagem para o grande capital.


O novo piti de Yedinha



- É uma farsa, uma farsa, uma farsa!

Segundo o insuspeito jornal da direita guasca-maragata, Zero Hora, do grupo RBS (que apoiou o golpe civil-militar de 1964), a governadora Yeda Crusius – a quem o jornal da Azenha se agarra com a força dos afogados – indagada ontem sobre a nova investida da oposição, relativamente ao imóvel comprado em condições suspeitíssimas, respondeu que a "farsa" está ficando evidente e algum dia será "desnudada".

- Aqueles membros da oposição estão usando uma farsa visando à construção de um golpe, que não honra o Rio Grande. Essa farsa está sendo desmontada por eles mesmos. É uma farsa, uma farsa, uma farsa. É feio. Acabou a CPI do Detran e querem continuar em outro canto - relatou Yeda.

Só Sua Excelência tem a chave para desmontar a tal farsa (ou golpe, duas coisas bem diversas). Basta contar para o Rio Grande os detalhes da compra do imóvel. Se puder, claro.

Simples.


Lulismo de resultados está sucateando o Ibama


Servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e do Instituto Chico Mendes do Rio de Janeiro estão insatisfeitos com as portarias do Ibama que demitem chefes de escritórios regionais em todo o País. A medida dá prosseguimento ao processo de esvaziamento do órgão. Os servidores reclamam que o site do Ibama informa que as portarias estão devolvendo os servidores para o recém criado Instituto Chico Mendes.

Para os trabalhadores, a ação do governo é uma maneira de acabar com o órgão. Com as demissões, vão diminuir o número de escritórios regionais. Atualmente são 132. Com as portarias, serão apenas 60 escritórios regionais do Ibama. Os servidores repudiam a medida, que na sua avaliação segue a lógica neoliberal do Estado mínimo: ao invés de investimento em infra-estrutura e recursos humanos, os governantes fazem a opção pelo sucateamento da instituição pública. A informação é da Agência Chasque.


terça-feira, 29 de julho de 2008

Yedismo em marcha


Kayser

Chove


Pesadelo líquido

Chove desde a madrugada de domingo em Porto Alegre. Respira-se água. Sinto que a minha respiração está deixando de ser pulmonar para se transformar em branquial.

Tem um livro do Gabriel Garcia Márquez que chama-se “La Mala Hora”, e foi escrito imediatamente antes de “Cem Anos de Solidão”, passa-se em um pequeno povoado no interior da sua Colômbia, onde chove o tempo inteiro da narrativa. Há muitos anos, quando estava lendo esta obra, eu conseguia ver girinos e mesmo pequenas algas nas entrelinhas do texto, do tanto que tudo era líquido por ali. Garcia Márquez faz da chuva uma personagem da trama, onde tudo fica mais grave e dramático naquele meio transfigurado e úmido. Tanto mais quando os personagens amanheciam com aquelas pesadas revelações sob a forma de bilhetes pregados nas portas dos moradores do lugar. Um pesadelo.

Talvez se não chovesse tanto, pudesse ser uma história como qualquer outra.

Veja a governadora Yeda, não tem sossego, a coitada. É todo o dia recebendo bilhetes simbólicos lhe cobrando uma explicação sobre a compra do modesto imóvel de arrabalde. Tanto mais com essa chuva. Tudo fica mais grave e a culpa, que as pessoas insistem em carregar, mais líquida e ameaçadora.

Coisas da vida.

Foto: Ronaldo Bernardi/ZH. A chuva no calçadão da Rua da Praia. Bela fotografia, Fotonaldo!

Um problema deveras transcendental


Deu na coluna de Mônica Bergamo, hoje na Folha:

Chá de cadeira

O empresário Alexandre Accioly virou um "sem-blindagem". Explica-se: ele mandou blindar um de seus carros, uma minivan Chrysler [foto] na empresa Cart, de SP, por R$ 70 mil. Depois de 50 dias, foi buscar o carro. "Ele estava intocado, num canto, todo empoeirado. É muita picaretagem", diz.

Guigo Fausto, dono da empresa, rebate: "Eu avisei ao funcionário dele que a blindagem demoraria uns 100 dias".

Accioly se diz inconformado: "Gente, já blindei mais de dez carros, até Porsche. Não comprei um carro zero para ficar parado 100 dias".


Yeda Crusius manda despejar mais um acampamento do MST


Cerca de 150 policiais da Brigada Militar e do Batalhão de Operações Especiais (BOE) estão neste momento (29/07) realizando o despejo de 70 famílias no município de Gramado dos Loureiros, na região Noroeste do RS.

Parte das famílias estão acampadas na faixa de domínio da RS-324 e outra parte em um assentamento do Movimento Sem-Terra (MST), no local. A reintegração de posse da faixa de domínio da rodovia foi pedida pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (DAER/RS). No entanto, a Brigada Militar afirma que irá despejar todo o acampamento, independentemente de parte dele estar em uma área particular, no caso o assentamento.

As famílias denunciam que esta é mais uma ação da Brigada Militar, determinada diretamente pelo Palácio Piratini, em tentar desmobilizar e criminalizar o MST. Desde que a governadora Yeda Crusius assumiu o poder, a Brigada Militar está em permanente ofensiva contra as famílias sem-terra. Ao mesmo tempo, o governo do Estado não tem nenhuma política para a reforma agrária no RS e nem mesmo para a agricultura familiar, disponibilizando recursos apenas para o agronegócio e para as papeleiras na Metade Sul.


“Perplexidade geral” no Rio Grande do Sul



Como dissemos ontem, aqui, no princípio era somente a bancada de Oposição à governadora tucana, alguns blogs e mais ninguém. Agora, aos poucos o coro dos que exigem transparência de Yeda Crusius aumenta com a recente inclusão de parte da mídia conservadora do centro do País.

Dias atrás, foi a revista Veja, hoje, é a Folha (acima) e a espevitada (e direitosa) jornalista Eliane Cantanhêde, que diz o seguinte, num trecho de seu artigo:

“É possível descrever a crise gaúcha num parágrafo: a fita do vice sobre corrupção; a queda de sete secretários (inclusive os principais, como o chefe da Casa Civil); a compra de uma casa entre a eleição e a posse, sem que a aritmética patrimonial feche; até o absurdo projeto de aumento do próprio salário em 143% em meio aos farelos. O salário era muito baixo? Era. Mas haja falta de senso de oportunidade! Com tantos flancos, a governadora não faz mais nada. Ora responde sobre desvios do Detran, ora sobre a queda dos secretários, e sempre sobre a história da casa comprada na hora errada, de forma errada. O resultado é a aprovação em queda livre e uma perplexidade geral. E a economia? A administração?”

Daqui a pouco, só restará a RBS batendo o bumbo dos contentes.

Ilustração: Hupper

Alvo principal são as crianças


Propaganda estimula consumo de alimentação-lixo

Uma pesquisa realizada pelo departamento de nutrição da Universidade de Brasília (UnB) constatou que 72% das propagandas de alimentos veiculam mensagens para o consumo de produtos que fazem mal para a saúde. A maioria dos produtos contém altos teores de gordura, açúcar e sal.

As cinco categorias de produtos mais veiculadas que causam mal para a saúde são os fast food; guloseimas e sorvetes; refrigerantes e sucos artificiais; salgadinhos de pacote; biscoitos e bolo. Esses alimentos contribuem para o aumento de doenças crônicas, como obesidade, hipertensão e diabetes.

A pesquisa ainda revelou que entre canais de televisão abertos e fechados, 44% do total de propagandas de alimentos é direcionado para as crianças. Em entrevista à
Radioagência NP, o presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Científico, Wilson Bueno, afirma que seria necessária uma restrição a essas propagandas, já que as publicidades com artistas induzem as crianças ao consumo não saudável.

Como você avalia as propagandas sobre alimentos no Brasil?

Temos um problema sério. A propaganda de alimento, sobretudo aquela voltada para o público infantil, tem realmente um efeito danoso. Não adianta as indústrias e muitas vezes as agências negarem. Falar que as crianças e as pessoas têm condições, elas próprias, de decidir o que é bom ou é ruim. Ou que não há esse tipo de influência, no sentido de conduzir a uma má nutrição, obesidade, aumento de colesterol, porque a propaganda é feita e é paga para funcionar. E se ela funciona, o efeito que causa é o de conduzir as pessoas, em particular as crianças, para a péssima alimentação.

As propagandas devem sofrer restrições?

Sim. Deve ter restrições, como no caso do tabaco. Devem existir restrições às bebidas e às propagandas de medicamentos em geral. Não dá para acreditar na auto-regulação. Não devemos deixar esse tipo de coisa nas mãos das entidades que representam as empresas - agências e os anunciantes - porque certamente eles trabalharão em causa própria.

Existem políticas públicas voltadas para uma boa alimentação? O que pode ser feito?

Não. Mas existem as pesquisas e um trabalho que está sendo muito condenado, mas na maior parte das vezes é bem feito é o da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], no sentido de indicar, sobretudo, para a propaganda de alimento, de bebidas e de medicamentos, abusos inaceitáveis que influenciam a postura e comportamentos dos cidadãos. Institutos como o Idec [Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor] e o Instituto Ethos poderiam trabalhar de maneira que não seja truculenta, formas de discutir e restringir tais práticas. Não é possível deixar celebridades e artistas de televisão, em programas de horário infantil, induzir as crianças ao consumo não saudável.

Como você avalia o hábito alimentar do brasileiro?

Muito ruim. Certamente não só influenciado pela propaganda, mas por uma educação que não contempla esse tipo de informação nas escolas. Tem o problema da falta de vigilância nas escolas com o uso de produtos não saudáveis, como por exemplo, nas cantinas. E há um papel não assumido de maneira adequada pela escola, pela família e pela sociedade como um todo.

É saudável o consumo de alimentos transgênicos?

Devemos ter precaução. Devemos exigir rotulagem dos transgênicos. Eu tenho direito de escolha de consumir ou não o transgênico. Esse direito não pode ser negado. Há esforço e um lobby poderoso de empresas de biotecnologia, no sentido de fazer com que a gente substitua culturas tradicionais que são importantes, sobretudo no caso do Brasil. Essa mudança para os transgênicos nos leva a uma perigosa dependência tecnológica, no caso específico das sementes de soja ou de algodão. Acho que falta discussão e observação de pesquisas que mostram os impactos ambientais e problemas que esses produtos causam para a saúde humana. Devemos ficar atentos, porque há interesses econômicos.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

O importante é que a própria direita também peça explicações à governadora Yeda


Passaram-se vinte meses e a dona Yeda Crusius ainda não explicou à população sobre como adquiriu o imóvel (foto) no qual está morando. Está difícil!

Mesmo tendo contratado um advogado exclusivamente para explicar a nebulosa transação imobiliária – o que já é curioso, convenhamos, precisar de um advogado para esclarecer uma compra pessoal, daqui a pouco Sua Excelência vai ter que contratar outro advogado para explicar as mais prosaicas compras de consumo – a governadora continua mantendo suspense sobre a casa.

O fato é que até o PIG já está suspeitando da aquisição da governadora. Até agora, quem cobrava explicações e esclarecimentos eram os deputados de Oposição, alguns blogs e ficamos por aí.

Mas desde sábado, a revista Veja (blearghhh... perdão!), e outros militantes do PIG têm se associado ao coro público dos que cobram da governadora tucana uma explicação definitiva sobre o caso.

Aliás, a denúncia da Veja não tem grande valor em si, pois falta a assinatura do tal Laranja, ex-dono da bendita casa, no documento. O que adquire enorme importância é o fato de uma revista de direita, do grupo Abril, do PIG, vir a reboque e também cobrar explicações da governadora Yeda bebê-japonês Crusius.

Este é o novo busílis de dona Yedinha.


O campo não pode ser monopólio de um único modelo de desenvolvimento, o do agronegócio


A disputa pela terra no Brasil hoje não é mais contra o latifúndio improdutivo, mas sim contra o agronegócio. A afirmação é do geógrafo, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Presidente Prudente, e especialista em reforma agrária, Bernardo Mançano.

Para ele, de agora em diante, haverá uma grande disputa entre agronegócio e a agricultura familiar pela expansão de suas áreas. Hoje, segundo Mançano, 70% das terras agricultáveis pertencem às grandes empresas agrícolas - algumas multinacionais - e 30% dos pequenos agricultores.

“Então, o que teremos de agora em diante no País é uma disputa ferrenha por terra para poder produzir e viver. As lutas por terras serão muito mais importantes do que as greves”, prevê o professor. “Essa é a questão que está sendo colocada: o campo no Brasil não pode ser monopólio de um único modelo de desenvolvimento. Tem que ser diverso”, observa.

De acordo com Mançano, antes os movimentos sociais lutavam contra as grandes áreas improdutivas e agora é briga é contra a altíssima produtividade. Ele argumenta que uma empresa transnacional instalada em um pequeno município deve ocupar uma grande área e ter altos ganhos de rendimento. Mas isso não resultará em progresso e desenvolvimento para esse município, ao contrário. "Toda a produção, bem como a renda desse negócio, irá para outras regiões ou para fora do País".

“O que temos hoje é uma situação de miséria extrema dentro do próprio País, enquanto as empresas transnacionais, o capital internacional, estão produzindo riqueza e desenvolvendo em seus territórios [propriedades]”, afirmou.

Com isso, na visão do professor, a tendência é que as pessoas “excluídas” passem a lutar contra o agronegócio. “O que está acontecendo hoje é que a disputa territorial da terra não é somente contra o latifúndio. Na maior parte das regiões do País, essa luta já é contra o agronegócio”, afirmou Mançano. “Não mudou o foco [da luta pela reforma agrária], o que mudou foi o personagem”, completou Mançano. A informação é da Agência Brasil.


Cabeça de jornalista


Deu no blog do Nassif:


O enigma MST

Confesso que o MST (Movimento dos Sem-Terra) ainda é uma incógnita para mim.

No ano passado estive em sua sede, na via Dutra, para falar sobre meu livro “Os Cabeças de Planilha”. É surpreendente. Militantes do Brasil inteiro por lá, uma cultura mstiana sendo formada, os prédios construídos por eles próprios, uma ânsia de aprender. Me lembra o pouco o que me relatavam amigos judeus sobre as primeiras colônias comunitárias de Israel.

No início, o MST foi acusado de estimular a adesão às invasões prometendo posses de terra. Mas hoje o que se vê é uma comunidade organizada em nível nacional, com valores políticos e culturais próprios, uma identidade que vai se tornando mais nítida, à medida que se afasta a sombra de José Rainha e se consolida a liderança de João Pedro Stédile. Existe uma música do MST, um modo de ser do MST, enfim os ingredientes fundamentais que consolidam uma estrutura e lhe permite expandir-se sem se descaracterizar.

Hoje [ontem, domingo] o Estadão traz um bom material sobre a universidade do MST, sem preconceito, bastante informativa.

E aí dá o nó. Quem monta uma Escola Latino-Americana de Agroecologia e Escola Nacional Florestan Fernandes, que ministram cursos de especialização de nível superior, tem um projeto mais amplo do que ficar invadindo fazendas e ferrovias. Presume-se que tais escolas visem criar uma capacitação para atuar na economia – não na guerrilha.

Por outro lado, é nítida a extração marxista, passada especialmente pela liderança maior, Stédile, sujeito articulado, com idéias claras sobre economia, assim como as ações espetaculosas que chamam a atenção para o movimento, mas provocam resistências variadas.

Não tenho claro para mim qual o objetivo final do MST. Montar uma capacitação que lhe permita desenvolver um modelo de economia comunitária, como alternativa para o agronegócio e para a agricultura familiar, para depois dar o salto? E qual seria esse salto: transformar-se em um partido político? Ampliar o nível de confronto? Fortalecer o tal modelo bolivariano de Chávez (um dos apoiadores do movimento), que ainda não se sabe bem o que é?

O MST ainda é uma incógnita. Mas não dá para enquadrá-lo em visões simplificadoras.

..........

Tenho um grande respeito pelo Nassif. Mas neste comentário sobre o MST, ele deixa vazar o seu lado de jornalista positivista, de quem precisa de qualquer maneira simplificar as coisas para que sejam palatáveis ao senso comum, leitor de jornal. Se a coisa não pode ser resumida e explicada conforme padrões mentais consagrados, logo ela é carimbada de enigmática.

O MST não é nenhum enigma, é um movimento social – hoje nacional – que rompe com a política tradicional e institucional praticada na nossa democracia formal. Como movimento que é, ainda está no vir-a-ser do processo social e político, por isso, muitos não conseguem analisá-lo com os velhos instrumentos teóricos de que dispõem.


domingo, 27 de julho de 2008

O dólar baixo e o "ócio criativo" da classe média


Allan Sieber

O ato de escrever


A escritora Marguerite Duras reflete sobre o ato de escrever numa pequena obra de pouco mais de cem páginas, chamada Escrever. Dois trechinhos:

“Creio que é isso que eu censuro aos livros em geral: o facto de não serem livres. Vêmo-lo através da escrita: são fabricados, são organizados, regulamentados, poderíamos dizer, conformes. Uma função de revisão que o escritor tem muitas vezes em relação a si próprio.

O escritor, então, torna-se no seu próprio chui [policial].

Quero dizer com isso a procura da boa forma, quer dizer, da forma mais corrente, mais clara e mais inofensiva.

Há ainda gerações de mortos que fazem livros pudicos. Mesmo os jovens: livros encantadores, sem qualquer prolongamento, sem noite. Sem silêncio.

Por outras palavras: sem verdadeiro autor. Livros diurnos, de passatempo, de viagem.

Mas não livros que se incrustem no pensamento e que digam o luto negro de todas as vidas, o lugar-comum de todos os pensamentos.” (p.35)

“O insulto é tão forte como a escrita. É uma escrita, mas dirigida. Insultei pessoas nos meus artigos e é tão satisfatório como escrever um belo poema.” (p.38)

Marguerite Duras, Escrever, Editora Difel, 2001. Tradução de Vanda Anastácio. Esta obra infelizmente não foi editada no Brasil, ainda. A editora brasileira CosacNaify está lançando duas outras obras de Duras.

Marguerite Duras (foto de Robert Doisneau) nasceu em 1914 no Vietnã e se mudou para a França em 1932. Em 1943, publicou seu primeiro livro – Les impudents – já com o pseudônimo de Marguerite Duras. Participou da Resistência Francesa na Segunda Guerra, foi membro do Partido Comunista até 1950 e participou ativamente do movimento de Maio de 68. Duras desenvolveu inúmeras obras, em diversos meios de expressão – cinema, teatro, artigos para a imprensa, romances e contos. Morreu em março de 1996, em Paris.

sábado, 26 de julho de 2008

Sábado


Porque

Porque os outros se mascaram e tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos calados
Onde germina calada podridão
Porque os outros se calam mas tu não

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo
Porque os outros são hábeis mas tu não

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004), nasceu em Portugal

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Por que mesmo a Toyota rejeitou o Rio Grande do Sul?


Não está bem contada a história da possível vinda para o RS da montadora japonesa Toyota, agora a maior indústria automobilística do mundo.

Na campanha eleitoral de 2006, a então candidata Yeda Crusius (PSDB) prometia todos os esforços para que a montadora se instalasse em Guaíba, e com isso dando um tapa de luva no seu principal concorrente, Olívio Dutra (PT), face ao rumoroso caso Ford.

Hoje em ZH, o Chefe da Casa Civil do governo Germano Rigotto, o deputado estadual Alberto Oliveira (PMDB) critica o que chama de "tímidas ou quase inexistentes ações do governo para demonstrar a vontade de trazer uma fábrica da Toyota para o Rio Grande do Sul”.

- Qual foi o momento em que o governo apresentou um gesto público concreto para dizer "nós queremos"? - indaga o deputado Oliveira, que é aliado da governadora Yeda e por isso insuspeito ao formular as questões referidas.

De outro lado, ainda nesta semana, a governadora tucana andou dizendo que a opção dos japoneses por São Paulo deve-se a uma preferência pessoal do presidente Lula pelo governador José Serra. Uma explicação tola.

Quando o deputado Nelson Proença (PPS), também aliado do governo estadual, abandonou a secretaria que ocupou por alguns meses, ele justificou a sua posição com alegações obscuras, à época. Ele chegou a mencionar sobre dificuldades em trazer investimentos importantes para o Estado. Hoje, essas declarações de Proença passam a ter melhor sentido. Mas ainda são insuficientes para se entender o cenário todo.

Como está tudo muito confuso, eu quero sugerir ao jornal Zero Hora (já que visitam com tanta assiduidade este modesto blog) que paute o tema para uma reportagem completa sobre o rechaço da Toyota ao Rio Grande do Sul.

Assim como o jornalismo da RBS foi tão cioso ao divulgar os motivos da ida da Ford para a Bahia, por meses a fio, pode muito bem fazer o mesmo agora com relação à montadora Toyota.

Afinal, os gaúchos – como gosta de proclamar a RBS – tem ou não o direito de saberem tudo sobre a rejeição da Toyota ao RS?

Mais: a rejeição é ao Estado e seu povo, ou ao governo Yeda Crusius?

Estamos aguardando a “reportagem investigativa” de ZH. Mal posso esperar.


É alarmante!


Medida do Banco Central faz os banqueiros abocanharem R$ 30 bilhões

Os três últimos aumentos da taxa básica de juros (Selic) resultarão em mais de R$ 30 bilhões de juros pagos pela sociedade ao sistema financeiro, por meio de impostos e contribuições. A estimativa foi feita pelo economista e professor das Faculdades Rio Branco Carlos Stempniewisk. A informação é da Agência Brasil.

O professor disse que esse valor corresponde a quase todo o orçamento da Saúde do ano e a cerca de 10 vezes o que o governo gastou no ano passado com infra-estrutura.

Stempniewisk explicou que, para cada aumento de meio ponto percentual na Selic, os juros pagos pelo governo ao sistema financeiro somam R$ 10 bilhões. Isso acontece porque o governo remunera seus títulos pela Selic.

Na quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, anunciou o terceiro aumento do ano da Selic, que passou a ser de 13% ao ano. A alta foi de 0,75 ponto percentual – os aumentos anteriores foram de meio ponto percentual.

Um dos efeitos do aumento dos juros básicos é a redução dos investimentos, o que leva à queda nos níveis de emprego e renda e acaba fazendo com que a população compre menos. Outro efeito é no crédito, uma vez que, com os juros mais altos, é mais atrativo para os bancos fazer aplicações em títulos do governo do que emprestar dinheiro.

Mesmo com o maior rigor do Banco Central, o professor Stempniewisk não acredita que a inflação vá ceder até o final deste ano. Ele lembrou que a inflação no país é influenciada pela alta dos preços dos alimentos no mundo e das commodities, como o aço.

Foto: presidente do Banco Central, o militante tucano Henrique Meirelles.


A raposa gerencia o galinheiro


A Halliburton é quem manda na Agência Nacional do Petróleo

Importantes fontes revelaram à AEPET [Associação dos Engenheiros da Petrobras] que a multinacional norte-americana Halliburton, através da sua subsidiária no Brasil, Landmark Digital and Consulting Solutions, está administrando o Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP), da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), sem ter passado por processo licitatório. E mais: as fontes informaram, ainda, que tiveram acesso ao parecer da Procuradoria Geral da República (PROGE), emitido em 2004, no qual exige que serviços prestados no BDEP sejam feitos mediante licitação. Mas, incrivelmente, a ANP até hoje não cumpriu a determinação da PROGE.

A Landmark recebe e tem acesso a todos os dados estratégicos de exploração e produção da Petrobras, além de receber R$ 600 mil por mês. A Halliburton administra o BDEP há 10 anos.

Lembramos que a Halliburton [integrante do temível complexo industrial-militar dos EUA], que já foi presidida pelo vice-presidente norte-americano Dick Cheney, atua no Brasil há mais de 40 anos e recentemente colocou um diretor de sua subsidiária em Angola [Nelson Narciso] na direção da Agência Reguladora, para gerenciar os leilões e o BDEP.

Recentemente, Nelson Narciso trouxe para sua diretoria a SDB - Superintendência de Definição de Blocos, que vão a leilão.

Ou seja, a Halliburton é quem manda na ANP, sendo responsável pela principais áreas de atuação da Agência Reguladora. A raposa está ditando as regras do galinheiro e parece que as nossas autoridades estão cegas diante de tal gravidade, que precisa ser corrigida o quanto antes. A sociedade brasileira precisa ficar de olho vivo e agir contra tais ilegalidades.

Especialistas dão conta de que esse tipo de atividade [administração do BDEP] só existe no Brasil, assim como a jabuticaba.

Nessa história toda, vemos que o diretor-geral da ANP, Haroldo Lima [indicado ao cargo pelo PCdoB, uma vez que é dirigente nacional da sigla], não passa de uma simples “Rainha da Inglaterra” e “garoto propaganda” da entrega das áreas petrolíferas nos leilões, enquanto a Landmark [Halliburton] é paga para acessar dados altamente estratégicos, resultado de décadas de pesquisas realizadas pela Petrobras, que foi constrangida a cedê-los com o advento da Lei 9478/97.

A Halliburton, principal articuladora da invasão ao Iraque, tem executado uma série de atividades de bilhões de dólares, sem licitações. A Halliburton é o principal membro da corporatocracia norte-americana, que junto com CIA, Sistema Financeiro e outras corporações exploram os recursos dos países em desenvolvimento.

A informação está no portal da Associação dos Engenheiros da Petrobras – AEPET (aqui).


quinta-feira, 24 de julho de 2008

A conspiração dos juros altos




Banco Central dá cavalo-de-pau em transatlântico

O governo do presidente Lula faz um esforço danado para retomar o crescimento do País – que está estagnado há quase três décadas –, investe no PAC, quer nomear um ministro-gerentão para os programas da área social, e dá mostras efetivas de que está empenhado em um novo ciclo virtuoso de desenvolvimento, mesmo que não seja um crescimento sustentável e economicamente justo (mas isto é outro assunto).

Entrementes, o Banco Central faz esse verdadeiro cavalo-de-pau em transatlântico, ao elevar os juros de forma a conspirar contra tudo aquilo que representa vencer uma estagnação que só beneficiou o capital financeiro, os rentistas e especuladores de sempre.

Quando Lula estava prestes a vencer as primeiras eleições, em 2002, foi muito criticado exatamente por essa metáfora da manobra brusca no transatlântico. Sempre conciliador, Lula não fez nada disso que os eternos alarmistas da direita apregoavam.

Pois bem, e agora? Quem faz malabares de risco com a economia brasileira, em nome de conter o velho dragão inflacionário?

Os malabaristas do risco são os de sempre, os que não querem trabalhar e vivem de rendas auferidas por meios suspeitos e impublicáveis.

Foi noticiado semana passada, que a cidade de São Paulo ultrapassou Tóquio e Nova York no número de helicópteros que a utilizam como base de operações.

Dois fenômenos básicos contribuem para esse “milagre dos emergentes brasileiros”: o processo selvagem e desenfreado das privatizações no governo FHC, e as gordas vantagens comparativas amealhadas pelo capital financeiro nestes trinta anos de estagnação econômica.

A novíssima classe dos altos estratos neo-oligarcas do Brasil aspiram precisamente o que está ocorrendo no País:

a) tolerância jurídica e policial para as suas operações heterodoxas (o deputado tucano Raul Jungmann é o porta-voz destes insopitáveis anseios de classe, hoje);

b) um Banco Central independente que seja instrumento ativo (e agressivo) de política monetária em favor da hegemonia do capital financeiro e seus satélites;

c) uma mídia combativa e militante que sustente um discurso de justificação ideológica no sentido de provocar alarmes continuados de que o combate à inflação é o grande dever patriótico do momento.

O Banco Central do Brasil ontem provou que é um território liberado do capital financeiro internacional, encravado no coração da República do Brasil.

Ninguém pode com o Banco Central, nem Lula.


Polícia militar de Yeda ultrapassa os limites legais


O comando da Brigada Militar do Rio Grande do Sul está com novo procedimento de responsabilização criminal dos movimentos sociais no Estado. Hoje, na marcha que o MST faz, de Nova Santa Rita até Porto Alegre, a polícia militar do governo Yeda Crusius (PSDB) procurou identificar previamente a liderança dos manifestantes.

No caso, está registrado como responsável a líder Marilúcia da Silva. Qualquer incidente que a polícia yedista considerar como abalo da ordem, desacato à autoridade, desordem na via pública, depredação, invasão, atentado ao patrimônio, etc., a responsabilidade recairá – segundo a PM – sobre a referida trabalhadora rural.

A medida – de plano – exorbita do papel legal reservado às polícias militares no Brasil. A polícia militar do Rio Grande do Sul está fazendo uma leitura dos códigos para além dos limites constitucionais previstos à corporação. Trata-se flagrantemente de um abuso de autoridade e do exercício arbitrário do poder policial.


Brigada espanca quem canta hino do Grêmio


Recebo direto do jornalista Wanderley Soares, velho especialista em questões de segurança pública:

É tênue a diferença entre a força de uma interjeição e o poder de um cassetete

Durante alguns anos, a Brigada Militar [RS], ainda confusa entre os rituais da caserna e os costumes dos paisanos, considerava a cara feia como um ato de desacato que poderia se agravar com a tentativa de um cidadão de trocar idéias com um PM. Isso chegou a criar impasses traumáticos, pois entre a interjeição de um paisano e o cassetete de um PM, o desacatado era sempre o PM. Isso mudou? Sim, mudou. Viagens, congressos, conferências, seminários, experiências trágicas nas ruas e o avanço das técnicas de ensino da Academia de Polícia Militar fragilizaram a idéia de que o homem fardado é superior ao homem à paisana.

Trata-se de um processo civilizatório de progressão irreversível num sistema democrático. Este processo está em andamento, pois, com alguma freqüência, surgem episódios em que o verbo do paisano é interpretado como desacato ao cassetete do policial.

Dentro desta moldura, a Brigada Militar deverá explicar – e bem – um episódio ocorrido sábado último, dia 19, quando um grupo de adolescentes foi arrancado de um coletivo, por cerca de 12 PMs, em frente ao 19º BPM, a golpes de cassetete. A primeira versão sobre isso é de que um PM, que se encontrava no coletivo, não gostou que a gurizada estivesse cantando o Hino do Grêmio. A segunda versão é oficial: uma investigação rigorosa está sendo realizada.

Inclino-me a crer que o cassetete será o vencedor.

Marcha do MST sofre revista policial


Neste momento, cerca de 9:50h, a marcha do MST está paralisada na avenida A. J. Renner, paralela à avenida Farrapos, na entrada Norte de Porto Alegre.

Cerca de 50 brigadianos, entre BOE, POE e o grupo de Choque, fizeram uma espécie de corredor polonês e estão revistando individualmente cada manifestante, como na entrada de estádios de futebol. As operações estão sendo comandadas pelo tenente-coronel Bondan, conhecido por seguir a “escola” do coronel Mendes e por suas “diversões” em espancar camelôs no Centro de Porto Alegre.

São identificados também muitos brigadianos sem-farda, certamente a serviço da PM-2, que tiram fotografias, e fazem registros de imagens em câmeras digitais de alta definição, para posterior análise e relatório ao serviço de inteligência dos órgãos estaduais de segurança.

Praticamente todos os órgãos de imprensa de Porto Alegre estão no local, tevês, rádios e jornais.

Depois da revista policial, a marcha do MST deve seguir pela A. J. Renner, Farrapos, Largo da Rodoviária, Mauá, Borges de Medeiros e avenida Loureiro da Silva, na sede do Incra.

Às 13h, os manifestantes do MST têm uma audiência pública com a direção regional do Incra. Em dezembro do ano passado, o Incra assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) no Ministério Público Federal, comprometendo-se em assentar mil famílias até abril deste ano, e outras mil famílias até o final do ano. Menos de 40 famílias foram assentadas no período do acordo.

Os 800 manifestantes do MST querem saber dos prazos do compromisso, até o momento, descumpridos pelo governo federal.

Diversão e boas fotos!


Diálogo ouvido há poucos minutos na marcha dos Sem-Terra, próximo à ponte do rio Gravataí, na divisa dos municípios de Canoas e Porto Alegre:

- O que quer esse pessoal do MST?

- Eles vão invadir o Incra, em Porto Alegre.

- Por enquanto, tudo calmo?

- Sim, mas hoje teremos diversão e boas fotos!

O perguntador estava a bordo de um veículo do popularesco Diário Gaúcho, da RBS, e foi identificado como o fotógrafo Ronaldo Bernardi, vulgo Fotonaldo. O respondedor é o oficial da Brigada que comanda as operações de tutela da marcha, hoje, sob a responsabilidade do 9º BPM.


Governo Yeda reage contra novo piso do magistério brasileiro


O governo Yeda Crusius (PSDB) mostra-se inconformado com o novo piso salarial para o magistério brasileiro. Manifestando um reacionarismo cerebral e convicto, a secretária estadual de Educação, Mariza Abreu, se atreve a dizer que “a lei é inviável não só para o Estado, mas para o Brasil”.

Agora o tucanato guasca, não satisfeito em des-governar o Rio Grande, ousa querer interditar políticas públicas do próprio governo federal.

Do fundo cavo de sua mediocridade, a patusca secretária continua reduzindo o tema e manipulando planilhas, sem conseguir enxergar a educação em sua totalidade, como grande alavanca de apropriação de conhecimentos, nivelamento social e autonomia dos indivíduos.

É acompanhada pelo jornal ZH, que lhe dá audiência. Hoje, o jornal da Azenha empresta um tom de escândalo ao fato de que 138 mil professores da rede estadual terão aumento de vencimentos, com a nova lei federal.

Imaginem, 138 mil terão aumento! É inviável! – protesta a tucana Mariza Abreu. E ameaça recorrer ao Judiciário para impedir a vigência do novo piso salarial de R$ 950. Chama o xerife de toga, Gilmar Mendes, secretária!

O fato é que essa nova lei federal que beneficia o magistério em particular e a educação como um todo, está deixando a direita nua em pelo. A direita sempre apoiou retoricamente a promoção da educação, entretanto, nos seus governos ela nunca foi prioridade, haja vista, o caos da educação pública de São Paulo e do Rio Grande do Sul, dois redutos tucanos.

A revolta do governo Yeda tem, pois, muito mais um sentido de protesto político contra novos direitos dos trabalhadores brasileiros em educação, do que apenas uma preocupação (ainda que cínica) com a escassez de recursos públicos para saldar compromissos.

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É hilária a manifestação da governadora Yeda Crusius relativamente à opção da montadora Toyota de instalar-se no município paulista de Sorocaba, ela que na campanha eleitoral havia prometido trazer os japoneses para o Estado. Yeda atribui o fato a uma preferência do presidente Lula por José Serra. Notável!

Sobre a vontade mesmo dos japoneses ela não falou, nem sobre o caos administrativo do seu governo que espanta qualquer investidor responsável.


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