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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A economia dos instintos no romantismo


Deve-se perdoar os nossos inimigos, mas...

“Minha disposição é a mais pacífica. Os meus desejos são: uma humilde cabana com um teto de palha, mas boa cama, boa comida, o leite e a manteiga mais frescos, flores em minha janela e algumas belas árvores em frente à minha porta; e, se Deus quiser tornar completa a minha felicidade, me concederá a alegria de ver seis ou sete de meus inimigos enforcados nessas árvores. Antes da morte deles, eu, tocado em meu coração, lhes perdoarei todo o mal que em vida me fizeram. Deve-se, é verdade, perdoar os inimigos – mas não antes de terem sido enforcados”. [In Gedanken und Einfälle].

O autor da ironia corrosiva foi o escritor e poeta alemão Heirich Heine (1797-1856). Freud cita esse trecho da obra de Heine em O mal-estar na civilização (1929), para enfatizar o permanente conflito humano entre as exigências do instinto (a nossa porção Natureza) e as restrições da civilização (a nossa porção Cultura).

O poeta romântico foi um duro crítico da religião (que agora está na moda, com inúmeros autores se dedicando a escrever sobre o tema).

A famosa expressão que qualifica a religião como “ópio do povo", usado por Karl Marx na Crítica da filosofia hegeliana do Direito (1844), foi inspirada numa obra de Heine de 1840, onde ele - como sempre - ironizava:

“Bendita seja uma religião, que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e soporíferas gotas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança”. [Esta frase eu pesquei da Wikipédia.]

2 comentários:

Katarina Peixoto disse...

Heine é luxo, Heine é glória, Heine é furioso, Heine é poderoso. Bravo.

Nelio disse...

Heine é demais, ele é um (bom) demônio. A citação extraída da wikipédia está no escrito Über Ludwig Börne [Sobre Ludwig Börne] e pode ser conferida (em alemão) nas obras online de Heine do Projeto Gutenberg aqui: http://gutenberg.spiegel.de/?id=12&xid=5279&kapitel=4&cHash=a640dc8a252:
"Heil einer Religion, die dem leidenden Menschengeschlecht in den bittern Kelch einige süße, einschläfernde Tropfen goß, geistiges Opium, einige Tropfen Liebe, Hoffnung und Glauben!"

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