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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

quinta-feira, 29 de novembro de 2007


41% da televisão privada é garantido por dinheiro público

Esta informação você jamais verá na chamada "mídia democrática" brasileira. Uma pesquisa recente do Instituto de Estudos e Pesquisas em Comunicação (Epcom) mostrou que 1.604 prefeituras municipais de vários Estados brasileiros detêm outorga de retransmissão de canais de TV privados. A informação é da Agência Pulsar Brasil.

Ao todo, estas prefeituras detêm 3.270 retransmissoras, das quais 95% estão conectadas às empresas privadas de mídia televisiva do País, especialmente a TV Globo. As retransmissoras são estações de TV de abrangência local que reproduzem a programação das grandes empresas nacionais de mídia. Na prática, o que ocorre com isso é que os poderes públicos municipais estão usando infra-estrutura e dinheiro da sociedade para uma atividade empresarial privada.

Alguns exemplos encontrados pela pesquisa mostram como as grandes cadeias de mídia dependem das prefeituras para chegar ao país inteiro. Globo, Record, Bandeirantes, SBT e Rede TV! têm 41% em média de sua abrangência nacional garantidos por esta estrutura pública. A pesquisa fez uma comparação com as empresas públicas de comunicação. A TV Cultura de São Paulo e a Radiobrás têm 10% de sua abrangência nacional garantidos por prefeituras.

Para James Göergen, da Epcom, trata-se de uma situação de “exploração semi-privada das estruturas públicas”.

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Isto é um verdadeiro escândalo nacional. As empresas privadas de televisão conseguem aumentar em 41% da sua audiência graças a recursos públicos pingados de uma rede de retransmissoras bancadas por prefeituras municipais no Brasil todo. A farra do circo privado é bancado pelo dinheiro público. O lixo televisivo é financiado parcialmente pelo recurso desviado da saúde, da educação, e do saneamento básico das populações mais desassistidas do Brasil profundo.

A democracia substantiva e horizontal no Brasil jamais será possível com um quadro injusto e desigual desses. Fica demonstrado o arcaísmo pré-republicano das relações entre Estado e meios de comunicação de massas, onde estes, mesmo proclamando-se modernos e up to date tecnologicamente, ainda usam infra-estrutura de instâncias paupérrimas do Estado, que são as prefeituras municipais de localidades remotas do País. O presidente Lula já está há quase cinco anos no poder e ainda não moveu uma só palha para modificar esse quadro aberrante e atrasado.


Crônica de Luís Fernando Veríssimo

Guerra de fronteira

As fronteiras ideológicas da Guerra Fria atravessavam países e continentes, separando o "mundo livre" do outro e dos simpatizantes do outro. A não ser que visitasse um país comunista ou freqüentasse algum "aparelho", você nunca as cruzava. Sequer as via. Independentemente das suas simpatias ou eventuais rebeldias, vivia dentro de um perímetro comum bem definido. Com o fim da Guerra Fria, as fronteiras ideológicas desapareceram e nos vimos dentro de outra macrogeografia, a das fronteiras econômicas. Estas são visíveis demais. Separam bairros, dividem ruas, são fluidas e ondulantes - e no Brasil você as cruza todos os dias. Mais de uma vez por dia você passa por flóridas, suíças, bangladeshes, algumas bolívias... E em cada sinal de trânsito que pára, está na Somália.

É impossível proteger estas fronteiras como se protegiam as outras. A grande questão do novo século é como defender seu perímetro pessoal da miséria impaciente e predadora à sua volta. Os americanos não podem ajudar desta vez, a fronteira maluca ziguezagueia dentro dos Estados Unidos também. No Brasil da criminalidade crescente e da bandidagem organizada, as fronteiras econômicas são, cada vez mais, barricadas e terras de ninguém. No fim é uma guerra de contenção, de proteção de perímetros. E os excessos cometidos são defendidos com a velha frase, que foi o adágio definidor do século 20 e ganha força no século 21: os fins justificam as barbaridades. As chacinas de lado a lado, o poder de pequenos tiranos com ou sem uniforme de aterrorizarem o cotidiano de todo o mundo, tudo é permitido porque é uma luta de barreira, onde se repelem ou se forçam tomadas de território, como em qualquer fronteira deflagrada. Cara a cara, nação contra nação.

Há um sentimento generalizado, mesmo que não seja dito, que a maior parte da população do mundo é lixo. Excrescência irrecuperável, condenada a jamais ser outra coisa. Esta não é certamente uma constatação nova e nem qualquer utopista ultrapassado chegou a pensar que o contrário era completamente viável. A novidade é que hoje se admite pensar o mundo a partir dela. Já se pode dormir com ela. A ordem econômica mundial está baseada na inevitabilidade de a maior parte do planeta ser habitada por lixo irreciclável. Ser "politicamente correto" hoje é dizer o que ninguém mais realmente pensa - sobre raças, sobre os pobres, sobre consciência e compaixão - para não parecer insensível, mas com o entendimento tácito de que só se está preservando uma convenção, que a retórica dos bons sentimentos finalmente substituiu totalmente os bons sentimentos. É a intuição destes novos tempos sem remorso que move o entusiasmo crescente do público com a truculência policial na nossa guerra do dia-a-dia. Nem tem sentido discutir se as vítimas mereceram ou não. Não existe lixo inocente ou culpado. O que está no lixo é lixo. Demasia. Excesso. Excrescência.


O Botafogo e a estrela petista

Recebo mensagem de um carioca, botafoguense e petista, pela ordem, segundo diz. Ele diz também que está desanimado com o PT, tanto quanto com o seu Botafogo Futebol e Regatas. "Ambos estão remando no seco". Mesmo com o PED, Gilberto Castro diz que não sente "a vibração antiga do velho Partido dos Trabalhadores". Castro afirma que apóia os candidatos do Manifesto ao Partido, Cida Diogo, para presidência estadual, Denise Lobato, para municipal, e Zé Cardozo, para a direção nacional, no lugar do "oficialista e lesma-lerda Berzoini".

Mas o ponto que eu achei mais relevante, mencionado pelo Castro, é o de que ele nota que "não há debate partidário neste PED". E completa: "Não sinto nada que cheire a debate interno, os documentos não tocam na raiz do problema petista, e os poucos debates que aconteceram foram burocráticos, com discursos monocórdios e só para marcar posição". Gilberto Castro, conclui assim a sua simpática mensagem: "Vejo que no seu blog houve uma certa discussão sobre o PED, e aqui no Rio nem isso, eu mandei inúmeras mensagens para companheiros blogueiros, mas eles não publicavam os meus comentários. Neste sentido, sinto que estamos encolhendo, e como você diz, prezado Feil, o PT marcha para ser um partido tradicional, daqueles com deputados gordos e com idéias de toucinho na cabeça. É profundamente lamentável essa situação, meu querido blogueiro do Sul".

E se despede: "Me despeço dizendo que vou acompanhá-lo no seu estimulante espaço de debate, e quero agradecer por ter falado dia desses do nosso inesquecível cariúcho João Saldanha, homem verdadeiro e ex-dirigente do meu queridíssimo Botafogo, o clube da estrela solitária, sentindo e lamentando que o nosso PT esteja ficando com a estrela tão desbotada como o meu Fogão, cuja estrela é branca, sem cor. Grande abraço, meu irmão, e como fala o nosso grande Olívio Dutra, boa luta!"

É isso, Gilberto Castro, boa luta para você, também. Volte sempre!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007


Desde que tenha o controle da emissão do dinheiro de uma Nação, não me interessa quem possa fazer as leis”.

Amstel Mayer Rothschild, banqueiro do século 18.

JFK contra o sistema financeiro

Há 44 anos era assassinado em Dallas, no Texas, o presidente democrata John Fitzgerald Kennedy. Foi no dia 22 de novembro de 1963 (última foto dele, minutos antes de uma bala acertar-lhe a cabeça). O caso até hoje continua nebuloso. Mas não há dúvida que foi uma conspiração, envolvendo altas e baixas esferas interessadas na eliminação do único presidente católico da história norte-americana. Kennedy descendia de uma família de origem irlandesa, católica, mas não por isso menos voraz na ânsia de enriquecer e fazer-se poderosa. As suspeitas de sua morte vão desde explicações oficiais simplórias, como a apontar o dedo para a URSS, via Cuba, passando pela máfia, pelo lobby judeu-sionista, pelo complexo industrial-militar, já que JFK estava decidido a por um fim na guerra do Vietnã, e finalmente pelos chamados banksters (bankers & gangsters). O texto abaixo mostra um pouco desta última hipótese, e os (fortes) motivos que o sistema financeiro teria para eliminar JFK.

A 4 de Junho de 1963, um decreto presidencial quase desconhecido, o Decreto Executivo 11.110, foi assinado com a autoridade para essencialmente retirar do Banco da Reserva Federal o seu poder para emprestar dinheiro ao governo federal dos Estados Unidos com juros. Com o golpe de uma caneta, o Presidente John F. Kennedy anunciou que o privado Banco da Reserva Federal estaria em breve fora do negócio.

A organização Christian Law Fellowship pesquisou exaustivamente este assunto através do Registro Federal e da Biblioteca do Congresso. Pode-se agora concluir com segurança que o Decreto Executivo 11.110 nunca foi anulado, emendado ou substituído por nenhum Decreto Executivo posterior. Por outras palavras, continua ainda válido.

Quando o Presidente John Fitzgerald Kennedy – o autor de «Profiles in Courage» [Perfis de Coragem] – assinou este Decreto, restituiu ao governo federal, especificamente ao Departamento do Tesouro, o poder constitucional de criar e emitir moeda – dinheiro – sem passar pelo Banco da Reserva Federal na posse de privados.

O Decreto Executivo do Presidente Kennedy, Ordem nº 11.110, deu ao Departamento do Tesouro a autoridade explícita para "emitir certificados de prata em troca de lingotes de prata, ou dólares em metal de prata ou ouro existentes no Tesouro". Isto significa que por cada onça (28,349 gramas) de prata existente nos cofres do Tesouro dos Estados Unidos, o governo podia introduzir dinheiro novo em circulação avalizado nos lingotes de prata que lá existiam fisicamente. Por isso, mais de 4 bilhões de dólares em Notas dos Estados Unidos foram postos em circulação com o valor facial de 2 e 5 dólares. Notas dos Estados Unidos de 5 e 10 dólares nunca entraram em circulação, mas estavam sendo impressas pelo Departamento do Tesouro quando Kennedy foi assassinado. Parece óbvio que o Presidente Kennedy sabia que as Notas da Reserva Federal que estavam sendo utilizadas, supostamente como moeda legal corrente, eram contrárias à Constituição dos Estados Unidos da América.

As Notas dos Estados Unidos foram emitidas como moeda livre de juros e livre de dívida (interest-free and debt-free) avalizadas pelas reservas de prata do Tesouro Americano. Comparamos uma Nota da Reserva Federal emitida pelo Banco Central privado dos Estados Unidos (o Banco da Reserva Federal, também conhecido como Sistema de Reserva Federal), com uma Nota dos Estados Unidos proveniente do Tesouro Americano emitida pela Ordem Executiva do Presidente Kennedy. Parecem quase iguais, só que uma diz "Nota da Reserva Federal"” no topo enquanto a outra diz "Nota dos Estados Unidos". Do mesmo modo, a Nota da Reserva Federal possui um selo verde e um número de série enquanto a Nota dos Estados Unidos tem um selo vermelho e um número de série.

O Presidente Kennedy foi assassinado a 22 de Novembro de 1963 e as Notas dos Estados Unidos que ele emitiu foram de imediato retiradas de circulação. As Notas da Reserva Federal continuaram a servir como moeda corrente da nação. Segundo os serviços secretos americanos, 99% de todo o papel-moeda que circulavam nos EUA em 1999 eram Notas da Reserva Federal.

Kennedy sabia que se as Notas dos Estados Unidos avalizadas por prata circulassem amplamente, teriam eliminado a procura das Notas da Reserva Federal. É apenas uma simples questão econômica. As Notas dos Estados Unidos eram avalizadas por prata e as Notas da Reserva Federal não eram suportadas por nada que tivesse algum valor intrínseco. O Decreto Executivo 11.110 teria evitado que a dívida nacional tivesse atingido o seu nível atual (praticamente toda a dívida federal, mais de 9 trilhões de dólares, foi criada desde 1963), se Lyndon B. Johnson e todos os Presidentes que lhe sucederam a tivessem aplicado. Teria permitido quase imediatamente ao governo americano reembolsar a sua dívida sem recorrer aos bancos privados da Reserva Federal e ser obrigado a pagar juros para criar "dinheiro" novo. O Decreto Executivo 11110 forneceu aos EUA o poder de, mais uma vez, criar o seu próprio dinheiro avalizado pela prata e com valor autêntico. [...]

Continue lendo aqui o texto de Anthony Wayne - Lawgiver.org (em inglês).

Desempregados ocupam prédio da Corlac em Porto Alegre

Cerca de 800 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) ocuparam hoje o prédio da Corlac em Porto Alegre. Esta ocupação é para denunciar à sociedade gaúcha que imóveis do governo estadual não cumprem sua função social, e reivindicar audiência imediata com a governadora Yeda para negociação sobre as propostas do MTD para combater o desemprego. Enquanto isso, os grupos de produção da organização seguem sem espaço e sem equipamentos para poder trabalhar. Também querem dialogar com a sociedade sobre a problemática do desemprego estrutural e a situação das famílias desempregadas que moram na periferia dos centros urbanos.

Os trabalhadores reivindicam que o Estado repasse aos trabalhadores esses espaços públicos para que as famílias possam trabalhar, gerando trabalho e renda. Márcia, da coordenação do MTD, afirma que grande parte dos imóveis que pertencem ao governo estadual estão abandonados, ao invés de estarem sob controle e utilização dos trabalhadores gaúchos.

"Queremos que a governadora, que é mulher, venha falar de igual com as mulheres do MTD, que sustentam seus filhos na periferia. O MTD hoje é formado, em mais de 90%, por mulheres de periferia. Não estamos desempregadas porque queremos, precisamos e queremos que o Estado nos atenda da mesma forma que atende aos grandes empresários", diz a coordenadora.

Nessa audiência, o MTD buscará sensibilizar a governadora para que libere recursos para a execução do Programa "Frentes Emergenciais de Trabalho" ainda em 2007, considerando que no Orçamento deste ano há R$ 2,5 milhões destinados às frentes. Porém, até o momento, nenhuma frente foi liberada.

As frentes de trabalho são uma conquista do MTD que vêm dando certo. Pelas frentes, os trabalhadores recebem qualificação técnica e uma ajuda de custo para se sustentar e comprar a matéria-prima para a confecção de produtos (pão, cucas, roupas e artesanato). No entanto, falta espaço para que os desempregados, organizados em grupo, possam trabalhar, bem como equipamentos e ferramentas.

Existem vários exemplos que comprovam a eficácia dessa política pública. Em Caxias do Sul, as frentes de trabalho já foram adotadas pela prefeitura municipal. "As frentes de trabalho que temos cumprem com o seu papel. No entanto, falta muito mais. Queremos trabalhar, mas precisamos de condições", diz Márcia.

“O Governo evita se reunir com os desempregados, forçando-os a fazer 16 ocupações e protestos por todo Estado, de abril a agosto, apenas para conseguir uma única reunião com o Secretário do Desenvolvimento Social, Fernando Schüller. Ele prometeu um projeto para 2008 e 2009, mas nossa fome tem pressa. Ele diz que o Estado não tem dinheiro. Mas a própria secretaria da Fazenda divulgou que o governo gastou R$ 173 milhões em 2007 criando mais vagas em prisões, valor que o MTD reivindica para se liberar Frentes de Trabalho em 2007 para 2 mil e 500 famílias já organizadas. Se investisse 2% dos gastos em Frentes de Trabalho, muitos problemas seriam evitados. Exigimos 2% do recurso das prisões em 2007 para combater o desemprego”, reivindica Márcia do MTD.


Nada está tão ruim que não possa piorar

O secretário da Justiça e Desenvolvimento Social, Fernando Schüller, e o secretário do Turismo, Esporte e Lazer, Luís Augusto Lara, realizaram ontem uma reunião-almoço para a apresentação do projeto das OSCIPS à bancada estadual do PTB (foto).

Esse projeto é um atentado ao patrimônio público e uma porta aberta à reedição dos atos criminosos como aqueles acontecidos por cinco anos seguidos no Detran/RS. Os mecanismos de controle e auditagem das OSCIPS não estão previstos no projeto que tramita na Assembléia. São objeto do projeto de lei, mais de trinta entidades públicas do Estado do Rio Grande do Sul, que ficam passíveis de serem administradas por interesses particulares sem qualquer compromisso público e social.

O projeto da OSCIPS evidencia duas coisas: 1) que o governo tucano de Yeda Crusius perdeu qualquer pudor de lotear parcelas do setor público à privataria de cupinchas e apaniguados; 2) que nada está tão ruim que não possa piorar.


Lula nomeia representantes para a TV Pública

O presidente Lula nomeou na última segunda-feira os quinze representantes da sociedade civil que farão parte do conselho curador da Empresa Brasileira de Comunicação, futura TV Pública. Entre os nomes, estão o ex-ministro da Economia, Delfim Netto, o ex-governador de São Paulo Cláudio Lembo, o cantor de rap MV Bill, a carnavalesca Rosa Magalhães e a militante Maria da Penha, que deu nome à lei que aumenta o rigor das punições em casos de violência doméstica.

O único representante da área da Comunicação é o consultor da Rede Globo, José Bonifácio de Oliveira Sob., o Boni. As nomeações devem ser publicadas, nos próximos dias no Diário Oficial da União. Além da sociedade civil, o conselho da TV Pública também tem a participação de quatro ministros do governo Lula. A informação é da Agência Chasque.

Bispo diz que Lula enganou

O bispo da Diocese de Barra (BA) dom Frei Luiz Flávio Cappio retomou ontem (27) pela manhã a greve de fome como protesto à transposição do Rio São Francisco. O ato teve início às 11 horas na cidade de Sobradinho (BA), onde o bispo deve permanecer. A informação é da Agência Brasil (Radiobrás).

O primeiro jejum ocorreu há pouco mais de dois anos, quando dom Frei Cappio passou 11 dias em greve de fome na cidade de Cabrobó (PE). Entre os argumentos para reiniciar o protesto está o compromisso firmado pelo bispo com o presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.

O acordo, feito em outubro de 2005, previa a abertura, por parte do governo, para diálogo com a sociedade civil sobre alternativas para o desenvolvimento sustentável do semi-árido brasileiro.

Dom Frei Cappio anunciou o novo jejum por meio de uma carta (foto), entregue ao presidente Lula por Dom Tomáz Balduíno, em Brasília. “O senhor não cumpriu sua palavra. O senhor não honrou o nosso compromisso. Enganou a mim e a toda a sociedade brasileira”, afirma Cappio, na carta.

O bispo garante que já existem propostas concretas para garantir o abastecimento de água para toda a população do semi-árido, por meio de ações previstas no Atlas do Nordeste, apresentadas pela Agência Nacional de Águas (ANA), além de ações desenvolvidas pela Articulação do Semi-Árido (ASA).

Cappio destacou também que, em fevereiro deste ano, protocolou um documento solicitando a reabertura e a continuidade do diálogo com o governo. Em resposta, afirmou, recebeu a notícia do início das obras de transposição pelo Exército.

A condição proposta pelo bispo para suspender a greve de fome é a retirada do Exército do eixo norte e leste da região do Rio São Francisco. Ele pede ainda o arquivamento definitivo do projeto de transposição.

Acanalhando Henrique Cardoso, by Angeli

terça-feira, 27 de novembro de 2007


Mídia corporativa e democracia: água e azeite

Um dos nervos da cena pública hoje é o debate sobre a mídia corporativa. Aqui, em Cabrobó do Judas, na Cochinchina-sur-le-Jacuí, e alhures. Esse tema, hoje, é um divisor de águas.

Os meios de comunicação estão completa e sufocantemente privatizados. Com o agravante que no Brasil os proprietários da mídia são oligarcas com mentalidade de século 19. No mundo todo são unidades de produção ideológica, de fabricação seriada de mitos e usinas potentes de uma visão unidimensional da vida social.

Quem não compreende esse fenômeno cristalino da nossa realidade e não reage frente a isso, de duas, uma: ou já morreu politicamente, ou já pulou o alambrado e está se esbaldando em campo inimigo.

Com essa mídia corporativa que temos a democracia jamais será substantiva e horizontal. Aqui, em Cabrobó do Judas, na Cochinchina-sur-le-Jacuí, e alhures.

O PT e o erro humano

Pelo menos até domingo não comento mais sobre o assunto de ontem, aqui tratado e replicado por uma nota do grupo petista Mensagem ao Partido. Tenho o melhor apreço pessoal pelos companheiros que fazem parte desta aliança partidária. Se eu fosse votar domingo, votaria nas chapas do Mensagem ao Partido. Verdade. Não critico os demais arranjos eleitorais porque acho-os casos perdidos. Não vou perder tempo e aborrecer os nossos nove leitores com temas de renegados e/ou carreiristas profissionais. Me refiro a quatro personagens que estarão disputando o voto popular em Porto Alegre, ano que vem, a saber: a Genro, Manuela, Rosário e o inefável Beto Albuquerque. Quatro convictos (porém dissimulados) carreiristas de carteirinha e com a tesouraria em dia. Já comentei desses quatro personagens aqui e me cansa um pouco voltar a assunto vencido e aborrecedor como esse.

Ainda a propósito da PED de domingo, e dos documentos das diferentes chapas que concorrem às direções partidárias do PT, é de notar que as críticas assinaladas e comentadas tem pelo menos dois pontos em comum: 1) não conseguem identificar a essência da crise petista; 2) não admitem que a crise petista é estrutural e - pior - terminal.

Em 1956, quando os estudantes de Budapeste, na Hungia, se mobilizam (pela esquerda) no que ficou conhecido como "levante húngaro", houve um debate intenso na esquerda mundial. Os PC's do mundo todo se manifestaram oficialmente contra a revolta da esquerda húngara, que aspirava apenas a ver-se autônoma em relação a Moscou e livre para construir o que chamavam de "socialismo verdadeiro". Os dirigentes do PC magiar chegaram a romper com o Pacto de Varsóvia, mas foram barbaramente esmagados pelo Exército Vermelho, quando pereceram mais de 20 mil pessoas e o próprio primeiro-ministro Imre Nagy foi preso e executado pelos stalinistas soviéticos. Doze anos depois, 1968, em Praga, a história se repetiria, gerando igualmente um intensíssimo debate na esquerda internacional.

Relativamente ao levante húngaro, Sartre teve oportunidade de se manifestar contra o stalinismo em textos brilhantes e didáticos sobre o marxismo e o método dialético. Mostrou que o stalinismo é uma farsa teórica e uma má-fé (uma categoria sartreana) política. Profundo conhecedor da obra de Marx, Sartre, motivado pelos acontecimentos de Budapeste, rompe com o PC francês e escreve "O fantasma de Stálin" (este havia morrido biologicamente em 1953). Mas é no pequeno panfleto denominado "Questão de Método", onde faz as distinções e identidades entre o marxismo e o existencialismo, que Sartre é mais ácido com o stalinismo do PCF. Chama-os depreciativamente de "esquematizadores" da realidade e das análises de conjuntura, e acusa-os de tentarem justificar a "tragédia húngara", assim: "Sublinham os erros do Partido [do PC da Hungria], mas sem determiná-los: tais erros indeterminados tomam um caráter abstrato e terno que os arranca do contexto histórico, para deles fazer uma entidade universal - é o erro humano". [...]

O PT está pois, guardadas as devidas e preventivas proporções, como o stalinismo frente aos fenômenos e contradições da sua própria existência. O PT não consegue identificar a sua essência. Só enxerga os epifenômenos da sua trajetória errante. É como um foguete que serve para impulsionar um artefato em órbita. O artefato foi Lula, agora o foguete segue o seu descenso gravitacional e logo vai se espatifar no solo duro do mundo real, ou seguir gravitando sem rumo como um inofensivo partido tradicional. Os companheirinhos insistem em ver a crise ético-moral de 2005 como frutos imaturos da entidade universal chamada erro humano. Está bem! Cada um coloca os óculos róseos como quiser e faz o jogo-do-contente da forma como o seu lado Pollyanna mandar.

Só não digam depois que não foram prevenidos - já dizia a minha saudosa avó.

O fabuloso mundo de Zeagá

Muito meiga a matéria de Zeagá sobre o furto de cãezinhos poodle de duas idosas de Caxias do Sul (foto). As senhoras donas dos jaguarinhas atribuem às diligências da Polícia Civil o retorno de seus mascotes. É matéria de capa do jornal do bairro Azenha. Que relevância notável! O Rio Grande ardendo na crise estrutural tucana e Zeagá tratando de frivolidades perfunctórias.

Sabe-se que a RBS faz pesquisa para tudo, mas só não entende o motivo do declínio continuado na venda de Zeagá. Eles detectaram nessas sondagens que o leitor gosta de ver fotos e matérias de animais, pássaros e mascotes em geral. Podem cuidar, todo dia tem bichinho, cachorrinho, gatinho no jornal. Querem passar uma imagem de preocupação com a natureza. Uma preocupação em abstrato, óbviamente. O resultado é um jornal-magazine completamente sem personalidade, com textos indigentes, e editorialização total dos fatos e acontecimentos que tem aroma de política. O que salva são algumas fotografias de bons profissionais (todos certamente com salários de fome).

Gostaria de conhecer o editor genial que inventou aquele bordão "Para seu filho entender", onde eles procuram "desenhar" com palavras acontecimentos palpitantes. É hilário. Nível de asinino fundamental, estágio de cognição desumana, remetendo ao elo perdido.

Essa matéria de hoje - com foto e chamada de capa - é constrangedora. A pieguice municipal pinga de cada vocábulo e ainda abre brecha para exaltar o trabalho da Polícia Civil estadual, submersa numa crise sem precedentes e sofrendo a cada dia o contraste do êxito ascendente da Polícia Federal. Zeagá quis melhorar a auto-estima da polícia estadual e só conseguiu afundá-la em perfumarias de poodles coquetes e veneráveis senhoras solitárias.

Foto de Nereu de Almeida/ZH

segunda-feira, 26 de novembro de 2007


Nota da Coordenação da Mensagem ao Partido


A propósito da nota publicada neste blog sobre a visita de representantes da Mensagem ao Partido à redação do jornal Zero Hora, na sexta-feira (23), gostaríamos de fazer os seguintes esclarecimentos:

Na sexta-feira, ocorreu, em Porto Alegre, o debate entre os candidatos à presidência nacional do PT. Neste dia, vários destes candidatos fizeram um circuito por toda a imprensa da Capital para apresentar suas candidaturas. Um grupo de representantes da Mensagem ao Partido acompanhou o nosso candidato, José Eduardo Cardozo, às redações dos jornais Zero Hora, Correio do Povo, Jornal do Comércio e O Sul. Também foram feitas entrevistas nas rádios Guaíba e Bandeirantes e nas TVs Bandeirantes, SBT e Record. O conteúdo dessas conversas foi a apresentação da candidatura José Eduardo Cardozo, de oposição à atual direção nacional do PT. Este foi o contexto e a natureza dessas visitas. Entre as propostas defendidas pela Mensagem ao Partido, está a defesa da democratização da comunicação no Brasil e a construção de políticas de inclusão digital, pela cultura digital colaborativa, por softwares abertos e pelo amplo acesso aos meios de comunicação comunitários. Defendemos que uma das condições para que esta luta avance é mudar a direção do PT, recuperando a democracia interna do partido, a relação com os movimentos sociais e estabelecendo um debate aberto e franco com a sociedade brasileira. Neste sentido, acreditamos que não é o caso de simplesmente ignorar a existência dos grandes veículos de comunicação, que atingem milhões de pessoas em todo o país. Não houve nenhum espírito de submissão neste circuito junto à imprensa de Porto Alegre, mas sim o compromisso de apresentar as propostas de nossa candidatura para mudar o PT.

Coordenação da Mensagem ao Partido em Porto Alegre

Porto Alegre, 26 de novembro de 2007


É muita areia, meu filho?

Relaxa. Escuta aqui o engajado Noir Désir. Papa finíssima!
Ou esta aqui.

Fotografia de Nana Souza Dias

Yedinha diz que não se expressa direito

"Não vou escrever num plano de governo que vou aumentar imposto. O resto ninguém lê. E repito o que disse na campanha: a crise não se cura por aumento de imposto, mas por um amplo leque de medidas. Se foi entendido que eu havia prometido que não ia aumentar imposto, faço mea-culpa, não me expressei direito", afirma a governadora Yeda Crusius (PSDB), em entrevista publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, de hoje. A governadora é questionada por querer aumentar a cobrança de impostos quando tal proposta não fez parte da sua campanha eleitoral.

Apesar de não ter garantido o pagamento do 13º salário dos servidores, ela calcula que vai equilibrar as contas do Estado até o fim do mandato. Aposta ousada para quem foi questionada por amigos se o governo havia terminado após a Assembléia Legislativa rejeitar por 34 votos a zero a proposta do governo de aumentar o ICMS, no último dia 14.

Segundo ela, depois da derrota do seu plano, "o Tesouro do Estado só vai poder cobrir telhado de escola e consertar canos. O Estado ficou mais pobre". E constata: "O investimento do governo é quase zero: R$ 11 milhões. Feliz do Serra que tem R$ 11 bilhões".

Perguntada de como pretende resolver a crise política, ela afirma: "Reconstruindo a base. Vou ter de recomeçar do zero. Quem é contra o projeto de governo entrega os cargos". E conclui: "Não vou mais discutir com partidos. Vou negociar com os deputados".


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Não sei exatamente o motivo, mas a cada dia, a cada semana, vejo dona Yedinha diminuir a sua estatura. Terminará o governicho, se terminar, com dimensões lilliputianas, praticamente quânticas. Para examiná-la só empregando instrumentos nanotecnológicos.




O ato político de visitar a RBS

No antigo Correio do Povo, não este agora, que pertence a crentes e dinheiristas da Igreja Universal, o velho Breno Caldas aparecia, cumprimentava e tirava fotografia com os visitantes. Se fossem pessoas ilustres, no outro dia havia nota com a respectiva fotografia no jornal. A fotografia invariavelmente era num saguão onde ficava o busto em bronze do fundador do jornal, Caldas Júnior.

Hoje os visitantes, mesmo notáveis, não tem mais privilégio de posar com o proprietário do pasquim. Haja vista o que aconteceu sexta-feira passada na RBS. Um grupo de ilustres petistas (fotos) foram à redação de Zeagá e ninguém se dignou a posar junto a eles. Ninguém. Posaram sós, risonhos (algo encabulados) e resignados, sem nenhum registro de que estiveram mesmo na sede da RBS, da família Sirotsky. O blog de Rosane de Oliveira, colunista de política do jornal do bairro Azenha, trata-os quase como cães que invadiram a sinagoga. No texto que circunda a foto dos corações solitários é possível mesmo perceber uma vassoura invisível a enxotá-los como intrusos no templo.

Agora eu pergunto: o que esses companheiros foram fazer na RBS? Perderam o quê, que supunham poder achar na redação de Zeagá? Que vantagem suplementar esperam alcançar na PED do próximo domingo depois de visitarem a RBS? Esperam eles sensibilizar a militância que assim acorrerá em massa domingo para votar nas chapas completas do grupo Mensagem ao Partido?

Para além da inutilidade e do despropósito, tem o opróbrio público de freqüentarem um local onde são considerados como portadores de uma espécie de lepra político-social. A RBS sempre dispensou ao PT e seus militantes o mesmo tratamento que o Velho Testamento dispensa aos enfermos crônicos de males contaminantes, exemplo, os leprosos, os lazarentos, os que Javé escolheu para amputar-lhes a vida aos pedaços. Um dia antes da visita petista à cova dos leões, dois outros petistas foram expostos injustamente no pelourinho midiático sirotskyano e apresentados como malvados delinqüentes do caso CGTEE. Terão esses petistas ido lá para ouvir o pedido de perdão e a retratação da RBS?

A decisão de ir visitar a RBS não é tão simples como o ato de lustrar sapatos, e nem tão ingênua como comer uma banana. Foi sobretudo um ato político, acriterioso, mas político, que implica vantagens e riscos. As vantagens, sinceramente, não as vejo. Já os riscos, estes são muitos e variados. Portanto o balanço empírico é francamente negativo aos protagonistas deste gesto subalterno e enigmático.

O significado deste ato político é o de uma violência simbólica contra a militância petista e um desprezo pelo próprio passado do Partido dos Trabalhadores, que sofreu os seus piores revezes precisamente pela reação organizada da direita hegemonizada pela RBS.

Pessoalmente, me sinto agredido pela atitude dessas lideranças petistas. Se já estava cético quanto a possibilidade de o PT levantar-se das cinzas, agora, fico com a convicção de que essas lideranças estão mais cansadas de guerra do que se supunha. Desta forma, perde completamente sentido a mobilização eleitoral da militância, domingo próximo. Há uma discrepância abismal entre a retórica de documentos e programas (de resto, meramente principistas, rasos e pobres) e o pragmatismo serelepe da realidade sensível. As palavras vão para o Norte, e os gestos vão para o Sul, ou vice-versa. Há um rochedo no caminho da mediação entre o fenômeno e a essência. Estamos sendo flagrados num pântano imobilizador habitado por esquizofrênicos. Quando a mecânica dos movimentos e gestos não combinam com as falas e discursos é hora de desmontar o aparato e verificar suas hipertrofias e deformidades.

Resumo da ópera: não voto em quem bajula e/ou compactua com os nossos inimigos de classe. Estou fora. Ponto.

Coisas da vida.
Foto: José Eduardo Cardozo (esq.), Miguel Rossetto, Marcelo Danéris, Henrique Fontana, e vereador Todeschini. Todos na redação de Zeagá, grupo RBS (que apoiou o golpe militar de 1964). Sexta-feira passada.

domingo, 25 de novembro de 2007


Uma crônica de Antônio Maria

O andar

Aconteceu na Avenida Copacabana, esquina de Santa Clara. Uma jovem senhora chamou o guarda e apontou o homem, encostado a um poste:

— Prenda este homem, que ele está se portando inconvenientemente.

Era um homem magro, pálido, vestido em casimira velhinha. Não tinha cara de gente má. Ao contrário, seus olhos eram doces e mendigos.

O policial segurou o homem pela lapela. O homem não se mexeu. Apenas levantou os olhos e perguntou:

- Por quê?

A senhora estava uma fúria e dizia num fôlego só:

— Há uma hora este cidadão me segue. Começou no lotação. Desceu quando eu desci. Entrei numa loja e ele entrou também. Andei um quarteirão e ele andou também. Entrei no mercadinho e ele entrou também...

— E lhe disse alguma coisa?

— Não. Só olhava.

O guarda soltou a lapela do homem. O homem agradeceu. O guarda dirigiu-se ainda à mulher:

— Mas ele só olhava?

— Sim. Mas olhava de maneira obscena.

O guarda perguntou, então, ao homem:

— Você olhava de maneira obscena?

— Sim. Não sei mentir. Mas qualquer um no meu lugar faria o mesmo. 0 senhor já viu ela andar?

O guarda viu depois, quando a mulher desistiu da prisão do seu espectador e foi andando. Não se deve explicar muito, mas é preciso que se diga: era uma moça brasileira. Uma moça de formato brasileiro, com movimentos brasileiríssimos. Dessas que deviam ter, como certos automóveis, uma tabuleta às costas, onde se lesse: "Amaciando".

Publicada em 08 de janeiro de 1960.

Fotografia de João de Castro

sexta-feira, 23 de novembro de 2007



Dona Yedinha e o espetacular programa "Um novo jeito de governar", by Millôr.



Mistérios da administração Fogaça

Antes do governo Fogaça a Prefeitura Municipal de Porto Alegre funcionava com sistema operacional Linux (software livre). Hoje, a administração Fogaça trabalha (ou faz que trabalha) com o sistema da Microsoft (software proprietário e caríssimo).

Alguém pode desvendar esse mistério? Os nossos bravos vereadores da oposição tem notícia desse enigma fogaciano? Conseguem desvendá-lo?


Por que pagar por algo que pode ser livre e praticamente gratuito?

Deputado quer desapropriação de área rural

O deputado federal Adão Pretto (PT/RS), pediu a desapropriação da área em que foram encontradas 32 pessoas em condições de escravidão em Cacequi (RS). O requerimento foi enviado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário na última quarta-feira e deve emitir parecer até a próxima semana. O trabalho escravo fere a Constituição Federal no que diz respeito à Função Social da Terra e também às relações trabalhistas, permitindo destinar a fazenda para reforma agrária. As informações são da Agência Chasque.

O deputado também encaminhou ao Ministério do Trabalho pedido de esclarecimento sobre a não-divulgação do nome da empresa. Em outras ações do Ministério e de fiscais do trabalho, informações sobre as atividades da empresa envolvida geralmente são de conhecimento público. Uma das empresas beneficiárias do trabalho de escravos é a multinacional ALL (América Lativa Logística), que teria responsabilidade solidária no crime cometido contra os 32 trabalhadores rurais. O Ministério do Trabalho é dirigido por militantes do PDT, inclusive a DRT/RS.


Denúncia contra o tucanoduto mineiro

É no mínimo impertinente e desfocada a grande manchete de hoje do jornal do bairro Azenha, Zeagá ("Ministro articulador do governo Lula é denunciado e se afasta"). Os principais jornais do país, Folha, Estadão e Globo, trazem suas manchetes tratando do tema, mas sempre frisando que trata-se do mensalão tucano mineiro. As três manchetes dos três principais jornais brasileiros, repito, mencionam o tucanoduto mineiro, cujo principal denunciado ontem pelo Ministério Público foi o ex-governador Eduardo Azeredo (PSDB).

Vejamos o que comenta o blog do jornalista da Folha, Josias de Souza, sobre o tema:

[...] "O grande protagonista da denúncia do Ministério Público (íntegra aqui) é o senador Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas e ex-presidente nacional do PSDB. Antonio Fernando acusa-o de ter constituído um pé-de-meia eleitoral espúrio na campanha de 1998, quando tentava reeleger-se governador mineiro. Algo que o denunciado nega.

O procurador-geral, bem a seu estilo, vale-se de vocábulos fortes, inequívocos. Refere-se às arcas de Azeredo como “esquema criminoso” de financiamento de campanha eleitoral. O envolvimento do senador é, na expressão de Antonio Fernando, “comprovado”. Diz que a verba espúria teve três origens:

1) “Desvio de recursos públicos do Estado de Minas Gerais, diretamente ou tendo como fonte empresas estatais”;

2) “Repasse de verbas de empresas privadas com interesses econômicos perante o Estado de Minas Gerais, notadamente empreiteiras e bancos, por intermédio da engrenagem ilícita” arquitetada, entre outros, por Marcos Valério;

3) “Utilização dos serviços profissionais e remunerados de lavagem de dinheiro”, operados, entre outros, por Valério e seus sócios, “em conjunto com o Banco Rural [sempre ele], para garantir uma aparência de legalidade às operações [...], inviabilizando a identificação da origem e natureza dos recursos”. [...]

........

Perder leitores a cada dia é um fenômeno mundial da mídia jornal, hoje. Está sendo inevitável e irreversível. Entretanto, Zeagá (do grupo RBS, que apoiou o golpe militar de 1964) perde mais que leitores, perde credibilidade - que jamais irá recuperar.


Foto: O tucano Azeredo jantou numa churrascaria de Brasília ontem à noite, a foto é de Sérgio Lima/Folha.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Chove em Porto Alegre

A fotografia dos anos sessenta registra um bonde da Carris no lugar onde hoje é o Largo Glênio Peres, junto ao Mercado Público, Centro da Capital. Esse bonde fazia o circular Gasômetro-Mercado.

Chovia em Porto Alegre, as pessoas usam guarda-chuvas. Chove nostalgia nos corações sensíveis, para os quais não existem guarda-chuvas.
Foto de Foster M. Palmer

Crônica de Luis Fernando Veríssimo

"Matem o cavalo!"

O filme Viva Zapata (dirigido por Elia Kazan, escrito por John Steinbeck, com Marlon Brando no papel do revolucionário mexicano) termina com a morte de Zapata numa emboscada dos "federales". O antigo aliado que o traiu, um intelectual vivido no filme por Joseph Wiseman, insiste para que os soldados não deixem escapar com vida o cavalo branco de Zapata. "Matem o cavalo! Matem o cavalo!", grita, em vão. A última cena do filme é a do cavalo branco solto numa montanha, um símbolo não muito sutil do espírito que sobreviveu ao sacrifício do seu dono para inspirar outras gerações e outras revoltas. O intelectual entende que símbolos são perigosos e que não basta abater o homem para anular o exemplo. É preciso trucidar a sua memória, emporcalhar a sua legenda e apagar qualquer vestígio simbólico da sua rebeldia.

Parecido com o que está sendo feito entre nós com o Che Guevara, que, de acordo com a revisão atual, não só cheirava mal como era um péssimo caráter. É difícil entender por que estão tentando matar este particular cavalo branco agora. Se Che simbolizava alguma coisa, nos últimos anos, era a absorção de todas as formas de revolta pela cultura pop. O ex-ícone da esquerda era visto principalmente nas paredes e camisetas de gente que jamais sonharia em ir para as montanhas, a não ser pelo fondue de queijo. E no entanto o empenho em desmitificá-lo, e desmistificá-lo, é evidente. Do que será que estão com medo? O que assombra tanto o neomacarthismo, a ponto de atirarem com tanta fúria contra um defunto de 40 anos? Talvez seja o caso de rever o significado da figura do Che, e do seu exemplo de idealismo e inconformismo, entre as novas gerações. Talvez a direita esteja vendo um cavalo branco solto por aí que nós não vemos.

Quanto ao filme Viva Zapata, é um bom exemplo da romantização do proletariado que o cinema americano fez bastante - em mais de um caso, baseado em textos do mesmo Steinbeck. Brando e Anthony Quinn (que ganhou um Oscar pela sua interpretação do irmão de Zapata) estão ótimos no filme, e Wiseman está perfeito como o intelectual traidor. Mas a romantização de revoluções alheias não dá em muita coisa além de bons filmes. Nota histórica: "Zapata" foi o nome de uma das suas empresas escolhido por adivinha quem? George Bush, o pai. O nome chegou a aparecer numa das tantas teorias conspiratórias sobre o assassinato do Kennedy. Não adianta, o capitalismo absorve tudo. O que só torna maior o mistério. Do que será que estão com medo?

Ilustração: detalhe do óleo de Diego Rivera.

Escravos trabalhavam para a ALL

A fazenda que mantinha trabalhadores e condições de escravidão em Cacequi, região central do Rio Grande do Sul, é fornecedora de madeira para a América Latina Logística (ALL). No último sábado (17), fiscais do Ministério do Trabalho libertaram 32 pessoas que trabalhavam em condições degradantes em uma lavoura de eucalipto. A madeira era usada para a produção de dormentes, madeira que dá sustentação aos trilhos dos trens de transportes de cargas e mercadorias. A informação é de Raquel Casiraghi da Agência Chasque.

Em 2004, a ALL anunciou a compra de áreas para o plantio de eucalipto em Cacequi, São Gabriel e Alegrete. No entanto, a assessoria de imprensa da empresa nega que a área fiscalizada no final de semana seja de sua propriedade.

A ALL confirma que comprava madeira da empresa autuada. A multinacional alega que sua responsabilidade é com a qualidade da madeira e não com os vínculos empregatícios que a empresa de eucalipto tinha com os seus funcionários.

A empresa que for flagrada pelo Ministério do Trabalho usando mão-de-obra escrava pode entrar na lista suja, que implica na perda de obtenção de crédito. Porém, desde a descoberta do caso em Cacequi, os fiscais não citam o nome da empresa. A reportagem entrou em contato, mas a Delegacia Regional do Trabalho (DRT) de Porto Alegre, coordenada por militantes do PDT, não quis se pronunciar.


Governo Lula quer universalizar a banda larga na internet

O governo está estudando a criação de uma empresa de propósito específico, com participação da iniciativa privada, para levar a banda larga a todo o País e instalar internet em alta velocidade nas 150 mil escolas brasileiras. Essa seria uma alternativa à utilização da Telebrás como administradora dessa grande rede de fibras óticas (foto). A informação está no Estadão, de hoje.
As propostas já foram discutidas entre os técnicos. Existem divergências, mas a decisão política será do presidente Lula. Todo o projeto está avaliado em R$ 10 bilhões, segundo o assessor especial da presidência, Osvaldo Oliva.

Na semana passada, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse que a Telebrás seria uma das opções para administrar essa estrutura, o que provocou fortes altas das ações da estatal na Bolsa. "O ministro falou que ia ser a Telebrás, mas a decisão não é dele, é do presidente. E a decisão não está tomada", afirmou Oliva. "É uma boa opção (a Telebrás), mas depende do enfoque político que vai ser dado."

Oliva explica que a empresa de propósito específico permite que o capital da sociedade possa ser compartilhado entre governo e iniciativa privada. "E o governo não precisa ser majoritário, pode ter 10%, 30%."

A escolha da Telebrás considera a possibilidade de transferir à União o passivo trabalhista e tributário da privatização. Assim, seria criada "a nova Telebrás" para assumir as funções de administradora da nova rede de banda larga. "As pendências não são problemas, elas podem ser deslocadas, se a opção for a Telebrás", disse Oliva. A Telebrás é parte em 825 ações judiciais nas áreas cível, trabalhista e tributária, perante diversos tribunais.

Com a ressalva de que fala "em nome pessoal", Oliva afirma que a opção Telebrás é apenas uma parte no âmbito de um projeto mais amplo, o de levar a banda larga a todo o Brasil. Hoje, apenas 300 municípios têm acesso à internet em alta velocidade. Ele não estabeleceu um prazo para que uma decisão seja tomada, mas afirmou que agora depende de uma "análise política" do presidente Lula.

Dos R$ 10 bilhões previstos para o projeto, R$ 4 bilhões seriam usados para montar a infra-estrutura nacional de fibras óticas (backbone), R$ 1 bilhão para a construção das redes locais e R$ 5 bilhões para colocar equipamentos nas escolas.

O projeto seria financiado, segundo ele, com recursos do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), do Fundo para o Desenvolvimento Tecnológico das Telecomunicações (Funttel) e do orçamento. "Se o Estado se compromete a pôr a mão no bolso para investir no backbone, podemos jogar a última milha para o mercado", disse ele sobre o serviço prestado ao consumidor final.

O backbone seria formado pelas redes de fibras óticas já existentes da Eletrobrás (Eletronorte e Furnas), da Petrobrás e do Ministério da Defesa, por exemplo, além da estrutura da falida Eletronet. O programa incorporaria também as redes das empresas de telefonia.

Ele negou que o governo pretenda construir essa estrutura para substituir os serviços de voz e dados prestados pelas empresas de telefonia aos órgãos federais. "Serviço é última milha e última milha é do mercado." Negou também que haja a pretensão de reestatizar o setor. "Nosso projeto prevê a parceria com o setor privado."

.....

Um agregado ao backbone já existente, seria o das companhias distribuidoras de gás natural, como a estatal Sulgás do RS. O sistema supervisório de monitoramento da distribuição do gás é todo de fibra ótica, portanto, um backbone praticamente pronto para os serviços de banda larga, voz/dados/imagens. O governo Olívio Dutra tinha um projeto bem estruturado para a constituição de uma novíssima empresa (estatal) de serviços de voz, dados e imagens, mas como o PT perdeu as eleições para o candidato do PMDB, o projeto ficou arquivado, lamentavelmente.
Tele-entrega rançosa

"O poeta municipal/discute com o poeta estadual/qual deles é capaz de bater o poeta federal. Enquanto isso o poeta federal/tira ouro do nariz" - já poetava Drummond.

Acho que os jornalistas, de resto outras profissões, também, podem igualmente ser classificados como municipais, estaduais, e federais. Mino Carta é um jornalista federal. Já o vetusto Paulo Sant'Anna é um jornalista municipal, quase paroquiano, bem como a igualmente vetusta colunista de O Sul, Beatriz Fagundes.

Não a conheço, mas um amigo me disse o seguinte: "Olha, Feil, eu diria que ela sabe mais pintar o rosto no escuro, do que escrever um bom texto na luz coada da manhã". Esse meu amigo é um poeta bissexto, sabe, e não simpatiza muito com senhoras que se esbaldam na cosmética facial excessiva. É preciso dar um desconto, portanto.

Pois, a municipal Fagundes, hoje, resolveu descontar o seu azedume contra o presidente Hugo Chávez, da Venezuela. Não vou aborrecer vocês com o texto escrito com o dedão do pé (as mãos, dizem-me, ela as usa exclusivamente para rebocar a face), da colunista de O Sul, mas leiam só os dois últimos parágrafos, por favor:

[...] "Isso tudo precisa ser levado em devida conta pelo Parlamento brasileiro na hora de decidir sobre o ingresso da Venezuela (enquanto lá estiver a ditadura chavista) no Mercosul. Este nasceu porque aqui raiara a democracia e, com ela, está íntima e inseparavelmente comprometido.

Aceitar Chavez é inocular no sadio corpo dessa adolescente democracia do Mercosul, o vírus corrosivo do populismo ditatorial, corruptor e corrompido. Trocar a integração pela submissão, o diálogo pela imposição".

Confesso que não acho que Chávez seja a reencarnação de Lênin, nem de Che, mas não se pode atacá-lo assim, dessa forma desqualificada e desinteligente. Fagundes está militando contra a entrada da Venezuela no acordo aduaneiro do Mercosul. Atitude estreita e ranheta. Se ela, Fagundes, perguntar a grandes empresários brasileiros o que acham da entrada da Venezuela no bloco comercial, certamente, teria muitas surpresas-surpreendentes. Começando por Jorge Gerdau, que há muito já está com interesses confortavelmente acolhidos em terras bolivarianas. Ele e dezenas de outros grandes empresários brasucas.

Portanto, pára com isso, dona Fagundes! A senhora está entregando uma bóia fria e rançosa. Não é bem isso que os seus patrões lhe encomendaram. Vai lá e confere as suas obrigações diárias de jornalista paroquiana. Vai!

O revólver de João Saldanha

Vejo muito pouco televisão. Mas o suficiente para constatar, ainda de forma provisória, que a tevê Globo está modificando o ângulo de abordagem do governo Lula. Está com pelo menos um ninho de metralhadora assestado contra o Planalto - algo que jamais aconteceu na Vênus Platinada. Outra observação: a mesma Globo, não tem dia, que não critica de forma falseada o governo Chávez, direta ou indiretamente. Ontem, sem nenhuma contextualização, colocaram uma matéria sobre deputada chavista que invadiu uma estação de televisão no interior do país e fez um discurso agressivo contra o apresentador de um tal programa.

Ninguém entendeu nada, ficou parecendo que tratava-se de uma louca ensandecida e chavista que tem como distração predileta invadir estações de tevê. Ponto.

Dez minutos depois me liga um amigo meu, alarmado com a desfaçatez da Globo e dizendo que havia lido na internet à tarde o caso da deputada. Ela perdera um filho num grave acidente de automóvel dias antes, e o locutor da tevê (antichavista) estaria criticando-a por ter sido negligente no caso. A mulher, possuída da ira materna e sentindo-se ofendida e impotente, fez o que fez. Só que a Globo mostrou apenas o gesto supostamente tresloucado da deputada, insinuando subliminarmente que os partidários de Chávez sejam todos assim e que, de fato, a "liberdade de imprensa" corre riscos na Venezuela.

Lembrei, então, do velho e bom comunista João Saldanha, guasca do Alegrete (RS), carioca por adoção, jornalista, bom texto, ex-cartola do Botafogo, ex-treinador da seleção brasileira nas preparatórias para a vitoriosa Copa de 70, desafeto do presidente-ditador Médici, amigo do treinador de futebol de praia e "filósofo" de botequim Neném Prancha, comentarista de futebol e macho atrevido. Volta e meia o Saldanha apanhava o seu revólver e dava uns tiros, como para impor respeito e justiça. Uma vez a empregada dele foi enganada numa farmácia que lhe vendeu pilhas velhas por novas, e depois não quis reparar a fraude nem devolver o dinheiro. Saldanha foi lá, era na esquina de seu apartamento no Rio, e descarregou o revólver nos pés do dono salafrário. O cara devolveu os mirréis na hora. Outra ocasião ele tiroteou dentro de um jornal, também contra um abuso de autoridade que havia sofrido. Morreu na Itália, comentando uma partida da seleção na Copa de 1990.

Com os abusos de autoridade midiática da provinciana tevêzinha venezuelana, da Globo - e de outras tevês (aqui em Porto Alegre, ontem, a também provinciana RBS "prendeu e soltou" dois petistas inocentes, absolutamente inocentes, e sequer pediu desculpas) - foi inevitável lembrar do revólver de João Saldanha, o inesquecível comunista.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007


Guinada na política econômica de Lula?

As mudanças no IPEA são parte de um movimento maior que vem ocorrendo há algum tempo dentro do governo. Seu objetivo é claro: criticar e constranger a política monetária conduzida, até agora com autonomia, pelo Banco Central (BC). No limite, sua ambição é mudar o comando do BC e, assim, a política de juros e de câmbio, sepultando, de uma vez por todas, a "Era Palocci". As informações são do jornal Valor, de hoje.

Está em curso uma tentativa óbvia de guinada na política econômica. Desde a saída de Palocci do Ministério da Fazenda, em abril de 2006, apenas economistas críticos das políticas monetária e cambial têm sido contratados pelo governo. Não se faz isso ao acaso. Mesmo os não-ortodoxos trazidos pela nova leva - notadamente, Carlos Kawall e Júlio Sérgio Gomes de Almeida - deixaram a equipe econômica por desconfiar dos rumos da política fiscal, âncora, em última instância, do modelo de estabilização adotado pelo país em 1999.

Os economistas que pontuam na "Era Mantega" são críticos obstinados da política de juros. São eles: Nelson Barbosa (secretário de Política Econômica), Luiz Eduardo Melin (secretário de Assuntos Internacionais), Luciano Coutinho (presidente do BNDES), Paulo Nogueira Batista Júnior (diretor do Brasil no FMI), Arno Augustin (secretário do Tesouro), Marcio Pochmann (presidente do IPEA) e João Sicsú (diretor do IPEA).


Um resultado do cerco ao BC já é evidente. Ao substituir dois diretores do banco, o presidente Henrique Meirelles escolheu quadros da própria instituição. A tradição manda chamar gente de fora, de reconhecida competência e formação acadêmica. Ao optar por uma solução caseira, Meirelles praticamente eliminou o espaço para contestações e ataques ao Banco Central.

Não que os novos diretores do BC, de boa reputação técnica [segundo o Valor] - Alvir Alberto Hoffmann (Fiscalização) e Maria Celina Berardinelli Arraes (Assuntos Internacionais) -, devam votar, nas reuniões do Copom, de acordo com a vontade dos "desenvolvimentistas". O fato de não terem vindo do mercado é que os torna, para um bom pedaço do governo, inatacáveis.

Se por um lado Meirelles resolveu, com astúcia, as substituições que precisava fazer no BC, por outro diminuiu a densidade intelectual e profissional de sua diretoria.

Ainda segundo o jornal Valor, o BC está a cada dia mais isolado e sofrendo hostilidades no governo. É conhecida uma característica do presidente Lula - o estímulo à dissensão em sua equipe. Seria uma forma de, conhecendo opiniões divergentes, facilitar a tomada de decisões. No último ano e meio, o governo tem caminhado, porém, para um lado só. No episódio do IPEA, o fato mais grave não foi a dispensa de quatro economistas não-alinhados com o "desenvolvimentismo", mas uma deliberação feita pela nova diretoria.


Senador Simon, o monarca dos perdigotos

Desculpem, alerto que irei falar de algo escatológico: perdigotos. São aquelas gotículas de saliva que saltam da boca de alguém que fala. O senador Pedro Jorge Simon (PMDB-RS), como se sabe, é o rei do perdigoto no Senado Federal. Quando deputado estadual, que o foi por 16 anos, PJS emporcalhava a tribuna, o microfone e o entorno com sua saliva odorizada pelo fumo do cachimbo. Depois que o Pedro fala, diziam entre a repugnância e o riso, tem que disfarçar, convidá-lo para um cafezinho e chamar rápido a senhora da limpeza para passar um pano ensopado com detergente de amoníaco nos objetos próximos ao microfone.

Uma coisa desumana, aquela baba pulverizando tudo.

Tenho comigo que isso não é um fenômeno puramente mecânico da fala do sujeito. Suspeito mesmo que no caso do senador, seja algo mais profundo, fenômeno de difícil e complexa etiologia. Mas tenho uma hipótese empírica. A abundância amazônica de perdigotos do senador Simon seriam cacos de pensamentos caóticos que não se realizam como palavras e perdem-se líquidos e inúteis como pequenos defuntos das suas idéias mortas. Ou pequenos suicidas abandonando o deserto mental do sujeito.

Coisas da vida.

Direto de Brasília

Recebo e-mail de um observador privilegiado, de Brasília. Copio um trecho para vocês:

"Não foi nada inteligente o discurso do senador Simon, depois da derrota da governadora na Assembléia. O senador está dando um tiro no próprio pé, depois disso não pode voltar a responsabilizar terceiros, como fez na tribuna sexta-feira passada. Simon é conhecido como radical da cautela, mas desta vez não fez jus à fama que carrega. E de nada adiantou colocar no miolo do discurso um afago na ministra-chefe da Casa Civil, esse morde-e-assopra só piorou o resultado do seu discurso. Se o senador quis abrir alguma porta, só conseguiu reforçá-las com trancas de aço".

Este blogueiro, agora, pergunta: será que o governo federal vai mesmo ajudar o Piratini, com recursos imediatos para pagar o décimo-terceiro salário do funcionalismo?

Minha opinião: mais uma contribuição ao "mundo das coisas duvidosas" de dona Yedinha.




Para Simon, o PT deu um "golpe fantástico" no RS

Trecho do delirante discurso do senador Pedro Jorge Simon, na tribuna do Senado Federal, em 16 de novembro último, comentando sobre a derrota do governo Yeda, logo em um projeto que "iria reconstruir o Estado".

[...] O Sr. Olívio Dutra na frente, com o Presidente do PT, pela primeira vez o PT presidiu a Assembléia – pela primeira vez! –, e dão uma bofetada no Rio Grande do Sul, e rejeitam o diálogo, e rejeitam o entendimento... Podiam votar contra, não tem problema nenhum. Se votaram contra naquele dia, daí a uma semana votassem contra, mas dessem oportunidade ao debate. Dessem oportunidade! E a governadora Yeda já tinha concordado em retirar o imposto sobre a gasolina, sobre o óleo, sobre o gás... Retirassem! Permitissem esse acordo. Não! Esmagaram, e o Rio Grande do Sul está condenado. Eu até penso que se tivesse chance – eu não entendo, mas disse que não tem chance – de renovar a votação, fazer qualquer coisa. Mas disse que não tem chance. Está morto e liquidado. Esse é o nosso PT do Rio Grande do Sul! [...]

Vale a pena ler a íntegra do discurso aqui. O título é "Discurso em defesa do RS". O senador faz um histórico seletivo (particular e mítico) do legislativo guasca, informando ao Brasil das excelências e da capacidade de bravura e aguerrimento do mesmo, faz conexões com o movimento Farroupilha e a revolução de 30, e mostra o quanto o PT tem traído o Rio Grande, tendo à frente Olívio Dutra, Raul Pont e Arno Augustin.

Em certo momento ele denomina o fato da semana passada de "golpe fantástico" contra o Estado, assim: "Com o apoio de todo o PT. O ex-Governador Olívio Dutra e o Raul Pont, que foi Prefeito de Porto Alegre, também coordenaram esse golpe fantástico".
.......

Definitivamente, o senhor Pedro Jorge Simon é um farsante, e todo o farsante precisa ser desmascarado e desconstruído simbolicamente - molécula por molécula.

terça-feira, 20 de novembro de 2007


Ministro Nelson Napoleão Bonaparte Jobim e o maravilhoso mundo techno, visto por Angeli.

Dia da Consciência Negra se originou no RS


O Dia da Consciência Negra, 20 de novembro, é feriado em 225, de um total de 5.561 municípios do país, segundo levantamento da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. A data, celebrada em centenas de eventos pelo país, lembra o dia em que foi assassinado, em 1695, o líder negro Zumbi, do Quilombo dos Palmares, um dos principais símbolos da resistência negra à escravidão. Texto publicado na página da Seppir, órgão ligado à Presidência da República, explica essa história. Em 1971, ativistas do Grupo Palmares, do Rio Grande do Sul, chegaram à conclusão de que 20 de novembro tinha sido a data de execução de Zumbi e estabeleceram-na como Dia da Consciência Negra. Sete anos depois, o Movimento Negro Unificado incorporou a data como celebração nacional. Em 2003, a lei 10.639, sancionada pelo presidente Lula, estabeleceu a data como parte do calendário escolar brasileiro. As informações são da Agência Brasil.

"Herdamos os propósitos de Luiza Mahin, Ganga Zumba e legiões de homens e mulheres negras que se rebelaram contra um sistema de opressão. Lançaram mão de suas vidas a se conformarem com a prisão física e de pensamento", diz o texto, assinado pela ministra da Seppir, Matilde Ribeiro. Luiza Mahin foi mãe do jornalista e advogado negro Luís Gama, um dos líderes do movimento abolicionista, no século 19. Ganga Zumba foi outro líder de Palmares.

"Orgulhosamente, exaltamos nossa origem africana e referendamos a unidade de luta pela liberdade de informação, manifestação religiosa e cultural. Buscamos maior participação e cidadania para os afro-brasileiros e nos associamos a outros grupos para dizer não ao racismo, à discriminação e ao preconceito racial", continua a ministra, no texto.
"Que este 20 de Novembro, assim como todos os outros, seja de muita festividade, alegria e renove nossas energias para continuarmos nossa trajetória para conquista de direitos e igualdade de oportunidades. Estejamos todos, homens e mulheres negras, irmanados nesta caminhada pela liberdade e pela consciência da riqueza da diversidade racial!”, conclui ela.

O 20 de novembro foi instituído como data de referência para o movimento em contraposição ao 13 de maio, quando foi decretada a abolição da escravatura, a chamada Lei Áurea, pela princesa Isabel, em 1888. O 13 de maio expressa, então, a celebração da generosidade de uma branca em relação aos negros, em vez de enfatizar a própria luta dos negros por sua libertação.

O Dia da Consciência Negra é marcado por manifestações, passeatas e seminários em várias cidades brasileiras. Segundo o saite da Seppir, o Estado onde mais cidades decretaram a data feriado é o Rio de Janeiro, com 92 municípios


O mundo das coisas duvidosas

A Comissão de Serviços Públicos da Assembléia Legislativa vai solicitar ao governo do Estado a retirada do projeto de lei que regulamenta as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, as OSCIPs, e que institui parceria com órgãos públicos. O anúncio foi feito na manhã de ontem pela presidente da comissão, deputada Stela Farias (PT). A parlamentar argumenta que a retirada do projeto irá proporcionar o aprofundamento do debate com a sociedade gaúcha.


Na medida legal das OSCIPs, o governo estadual pretende repassar a gestão de alguns órgãos públicos à iniciativa privada. Entre eles, estariam a FASE, a TVE e a FM Cultura, o Theatro São Pedro e até mesmo a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, a UERGS. O projeto das OSCIPs é duramente criticado pelos funcionários públicos, que temem a privatização indireta dos órgãos. A informação é da Agência Chasque.

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Não se pode acusar os tucanos e adjacentes de serem anticartesianos. Bandalheira com método. Dona Yeda está calçada na famigerada Lei das OSCIPs, a lei federal 9.790/99 do período de governo do professor Cardoso. Só que os tucanos fizeram a lei, mas não previram os mecanismos de controle das entidades híbridas que resultam dessa possibilidade.


Parece que o legislador pouco se importou com os princípios constitucionais da lisura administrativa e da ética pública. Ao contrário, montou um dispositivo "legal" de assalto ao Estado e captura privada de bens públicos.É isso que a lei das OSCIPs de dona Yeda prevê: um assalto descriminalizado ao Estado, agora organizado, com método e com selos distintivos de legalidade e legitimidade pública para apropriação ilimitada (e sem controle) nos setores como educação, saúde, cultura, esportes, assistência social e lazer. Os próprios tucanos prevêem que 30 entidades públicas do Estado possam ser alvo do projeto de lei estadual das OSCIPs.

Para o cético Descartes (óleo), esse projeto tucano faria parte do chamado "mundo das coisas duvidosas", para usar um eufemismo que não agrida a sensibilidade delicada de dona Yedinha.


Neste sentido, tanto mais tem razão a deputada petista, sejamos metódicos, o projeto das OSCIPs precisa ser melhor verificado, analisado, sintetizado e enumerado. Para, logo mais, cartesianamente, ser jogado na lata de lixo. Mas com método, por favor!

Um governo física e moralmente quebrado

Completamente desmoralizado e desfibrado, o governo Yeda Crusius vegeta à beira do caminho. Nem bem um ano se passou, e a administração arranjada por tucanos e aliados históricos dá mostras de cansaço dos materiais (e das gentes).


"De onde menos se espera é daí que não sai nada mesmo", já vaticinava Aparício Torelly. O articulador político privilegiado do governo é um ex-vereador da Capital que só se destacou por ser torcedor de um famoso clube de futebol e por criticar monotematicamente os equipamentos de controle de velocidade dispostos na via pública. Na área financeira, completamente esgualepada pela irresponsabilidade fiscal continuada dos seus próprios aliados históricos, onde ainda havia vida inteligente e sob um mínimo senso de realidade, o seu titular evidencia exaustão e esmorecimento com o cenário desolador a sua volta. Enquanto isso, as velhas ratazanas oportunistas e famintas lambuzam-se do queijo público, sem a menor desfaçatez, e quase à luz do dia.

Fica cada vez mais evidente que a dona Yeda foi um arranjo improvisado pelo mandonismo guasca para barrar mais um quadriênio de Olívio Dutra no Piratini. Dona Yeda tem exclusivamente o lado negativo, o de constituir-se como a antipetista da hora, sem propriamente portar objetivos positivos de propor e construir metas, programas e ações que justifiquem a sua gestão pública com personalidade própria e estratégias autônomas. Seu mau humor permanente e os rompantes arrogantes devem se originar na sensação de abandono que experimenta face aos seus incentivadores da primeira hora. Agora, então, vendo-se frente a frente com a necessidade imperiosa de cortar incentivos e subsídios das tetas públicos aos setores que dela se nutriam, deverá romper mais alguns fios que a sustentaram como a antipetista de plantão.

Progressivamente afunda-se na areia movediça das próprias contradições. Tão desorientada está, que o jornal Zeagá de hoje (um dos seus sustentadores "espirituais"), através da colunista Rosane de Oliveira, não tem o menor pudor de passar-lhe publicamente orientações comezinhas e banais de como proceder nos próximos dias, mostrando-lhe que não pode romper com o PP, que deve ser menos arrogante e usar de mais tato, que deve fazer ver ao PT que não lhe interessa aprofundar mais a crise, já que o partido tem chances reais de poder, no futuro, que a ordem é olhar para frente e reconstruir-se politicamente, etcetera.

Isso que Zeagá está fazendo hoje é como dizer a um pugilista nocauteado e quebrado física e moralmente o seguinte:

- Levanta, meu, pelo menos ainda respiras e estás vivo! Levanta e olha para frente!

O pugilista, com o rosto deformado, ainda cospe um dente para poder balbuciar:

- Mas, como? - e desmaia novamente. Moscas voejam o local.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007


O rei fascista

Parte do discurso de Juan Carlos no funeral do ditador espanhol Francisco Franco, em novembro de 1975. Uma palavra consternada e elogiosa ao fascismo franquista.
Veja e ouça aqui.


Foto: no dia 21 de julho de 1969, quando Don Juan Carlos de Borbón foi proclamado como herdeiro de Franco (à esq.) na chefia de Estado e futuro rei da Espanha.


A Bienal (do entulho) do Mercosul

Quero fazer um brevíssimo comentário sobre a chamada Bienal do Mercosul, ontem encerrada. Não é possível deixar passar batido esse tema aqui no blog. Para além das discutíveis obras de arte que a Bienal de Porto Alegre (esse deveria ser o seu nome) apresenta, existe um cipoal de interesses e representações de empresários graúdos e da chamada elite guasca embutidos no tema e passando uma idéia usinada e fantasiosa da arte vanguardista que pretende exibir.

Em primeiro lugar é preciso dizer que a bienal guasca é fiel à idéia da arte contemporânea. Me explico: na arte houve o chamado deslocamento, a idéia, o conceito, tornou-se mais importante que a realização da obra propriamente dita. Assim, já se vê que a idéia de Bienal - essa palavra magnificada pelo apoio da mídia corporativa - é mais importante que o coletivo de artistas e de obras que ela supostamente apresenta. O que menos importa é a obra de arte, no caso. O que mais importa é o conceito "bienal", seus patrocinadores, seus falsos mecenas, seus apoiadores, divulgadores e caroneiros (o caso da RBS que aproveita e faz a sua autolouvação com a exposição dos seus 50 anos de "vida"). Quando se fala, então, Bienal, se está subentendendo uma plêiade (que palavra linda!) de benfeitores culturais, amantes das belas artes e abnegados patrocinadores anônimos. Esse é o conceito. A rigor, entretanto, uma pura aparência, uma representação de superfície com vistas a surfar na onda da renúncia fiscal do Estado e posar de mecenas na cena claro-escuro da mídia guasca. Apanhem um prospecto da Bienal. Vejam quantos patrocinadores. Vejam suas logomarcas, seus logotipos. Aparentemente são eles que bancam o custo do "business" arte nos pagos. Mal sabemos nós que o mecenato não existe. Mecenato é o nome da renúncia fiscal do Estado, para esses empresários e banqueiros tirarem onda de "amantes das belas artes" com os recursos públicos. Tudo uma farsa, bem montada e articulada.

Por isso que a suposta obra de arte lá exposta pode ser qualquer coisa. Inclusive obra "fake", como mais de 80% das obras desta bienal. A cópia da cópia da cópia. É o que os críticos de arte (os autênticos) chamam de decadentismo, o falso novo. A falsificação da falsificação da falsificação. Ontem encerrou-se em Porto Alegre a bienal do entulho. A arte da adesão, a arte do sintoma. Sintoma de uma simulação de arte, de uma arte que não é resistência, de uma arte que não consegue perceber o sentido do discurso disperso e fragmentado de nosso tempo, de uma arte que não separa os ruídos das mensagens, e escolhe veicular somente o ruído vazio da cópia infinita.

Que nome pode-se dar a um suposto objeto artístico que precisa vir acompanhado de um discurso para explicar a genialidade "fake" do artista? Que arte é essa que precisa da bengala do conceito, do discurso, da palavra, da frase?

Pensando bem, o nome Bienal do Mercosul está mesmo adequado. Para Porto Alegre, chamá-la de Bienal de Porto Alegre seria mais uma violência simbólica contra esse aprazível (mas perturbado e corrompido) rincão do Brasil.

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