Slavoj Zizek já havia chamado a atenção para isso. Começam as primeiras disputas de discurso para saber quem levou quem ao colapso.
Aqui no RS, a abelhinha operária da lúmpen-burguesia guasca (porque toda ela dependente e comendo das migalhas dos centros dinâmicos do capital) já escolheu o Judas da derrocada do capitalismo financeiro norte-americano. O Judas, claro, é Luís Inácio Lula da Silva.
Está no jornal Zero Hora de hoje, que não me deixa mentir (acima).
Como lembra Zizek, no final da década de 20, na Alemanha, um Gefreiter, ex-pintor de parede, assexuado e ressentido, escolheu os judeus como responsáveis pela crise do capitalismo alemão, pela derrota na Primeira Guerra, pela pobreza das pessoas e até pela unha encravada que cada um escondia dentro dos sapatos. Tudo eram os judeus os culpados, para o pessoal de Hitler.
Hoje, tudo é Lula – para o pessoal da RBS (me disseram há duas horas, que a Globo também está ensaiando esse discurso).
Acho interessante as manifestações de Lula, à propósito da queda do Império. Ele está fazendo a disputa. Passaremos a assistir uma guerra de discursos daqui para frente. Lula está largando na dianteira. É isso mesmo que se espera de uma liderança do Hemisfério Sul. A intuição de Lula está sendo apropriada e incisiva. Precisa continuar. Isso é uma corrida de quem tem mais fôlego. Basta apenas um pouco mais de consistência e articulação conceitual para que o presidente brasileiro possa sair mais fortalecido no plano externo, o que deve rearranjar inúmeras forças e variáveis também no plano interno.
Quando Stiglitz diz que estamos assistindo a uma “queda do muro de Berlim do liberalismo” não está fazendo retórica vazia. Em novembro de 1989, um muro caiu sobre a esquerda, mesma a que não estava no poder. Em setembro de 2008, cai a muralha mundial do liberalismo sobre o poder do Império.
Isso não é pouca coisa.