Ações da Petrobras estão abaixo do valor patrimonial
É fato corrente que as ações da Petrobras estão desvalorizadas. O valor de mercado da estatal está, pela primeira vez desde 1999, abaixo do patrimônio líquido da empresa. Isso significa que as pessoas não estão acreditando no futuro da empresa estatal de energia. Na última terça-feira (5/7), o preço sobre o valor patrimonial da ação preferencial da Petrobras fechou em 0,98 vez, ou seja, o papel vale menos na bolsa do que nos livros. Para a ação ordinária, a relação era de 1,08 vez.
E por que está havendo essa baixa expectativa com relação ao futuro da Petrobras? Será que ninguém acredita nas valiosas jazidas do pré-sal brasileiro? Ou será que poucos apostam na capacidade administrativa e gerencial dos atuais dirigentes da Petrobras?
O diretor financeiro da estatal pensa de forma distinta, ele atribui a baixa expectativa à má condução política do governo federal ao capitalizar recentemente a Petrobras. Almir Barbassa, o referido diretor financeiro, deu entrevista ao jornal Valor sobre o assunto. Ele acha que a perda de valor das ações é resultado de um conjunto de fatores que passa pela capitalização com barris de petróleo (cujo preço foi considerado elevado na época) e aumento da percepção de interferência do governo na companhia. "A capitalização não foi bem entendida e ainda não foi digerida. O investidor acha que fizemos mau negócio", avalia o diretor da Petrobras para o jornal Valor, edição do dia 6 de julho último.
A declaração do diretor Barbassa é estarrecedora. Ele faz um juízo imoral e equivocado sobre o motivo de as ações da companhia estarem desvalorizadas. Simplório, responsabiliza o governo federal pelo que chama de “mau negócio” na capitalização da Petrobras. Desta forma, esquece de mencionar os verdadeiros motivos das baixas expectativas acerca do futuro da companhia estatal brasileira. Vamos, portanto, refrescar a memória do diretor Barbassa. Eis os motivos verdadeiros da desvalorização das ações da Petrobras, todos eles – vocês verão – dizem respeito à gestão incompetente e imprudente da atual diretoria da estatal (com exceções), incluindo o próprio diretor financeiro, a saber:
1) O Plano de Negócios 2011-2015 foi rejeitado pela terceira vez consecutiva pelo Conselho de Administração reunido no dia 17 de junho último. O PN foi considerado inconsistente e incompleto, inadequado mesmo para os desafios macroeconômicos que virão.
2) A divulgação recente de um escândalo envolvendo a empresa de prestação de serviços de propriedade do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE). A empresa foi contratada repetidas vezes pela Petrobras, sempre com dispensa de licitação, tendo faturado cerca de 57 milhões de reais, de forma completamente irregular. Há uma evidente suspeita de favorecimento nestas operações. Onde está a transparência? Qual o critério de retorno e de menor custo nestas reiteradas contratações ilegais? Por que a diretoria da Petrobras deixou prosperar essa grave irregularidade?
3) A tentativa de criação da espúria empresa Sete Brasil. Sabemos que a presidenta Dilma Rousseff mandou suspender o processo de criação da empresa Sete Brasil que seria encarregada de operar a frota petroleira do Promef (Programa de Modernização da Frota Nacional de Petroleiros), bem como o rentabilíssimo negócio das sondas de perfuração offshore para a exploração do pré-sal em águas profundas. Hoje, o aluguel unitário destas sondas não fica por menos de 700 mil dólares/dia (preço internacional). Atualmente, a Petrobras lidera a contratação de sondas em todo o mundo. A empresa Sete Brasil - urdida por alguns empregados aposentados da Petrobras, com o beneplácito da atual diretoria executiva – teria 90% de capital privado, com forte presença dos bancos Bradesco, Santander e demais grandes investidores.
Estão aí, pois, três consistentes motivos – sem prejuízo de tantos outros - para o desconforto dos investidores e a deprimida expectativa da chamada opinião pública quanto ao futuro da Petrobras. Portanto, o diretor Barbassa e demais colegas do board de executivos da estatal, está na raiz da desvalorização das ações da companhia, a menor desde 1999, ainda quando o governo FHC queria mudar o nome da empresa para PetroBrax, com a finalidade de leiloá-la no mercado internacional.
Há poucos dias, ao se referir às trapalhadas do ex-ministro Alfredo Nascimento, a presidente Dilma Rousseff chegou a dizer que isso poderia “inviabilizar o governo”. Pois o mesmo pode-se dizer acerca da diretoria da Petrobras. Com um agravante, esta direção temerária pode inviabilizar o governo, a Petrobras e, inclusive, a exploração virtuosa do pré-sal, seus benefícios sociais, econômicos e a garantia de um futuro menos incerto para o País e seu povo.
A capitalização da empresa, promovida pelo governo federal, foi uma política correta e necessária para a garantia do caráter público e estatal da Petrobras, abalada que fora pelo processo de privatização promovido pelo governo FHC, onde o Estado ficara minoritário face aos acionistas privados. A capitalização foi uma forma de reestatizar a empresa e sobretudo de diluir a força dos minoritários privados, bem como uma garantia do caráter público e estatal das ricas jazidas oceânicas de óleo e gás. O diretor Barbassa, ao se insurgir contra tais medidas, está se assumindo como porta-voz dos interesses dos acionistas privados. Certamente, Barbassa acha mais adequado deixar a Petrobras sob o controle total do mercado, ou da “competente” corporação dos seus sábios diretores.
De qualquer forma, Barbassa não consegue enxergar é que o mercado está informado sobre a incompetência reinante na alta direção da Petrobras. É disso que estamos falando, quando analisamos a queda no valor das ações da estatal de energia. A presença desta diretoria já está sendo evidente e sensível fator de desqualificação da própria marca Petrobras. Urge que o governo Dilma ponha termo nesta situação, que começa a ficar onerosa e de alto risco para o País.