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Surf no lixo contemporâneo: a que ponto chegamos! E que mundo deixaremos de herança para Keith Richards?

domingo, 30 de novembro de 2008

Uma governadora trololó




A serena convicção de ser irresponsável

O jornal ZH colheu uma entrevista com a governadora tucana Yeda Crusius. E publica hoje na edição dominical. São aquelas entrevistas feitas por jornalistas com punhos de renda, para não ofender o entrevistado.

Dona Yeda está à vontade, tão à vontade que expressou sem nenhuma autocensura o que pensa de cumprir lei, ter disciplina, promover políticas públicas, assumir responsabilidades e iniciativas públicas, etc. – uma chatice, segundo ela.

Uma pessoa assim ou é muito debochada, mas para isso teria que ter bom humor e espírito autocrítico, ou é inteiramente trololó - o mais provável.

sábado, 29 de novembro de 2008

Yeda transforma o Piratini num museu


A tardia vindita maragata

Vejam o simbolismo das coisas. Hoje, na coluna de Rosane de Oliveira, jornalista e abelhinha, em ZH, há um comentário sobre o tratamento que a governadora Yeda Crusius (PSDB) dá ao Palácio Piratini. Dona Yeda despacha no Centro Administrativo e aproveita o Piratini somente para efemérides e pequenas liturgias do poder.

Não sei se isso é consciente ou inconsciente, mas o fato é que esse “novo jeito de despachar” ilustra bem a forma como a direita liberal encara a administração pública. Está sendo dito, subliminarmente, que o Estado republicano é – ou deve ser – uma peça de museu.

Assim, o Piratini, construído pelos vitoriosos da revolução burguesa de 1893, os chimangos positivistas-castilhistas-borgistas, fica obsoletizado pelo advento do ultra-pragmatismo neoliberal tucano. É uma forma simbólica de fazer a vindita maragata, agora travestida no yedismo vende-pátria.

Por fim, é também significativo que no topo do Piratini se faça um ameno estar para os fins das tardes quentes de Porto Alegre, mesmo que os guarda-sóis ainda tragam estampado a logomarca do banco regional fundado por Getúlio Vargas – o filho mais generoso e republicano do castilhismo sul-rio-grandense. Mas, sobre isso, a obtusidade da governadora Yeda sequer suspeita.

O Piratini está de porta aberta, sim, mas vazio de significado e poder.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Mestre da antropologia e do pensamento faz cem anos hoje


Claude Lévi-Strauss mostrou um novo modo de ver o homem

Hoje, dia 28 de novembro, festeja-se o centésimo aniversário de Claude Lévi-Strauss (foto). O último dos maîtres à penser. O homem que fez da antropologia o que Freud fez da psicanálise, ou seja, um dos grandes saberes do século XIX. Não só uma disciplina especializada, para poucos exploradores dos mundos exóticos, mas um novo modo de ver o homem.

Nenhum antropólogo exercitou uma influência tão vasta além do seu próprio campo. Com este moralista clássico, presente no estado de urgência planetária, a antropologia vai além de si para se tornar uma aposta filosófica, capaz de colocar em questão a oposição entre natureza e cultura e a própria definição do ser humano. Diferentemente de outros grandes antropólogos como Franz Boas, Bronislaw Malinowski, Margaret Mead e Gregory Bateson, o pai do estruturalismo não se tornou célebre por ter descrito povos primitivos, mas principalmente pelas implicações gerais do seu pensamento. E justamente nesse amplo intervalo estão o fascínio e o desafio da obra teórica levistraussiana.

O antropólogo francês não foi o primeiro nem o único a destacar o caráter estrutural dos fenômenos sociais, mas a sua originalidade está em levar essas características a série e tirar delas as conseqüências sem se descompor. É natural que uma pesquisa desse tipo tenha suscitado discussões e polêmicas, também por causa do fato de levar à discussão certas categorias típicas do humanismo ocidental, sobretudo os conceitos de “homem” e de “humanidade”. E, por outro lado, em uma célebre passagem de “O pensamento selvagem”, Lévi-Strauss afirmou que “o fim último das ciências humanas não consiste em construir o homem, mas sim em dissolvê-lo”.

O conhecimento da alteridade, que representa a tarefa da etnologia, é só a primeira etapa de um itinerário de pesquisa das invariáveis que permitem reabsorver “algumas humanidades em particular em uma humanidade geral”. E, portanto, de “reintegrar a cultura na natureza e, substancialmente, a vida no conjunto das suas condições físico-químicas”. O verdadeiro objeto da polêmica levistraussiana é, com toda a evidência, o humanismo que funda os direitos do homem sob o caráter único e privilegiado de uma espécie viva, a humana, ao invés de ver em tal caráter um caso particular dos direitos de todas as espécies. Mais do que uma profissão de anti-humanismo, trata-se de um ataque frontal à sua declinação antropocêntrica, à metafísica humanística do sujeito. A esse insuportável enfant gaté das ciências humanas, o grande antropólogo opõe uma concepção do homem “que coloca o outro antes do eu, e uma concepção da humanidade que, antes dos homens, põe a vida”. Nesse sentido, observou-se que Lévi-Strauss contribuir em desconstruir “a convicção judaico-cristã e cartesiana segundo a qual a criatura humana é a única a ter sido criada à imagem e semelhança de Deus”.

Se perguntarmos a um índio americano o que é um mito, são muitas as probabilidades de que responda: “uma história dos tempos em que os homens e os animais ainda não eram diferentes”. Essa definição parece de grande profundidade a Lévi-Strauss, porque “apesar das nuvens de tinta levantadas pela tradição judaico-cristã para camuflá-la, nenhuma situação parece mais trafica, mais ofensiva para o coração e para a inteligência do que a de uma humanidade que coexiste com outras espécies vivas sobre uma terra na qual estas últimas compartilham o usufruto e com as quais não pode se comunicar”. Aflora aqui o pessimismo do autor de “Tristes Trópicos” que, à idéia prometéica do homem que sujeita a natureza, substitui uma visão trágica do sujeito e de uma natureza ambos mutilados, porque separados da outra parte de si.

Uma descentralização do sujeito que reflete a idéia de uma relação não-instrumental com a natureza, em que, dizendo com Adorno, esta não é mero objeto, Gegenstand, mas principalmente parceira, Gegenspieler. Já nos primeiros anos 50, com uma sensibilidade ecológica em grande antecipação aos movimentos ambientais atuais, o antropólogo francês denunciava o perigo de um humanismo narcisisticamente antropocêntrico, e por isso mesmo etnocêntrico, que esquece os direitos do ser vivo em nome de uma idéia abstrata da vida, que faz do homem o senhor único do planeta e da sua reprodução, o fim último da natureza. Nesse sentido, Michel Maffesoli pôde aproximar a denúncia levistraussiana da pilhagem do mundo à crítica heideggeriana da devastação da terra por parte da metafísica.

Para Derrida, o próprio nascimento da antropologia foi possível por causa dessa descentralização do sujeito que teve início “no momento em que a cultura européia – e, por conseqüência, a história da metafísica e dos seus conceitos – foi subvertida, expulsa do seu lugar, constrangida, portanto, a não se considerar mais como cultura da referência”. A crítica do etnocentrismo que foi e ainda é a condição mesma dos saberes antropológicos é, para o autor de “A escritura e a diferença”, contemporânea, realmente simultânea à destruição da história da metafísica.
Em um célebre texto dedicado a Jean-Jacques Rousseau, Lévi-Strauss institui uma relação entre a identificação aos outros e exatamente “ao mais ‘outro’ entre todos os outros, o animal”, e a objeção de tudo o que pode tornar aceitável o eu. A objeção, em suma, da transcendência de improviso que fica, em sua opinião, profundamente empossada no humanismo. Em muitas ocasiões, o pai do estruturalismo critica de fato os filósofos, particularmente os existencialistas, por terem operado uma inversão perspéctica, dando prova de uma autêntica perversão epistemológica, além de construir um refúgio para o eu, “no qual o mísero tesouro que é a identidade pessoal tenda a ser protegido e, dado que as duas coisas juntas são impossíveis, eles preferem um sujeito sem racionalidade a uma racionalidade sem sujeito”. Nessa idéia de uma racionalidade sem objeto aflora verdadeiramente aquele ”kantismo sem objeto transcendental”, atribuído a Lévi-Strauss por Paul Ricoeur, a propósito da análise dos mitos com a qual o grande antropólogo ofereceu a formulação mais radical das suas teses sobre o acordo existente entre cultura e natureza, entre espírito e mundo.

E àqueles filósofos que o acusam de ter abolido o significado dos mitos e de ter reduzido seu estudo à sintaxe de um discurso que não diz nada, Lévi-Strauss, nas últimas páginas de “O homem nu”, reserva uma resposta, por assim dizer, peremptória. As mitologias, afirma, não escondem nenhuma verdade metafísica nem ideológica, mas, em compensação, nos ensinam, por um lado, muitas coisas sobre as sociedades que as transmitem e, por outro, nos oferecem o acesso a certas modalidades operativas do espírito tão estáveis no tempo e recorrentes no espaço que se podem considerar basilares. E conclui com uma suprema depreciação: “longe de ter abolido o seu sentido, a minha análise dos mitos de um punhado de tribos americanas trouxe-lhes mais significado do que aquilo que se encontra nas banalidades e nos lugares-comuns a que se reduziram, há cerca de 2.500 anos, as reflexões dos filósofos sobre a mitologia, com exceção daquelas de Plutarco”.

Muitos criticaram o estruturalismo por sua posição anti-histórica, mas, na realidade, Lévi-Strauss sempre procurou distinguir claramente a história, à qual atribui uma importância extraordinária, da filosofia da história a la Sartre, uma pseudo-história que, em cada versão, leiga ou confessional, evolucionista ou historicista, constitui uma tentativa de suprimir os problemas postos pela diversidade das culturas, para fingir que reconhece a todos plenamente. Tal filosofia da história – que a Lévi-Strauss parece ser da mesma natureza do mito – deriva da fé bíblica em um cumprimento futuro e termina com a secularização do seu modelo escatológico, que se transforma na teoria do progresso.
O vício constitutivo de tal filosofia, que dirige rumo ao futuro o conceito clássico de istorein e transforma a história do passado em previsão do futuro, um futuro objeto de uma espera fideísta. Nesse sentido, Lévi-Strauss não se limita a rejeitar a acusação de anti-historicismo, mas, o que mais importa, reivindica à antropologia um modo todo próprio de interrogar os materiais históricos, com aquela atenção aos fatos detalhados da vida cotidiana que faz dos etnólogos os “trapeiros” da história, aqueles que remexem nas suas lixeiras.

É uma real e verdadeira heterologia a colocada em prática por Claude Lévi-Strauss, capaz de nos fazer colher o que há de nós mesmos nos outros e o que se pode encontrar dos outros no fundo de nós mesmos. Aquele fundo que nos faz todos parentes, porque todos diferentes, e que alguns continuam chamando de humanidade.

O texto acima é de Marino Niola, publicado no jornal italiano La Repubblica, de 21/11/2008. A tradução é de Moisés Sbardelotto para o portal do Instituto Humanitas da Unisinos.

Movimentos sociais fazem reivindicação a Lula


Redução de juros e controle dos capitais especulativos

Cerca de sessenta movimentos sociais do campo, sindicatos de trabalhadores e organizações civis e de estudantes entregaram uma carta com reivindicações ao presidente Lula durante reunião com o governo na última quarta-feira em Brasília.

As organizações apontaram medidas que seriam necessárias para amenizar os impactos da crise financeira no país. Entre elas, estão a redução da taxa básica de juros, rigoroso controle da movimentação do capital financeiro especulativo no Brasil e o controle do preço dos produtos agrícolas. Para a política externa, as entidades pedem o fortalecimento da integração regional por meio do Banco do Sul e da Alba.

Assinaram a carta organizações como a Via Campesina, a União Nacional dos Estudantes e a Central Única dos Trabalhadores. A informação é da Agência Chasque.
Foto do alto da página: soldados do governo do Congo carregam bens de refugiados civis em scooter de madeira. Fotografia de Finbarr O'Reilly/Reuters, tirada em 18 de novembro de 2008.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Fala atrevida de Meirelles desmoraliza discurso recente de Lula


Candente tema da semana é praticamente ignorado pelos jornais

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, descartou ontem a possibilidade de o Comitê de Política Econômica (Copom) baixar a taxa básica de juros (Selic) na reunião de dezembro, de modo a acompanhar algumas economias mais fortes que derrubaram suas taxas como forma de enfrentar a crise financeira internacional. A informação é da Agência Brasil.


Em audiência na Comissão Mista de Planos e Orçamentos do Congresso Nacional, Meirelles disse que não podia fazer sinalização a respeito, porque “não seria de boa governança”. Ressaltou, no entanto, que cada país toma a decisão mais adequada na condução de sua economia, em momentos de crise, lembrando, porém, que “nem sempre o remédio de um serve para outros”.

De acordo com o presidente do Banco Central, deve-se diagnosticar de forma precisa qual o problema de cada um, e aí sim administrar o remédio certo para evitar efeitos colaterais. Ele reafirmou que o problema no Brasil é de liquidez, ao passo que nos Estados Unidos a perspectiva é de recessão com deflação e na China é de queda de demanda interna e das exportações, o que levou o governo chinês a criar uma promoção de US$ 586 bilhões para o mercado interno.
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É gritante. Segue a luta interna no seio do governo Lula sobre os caminhos para superar os efeitos da crise internacional do capitalismo. A luta de classes está dentro do Palácio do Planalto, agora turbinada pela reação de Henrique Meirelles, presidente do Boston Bank e do Banco Central do Brasil, ao forte discurso de Lula na última segunda-feira, em reunião ministerial na Granja do Torto.

Em 72 horas apenas, Meirelles, o czar da economia brasuca, dá a resposta ao presidente da República, desmoralizando-o perante a Nação: não vai mexer na taxa Selic, que faz os juros brasileiros escalarem o monte Everest.

No Torto, o presidente brasileiro havia dito que não há mais pressão inflacionária por causa de excesso de demanda no Brasil devido aos efeitos da crise internacional. Para Lula, "a crise já acabou com o risco de excesso de demanda para nós, agora é estimular o crescimento". Meirelles só tomou o cuidade para não mencionar a palavra “inflação” – o motivo mágico para o sucessivo aumento dos juros e a justificação para os ganhos exorbitantes do capital financeiro nos últimos 25 anos no Brasil.

A fala atrevida de Henrique Meirelles é uma espécie de pagar-para-ver: ou fica e afirma-se como o verdadeiro (e reforçado) soberano inconteste da economia brasileira da era lulista, ou é defenestrado por Lula e passa a liderar uma reação das classes proprietárias ao governo e à candidata de Lula à sucessão de 2010. Mais do que numa saia justa, Lula encontra-se numa situação em que seu próprio poder presidencial está sendo questionado.

A manifestação de Meirelles ontem no Congresso, curiosamente, mereceu pouquíssimo destaque da mídia oligárquica, hoje. Somente o Estadão trouxe um comentário assinado por repórter de Brasília (fac-símile acima). Este é o assunto mais candente da semana na Esplanada, e a mídia está assim: ou silenciosa ou editando latifúndios de espaço à tragédia catarinense.

Igreja alerta para crise ecológica no País


Análise de conjuntura da CNBB critica lulismo de resultados

Documento da Igreja Católica intitulado "Análise da Conjuntura", divulgado ontem em congresso internacional em Indaiatuba (SP), critica a ação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva frente à crise econômica e diz que "Lula entregará ao seu sucessor ou sucessora um país em situação tão precária quanto a que recebeu". A informação é da Folha.

A análise aponta que "o presidente continua dando força ao agronegócio e à mineração, sem atentar para os danos ambientais", e que isso gerará "a crise ecológica" no país.

"Tudo se passa como se o aumento da produção para a exportação fosse uma solução e não um paliativo que adia a crise econômica, mas antecipa a crise ecológica, que é muito mais grave e que prejudicará mais os mais pobres do que os ricos", diz trecho do texto de dez páginas assinado por padres e teólogos assessores da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

Os religiosos indicam que a política industrial do governo "vai no sentido de favorecer a indústria automobilística, como se ela tivesse futuro".

A análise foi feita a pedido da CNBB para orientar bispos. Apesar disso, há uma aviso que diz que "este não é um documento oficial da CNBB".

Foto do alto da página: mãe dá água ao filho, em acampamento da ONU, no Congo. Fotografia de Roberto Schmidt/Getty Images, tirada em 19 de novembro de 2008.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Lúmpen-burguesia


Velho Karl, sempre atual

“No seu modo de fazer fortuna, como nos seus prazeres, a aristocracia financeira não é mais do que o renascimento do lumpenproletariado nos cumes da sociedade burguesa.”

Karl Marx, “A luta de classes na França”

Foto: criador e criatura

Aracruz Celulose, papeleira e cassino eletrônico


Ex-diretor da papeleira conta tudo

Vale conferir a entrevista do ex-executivo da Aracruz concedida ao Estadão de hoje. O senhor Isac Zagury cuidava dos investimentos não-operacionais da papeleira, eufemismo para a atividade de player irresponsável do vídeo-pôquer financeiro da temerária empresa.

Ele conta tudo, diz que todos sabiam de tudo, inclusive os acionistas (Banco Safra, Votorantim, etc). Revela que de 2004 a 2008, a papeleira ganhou US$ 350 milhões na especulação da BM&F.

Como se vê, a Aracruz Celulose era uma papeleira dublê de cassino.

A matéria do Estadão é aberta, qualquer um de nós pode ter acesso, basta clicar no Estadão Digital e procurar o caderno de "Economia & Negócios".

Uma matéria dessas jamais sairá no jornal Zero Hora, que no RS cuida zelosamente dos interesses da papeleira & cassino eletrônico.

Taxa de exploração do trabalho aumenta no Brasil


Ganhos de produtividade medidos pelo PIB per capita não se traduziram em ganhos salariais

Apenas uma pequena parte dos ganhos com o crescimento da economia do Brasil, registrados no Produto Interno Bruto (PIB, soma de toda a riqueza produzida no país em um ano) entre 1995 e 2007 foi repassada para o salário dos trabalhadores brasileiros. É o que indica o Relatório Mundial sobre Salários 2008/2009, divulgado ontem pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). A informação é da Agência Brasil.

Ao passo em que o PIB per capita cresceu 16% nesse período, o rendimento médio real dos trabalhadores registou uma queda de 6%. “Significa que os ganhos de produtividade medidos pelo PIB per capita não se traduziram em ganhos salariais”, afirma Laís Abramo, diretora do escritório da OIT no Brasil.

No período entre 2001 e 2007 também caiu o percentual do PIB composto pelos salários, registrando uma média de 37%.

Laís Abramo disse que a principal perda se deu durante os anos de 1990, quando foi registrada uma piora em praticamente todos os indicadores sociais. Já de 2004 a 2008 se verificou um ganho de 15,6% no rendimento médio dos trabalhadores, que colaborou para diminuir a desigualdade salarial entre os empregados. “Esse aumento é muito importante, mas ele não chega a compensar o nível salarial existente em 1995”, informou.

De acordo com a OIT, um fator que colaborou para esse crescimento no nível salarial no Brasil foi um processo de valorização do salário mínimo desde o início dos anos 2000, especialmente a partir de 2004. Daquele ano até 2008, o crescimento médio foi de 10%, num total de aumento em 43%. De 2000 a 2008, esse percentual foi de 50%, em termos reais.

“O aumento real do salário mínimo contribui para a redução das desigualdades salariais entre homens e mulheres e brancos e negros, se é verdade que há uma maior concentração de mulheres, em relação aos homens nos estratos inferiores da pirâmide salarial, no caso da comparação entre negros e brancos isso é ainda mais verdade”, afirmou.

Na questão salarial ligada ao gênero, de acordo com números da OIT, se em 1995 as mulheres recebiam em média 62% do salário dos homens, em 2006 essa proporção passou a 71%. Já na questão ligada à raça, o avanço foi menor. Em 1995 os negros recebiam 49% do que recebiam os brancos. Em 2006, recebiam 53%.

Outro dado significativo é a queda no percentual de trabalhadores que recebem menos que o mínimo (de 29,8% em 1992 para 21,6% em 2006) e o aumento do percentual daqueles que recebem exatamente o mínimo (de 6,1% em 1992 para 13,4% em 2006).

Outro ponto destacado no estudo é o fortalecimento da negociação coletiva no país, com 96% das negociações alcançando reajustes acima da inflação em 2006. Apesar de não ser possível determinar com segurança qual a cobertura dessa instituição no país, porque, ainda que o percentual de trabalhadores sindicalizados seja baixo, os acordos coletivos acabam beneficiando toda a categoria, mesmo os que não estão ligados às instâncias sindicais.

Segundo Laís Abramo, a conclusão é que “as instituições [do mercado de trabalho] em geral, e essas duas em particular, são muito importantes para a garantia do bem-estar dos trabalhadores e para uma melhor distribuição de renda e das riquezas e benefícios do desenvolvimento econômico”.

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Já os ganhos do capital financeiro, dos especuladores e rentistas...
Coisas do lulismo de resultados.

Jobim quer alinhar Brasil com o complexo industrial-militar dos Estados Unidos


Ministro chega a citar discurso de senador bushista

Dias atrás o ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, fez o discurso de abertura da 5ª Conferência de Segurança Internacional do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro. Cometeu a oratória da submissão incondicional à liderança dos Estados Unidos na ordem internacional, segundo interesses do complexo industrial-militar norte-americano. Chegou ao cúmulo de citar o senador republicano John Henry Hager, cujo filho é casado com a filha de George Bush Jr, ativista da sociedade secreta SAE (Sigma Alpha Epsilon) e lobbysta do temido complexo industrial-militar-armamentista norte-americano. Jobim lembrou discurso do senador bushista onde ele fala da necessidade de se recuperar a confiança do mundo nos Estados Unidos da América do Norte.

O ministro lulista, filiado ao PMDB, apresentou dois pontos fundamentais para o Brasil superar os problemas do setor de segurança. A elaboração de um Plano Estratégico de Defesa Nacional para organizar as forças de segurança, cujas bases devem ser apresentadas ainda este ano (ver post publicado aqui, ontem), e o Conselho de Defesa Sul-Americano, que engloba os parceiros regionais, e fazem parte da necessidade de se retomar temas como defesa não apenas na esfera militar, mas também civil.

Outros temas tratados: reorganização das Forças Armadas; revisão da zona econômica (em que o governo reclamará maior extensão de seu território marítimo); indústria nacional de defesa e segurança, com transferência de capacitação (de ondem para onde?); desenvolvimento de tecnologia de ponta no setor; e retomar a obrigatoriedade do serviço militar, como em países que estão em guerra permanente (como EUA e Israel).

Esteve presente à conferência, Daniel Fata, vice-presidente do Cohen Group, dirigido pelo ex-Secretário de Defesa do presidente Bill Clinton, William S. Cohen. A organização de Cohen presta consultoria estratégica no mundo todo, desde questões de contencioso jurídico até assuntos de segurança empresarial, segurança pública e estratégias nacionais de defesa e inteligência. Daniel Fata afirmou no simpósio do Forte de Copacabana que “um dos maiores entraves ao consenso sul-americano, atualmente, é a Venezuela”. Para o executivo norte-americano, “Hugo Chávez representa uma ameaça, tanto aos EUA quanto ao seus vizinhos, por outro lado, não acredito que seja um parceiro forte quando o assunto é segurança” disse o especialista.

Estiveram presentes também à essa conferência de segurança, autoridades e especialistas de países como Alemanha, Uruguai, Argentina, Chile e Colômbia.

A rigor, o simpósio de segurança internacional foi uma discussão para alinhar posições face às mudanças possíveis nas estratégias geopolíticas dos Estados Unidos a partir da posse de Barack Obama, em janeiro. Mudanças?

Congo em guerra


Os olhos do animalzinho dizem de todo o desamparo e medo vivido hoje no Congo

Soldado do governo do Congo (ex-Zaire) segura filhote de chimpanzé, cuja mãe foi morta. A fotografia foi tirada em 06 de novembro último, por Yasuyoshi Chiba da AFP/Getty Images. Amanhã, mais imagens do Congo, aqui no blog DG.

Clique na imagem para aumentá-la.

Foto do alto da página: a moça se chama Furah, com sua filhinha de dezoito meses. Ela caminha todos os dias cerca de 16 km buscando lenha para seu acampamento de refugiados de guerra, onde vive no Congo. Fotógrafo Jerome Delay/AP Photo.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Lula diz para Meirelles baixar a bola e os juros


A prioridade agora é o crescimento da economia, não a inflação

Em reunião ministerial ontem na Granja do Torto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a prioridade do governo deixou de ser a inflação e passou a ser o crescimento da economia - numa inflexão importante na equipe econômica e assumida para os ministros pela primeira vez.

Lula pediu à ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) um PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) 2 para explorar o petróleo do pré-sal e fazer as obras para a Copa do Mundo de 2014, que será no Brasil. "Dilma, você que é a mãe do PAC, prepare um plano de continuidade", disse Lula, segundo relato de ministros à Folha de S. Paulo.

Segundo os presentes, Lula foi claro: disse que não há mais pressão inflacionária por causa de excesso de demanda no Brasil devido aos efeitos da crise internacional. "A crise já acabou com o risco de excesso de demanda para nós. Agora é estimular o crescimento", afirmou o presidente.

Os ministros entenderam como um recado explícito do presidente ao Banco Central de que deseja queda dos juros básicos (taxa Selic), hoje em 13,75% ao ano. O presidente do BC, Henrique Meirelles, estava presente. O órgão sempre usa a preocupação com a demanda interna como forma de justificar os juros altos.

Plano de soberania de Nelson Jobim é atrasado e obsoleto


Várias esferas de soberania são ignoradas pelo Plano Estratégico de Defesa Nacional que será lançado hoje

A Frente Parlamentar da Defesa Nacional deve ter acesso hoje ao Plano Estratégico de Defesa Nacional, a ser lançado pelo governo até o fim de dezembro. Será às 10h no gabinete do ministro da Defesa, Nelson Jobim. A informação é da Agência Brasil.

A apresentação prévia será feita para a diretoria da frente, composta pelo presidente Raul Jungmann (PPS-PE) e pelos deputados Aldo Rebelo (PCdoB–SP), Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), Michel Temer (PMDB-SP) e José Genoíno (PT-SP).

Uma das funções da Frente Parlamentar da Defesa Nacional, composta por 227 parlamentares, é promover um adequado sistema de defesa voltado para a preservação da soberania nacional e do Estado democrático de direito. Os integrantes têm como meta reforçar as relações internacionais, com destaque para o Conselho Sul-Americano de Defesa, Direitos Humanos e Política de Defesa Nacional; avaliar e ampliar o papel e a organização da Defesa Nacional e das Forças Armadas; e elaborar o Livro Branco da Defesa Nacional, voltado para a ampliação da atenção da sociedade civil à defesa nacional.

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O Plano Estratégico de Defesa Nacional do ministro Nelson Jobim é atrasado e obsoleto, porque parte de conceitos superados de soberania, como os conceitos militaristas e armamentistas, conforme os interesses do complexo industrial-militar dos países hegemônicos.

Para a cidadania brasileira importam outras esferas de soberania: a soberania alimentar, a soberania energética, a soberania no desenvolvimento sustentável, e a soberania do Poder Executivo sobre políticas públicas que contemplem as maiorias nacionais e não somente segmentos bem identificados como o do capital financeiro (presidente do Bacen, Henrique Meirelles), do agronegócio (ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes) , e setores da indústria automobilística (ministro Miguel Jorge), que se dão ao luxo de ter agentes públicos privilegiados no coração mesmo do lulismo de resultados.

Aliás, o próprio ministro Nelson Jobim representa um entrismo consentido de setores conservadores no núcleo decisório do lulismo planaltino, que conspiram contra as várias esferas da soberania cidadã. O Plano Estratégico jobinista é um atestado de heteronomia e submissão brasileira às determinações e interesses do nosso capitalismo associado e dependente.

Quem corta o ponto do funcionalismo em greve?


Jornal desinforma e anula a vindita do yedismo tucano

O jornal Zero Hora adota uma técnica simples para ocultar até onde pode as malfeitorias do governo tucano de Yeda Rorato Crusius. Hoje, por exemplo, ao comentar sobre o corte do ponto dos policiais civis em greve, o jornal do bairro Azenha, faz uma frase com sujeito indeterminado: “Corte no ponto também na polícia”.

Quem cortou o ponto? O sujeito da ação está tão indeterminado ou oculto quanto as realizações do “novo jeito de governar” do tucanato guasca.

O resultado é o que se vê: quando faltam políticas de consenso, prevalecem as políticas de coerção, constrangimento, força, repressão e vindita.

Big Pharma controla os alimentos do mundo


A luta pelo direito a uma alimentação saudável

Diz a propaganda que os Nazistas usavam “fluoride” misturado na água que davam de beber aos presos nos campos de concentração. Supunha-se que o produto químico produzia efeitos que tornava os prisioneiros mais fáceis de manejar. O sacerdote pró-nazi norte-americano Charles Coughlin desejaria importar o método, quando na década de 1930 previu um “Reich” (Império) igual ao alemão nos Estados Unidos.

Não se enganou por muito. Já para não falar do aparato político-militar, a tentação de exercer o controle de grupos humanos, para o bem ou para o mal, é hoje uma prática corrente entre os principais grupos fármaco-químico-alimentares multinacionais conhecidos pela denominação Big Pharma. São empresas como a Pfizer, Merck, Novartis, Monsanto, Bayer, BASF, ADM, Chemit, Eastman Chemical, Glaxo Smith Kline, Johnson & Johnson.

Em 1977, Donald Rumsfeld chegou a diretor da Searle, uma subsidiária da Monsanto – e uma das suas primeiras ações sugerir que a Searle apoiasse fortemente Ronald Reagan financiando-lhe a campanha eleitoral. A contrapartida seria a mudança da legislação restritiva desregulando a venda, proliferação e as normas de segurança dos produtos biotecnológicos, tais como o hormônio de crescimento artificial rBST, os OGM, sementes transgênicas e o aditivo Aspartame (inscrito nas caixas das embalagens com as letras A). Está mais que comprovado que este tipo de práticas são nocivas para os humanos. No entanto, cada vez se intensificam mais em função das necessidades comerciais. Qual é a grande descoberta, se até o simples excesso de vitamina D nos alimentos produzidos industrialmente têm mais de 50% de possibilidades de causar esclerose multipla? A descoberta é que a medicação farmacêutica que é recomendada para o tratamento da esclerose múltipla custa entre 1500 a 2500 dólares por mês por cada paciente. Será preciso dizer muito mais?

O Codex Alimentarius é uma ameaça aos povos na escolha de uma alimentação saudável e de medicinas alternativas aos químicos. No fim da Segunda Guerra, 24 altos dirigentes da IG Farben, empresa produtora de químicos profundamente comprometida com os processos nazis, foram julgados e condenados em Nurenberg. Em sua defesa, o presidente da companhia afirmou: “Que poderíamos fazer? Quem controlar a alimentação controlará o mundo”.

O eco e o legado chegaria até Bush Jr, em 1962 os Estados Unidos resolveram instalar uma Comissão Comercial para investigar o Código Alimentarius e concluíram ser lucrativo implementá-lo a nível global, primeiro através da FAO, mais tarde abrindo barreiras comerciais através da OMC. Uma versão refinada do Código, entretanto ratificada pela Organização Mundial de Saúde entrará em vigor em 2009.

A Drª Rima Laibow da organização sem fins lucrativos “Natural Solutions Foundation” explica a história no seu site www.HealthFreedomUSA.org onde apela à luta pelo direito da livre escolha de uma alimentação saudável.

Pescado do blog Xatoo.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O propinoduto do banqueiro Daniel Dantas

18 milhões para juízes, políticos profissionais e jornalistas

Deu no blog do jornalista
Ricardo Kotscho:

Sem muito alarde, depois de semanas dedicando os espaços nobres do noticiário à discussão sobre os métodos adotados pelos investigadores, hoje os jornais publicam o preço da propina paga à suposta rede de corrupção que protegia o banqueiro Daniel Dantas nas atividades criminosas de que é acusado: R$ 18 milhões.

Pelos bilhões envolvidos nestas atividades, sei que esta quantia é troco de táxi, mas pode explicar muita coisa estranha na cobertura do caso. Quem fez esta constatação não fui eu, mas o bravo colega Luciano Martins Costa, em seu comentário no programa de rádio do Observatório da Imprensa.

A revelação da quantia investida para conquistar os corações e as mentes de juízes, políticos e jornalistas, publicada pelo jornal “O Globo”, foi feita pelo delegado Carlos Eduardo Pelegrini Magro, um dos responsáveis pelo inquérito que resultou na prisão do banqueiro Daniel Dantas, durante reunião de três horas com a cúpula da Polícia Federal, no dia 14 de julho.

Para o delegado Magro, que diz ter apreendido na operação bilhetes e informações digitalizadas num laptop, detalhando o esquema de propina, as críticas à investigação são “uma reação do crime organizado”. Sobre os jornalistas, segundo ele, consta no organograma: “A gente contrata o Magabeira para chegar aos meios de comunicação”.

Na mesma linha, Amaury Portugal, presidente do sindicato dos delegados da PF paulista, disse durante a abertura do congresso nacional da categoria, em São Paulo, que o crime organizado se infiltrou em todos os poderes.

“A Polícia Federal é um dos alvos disso. Nós, que conhecemos a instituição, sabemos que o que está colocado na imprensa não procede”, afirmou Portugal à “Folha”, a respeito das suspeitas de que houve grampo ilegal contra o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes.

A reação dos delegados da Polícia Federal se deu na mesma segunda-feira em que os advogados de Dantas sofriam três derrotas na Justiça: o juiz De Sanctis foi mantido no caso pelo TRF e, além disso, foram negados dois habeas corpus que pretendiam anular a ação penal e os inquéritos policiais.

Parece que os advogados do banqueiro tentam controlar todo o processo, vetando juízes, anulando inquéritos, escolhendo políticos mais simpáticos à causa ou até indicando quais jornalistas devem ou não fazer a cobertura do caso. Podem até não conseguir, mas estão no papel deles de tentar. Resta saber como cada um cumprirá seu papel nesta história.

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Em outras oportunidades, fizemos suíte no blog de denúncias sobre a Satiagraha, que foram objeto de comentários do Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif.

Fui quase apedrejado pelos lulistas de resultados e pelos petistas sonâmbulos da história (duas categorias vivas e solventes que deambulam pela vida social de nossos dias e noites) por repercutir matérias de dois outsiders, etcetera.... pois bem, agora reproduzo texto do Kotscho, um cara insuspeito de sequer discordar do cachorrinho mascote de Lula.

O que me dizem? Até o Kotscho...

Dia da Consciência Negra


Situação de negros e negras continua muito desfavorável

As etnias negras representam, atualmente, 49,5% da população brasileira. Levantamentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a condição do negro, apesar de alguns avanços, continua desfavorável em relação à da população branca. A informação é da Agência Brasil.

Em indicadores como o acesso ao ensino superior entre pessoas de 18 a 24 anos, a população preta e parda não havia atingido, em 2006, o patamar já alcançado pelos brancos em 1995.

Na área de trabalho, por exemplo, estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) mostra que, em 2006, o rendimento médio mensal dos homens brancos equivalia a R$ 1.164. Esse valor, no mesmo ano, era 98,5% superior ao recebido pelos homens pretos e pardos (R$ 586,26) e 200% maior do que o obtido pelas mulheres pretas e pardas.

Especialistas afirmam que esses dados são apenas exemplos das dificuldades que os negros enfrentam em situações cotidianas marcadas pela falta de oportunidades, discriminação e desrespeito.

Em homenagem ao principal ícone da luta contra a escravidão no país, Zumbi dos Palmares, hoje está sendo celebrado o Dia da Consciência Negra. O líder foi assassinado no dia 20 de novembro de 1695.

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Em meio às comemorações de hoje pelo Dia da Consciência Negra, os números mostram que a Justiça ainda caminha em descompasso com a legislação anti-racista no Brasil. O avanço do arcabouço legal, estimulado pela Constituição de 1988, não é capaz de garantir a punição para a maior parte dos infratores, segundo levantamento inédito do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser).


Análise feita entre 10 de janeiro de 2005 e 31 de dezembro de 2006 mostra que as vítimas venceram em apenas 32,9% dos processos, enquanto os réus [os racistas] saíram vitoriosos em 57,7% dos casos, nos julgamentos em segunda instância que tratam de racismo.



Modelo do agronegócio não se sustenta sem financiamento do Estado


Movimentos sociais, ambientais e de direitos humanos criticam atual modelo do agronegócio de biocombustíveis

Organizações sociais, ambientais e de direitos humanos criticam o atual modelo de exploração do agronegócio da energia e das grandes monoculturas energéticas, como da cana-de-açúcar, voltadas para a exportação. Elas afirmam que discordam radicalmente do modelo e da estratégia de promoção dos “agro-combustíveis”. A informação é da
Agência Brasil.

Durante três dias, elas se reuniram para discutir os problemas e impactos do modelo atual da produção de agro-combustíveis, no Seminário Internacional Agro-combustíveis, em São Paulo.
No documento elaborado por organizações da Colômbia, Bolívia, Costa Rica, Bélgica, El Salvador, Equador, México, Argentina, Alemanha, Estados Unidos, Holanda, Suécia e do Brasil, dizem que a agricultura industrial para a produção de de biocombustíveis é insustentável, pois apenas se viabiliza através da expansão das monoculturas, da concentração de terras, do uso intensivo de agroquímicos, da super-exploração dos bens naturais comuns como a biodiversidade, a água e o solo.

Segundo a coordenadora da organização não-governamental Amigos da Terra, Lúcia Ortiz, o objetivo do documento, que será entregue a representantes de todos os governos que participam da Conferência Internacional de Biocombustíveis que também ocorre em São Paulo, é expressar a posição das organizações participantes do seminário como um contra-ponto à promoção dos biocombustíveis realizada na Conferência Internacional de Biocombustíveis. “É um documento contrário à expansão do agronegócio da energia e das grandes monoculturas energéticas voltadas exclusivamente à exportação”, disse.

O texto elaborado pelos debatedores também coloca a produção em escala industrial de biocombustíveis como causa para os desmatamento e destruição de ecossistemas em todo o mundo, e, especialmente da Amazônia, além de outros biomas do Brasil.

Em outro item do documento, as organizações criticamos financiamentos públicos para esse tipo de cultura, afirmando que o setor sucro-alcooleiro, no Brasil, não se sustenta sem o financiamento público, e que a promoção dos programas governamentais de biocombustíveis é caracterizada por incentivos e subsídios governamentais diretos, como os do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e indiretos, como a não penalização das evasões fiscais e perdão de dívidas.

Por fim, elas entendem que a soberania energética “não poderá ser alcançada em detrimento da soberania alimentar”, e que se requeira uma nova organização do modo de vida em sociedade e das relações entre campo e cidade.

Movimento Pró-Conferência Nacional de Comunicação


É sábado.

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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Terrorismo de Estado


Urge repelir que a anistia vale tanto para torturados quanto para torturadores

Esquentam as mãos do ministro Eros Grau, no Supremo Tribunal Federal, dois processos que marcarão a cultura política e a imagem internacional do Brasil.

Como relator da ação em que a OAB questiona a interpretação da Lei de Anistia, Grau pediu vista dos pedidos argentino e uruguaio de extradição do general Manuel Cordero, um dos protagonistas da iniciativa supranacional de repressão política denominada Operação Condor.

Caberá, então, ao STF decidir não apenas sobre a possibilidade de julgar agentes públicos pelos crimes contra a humanidade praticados durante a ditadura militar brasileira, mas também exercer a espúria faculdade de impedir que países vizinhos façam o mesmo em relação aos seus acusados.

Num Brasil gravemente acometido de amnésia seletiva, o debate encontra-se turbado pela estapafúrdia tese do "vale para os dois lados" -isto é, rever a anistia dos militares implicaria necessariamente rever a dos subversivos, ditos "terroristas". Urge, portanto, repelir a idéia de que a anistia vale tanto para torturados quanto para torturadores.

Primeiro, pelo descalabro técnico.

Há quem reconheça como jurista só aquele que o defende. Porém, o direito aqui é cristalino. O Estado detém o monopólio da violência legítima. Dele apropriando-se ilegitimamente e agindo em seu nome, "autoridades" dispuseram de recursos estatais para promover sistematicamente a tortura, que resultou, em numerosos casos, na execução sumária, agravada pela ocultação de cadáver.
Depois, o poder estatal garantiu-lhes acordo leonino, pelo qual crimes comuns, entre eles o estupro, foram interpretados como se políticos fossem.

Ademais, quem se opõe à violação da ordem constitucional não é terrorista, é resistente. O direito à resistência é vigente no Brasil desde os anos 1950, por força do direito humanitário, que igualmente veda a tortura e a execução, mesmo durante a guerra.

Segundo, pela infâmia política.

Há quem defina como ideologia somente a dos outros. É o primeiro passo para criminalizá-la. Ora, nunca houve risco real de implantação de um regime comunista no Brasil. A ampla maioria dos cassados, torturados e desaparecidos jamais praticou qualquer violência. Contudo, impunes aves de rapina não cessam de difamá-los, argüindo que tiveram o que mereciam, como se as vítimas estivessem a jogar o queixo contra os punhos dos algozes. Diante de tal (in)cultura, não surpreende que, na atualidade, jovens favelados já nasçam suspeitos, esgueirando-se nas ruas diante dos temidos agentes do Estado.

É preciso também refutar o enganoso argumento da prescrição.

Farta e unânime jurisprudência internacional, inclusive da Corte Interamericana de Direitos Humanos, cuja jurisdição é aceita pelo Brasil, sustenta a imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade. Não se trata de imposição, eis que o direito internacional consiste justamente no exercício da soberania nacional em foro externo. Construído pelo consenso entre as nações, aplicá-lo é tarefa constitucional de cada Estado.

Contudo, orgulhoso por sua retumbante inserção comercial internacional, o Brasil está cada vez mais isolado do mundo no que tange à memória e à justiça. Cumpridor do direito do comércio, o país ainda engatinha quanto à aplicação do direito internacional dos direitos humanos.
Uma recente audiência pública da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e o anúncio de que uma vítima de Cordero levará o Brasil à corte interamericana auspiciam que a responsabilidade internacional do Estado poderá ser invocada em caso de omissão. Por outro lado, por força do princípio da jurisdição penal universal, outros países já deflagraram ações contra torturadores brasileiros.

Apesar de tudo, o governo brasileiro está dividido. No julgamento da ação bravamente movida pelo Ministério Público Federal contra o general Ustra, a atuação da Advocacia Geral da União foi constrangedora.

Os políticos favoráveis ao julgamento levam a pecha de revanchistas.

Seria também revanche o sentimento a mover os 400 juristas que assinaram o manifesto em prol do debate público nacional sobre a Lei de Anistia, lançado em 28/8/08, no pátio da Faculdade de Direito da USP? E as 3.500 pessoas de 38 diferentes países que se somaram à Campanha Internacional pela Extradição de Cordero?

No programa para crianças que anima na rádio Justiça ("Aprendendo Direitinho"), o ministro Eros apresenta-se como vovô Grau. Em breve, ele terá de contar aos netinhos-ouvintes uma história sobre terríveis condores, disfarçados de cordeiros e passarinhos. Que seja bem contada e sem páginas arrancadas, que a trama não se passe numa ilha e que, ao final, prevaleça a justiça.

Artigo de Deisy Ventura, professora de direito internacional do Instituto de Relações Internacionais da USP. Publicado hoje na Folha.

RBS se apropria de projetos lulistas no RS



PT é impotente para denunciar o esbulho e a esperteza da direita guasca

É bisonha a matéria que o jornal ZH faz hoje sobre o Pólo Naval de Rio Grande. É uma aula de como não se deve fazer reportagem, e uma prova de que a RBS age como se partido político fora.

Começa com uma afirmação duvidosa: “Há quem compare o momento vivido no sul do Estado com a introdução do plantio do arroz na região, seis décadas atrás”. Quem fizer essa comparação imprópria – o mesmo que comparar butiás com pregos – é um perfeito tolinho, no mínimo.

A introdução da cultura do arroz na região, em meados do século passado, não foi da iniciativa do setor público, mas de privados. Jamais se constituiu em um indutor de desenvolvimento regional. Ao contrário, concentrou mais a propriedade rural, predou o ambiente pelo uso insustentável da água, exauriu e contaminou o solo, não promoveu emprego e renda de forma horizontal. O arroz exige uma lavoura de alto custo, energia elétrica ou energia derivada da queima de óleos pesados, e baixa utilização de mão-de-obra, com o agravante de estimular o arrendamento da terra, cuja principal conseqüência é o encarecimento do produto, já que precisa remunerar o parasitismo do senhorio da terra – só por esse motivo já não se poderia dizer que é um setor dinâmico da economia regional. Não há dinamismo econômico onde uma peça da cadeia produtiva seja parasitária, por tratar-se de uma atividade insustentável e desigual.

A Metade Sul do RS, aliás, já foi cenário privilegiado de ciclos econômicos baseados em atividades de fraca ou nenhuma sustentabilidade, e que por esse motivo levaram-na à estagnação e à decadência. Grande parte da literatura sulina do século 20 se dedica a narrar essa curva de ruína e caducidade da região mais meridional do Rio Grande do Sul, área onde perdurou a hegemonia maragata da estância e do latifúndio agropastoril em detrimento das alternativas seguidas pela Metade Norte (acima do rio Jacuí), com módulos rurais pequenos, produtivos, diversificados e que não impediram a forte industrialização e o dinamismo da economia, detentora de inúmeros pólos fabris, criadores de tecnologia, emprego e renda.

Mas, prossegue a cantilena de ZH: “Outros acreditam que a revolução em curso com investimentos vindos de todos os lados nem encontre parâmetros na história econômica local”.

Investimentos vindos de todos os lados? Quer dizer que existem investimentos também do Palácio Piratini? Onde? Quanto?

Vejam que há uma nítida indução para que o leitor entenda que de fato o governo tucano de Yeda Crusius participa do esforço de modificar a face econômica e social da Metade Sul. Não está escrito, mas tacitamente induz-se que o senso comum acredite nisso.

Também não está escrito em lugar algum, na matéria hoje veiculada, de forma categórica, que a iniciativa do Pólo Naval de Rio Grande é do governo Lula e os investimentos – na sua quase totalidade – são do orçamento da União e das estatais federais, especialmente do PAC e da Petrobras. Essa esperteza revela toda a desonestidade jornalística de ZH e, de resto, da empresa midiática RBS.

É preciso dizer que enquanto a RBS – e o governo estadual tucano – apostavam nos temerários empreendimentos das papeleiras (predatórios, insustentáveis, com baixíssima geração de emprego e renda, e comprometedores da diversidade do bioma Pampa), o governo federal preferiu apostar diferente, no que se refere à então estagnada Metade Sul. O Pólo Naval de Rio Grande representa uma estratégia de desenvolvimento econômico que induz criativamente novos empreendimentos em cadeia, criando um ciclo virtuoso e sustentável na economia de grande parte daquela região meridional.

Está estabelecida, pois, uma disputa de projetos, embora a RBS queira com essa série de reportagens que inicia hoje, embaralhar o cenário em curso. E ao embaralhar, se apropriar, no que puder, das boas iniciativas do governo Lula.

Lamenta-se, entretanto, que no Rio Grande do Sul não tenhamos mais – como já tivemos – uma forte organização partidária para dar veiculação e debate a esses embates reais, dar potência política e tradução em palavras de ordem e ação militante a essa luta surda mas expressiva que ora presenciamos.

Quando chegar 2010, no processo eleitoral, o PT vai se apresentar como protagonista de alternativas ao Rio Grande, mas tememos que a população não vá entender o que de fato aconteceu nos quatro ou oito anos passados, porque o PT já não sabe fazer (ou não pode) a necessária tradução política que os tempos exigem. Essa apropriação indevida e desonesta de ZH, com as reportagens que promete sobre o Pólo Naval, não estão sendo denunciadas (nem entendidas) – como deveriam – pelo Partido dos Trabalhadores no Estado. O esbulho se consuma, o senso comum se encanta, quem fatura eleitoralmente é a direita guasca. E em 2010, o PT/RS continuará chupando bala na zona do meretrício.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Muita fumaça no Pontal do Estaleiro


Vereador Sebenelo afirma que foi procurado pelos donos da área do Pontal

Deu no jornal Correio do Povo de hoje, coluna do jornalista Juremir Machado da Silva:

[...] Telefonei ontem para Cláudio Sebenelo, vice-presidente da Câmara de Vereadores, com a intenção de entender um pouco melhor o desfecho do episódio. Ele me contou uma historinha que dá muito a pensar. Cada um que tire as suas conclusões tranqüilamente.

Em agosto, ou começo de setembro, um enviado da BM PAR, a empresa que comprou a área do Estaleiro Só com o fim de construir ali um condomínio de ricos e faturar com a mudança da lei em vigor, procurou Cláudio Sebenelo e ofereceu ajuda financeira para a sua campanha eleitoral. Como qualquer candidato, Sebenelo estava com pouco dinheiro. Como em qualquer eleição, o dinheiro é decisivo. O enviado generoso não estabelecia condições nem expectativas. Nada propunha, nada pedia, nada sugeria, nada cobrava. Tudo ficava implícito. Sebenelo diz ter explicado ao autor da oferta que não podia aceitar ajuda de uma empresa interessada na aprovação de projetos pela Câmara de Vereadores. Elementar! É o que se chama de recusa ética.

Sebenelo não se elegeu. Ficou como primeiro suplente. Votou contra o Pontal do Estaleiro. Está agora preocupado com a imagem da Câmara de Vereadores junto à opinião pública. Garante estar pronto para repetir a sua história ao Ministério Público. [...]

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O vereador Claudio Sebenelo é filiado ao PSDB.

Ilustração: imagem feita em computador simulando as edificações do empreendimento privado "Pontal do Estaleiro". Não existe projeto arquitetônico ou de engenharia. Os vinte vereadores que aprovaram a edificação numa área vedada pelo Plano Diretor desconhecem o projeto, simplesmente porque ele ainda não foi concebido. Aprovaram,então, baseados em quê, mesmo? Em simples diálogos republicanos com os empreendedores? O vereador petebista Alceu Brasinha, por exemplo, conseguiu se apropriar somente das explicações puramente cerebrais e abstratas dos investidores?

Grande afirmação da classe média guasca – um shopping


Estátua do cantor Teixeirinha seria o símbolo do novo shopping de Porto Alegre?

Porto Alegre, por força do complexo de inferioridade da classe média guasca, sempre padeceu de um provincianismo jeca, expresso nas denominações de alguns bairros emergentes como Ipanema, Guarujá e outros que simplesmente copiam nomes de localizações do Rio e São Paulo.

Hoje, está sendo inaugurado mais um templo do consumo em Porto Alegre. Localiza-se no bairro Cristal, um belo nome, original, criativo, quase poético, mas recusado como nome a inspirar o empreendimento comercial.

Como é o nome do centro de compras que se inaugura hoje? Chama-se BarraShoppingSul, assim mesmo com todas as letras acolheradas, uma denominação transplantada, junto com a logomarca, do mesmo estabelecimento comercial do grupo de investidores que operam na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro e em inúmeras outras cidades do País.

Aliás, lá no Rio, o Barra Shopping exibe na frente do prédio uma imagem gigante que imita a estátua da Liberdade de Nova York, só que a réplica carioca é baixa e atarracada, parecendo uma senhora obesa perdida no bairro dos novos-ricos do Rio de Janeiro.

Os investidores da unidade de Porto Alegre são liderados pelo grupo Multiplan, cujo controle da maior parcela é de um fundo de pensão canadense, originalmente de professores, o Ontario Teachers Pension Plan, que detém cerca de 47% do negócio de megacentros de varejo ao consumidor de classe média urbana.

Espera-se que os arquitetos do empreendimento não coloquem a estátua de um laçador obeso – agora inspirado no cantor Teixeirinha – na fachada do Barra Sul porto-alegrense.

Semana da Consciência Negra


MEC quer acelerar implantação da lei sobre ensino da história afro-brasileira

O Ministério da Educação (MEC) vai elaborar um Plano Nacional de Implantação da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileiras nas escolas. O principal objetivo é induzir os sistemas de ensino a acelerar o processo por meio de metas e planejamento de projetos. A proposta irá se basear em relatório elaborado por uma comissão formada por entidades da área educacional e do movimento negro que se reuniram em seis encontros regionais. A informação é da Agência Brasil.

De acordo com o documento, que foi apresentado na última semana ao ministério e que será levado ao ministro Fernando Haddad na próxima quinta-feira (20) – data em que se comemora o Dia da Consciência Negra – a principal dificuldade para implantar a lei é a falta de institucionalidade e continuidade das ações.

O secretário de Educação, Alfabetização e Diversidade do MEC, André Lázaro, concorda com a crítica, mas defende que a responsabilidade não é apenas da pasta. Para ele, as redes estaduais e municipais precisam investir mais na questão.

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O conhecimento de história e cultura afro-brasileira é fundamental para o alargamento das consciências de todas as etnias que formam o Brasil. Vivemos numa aparente democracia étnica, mas é um fenômeno apenas superficial. Na essência, o País apresenta profundas desigualdades que separam, oprimem e são fontes duráveis de conflitos irresolvidos ao longo dos séculos.

Neste campo, temos um desconhecimento generalizado de segundo grau – as pessoas não sabem que não sabem. E o pouco que julgam saber é fruto de velhas ideologias etnocêntricas, brancas, européias, atulhadas de preconceito, religiosidade, mito e senso comum – tudo isso vitaminado por um ensino convencional (público e privado) que reforça a nossa miséria cultural, paralisa o debate público e normaliza a injustiça social.

Sexta-feira passada, aqui neste blog DG, tentamos introduzir um debate sobre o tema da consciência negra, já que estamos em plena Semana Oficial da Consciência Negra. Comentei, bastante superficialmente é claro, sobre o cabelo alisado da futura primeira-dama norte-americana, Michelle Obama, dela e de suas duas graciosas filhinhas.

A participação foi numerosa (cerca de 80 comentários), mas bastante confusa e fulanizada. As pessoas tem dificuldade de enxergar o problema de forma política e coletiva, cada um quer particularizar o tema, que é vasto, complexo e ocultado por camadas de elementos falsos e postiços. Provando que o neoliberalismo teve sucesso na operação ideológica de separar profundamente a política da economia (e das demais esferas da vida social), as pessoas abdicaram de pensar politicamente. “Michelle Obama tem toda a liberdade de fazer o que quiser com a estética de seus cabelos”, foi uma frase recorrente. Ora, a grande questão da liberdade – talvez a maior questão de nosso tempo – não pode ser tão amesquinhada assim. Quem enxerga alguns centímetros para além do senso comum, sabe o que estamos falando. Caso contrário ficaremos como o bêbado da anedota, procurando a cédula de dinheiro perdida somente debaixo do poste de luz e quando alguém perguntar por que não procuramos a cédula fora daquele círculo iluminado, nós responderemos como o gambá:

- Porque é aqui que está iluminado! Nunca cogitando que o que perdemos ou sequer conhecemos, assim está precisamente porque não há postes de luz em todos os trajetos da vida social. As luzes precisam ser desbravadas, inventadas e instaladas em pontos pioneiros da nossa vida e consciência.

Por isso, a iniciativa do MEC de acelerar a implantação da lei sobre ensino da história afro-brasileira é altamente meritória e bem-vinda por todas as comunidades do vasto e rico mosaico étnico brasileiro.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O pré-ministério de Wall Street


Há uma contradição entre a mensagem de mudança de Obama e a nomeação de figurões de Wall Street para a equipe de transição

Na contracorrente da euforia e do otimismo generalizados com a eleição de Barack Obama, cumpre pensar em algumas contradições entre o "sonho" e a realidade; peço antecipadas desculpas pela saturação da "obamania".

Na cultura política norte-americana, forjada por uma simbiose do protestantismo calvinista com "afinidades eletivas" - Goethe "apud" Weber - com o êxito capitalista, no chão de uma nação de imigrantes, ser rico não é uma falta, mas até um sinal de salvação. Entre nós, como bem o sabia Sergio Buarque de Holanda, mesmo um catolicismo complacente não encontra muitas afinidades entre a salvação eterna e o desfrute das riquezas do mundo.

Assim, talvez o anúncio da equipe de transição de Obama não ofenda seus milhões de eleitores. Mas há uma contradição flagrante entre sua mensagem de mudança e a nomeação de figurões de Wall Street para fazer a transição entre o (des)governo Bush e a esperança obamista. Até porque a periferia, ainda que a contragosto, - Lula: o problema não é só do Bush - terá parte nas soluções que o eleito presidente dos EUA vier a concretizar para resolver a crise - ou prolongá-la.

Deve-se desconfiar dos ricos, que não podem morder o próprio rabo nem operar contra seus interesses? Isso é luta de classes de botequim, que os leitores desta Folha não merecem. A menos que exista entre os nomeados algum Keynes escondido - e a folha corrida deles não deixa a ver nenhuma ponta desse iceberg - e que Obama seja, de fato, uma reinvenção de Franklin Roosevelt, o aristocrata novaiorquino que enfrentou sua própria classe social para reerguer os EUA atolados na mais funda depressão da história do capitalismo e de sua própria história nacional; mas a lista divulgada promete mais do mesmo, pelos breves currículos publicados por esta Folha em 7/11.

Dos 17 citados, 11 são diretamente ligados a grupos financeiros da linha de frente de Wall Street. Não estavam eles entre os barões ladrões que inflaram as bolhas até o recente estouro?

Fica patente também que o Partido Democrata preparou-se para uma outra administração Clinton, sob a presidência da chata da Hillary; Obama foi um cavalo azarão. A tão propalada preparação do senador por Illinois pode ter sido um blefe: ele está inteiramente nas mãos dos clintonianos. Capacidade de ouvir não é capacidade de governar. Lembra o folclórico governador Valadares, de Minas, que dizia com bom humor ficar "rouco de tanto ouvir".

O keynesianismo civil sozinho não conseguiu reerguer os EUA. Foi preciso o "keynesianismo de guerra", na forma das pesadas encomendas do governo rooseveltiano às indústrias bélicas, para a economia norte-americana levantar vôo e manter-se no ar durante os chamados "30 anos gloriosos" até os anos 70.

Obama não dispõe de nada disso: ao contrário, o keynesianismo não funciona numa economia globalizada, porque o poder nacional, mesmo o dos EUA, é limitado pelos constrangimentos da globalização, tanto que os esforços agora são para uma concertação geral de políticas, sobretudo a monetária, entre os principais países capitalistas; e os EUA não estão saindo de uma guerra vitoriosa. Muito ao contrário, estão quase como no Vietnã: de rabo entre as pernas.

E do brevíssimo período, uns dez anos se tanto, da arrogância unilateral da única potência que restou da Guerra Fria, caminhou-se para uma multipolaridade -a aposta de Togliatti, o velho líder comunista italiano- na qual emerge, com destaque, uma nova potência como a China. Para uma crise global, só uma saída global: mesmo o delírio de Bush e asseclas não conseguiu criar uma guerra global, que era na verdade seu projeto, o Armagedon, e ficou só na destruição do Iraque - então uma próspera economia - e na rematada destruição do já combalido - a ex-URSS havia feito sua parte - Afeganistão.

Ninguém deseja uma guerra para resolver uma crise do capitalismo: o último clone de Hitler está saindo de cena. Melhor seria que o sistema se esvaísse sem a necessidade de um trauma global, mas nem Papai Noel sonha com isso. Assim, é preferível que Obama cumpra suas promessas, o que já seria um otimismo cauteloso ou um pessimismo melhorado (fórmula parecida com o "silêncio obsequioso" da mais que dialética Igreja Católica), que é o desejo quase geral do establishment para o futuro governo de Obama.

A ausência de uma teoria sobre o capitalismo globalizado dá lugar apenas a tímidas perspectivas que não vão além de uma semana. Já vimos esse filme, muito recentemente: o de uma esperança que venceu o medo para depois entregar-se a ele. E, embora os atores possam ser competentes, os resultados das histórias, não dos filmes, que são ótimos, podem ser desastrosos: entre a abertura respeitosa, mas sem esperanças, de um "Linha de Passe" e a tragédia anunciada de "Última Parada 174".

Artigo de Francisco de Oliveira, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Foto: Wall Street, NY, EUA, 1929.

Governadora Yeda recorre à pajelança política



Agora, vai...


Se alguém quiser expressar a sub-mediocridade do governo Yeda Crusius (PSDB), basta mostrar a notícia estampada no jornal Zero Hora de hoje (acima).


Dona Yeda está reunindo a cúpula tucana nacional para fazer um ato político a fim de anunciar o “extraordinário” feito de que pagará o décimo-terceiro salário do funcionalismo público em dia e na integralidade. Será uma espécie de pajelança guasca, visando bons augúrios, exorcização de adversidades e, quem sabe, a intercessão de poderes sobrenaturais, já que a governadora tem uma queda pela astrologia e algo do gênero, conforme confessou em outra ocasião.


Vejam que o dever mais corriqueiro – pagar seus servidores – virou motivo de rito do extraordinário, cerimônia do fabuloso, celebração do raro para o governicho tucano-yedista.


O mais admirável, entretanto, é que o jornal da RBS dê o informe do fato, faça a suíte convencional e não chame a atenção para o espetáculo do ridículo que envolve o caso. Assim, o cumprimento de uma obrigação básica de governo acaba vestindo a roupagem do arrojado, do corajoso e do inédito. Agora, para o senso comum, já não importa mais o fato em si, mas as aparências vantajosas e extraordinárias com a qual ele é vestido e apresentado depois do rito de pajelança política.


No Rio Grande do Sul vivemos de fato em um mundo mágico, pré-racional e do mais genuíno faz-de-conta.


domingo, 16 de novembro de 2008

Só não pude ser como quis


Mulher ao Espelho

Hoje, que seja esta ou aquela
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.

Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz,
já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.

Que mal fez, essa cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto
se é tudo tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?

Por fora, serei como queira
a moda, que vai me matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.

Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.

Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscam-se no espelho

Cecília Meireles

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