Monteiro Lobato tinha razão O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve ontem à noite a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75%, sem viés. Essa taxa remunera os títulos depositados no Serviço Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e é usada pelo BC como instrumento de controle da inflação.
Quanto mais alta a Selic, mais caro fica o crédito, o que desestimula o consumo de bens e serviços. Quando a Selic é alta, os bancos preferem comprar títulos do governo, remunerados pela Selic, do que emprestar aos consumidores.
No início deste ano, a Selic estava em 11,25%, permaneceu assim em março, subiu para 11,75% em abril, e na reuniões seguintes do Copom também foi elevada: 12,25% em junho, 13% em julho e 13,75% em setembro. A reunião de ontem foi a penúltima prevista do ano. A última reunião de 2008 está marcada para dezembro.
Esta é a notícia. Agora, observem a esquizofrenia deste governo do ex-metalúrgico.
Hoje, a ministra Dilma Vana Rousseff irá fazer um balanço geral do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), e na próxima segunda-feira deve começar um super road show do PAC pela Europa. Haverá apresentações em Lisboa, Madri, Frankfurt e Londres. O governo quer transmitir uma imagem internacional de enfrentamento da crise marcado pela preocupação com o crescimento da economia real, mostrando determinação em investir em infraestrutura para que o País deixe para trás a estagnação das últimas três decadas perdidas.
Portanto, em menos de 24 horas o mesmo governo toma decisões distintas e antagônicas, cujos princípios são conflitantes, e que tendem a se anular mutuamente.
Na última terça-feira, em Salvador, o presidente Lula fez um discurso forte, turbinado por considerações pertinentes e agudas sobre o papel social do capital bancário no País. “Teve uma época, por muito tempo, em que os políticos andaram de cabeça baixa diante do neoliberalismo” – disse Lula. “O que estou defendendo não é o Estado se intrometer na economia, mas é o Estado que tenha força política para regular o sistema financeiro”.
Já se vê, agora, que o presidente Lula estava falando apenas em tese, ou – talvez – se referindo àqueles países estrangeiros, povos longínquos e primitivos, que enfrentam uma crise financeira devastadora e que desanda a se transformar numa recessão paralisante de longo prazo. Lula, percebe-se, acredita na tese do “descolamento”, segundo a qual o Brasil e alguns outros poucos países ficarão ilesos do desastre capitalista. Mesmo depois que o Prêmio Nobel de Economia/2008 e keynesiano, Paul Krugman, tenha afirmado que o “descolamento” não se aplica à presente crise, todos sofrerão de forma intensa e desigual os efeitos amargos da recessão econômica. Todos.
Mas, Lula não acredita em previsões catastrofistas. Prefere acreditar no presidente do Boston Bank, ops presidente do Bacen, Henrique Meirelles que assegura que o mais importante é controlar a inflação. Para tanto, é necessário manter altas – segundo Meirelles – as taxas de juros básicas para inibir o consumo.
O mundo todo, as autoridades monetárias de todos os países atingidos pela crise se empenham em injetar recursos líquidos ao meio para que se retome a atividade econômica produtiva e conseqüentemente o consumo, e o Brasil – ilha da fantasia bancária subtropical – bancando o joãozinho-do-passo-certo.
Para quê?
Para beneficiar menos de duzentas mil pessoas – todas, milionárias e abastadas – que vivem qual parasitas, sem trabalhar, apenas abocanhando as altíssimas remunerações da taxa Selic. Ano passado, está contabilizado, foram destinados 146 bilhões de reais para recompensar essa récua de mimosos do lulismo de resultados.
Deste jeito, o Brasil do presidente (de fato) Henrique Meirelles faz cada vez mais justiça àquela dura sentença de Monteiro Lobato, quando reclamava ainda na década de 40 que não havia ousadia para explorar o nosso petróleo ao dizer – sem exagerar – que vivemos num imenso tartarugal, pois, aqui tudo se arrasta.
O País se arrasta na estagnação econômica há trinta anos (período conhecido como "vôo de galinha"), por força da hegemonia do capital financeiro. E o presidente nominal da República, Luís Inácio Lula da Silva, se arrasta na subserviência e na conciliação de classe mais paralisante.
Soberania, já!