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terça-feira, 31 de agosto de 2010
Três delegados são acusados de torturar e assassinar durante a ditadura civil-militar
O Ministério Público Federal (MPF) ingressou ontem (30) na Justiça com um pedido de afastamento, perda de cargos e aposentadorias de três delegados da Polícia Civil de São Paulo que participaram diretamente de atos de tortura, abuso sexual, desaparecimentos e homicídios durante o regime militar (1964–1985). Entre as vítimas apontadas na ação, estão o ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Vannuchi, e seu antecessor na pasta, Nilmário Miranda. A informação é da Agência Brasil.
A ação pede a responsabilização pessoal dos delegados do antigo Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Aparecido Laertes Calandra, David dos Santos Araújo e Dirceu Gravina. Além disso, o MPF quer que os três sejam condenados a reparar danos morais coletivos e a devolver as indenizações pagas pela União.
"Essas providências são indispensáveis para a consecução do objetivo da não repetição: as medidas de justiça transicional são instrumentos de prevenção contra novos regimes autoritários partidários da violação de direitos humanos, especialmente por demonstrar à sociedade que esses atos em hipótese alguma podem ficar impunes, ignorados e omitidos”, diz a ação assinada por seis procuradores federais.
O Dops foi o órgão governamental que tinha por objetivo controlar e reprimir os movimentos políticos e sociais contrários ao regime. Calandra e David Araújo já estão aposentados. Gravina, o mais jovem dos acusados, ainda atua como delegado da Polícia Civil, em Presidente Prudente, no interior de São Paulo. De acordo com MPF, Calandra utilizava o codinome de Capitão Ubirajara, Araújo era conhecido como Capitão Lisboa e Gravina utilizava o apelido de JC.
A ação é assinada pelos procuradores Eugênia Augusta Gonzaga, Jefferson Aparecido Dias, Marlon Alberto Weichert, Luiz Fernando Costa, Adriana da Silva Fernandes e Sério Gardenghi Suiama. Eles identificaram os três policiais com base em depoimentos de ex-presos políticos e parentes de pessoas mortas pelo regime militar. Elas reconheceram os acusados em imagens de reportagens veiculadas em jornais, revistas e na televisão.
A denúncia cita que Calandra teria torturado o secretário especial de Direitos Humanos da Presidência da República, ministro Paulo Vannuchi e seu antecessor, na pasta, Nilmário Miranda. Além dos dois ministros do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Calandra, de acordo com o Ministério Público, participou também da tortura e do desaparecimento de Hiroaki Torigoe; da tortura, morte de Carlos Nicolau Danielli; da tortura do casal César e Maria Amélia Telles, além da montagem da versão fantasiosa de que o jornalista Vladimir Herzog (foto acima) teria cometido suicídio na cadeia.
O depoimento de Maria Amélia Telles, uma das peças da ação, indica métodos de tortura física e psicológica que teriam sido aplicados por Calandra e outros agentes a serviço do Doi-Codi, que envolveriam os filhos do casal. Maria Amélia relata que, numa oportunidade, após terem sido barbaramente torturados, ela e o marido foram expostos nus, marcados pelas agressões, aos filhos, então com 5 e 4 anos de idade, trazidos especialmente para o local como forma de pressioná-los.
Também prestou depoimento no Ministério Público Federal o atual presidente do Conselho Estadual de Defesa da Pessoa de São Paulo, Ivan Seixas, que foi preso aos 16 anos, junto com o pai, Joaquim Alencar de Seixas, torturado e morto pela equipe do Doi-Codi. De acordo com o relato de Ivan Seixas, David Araújo, o “capitão Lisboa”, estava entre os torturadores. “Era o que mais batia”, disse. Seixas também contou que, como forma de pressão, os policiais o levaram para uma área deserta e simularam seu fuzilamento. Depois, foi colocado em uma viatura onde havia a edição da Folha da Tarde com a manchete sobre a morte de seu pai, mas, ao chegar no Doi-Codi, seu pai ainda estava vivo. Ele disse ainda que, após a prisão, sua casa foi saqueada. Uma das irmãs de Seixas afirmou ao MPF que foi abusada sexualmente por Araújo.
De acordo com o Ministério Público Federal, Dirceu Gravina foi reconhecido em 2008, por Lenira Machado, uma de suas vítimas, em reportagem sobre investigação que o delegado conduzia sobre um suposto vampiro que agia na cidade de Presidente Prudente e mordia o pescoço de adolescentes. Presa por três dias no Dops, Lenira afirmou que teve toda a roupa rasgada por Gravina e mais dois policiais. Depois foi transferida para o Doi/Codi, ficando por 45 dias apenas com um casaco e um lenço.
A ação detalha que, em seu primeiro interrogatório no Doi/Codi, Lenira foi pendurada no pau de arara e submetida a choques elétricos. “Nesta sessão de tortura, conseguiu soltar uma de suas mãos e, combalida, acabou por abraçar Gravina – que estava postado a sua frente, jogando água e sal na boca e nariz da presa. O contato fez com que o delegado sentisse o choque, caindo sobre Lenira e, em seguida, batendo o rosto, na altura do nariz, em um cavalete”, destaca o documento.
“Após algumas horas, Gravina voltou do Hospital Militar, onde levou pontos no rosto, e retomou a tortura, a ponto de provocar uma grave lesão na coluna de Lenira e, mesmo assim, não suspendeu a sevícia. A tortura contra ela era tão intensa que, em um determinado dia, teve que ser levada ao hospital, onde lhe foi aplicado morfina para poder voltar às dependências da prisão”, relata a ação do Ministério Público Federal.
Gravina é também apontado pelos procuradores como o último agente a torturar o preso político Aluízio Palhano Pedreira Ferreira. Também foram vítimas de Gravina, de acordo com a ação os presos políticos Manoel Henrique Ferreira e Artur Scavone.
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Vejam o contraste: enquanto no Uruguai, Argentina e Chile estão sendo julgados e condenados os altos escalões das ditaduras, como ex-presidentes, ex-ministros e mesmo militares de alta patente, aqui no Brasil se pede aposentadoria de ex-delegadinhos do Dops. "Por favor, sr. torturador, queira se aposentar, por gentileza? Saiba que Vossa Senhoria errou, queira se afastar do serviço público? O senhor tem mais vinte anos para deixar a repartição, enquanto isso, fique a gosto. Desculpa-nos, estar lhe importunando, sr. torturador e assassino".
Por exemplo, na Argentina, o ex-presidente, ditador, general Jorge Rafael Videla está preso, foi julgado e condenado por crimes diversos contra os direitos humanos.
No Brasil, nenhum agente civil, nenhum militar está preso. O nosso passivo com a história, a memória e os direitos humanos é altíssimo. Esta conta, um dia virá.
Enquanto nos demais países do Cone Sul, esse tema é uma questão de Estado, no Brasil, as poucas ações judiciais de responsabilização dos crimes da ditadura são de iniciativa das próprias vítimas, numa luta quase pessoal, quixotesca e que os expõem em confrontos diretos com os seus algozes, resultando em mais sofrimento e abalo moral. Quando a vítima recebe alguma indenização do Estado, ainda é objeto de chacota pública promovida por jornalistas que apoiaram o golpe civil-militar e agora posam de cruzados da moralidade pública e zelosos guardas do Tesouro da União.
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12 comentários:
nao publicar:
feil, boa materia do terra magazine: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI4651390-EI6578,00-Estrategia+aumenta+exposicao+de+Dilma+no+Sul.html
abs
lucas
Agora pouco a TV do bispo Edir Macedo exibiu uma reportagem em um sítio de São Paulo onde teria ocorrido “torturas e execuções” na época dos governos militares, tudo é claro, acompanhado pelos “direitos humanos” e ex-terroristas da Dilma. Porque a TV Record, ao invés de procurar ‘chifre em cabeça de cavalo’, não faz uma reportagem ali ao Quartel de Osasco onde a Dilma e seu bando explodiram covardemente um sentinela? Mostrem isso ao País, seus jornalistas calhordas; comparem o valor da miserável e vergonhosa pensão que a família desse inocente recebe, com as milionárias, descabidas, criminosas e absurdas pensões e indenizações que receberam e recebem os ex-terroristas da Dilma. Perguntem a ela, quem planejou e executou esse atentado terrorista! Como tudo aconteceu. Ela sabe tudo, está aí, bem vivinha, “deitando e rolando”... Estão com medo de quê?
O Brasil viveu uma ditadura, fruto de um golpe(nada de revolução). Pessoas eram presas primeiro e acusadas depois, muitos desapareceram, o congresso nacional foi fechado, deputados foram cassados, intelectuais foram cassados, estudantes foram cassados, funcionários públicos foram cassados. Militares da alta patente atuavam em colaboração com agentes norte-americanos para torturar, matar, fazer desaparecer o "perigo comunista" na América Latina. O terror promovido a partir do aparelho de Estado instalou-se em nosso país. Quem tiver saudades deste tempo ou tenta de alguma maneira justificá-lo viveu ou vive num Brasil de mentiras.
"torturas e execuções"? "direitos humanos"? Tudo entre aspas, a tortura nunca existiu, é chifre em cabeça de cavalo... Pelo visto, tem general terrorista querendo tirar o pijama... Ainda bem que o povo tá mais esperto, sabe votar. Até pesquisa no exército dá vantagem à valorosa lutadora Dilma, que ajudou a livrar o Brasil do terrorismo.
Covarde é tu, Ruy. Covarde porque te escondes atrás de um teclado e defende um regime que desde o começo foi ilegal, arbitrário e traidor da pátria.
Covarde foram aqueles que vestiram as fardas e esqueceram de suas honras. Foram bem machinhos pra torturar e matar e hoje tem medo de aparecer em público.
E covardes são aqueles que defendem os milicos sem vergonha que dilapídaram o país e hoje se escondem da justiça.
Ow seu "Ruim", deixe de ser perverso tanto quanto estes crápulas e vá se informar pare de repetir essa ladainha de "terrorista" espalhada pelos meios de comunicação tipo globo e folha que são coniventes com essa barbárie!
Quem gosta de fazer mal e incentivar o mal é o "capiroto" meu caro!
cuidado para não cair no colo dele!
Arthur, nenhum milico dilapidou o país. Nenhum general saiu milionário do Planalto. Nisso sou justo. Ricos ficaram os satélites civis que lhes babavam o ovo, e vice-versa, tipo Maluf, Sarney, Collor, ACM, Delfim...e segue a longa lista.
O nome e sobrenome do irresponsável que deu ares de justiça a isso é EROS GRAU, aposentado, diria a bem da humanidade.
armando do prado
É, está na hora do Brasil coeçar a revirar sua gavetas, começar a fazer a limpeza que é botar na cadeia os ditadores e torturados de 1964. Cada cidade tinha seu ditadorzinho particular amatando e torturando em nome da farda verde-oliva.
Fernando, não entra nessa, além de riquissimos eles e os amigos, ainda mataram e torturaram. Tu tá louco meu, livrando a cola deles.
Ruy analfabeto, vai estudar a história de fato e pare de falar asneiras aprendidas no site Ternura e com fascistinha tio reinaldo.
armando do prado
DALE CRISTINA!
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